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Data: 01/06/2020 Disciplina: Fisioterapia em Saúde da Mulher Profa. Thais Blaya Leite Gregolis Tema: Atuação fisioterapêutica no pós-parto Objetivo: Estudar a atuação fisioterapêutica na fase pós- parto. ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA NO PUERPÉRIO IMEDIATO (1o ao 10o dia após o parto) Prof. Thais Blaya Leite Gregolis • A atuação fisioterapêutica deve identificar de fatores de risco obstétricos para a ocorrência de disfunções de assoalho pélvico (DAP), como a incontinência urinária (IU), a incontinência anal (IA) e os prolapsos de órgãos pélvicos (POP). • Também é necessária uma avaliação cuidadosa e criteriosa para detectar as deficiências musculares do assoalho pélvico (AP) e a sua influência na ocorrência das DAP. Ainda, o fisioterapeuta deve ensinar a mulher a perceber os próprios músculos do assoalho pélvico (MAP) e a realizar exercícios que serão continuados em casa. • Além disso, deve atuar favorecendo uma recuperação física mais rápida, restabelecendo as funções dos sistemas circulatório e respiratório, reorganizando os padrões posturais adquiridos na gravidez (na intenção de retorno às condições pré-gravídicas), incentivando o aleitamento materno e orientando posições corporais adequadas, a fim de evitar sobrecargas posturais durante os cuidados com o bebê. • Ajuda também na melhor qualidade de assistência à mulher, abreviando o tempo de internação hospitalar. Avaliação • Após 6 horas PPV/ Após 12 horas PPC. • Coletar do prontuário: dados pessoais e histórias pregressa e atual. Ver o partograma e ler a descrição do parto para identificar fatores de risco para DAP, como, por exemplo, duração prolongada do segundo estágio do trabalho de parto, uso de fórceps, episiotomia, peso do recém-nascido (RN), dentre outros. • Antes de se realizar o exame físico, deve-se conversar com a puérpera e investigar os possíveis desconfortos e dores. • Durante esse primeiro contato, é importante observar também sua postura e seu posicionamento no leito, para orientá-la se houverem inadequações. • Observar seu estado emocional e a receptividade às orientações. Sinais Vitais Antes de iniciar qualquer exercício com a puérpera, o fisioterapeuta deve verificar: - frequência cardíaca (FC); - frequência respiratória (FR); - pressão arterial (PA). A ocorrência de anormalidades pode limitar sua conduta. Se a puérpera estiver com a PA elevada, por exemplo, não deverá ser feita a cinesioterapia envolvendo elevação de membros inferiores na posição de decúbito dorsal, pois isso poderá aumentar ainda mais a PA. Avaliação respiratória • Padrão respiratório. • Expansibilidade torácica. • Mobilidade diafragmática. A ausculta respiratória deve ser feita naquelas com queixas de desconforto respiratório. A mecânica da respiração está sujeita a alterações tanto em puérperas que tiveram o parto por via vaginal quanto naquelas submetidas à cesariana. Durante o parto por via vaginal, já foram encontradas evidências de fadiga diafragmática, o que pode predispor a uma hipocinesia muscular pós-parto. No caso do parto cesariano, deve-se ter em mente que são cirurgias abdominais de médio porte, com todos os riscos e complicações que as acompanham, inclusive diminuição da ventilação alveolar. Avaliação do abdome • Palpação do útero (acompanhar o processo de involução uterina - placenta tenha sido expulsa, não existam infecção, hiperdistensão e concentrações inadequadas de hormônios). Logo após o parto, o útero se contrai a ponto de ser medido na altura da cicatriz umbilical. Quando a involução uterina é inadequada, geralmente é acompanhada de sangramento aumentado. Se o fisioterapeuta detectar qualquer alteração nesse sentido, deverá comunicar imediatamente ao médico que assiste a puérpera. • Percussão (timpanismo abdominal, principalmente pós- cesariana, devido a uma diminuição do ritmo peristáltico). • Diástase do músculo reto abdominal com os dedos. Na maioria das mulheres, a separação do reto é nítida. A medida é feita nas regiões supraumbilical, umbilical e infraumbilical, quando a paciente realiza a flexão anterior do tronco em decúbito dorsal, com os quadris e os joelhos flexionados. A diástase abdominal é mais evidente no nível da cicatriz umbilical e menos próximo ao apêndice xifoide e ao púbis, que são os locais de inserção muscular. Uma diástase do reto abdominal superior a 3 cm logo acima da cicatriz umbilical poderá ser significativa. Deve-se ter bom senso em relação à avaliação da diástase abdominal nas puérperas submetidas à cesariana, pois, nesse tipo de parto, nem sempre é possível proceder a essa avaliação devido ao desconforto na região abdominal. Avaliação do assoalho pélvico Desde o período gestacional, os MAP tendem ao enfraquecimento devido ao efeito dos hormônios e à sobrecarga causada pelo aumento da pressão abdominal. No parto, podem ocorrer lesões aos músculos e/ou nervos do AP, às estruturas conectivas de suporte da pelve, às estruturas vasculares ou diretamente ao trato urinário. As lesões musculares podem resultar de lacerações perineais espontâneas ou de episiotomia. As lacerações perineais espontâneas podem ser classificadas, de acordo com o Royal College of Obstetricians and Gynaecologists, em: • 1o grau (lesão de mucosa) • 2o grau (lesão envolvendo a musculatura perineal, mas não o esfíncter anal) • 3o grau (lesão envolvendo o complexo esfincteriano anal) • 4o grau (lesão envolvendo o complexo esfincteriano anal e a mucosa retal). As lacerações de 3o e 4o graus, apesar de serem as menos frequentes, são fatores de risco para Incontinência Anal (IA) e ocorrem principalmente associadas ao uso de fórceps e a segundo estágio do trabalho de parto prolongado. Avaliação do assoalho pélvico Segundo o American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG, 2016), as lacerações de 1o a 4o graus acontecem em 53 a 79% dos partos vaginais. Desse percentual, até 11% das mulheres podem lesar os MAP em 3o e 4o graus, o que sinaliza, mais uma vez, a importância de se fazer um trabalho de preparação dos MAP durante a gravidez, para que as mulheres possam ter desfechos de parto menos lesivos. Nos casos de lesões graves instaladas, é mandatório que o fisioterapeuta conscientize a mulher acerca da importância de realizar atendimentos no pós-parto visando a reabilitação dos MAP e prevenção de DAP, principalmente IA. Avaliação do assoalho pélvico • A episiotomia é definida como incisão cirúrgica durante o parto, comumente na região lateral da vulva. Era realizada quase rotineiramente nas décadas de 1950- 1980, não apenas com o objetivo de diminuir a morbimortalidade materna e fetal, mas também para manter a integridade anatômica e funcional da genitália e da musculatura da parturiente. • Atualmente, a literatura evidencia que a realização de episiotomia com o objetivo de proteger a musculatura não apresenta vantagens que justifiquem o seu emprego. No entanto, observa-se que a prática ainda difere de acordo com a experiência do médico obstetra e a sua preferência individual. • Essas lesões devem ser documentadas pelo fisioterapeuta, pois, a curto prazo, podem levar a dor perineal. Além disso, o trauma perineal decorrente do parto vaginal tem sido apontado como fator de risco para DAP, incluindo IU e IA, transtorno de dor genitopélvica/penetração e POP. • Mesmo na ocorrência de traumas perineais, em geral, reinervação subsequente e restabelecimento das funções do AP ocorrem até 6 meses após o parto. No entanto, em algumas mulheres, essas alterações persistem. Por isso, desde 2003, a Society of Obstetricians and Gynaecologists of Canada (SOGC) recomenda que os exercícios para os MAP sejam realizados no pós-parto imediato para reduzir o risco de DAP futuramente. Avaliação do assoalho pélvico • Informar acerca da localização dos músculos por figura anatômica.• A correta contração deve ser assegurada por inspeção. • Logo após o parto toda a genitália externa e a vagina apresentam um estado congestivo e edematoso, que regride comumente nas primeiras 48 h, com um relaxamento das paredes vaginais. • Essas alterações podem dificultar a percepção da contração muscular, o que reforça a necessidade de inspeção. • Ainda em relação à avaliação do AP, deve-se perguntar à puérpera se ela está com sintomas de IU e/ou IA, ou se os apresentou durante a gestação. • É importante destacar que a avaliação do AP deve ser feita em todas as puérperas, independentemente da via de parto, já que a gravidez por si só pode favorecer a ocorrência de disfunções. Avaliação dos membros inferiores Nos membros inferiores, avaliamos a presença de edema e varizes, bem como sinais de formação de trombos. A palpação para verificação de trombos é realizada no maléolo interno, na fossa poplítea e na região inguinal. Em caso positivo, geralmente há dor, rubor e hipertermia. Avaliação das mamas e da amamentação • Condição mamilar. • Presença de colostro. • Esclarecer as dúvidas em relação à amamentação e garantir que a puérpera se sinta o mais segura possível em relação a esse processo antes da alta. • Recomendações da OMS adotadas pelo Ministério da Saúde do Brasil em relação ao aleitamento materno e sempre participar de discussões (e incentivá-las) junto aos demais profissionais de saúde. Como fisioterapeutas: - avaliar sempre as posturas adotadas pelas mulheres durante a amamentação e, junto a elas, definir as melhores posições. A postura adequada é um ponto-chave para o sucesso da amamentação, pois facilita a pega do bebê e evita dores e desconfortos musculoesqueléticos, diminuindo a incidência de complicações e tornando o processo mais prazeroso. Conduta terapêutica De maneira geral: - exercícios respiratórios, - exercícios para o estímulo do peristaltismo abdominal, - incentivo à deambulação, - exercícios para os MAP , e - condutas relacionadas à amamentação. No entanto, a dosagem dos exercícios e a ordem de realização variam de acordo com os achados da avaliação, a necessidade da puérpera e as condições do ambiente. • A respiração diafragmática pode ser empregada objetivando reeducação da função respiratória, prevenção de complicações respiratórias e melhora da capacidade funcional geral das puérperas. Conduta terapêutica Na presença de sinais de obstrução das vias respiratórias, utilizar técnicas específicas para mobilização e eliminação de secreções. É prudente orientar o uso de travesseiro para suporte da incisão durante a tosse em puérperas submetidas à cesariana, a fim de diminuir a dor e o desconforto. A inspiração lenta e profunda característica da respiração diafragmática pode ser associada, na expiração, à contração dos músculos abdominais. Não é permitido, no puerpério imediato, realizar exercícios abdominais concêntricos, ou seja, associados à flexão anterior do tronco, pois isso pode aumentar a diástase abdominal. Já a contração abdominal isométrica leve pode melhorar a circulação na incisão nos casos de pós-parto cesariano, favorecendo a cicatrização, além de aumentar o peristaltismo intestinal, auxiliando no restabelecimento da função intestinal normal e favorecendo a eliminação de flatos. Conduta terapêutica Além de ser realizada durante a expiração, essa contração pode ser associada ao exercício de mobilização da pelve. Assim, a puérpera assume a posição de decúbito dorsal no leito, em flexão de quadris e joelhos, faz-se uma pequena retroversão pélvica com contração leve da musculatura abdominal, expirando aos movimentos, seguida de uma pequena anteversão pélvica. Nessa posição, utilizam-se também as técnicas de massagem abdominal superficial no sentido horário, para mobilização dos gases intestinais. Após essas condutas, a transferência da posição de decúbito dorsal para a ortostática deve ser feita virando-se primeiro para decúbito lateral, busca-se realizar a deambulação. Pede-se, então, uma inspiração e, na expiração, a puérpera assume a posição sentada. Cuidados devem ser tomados para se evitar a hipotensão postural, principalmente se a puérpera tiver sido submetida à cesariana e ainda não tiver deambulado. Conduta terapêutica A permanência da mulher no leito por um período prolongado na posição de decúbito dorsal dificulta a eliminação dos flatos. Portanto, ela deve ser orientada a posicionar-se preferencialmente em decúbito lateral após a deambulação. Como cuidados complementares para melhorar o funcionamento intestinal, a mulher deve manter dietas balanceadas, ricas em fibras e com uma ingestão maior de líquidos. É comum que mulheres submetidas a partos cirúrgicos, quando em ortostatismo, assumam uma postura antálgica, fletindo ligeiramente o tronco e retrovertendo a pelve, em uma atitude de proteger a ferida operatória. Deve-se aliviar as tensões musculares e minimizar o quadro álgico, incentivando a puérpera a adotar uma postura correta. Nessa fase, pode ser indicada uma cinta abdominal para aumentar o conforto; no entanto, não é recomendável o uso contínuo e prolongado da órtese, pois favorece o enfraquecimento da musculatura abdominal. Conduta terapêutica Estimular o sistema circulatório a fim de evitar edemas, varizes e tromboses, que acometem principalmente os membros inferiores – realizar exercícios para as extremidades que favoreçam o retorno venoso, a deambulação frequente e o posicionamento dos membros em elevação no leito. Iniciar exercícios para os MAP, após confirmar a correta contração por inspeção, incentiva-se a contração e o relaxamento muscular repetidas vezes e, se possível, solicitamos também contrações sustentadas por alguns segundos. Atenção especial deve ser dada a mulheres sintomáticas ou que apresentem muitos fatores de risco para DAP, e àquelas que não demonstram contração visível da musculatura. Conduta terapêutica Quando a mulher é submetida a episiotomia durante o parto vaginal, é comum o relato de dor e edema na região perineal nos primeiros dias. A crioterapia pode ser usada para bloquear a condução nervosa local do estímulo doloroso e diminuir o processo inflamatório, incluindo a gravidade do edema. Além de orientações quanto à higienização correta e aos exercícios de contração dos MAP, possibilitando, assim, maior troca metabólica e favorecendo a cicatrização. Nos exercícios, deve-se ter o cuidado de não escolher uma posição que possa tracionar a musculatura, o que poderá causar dor. Podem ocorrer queixas de coccialgias após o parto, favorecidas pelo movimento para trás e para cima da ponta do cóccix que acontece no período expulsivo, associada a frouxidão do ligamento sacrococcígeo. O uso de compressas frias, a adoção da posição em decúbito lateral ao dormir e nos momentos de repouso e a avaliação e adequação das atividades diárias aliviam a dor. Conduta terapêutica Orientações ergonômicas no puerpério Atualmente, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em 2016, no Brasil, cerca de 46% das mulheres faziam parte da população economicamente ativa. Diversos papéis - profissional, dona de casa, esposa e mãe, para citar alguns (Bar e Jarus, 2015). Em especial, o nascimento do primeiro filho representa uma fase de transição na vida da mulher, em que surgem novas demandas físicas e emocionais com as quais ela precisa lidar. Demanda física e emocional pelas mães (Maynard e Blain, 2005). Uma pesquisa realizada em 2006 pelo então Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística Mídia (atualmente, IBOPE Inteligência) sobre mães contemporâneas mostrou que 68% delas declaram ser difícil conciliar trabalho, maternidade e casamento, e 76% pensam que cuidar da casa e dos filhos cansa mais do que trabalhar fora.Parte das recomendações ergonômicas é relacionada às estratégias para lidar com as demandas emocionais do período, e parte visa interferir nas demandas impostas sobre o sistema musculoesquelético da mãe e dos demais cuidadores do bebê, minimizando-as. Conduta terapêutica Quando a mulher é submetida a episiotomia durante o parto vaginal, é comum o relato de dor e edema na região perineal nos primeiros dias. A crioterapia pode ser usada para bloquear a condução nervosa local do estímulo doloroso e diminuir o processo inflamatório, incluindo a gravidade do edema. Além de orientações quanto à higienização correta e aos exercícios de contração dos MAP, possibilitando, assim, maior troca metabólica e favorecendo a cicatrização. Nos exercícios, deve-se ter o cuidado de não escolher uma posição que possa tracionar a musculatura, o que poderá causar dor. Podem ocorrer queixas de coccialgias após o parto, favorecidas pelo movimento para trás e para cima da ponta do cóccix que acontece no período expulsivo. A frouxidão do ligamento sacrococcígeo pode ser a causa da dor. O uso de compressas frias, a adoção da posição em decúbito lateral ao dormir e nos momentos de repouso e a avaliação e adequação das atividades diárias aliviam a dor. Intervenção ergonômica sobre as demandas emocionais • Amamentação Os pés devem estar bem apoiados no chão, de modo que os joelhos estejam a aproximadamente 90 graus de flexão e os quadris em torno de 100 graus. Assim, há adequada descarga de peso no triângulo isquiático (50% do peso), nas coxas (34% do peso) e nos pés (16%). Essa posição dos membros inferiores pode ser alternada com a elevação dos pés sobre um apoio, para evitar edema de membros inferiores. A coluna vertebral deve estar toda apoiada no encosto da cadeira, sem que este force ou modifique as curvaturas normais. O braço deve estar apoiado sobre uma almofada, para que a mãe não tenha de sustentar o peso da criança ao amamentar, mas apenas apoiar a cabeça do bebê. Pode-se utilizar um travesseiro ou uma almofada em formato de ferradura, que apoia a coluna lombar, o braço da mãe e a cabeça do bebê Intervenção ergonômica sobre as demandas emocionais • Troca de fraldas Realizar essa tarefa em posturas de flexão anterior ou rotação de tronco pode favorecer a ocorrência de dores lombares e torácicas, por exemplo. Para a troca de fraldas e roupas do bebê, a altura da área de troca onde o bebê é posicionado deve corresponder à altura do cotovelo. Para isso, a superfície do móvel deve ser um pouco mais baixa que a altura do cotovelo do cuidador na posição de pé, aproximadamente na altura da sua crista ilíaca, ou aproximadamente 15 cm abaixo da altura de seu cotovelo. Deve haver espaço sob o móvel na forma de um recuo para a acomodação dos pés. Isso evita a inclinação do tronco anteriormente, o que exigiria contração estática dos músculos do dorso. Intervenção ergonômica sobre as demandas emocionais • Banho O banho, embora não seja repetido mais do que 2 vezes/dia nos primeiros meses, exige atenção extra do cuidador por questões de segurança. Isso favorece a adoção de esforços estáticos realizados com os membros superiores e a coluna, que podem ser a fonte de muitos desconfortos musculoesqueléticos. Intervenção ergonômica sobre as demandas emocionais • Transporte do bebê Carregar e transportar o bebê são atos que podem representar sobrecarga para a coluna. A realização de esforço estático com força excessiva (como ao segurar o bebê no colo), associada às posturas de flexão e rotação do tronco (que ocorrem ao deslocar, montar e desmontar o carrinho de transporte e ao posicionar/retirar o bebê da cadeirinha de carro), é um fator de risco para a ocorrência de distúrbios osteomusculares, como fadiga, dor lombar e nos ombros, e desconforto físico (Jager et al., 2013). Intervenção ergonômica sobre as demandas emocionais • Carregar o bebê Carregar um bebê no colo exige atividade muscular extra da musculatura paravertebral, e, quando o esforço é feito constantemente, pode levar à fadiga muscular. Para minimizar a exigência muscular, pode-se adotar o uso de bolsas tipo canguru (cadeirinhas com fivelas ou argolas ajustáveis) ou sling (peça semelhante a uma bolsa de pano), em que o bebê fica preso ao corpo do cuidador. O correto é posicionar o bebê na altura da cintura. Preferencialmente, o bebê deve ficar sentada de frente para o cuidador, com as pernas levemente dobradas, nunca penduradas. A dor muscular pode indicar sinal de sobrecarga. Intervenção ergonômica sobre as demandas emocionais • Carregar o bebê Aspectos de segurança também devem ser considerados ao se carregar uma criança no colo. Subir e descer escadas com o bebê no colo, por exemplo, pode ser arriscado. O bebê no colo é um obstáculo à visão dos degraus. O uso da bolsa tipo canguru ou do sling facilita o deslocamento, pois reduz a necessidade de sustentação de peso e ajuda o cuidador também a focar a atenção no equilíbrio exigido pela tarefa. O sling deve ser de tecido macio e confortável, mas resistente, com largura suficiente para acomodar o bebê e laterais elevadas – deve-se ter atenção aos cuidados específicos ao uso desses dispositivos. BARACHO, E.; BARACHO, S. M.; VELLOSO, F. S. B Atuação do fisioterapeuta no puerpério imediato. In: BARACHO, E. Fisioterapia Aplicada à Saúde da Mulher. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018 PUERPÉRIO TARDIO (11o ao 40o dia após o parto) A atuação no puerpério tardio é uma continuação da atenção realizada no puerpério imediato, nessa fase deve-se considerar sintomas e alterações que sejam identificadas e que apresentem manifestações. ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA NO PUERPÉRIO REMOTO (A partir do 41o dia após o parto) Prof. Thais Blaya Leite Gregolis ATUAÇÃO JUNTO À PUÉRPERA Nos primeiros 45 dias, o corpo feminino já passou pelas mudanças mais críticas, no entanto, no puerpério remoto, ainda persistem queixas dermatológicas, musculoesqueléticas, posturais e do assoalho pélvico (AP). Acrescenta-se às queixas citadas a mudança na rotina, que o bebê exige. As demandas se tornam maiores naquelas mulheres que amamentam exclusivamente, nas que cuidam sozinhas de seus bebês e nas que precisam retornar ao trabalho precocemente (seja por questões financeiras, porque são profissionais liberais, ou empreendedoras). ATUAÇÃO JUNTO À PUÉRPERA Muitas vezes, ao avaliarmos uma puérpera, focamos nas alterações musculoesqueléticas e disfunções estéticas ou do AP e nos esquecemos de abordar o desgaste físico e emocional que essa nova fase demanda; afinal, a maternidade exige bastante, tanto física quanto emocionalmente. A privação do sono (em quantidade e qualidade) que a mãe passa a ter, a adaptação do bebê, as posturas para amamentá-lo e carregá-lo e a atenção extra que alguns membros da família podem exigir nessa nova fase são alguns fatores que causam exaustão e estresse na mulher. ANAMNESE A anamnese completa e um exame físico minucioso são fundamentais para o diagnóstico preciso e o sucesso no tratamento. - Hábitos alimentares, - Estilo de vida, - Atividade física, - Hábitos miccionais e intestinais, - Função sexual (detalhes sobre os momentos da função sexual, a satisfação, a dor ou o desconforto – saber o que mais incomoda nesse aspecto (detalhes dela ou do parceiro), se já sentiu orgasmo, se passa por todas as fases do desempenho sexual e a frequência de intercurso sexual. ANAMNESE O profissional deve inquirir também sobre perfil hormonal (condições de hipoestrogenismo), saúde geral e pélvica (com foco no trofismo dos músculos do AP, hipertonia/hipotonia) e pH vaginal. Além disso, é necessário obter as seguintes informações: • Dados de identificação • Queixas principais • História obstétrica(gestação, parto e aborto, tempo de trabalho de parto, tipo de parto, uso de fórceps, episiotomia, laceração perineal, peso fetal, perímetro cefálico em caso de parto normal, tempo de intervalo entre as gestações, data do parto) • Intercorrências na gestação ANAMNESE • Atividade física antes, durante e após a gravidez (tipo e frequência) • Estado emocional, grau de estresse (provocado pelas novas demandas) e história de blues ou depressão puerperal • Patologias associadas (hipertensão arterial sistêmica [HAS], diabetes, asma, trombofilia, trombose venosa profunda [TVP]) • Peso, altura e índice de massa corporal (IMC) (pré-gravídicos e ao término da gestação) • Ingestão de medicamentos • Aleitamento materno (se exclusivo ou com complemento) • Uso de método contraceptivo • Descrição sobre alguma intercorrência clínica no puerpério ANAMNESE • Incontinência urinária e anal (se anterior ou durante a gravidez e/ou puerpério) • Disfunção sexual (se anterior ou durante a gravidez e/ou puerpério) • Constipação intestinal e hemorróidas • Algias e disfunções musculoesqueléticas • Coccigodinia (lesão do cóccix) • Síndrome do túnel do carpo • Varizes, edema, sinal de Homans. EXAME FÍSICO • Aferição da pressão arterial(PA): A PA retornará aos valores pré-gravídicos, mas qualquer elevação deverá ser informada ao médico da paciente. • Medida de peso e altura e cálculo do índice de massa corporal (peso/altura2): Apesar das questões estéticas, a retenção de peso é preocupante, pois a manutenção de sobrepeso eleva, consideravelmente, o risco de desenvolvimento de obesidade e doenças associadas (diabetes, cardiopatias e hipertensão arterial). São fatores de risco para retenção de peso: idade materna, paridade, ganho ponderal gravídico e puerperal e intensidade da lactação. Acompanhamento por nutricionista é indicado. Avaliação postural e dor referida Alterações biomecânicas na postura corporal durante a gravidez tendem a decorrer de respostas adaptativas a alterações anatômicas e fisiológicas inerentes do período gestacional. A função corpórea também será distinta nos três períodos do puerpério; portanto, o corpo feminino se expressa e comporta de modo diverso na sua organização postural. Mesmo entre 6 e 8 semanas após o parto, a estabilidade estática ainda está diminuída na postura de pé. A avaliação postural deverá ser realizada na posição em pé, nas vistas anterior, posterior e lateral (direita e esquerda), a fim de reconhecer as principais alterações existentes. Realizar os testes de força muscular – abdominais, glúteo máximo, extensores de tronco, como também averiguar se existem retrações musculares – iliopsoas, paravertebrais lombares, peitorais, extensores cervicais, isquiotibiais, piriforme, quadrado lombar e obturador interno. Avaliação postural e dor referida Por fim, a avaliação postural definirá se há necessidade de reeducação postural, qual a atividade e o condicionamento físico indicados ou o esporte almejado. • Considere se a mulher é lactante, visto que essa função modifica a organização postural e altera hormônios corpóreos • Investigue se houve retorno à atividade sexual e de qual maneira ela se manifesta (se há dor, se é prazerosa), pois poderá modificar sua estrutura corporal • Averigue se houve retorno à atividade profissional e suas características ergonômicas • Investigue a percepção corporal e a presença de disfunções musculoesqueléticas oriundas da gravidez ou que tenham surgido em alguma fase do puerpério, por meio dos testes para diagnóstico de algias. Diástase e flacidez abdominal Os músculos da parede abdominal têm a importante função de garantir a estabilização ventral do tronco. Eles reagem à oscilação da pressão intra-abdominal juntamente com os músculos do AP e contribuem para a fixação dos órgãos pélvicos. Ocorre na gestação o estiramento da musculatura abdominal. Diversas modificações predispõem à separação dos feixes dos músculos retos abdominais durante o estado de relaxamento, sendo denominadas diástases dos músculos retos abdominais (DMRA). Essa entidade se caracteriza pelo adelgaçamento e alargamento da linha alba. Devido à disposição em “V” desses músculos, a DMRA tende a ser maior na porção supraumbilical do que na infraumbilical. Diástase e flacidez abdominal Portanto, no puerpério, a musculatura abdominal está fraca e distendida; assim, não consegue exercer uma das suas funções: sustentar a coluna. Há maior incidência de DMRA em mulheres obesas, multíparas, com flacidez abdominal pré-gravídica, em gestações múltiplas, com polidrâmnio e/ou macrossomia fetal. Os estudos de Boissonnault e Blaschak (1988), que mensuraram a DMRA até 1 ano após o parto, revelaram prevalência de 36% supraumbilical e 11% infraumbilical. Já Mommers (2017) afirma que a tendência é que diminua espontaneamente após o parto, mas pode persistir em 33% das mulheres após 12 meses do nascimento. Diástase e flacidez abdominal Na avaliação fisioterapêutica, a mensuração da DMRA deve ser realizada com a mulher posicionada em decúbito dorsal, com quadris e joelhos fletidos (com os pés apoiados sobre a maca) e os braços estendidos ao longo do corpo. Em seguida, o fisioterapeuta solicita que ela realize uma flexão anterior do tronco até que o ângulo inferior da escápula esteja fora do leito. Um estudo brasileiro conduzido por Rett et al. (2009) considerou os seguintes pontos de referência para medidas da DMRA: três dedos (4,5 cm) acima e abaixo da cicatriz umbilical; no momento da flexão anterior do tronco, os avaliadores introduziam os dedos, perpendicularmente, entre as bordas mediais dos músculos retos abdominais. Sendo assim, graduou-se a diástase pelo número de dedos (polpas digitais) que coubessem entre as bordas mediais dos músculos nos referidos pontos. Esse fato foi pautado pelo estudo de Spitznagle et al. (2007), o qual estimou 1,5 cm para cada dedo. Diástase e flacidez abdominal Contudo, mais recentemente, a revisão sistemática de Mommers et al. (2017) considerou a cicatriz umbilical como ponto de referência, sendo realizada a medida de 3 cm acima e 2 cm abaixo da mesma. Assim, faz-se essencial anotar a localização das mensurações. Diástase e flacidez abdominal E o assoalho pélvico?... Tratando a DMRA • Realize somente exercícios isométricos até o 3o mês após o parto, podendo ser realizados de maneira associada à musculatura do AP.. No treinamento avançado, pode ser utilizado o exercício de “prancha”. • As fibras de contração lenta precisam ser treinadas, voluntariamente, de 20 a 30 s. • Corrente de média frequência (corrente russa), a fim de recrutar o maior número de fibras musculares e reduzir a impedância à passagem da corrente, respeitando os parâmetros de contração e relaxamento para não fadigar a musculatura. • Ginástica abdominal hipopressiva, associada à aspiração diafragmática, pode ser sugerida como método auxiliar na reeducação abdominal e na estabilização vertebral, pois objetiva restituir o tônus e a força dos músculos envolvidos na sustentação visceral abdominal, ambos pautados pela variação de pressão intracorpórea Flacidez de pele • Radiofrequência – estimula a produção de neocolágeno. • O uso de aparelhos com tecnologia de terapias combinadas (radiofrequência, infravermelho e manipulação tecidual mecânica) também oferece bons resultados em poucas sessões, sendo seguro e confortável (Winter, 2009). Estrias • Peeling • Laser • Microagulhamento • Entre outras. Constipação intestinal • Massagem abdominal; • Ginástica abdominal hipopressiva; • Treino do horário de evacuação; • Posicionamento no ato evacuatório; • Aperfeiçoamento da propriocepção; • Treino muscular do assoalho pélvico (TMAP); • Biofeedback.DAP – Disfunções do AP • Avaliação • Prescrição e execução de condutas adequadas. • IU, POP, IF/IA, Disfunção sexual. PIRES, J. L. V. R.; ONOFRE, N. S. C. Fisioterapia no puerpério remoto. In: BARACHO, E. Fisioterapia Aplicada à Saúde da Mulher. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. Caso clínico 1 para fixação Puérpera I. M. F, 27 anos, gesta 3, foi admitida ao hospital no dia 10/08/2019. DUM 01/11/2018. DPP 08/08/2019, IG: 40 semanas e 2 dias. VDRL: NR, HIV: NR, HBs Ag: NG, IgG (+) IgM (-), exames: HB: 13,5 mg/dl, HT: 42 %, glicemia 75 mg/dl. Realizado parto vaginal, em DLE, sem laceração, RN pesando 3,300 kg. Paciente encontra-se com 18 horas de pós parto, lóquios rubros, odor característico, em média quantidade, apresentando engurgitamento mamário no seio esquerdo no quadrante interno e fissuras na auréola do seio direito. A mesma relatou escape urinário ao tossir e ao espirrar. Diástase supraumbilical de 4cm, umbilical 3 cm, infraumbilical de 4 cm, padrão respiratório misto, edema vulvar e edema de grau II com sinal de cacifo em MMII. SIC ainda não evacuou. Determine intervenção fisioterapêutica (objetivos e conduta). Caso clínico 2 para fixação Puérpera J. B. L., 33 anos, gesta 2, teve parto vaginal há 2 meses e 5 dias. A mesma relatou escape urinário ao tossir e ao espirrar após o parto, que desapareceu há aproximadamente 10 dias. Está em amamentação parcial, com complemento. Diástase supraumbilical de 3 cm, umbilical 4 cm, infraumbilical de 3 cm. Na avaliação constata-se fraqueza do assoalho pélvico (grau 2 na escala de Ortiz). Determine intervenção fisioterapêutica (objetivos e conduta).
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