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Plano de Aula: Jornalismo Esportivo JORNALISMO ESPECIALIZADO - CCA0798 Título Jornalismo Esportivo Número de Aulas por Semana Número de Semana de Aula 10 Tema Especificidades do Jornalismo Esportivo Objetivos Gerais Conhecer a evolução do jornalismo esportivo no mundo e no Brasil Compreender os aspectos éticos, sociais, políticos e econômicos envolvidos na cobertura esportiva Específicos Identificar a necessidade de formação específica para atuação no jornalismo esportivo Relacionar o jornalismo esportivo à produção aprofundada e investigativa Distinguir o espaço e a medida da emoção no jornalismo esportivo Estrutura do Conteúdo HISTÓRICO O jornalismo esportivo surge na imprensa apenas em meados do século XIX, pois o esporte, praticado principalmente pelas classes populares, é considerado então um tema menor, pouco relevante. Poucas modalidades merecem registro nessa época e em geral são de elite, como hipismo, turfe, esgrima, natação, iatismo e caça. No Brasil, o esporte mais popular no início do século XX é o remo - cujas regatas dariam pouco mais tarde origem aos clubes de futebol cariocas, alguns dos quais têm a referência em seu nome, como Clube de Regatas do Flamengo e Botafogo de Futebol e Regatas. A visão em relação à prática esportiva começa a mudar quando o aristocrata francês barão de Coubertin resgata os ideais atléticos e o espírito esportivo da antiga Grécia e dá início à era moderna dos Jogos Olímpicos. Com o aumento do interesse pelo esporte e a adesão das classes mais abastadas, o assunto conquista mais espaço na imprensa, e as colunas esportivas ganham status. Entretanto, não existe ainda a cobertura de eventos esportivos. Já na década de 30, ocorrem as primeiras transmissões televisivas de eventos em vários países. A BBC focalizou a primeira jornada de Wimbledon em 1937, e a França transmitiu a Copa do Mundo de 1948. Na Alemanha nazista de 1939, o esporte se torna instrumento de propaganda da superioridade da raça ariana, exaltada no filmeOlimpia, de Leni Riefenstahl. No Brasil, o jornalismo esportivo se desenvolve no rastro da rápida popularização do futebol no país - que surge como hobby da elite branca no final do século XIX, importado da Inglaterra por Charles Miller. A primeira partida seria oficialmente disputada no país por São Paulo Railway e Cia. de Gás, em São Paulo, em 14 de abril 1895. Nos primeiros times oficiais criados por aqui, a presença de negros é vetada. Na década de 20, o futebol começa a se democratizar e conquista todas as classes sociais. E a partir de 1930, começa a assumir ares profissionais. Nesta década, surge oJornal dos Sports, no Rio de Janeiro. Até as três primeiras décadas do século XX, acrônica esportiva, como então é chamada, é marcada pela falta de compromisso com a ética e a objetividade, pontuada de sensacionalismo e inverdades. Numa era anterior à profissionalização da imprensa no Brasil, portanto, anterior à especialização, o jornalismo esportivo é desempenhado como um bico por pessoas despreparadas e tendenciosas - torcendo abertamente por seus clubes. Segundo Maurício José Stycer: Desde o início, foi [o jornalismo esportivo] uma especialidade menos relevante dentro do jornalismo, nitidamente subalterna em relação ao jornalismo político, por exemplo, e atraía profissionais com menos habilidades e ambições que os redatores políticos e/ou literários. (2007, p. 4) Na década de 30, o rádio é um poderoso veículo de comunicação , embora ainda estivesse se espraiando e exercerá um importante papel no jornalismo esportivo. Em 1938, ocorre na França a primeira transmissão radiofônica de uma partida de Copa do Mundo - Brasil 6 x Polônia 5. O panorama do jornalismo esportivo no Brasil começa a mudar na década de 40 e se moderniza entre as décadas de 50 e 60 - período em que o jornalismo brasileiro como um todo passa por grandes transformações e adota os protocolos de objetividade e imparcialidade propugnados pelo jornalismo norte-americano. Além disso, a organização do trabalho nas redações resulta numa crescente especialização com a distribuição do conteúdo informativo por editorias. As mudanças se refletem no jornalismo esportivo, que conquista maior espaço nos jornais e até cadernos próprios e equipes com vários profissionais. Em São Paulo, surge oCaderno dos Esportes, que originaria oJornal da Tarde. Uma das medidas que mais repercute no setor é a separação entre opinião e informação, com definições claras do espaço de uma e de outra - ficando a primeira a cargo dos colunistas esportivos, os especialistas, a quem é admitido manifestar suas emoções e, inclusive, torcer. Nos anos 60, com a ascensão da televisão no Brasil, o rádio começa a declinar de seu lugar de liderança na comunicação, cedendo audiência à TV, que também passa ser alvo maior de interesse do mercado publicitário. Se nas copas anteriores só foi possível assistir aos jogos nas salas de cinema, dias depois de realizadas as partidas, na Copa do Mundo de 1970 os brasileiros puderam acompanhar ao vivo e a cores, via satélite, a conquista do tricampeonato pela seleção canarinho. Com a projeção alcançada pela televisão nas coberturas de eventos esportivos, os jornais precisaram se adaptar para continuar despertando o interesse de seus leitores. Uma estratégia foi equilibrar ou compensar a objetividade e o distanciamento da cobertura jornalística com um esforço de humanização do noticiário, através a presença de personalidades diversas assinando colunas e crônicas que injetaram emoção, humor, paixão e opinião em suas páginas. Já na década de 80, a Folha de S. Paulo destaca-se ao investir intensivamente em estatísticas para analisar resultados esportivos. A partir de então, tem-se a adoção de um discurso econômico, voltado para a cobertura da movimentação financeira envolvida num universo esportivo profissional e rentável, uma verdadeira indústria - hoje das mais lucrativas no mundo em torno da qual giram milhares de empresas e negócios, com crescentes investimentos de mídia e marketing esportivo. A essa movimentação deu-se o nome de PIB do esporte. FORMAÇÃO O estigma do jornalista esportivo não encontra mais tanto eco na atualidade, mas ainda há uma recorrente confusão sobre entretenimento e jornalismo quanto a cobertura esportiva. O jornalismo esportivo é, antes de qualquer outra coisa, jornalismo em primeiro lugar, o que significa que deve ser realizado com a mesma seriedade e responsabilidade requeridas em qualquer área. O jornalismo esportivo também deve se comprometer com a ética e se empenhar na busca de informação atualizada e completa, na construção de um noticiário com credibilidade. O profissional dedicado a cobrir o setor necessita preparo para atuar, o que inclui conhecimento geral da história dos esportes, domínio dos fundamentos das modalidades que cobrir e dos regulamentos dos campeonatos, conhecimento sobre a legislação esportiva, além do contexto. Aprimorar sua formação e se especializar em algum esporte é o caminho para o jornalista esportivo vencer o preconceito de outras áreas. Além disso, o profissional em atuação hoje deve estar habilitado a lidar com as múltiplas ferramentas tecnológicas disponíveis, estar atento a transformação das diferentes modalidades, perceber o fluxo comunicacional de cada área. Para os interessados, existem cursos de jornalismo esportivo em diferentes níveis, tratando não só das especificidades das diversas modalidades esportivas como também de seus aspectos culturais, sociais, médicos, administrativos, jurídicos e políticos. A PAUTA O jornalismo esportivo não deveria, em tese, ficar refém das agendas de competições esportivas e treinos e se pautar apenas pelos jogos e disputas, o que restringe a cobertura aos eventos da área, e as notícias giram em torno apenas do que aconteceu ou vai acontecer, ao noticiário efêmero. É possível investir em pautas exclusivas, em matérias que aprofundam um assunto ou busquem um enfoque diferente, em reportagens investigativas, enfim, um conteúdo mais apurado, com materialespecial que fuja à rotina e distinga um veículo do outro. Recentemente, despontam diferentes aspectos do jornalismo esportivo, as discussões sociais inerentes, as modalidades emergentes, como o futebol feminino, o futebol americano e até os e-sports. Fugir da agenda significa, por exemplo, voltar a atenção para os bastidores do esporte em busca de informação inédita e exclusiva, de antecipação de decisões, e investir em campos inexplorados, como os interesses do torcedor, as políticas públicas para o esporte, a violência dentro e fora das disputas, o marketing esportivo, as ações vinculadas à cidadania e ao terceiro setor. Barbero e Rangel ressaltam ainda: A política do esporte é um campo que precisa ser melhor coberto pelos jornalistas esportivos. Fugir do cotidiano, muitas vezes cansativamente repetitivo, e partir para os bastidores. O business é outro campo que precisa ser melhor explorado, principalmente no momento em que algumas agremiações tomam um contorno mais corporativo e há um processo de globalização em curso que atinge também o esporte. (2006, p. 27) A ENTREVISTA Uma das principais ferramentas do jornalismo, a entrevista bem preparada e bem feita pode ser um instrumento efetivo de construção de um jornalismo esportivo criativo, aprofundado e interessante, além de ser fonte de informação exclusiva e inédita e ponto de partida para novas matérias. Entretanto, a realidade no jornalismo esportivo brasileiro é recorrente a entrevista óbvia e tola, que pouco ou nada contribui para acrescentar à cobertura ou proporcionar esclarecimento, conhecimento e opinião fundamentada: A maioria das entrevistas na área esportiva [...] é totalmente viciada. As perguntas são previsíveis, as respostas mais ainda. Muitas vezes, a pergunta do jornalista já dá a resposta ao entrevistado que, assim, nem precisa se dar ao trabalho de pensar para responder. E aí, fulano, com a vitória de hoje já dá pra se considerar na final ou o adversário quando joga em casa é sempre perigoso?? (BARBERO & RANGEL, 2006, p.36) Nesse sentido, as entrevistas realizadas após uma competição constituem um momento crítico, que pode colocar a perder uma oportunidade importante e, além disso, comprometer o próprio trabalho do jornalista. A entrevista deve servir para esclarecimento sobre o desempenho do atleta ou das equipes tendo em vista o resultado alcançado na disputa. Daí ser muito importante que o repórter prepare boas perguntas, cuidando para não fazer perguntas que todos sempre fazem e evitando perguntas com respostas embutidas. O TEXTO Clareza, simplicidade e objetividade também devem orientar o texto no jornalismo esportivo. Esses fundamentos primordiais da redação jornalística, entretanto, não podem resultar em um texto frio e distante e, por isso mesmo, desinteressante e burocrático. A emoção, inerente ao esporte, também deve transparecer na reportagem e no noticiário esportivo, embora isso não signifique que o texto se traduza em apelação. O compromisso com a verdade jornalística contribui para que a linguagem se torne mais descritiva. O ideal é que se tenha um equilíbrio dessas duas vertentes: emoção e descrição dos fatos. O esporte não vive sem emoção. (BARBERO & RANGEL, 2006, p. 55) Ao longo de sua história, entretanto, o jornalismo esportivo desenvolveu uma linguagem própria que se caracteriza, de um lado, por jargões diretamente vinculados às modalidades esportivas e que constituem todo um vocabulário específico, e, de outro, por um grande volume de clichês e lugares-comuns aos quais os redatores recorrem abusivamente. No primeiro caso, não é possível evitar os termos próprios dos diversos esportes e expressões correntes no meio, mas é preciso ter o cuidado de traduzir sempre aqueles termos e expressões que não são de conhecimento geral. É bom lembrar que, ainda que nem todos acompanhem diretamente o esporte, há sempre eventos que atraem o interesse de um público maior, não familiarizado com o vocabulário daquela modalidade. No segundo caso, é possível fugir do chavão e das figuras de linguagem desgastadas se o jornalista esportivo dominar seu idioma, ter um vocabulário ampliado e realizar uma apuração completa. Assim não é difícil ser criativo e construir um texto de qualidade, fluente e informativo. No rádio e na TV, jornalistas, locutores, narradores, âncoras, comentaristas devem estar atentos à gramática. Além das regras próprias de construção textual para os meios eletrônicos, que deve ser pautada ainda mais pela clareza, deve-se cuidar para evitar os problemas comuns à fala espontânea, oral, que é fragmentada, descontínua. Também é preciso se policiar para não incorrer em bordões ultrapassados e abusar de gírias ou mesmo de adjetivações que não contribuem para o texto. MERCADO O mercado para o jornalista de esportes tem se diversificado recorrentemente. Entre as novas plataformas existentes, estão ferramentas para cobertura de modalidades em específico, serviços de streaming, federações esportivas, podcasts e empresas locais. Soma-se a isso, os próprios veículos tradicionais, muitos dos quais, a partir da Copa e da Olimpiada no Brasil passaram a dedicar mais espaço nas páginas e programações. Aplicação Prática Teórica
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