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TEXTO CAPITULO 4

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LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL CAPITULO 4 PRODUZIR TEXTOS ACADÊMICOS, BEM COMO NARRATIVAS?
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Introdução
Antes de começar seus estudos, reflita sobre a questão proposta no título deste capítulo: por que ler e produzir textos acadêmicos, bem como narrativas? A pergunta instiga à reflexão sobre os objetivos contidos em duas perspectivas de circulação textual. Enquanto os textos acadêmicos priorizam a esfera acadêmica, como faculdades, universidades e centros de pesquisa,a narrativa enquadra-se num contexto que pode ser a academia, porém, transita em outros espaços, sejam formais, ou informais, como você verá adiante.
Mas além da chamada esfera de circulação destes textos, há outros aspectos que os diferenciam?  Sem dúvida não apenas estes, mas também outros possuem similaridades e peculiaridades. Nesse sentido, de acordo com Dolz e Schneuwly (2004), o aprofundamento no estudo dos gêneros textuais nos ajuda a perceber que, para além das proximidades e distanciamentos entre eles, há eventos comunicativos mais complexos, seja pelo portador textual, seja pelo público leitor, ou, ainda, por ambos, tornando-os singulares.
Dessa forma, você sabe quais são os principais gêneros textuais acadêmicos? E as narrativas? Qual a sua estrutura básica? Essas e outras questões serão discutidas neste capítulo.
Imagine que cada tipo de texto é como se fosse uma porta com sua respectiva fechadura. Desse modo, para abrir cada uma destas portas, é necessário um determinado tipo de chave. As chaves, neste caso, são as ferramentas que temos para ler e produzir textos específicos.
Portanto, não adianta, por exemplo, insistir em abrir um projeto de pesquisa com uma chave de leitura; interpretar um conto, na ordem da narrativa. Além de não conseguirmos abrir a porta, a chave pode quebrar. Com as chaves certas,você abrirá as portas corretas, descobrindo o que há por detrás delas.
Bom estudo!
4.1 Textos de divulgação científica
Como o próprio nome sugere, os textos de divulgação científica objetivam a publicação e ampliação do número de pessoas com acesso às pesquisas realizadas. Há diversos tipos de textos de divulgação científica, sendo os mais comuns os artigos, as dissertações e as teses.
Tais textos encontram-se em revistas, periódicos, anais de eventos, cadernos de resumos, disponíveis em formato impresso, digital ou em ambos. Geralmente, quem produz esses textos são pesquisadores, sejam eles neófitos ou mais experientes. Da mesma forma, o público-alvo (leitores) é o mesmo. Machado (2003) esclarece que é necessário, entre alguns aspectos,determinar a esfera em que os textos irão circular. Assim, um resumo acadêmico é diferente de um resumo de um filme, ou de uma obra de arte, por exemplo.
Cada gênero textual possui características próprias. No caso dos textos de divulgação científica, são em geral mais utilizados em situações em que há necessidade de comunicar e/ou transmitir algum conhecimento. Ao expor um conteúdo de natureza científica, pode-se utilizar-se do vocabulário técnico, considerando o local de circulação e o público leitor.
4.1.1 Vocabulário técnico
Podemos afirmar, com relação aos diversos usos da linguagem, que para cada gênero há um tipo certo de vocabulário a ser aplicado. Como circulamos por diferentes esferas de comunicação, com diversos gêneros textuais, não temos domínio sobre todos eles.
Dessa forma, um dos desafios a superar tanto para leitura quanto para construção de textos relaciona-se ao vocabulário técnico. Conforme afirma Geraldi (2014, p. 28):
Não circulamos por todas as esferas com a mesma habilidade: como leitores pouco assíduos, certamente teremos maiores dificuldades de leitura – e praticamente seremos incompetentes para a produção – de enunciados extremamente técnicos e especializados no campo das engenharias, das matemáticas ou das artes visuais, quando outros o serão para áreas da pedagogia ou da filosofia.
Cumpre destacar que, ao produzirmos um texto acadêmico, precisamos adequá-lo ao público leitor. Dessa forma, quando se tratar de um público leitor que não é da área à qual escrevemos, um dos recursos é procurar simplificar o texto de modo a torná-lo mais acessível; quando for imprescindível usar uma palavra técnica, podemos inserir uma nota de rodapé ou, ainda, um glossário ao final do texto. 
A obra intitulada “Alfabetização e Letramento”, de Magda Becker Soares (2008), propõe retomar a invenção da palavra e o conceito de letramento concomitantes à reinvenção da alfabetização. Segundo a autora, são palavras de uso comum, conhecidas, exceto talvez letramento, palavra ainda desconhecida ou ainda não plenamente compreendida pela maioria das pessoas, porque é palavra que entrou na nossa língua somente na década de 1980 (SOARES, 2008).
Ao elaborarmos um texto científico, apresentaremos alguns dos aspectos a serem levados em consideração, tendo como base Cereja e Magalhães (2011, p. 63). O primeiro é “iniciar o texto com um parágrafo de apresentação sobre o tema que irá tratar”, por exemplo: caso seja sobre o efeito estufa, cabe mencionar o que é efeito estufa e como ele se origina.
Nos dois parágrafos seguintes, você poderá escrever as causas desse fenômeno, as quais foram descobertas pela ciência.  Logo em seguida, em um parágrafo, poderá expor as consequências do fenômeno para a natureza, bem como os riscos desse efeito para a humanidade.
Na sequência, elabore outro parágrafo, apresentando a importância do apoio de outros países para conter o efeito do aquecimento global. Para embasar este tópico, podem ser apresentados dados estatísticos que demonstrem a participação de outros países na poluição. Na conclusão, apresente algumas possíveis alternativas para resolução do problema.
Dessa forma, esses textos estarão em consonância com Goldstein, Louzada e Ivamoto (2009), os quais argumentam que o texto necessita formar um todo organizado a partir do conjunto de suas partes. Esses aspectos contribuem para que o texto, mesmo contendo vocabulário técnico, possa ser compreensível e oferecer veracidade às afirmações do autor.
Dessa maneira, um termo técnico não prejudica a objetividade e a argumentação do texto mesmo que carregue consigo uma carga conceitual significativa em cada termo. Por exemplo: o termo letramento, que se trata de vocábulo próprio das áreas de Letras e Pedagogia, que exige esclarecimento mais aprofundado àqueles que não têm conhecimento pedagógico.
Esse esclarecimento dos termos técnicos é importante também porque a publicação dos textos de divulgação científica não se restringe às revistas especializadas, aos periódicos e anais de eventos desta área. Os jornais em geral e outros tipos de revistas também podem trazer textos divulgando resultados de pesquisas. Nesse caso, é necessário um cuidado maior com relação ao vocabulário a ser empregado, pois na maioria das vezes o público-alvo daquele jornal ou revista não é especializado. Constitui, assim, um desafio manter o rigor dos argumentos, a complexidade da pesquisa em um tom mais acessível ao leitor, e isso chama-se adequação textual.
Nesse sentido, um recurso que poderá ajudá-lo é a utilização das figuras de linguagem, como a metáfora, por exemplo. Tal recurso aproxima o leitor de um texto considerado, por vezes mais complexo de compreensão. 
4.1.2 Leitura como recurso de pesquisa
É fato que os livros constituem uma riqueza imensurável para qualquer nação. No entanto, para as pessoas acessarem essa riqueza, é necessário que haja a apropriação plena da leitura, a qual ocorre por meio do desenvolvimento de habilidades que lhes são próprias.
A Associação de Leitura do Brasil (ALB) é uma organização com sede na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e tem como objetivo reunir pessoas interessadas no estudo e debate de questões relativas à leitura. Além da organização de eventos como congressos, promovepesquisas e produz materiais relativos ao tema. Quer saber mais? Acesse o endereço: <http://www.alb.com.br/>.
Um importante recurso para produção de pesquisa é a leitura, pois requer não somente uma boa capacidade deescrita, mas também de uma leitura aprofundada, com compreensão do texto. Tanto a capacidade de extrair significados do texto, quanto a de interpretá-lo e elaborar sínteses, estão ligadas diretamente à leitura. 
slize sobre a imagem para Zoom
Figura 1 - Na medida em que ampliamos o repertório de leitura, cresce a possibilidade de elaborarmos uma pesquisa com mais qualidade.Fonte: Stokkete, Shutterstock, 2018.
Tendo como pressuposto a leitura como recurso essencial para pesquisa, evidenciamos que quanto mais lemos sobre um assunto, mais nos apropriamos sobre ele e temos melhores condições para debate. Dessa forma, ao lermos diversos autores com olhares diferentes de uma mesma temática, teremos melhores condições de propor novas problemáticas de pesquisa com intuito de uma contribuição significativa para o mundo científico. Nesta perspectiva, Freire (1995, p. 11) esclarece que o “ato de ler não se esgota simplesmente no ato de decodificação das palavras, mas antecipa-se e alonga-se na inteligência do mundo”.
Portanto, para além da decodificação, cumpre neste caso, especialmente aos pesquisadores, uma leitura que ultrapasse meramente a decodificação.
Cabe também destacar que um dos aspectos a serem considerados com relação à leitura, enquanto recurso de pesquisa, refere-se às fontes que podemos buscar. Elaborar uma seleção das fontes e de seus autores é uma tarefa primordial, pois, para cada área do conhecimento há determinados autores e obras que já se encontram referenciados e com credibilidade.
Parte dessas fontes pode ser encontrada também em bibliotecas virtuais, plataformas de pesquisa com inúmeros artigos, dissertações, teses, resumos, resenhas entre outros, que a partir de uma leitura nos ajudam a produzir nossa própria pesquisa.
Observe o exemplo descrito no caso fictício a seguir.
Em uma determinada escola, percebeu-se que os alunos do 6.º ano do Ensino Fundamental tinham o hábito de frequentarem diariamente a biblioteca, emprestavam muitos livros e liam durante o intervalo, especialmente no momento do recreio. Era possível verificar tal fato pela movimentação do registro de empréstimos de livros da biblioteca. Porém, os professores notaram que ao chegarem ao 7.º ano, a frequência dos alunos à biblioteca não era diária, os empréstimos diminuíam em mais de 50%, e eram poucos os alunos que liam algum livro nos intervalos.
A partir disso, os professores e a equipe pedagógica questionaram-se: o que fazer para reverter esta situação e proporcionar mais frequência à biblioteca e, consequentemente, mais leitura e circulação do acervo?
Foi então que criaram o projeto “Momento da Leitura”. Todos os dias, os alunos eram motivados a participarem de um breve momento de leitura em diferentes espaços da escola, da forma como quisessem, pois a escola disponibilizava almofadas, mesas, algumas poltronas em espaços alternativos, além da própria biblioteca, destinados ao projeto.
Apesar de algumas dificuldades de ordem prática verificadas nos primeiros dias, o projeto alcançou resultados satisfatórios. Os alunos passaram a valorizar mais aqueles momentos viabilizados de modo prazeroso e formativo. O sucesso do projeto alcançou outras turmas, que em horários alternados realizavam a mesma atividade.
Concomitantemente a essas reflexões, comungamos com a assertiva da leitura enquanto recurso imprescindível aos pesquisadores de quaisquer áreas. Alves-Mazzotti (2001), ao tratar das deficiências das pesquisas em educação, disserta sobre o narcisismo investigativo, ou seja, o pesquisador – por ingenuidade ou falta de leitura –, imagina que ninguém pesquisou o que ele irá propor.
Nesse sentido, na perspectiva de Alves-Mazzotti (2001), a leitura vai ao encontro principalmente de um dos elementos imprescindíveis da pesquisa: o levantamento bibliográfico, ou a revisão de literatura, que diz respeito ao pesquisador apropriar-se do que já foi produzido em determinada área. Mas não é só isso:a leitura, seguramente, proporciona o desenvolvimento de redes de reflexão, as quais possibilitam ao pesquisador levantar questões interessantes, atuais e com relevância social.
Dessa maneira, a leitura é uma importante ferramenta para produzir – não apenas textos acadêmicos. Em se tratando de alguns textos acadêmicos, como por exemplo, o resumo, irá demonstrar a habilidade do escritor de expressar a compreensão que teve do texto, e sintetizá-lo de modo coerente. Da mesma forma, a produção de outros textos com qualidade será imprescindível à leitura.
Evidentemente que o assunto não se esgota aqui, e possibilita outros debates e aprofundamentos. Acreditamos que a partir destas pistas de reflexão, você terá condições de prosseguir com entusiasmo e audácia, vislumbrando grandes oportunidades que a leitura e a pesquisa podem proporcionar. 
4.2 Texto acadêmico  
Neste tópico, adentraremos o estudo sobre alguns textos com uma circulação mais específica no meio acadêmico. Quando nos referimos ao meio acadêmico, não significa que eles não poderão ser publicados em outros suportes, desde que sejam adaptados.
Estudaremos os projetos de pesquisas, relatório de pesquisa e resumo. Cada um desses textos, assim como os demais, possui características específicas em suas estruturas, seu portador textual, seus produtores e leitores.
Uma vez que nos apropriarmos de cada um desses textos teremos mais recursos para identificá-los, percebendo suas características e analisando-os, além, é claro, do fato de podermos também produzi-los. Vamos ao desafio!
4.2.1 Projeto de pesquisa
Neste subtópico, adentraremos o debate da produção do projeto de pesquisa. A partir de algumas considerações, evidenciaremos os aspectos primordiais em sua elaboração. Não há uma receita pronta que corresponda a todas as necessidades da produção de um projeto de pesquisa, aqui teremos apenas algumas reflexões; no entanto, a experiência e o amplo repertório de leitura nos ajudarão nesta trajetória.
O projeto de pesquisa, assim como o resumo, o relatório acadêmico, entre outros, pertencem ao grupo denominado textos acadêmicos. E trata-se de um planejamento cuidadoso a respeito do que se deseja investigar. Devem estar contemplados,principalmente, o delineamento do tema da pesquisa,os objetivos,a revisão bibliográfica, bem como os procedimentos metodológicos. Esse planejamento tem como função demarcar o campo de atuação e orientar os passos a serem seguidos pelo pesquisador.
De acordo com Aguiar e Pereira (2007, p. 9):
[...] um projeto de pesquisa nasce da decisão de um sujeito que, por interesse próprio ou de alguma entidade (órgão de desenvolvimento científico, Universidade, Secretarias Municipais ou Estaduais, outras instituições públicas ou privadas), resolve interferir na realidade, diagnosticando situações e procurando alternativas de ação. O mais difícil nesse momento é a definição do tema de pesquisa, o foco específico que se pretende analisar. Quando ele não é bem dimensionado, todo o processo acaba por perder-se, porque da precisão do objeto a ser tratado dependem os procedimentos futuros.
Conforme destacado anteriormente, um dos primeiros aspectos do projeto de pesquisa é a definição do tema de pesquisa, que precisa ser bem elaborado, pois os demais passos dependem desse. Um exemplo é o tema “literatura infantojuvenil”. É importante ressaltar que já tenhamos uma leitura prévia e gostemos do tema que pretendemos pesquisar, para posterior aprofundamento. 
Figura 2 - A elaboração do projeto de pesquisa requer normas, técnicas, e demanda conexão com diversas variáveis.Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2018.
À medida que nos aprofundamos no tema através da leitura, concomitantemente vamos esboçando os objetivos e refinando o objeto de pesquisa. O processo de escrita e reescrita do projeto é imperativo para uma boa pesquisa, portanto a presença de um professor orientador contribui para esse processo, que é moroso. Assim, ler e reler, escrever e reescrever serão atitudes peculiares ao caminho na pesquisa.
Um exemplo de pesquisa na área da literatura infantil e juvenil é o trabalhode Mirian Santos Chagas, realizado em 2016, com o título “Tradição popular na Literatura Infantil e Juvenil: leitura do Bumba-meu-boi maranhense”. A pesquisadora delineou de modo claro que fez o estudo dentro da literatura infantojuvenil, a partir de uma manifestação específica, ou seja, o Bumba-meu-boi maranhense.
Conforme Aguiar e Pereira (2007, p. 11), no planejamento da pesquisa, além da definição do tema, há também outros procedimentos:
A começar pela decisão pelo tipo de pesquisa a ser realizada, se bibliográfica documental (em livros e outros materiais impressos, informatizados ou de tipos vários, recolhidos na comunidade) ou de campo, essa última podendo ser diagnóstica (com base no registro de dados do objeto observado, como o acervo de uma biblioteca ou os hábitos de leitura dos jovens) e experimental (com planejamentos de situações às quais os participantes são expostos e análise de suas reações durante toda a experiência, como aulas de leitura em língua estrangeira ou oficinas de criação literária).
O projeto de pesquisa é uma proposta de algo que ainda não foi realizado, uma intenção de investigação. Como enfatizam Goldstein, Louzada e Ivamoto (2009, p. 143), o planejamento torna-se “[...] fundamental para que o trabalho de pesquisa prossiga sem se desviar dos objetivos pretendidos”.
Retomando do exemplo da pesquisa de Chagas (2016, p. 6), seus objetivos foram de “[...] mapear, descrever e interpretar o modo como o Bumba-meu-boi está configurado na Literatura Infantil e Juvenil”.
Além disso, o processo de escrita de um projeto é feito à custa de um grande empreendimento, e precisa estar alinhado a diversos fatores conforme já tratado. Às vezes, por conta de algumas limitações na produção, o projeto pode não prosperar. Podemos encontrar alguns exemplos no enredo de algumas obras, como no filme Narradores de Javé (2003).
Narradores de Javé (2003), filme dirigido por Eliane Caffé, conta a história dos habitantes do Vale do Javé. Na tentativa de livrar o vilarejo da inundação decorrente da construção de uma barragem, decidem registrar por escrito os fatos que são contados de boca em boca. Como a maioria dos habitantes é analfabeta, eles recorrem ao ex-carteiro para realizar a tarefa de pesquisa e relato. Para assistir, acesse o endereço: <https://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=Trm-CyihYs8>.
Destaca-se também a importância de o texto ser suficientemente esclarecedor quanto aos seus objetivos e recursos necessários para o desenvolvimento do trabalho. Precisamos saber o que queremos investigar sobre a literatura infantojuvenil, por exemplo. Muito já se produziu sobre o tema, portanto, cabe destacar de modo preciso o que especificamente gostaria de pesquisar, e qual a metodologia.Verifique o modo como Chagas (2016, p. 6), definiu sua metodologia:
A pesquisa levantou, no mercado editorial brasileiro, quinze títulos de Literatura Infantil e Juvenil tendo o Bumba-meu-boi como tema central. [...] Percebeu-se que o conjunto poderia ser dividido em dois grupos: um reunindo os livros dedicados à preservação do auto tradicional e outro formado por obras que elegem a atualização do auto.
Nota-se a presença de verbos que definem claramente o modo como a autora realizou a pesquisa, de que modo realizou a investigação e, logo em seguida, a forma como elaborou o trabalho.
Um dos passos basilares, conforme já comentado, é a leitura, ou revisão bibliográfica, em que o pesquisador busca ler obras de referências do tema e pesquisas já realizadas, com intuito de propor algo que seja inovador naquela área. Paulatinamente à leitura, vamos esboçando alguns outros objetivos ainda não contemplados nas pesquisas realizadas, a partir das lacunas percebidas.
Para sua pesquisa, Chagas (2016) consultou pesquisadores de referência na área de literatura como Regina Zilberman, Edmir Perrotti, Maria José G. Palo, Marisa Lajolo, Nelly Novaes Coelho, entre outros – a autora traz no texto de sua dissertação aqueles com quem dialogou.  Desta forma, o texto do projeto deve ter essa interlocução com os autores que dão respaldo à pesquisa. 
4.2.2 Relatórios e resumos
Relatórios e resumos constituem-se como textos acadêmicos com finalidade e características específicas. O relatório,com intuito de sociabilizar algo que foi desenvolvido, como o resultado de uma pesquisa, por exemplo. E o resumo, com a pretensão de sintetizar os fatos, sem perder de vista a ideia central. Na sequência, seguem algumas observações de um e de outro. 
O relatório é um gênero textual que requer informações precisas e ordenadas de algo que foi elaborado dentro de um determinado período de tempo. Para confecção de um relatório exige-se ainda que se tenha realizado uma atividade anteriormente, como o desenvolvimento de uma pesquisa, por exemplo.Neste contexto, a função primordial do relatório consiste em divulgar resultados, sociabilizar dados, informações e novas descobertas a respeito do que foi investigado. É um retorno à instituição científica ou financiadora, à sociedade acadêmica e aos sujeitos envolvidos na pesquisa.
Barros e Lehfeld (2007) recomendam que a produção textual de um relatório seja construída levando em conta o projeto de pesquisa. Os dados coletados durante o experimento, ou as observações anotadas no decorrer da efetivação da pesquisa servirão como materiais-base de consulta para sua produção textual. Desse modo, o relatório pode ser a descrição pormenorizada de algo que já foi desenvolvido ou esteja em andamento – no caso de relatório parcial – quando a pesquisa ainda não foi totalmente concluída. Porém, Goldstein, Louzada e Ivamoto (2009, p. 143) afirmam que “[...] o relatório de pesquisa que finaliza o processo de pesquisa propriamente dito”.
Os elementos estruturais do relatório variam de acordo com seu tipo ou natureza de investigação. Contudo, sua escrita exige a apropriação da norma padrão da língua, concisa e técnica, sempre pautada na coerência e coesão textual, como exigido em outras produções acadêmicas. Também é importante, para a produção do relatório, que pelo menos os objetivos básicos apresentados no projeto já tenham sido atingidos. 
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) disponibiliza a plataforma virtual gratuita “Catálogo de teses e dissertações”, com trabalhos publicados em todo o Brasil. São milhares de pesquisas, as quais você pode consultar por palavra-chave, título da pesquisa ou autor. Para saber mais, acesse o endereço: <http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/>.
Já o resumo consiste na sintetização das ideias centrais do autor, seja de um texto ou acontecimento. A produção textual, desde que não perca sua mensagem principal, pode ser construída utilizando-se tanto das palavras do autor, quanto das do leitor. Desse modo, resumir não é simplesmente parafrasear um texto; é demonstrar que compreendeu a ideia central do texto e consegue transmitir a outros. De acordo com Fiorin e Savioli (2007, p. 420):
Resumo é uma condensação fiel das ideias ou dos fatos contidos no texto. Resumir um texto significa reduzi-lo ao seu esqueleto essencial sem perder de vista três elementos: a) cada uma das partes essenciais do texto; b) a progressão em que elas se sucedem; c) a correlação que o texto estabelece entre cada uma dessas partes.
A produção do resumo demanda leitura analítica e requer capacidade de procedimento com o relato. 
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Figura 3 - Leitura, releitura e compreensão: etapas fundamentais para a elaboração de resumo acadêmico.Fonte: Africa Studio, Shutterstock, 2018.
Barros e Lehfeld (2007, p. 27) arriscam algumas sugestões para a confecção do resumo: “[...] primeiramente que seja organizado esquema e anotações de leitura; que sua redação seja redigida com frases curtas, sucinta e sempre informando as referências bibliográficas”; cuidando para que as principais ideias de cada parágrafo esteja contemplada no texto e, após a elaboração da síntese, confrontar com o texto original.
Conforme exposto anteriormente, para elaborar um resumo énecessário que a leitura tenha sido realizada e compreendida para, posteriormente, fazer as devidas generalizações e seleções. Sem uma leitura atenciosa e um procedimento correto não é possível perceber o que se constitui como pontos centrais e/ou secundários.
4.3 Sentidos do texto
Sendo uma unidade de sentido, o texto reserva em seu interior uma plurissignificação que varia conforme a experiência de seus leitores. Essa experiência relaciona-se não apenas à adquirida pela diversidade de leitura das letras e/ou das palavras em si, mas também pela leitura do mundo.
À medida que vamos desvendando os “mistérios do texto”, percebemos quantas nuanças possíveis ele possui. Para isso, é necessário dispormos de alguns instrumentais da língua, e dominá-los, para que possamos ler e interpretar um texto adequadamente. Quanto mais lemos, estudamos, escrevemos, reescrevemos com o auxílio de um dicionário,mais competentes nos tornamos como usuários da língua.
Nesse sentido, na sequência estudaremos mais alguns aspectos que possibilitam interpelações interpretativas do texto, seus limites e possibilidades. Alguns autores, entre os quais Fiorin e Savioli (2007), Cavalcante (2012), Koch e Elias (2010), nos apoiam nessas reflexões.
4.3.1 Ensinar a ler o sentido do texto
Tanto ler quanto escrever um texto requer recursos específicos para atingir os objetivos propostos. Ao ler um texto, podemos interpretá-lo erroneamente. Ao mesmo tempo, ao escrevê-lo, podemos passar uma determinada mensagem que será entendida pelo leitor de maneira diferente da que gostaríamos de transmitir.
Figura 4 - A interpretação do texto é uma relação que se dá entre leitor-texto-escritor numa interação dinâmica.Fonte: Lisa S., Shutterstock, 2018.
É importante estamos atentos ao contexto da escrita, ou seja, para quem está sendo escrito, qual o objetivo do texto e o portador textual, pois, diferentemente do texto oral – no qual os gestos teatralizados permitem a interpretação mais segura –, o texto somente escrito é mais complexo de se interpretar. Desta forma, é necessário ler o texto como um todo, pois caso seja fragmentado, pode gerar interpretações equivocadas em relação aos reais objetivos do autor.
Segundo reflexão de Cavalcante (2012, p.18), “[...] para compreender e produzir qualquer texto, é necessário mobilizar conhecimentos, não apenas linguísticos, mas também todos os outros conhecimentos adquiridos [...]”. Dessa forma, salientamos a importância de ampliarmos nosso repertório cultural.
Cumpre destacar que Cavalcante (2012, p.21) justifica que a realidade de cada leitor leva a diferentes interpretações, mas o que é fundamental e basilar na interpretação é “[...] não preconizamos que o leitor possa ler qualquer coisa em um texto, pois, como já afirmamos, o sentido não está apenas no leitor, nem no texto, mas na interação autor-texto-leitor.”
Dessa maneira, quanto mais o autor apropriar-se de diversas experiências, não apenas linguísticas, mas também da prática social, mais amplas e reflexivas serão as leituras por parte do público-alvo, da mesma forma que a interação com o texto será mais dinâmica e menos passiva. E isso nos permite, assim, perceber que no texto há aspectos implícitos.
Fiorin e Savioli (2007) afirmam, neste ínterim, que o texto admite em geral três planos em sua estrutura: superestrutura, microestrutura e macroestrutura. Dessa forma, o leitor, paulatinamente, elabora um trajeto das estruturas mais simples do texto para as mais profundas, conforme vai ampliando suas experiências. 
A obra “A língua de Eulália”, de Marcos Bagno (1997), ressalta a importância – e a beleza –nos diferentes modos de falar do povo brasileiro. A partir de uma novela sociolinguística, o autor oferece uma aula de cultura e de língua portuguesa, demonstrando que diferentes formas de utilizar a língua a tornam cada vez mais rica e dinâmica (BAGNO, 1997).
Cada uma das três estruturas descritas anteriormente comporta diversos aspectos. Um desses recursos é o gramatical. O texto é feito de relações semânticas, lexicais, fonológicas, etc. Um texto “incoerente” do ponto de vista gramatical, na verdade pode transmitir um aspecto cultural e social de todo um grupo. Um exemplo, são as músicas, sejam populares, sertanejas, caipiras etc. Diversos autores têm se dedicado ao estudo desses aspectos, entre os quais Bagno (1997).
Mas há outras relações que não estão somente na ordem gramatical – e um destes aspectos pode ser o visual. Assim, um texto que aparentemente estaria caótico, na verdade pode conter sentido. Exemplo disso é a chamada poesia concreta, na qual as imagens do texto poético estão distribuídas de forma que o elemento visual possibilite múltiplas interpretações.
Continuando as reflexões nesse sentido, o item a seguir oferece um panorama geral acerca das leituras e interpretações possíveis de um texto.
4.3.2 Leituras possíveis de um texto
A apropriação de alguns elementos constitutivos de um texto torna mais assertivas tanto a produção quanto a leitura. Cumpre mencionar que mesmo que tenhamos adentrado os meandros da semântica, da sintaxe, do léxico etc. às vezes há viabilidade de leituras de um texto.
De acordo com Geraldi (2006), na constituição de um texto há alguns elementos que, a priori, oferecem uma visão mais ampla da sua leitura, pois há sempre um determinado conteúdo a ser dito, um motivo para se afirmar aquilo, alguém que escreve e também uma relação de modos de afirmar aquilo que é escrito, ou nas palavras do autor além do texto há um pretexto.
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Figura 5 - Do interior do texto podem surgir diversos sentidos a partir de uma interpretação mais aprofundada.Fonte: Triff, Shutterstock, 2018.
O conteúdo a ser dito refere-se ao objetivo do texto escrito, estritamente ligado ao seu portador textual, que pode ser: jornal, revista, embalagem de algum produto etc. Uma notícia, por exemplo, é diferente de um anúncio publicitário com objetivo de vender um carro. Desta forma, o conteúdo sempre está ligado aos outros elementos.
Os variados gêneros textuais em circulação na sociedade, conforme descritos por Dolz e Schneuwly (2004), podem ter suas especificidades. Desse modo, seus leitores podem tornar-se, assim como já temos diversos deles, especialistas a partir de seu gênero. Por exemplo: especialistas em textos literários, especialistas em legislação ou em textos sagrados e antigos, entre outros.
O texto, uma vez escrito e divulgado em algum meio, torna-se público. Dessa forma, podem ocorrer múltiplas interpretações para além daquela pensada pelo autor ou escritor. Tal aspecto pode tornar-se um problema, visto que pode ser um texto polêmico. Isso pode acontecer, por exemplo, com textos legais, que permitem múltiplas interpretações.
Um exemplo que ilustra e nos ajuda a entender a possibilidade de múltiplas interpretações é o processo de elaboração do caldo de cana, ou a garapa, como é conhecida em algumas regiões do Brasil. Ao utilizara matéria-prima para elaboração do caldo, coloca-se a cana diversas vezes na moenda. Quando nos parece que não há mais possibilidade de sair suco, eis que caem mais gotas.
Assim, podem ser as leituras de um texto. Quando aparentemente não há mais possibilidades de sentidos, uma releitura aponta outras possibilidades. Lembrando, também, dos limites, pois, assim como a cana, chega um momento em que as leituras do texto tornam-se “bagaço”.
Nesta perspectiva, Koch e Elias (2010, p. 59), quando se referem ao aspecto da compreensão do texto, ilustram com o exemplo do iceberg. 
Quando adotamos, para entender o texto, a metáfora do iceberg, que tem uma pequena superfície, à flor da água (o explícito) e uma imensa superfície subjacente, que fundamenta a interpretação (o implícito), podemos chamar contexto o iceberg como um todo, ou seja, tudo aquilo que, de alguma forma, contribui para ou determina a construção do sentido. 
Portanto, conforme verificamos por meio dessas duas metáforas, percebe-se a imensa riqueza que há nos textos, desde que se tenha não apenas um olhar atento, mas também ferramentasadequadas para as leituras. 
4.4 Estrutura narrativa
Neste tópico estudaremos os mecanismos constitutivos especialmente dos textos narrativos. Podemos dizer que há diversos tipos de textos narrativos como contos, novelas, crônicas, romances etc. Cada uma dessas modalidades de narrativas possui características comuns e especificas, e mereceria um estudo à parte.
O que iremos debater neste tópico são os principais elementos que oferecem o tom geral da estrutura narrativa como enredo, espaço, tempo, personagens e narrador, bem como suas peculiaridades dentro do texto narrativo. Dentre os pesquisadores que debatem alguns aspectos específicos da narrativa, Fiorin e Savioli (2007) sugerem uma estrutura relativamente comum, e com possibilidades de sistematização, para melhor compreensão.
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Figura 6 - As narrativas encantam crianças e adultos, em diferentes locais, e não apenas na escola.Fonte: Smart Photo Lab, Shutterstock, 2018.
Inicialmente, aproximadamente até o século V a. C., as narrativas eram apenas expressas de modo oral; posteriormente é que foram organizadas pela escrita, e além de serem ouvidas também podiam ser lidas. Não há quem não se encante com as histórias! Desde crianças até os mais idosos, as narrativas continuam fascinando e nos ajudando a conhecermos melhor as diversas culturas da humanidade.
Após verificarmos estes importantes pressupostos da narrativa, na sequência verificaremos cinco elementos constituintes das narrativas, a saber: enredo, espaço, tempo, personagens e narrador.
4.4.1 Elementos de transformação, manipulação e pressuposto
Ao adentrarmos o interior dos textos, nos deparamos com diversos elementos, sejam eles semânticos, lexicais, fonológicos, sintáticos, além de outros que possibilitam extrairmos sentidos, relações possíveis e interpretá-los amparados nestes aparatos teóricos. À medida que nos tornamos mais experientes na leitura, desenvolvemos habilidades e um olhar mais crítico.eslize sobre a imagem para Zoom
Figura 7 - A leitura estimula a criatividade e apresenta um horizonte de possibilidades, sejam reais ou imaginárias.Fonte: ESB Professional, Shutterstock, 2018.
De acordo com Fiorin e Savioli (2007, p. 55), ao tratar sobre a estrutura narrativa, atrás dos elementos mais concretos de um texto pode-se imaginar uma representação mais abstrata, “[...] isto é, uma passagem de um estado inicial para um estado final.” O exemplo que os autores trazem para ilustrar sua argumentação nos ajuda a perceber os elementos de transformação:
Eram oito horas da noite quando o fogo começou a se alastrar pelo prédio onde havia quatro faxineiros trabalhando. Acionados os alarmes, imediatamente os bombeiros foram chamados e, após uma hora de trabalho, conseguiram retirar com vida os quatro ocupantes do prédio (FIORIN; SAVIOLI, 2007, p. 55).
A partir da ação de alguns personagens da narrativa, no caso os bombeiros, deu-se uma mudança de um estado inicial em que os faxineiros estavam, que era em perigo; para um estado final, em que ficaram em segurança.
Conforme o exemplo descrito na citação apresentada, percebemos que havia um enunciado de estado na narrativa, e de acordo com Fiorin e Savioli (2007, p. 55), os enunciados podem ser agrupados em categorias – e uma dessas categorias é a manipulação. Geralmente essa característica é encontrada no início das narrativas de fábulas. Consiste basicamente em um determinado personagem, induzir o outro a realizar, fazer alguma coisa. Para que essa manipulação ocorra na narrativa, postula-se que o personagem manipulado queira ou deva fazer.
Observe um exemplo de um enunciado de manipulação a partir de Fiorin e Savioli (2007, p. 56): “A filha do rei era muito bela. Certo dia, um dragão raptou-a, levando-a para sua caverna. Desolado, o rei, já avançado em anos, recorre a um príncipe, generoso e forte e lhe delega a incumbência de libertar a filha. No dorso de impetuoso cavalo, sai o príncipe com pressa de resgatar a princesa.”
Cumpre destacar que nem toda narrativa tem a introdução a partir de uma manipulação. A partir desse fragmento de narrativa, podemos inferir outros sentidos também. Nem sempre esses sentidos estão presentes de modo explícito na narrativa, mas podemos extrair sentidos, a partir de uma leitura mais atenta. Por exemplo: além do príncipe ser generoso e forte, quais são as outras possíveis qualidades que podem ser retiradas do fragmento do texto? Koch e Elias (2010) argumentam que a leitura cuidadosa dos textos possibilita inferências mais assertivas.
Uma primeira qualidade é prestativo e/ou obediente, ou seja, no momento em que o rei delega a tarefa,o príncipe imediatamente a realiza. Ele é cavaleiro, pois tem habilidade ao montar em um cavalo e sair correndo para resgatar a princesa. A coragem é verificada pelo fato de ter consciência de que o perigo estava à espreita da princesa, mas o príncipe assume o risco e vai ao encontro para salvá-la.
Apesar de termos possibilidades de algumas interpretações possíveis do fragmento do texto, também há alguns limites. No excerto de modo específico não é possível, por exemplo, constar qualquer característica física do príncipe: se é alto, baixo, tipo do cabelo, cor da pele etc. 
 “As aventuras de Ngunga” é uma narrativa em forma de romance, elaborado pelo escritor africano Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, conhecido como Pepetela. A obra conta a história de um jovem guerrilheiro, órfão desde os 9 anos de idade, que após perambular em busca de melhores condições de vida, se torna um homem, aprendendo a refletir de modo autônomo (PEPETELA, 1980).
Além desses pressupostos explicitados, segundo Barrera e Santos (2015) o domínio da escrita de textos narrativos exige conhecimentos linguísticos evidenciados por diversas relações, entre elas as lógico-semânticas. Acrescente-se que não apenas para o domínio escrito, mas também para o domínio da leitura e compreensão desses textos.
A seguir, verificaremos alguns elementos os quais consideramos estruturantes em algumas narrativas. A partir da apropriação de cada um deles, paulatinamente teremos possibilidade tanto de ler quanto de produzir textos com mais qualidade.
4.4.2 Perspectivas do narrador e/ou das personagens, do tempo e do espaço 
Assim como é possível adentrar cada tipo de texto a partir de uma determinada chave de leitura, poderíamos afirmar que os textos narrativos têm por chave a qualidade do relato, da contação de história, da prosa, da sequência de um conto ou de um romance.
Consideraremos alguns instrumentais para melhor compreensão da narrativa a partir do enredo, do espaço, do tempo, das personagens que compõem as narrativas – e os tipos de narradores. Ao estudarmos cada um, compreenderemos melhor este gênero textual.
A história tem uma narração, ou um enredo. Na concepção de Eco (1999), o enredo refere-se à organização da trama ao ser contada, que pode ser organizada de modo cronológico, linear ou não. O primeiro aspecto a discutirmos será o chamado foco narrativo. Conforme Abaurre, Pontara e Fadel (2000) o estudo e compreensão do foco narrativo é fundamental tanto para leitura quanto para escrita de um texto, principalmente dos textos considerados ficcionais, ou seja, aqueles que não partem de situações reais e concretas. Trata-se da perspectiva adotada pelo autor no momento da composição de sua história.
Antonio Candido (1918-2017) foi um dos maiores estudiosos da literatura no Brasil. Sociólogo e professor da Universidade de São Paulo, este intelectual deixou um legado riquíssimo para a sociedade. Vale a pena conferir sua vasta bibliografia, que inclui livros, artigos, entre outras publicações (ROLLEMBERG, 2017). Para saber mais sobre Antonio Candido, acesse o endereço: <http://jornal.usp.br/cultura/a-vida-a-obra-e-o-legado-de-antonio-candido/>.
Pelo foco narrativo temos possibilidade de perceber quem será o narrador daquela determinada história. Quando percebemos que a narração inicia-se em primeira pessoa, ou em terceira pessoa, já levantamos alguns aspectos para constatar se quem contaa história participa dela, ou apenas conta. Leia o texto a seguir, retirado do conto “Missa do Galo” de Machado de Assis, para em seguida analisá-lo.
Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos, contava eu dezessete, ela trinta. Era noite de Natal. Havendo ajustado com um vizinho irmos à missa do galo, preferi não dormir; combinei que eu iria acordá-lo à meia-noite.
A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão Meneses, que fora casado, em primeiras núpcias, com uma de minhas primas. A segunda mulher, Conceição, e a mãe desta acolheram-me bem, quando vim de Mangaratiba para o Rio de Janeiro, meses antes, a estudar preparatórios. Vivia tranquilo, naquela casa assobradada da rua do Senado, com os meus livros, poucas relações, alguns passeios. A família era pequena, o escrivão, a mulher, a sogra e duas escravas. Costumes velhos. Às dez horas da noite toda a gente estava nos quartos; às dez e meia a casa dormia. Nunca tinha ido ao teatro, e mais de uma vez, ouvindo dizer ao Meneses que ia ao teatro, pedi-lhe que me levasse consigo. Nessas ocasiões, a sogra fazia uma careta, e as escravas riam à socapa; ele não respondia, vestia-se, saía e só tornava na manhã seguinte. Mais tarde é que eu soube que o teatro era um eufemismo em ação. Meneses trazia amores com uma senhora, separada do marido, e dormia fora de casa uma vez por semana. Conceição padecera, a princípio, com a existência da comborça; mas, afinal, resignara-se, acostumara-se, e acabou achando que era muito direito (ASSIS, 1983, p. 91).
Tendo como base Abaurre, Pontara e Fadel (2000, p. 228), percebemos que logo no primeiro parágrafo fica evidente tratar-se de um texto em primeira pessoa. De fato, se observamos os verbos empregados na narrativa, como: pude, tive, contava, entre outros, saberemos que o foco narrativo está em primeira pessoa.
Por outro lado, há outro tipo de narrador, ou seja, aquele que não participa da história, ou do enredo. Alguns autores afirmam que neste tipo de enredo o discurso é indireto; o narrador não participa dos eventos, apenas conta e/ou narra o evento.
Outro elemento importante na narração são os personagens, os quais podem ser pessoas e/ou animais, conforme a composição. Importante destacar que muitas vezes ela é apenas uma construção do autor, especialmente quando as histórias são ficcionais. De acordo com Abaurre, Pontara e Fadel (2000, p. 232): “[...] as personagens têm função de simular pessoas, comportamentos e pessoas reais”. No caso do trecho do conto de Assis (1983), entre os personagens que aparecem: escrivão Meneses e Conceição.
No conto é possível também verificarmos o lugar e/ou espaço da narrativa. Percebemos algumas marcas desse elemento, por exemplo: “A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão Meneses”. De acordo com Moisés (1969, p. 108), “[...] o espaço constitui outro ingrediente em que deve atentar o analista de ficção. Como se sabe, uma narrativa pode passar-se na cidade ou no campo [...]”.
As marcas de tempo, também de modo geral, aparecem nos textos. Tendo como referência o trecho de Machado de Assis (1983, p, 91): “[...] às dez horas da noite [...]”, é possível percebê-lo. Cumpre afirmar que, às vezes, nas narrativas tais marcas aparecem de modo explícito, outras vezes não.
Na perspectiva de Moisés (1969) e Abaurre, Pontara e Fadel (2000), o tempo pode estar implícito, ou ainda tratar-se de um tempo indeterminado. Outro aspecto peculiar com relação ao tempo na concepção de Abaurre, Pontara e Fadel (2000, p. 235) refere-se ao fato dele “ser caracterizado pela duração da ação nela apresentada”. 
Síntese
Com empenho e perseverança, finalizamos este estudo, a partir do qual nos aprofundamos em mais algumas modalidades de textos que circulam em espaços específicos da sociedade.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
· conhecer os diferentes textos científicos: resumo, relatório, pesquisa e texto narrativo;
· analisar as características de cada um desses textos;
· reconhecer o vocabulário técnico presente em alguns textos e aprimorá-lo;
· compreender a importância da leitura como recurso de pesquisa científica; 
· identificar, nos enunciados, elementos de transformação, aplicando exemplos de transformação na produção de um texto;
· entender os mecanismos constitutivos do sentido de um texto e seus limites de interpretação.

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