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CidadeGenerica - Rem Koolhaas traduzido Portugues

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Cidade Genérica
CONGREXPO
In one day Congrexpo could hold a Pixies concert, a World Chess Association Conference, 
and the European Grand Tractor Pull, cater a banquet for 1.500 butterfly collectors, 
prepare 400 croque-monsieurs-to-go, serve a formal dinner for 250, provide refreshments 
at any of 17 bars, park 1.200 cars, sell 6.000 concert tickets, register 2.350 electronic 
ballots, translate 65 languages, and hang 10.000 coats – with space left for 17 independent 
meetings, each for 80 or more people. 
7 van Goghs, 18 de Koonings, or 6 Jackson Pollocks would buy Congrexpo. But for the 
price of its 1.200 parking spaces in downtown Tokyo, 40 more Congrexpo could be built in 
Lille. 
in Kenchiku Bunka 579
Cidade Genérica
Generic City foi um ensaio que Rem Koolhaas publicou em 1995 no livro S, M, L, XL como 
um possível encerramento do massivo exemplar. O texto aborda inúmeras questões da 
cidade contemporânea que está se formando, (des)formando, mutando. Aparece num 
contexto de finalização de uma epopéia de conceitos e idéias formuladas por Koolhaas 
durante todos os “tamanhos”. Além de ter esse caráter conclusivo, Generic City propõe 
uma abertura para novas discussões, quase um antifinal. Uma cena final de um capítulo 
de novela, deixando em suspense uma revelação importante para a trama. Muitos 
conceitos lançados em Generic City se prestam perfeitamente para a leitura da cidade de 
São Paulo que essa documentação pretende realizar. 
Publicado em Inglês (in S, M, L, XL – 1995), Italiano (in Domus 791 – 1997), Francês (in 
L’Architecture D’Aujourd’Hui 304 – 1996), Japonês (in TN Probe – 1995) e Espanhol (in La 
Ciudad Genérica – 2006), disponho aqui uma tradução livre para o Português, realizada 
por mim de Generic City, ou já começando: 
Cidade Genérica 1. Introdução 1.1. As cidades contemporâneas são como os 
aeroportos contemporâneos? Quer dizer, “todas iguais”? É possível teorizar essa 
convergência? E, se for possível, qual a configuração definitiva que aspiram? A 
convergência só é possível ao custo de despojar-se da identidade. Isso é visto 
normalmente como uma perda. Mas a escala com que se produz, deve significar algo. 
Quais são as desvantagens da identidade? E, em contraposição, quais são as vantagens 
de sua ausência? E se essa homogeneização acidental – e habitualmente lamentada – 
fosse um processo intencional, um movimento consciente de distanciamento da diferença 
e aproximação da igualdade? E se estivermos sendo testemunhas de um movimento de 
liberação global: “Abaixo o caráter!”? O que restará se eliminarmos a identidade? O 
Genérico? 1.2. Na medida em que a identidade deriva da substância física, do histórico, 
Italiano
Japonês
Francês
Espanhol
Inglês
Cidade Genérica
do contexto e do real, de certo modo não podemos imaginar que nada contemporâneo – 
feito por nós – indique alguma coisa. Mas o fato de que o crescimento humano seja 
exponencial implica que o passado se tornará, em certo momento, demasiado “pequeno” 
para ser habitado e compartilhado por aqueles que estão vivos. Nós mesmos nos 
esgotamos. Na medida em que a História encontra seu lugar na Arquitetura, as atuais 
cifras da população inevitavelmente disparam e dizimam a matéria existente. A identidade 
concebida como essa forma de compartilhar o passado é uma proposta condenada a 
falhar: não somente existem – em um modelo estável de expansão contínua da população 
– proporcionalmente cada vez menos o que compartilhar, sendo que a História também 
tem uma ingrata vida média, pois quanto mais se abusa dela, menos significativa ela se 
torna, até o ponto que suas decrescentes dádivas chegam a ser insultantes. Esta 
diminuição se vê exacerbada pela massa sempre crescente de turistas, uma avalanche 
que, na sua busca perpétua por “caráter”, esmaga as identidades de êxito até convertê-las 
em um pó sem sentido. 1.3. A identidade é como uma ratoeira em que mais e mais ratos 
têm que compartilhar a isca original, e que, em um exame mais minucioso, talvez tenha 
estado vazia durante séculos. Quanto mais poderosa é a identidade, mais ela aprisiona, 
mais resiste à expansão, à interpretação, à renovação e à contradição. A identidade se 
converte em algo parecido com um farol: fixo, excessivamente determinado, apenas 
permite trocar sua posição ou a intensidade de luz que emite, ao custo de desestabilizar a 
navegação (somente Paris pode fazer-se mais parisiense: já está em vias de converter-se 
em Hiper-Paris, uma consumada caricatura. Existem exceções: Londres – cuja única 
identidade é a falta de uma identidade clara – perpetuamente se volta menos Londres, 
mais aberta, menos estática). 1.4. A identidade centraliza; insiste em uma essência, um 
ponto. Sua tragédia se dá em simples termos geométricos. Na medida em que a esfera de 
influência se expande, a zona caracterizada pelo centro se torna maior e maior, diluindo 
Cidade Genérica
irremediavelmente tanto a força como a autoridade do núcleo; inevitavelmente, a distância 
entre o centro e a circunferência aumenta até chegar ao ponto de ruptura. Nesta 
perspectiva, o descobrimento recente e tardio da periferia como zona de valor potencial – 
uma espécie de situação pré-histórica que finalmente poderia ser digna de receber a 
atenção da arquitetura – é tão somente uma insistência dissimulada na prioridade e na 
dependência do centro: sem centro não existe periferia; supõe-se que o interesse do 
primeiro compensa o vazio do segundo. Conceitualmente órfã, a situação da periferia se 
vê piorada pelo fato de que sua mãe, todavia, está viva, monopolizando todo o espetáculo 
e enfatizando as deficiências de seu rebento. As últimas vibrações que emanam do centro 
esgotado impedem a leitura da periferia como uma massa crítica. Não só o centro é por 
definição demasiado pequeno para cumprir com suas obrigações, senão que tampouco é 
já o centro real, senão uma chamativa miragem em vias de implosão: sem dúvida, sua 
presença ilusória nega sua legitimidade ao resto da cidade (Manhattam denigre como 
“gente de ponte e túnel” a quem necessita do apoio das infra-estruturas para entrar na 
cidade, e os faz pagar para isso). A persistência da atual obsessão concêntrica faz com 
que todos nós sejamos gente de ponte e túnel, cidadãos de segunda classe em nossa 
própria civilização, privados de nossos direitos por essa ingênua coincidência de nosso 
exílio coletivo do centro. 1.5. Em nossa programação concêntrica (o autor passou parte de 
sua juventude em Amsterdã, cidade da centralidade máxima), a insistência no centro como 
núcleo de valor e significado, fonte de toda significação, é duplamente destrutiva: não 
somente o volume sempre crescente das dependências é uma tensão largamente 
insuportável, mas que também significa que o centro tem que ser constantemente 
mantido, ou melhor, modernizado. Como o “lugar mais importante”, paradoxalmente tem 
que ser, ao mesmo tempo, o mais velho e o mais novo, o mais estável e mais dinâmico; 
sofre a adaptação mais intensa e constante, que logo se vê comprometida e complicada 
Cidade Genérica
pelo fato de que também tem que ser uma transformação irreconhecível, invisível a olho 
nu (a cidade de Zurich encontrou a solução mais radical e cara ao voltar a uma espécie de 
arqueologia inversa: uma capa atrás de outra de novas modernidades – centros 
comerciais, estacionamentos, bancos, laboratórios, etc... – se constroem sob o centro. O 
centro já não se expande para fora ou para o céu, mas sim para dentro, para o próprio 
centro da Terra). Desde a inserção de artérias de circulação, anéis viários, túneis 
subterrâneos mais ou menos discretos, a construções de cada vez mais tangenciais, até a 
transformação das habitações em escritórios, dos depósitos em lofts, das igrejas 
abandonadas em clubes noturnos, as falências em série e as subseqüentes re-
inaugurações de locais específicos em recintos comerciais mais e mais caros, até a 
implacável conversãodo espaço utilitário em espaço “público”, a pedestrianização, a 
criação de novos parques, as plantações, as pontes, a exibição e a sistemática 
restauração da mediocridade Histórica: toda a autenticidade se vê incessantemente 
evacuada. 1.6. A Cidade Genérica é a cidade liberada do cativeiro do centro, espartilho da 
identidade. A Cidade Genérica rompe com esse ciclo destrutivo da dependência: não é 
mais que um reflexo da necessidade atual e a capacidade atual. É a cidade sem História. 
É suficientemente grande para todos. É fácil. Não necessita manutenção. Se está muito 
pequena, simplesmente se expande. Se está muito velha, simplesmente se autodestrói e 
se renova. É igualmente emocionante – ou pouco emocionante – em todas as partes. É 
“superficial”: igual a um estúdio de Hollywood, pode produzir uma nova identidade a cada 
segunda-feira pela manhã. 2. Estatística 2.1. A Cidade Genérica cresceu 
espetacularmente nas últimas décadas. Não só seu tamanho aumentou, mas suas cifras 
também aumentaram. A princípio dos anos 1970, estava habitada por uma média de 2,5 
milhões de moradores oficiais (mais 500.000 extra-oficiais); agora gira em torno dos 15 
milhões. 2.2. A Cidade Genérica começou na América? É tão pouco original que só 
Muito aqui se parece com São Paulo, mas a situação da 
cidade tende a espalhar pelo território seu próprio centro, 
com isso essas transformções se veêm diluídas no frenesi 
da metrópole.
Cidade Genérica
poderia ser importada? Em todo caso, a Cidade Genérica existe agora também na Ásia, 
Europa, Austrália e África. O passo definitivo do campo, da agricultura para a cidade, não 
é um passo até a cidade tal como a conhecemos: é um passo até a Cidade Genérica, uma 
cidade tão onipresente que já chegou ao campo. 2.3. Alguns continentes, como a Ásia, 
aspiram à Cidade Genérica; outros se envergonham dela. Dado que tem até o tropical – e 
converge em torno do equador – uma grande proporção das Cidades Genéricas são 
Asiáticas, o que aparentemente é uma contradição em seus términos: o super-familiar 
habitado pelo incompreensível. Algum dia voltará a ser absolutamente exótica, o produto 
desejado da civilização ocidental, graças à re-semantização que sua própria difusão deixa 
em seu rastro... 2.4. Às vezes, uma cidade antiga e singular, como Barcelona, ao 
simplificar excessivamente sua identidade, se torna Genérica. Torna-se transparente, 
como um logotipo. O contrário não acontece nunca... Pelo menos agora. 3. Geral 3.1. A 
Cidade Genérica é o que fica depois de que grandes setores da vida urbana se passaram 
ao ciberespaço. É um lugar de sensações tênues e distorcidas, de contadíssimas 
emoções, discreto e misterioso como um grande espaço iluminado por uma lâmpada à 
noite. Comparada com a Cidade Clássica, a Cidade Genérica está sedada, e 
habitualmente é percebida desde uma posição sedentária. Em vez de concentração – 
presença simultânea – na Cidade Genérica cada “momento” concreto se afasta dos 
demais para criar um transe de experiências estéticas quase inapreciáveis: as variações 
de cor na iluminação fluorescente de um edifício de escritórios antes do pôr-do-sol ou as 
sutilezas dos brancos ligeiramente distintos de um sinal iluminado à noite. Igual à comida 
japonesa, as sensações podem reconstituir-se e intensificar-se na mente, ou não: 
simplesmente se podem deixar de lado (existe onde escolher). Esta onipresente falta de 
urgência e insistência atua como uma potente droga; induz a uma alucinação do cotidiano. 
3.2. Em uma drástica inversão do que supostamente é a principal característica da cidade 
Será que a cidade genérica realmente tem uma origem única? 
Imagino que ela venha acontecendo simultaneamente em todos 
os cantos do planeta.
Percebeu-se bem durante 
as transmissões das últimas 
Olimpíadas!!!
Talvez seja isso que se busque atualmente.
Cidade Genérica
(o “negócio”), a sensação dominante da Cidade Genérica é uma calma misteriosa: quanto 
mais calmo seja, mais se aproxima a seu estado puro. A Cidade Genérica afronta os 
“males” que se atribuía à cidade tradicional antes que nosso amor por esta se tornasse 
incondicional. A serenidade da Cidade Genérica se consegue mediante a evacuação do 
âmbito público, como na emergência de uma simulação de incêndio. O plano urbano 
contém agora somente o movimento necessário, fundamentalmente o dos carros; as auto-
estradas são uma versão superior dos boulevards e as praças, que ocupam mais e mais 
espaços; seu desenho, que aparentemente busca a eficácia automobilística, é de fato 
surpreendentemente sensual, uma pretensão utilitária que entra no domínio do espaço 
liso. O que é novo neste âmbito público sobre rodas é que não se pode medir com 
dimensões. O mesmo trajeto (digamos de 10 quilômetros) proporciona grande número de 
experiências completamente distintas: pode durar cinco minutos ou quarenta; pode-se 
compartilhar com toda a população, ou com quase ninguém; pode proporcionar o prazer 
absoluto da velocidade pura e verdadeira – em cujo caso a sensação da Cidade Genérica 
pode inclusive tornar-se intensa ou ao menos adquirir densidade – ou momentos de 
detenção completamente claustrofóbicos – em cujo caso a tenuidade da Cidade Genérica 
será o mais apreciável. 3.3. A Cidade Genérica é fractal, uma interminável repetição do 
mesmo módulo estrutural simples; é possível reconstruí-la a partir da menor peça como, 
por exemplo, de um ordenador de sobremesa, talvez inclusive de um disquete. 3.4. Tudo o 
que fica da outra época são os campos de golfe. 3.5. A Cidade Genérica tem números de 
telefones fáceis, não esses rebeldes trituradores do lóbulo frontal de dez cifras que têm a 
Cidade Tradicional, senão versões mais homogêneas, com os números intermediários 
idênticos, por exemplo. 3.6. Sua principal atração é a anomia – ausência de normas ou 
condutas. 4. Aeroporto 4.1. Nesse momento de manifestações da máxima neutralidade, 
os aeroportos estão agora entre os elementos mais singulares e característicos da Cidade 
Explícita presença conceitual de Deleuze com o Es-
paço Liso e o Espaço Estriado. “O espaço liso e o 
espaço estriado, - o espaço nômade e o espaço se-
dentário, - o espaço onde se desenvolve a máquina 
de guerra e o espaço instituído pelo aparelho de Es-
tado, - não são da mesma natureza.” (in DELEUZE, 
Gilles. GUATTARI, Félix. Mil Platôs vol. 5. São Paulo: 
Ed. 34, 1997.
Que tal: Resevila Móveis Planejados
 (11) 2293-0000
 
 Universidade Mackenzie
 (11) 2114-8000
 
 Capovilla Impressões Digitais
 (11) 3038-0000
Cidade Genérica
Genérica. São seus mais poderosos veículos de diferenciação. Têm que ser, pois é tudo o 
que o cidadão comum tende a experimentar numa cidade em particular. Como em uma 
drástica exibição de perfumes, os murais fotográficos, a vegetação e as vestimentas locais 
oferecem uma primeira rajada concentrada de identidade local (às vezes é também a 
última). Distante, confortável, exótico, polar, regional, oriental, rústico, novo e inclusive 
“não descoberto”: estes são os registros emocionais que evocam. Carregados 
conceitualmente desta maneira, os aeroportos se convertem em signos emblemáticos 
gravados no inconsciente coletivo global com manipulações selvagens de seus atrativos 
não aeronáuticos: lojas livres de impostos, qualidades espaciais espetaculares, e a 
freqüência e confiabilidade de suas conexões com outros aeroportos. Sobre sua 
iconografia/rendimento, o aeroporto é um concentrado tanto do hiper-local como do hiper-
global: hiper-local no sentido de que podemos obter artigos que não se encontram nem 
sequer na cidade; hiper-global no sentido de que se pode obter coisas que não se 
conseguem em nenhum outro lugar. 4.2. A Tendência na Gestalt dos Aeroportos é de uma 
autonomia cada vez maior: às vezes, inclusive, não têm praticamente relação alguma com 
uma Cidade Genérica específica. Ao tornarem-se maiores, e equipados com mais serviços 
não vinculados a viagens, os aeroportosestão em vias de substituir a Cidade. A situação 
de estar “em trânsito” está se tornando universal. Em conjunto, os aeroportos contêm 
populações de milhões de habitantes, além de contar com o maior quadro de funcionários 
que se conhece. Na totalidade de seus serviços, os aeroportos são bairros da Cidade 
Genérica, às vezes inclusive são sua razão de ser (seu centro?), com a somada atração 
de ser sistemas herméticos, dos quais não há escapatória, salvo apenas para ir a outro 
aeroporto. 4.3. A Data/Idade da Cidade Genérica pode reconstruir-se a partir de uma 
leitura cuidadosa da geometria de seu aeroporto. Planta hexagonal (em casos singulares, 
pentagonal ou heptagonal): década de 1960. Planta e corte ortogonais: década de 1970. 
Interessante notar que quase todos os aeroportos globais 
são projetados por arquitetos do Star System.
Cidade Genérica
Cidade Collage: década de 1980. Uma única secção curva, interminavelmente extrudada 
em uma planta linear: provavelmente década de 1990. (Com a estrutura ramificada como a 
de um carvalho: Alemanha). 4.4. Os aeroportos se apresentam em dois tamanhos: 
demasiados grandes e demasiados pequenos. Mas seu tamanho não tem influência 
alguma em seu rendimento. Isto indica que o aspecto mais intrigante de todas as infra-
estruturas é sua elasticidade essencial. Calculados com exatidão para os contatos – 
passageiros por ano –, se vêm invadidos pelos incontáveis; e sobrevivem, ampliados até a 
máxima indeterminação. 5. População 5.1. A Cidade Genérica é rigorosamente 
multirracial, uma média de 8% de negros, 12% brancos, 27% hispânicos, 37% 
asiáticos/chineses, 6% indeterminados e 10% outros. E não só multirracial, mas também 
multicultural. Esta é a razão de que não nos causa surpresa ver templos entre os edifícios, 
dragões nos principais boulevards ou budas nos CBD (Central Business District ou Distrito 
Central de Negócios). 5.2. A Cidade Genérica sempre é fundada por pessoas que vão de 
um lado para outro, preparadas para seguir adiante. Isto explica a insustentabilidade de 
suas fundações. Como os flocos que subitamente se formam em um líquido transparente 
ao se juntar duas substâncias químicas para posteriormente acumular-se no fundo, a 
colisão ou confluência de duas migrações – por exemplo, cubanos emigrados que vão 
para o norte e judeus aposentados que vão para o sul, em última instância todos em seus 
caminhos para outro lugar – estabelece, quando menos se espera, um assentamento. 
Uma Cidade Genérica nasce. 6. Urbanismo 6.1. A grande originalidade da Cidade 
Genérica está simplesmente em abandonar o que não funciona – o que tem sobrevivido a 
seu uso – para romper o asfalto do idealismo com os martelos pneumáticos do realismo e 
aceitar qualquer coisa que cresça em seu lugar. Nesse sentido, a Cidade Genérica 
acomoda tanto o primitivo como o futurista: de fato, somente estas duas coisas. A Cidade 
Genérica é tudo o que resta do que costumava ser a cidade. A Cidade Genérica é a pós-
Ruas da Liberdade decoradas com lanternas, jor-
nais espalhados pela cidade em alguma língua 
oriental, mangás saindo pelo ladrão das bancas 
de jornais, restaurantes japoneses e chineses em 
cada esquina da cidade... Mas pensando bem, não 
é São Paulo que tem esta média multirracial. É o 
próprio habitante da metrópole que possui essa 
média, dentro dele mesmo. Suas origens, seus 
gostos, seus conhecimentos, etc, etc...
Cidade Genérica
cidade sendo preparada no local da ex-cidade. 6.2. A Cidade Genérica se mantém unida, 
não por um âmbito público excessivamente exigente – progressivamente degradado em 
uma seqüência surpreendentemente longa na qual o Fórum Romano é para a Ágora 
Grega o que o Shopping Center é para a Grande Avenida – se não fosse pelo residual. No 
modelo original dos modernos, o residual era simplesmente uma zona verde, e sua 
controlada delicadeza era uma afirmação moralista das boas intenções, de uma 
associação desalentadora e do uso. Na Cidade Genérica, devido a esbeltez da superfície 
de sua civilização e graças à sua tropicalidade imanente, o vegetal se transforma em 
resíduo edênico, sendo o principal portador de sua identidade um híbrido de política e 
paisagem. Ao mesmo tempo refúgio do ilegal e do incontrolável, e submetida a uma 
interminável manipulação, representa um triunfo simultâneo do cosmético e do primitivo. 
Sua exuberância imoral compensa outras deficiências da Cidade Genérica. 
Supremamente inorgânica, o orgânico é o mito mais poderoso da Cidade Genérica. 6.3. A 
rua está morta. Essa descoberta coincidiu com as frenéticas tentativas de sua 
ressurreição. A arte pública está por toda parte: como se duas mortes fizessem uma vida. 
A pedestrialização – pensada para conservar – simplesmente canaliza o fluxo dos 
condenados a destruir com seus próprios pés o objeto de sua presumível veneração. 6.4.
A Cidade Genérica está passando da horizontalidade para a verticalidade. Como se o 
arranha-céu fosse a tipologia final e definitiva. Ele engole todo o restante. Pode existir em 
qualquer lugar: em um campo de arroz ou no centro da cidade, já não há nenhuma 
diferença. As torres já não estão juntas; afastam-se de modo a não interagir. A densidade 
isolada é o ideal. 6.5. A habitação não é um problema. Foi resolvido completamente ou foi 
deixado totalmente de lado. No primeiro caso é legal; no segundo, “ilegal”. No primeiro 
caso, são torres ou, habitualmente, blocos (com média de 15 metros de largura); no 
segundo (em perfeita complementaridade) uma casca de casebres improvisada. Uma 
Resquícios de Delirius New York!
É curioso ter o São Vito em mente 
ao ler este trecho. São Paulo é real-
mente uma forma bizzara e mutante 
dessa Cidade Genérica.
Cidade Genérica
solução consome o céu; a outra, o terreno. É estranho que aqueles que têm menos 
dinheiro habitem o artigo mais caro (a terra), e os que pagam habitem o que é grátis (o ar). 
Em ambos os casos, a habitação demonstra ser surpreendentemente acomodatícia: não 
só a população duplica a cada par de anos, senão também, com o decrescente controle 
das diversas religiões, o número médio de ocupantes por unidade se reduz à metade – 
devido ao divórcio e outros fenômenos de divisão familiar – com a mesma freqüência que 
se duplica a população da cidade; à medida que suas cifras crescem, a densidade da 
Cidade Genérica diminui de maneira perpétua. 6.6. Todas as Cidades Genéricas surgem 
da Tabula Rasa, se não havia nada, agora estão lá; se havia algo, elas a substituíram. 
Deviam fazê-lo, de outro modo seriam históricas. 6.7. A paisagem urbana Genérica é 
habitualmente um amálgama de setores excessivamente ordenados – que datam de cerca 
do início de seu desenvolvimento, quando “o poder” ainda não havia se diluído – ou 
ordenações cada vez mais livres por toda parte. 6.8. A Cidade Genérica é a apoteose do 
conceito de múltipla escolha: todos os espaços marcados, uma antologia de todas as 
opções. Habitualmente a Cidade Genérica tem sido “planejada” não no sentido usual de 
que certa organização burocrática controle seu desenvolvimento, mas como se diversos 
ecos, esporas, tropos e sementes tivessem caído na terra aleatoriamente como na 
natureza, tivesse enraizado – aproveitando a fertilidade natural do terreno – e agora 
formassem um conjunto: uma reserva de genes que às vezes produz resultados 
assombrosos. 6.9. A linguagem da cidade pode ser indecifrável e defeituosa, mas isso não 
significa que não haja linguagem; talvez simplesmente seja que nós criamos um novo 
analfabetismo, uma nova cegueira. A paciente percepção revela os temas, as partículas e 
as correntes que podem isolar-se da aparente impenetrabilidade dessa sopa Wagneriana: 
recados deixados em um quadro negro por um gênio visitante há 50 anos atrás, informes 
xerocados da ONU que se desintegram em seu silo de vidro de Manhattam, descobertas 
Genérica ou não, realmente a cidade está 
aí para ser lida e vivenciada.
Cidade Genéricade antigos pensadores coloniais com um olho afinado para o clima, os imprevisíveis 
ricochetes da educação para o desenho reunindo força como um processo global de 
limpeza. 6.10. A melhor definição da estética da Cidade Genérica é o “free style” (Estilo 
Livre). Como descrevê-lo? Imaginemos um espaço aberto, uma claridade na floresta, uma 
cidade nivelada. Existem três elementos: estradas, os edifícios e a natureza; todos eles 
coexistem em relações flexíveis, aparentemente sem motivo, em uma espetacular 
diversidade organizativa. Qualquer uma das três pode dominar: às vezes a “estrada” está 
perdida – ser encontrada serpenteando em um desvio incompreensível; às vezes você não 
vê edifício algum, apenas natureza; então, de modo igualmente imprevisível, você está 
rodeado apenas por edifícios. Em certos pontos preocupantes, todas as três estão, 
simultaneamente, ausentes. Nesses “locais” (na realidade, qual é o oposto de Local? Eles 
são buracos perfurados no conceito de cidade) a arte pública emerge como o monstro do 
lago Ness, equilibradamente figurativo e abstrato, usualmente auto-limpantes. 6.11. As 
Cidades Específicas continuam debatendo seriamente os erros dos arquitetos – por 
exemplo, suas propostas para criar redes de pedestres elevadas com tentáculos que 
conduzam de uma quadra para outra como solução para o congestionamento – mas a 
Cidade Genérica simplesmente aproveita os benefícios das invenções deles: plataformas, 
pontes, túneis, rodovias – uma enorme proliferação dessa parafernália para conexão – 
freqüentemente encoberto com arbustos e flores como se para evitar o pecado original, 
criando assim um congestionamento vegetal mais severo que um filme de ficção científica 
dos anos 50. 6.12. As estradas são apenas para carros. Pessoas (pedestres) são guiadas 
por trilhas (como em um parque de diversões), em “passeios” que os elevam do solo, 
então os submetem a um catálogo de situações exageradas – vento, calor, frio, interior, 
exterior, cheiros, gases – numa seqüência que é uma caricatura grotesca da vida na 
Cidade Histórica. 6.13. A Cidade Genérica apresenta a morte final do planejamento. 
Cidade Genérica
Porque? Não porque ela não é planejada – de fato, enormes universos complementares 
de burocratas e promotores canalizam fluxos inimagináveis de energia e dinheiro até sua 
conclusão; pelo mesmo valor, suas superfícies poderiam ser fertilizadas por diamantes, 
seus campos enlameados pavimentados com tijolos de ouro... Mas sua descoberta mais 
perigosa e estimulante é que o planejamento não faz diferença alguma. Edifícios podem 
ser bem colocados (uma torre próxima de uma estação de metrô) ou mal colocados 
(centros inteiros a quilômetros de distância de qualquer estrada). Eles florescem/perecem 
imprevisivelmente. Redes viárias se esticam em excesso, envelhecem, apodrecem, se 
tornam obsoletas; populações duplicam, triplicam, quadruplicam, e desaparecem 
repentinamente. A superfície da cidade explode, a economia acelera, freia, dispara, 
desmorona. Como mães antigas que continuam cuidando de seus embriões titânicos, 
cidades inteiras são construídas sobre infra-estruturas coloniais das quais os opressores 
levaram os projetos para casa. Ninguém sabe onde, como, desde quando o esgoto 
funciona, a localização exata das linhas telefônicas, qual a razão para a posição do centro, 
nem onde acabam os eixos monumentais. Tudo isso prova que existem infinitas margens 
escondidas, colossais reservas de inércia, um perpétuo processo orgânico de ajuste, 
normas e comportamentos, expectativas mudam com a inteligência biológica do animal 
mais atento. Nessa apoteose da múltipla escolha, jamais será possível novamente 
reconstruir a causa e o efeito. Funcionam – isso é tudo. 6.16. A aspiração da Cidade 
Genérica à tropicalidade supõe automaticamente a rejeição de qualquer referência 
prolongada da cidade como fortaleza, como cidadela; está aberta e acomodando como um 
mangue. 7. Política 7.1. A Cidade Genérica tem uma (às vezes distante) relação com um 
regime mais ou menos autoritário – local ou nacional. Normalmente os companheiros do 
“líder” – quem quer que seja – decidem desenvolver um pedaço do “centro urbano” na 
periferia, ou até iniciar uma nova cidade no meio do nada, e desencadear o boom que 
Poderíamos destacar esse trecho e 
transplantá-lo na letra “U” dessa docu-
mentação. Que tal?
Cidade Genérica
coloca a cidade no mapa. 7.2. Com muita freqüência, o regime desenvolveu um 
surpreendente grau de invisibilidade, como se, graças a sua permissividade, a Cidade 
Genérica resiste ao ditatorial. 8. Sociologia 8.1. É muito surpreendente que o triunfo da 
Cidade Genérica não tenha coincidido com o triunfo da Sociologia – uma disciplina cujo 
“campo” tenha sido ampliado pela Cidade Genérica além da imaginação mais desaforada. 
A Cidade Genérica é Sociologia, acontecendo. Cada Cidade Genérica é uma travessa de 
Petri – ou um quadro negro infinitamente paciente no qual quase qualquer hipótese pode 
ser “demonstrada” e em seguida apagada, para nunca mais ser lembrada nas mentes de 
seus autores ou seu público. 8.2. Claramente, existe uma proliferação de comunidades – 
um zapping sociológico – que resiste a uma sensível interpretação revogatória. A Cidade 
Genérica está afrouxando todas as estruturas que, no passado, fizeram qualquer coisa se 
unirem. 8.3. Mesmo infinitamente paciente, a Cidade Genérica é também persistentemente 
resistente à especulação: ela demonstra que a Sociologia pode ser o pior sistema para 
capturar a Sociologia em seu cerne. Ela passa a perna em cada crítica estabelecida. 
Contribui com grande quantidade de evidências para e – em quantidades ainda mais 
impressionantes – contra cada hipótese. Em A as torres conduzem ao suicídio, em B para 
a felicidade para sempre. Em C elas são vistas como um primeiro passo no caminho à 
emancipação (presumivelmente sob algum tipo de “ameaça” invisível, entretanto), em D 
simplesmente como algo ultrapassado, fora de moda. Construídos em quantidades 
inimagináveis em K, eles estão sendo explicados em L. Criatividade é inexplicavelmente 
alta em E, inexistente em F. G é um mosaico étnico ininterrupto, H perpetuamente à mercê 
do separatismo, se não na beira da guerra civil. O modelo Y nunca vai durar devido a sua 
alteração da estrutura familiar, mas Z floresce – uma palavra que acadêmico algum 
aplicaria à qualquer atividade na Cidade Genérica – por causa dela. A Religião se vê 
erodida em V, sobrevivendo em W, transformada em X. 8.4. Estranhamente, ninguém 
Cidade Genérica
havia pensado que acumulando-as, as infinitas contradições dessas interpretações 
provam a riqueza da Cidade Genérica; esta é a hipótese que tem sido eliminada 
antecipadamente. 9. Bairros 9.1. Existe sempre um bairro chamado Lipservice [Jogo de 
palavras: To pay lip service significa algo como “Falar da boca para fora”. N.T.], onde um 
mínimo do passado é preservado: normalmente é uma antiga via de trem/bonde ou um 
ônibus de dois andares circulando pela cidade, e tocando agourentos sinos – versões 
domesticadas do barco fantasma Flying Dutchman. As cabines telefônicas também são 
vermelhas e transplantadas de Londres, ou equipados com pequenos telhados chineses. 
Lipservice – também chamados Afterthoughts [Idéias Posteriores], Waterfront [Orla], Too 
Late [Tarde Demais], 42nd Street [Rua 42], simplesmente The Village [A Aldeia], ou 
inclusive Underground [Subterrâneo] – é uma operação mítica elaborada: celebra o 
passado como somente o recém-criado pode fazer. É uma máquina. 9.2. A Cidade 
Genérica teve um passado, alguma vez. Em seu impulso por destaque, grandes setores 
dela, de algum jeito, desapareceram, primeiro não lamentado – aparentemente o passado 
foi surpreendentemente insalubre, até mesmo perigoso – então, sem aviso, o alívio se 
tornou um pesar. Certos profetas – longos cabelos brancos, meias cinzas, sandálias – 
sempre alertaram que o passado eranecessário – um recurso, uma fonte. Lentamente a 
máquina de destruição pára de esmigalhar; algumas choupanas aleatórias do lavado plano 
Euclidiano são salvas, restituídas de um esplendor que nunca tiveram... 9.3. Apesar de 
sua ausência, a história é a maior preocupação, até mesmo industrial, da Cidade 
Genérica. Nos terrenos liberados, em torno das choupanas restauradas, ainda mais hotéis 
são construídos para receber turistas adicionais em proporção direta à eliminação do 
passado. Sua desaparição não tem influência alguma em suas cifras, ou talvez isso seja 
apenas uma investida de última hora. Turismo é agora independente do destino... 9.4. Ao 
invés de lembranças específicas, as associações que a Cidade Genérica mobilizam são 
Cidade Genérica
lembranças gerais, lembranças de lembranças: se não todas lembranças ao mesmo 
tempo, então pelo menos um resumo, um sinal de memória, um dejà vu que nunca acaba, 
memória genérica. 9.5. Apesar de sua modesta presença física (Lipservice nunca tem 
mais de três pavimentos de altura: homenagem para Jane Jacobs ou vingança de Jane 
Jacobs?) ele condensa o passado inteiro em um único conjunto. Aqui a história retorna 
não como uma farsa, mas como um serviço: comerciantes fantasiados (chapéus 
engraçados, entranhas expostas, um véu) ativam voluntariamente as condições 
(escravidão, tirania, doença, pobreza e colonialismo) que suas nações, num determinado 
momento, foram à guerra para abolir. Como um vírus que se multiplica pelo mundo todo, o 
colonial parece a única fonte inesgotável de autenticidade. 9.6. 42nd Street [Rua 42]: 
aparentemente onde o passado é preservado, na verdade eles são os lugares onde o 
passado tem mudado mais, e é o mais distante – como se o víssemos com um telescópio 
ao avesso – ou até eliminado completamente. 9.7. Somente a memória de excessos 
anteriores é forte suficiente para mudar o insosso. Como se eles tentassem se aquecer 
com o calor de um vulcão extinto, os lugares mais populares (com turistas, e na Cidade 
Genérica isso inclui todo mundo) são os que alguma vez estiveram mais intensamente 
associados ao sexo e à má conduta. Inocentes invadem os antigos pontos de cafetões, 
prostitutas, gigolôs, travestis, e em menor grau, artistas. Paradoxalmente, no mesmo 
momento que a rodovia da informação está a ponto de entregar pornografia em toneladas 
nas salas de estar, é como se a experiência de caminhar nessas brasas requentadas de 
transgressão e pecado os fizesses se sentir especiais, vivos. Numa geração que não gera 
uma nova aura, o valor da aura estabelecida dispara. É andando o mais perto dessas 
cinzas que eles acharão a culpa? Existencialismo diluído na intensidade de uma Perrier? 
9.8. Cada Cidade Genérica tem uma orla, não necessariamente com água – pode ser 
também com deserto, por exemplo – mas pelo menos uma borda onde a cidade encontra 
Filosofi a erudita mesclada com 
cultura de massa. Idêntica à 
cidade genérica.
Cidade Genérica
outras condições, como se a posição de escape próximo fosse a melhor garantia para seu 
desfrute. Aqui turistas se congregam em bandos em volta de um aglomerado de 
quiosques. Hordas de vendedores ambulantes tentam vender aos turistas os aspectos 
“únicos” da cidade. As partes únicas de todas as Cidades Genéricas juntas têm criado um 
souvenir universal, um cruzamento científico entre a torre Eiffel, a Sacre Coeur e a Estátua 
da Liberdade: um alto prédio (normalmente entre 200 e 300 metros) submergido numa 
pequena bacia de água com neve ou, próximo do Equador, flocos de ouro; diários com 
capas de couro bexiguento; sandálias hippie – ainda que hippies verdadeiros são 
rapidamente repatriados. Os turistas os acariciam – ninguém presencia uma venda – e 
logo sentam em exóticas lancherias que bordeam a orla: eles provam toda gama de pratos 
do dia: que, em princípio e em última instância, podem ser a indicação de estar em outro 
lugar; hambúrgueres: de carne ou sintéticos; cru: prática atávica que será muito popular no 
terceiro milênio. 9.9. Camarão é o aperitivo final. Graças à simplificação da cadeia 
alimentar – e variações na preparação – eles terão gosto de bolinhos ingleses, quer dizer, 
gosto de nada. 10. Programa 10.1. Escritório continua lá, em quantidades ainda maiores, 
de fato. Pessoas dizem que eles não são mais necessários. Em um prazo de cinco a dez 
anos nós todos vamos trabalhar em casa. Mas aí precisaremos casas maiores, grandes o 
suficiente para reuniões. Escritórios terão que ser convertidos em casas. 10.2. A única 
atividade é ir às compras. Mas porque não considerar esse ato como provisório, 
temporário? Esperando tempos melhores. É falha nossa – nós nunca pensamos em nada 
melhor para fazer. Os mesmos espaços inundados com outros programas – bibliotecas, 
banhos, universidades – seriam excelentes; ficaríamos apavorados com sua 
grandiosidade. 10.3. Hotéis estão se tornando as acomodações da Cidade Genérica, sua 
peça edificada mais comum. Antes eram os escritórios – que ao menos implicavam um ir e 
vir, assumindo a presença de outras importantes acomodações em outros lugares. Hotéis 
Cidade Genérica
agora são contenedores que, na sua expansão e universalidade de seus serviços, fazem 
que quase todos os outros edifícios sejam redundantes. Inclusive atuando também como 
centros comerciais, hotéis são o mais próximo que chegaremos da existência urbana, 
estilo século XXI. 10.4. O Hotel implica agora em aprisionamento, uma prisão domiciliar 
voluntária; não existe lugar à altura para ir; você chega e fica. Conjuntamente, descreve 
uma cidade de dez milhões de habitantes, todos trançados em seus quartos, um tipo de 
animação inversa – implosão da densidade. 11. Arquitetura 11.1. Feche os olhos e 
imagine uma explosão de bege. No epicentro salpicam a cor das pregas vaginais (sem 
excitar), o berinjela metálico fosco, tabaco-caqui, abóbora empoeirada; todos os carros se 
aproximam da brancura nupcial... 11.2. Existem edifícios interessantes e tediosos na 
Cidade Genérica, como em todas as cidades. Em ambos os casos sua ascendência 
remonta a Mies van der Rohe: a primeira categoria para a sua irregular torre Friedrichstadt 
(1931), e a segunda para as caixas que concebeu não muito tempo depois. Essa 
seqüência é importante: obviamente, após uma experimentação inicial, Mies dispôs sua 
mente de uma vez por todas contra o interessante e a favor do tedioso. No máximo, seus 
edifícios posteriores captam o espírito do seu trabalho anterior – sublimado, reprimido? - 
como uma ausência mais ou menos apreciável, mas ele nunca mais propôs projetos 
“interessantes” como possíveis edifícios. A Cidade Genérica demonstra que estava 
equivocado: seus arquitetos mais audaciosos aceitaram o desafio que Mies abandonou, 
até o ponto onde agora fica difícil de encontrar uma caixa. Ironicamente, esta homenagem 
exuberante ao “Mies interessante” mostra que “o” Mies estava errado. 11.3. A arquitetura 
da Cidade Genérica é bela por definição. Construída a uma velocidade incrível, e 
concebida em um ritmo ainda mais incrível, existe uma média de 27 versões abortadas 
para cada edifício realizado – mas esse não é exatamente o termo. Os projetos são 
preparados nos 10.000 escritórios de arquitetura que ninguém sequer ouviu falar, todos 
Cidade Genérica
vibrantes com uma fresca inspiração. Supostamente mais modestos que seus colegas 
conhecidos, estes escritórios estão ligados por uma consciência coletiva de que algo vai 
mal com a arquitetura e que somente pode ser corrigido mediante seus esforços. O poder 
dos números lhe confere uma esplêndida e lustrosa arrogância. São os únicos que 
projetam sem nenhum deslize. Reúnem, de 1001 fontes, com uma precisão selvagem, 
mais riquezas que qualquer gênio possa ter. Como média, sua educação custou U$ 
30.000, excluindo viagem e alojamento. 23% foram “branqueados” nas universidades 
americanas da Ivy League, onde tiveram contato – admitindo que em períodosmuito 
curtos – com a elite bem paga da outra profissão, a “oficial”. Deduz-se que um 
investimento combinado total de 300 bilhões de dólares em formação arquitetônica 
(30.000 dólares [custo médio] x 100 [número médio de trabalhadores por escritório] x 
100.000 [número de escritórios no mundo todo]) está trabalhando e produzindo Cidades 
Genéricas em todo momento. 11.4. Edifícios que são complexos na forma dependem da 
indústria do muro cortina, dos adesivos cada vez mais eficazes e dos seladores que 
convertem cada edifício em uma mescla de camisa de força e tanque de oxigênio. O uso 
do silicone – “nós estamos esticando a fachada tanto quanto for possível.” – igualou todas 
as fachadas, colou vidro em pedra em aço em concreto com uma impureza da era 
espacial. Essas uniões deram a aparência de rigor intelectual através da aplicação liberal 
de um composto espermático transparente que mantém tudo junto por questões de 
intenção mais que de desenho – um triunfo da cola sobre a integridade dos materiais. 
Como todo o resto na Cidade Genérica, sua arquitetura é o resistente tornado maleável, 
uma epidemia de flexibilidade causada, não pela aplicação dos princípios, mas através da 
sistemática aplicação do que não tem princípios. 11.5. Dado que a Cidade Genérica é 
principalmente asiática, sua arquitetura é geralmente “ar-condicionada”; é aí onde o 
paradoxo da recente mudança de paradigma – a cidade não mais representa o 
Cidade Genérica
desenvolvimento máximo, mas um subdesenvolvimento no limite – se torna agudo: os 
meios brutais com os quais é realizado o condicionamento universal imita dentro do 
edifício as condições climáticas que um dia “aconteceram” do lado de fora – tormentas 
repentinas, mini-tornados, rajadas geladas na cafeteria, ondas de calor, até mesmo 
neblina; um provincianismo do mecânico, abandonado pela matéria cinza em busca do 
eletrônico. Incompetência ou imaginação? 11.6. A ironia é que, deste modo, a Cidade 
Genérica, alcança seu ponto mais subversivo, mais ideológico; eleva a mediocridade a um 
nível mais alto; é como o Merzbau de Kurt Schwitter na escala da cidade: a Cidade 
Genérica é uma Merz City. 11.7. O ângulo das fachadas é o único indicador confiável da 
genialidade arquitetônica: 3 pontos por inclinar-se para trás, 12 pontos por inclinar-se para 
frente, penalidade de 2 pontos por recuos (nostálgicos demais). 11.8. A aparente 
substância sólida da Cidade Genérica é enganosa. 51% do seu volume consiste em um 
átrio. O átrio é um recurso diabólico na sua habilidade para dar substância ao 
insubstancial. Seu nome romano é uma eterna garantia de classe arquitetônica – suas 
origens históricas fazem que o tema seja inesgotável. Acomoda o morador da caverna na 
sua implacável provisão de conforto metropolitano. 11.9. O átrio é espaço vazio: vazios 
são os edifícios essenciais da Cidade Genérica. Paradoxalmente, sua concavidade 
assegura sua fisicalidade, sendo o exagero do volume o único pretexto para sua 
manifestação física. Quanto mais complexos e repetitivos são seus interiores, menos sua 
repetição essencial é notada. 11.10. O estilo escolhido é o pós-moderno, e sempre 
permanecerá assim. Pós-modernismo é o único movimento que conseguiu conectar a 
prática da arquitetura com a prática do pânico. Pós-modernismo não é uma doutrina 
baseada numa leitura civilizada da história da arquitetura mas um método, uma mutação 
da arquitetura profissional que produz resultados rápidos o bastante para manter o passo 
de desenvolvimento da Cidade Genérica. Ao invés de consciência, como talvez haviam 
O artista alemão Kurt Schwitter não passava de 
um pintor medíocre e imitador dos seus contem-
porâneos até que descobriu as colagens. Isto 
aconteceu graças ao contato que teve com o 
grupo dos artistas Dada e, sobretudo, Hans Arp. 
De 1919 a 1923 criou uma série de composições 
abstratas a que chamou invariavelmente Merz. 
Estas composições, que muitos consideram a 
sua maior contribuição para a arte do século XX, 
possuem uma grande carga poética proveniente 
da justaposição de elementos diversos encontra-
dos ao acaso.
Cidade Genérica
esperado seus inventores originais, cria um novo inconsciente. É o pequeno ajudante da 
modernização. Qualquer um pode fazê-lo – um arranha-céu baseado no pagode chinês 
e/ou uma cidade toscana na colina. 11.11. Toda resistência ao Pós-modernismo é 
antidemocrática. Ela cria um envoltório “sigiloso” ao redor da arquitetura que a deixa 
irresistível, como um presente de natal de caridade. 11.12. Existe uma conexão no 
predomínio entre o espelho na Cidade Genérica – ele exalta o nada mediante sua 
multiplicação ou é um esforço desesperado para capturar suas essências em vias de 
evaporação? – e as “ofertas” que, durante séculos, supostamente eram os presentes mais 
populares e eficazes para os selvagens? 11.13. Máximo Gorki fala em relação a Coney 
Island de “aborrecimento variado”. Ele claramente pretende que o termo seja um oxímoro. 
Variedade não pode ser chata. Aborrecimento não pode ser variado. Mas a infinita 
variedade da Cidade Genérica se aproxima, pelo menos, de fazer da variedade algo 
normal: banalizada, ao contrário de expectativa, é a repetição que se tornou incomum e, 
portanto, potencialmente audaz e estimulante. Mas isso é para o século XXI. 12. 
Geografia 12.1. A Cidade Genérica está em um clima mais quente que o usual; está a 
caminho do sul – até o Equador – longe da bagunça que o norte fez com o segundo 
milênio. É um conceito em estado de migração. Seu destino final é ser tropical – melhor o 
clima, mais pessoas bonitas. Está habitada por aqueles que não gostam de estar em outro 
lugar. 12.2. Na Cidade Genérica, as pessoas não são apenas mais bonitas que seus 
pares, elas também têm fama de serem mais educadas, menos ansiosas com o trabalho, 
menos hostis, mais agradáveis – prova, em outras palavras, que existe uma conexão entre 
arquitetura e comportamento que a cidade pode criar pessoas melhores através de 
métodos ainda não identificados. 12.3. Uma das características mais fortes da Cidade 
Genérica é a estabilidade do tempo – sem estações, previsão de dia ensolarado – no 
entanto todas as previsões se apresentam como uma mudança iminente e uma futura 
Cidade Genérica
deterioração: nuvens em Karachi. Do ético ao religioso, o tema da condenação foi elevado 
ao inescapável domínio do meteorológico. Mau tempo é quase a única preocupação que 
paira sobre a Cidade Genérica. 13. Identidade 13.1. Existe uma redundância calculada (?) 
na iconografia adotada pela Cidade Genérica. Se ela é litorânea, então símbolos baseados 
na água são distribuídos por todo seu território. Se ela é um porto, então navios e gruas 
irão aparecer terra adentro. (Entretanto, mostrando os contêineres em si mesmos não 
fariam sentido: você não pode particularizar o genérico através do genérico.) Se ela é 
asiática, então “delicadas” (sensuais, inescrutáveis) mulheres aparecem em posições 
elásticas, sugerindo submissão (religiosa, sexual). Se ela tem uma montanha, cada 
folheto, cardápio, bilhete ou cartaz insistirá na colina, como se nada menor que uma 
tautologia ininterrupta fosse convencer. 14. História 14.1. Lamentar sobre a ausência de 
História é um reflexo cansativo. Revela um consenso tácito de que a presença da História 
é desejável. Mas quem disse que é esse o caso? Uma cidade é um plano habitado da 
maneira mais eficiente, por pessoas e processos e, na maioria dos casos, a presença da 
História apenas prejudica seu desempenho. 14.2. A História presente obstrui o puro 
aproveitamento de seu valor teórico como ausência. 14.3. Ao longo da História da 
Humanidade – para iniciar um parágrafo à maneira americana – cidades cresceram 
mediante um processo de consolidação. Mudanças são feitas. Coisas são melhoradas. 
Culturas florescem, decaem, revivem, desaparecem, são saqueadas, invadidas, 
humilhadas, estupradas, triunfam, renascem, têm anos dourados, caemsubitamente em 
silêncio – todos no mesmo local. Por isso arqueologia é uma profissão que consiste em 
escavar. Revela camadas após camadas de civilizações (quer dizer, da cidade). A Cidade 
Genérica, como um croqui que nunca é finalizado, não é melhorada, mas abandonada. A 
idéia de estratificação, intensificação e finalização são exteriores a ela: ela não tem 
camadas, sua próxima camada acontece em algum outro lugar, até mesmo ao lado – que 
Cidade Genérica
pode ser do tamanho de um país – ou até mesmo em lugar totalmente diferente. O 
“arqueologista” (=arqueologia com mais interpretação) do século XX necessita de 
ilimitados tickets de avião, e não de uma pazinha. 14.4. Ao exportar / ejetar suas 
melhorias, a Cidade Genérica perpetua sua própria amnésia (seu único vínculo com a 
eternidade?). Sua arqueologia será, portanto, a prova do seu progressivo esquecimento, a 
documentação da sua evaporação. Sua genialidade acabará com as mãos vazias – não 
um imperador sem roupas, mas um arqueólogo sem descobertas, nem mesmo um sítio 
arqueológico. 15. Infra-Estrutura 15.1. As infra-estruturas, que eram reforçadas e 
completadas mutuamente, estão se tornando mais e mais competitivas e locais; elas já 
não fingem criar conjuntos que funcionem, mas agora tecem entidades funcionais. Ao 
invés de rede e organismo, as novas infra-estruturas criam entraves e impasses: não mais 
os “grand récit” [traçados grandiosos], mas os desvios parasitas. (A cidade de Bangkok 
aprovou planos para três sistemas rivais de metrô elevado para ir de A para B – talvez o 
mais forte vença.) 15.2. Infra-estrutura não é mais uma resposta mais ou menos atrasada 
para uma necessidade mais ou menos urgente, mas uma arma estratégica, uma previsão: 
o porto X não é ampliado para servir a um território interior de consumidores frenéticos, 
mas para eliminar / reduzir as chances de que o porto Y sobreviva ao século XXI. Em uma 
única ilha, para a metrópole meridional Z, ainda na sua primeira infância, é “dado” um novo 
sistema de metrô para fazer a metrópole já estabelecida W (ao norte) parecer desajeitada, 
congestionada e antiga; a vida em V é suavizada para fazer a vida em U eventualmente 
insuportável. 16. Cultura 16.1. Somente o redundante conta. 16.2. Em cada fuso horário 
existe pelo menos três apresentações dos musicais Cats. O mundo está rodeado por um 
anel de saturno de miados. 16.3. A cidade costumava ser o grande terreno para a caçada 
sexual. A Cidade Genérica é como uma agência de encontros: ela combina eficientemente 
a oferta e a demanda. Orgasmo ao invés de agonia: existe o progresso. As mais obscenas 
Cidade Genérica
possibilidades são anunciadas nas mais claras tipografias; Helvetia se tornou pornográfica. 
17. Fim 17.1. Imagine um filme de Hollywood sobre a bíblia. Uma cidade em algum lugar 
da terra santa. Cena do mercado: da esquerda para a direita, extras vestidos em trapos 
coloridos, casacos de pele, túnicas de seda, entram no quadro gritando, gesticulando, 
virando os olhos, iniciando brigas, rindo, coçando suas barbas, seus apliques falsos, 
apinhando-se no centro da imagem, agitando varas, punhos, virando barracas, pisoteando 
animais... Pessoas gritam, vendendo mercadorias? Anunciando os futuros? Invocando os 
deuses? Bolsas são roubadas, criminosos perseguidos (ou auxiliados?) pela multidão. 
Padres pedem calma. Crianças correm enlouquecidas numa floresta de pernas e túnicas. 
Animais ladram. Estátuas derrubadas. Mulheres dão gritos estridentes – ameaçadas? 
Extasiadas? A massa amontoada se torna oceânica. As ondas quebram. Agora tiremos o 
som – silêncio, um grande alívio – e rebobinemos o filme. Os homens e mulheres, agora 
mudos mas ainda visivelmente agitados, retrocedem aos tropeços; o observador não mais 
registra apenas humanos, mas começa a notar espaços entre eles. O centro se esvazia; 
as últimas sombras deixam o retângulo do quadro da imagem, provavelmente reclamando, 
mas felizmente não os ouvimos. Silêncio é agora reforçado pelo vazio: a imagem mostra 
barracas vazias, alguns escombros pisoteados, alívio... Terminou. Essa é a história da 
cidade. A Cidade já não está. Agora podemos sair do Cinema...
Koolhaas Roteirista. Fases da vida se 
entrecruzando. Vestígios de uma vida 
que se acumula como pó. Exatamente 
como na cidade.
Delírio
in Kenchiku Bunka 579
DETAIL [detalhe]
Perversely, architecture – the art that defines our environment – is often judged on details. 
“Good” detailing is a form of narcissism, or a sign of desperation. It problematizes issues 
that should be left alone: the “meeting” of a wall and a floor, the “encounter” of glass and 
stone, etc, etc. It says “This is how / solve a problem.” But there are no problems in 
architecture. For years, we have concentrated on no-detail. Sometimes we succeed – it’s 
gone, abstracted: sometimes we fail – it’s still there. Details should disappear – they are 
the old architecture. 
Delírio
Muitos dizem que para entender uma cidade é preciso um longo passeio por suas ruas 
com um guia especializado nas mãos. Mas temos que reconhecer que estes guias 
atendem sempre parte de nossos anseios e desejos. A cidade é reconhecida em trechos. 
E talvez apenas um livro tenha encarado a cidade de frente, com toda sua complexidade 
de situações. “A” cidade e não “UMA” cidade. Apenas Delirius New York traz à tona as 
questões da metrópole contemporânea. Apenas Delirius New York é capaz de traduzir o 
desenrolar de todo o desenvolvimento das grandes metrópoles atuais. O livro transparece 
não apenas a Nova York Delirante, mas o possível delírio encontrado em toda Metrópole. 
São Paulo não seria diferente, por exemplo. 
Por isso crio aqui uma espécie de apêndice / homenagem. Uma homenagem aos 30 anos 
da publicação de Delirius New York pela editora da Universidade de Oxford. E também 
uma segunda comemoração, bem pertinente para nós brasileiros, pela recente publicação 
da versão portuguesa de Delirius pela editora Cosac & Naify. Uma versão que foi, 
inclusive, aprovada e revisada pelo próprio Rem Koolhaas. 
Enfim, o livro fala por si próprio, me atenho aqui apenas ao registro desse paralelo editorial 
1978-2008 e parabenizar mais uma vez esse livro que representa o grande delírio que é 
nossa Metrópole. Parabéns Delirius New York. 
Delírio
REM KOOLHAAS
ISBN: 9780195200355
264 p.
U$ 325,00
out of print
OXFORD UNIVERSITY PRESS, NEW YORK
DELIRIUS NEW YORK: A RETROACTIVE MANIFESTO FOR MANHATTAN
Delírio
trad. CATHERINE COLLET
ISBN: 285108173X
262 p.
€ 750,00
out of print
EDITIONS DU CHÊNE, PARIS
www.editionsduchene.fr
NEW YORK DÉLIRE: UNE MANIFESTE RÉTROACTIF POUR MANHATTAN
Delírio
REM KOOLHAAS
ISBN: 1885254008
320 p.
U$ 35,00
in stock
MONACELLI PRESS, NOVA YORK
DELIRIUS NEW YORK: A RETROACTIVE MANIFESTO FOR MANHATTAN
www.monacellipress.com
010 PUBLISHERS, ROTTERDAM
ISBN: 9064502110
€ 29,50
out of print
www.010publishers.nl
REM KOOLHAAS
320 p.
Delírio
trad. KEISUKE SUZUKI
ISBN: 4480085262
556 p.
¥ 1575,00
in stock
CHIKUMASHOBO, TÓQUIO
www.chikumashobo.co.jp
Delírio
trad. FRITZ SCHNEIDER
ISBN: 3931435008
328 p.
€ 25,00
in stock
ARCH+ VERLAG, AACHEN
DELIRIUS NEW YORK: EIN RETROAKTIVES MANIFEST FÜR MANHATTAN
www.archplus.net
Delírio
trad. RUGGERO BALDASSO
e MARCO BIRAGHI
ISBN: 978884356230
308 p.
€ 39,00
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ELECTA, MILÃO
DELIRIUS NEW YORK: UN MANIFESTO RETROATTIVO PER MANHATTAN
www.electaweb.it
Delírio
trad. CATHERINE COLLET
ISBN: 2863640879
320 p.
€ 29,00
in stock
EDITIONS PARENTHÈSES, MARSELHA
NEW YORK DÉLIRE: UNE MANIFESTE RÉTROACTIF POUR MANHATTAN
www.republique-des-lettres.fr
Delírio
trad. JORGE SAINZ
ISBN: 8425219663
318 p.
€ 33,65
in stock
GUSTAVO GILI EDITORIAL, BARCELONA
DELIRIO DE NUEVA YORK: UN MANIFIESTO RETROACTIVO PARA MANHATTAN
www.ggili.com
Delírio
trad. DENISE BOTTMANN
ISBN: 9788575036068
322 p.
R$ 58,00
in stock
COSAC & NAIFY, SÃO PAULO
NOVA YORK DELIRANTE: UM MANIFESTORETROATIVO PARA MANHATTAN
www.cosacnaify.com.br
Eleições 2008
in S, M, L, XL
ELEVATOR [elevador]
I think the true potential of the elevator is still in its infancy and has never really been 
explored sufficiently in the sense that what the elevator does for architecture is to liberate 
the architect form the stupid obligation to establish architectural relationships between 
different components of a building. The great potential and the great virtue of the elevator is 
that it can establish mechanical relationships with the same ease between the first and the 
second floors as between the first and hundredth. 
Eleições 2008
O ano de 2008 marcou na cidade de São Paulo, mais uma vez, o carimbo da 
democracia eleitoral brasileira. Fomos todos, habitantes formais ou não, obrigados 
a assistir desfiles e mais desfiles de campanhas colossais e máquinas de prometer 
e poluir a cidade. Praticamente um arrastão eleitoreiro. 
Imagino que deva ser extremamente prazeroso ser prefeito dessa caótica e 
indomável metrópole. Todos os candidatos se digladiam entre si para arrancar um 
voto de cada habitante indeciso. Aparelhos de captura social. 
Até o dia 05 de outubro de 2008 – data do primeiro turno das eleições – eram mais 
de dez pretendentes a tão disputada vaga de prefeito de São Paulo. Nesse período 
foram realizadas infinitas pesquisas – ibopes e datafolhas e outras mais suspeitas 
e desconhecidas – entre os habitantes da cidade para saber qual era a preferência 
municipal. De todos aqueles pretendentes, seis se destacaram na corrida insana 
pela cadeira de couro do gabinete municipal: 
- A ex-ministra do turismo Marta Suplicy (13) 
- O ex-vice prefeito da gestão Serra Gilberto Kassab (25) 
- O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (45) 
- O ex-presidiário Paulo Maluf (11) 
- A ex-MTV Sônia Francine (23) 
-O ex-PT Ivan Valente (50) 
Eu, como habitante interessado no futuro da cidade e organizador dessa 
documentação, fiquei atento e acompanhei todos os programas de governo dos 
seis candidatos que lideravam as pesquisas. Durante dias acompanhei os 
programas de TV e entrei em contato com os comitês de campanha de todos os 
candidatos em busca de uma única informação: o que se pretende fazer com o 
edifício São Vito, abandonado desde 2004 (também ano eleitoral)? 
A seguir as respostas obtidas de cada um dos candidatos, ou pelo menos, de seus 
assessores do comitê: 
Eleições 2008
Senhor, 
A candidata Marta pretende continuar as ações que tomou durante sua gestão. 
Pretende retomar o projeto de requalificação do arquiteto Roberto Loeb, trazer as 
famílias de volta para suas residências e transformar o térreo do edifício em um 
tele-centro. Mas é necessário ressaltar que essa decisão só será tomada em 
conjunto com os órgãos de planejamento e habitação da cidade. Esse e outros 
programas de moradia no centro serão avaliados pela candidata e, caso eleita, 
serão levados a todas as instâncias necessárias e serão transformados em 
operações de âmbito regional da cidade, como grandes investimentos em 
habitação de interesse social. 
Obrigado pelo interesse, 
Contamos com seu apoio e seu voto no dia 05 
Um abraço 
Comitê de campanha Marta 13 – A esperança vai vencer de novo. 
(Resposta recebida por e-mail, no dia 29 de setembro de 2008). 
Eleições 2008
Caro Eleitor, 
O edifício São Vito é um caso muito específico e necessita uma demanda de 
decisões conjunta entre diversos poderes da cidade. Certamente o candidato 
Kassab terá propostas para esse local tão peculiar do centro da cidade. A questão 
da moradia no centro é uma das premissas da nossa campanha. 
Obrigado pela confiança 
Contamos com seu voto 
Atenciosamente 
Comitê Kassab 25 – São Paulo no rumo certo. 
(Resposta recebida por e-mail, no dia 02 de outubro de 2008). 
Eleições 2008
Bom dia senhor... 
Sobre a sua pergunta, não consta nada específico aqui no programa de governo 
do candidato Geraldo. Só um minuto... (Algum tempo depois) Senhor, conversei 
com meu supervisor sobre sua pergunta, e o edifício São Vito está sim incluído em 
uma campanha macro para a melhoria da habitação no centro da cidade, tenho 
informações aqui que serão realizadas diversas reuniões na prefeitura para a 
decisão do futuro do edifício. 
Espero ter podido ajudar na sua decisão de voto 
Um abraço 
(Resposta obtida por telefone, no dia 03 de outubro de 2008). 
Eleições 2008
Sem resposta de e-mail ou mesmo telefônica. 
Ainda aguardando! 
Eleições 2008
Boa noite amigo eleitor! 
O edifício São Vito é sem dúvida uma grande questão de imprudência urbana dos 
antigos prefeitos da cidade. Agora ele se encontra em total abandono e sem 
previsão de retomada dos projetos ou de qualquer intenção de recuperação. 
Considero de extrema importância sua preocupação, e garanto que minha 
também, com esse importante símbolo da metrópole. Não tenho nenhuma 
proposta específica para o edifício, mas tenho em meu site uma relação completa 
de todas minhas principais propostas de intervenção para melhoria da moradia e 
revitalização do nosso querido centro. 
Forte abraço 
Soninha 23 
(Resposta recebida por e-mail, através do site/blog da candidata, no dia 16 de 
setembro de 2008). 
Eleições 2008
Senhor eleitor, 
O edifício São Vito faz parte de uma grande intervenção no centro da nossa cidade 
e está inserido em nosso plano de governo na área da habitação de interesse 
social. Segue um trecho de nosso programa de governo: 
· Realizar uma política ativa de repovoamento das áreas centrais, providas de infra-
estrutura. A ação pública pode se dar por meio de legislação incidente e ações do poder 
executivo, de modo a agir por meio de demarcação de ZEIS e implementação de seus 
conselhos e planos de urbanização, IPTU progressivo, urbanização compulsória, 
implementação (e ampliação) de ZEIS, cobrança de dívidas, negociação de dação de 
imóveis em pagamento de dívidas, etc. O Estado pode e deve agir tanto indiretamente 
sobre o mercado de terras e estímulo a determinados empreendimentos de mercado, 
quanto diretamente, adquirindo ou desapropriando imóveis para que cumpram a função 
social da propriedade. 
· Política de diversidade social com cotas de habitação de interesse social em bairros 
providos de infra-estrutura e serviços. Tal como ocorre em diversos países da Europa e 
com destaque na cidade de Paris, na França, o poder público procura garantir diversidade 
social, combatendo a segregação e procurando estimular a mistura de classes em todos 
os bairros. O poder público adquire um estoque de imóveis para aluguel social em todas 
as áreas da cidade, com metas de proporcionalidade para cada subprefeitura. Isso 
significa adquirir imóveis (apartamentos isolados, prédios, casas e terrenos) em condições 
favoráveis na cobrança de dívidas, por dação em pagamento ou desapropriação para que 
possam ser reformados e utilizados para aluguel social. Os imóveis continuam de posse 
do Estado, de modo a garantir a política social e evitar que sejam comercializados por 
seus beneficiários. 
Obrigado pelo contato 
Comitê Ivan Valente 50 – Alternativa de esquerda para São Paulo 
(Resposta recebida por e-mail, no dia 30 de setembro de 2008). 
Eleições 2008
Após uma votação sem muitas surpresas, o candidato Gilberto Kassab venceu o 
primeiro turno e teve como oponente a candidata Marta Suplicy. Da mesma 
maneira que aconteceu no primeiro turno, acompanhei os programas de governo 
de ambos os candidatos, esperando um maior aprofundamento das propostas e 
questões relacionadas com meu tema de documentação. 
Eleições 2008
Numa campanha de cerca de vinte dias, o segundo turno das eleições municipais 
foi marcado, por incrível que pareça, por poucas propostas, nenhuma discussão 
sobre a cidade, e muitos e incontáveis minutos de programa eleitoral na TV com 
acusações, xingamentos pessoais e situações de des-credibilidade do candidato 
oponente. O que se via na cidade era uma overdose de mocinhas balançando 
bandeiras dos partidos, toneladas de santinhos doscandidatos entupindo todos os 
bueiros, carros de som ensurdecedores passeando pelas avenidas da cidade 
tocando jingles sem sentido. 
Enfim chega o dia 26 de outubro e a cidade, apática e quase anestesiada e 
apolítica, precisa escolher qual candidato é o menos prejudicial, menos intragável 
para governar os mais de 10 milhões de habitantes de São Paulo. Mas eu, ao 
contrário, estava em casa ansioso. Estava aguardando até o último segunda das 
eleições alguma resposta à minha pergunta – a mesma feita no primeiro turno. 
Nessa etapa da disputa, imaginava obter uma resposta mais aprofundada, mais 
trabalhada ou, pelo menos, mais corajosa de ambos os candidatos. 
Me enganei completamente! Até o fim das votações não recebi sequer um retorno 
telefônico. Pairou o silêncio. Talvez o mesmo silêncio que paira pelos corredores 
do abandonado São Vito. 
Agora o que nos resta é aguardar o candidato eleito e agora prefeito pela segunda 
vez, Sr. Gilberto Kassab, tomar suas decisões com relação à cidade e ao São Vito. 
Mais quatro anos nebulosos na vida do Treme-treme. Acompanhem os noticiários 
locais por mim.

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