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Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA 1 Prof. Zilvam Melo – Química Orgânica I 1. Reações de Alcanos Os alcanos são caracterizados por apresentar pouca reatividade a muitos reagentes químicos. As ligações carbono-carbono e carbono-hidrogênio são bastante fortes; elas não quebram, a não ser que os alcanos sejam aquecidos a temperaturas muito elevadas. Como os átomos de carbono e hidrogênio têm eletronegatividades muito próximas, as ligações carbono-hidrogênio dos alcanos são muito pouco polarizadas. Como consequência, não são, de modo geral, afetados pela maioria das bases. As moléculas dos alcanos não possuem elétrons não- compartilhados para oferecer campos para ataques de ácidos. Essa baixa reatividade dos alcanos em relação a vários reagentes explica o fato de os alcanos terem sido originalmente chamados de parafinas (do latim: parum affinis, pouca afinidade). Contudo, alcanos sofrem algumas poucas reações que discutiremos a seguir. 1.1 Reações de Substituição Por Radicais Como visto anteriormente, a formação de radicais é dada pela quebra homolítica de ligações. Para que esta quebra ocorra é necessário que haja o fornecimento de energia na forma de calor (aquecimento) ou irradiação de luz. Exemplo 1: Peróxidos R O O R Calor R O2 Exemplo 2: Halogênios X X Calor ou Luz X2 Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA 2 Prof. Zilvam Melo – Química Orgânica I Os radicais são altamente reativos. Quando colidem com outras moléculas (de alcano, por exemplo), tendem a reagir para alcançar a estabilidade. 1.1.1 Mecanismo de Reações de Substituição Por Radicais Numa Reação de Substituição por Radicais, os halogênios (cloro ou bromo) na forma de radicais são primeiramente formados e, devido serem altamente reativos, ao entrar em contato com moléculas de alcano reagem substituindo um dos hidrogênios do alcano pelo halogênio em questão. Em outras palavras, um radical de halogênio extrai um hidrogênio de um alcano. Exemplo 1: Cl2 + C2H6 → C2H5Cl + HCl Mecanismo: Na primeira etapa (etapa de iniciação) ocorre a formação dos radicais halogênios ao se fornecer luz ou calor. Na segunda etapa (etapa de propagação) o radical halogênio interage com o alcano. Nesta interação, ocorre simultaneamente a quebra homolítica da ligação carbono-hidrogênio e formação de uma ligação covalente entre o hidrogênio e o cloro. Após perder um hidrogênio, por uma quebra homolítica de ligação, o alcano se torna um radical e, como tal é bastante reativo. Nesta etapa sempre é gerado mais radicais livres. A terceira e última etapa (etapa de terminação) ocorre o consumo dos radicais livres, obtendo-se moléculas com átomos com octeto completo, como mostrado a seguir: Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA 3 Prof. Zilvam Melo – Química Orgânica I Qual será o caminho reacional mais favorável? O parâmetro decisivo será a formação do radical mais estável e, como visto nas aulas anteriores, o radical secundário é mais estável do que o primário. Por tanto, a reação de halogenação (neste caso a cloração) do butano forma preferencialmente o 2-clorobutano em comparação com o 1-clorobutano, pois no 2-clorobutano houve a formação de um radical secundário que é mais estável do que o radical primário no caso do 1-clorobutano. Quando se diz que o produto é preferencialmente formado, não indica que é o único produto formado, mas sim que ele é o produto majoritário, ou seja, forma numa proporção maior. C C C H H H H Cl C C C H H H H + + HCl H H H H H C C C H Cl H H C C C HH H + HCl H HH H (a) (b) H Cl Cl H Produto majoritário Produto minoritário H H H O mesmo raciocínio deve ser adotado se ocorrer a formação de um radical terciário. O rendimento experimental de uma reação de substituição radicalar de alcanos pode ser calculado se levado em consideração as taxas relativas de formação de radicais alquila por um radical cloro à temperatura ambiente, veja a seguir: Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA 4 Prof. Zilvam Melo – Química Orgânica I Neste cálculo deve relacionar a probabilidade (número de hidrogênios que podem ser abstraídos que levará a formação de um determinado) e a Reatividade (velocidade relativa na qual um determinado hidrogênio é abstraído). Exercício 1: Calcule o rendimento percentual da monocloração radicalar do 2,2,5- trimetil-hexano à temperatura ambiente. Dê mecanismo e o nome de produto obtido. Exercício 2: Quando o 2-metilpropano é monoclorado na presença de luz à temperatura ambiente, 36% do produto é o 2-cloro-2-metilpropano e 64% é o 1- cloro-2-metilpropano. Dê o mecanismo e, a partir dados supracitados, calcule a facilidade em se abstrair um átomo de hidrogênio de um carbono terciário se comparado a um carbono primário sob essas condições. Entretanto, ao trabalhar com a monobromação as diferenças em reatividades são tão grandes que o fator reatividade se torna muito mais importante do que o fator probabilidade. Por exemplo, a bromação radicalar do butano fornece rendimento de 98% de 2-bromobutano enquanto que com cloro o rendimento seria de 71% para o 2-clorobutano. Em outras palavras, a bromação é mais regiosseletiva do que a cloração, veja as reatividades relativas para a bromação à 125 oC: Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA 5 Prof. Zilvam Melo – Química Orgânica I Exercício 3: Calcule o rendimento do produto majoritário e minoritário para a monobromação do 2-metilpropano. Compare os percentuais com os do Exercício 2. As taxas relativas da formação dos radicais são tão diferentes quando um radical bromo é usado em vez do radical cloro em virtude das diferentes energias associadas em cada reação, ou seja, pela diferença do ΔHo de cada reação. 1.1.2 Energias de Dissociação Homolíticas de Ligações Covalentes Simples Quando átomos se combinam para formar moléculas, novas ligações químicas são formadas e, como resultado, a energia é liberada. Isso é devido as moléculas dos produtos possuírem entalpia mais baixas (menor energia) do que a dos átomos separados. Quando os átomos de hidrogênio se combinam para formar moléculas de hidrogênio, por exemplo, a reação é exotérmica; ela envolve a liberação de 435 KJ de calor para cada mol de hidrogênio que é produzido. Em outras palavras, a reação libera 435 KJ/mol. H H+ H H ∆H = -435 KJ/mol Por outro lado, para romper as ligações covalentes deve haver o fornecimento suficiente de energia. As reações, nas quais ocorre apenas o rompimento da ligação, serão sempre endotérmicas. A energia necessária para romper ligações covalentes homoliticamente de moléculas de hidrogênio, por exemplo, é exatamente igual àquela envolvida quando átomos separados se combinam para formar as moléculas. Contudo, na reação de clivagem de ligação o ∆�� é positivo. H H+H H ∆H = +435 KJ/mol As energias necessárias para romper as ligações covalentes, homoliticamente, foram determinadas experimentalmente para vários tipos de reações. Essas energias são chamadas energias de dissociação homolíticas das reações (DHo). Valores de DHo estão tabelados abaixo: Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA 6 Prof. Zilvam Melo – Química Orgânica I Podemos usar os valores das energias de dissociação homolítica (DHo) para determinar a variação de entalpia (∆��) para uma reação. Para fazer tal cálculo devemos usar a relação abaixo: Δ��para a reação = D�� das ligações que se quebram− D�� das ligações que se formam Exercício 4: Calcule o valor do ∆�� para a seguinte reação: Resposta do Exercício 4: CH3⎼H Cl⎼Cl CH3⎼Cl H⎼Cl 440 243 352 432 ∆�� = �440 !/#$% + 243 !/#$%) − �432 !/#$% + 353 !/#$%)∆�� = 683 !/#$% − 785 !/#$% Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA 7 Prof. Zilvam Melo – Química Orgânica I ∆�� = −101 !/#$% É possível também calcular a variação de energia envolvida em cada etapa no mecanismo para a reação do metano com cloro na presença de luz da seguinte forma: Na etapa de iniciação da cadeia, apenas uma ligação é rompida (a ligação entre dois átomos de cloro) e nenhuma ligação é formada. O calor da reação para esta etapa é simplesmente a energia de dissociação da ligação para uma molécula de cloro, sendo altamente endotérmica. Nas etapas de terminação da cadeia, há a formação de ligação, mas nenhuma ligação é rompida. Como resultado, todas as etapas de terminação da cadeia são altamente exotérmicas. Por outro lado, cada uma das etapas de proparação da cadeia necessita do rompimento de uma ligação e da formação de uma outra ligação. O valor de ΔHo para cada uma destas etapas é a diferença entre a energia de dissociação da ligação que está sendo rompida e a energia da ligação que está sendo formada. A primeria etapa de propagação da cadeia é ligeiramente endotérmica (ΔHo = +4 KJ mol-1), mas a segunda etapa é exotérmica, por uma grande diferença (ΔHo = -106 KJ mol-1). A adição das etapas de propagação da cadeia produz a equação global para a cloração do metano: Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA 8 Prof. Zilvam Melo – Química Orgânica I As reações com halogênios (flúor, cloro, bromo e Iodo) com metano mostram uma ampla gama de reatividades relativas. O flúor é o mais reativo – de fato, é tão reativo que, sem precauções especiais, as misturas do flúor com metano explodem. Estas condições especiais são: a) os reagentes devem ser diluídos em um gás inerte, como o hélio; b) A reação deve ser realizada em um reator empacotado com cobre, pois o cobre modera a reação pela absorção do calor produzido. Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA 9 Prof. Zilvam Melo – Química Orgânica I As avaliações das reatividades relativas dos halogênios em relação ao metano levaram em consideração apenas a energia. Isso só foi possível porque as reações são bastante semelhantes e, portanto, possuem variações similares de entropia. Se as reações fossem de tipos diferentes, esse tipo de análise não seria apropriado e poderia resultar em explicações incorretas. 1.1.1 Reação de Substituição Múltipla Alcanos simples reagem com halogênios produzindo haletos de alquila e haletos de hidrogênio. No entanto, se a reação prosseguir o haleto de alquila reagirá novamente formando um di-haleto de alquila. Assim, se a reação prosseguir podem substituir todos hidrogênios do alcano por halogênios. C H H HH calor ou luz C H H XH+ X2 calor ou luz + X2 C X H XH calor ou luz + X2 calor ou luz + X2 C X X XXC X H XXC X H XH 2. Outros Tipos de Reações dos Alcanos Os alcanos devido serem relativamente inertes sofrem poucas reações sempre precisando de algumas condições especiais. Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA 10 Prof. Zilvam Melo – Química Orgânica I 2.1 Reações de Combustão Quando provocamos a ignição de alcanos ou cicloalcanos na presença de oxigênio produzem o dióxido de carbono, água e calor, se a reação for completa. Por exemplo, a combustão do metano, que é o principal constituinte do gás natural. CH4 (g) + 2O2 (g) CO2 (g) + 2H2O(l) ∆H = -890 KJ/mol A combustão é muito exotérmica, fornecendo sempre CO2 e H2O, desde que a reação seja completa. Caso a reação ocorra parcialmente pode levar a formação de monóxido de carbono (CO) que é um gás bastante tóxico ou, ainda, pode haver a formação de carbono sólido, vulgarmente chamado de fuligem. O mecanismo é bastante complexo devido ocorrer a formação de intermediários. Contudo, o mecanismo é radicalar. 2.2 Reações de Sulfonação Quando reagimos um alcano com um ácido sulfúrico (H2SO4) sob aquecimento ocorre uma reação de sulfonação. Exemplo: C C H H H H H H + HO SO3H C C SO3H H H H H H + H2O 2.3 Reações de Nitração Quando reagimos um alcano com ácido nítrico (HNO3) sob aquecimento ocorre uma reação de nitração. Exemplo: Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA 11 Prof. Zilvam Melo – Química Orgânica I 2.4 Reações de Pirólise Pirólise (do Grego pyr, pyrós = fogo + lýsis = dissolução) é um processo onde ocorre uma ruptura da estrutura molecular original de um determinado composto pela ação do calor em um ambiente com pouco ou nenhum oxigênio. A pirólise pode ser chamada craqueamento térmico e o produto que se obtém são cadeias não-ramificadas, menores que a original. Quando a pirólise ocorre na presença de catalisadores o processo é chamado craqueamento catalítico e o produto que se obtém são cadeias ramificadas, menores que a original. O craqueamento catalítico é bastante usado na indústria petroquímica na fabricação de gasolina, pois uma gasolina de boa qualidade tem alto teor de hidrocarbonetos de cadeia ramificada. Outra aplicação da pirólise é no tratamento do lixo ocasionando sua decomposição, veja o exemplo abaixo: 2 sem O2/cat. sem O2/cat. 3. Referências 1. SOLOMONS, T. W.; GRAHAM; CRAIG FRYHLE. Química Orgânica. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2005. 1 e 2 v. 2. BRUICE, P. Y. Química Orgânica. 4. ed. São Paulo: Pearson, 2006 3. MCMURRAY, J. Química Orgânica, 6. ed. São Paulo: Thomson, 2005. 1 e 2 v.
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