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ÉTICA GERAL E JURÍDICA Taísa Lúcia Salvi Revisão técnica: Gustavo da Silva Santanna Bacharel em Direito Especialista em Direito Ambiental Nacional e Internacional e em Direito Público Mestre em Direito Professor em cursos de graduação e pós-graduação em Direito Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB -10/2147 E83 Ética geral e jurídica [recurso eletrônico ] / Willian Gustavo Rodrigues... et al.; [revisão técnica: Gustavo da Silva Santanna]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. ISBN 978-85-9502-456-4 1. Direito. 2. Ética. I. Rodrigues, Willian Gustavo. CDU 17:34 Estatuto da Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar o que é a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a ativi- dade de advocacia. Reconhecer os direitos dos advogados, do advogado empregado e o que é uma sociedade de advogados. Explicar como ocorre a inscrição como advogado e os casos de in- compatibilidade e impedimento. Introdução O Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) é o compilado de regras e normas do ordenamento jurídico brasileiro que estabe- lece os direitos e deveres dos advogados e dos estagiários de Direito no exercício da profissão. A OAB é a instituição destinada a reunir e representar a classe profissional dos advogados em todo o território nacional. Neste capítulo, você vai ler sobre as normas que regem uma das profissões mais antigas que se tem conhecimento, sendo considerada uma das atividades essenciais para a administração da justiça, con- forme observa-se no art. 133 da Constituição da República Federativa do Brasil. Conceitos fundamentais Inicialmente, cumpre referir que a primeira divulgação da fundação da cultura jurídica em nosso País independente remete a dois fatores impor- tantes (CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, ([200-?]): a fundação, em 11 de agosto de 1827, por ato do Imperador Dom Pedro I, dos cursos de ciências jurídicas e sociais, constituindo-se um na cidade de São Paulo e outro na cidade de Olinda; a fundação do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) em 1843, sendo o seu estatuto redigido com a finalidade primordial da constituição da Ordem dos Advogados. Todavia, foi quase um século depois da aprovação, pelo governo, dos estatutos votados pelo IAB que a OAB se efetivou, por força do art. 17 do Decreto nº. 19.408, de 18 de novembro de 1930 (durante a Revolução de 1930). O primeiro regulamento da Ordem dos Advogados foi aprovado pelo Decreto nº. 20.784, de 14 de dezembro de 1931, sendo prevista, no art. 4º, a criação do Conselho Federal para o exercício das atribuições da Ordem em todo o território nacional. REGULAMENTO A QUE SE REFERE O DECRETO N. 20.784, DE 14 DE DEZEMBRO DE 1931 CAPÍTULO I da ordem, seus fins e organização Art. 1º A Ordem dos Advogados Brasileiros, creada pelo art. 17 do decreto n. 19.408, de 18 de novembro de 1930, é o órgão de seleção, defesa e disciplina da classe dos advogados em toda a República. Art. 2º A Ordem constitue serviço público federal, ficando, por isso, seus bens e serviços e o exercício de seus cargos, isentos de todo e qualquer imposto ou contribuição. Art. 3º A Ordem compreende uma secção central, com séde no Distrito Federal, e uma secção em cada Estado e no Territorio do Acre, com séde na Capital respectiva. Art. 4º A Ordem exercerá suas atribuições, em todo o territorio nacional, pelo Conselho Federal e pelo presidente e secretario geral; em cada secção, pela assembléa geral, pelo conselho e pela diretoria; em cada sub-secção, pela diretoria e pela assembléa geral. Rio de Janeiro, 14 de dezembro de 1931. Oswaldo Aranha (BRASIL, 1931, documento on-line). Estatuto da Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)108 Em março de 1933, elegeu-se presidente Levi Fernandes Carneiro e, para secretaria geral, Attílio Vivácqua. O Regimento Interno do Conselho Federal, fixando a sua organização administrativa, foi aprovado em 13 de março de 1933. Carneiro e Vivácqua foram reeleitos sucessivamente, permanecendo à frente do Conselho Federal por três mandatos consecutivos, consolidando a Ordem dos Advogados, organizando a instituição, solucionando os problemas de interpreta- ção do Estatuto, atuando em prol da criação das seções estaduais e elaborando o Código de Ética. O primeiro Código de Ética Profissional dos Advogados foi aprovado em sessão do Conselho Federal do dia 25 de julho de 1934, dando cumprimento ao disposto no inciso III, do art. 84, do Regimento da OAB. No decorrer da Segunda Guerra, após a ocorrência do afundamento de cinco navios brasileiros, entre 5 e 17 de agosto de 1942, provocados por sub- marinos alemães, a OAB exigiu do governo providências urgentes para o pronto desagravo da soberania nacional. Ao longo da história do Brasil, como você pode ver, a Ordem dos Advo- gados teve um papel importante lutando por diretos e garantias individuais, não se calando frente a acontecimentos políticos temerários e se mostrando como entidade indispensável ao cultivo de uma sociedade totalmente livre. A OAB é a instituição máxima que estabelece as regras e normas para o exercício da advocacia no Brasil. A Lei nº. 8.906, de 4 de julho de 1994, dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a OAB, estabelecendo que a Ordem tem por finalidade (BRASIL, 1994): defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado Democrático de Direito, os direitos humanos e a justiça social; pugnar pela boa aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e pelo aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas; promover, com exclusividade, a representação, a defesa, a seleção e a disciplina dos advogados em toda a República Federativa do Brasil. Em que pese a OAB seja prevista, no art. 44 da Lei nº. 8.906/1994, como serviço público, dotada de personalidade jurídica e forma federativa, hoje 109Estatuto da Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ela é tida como uma instituição sui generis, uma vez que se pauta em caráter excepcional de serviço de feito único, apresentando autonomia e independência, particularidades e peculiaridades que não podem se caracterizar como uma mera entidade ou órgão de fiscalização profissional; ou seja, ela é desseme- lhante dos demais conselhos profissionais (BRASIL, 1994). Nesse sentido, trazemos a lume a decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº. 3.026/DF, em que foi Relator o Ministro Eros Grau, in verbis: EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. § 1º DO ARTIGO 79 DA LEI N. 8.906, 2ª PARTE. “SERVIDORES” DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. PRECEITO QUE POSSIBILITA A OPÇÃO PELO REGIME CELESTISTA. COM- PENSAÇÃO PELA ESCOLHA DO REGIME JURÍDICO NO MO- MENTO DA APOSENTADORIA. INDENIZAÇÃO. IMPOSIÇÃO DOS DITAMES INERENTES À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA. CONCURSO PÚBLICO (ART. 37, II DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL). INEXIGÊNCIA DE CONCURSO PÚBLICO PARA A ADMISSÃO DOS CONTRATADOS PELA OAB. AUTARQUIAS ESPECIAIS E AGÊNCIAS. CARÁTER JURÍDICO DA OAB. ENTIDADE PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO INDEPENDENTE. CATEGORIA ÍMPAR NO ELENCO DAS PER- SONALIDADES JURÍDICAS EXISTENTES NO DIREITO BRA- SILEIRO. AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA DA ENTIDADE. PRINCÍPIO DA MORALIDADE. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 37, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. NÃO OCORRÊNCIA. 1. A Lei n. 8.906, artigo 79, § 1º, possibilitou aos “servidores” da OAB, cujo regime outrora era estatutário, a opção pelo regime cele- tista. Compensação pela escolha: indenização a ser paga à época da aposentadoria. 2. Não procede a alegação de que a OAB sujeita-se aos ditames impostos à Administração Pública Direta e Indireta. 3. A OAB não é uma entidade da Administração Indireta da União. A Ordem é um serviço público independente, categoria ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro. 4. A OAB não está incluídana categoria na qual se inserem essas que se tem referido como “autarquias especiais” para pretender-se afirmar equivocada independência das hoje chamadas “agências”. 5. Por não consubstanciar uma entidade da Administração Indireta, a OAB não está sujeita a controle da Estatuto da Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)110 A OAB é composta dos seguintes órgãos: Conselho Federal; Conselhos Seccionais; Subseções; Caixas de Assistência dos Advogados. Veremos cada um em detalhes a seguir. Conselho Federal O Conselho Federal é o órgão supremo da instituição, dotado de personali- dade jurídica própria, com sede na capital do País, Brasília/DF. Compõe-se dos conselheiros federais, integrantes das delegações de cada unidade federativa e dos seus ex-presidentes, na qualidade de membros honorários vitalícios. A sua estrutura e o seu funcionamento são defi nidos no Regula- Administração, nem a qualquer das suas partes está vinculada. Essa não vinculação é formal e materialmente necessária. 6. A OAB ocupa-se de atividades atinentes aos advogados, que exercem função constitucionalmente privilegiada, na medida em que são indispensáveis à administração da Justiça [artigo 133 da CB/88]. É entidade cuja finalidade é afeita a atribuições, interesses e seleção de advogados. Não há ordem de relação ou dependência entre a OAB e qualquer órgão público. 7. A Ordem dos Advogados do Brasil, cujas características são autonomia e independência, não pode ser tida como congênere dos demais órgãos de fiscalização profissional. A OAB não está voltada exclusivamente a finalidades corporativas. Possui finalidade institucional. 8. Embora decorra de determinação legal, o regime estatutário imposto aos empregados da OAB não é compatível com a entidade, que é autônoma e inde- pendente. 9. Improcede o pedido do requerente no sentido de que se dê interpretação conforme o artigo 37, inciso II, da Constituição do Brasil ao caput do artigo 79 da Lei n. 8.906, que determina a apli- cação do regime trabalhista aos servidores da OAB. 10. Incabível a exigência de concurso público para admissão dos contratados sob o regime trabalhista pela OAB. 11. Princípio da moralidade. Ética da legalidade e moralidade. Confinamento do princípio da moralidade ao âmbito da ética da legalidade, que não pode ser ultrapassada, sob pena de dissolução do próprio sistema. Desvio de poder ou de fina- lidade. 12. Julgo improcedente o pedido (BRASIL, 2006, documento on-line, grifo nosso). 111Estatuto da Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) mento Geral da Ordem. Compete ao Conselho Federal (art. 54) (BRASIL, 1994, documento on-line): dar cumprimento efetivo às finalidades da OAB; representar, em juízo ou fora dele, os interesses coletivos ou individuais dos advogados; velar por dignidade, independência, prerrogativas e valorização da advocacia; representar, com exclusividade, os advogados brasileiros nos órgãos e eventos internacionais da advocacia; editar e alterar o Regulamento Geral, o Código de Ética e Disciplina e os provimentos que julgar necessários (a referida intervenção depende de prévia aprovação por dois terços das delegações, garantido o amplo direito de defesa do Conselho Seccional respectivo, nomeando-se di- retoria provisória para o prazo que se fixar); adotar medidas para assegurar o regular o funcionamento dos Conselhos Seccionais; intervir nos Conselhos Seccionais, onde e quando constatar grave vio- lação da Lei nº. 8.906/1994 ou do Regulamento Geral; cassar ou modificar, de ofício ou mediante representação, qualquer ato, de órgão ou autoridade da OAB, contrário à Lei nº. 8.906/1994, ao Regulamento Geral, ao Código de Ética e Disciplina, e aos Provimentos, ouvida a autoridade ou o órgão em causa; julgar, em grau de recurso, as questões decididas pelos Conselhos Seccio- nais, nos casos previstos na Lei nº. 8.906/1994 e no Regulamento Geral; dispor sobre a identificação dos inscritos na OAB e sobre os respectivos símbolos privativos; apreciar o relatório anual e deliberar sobre o balanço e as contas da sua diretoria; homologar ou mandar suprir relatório anual, o balanço e as contas dos Conselhos Seccionais; elaborar as listas constitucionalmente previstas, para o preenchimento dos cargos nos tribunais judiciários de âmbito nacional ou interestadual, com advogados que estejam em pleno exercício da profissão, vedada a inclusão de nome de membro do próprio Conselho ou de outro órgão da OAB; ajuizar ADI de normas legais e atos normativos, ação civil pública, mandado de segurança coletivo, mandado de injunção e demais ações cuja legitimação lhe seja outorgada por lei; Estatuto da Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)112 colaborar com o aperfeiçoamento dos cursos jurídicos e opinar, previa- mente, nos pedidos apresentados aos órgãos competentes para criação, reconhecimento ou credenciamento desses cursos; autorizar, pela maioria absoluta das delegações, a oneração ou alienação dos seus bens imóveis; participar de concursos públicos, nos casos previstos na Constituição e na lei, em todas as suas fases, quando tiverem abrangência nacional ou interestadual; resolver os casos omissos na Lei nº. 8.906/1994. Conselhos Seccionais Os Conselhos Seccionais são dotados de personalidade jurídica própria e têm jurisdição sobre os respectivos territórios dos estados-membros, do Distrito Federal e dos territórios. Compõem-se de conselheiros em nú- mero proporcional ao de seus inscritos, segundo critérios estabelecidos no Regulamento Geral, exercendo e observando, no respectivo território, as competências, vedações e funções atribuídas ao Conselho Federal, no que couber e no âmbito de sua competência material e territorial, bem como as normas gerais estabelecidas nesta Lei, no Regulamento Geral, no Código de Ética e Disciplina e nos provimentos. Compete aos Conselhos Seccionais (art. 58) (BRASIL, 1994): editar o seu regimento interno e as suas resoluções; criar as Subseções e a Caixa de Assistência dos Advogados; julgar, em grau de recurso, as questões decididas por seu presidente, por sua diretoria, pelo Tribunal de Ética e Disciplina, pelas diretorias das Subseções e da Caixa de Assistência dos Advogados; fiscalizar a aplicação da receita, apreciar o relatório anual e deliberar sobre o balanço e as contas da sua diretoria, das diretorias das Subseções e da Caixa de Assistência dos Advogados; fixar a tabela de honorários, válida para todo o território estadual; realizar o Exame de Ordem; decidir os pedidos de inscrição nos quadros de advogados e estagiários; manter cadastro dos seus inscritos; fixar, alterar e receber contribuições obrigatórias, preços de serviços e multas; participar da elaboração dos concursos públicos, em todas as suas fases, nos casos previstos na Constituição e nas leis, no âmbito do seu território; 113Estatuto da Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) determinar, com exclusividade, critérios para o traje dos advogados, no exercício profissional; aprovar e modificar o seu orçamento anual; definir a composição e o funcionamento do Tribunal de Ética e Disci- plina e escolher os seus membros; eleger as listas, constitucionalmente previstas, para preenchimento dos cargos nos tribunais judiciários, no âmbito da sua competência e na forma do Provimento do Conselho Federal, vedada a inclusão de membros do próprio Conselho e de qualquer órgão da OAB; intervir nas Subseções e na Caixa de Assistência dos Advogados; desempenhar outras atribuições previstas no Regulamento Geral. Subseções As Subseções são as partes autônomas do Conselho Seccional, na forma do Estatuto da Advocacia e a OAB e do seu ato constitutivo. Compete às Subseções no âmbito do seu território (art. 61) (BRASIL, 1994): dar cumprimento efetivo às finalidades da OAB; velar pela dignidade, independência e valorizaçãoda advocacia e fazer valer as prerrogativas do advogado; representar a OAB perante os poderes constituídos; desempenhar as atribuições previstas no Regulamento Geral ou por delegação de competência do Conselho Seccional. Caixas de Assistência dos Advogados As Caixas de Assistência dos Advogados são dotadas de personalidade jurídica própria e são criadas pelos Conselhos Seccionais, quando estes contarem com mais de 1.500 inscritos, destinando-se a prestar assistência aos inscritos no Conselho Seccional a que se vincule. Dentro da OAB, existem ainda as Comissões, que podem ter caráter ex- cepcional ou permanente, as quais são criadas com o objetivo de auxiliar os respectivos Conselhos, sejam eles no âmbito federal, seccional ou subseccional, nas matérias da sua competência. Estas possuem o encargo de desenvolver trabalhos, sejam eles no âmbito de estudos ou na elaboração de pareceres, coadjuvando, dessa forma, para uma discussão sobre diversas matérias entre Estado, advogados e sociedade. Estatuto da Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)114 A expressão advogado — originária do latim advocatus (particípio passado de advo- care, que significa “chamar junto de si”, formado por ad, que significa “a”, mais vocare, “chamar, apelar para”) — em uma interpretação livre pode ser entendida como “o que foi chamado a prestar assistência”. No exercício da profissão, o advogado está no cumprimento do dever de prestar assistência àquele que a constituiu, conferindo-lhe defesa judicial acerca dos interesses de seu cliente, garantindo a efetividade do sistema jurídico e de seus mandamentos nucleares. Em outras palavras, como afirma Eduardo Bittar (2015, p. 427), “[…] o advogado é mensageiro e representante jurídico da vontade dos cidadãos” perante qualquer órgão do Estado em atos judiciais ou em atos extrajudiciais. O exercício da advocacia é exercido exclusivamente por bacharel em Direito, devidamente inscrito na OAB. Mas o advogado não é apenas um fervoroso protetor da letra fria da lei, dado que, quando esta segmenta, implica ou prejudica, o profissional busca, por meio da justiça, o amparo para a sua atuação técnica. Direitos dos advogados e do advogado empregado, e a sociedade de advogados Tendo em vista o disposto no art. 133 da Carta Magna de 1988, o advogado é indispensável à administração da justiça, sendo defensor do Estado Demo- crático de Direito, da cidadania, da moralidade pública, da justiça e da paz social, incumbindo a ele tratar a todos com cordialidade, discrição, respeito e independência, requerendo idêntico tratamento, constantemente guardado pelas prerrogativas a que tem direito (BRASIL, 1988). Embora a Carta Magna endosse o livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, o exercício da advocacia é privativo do bacharel em Di- reito, regularmente inscrito na OAB, em observância às regras indispensáveis estabelecidas pela legislação infraconstitucional. Outrossim, os atos praticados por pessoas não inscritas na OAB são nulos, sem prejuízo das sanções penais, civis e administrativas. A advocacia, na qualidade de atividade basilar à justiça, deve ser exercida com responsabilidade e independência, tendo o conhecimento de que seu es- 115Estatuto da Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) critório e sua profissão são invioláveis, desde que não incida em despropósito, tendo seus direitos enquanto profissional assegurados no art. 7º, I a XXI, e no art. 7º-A, I a IV, ambos do Estatuto da Advocacia e a OAB (BRASIL, 1994). Assim, são direitos dos advogados (BRASIL, 1994): exercer, com liberdade, a profissão em todo o território nacional, o que lhe garante chegar em qualquer órgão do Estado, em qualquer parte do território nacional, e atuar como advogado; a inviolabilidade do seu escritório ou local de trabalho, bem como dos seus instrumentos de trabalho, da sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia; comunicar-se com os seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem procuração, quando estes se acharem presos, detidos ou recolhi- dos em estabelecimentos civis ou militares, ainda que considerados incomunicáveis; ter a presença de representante da OAB, quando preso em flagrante, por motivo ligado ao exercício da advocacia, para lavratura do auto respectivo, sob pena de nulidade e, nos demais casos, a comunicação expressa à seccional da OAB (ver decisão do STF na ADI nº. 1.127); não ser recolhido ou preso, antes de sentença transitada em julgado, senão em sala de Estado-Maior, com instalações e comodidades condig- nas, assim reconhecidas pela OAB, e, na sua falta, em prisão domiciliar (ver decisão do STF na ADI nº. 1.127); ingressar livremente nas salas de sessões dos tribunais, mesmo além dos cancelos que separam a parte reservada aos magistrados; ingressar livremente nas salas e dependências de audiências, secre- tarias, cartórios, ofícios de justiça, serviços notariais e de registro, e, no caso de delegacias e prisões, mesmo fora da hora de expediente e independentemente da presença dos seus titulares; ingressar livremente em qualquer edifício ou recinto em que funcione repartição judicial ou outro serviço público onde o advogado deva praticar ato ou colher prova ou informação útil ao exercício da atividade profissional, dentro do expediente ou fora dele, e ser atendido, desde que se ache presente qualquer servidor ou empregado; ingressar livremente em qualquer assembleia ou reunião de que participe ou possa participar o seu cliente, ou perante a qual este deve comparecer, desde que munido de poderes especiais; permanecer sentado ou em pé e retirar-se de quaisquer locais indicados no inciso anterior, independentemente de licença; Estatuto da Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)116 dirigir-se diretamente aos magistrados nas salas e gabinetes de trabalho, independentemente de horário previamente marcado ou outra condição, observando-se a ordem de chegada; usar da palavra, pela ordem, em qualquer juízo ou tribunal, mediante intervenção sumária, para esclarecer equívoco ou dúvida surgida em relação a fatos, documentos ou afirmações que influam no julgamento, bem como para replicar acusação ou censura que lhe forem feitas; reclamar, verbalmente ou por escrito, perante qualquer juízo, tribunal ou autoridade, contra a inobservância de preceito de lei, regulamento ou regimento; falar, sentado ou em pé, em juízo, tribunal ou órgão de deliberação coletiva da Administração Pública ou do Poder Legislativo; examinar, em qualquer órgão dos Poderes Judiciário e Legislativo, ou da Administração Pública em geral, autos de processos findos ou em andamento, mesmo sem procuração, quando não estejam sujeitos a sigilo, assegurada a obtenção de cópias, podendo tomar apontamentos; examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investi- gação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital (ver decisão do STF na ADI nº. 1.127); ter vista dos processos judiciais ou administrativos de qualquer na- tureza, em cartório ou na repartição competente, ou retirá-los pelos prazos legais; retirar autos de processos findos, mesmo sem procuração, pelo prazo de 10 dias; ser publicamente desagravado, quando ofendido no exercício da pro- fissão ou em razão dela; usar os símbolos privativos da profissão de advogado; recusar-se a depor como testemunha em processo no qual funcionou ou deva funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou foi advogado, mesmo quando autorizado ou solicitado pelo constituinte, bem como sobre fato que constitua sigilo profissional; retirar-se do recinto onde se encontre aguardando pregão para ato judi- cial, após 30 minutos do horáriodesignado e ao qual ainda não tenha comparecido a autoridade que deva presidir a ele, mediante comunicação protocolizada em juízo; assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento 117Estatuto da Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probató- rios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração, apresentar razões e quesitos; permitir à gestante a entrada em tribunais sem ser submetida a detectores de metais e aparelhos de raios X; reservar à gestante vaga em garagens dos fóruns dos tribunais; promover à gestante, lactante, adotante ou que der à luz acesso à creche, onde houver, ou a local adequado ao atendimento das neces- sidades do bebê; dar à gestante, lactante, adotante ou que der à luz preferência na ordem das sustentações orais e das audiências a serem realizadas a cada dia, mediante comprovação de sua condição; promover à gestante, adotante ou que der à luz suspensão de prazos processuais quando for a única patrona da causa, desde que haja noti- ficação por escrito ao cliente. Esses direitos e prerrogativas são cruciais ao pleno exercício da advocacia, e a sua violação resulta em violação ao Judiciário como poder político do Estado. O raciocínio do advogado deve se mensurar pelas exiguidades sociais e pelas circuns- tâncias do exercício da cidadania no País. Esse é primeiro múnus ético profissional que se devota à advocacia, a qual é, ao mesmo tempo, uma obrigação com a categoria, com os demais profissionais, com o constituinte e com a comunidade. Por tal razão, não é outorgada a confusão entre a advocacia e as atividades outras. A Lei nº. 8.906/1994 estabelece como compromisso ético do advogado o dever de proceder de forma que o torne merecedor de respeito e que contribua para o prestígio da classe e da advocacia, devendo manter independência em qualquer circunstância no exercício da profissão. O advogado não deve ter receio de desagradar o magistrado ou qualquer autoridade, nem em se tornar impopular durante o exercício da advocacia, sendo responsável pelos atos que praticar com dolo ou culpa no exercício profissional. E, em caso de lide temerária, será solidariamente responsável com seu cliente, desde que coligado com este para lesar a parte contrária, o que será apurado em ação própria. Estatuto da Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)118 O advogado tem o dever de fidelidade aos trabalhos que defende, então, se a ética pessoal do profissional e a sua ética profissional conflitarem, deve prevalecer a segunda. Contudo, se a consciência do profissional conflitar de forma intolerável com os interesses da causa a ser patrocinada, ao ponto de se comprometer a ética do advogado, então o profissional não deve aceitar o trabalho ou renunciá-lo. Porém, o advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria e/ou difamação, punível qualquer manifestação da sua parte, no exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos que cometer. O profissional da advocacia usufrui de absoluta liberdade enquanto no exercício dos deveres profissionais, não havendo hierarquia nem subordinação entre estes, magistrados e membros do Ministério Público, devendo todos se tratarem com consideração e respeito recíprocos, devendo-lhe ser dispensado, no exercício da profissão, tratamento compatível com a dignidade da advocacia e condições adequadas a seu desempenho. O sonho de grande parte dos advogados é ter o seu próprio escritório, mas, inicialmente, ao saírem da universidade, os jovens profissionais aca- bam trabalhando para sociedade de advogados e empresas. Em que pese a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) ser, de modo geral, aplicável a todos os trabalhadores, o Estatuto da OAB, com as alterações realizadas pela Lei nº. 13.247, de 12 de janeiro de 2016, dedicou o Capítulo V à proteção do exercício da advocacia pelo advogado empregado. Desse modo, a relação de emprego, na qualidade de advogado, não retira a isenção técnica nem reduz a independência profissional inerentes à advocacia. O advogado empregado não está obrigado à prestação de serviços profissionais de interesse pessoal dos empregadores fora da relação de emprego. A jornada de trabalho do advogado empregado, no exercício da profissão, não pode exceder a duração diária de 4 horas contínuas e a de 20 horas sema- nais, salvo acordo ou convenção coletiva ou em caso de dedicação exclusiva. Segundo o Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB, considera- -se de dedicação exclusiva o regime de trabalho expressamente previsto em contrato individual. Havendo dedicação exclusiva, serão remuneradas como extraordinárias as horas trabalhadas que excederem a jornada normal de 8 horas diárias. O salário-mínimo profissional do advogado será fixado em sentença normativa, salvo se ajustado em acordo ou convenção coletiva de trabalho. Segundo o Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB, compete ao sindicato de advogados — e, na sua falta, a federação ou confederação de advogados —a representação destes nas convenções coletivas celebradas com 119Estatuto da Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) as entidades sindicais representativas dos empregadores, nos acordos coletivos celebrados com a empresa empregadora e nos dissídios coletivos perante a Justiça do Trabalho, aplicáveis às relações de trabalho. Nas causas em que for parte o empregador ou pessoa por este representada, os honorários de sucumbência são devidos aos advogados empregados. Os honorários de sucumbência, percebidos por advogado empregado de sociedade de advogados, são partilhados entre ele e a empregadora, na forma estabelecida em acordo. É importante mencionarmos que, mesmo havendo essa regulamentação, ocorrem inúmeras contratações informais, que acabam violando os direitos garantidos aos advogados empregados. É o caso de empregadores que contratam o profissional como advogado associado, pagando a este valores insignificantes, livrando-se dos custos trabalhistas e fiscais desses empregados. A sociedade de advogados pode ser o meio para alcançar outros propósitos que o profissional sozinho não alcançaria, em que ocorreram dificuldade e facilidade, quando haverá ônus e bônus. Em um aspecto geral, a sociedade vence na oferta e na força de trabalho e, consequentemente, na rentabilidade. A soma de esforços entre os sócios que podem atuar em diferentes ramos do Direito permite um crescimento mais rápido dentro do mercado advocatício, o que pode encurtar o tempo de retorno financeiro aos profissionais. O Estatuto da Advocacia e a OAB estabelece que os advogados podem reunir-se em sociedade simples de prestação de serviços de advocacia ou constituir sociedade unipessoal de advocacia, na forma disciplinada nesta lei e no Regulamento Geral. A sociedade unipessoal é composta por apenas um advogado, que não possua impedimentos para o exercício da profissão, permitindo, assim, que o profissional possa optar pelo Simples Nacional. Assim, como não são permitidas às outras sociedades de advogados as características de uma sociedade empresarial, também não é permitida à sociedade unipessoal a adoção de nomenclatura fantasia, nem que realize atividades estranhas à advocacia. Desse modo, a nomenclatura da sociedade unipessoal é obrigatoriamente composta pelo nome do advogado, seguido de “Sociedade Individual de Advocacia”. Estatuto da Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)120 A sociedade de advogados e a sociedade unipessoal de advocacia adquirem personalidade jurídica com o registro aprovado dos seus atos constitutivos no Conselho Seccional da OAB, em cuja base territorial tiver sede. Além disso, aplica-se a ambas o Código de Ética e Disciplina,no que couber. Nenhum advogado pode integrar mais de uma sociedade de advogados, constituir mais de uma sociedade unipessoal de advocacia ou integrar, si- multaneamente, uma sociedade de advogados e uma sociedade unipessoal de advocacia, com sede ou filial na mesma área territorial do respectivo Conselho Seccional. Além da sociedade, o sócio e o titular da sociedade individual de advocacia respondem subsidiária e ilimitadamente pelos danos causados aos clientes por ação ou omissão no exercício da advocacia, sem prejuízo da responsabilidade disciplinar em que possam incorrer. A regulamentação dos direitos do advogado empregado e das sociedades de advoga- dos está contida nos arts. 18 a 21 e 15 a 17, respectivamente, do Estatuto da Advocacia e a OAB, bem como nos arts. 11 a 14 e 37 a 43, respectivamente, do Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB. Inscrição como advogado e casos de incompatibilidade e impedimento A Constituição Federal de 1988, art. 5º, XIII, estabelece que “[...] é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profi ssão, atendidas as qualifi cações profi ssionais que a lei estabelece” (BRASIL, 1988, documento on-line). Assim, o constituinte originário limitou as restrições à liberdade de ofício às exigên- cias de qualifi cação profi ssional. Isso porque o trabalho, além da proporção subjetiva, da mesma forma, denota valor que ultrapassa os interesses do próprio indivíduo. Em determinados casos, o trabalho desempenhado pelo profi ssional resulta em uma admissão de riscos, os quais podem ser individuais ou coletivos. Por isso, quando o risco da atividade é suportado pela coletividade, limita-se o acesso à profissão e o seu respectivo exercício, em razão do interesse da coleti- vidade. Por causa disso, a norma constitucional referida ressalva as qualificações legais exigidas em lei. Ela é a salvaguarda de que as profissões que representam 121Estatuto da Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) riscos à coletividade serão limitadas e exercidas somente por aqueles indivíduos conhecedores da técnica essencial a trabalho, no presente caso, da advocacia. Assim, a Lei nº. 8.906/1994 estabelece que o órgão de classe se encontra obrigado a avaliar o estudante e candidato a advogado em seus conhecimentos acerca da ética, pois há previsão normativa da qual consta essa exigência. Dessa forma, após a colação de grau, em instituição regularmente creden- ciada, o bacharel em Direito que almeja exercer a advocacia se submeterá ao Exame da Ordem. Restam dispensados dessa avaliação os postulantes oriundos da magistratura e do Ministério Público e os bacharéis alcançados pelo art. 7º, da Resolução nº. 02/1994, da Diretoria do Conselho Federal da OAB. Da mesma forma, ficam dispensados da referida avaliação os advogados públicos aprovados em concurso público de provas e títulos realizados com a efetiva participação da OAB até a data da publicação do Provimento nº. 174/2016, do Conselho Federal da OAB. O Exame da Ordem é prestado por bacharel em Direito, ainda que pendente a sua colação de grau, podendo também o ser por estudantes de Direito dos últimos dois semestres ou do último ano do curso. Outrossim, o Exame da Ordem é prestado por portador de diploma estrangeiro que tenha sido revalidado na forma prevista no art. 48, § 2º, da Lei nº. 9.394, de 20 de setembro de 1996. Após a aprovação no Exame da Ordem, o candidato a advogado deve observar os requisitos previstos no Capítulo III do Regulamento Geral da Advocacia e da OAB, bem como o disposto no art. 8º, da Lei nº. 8.906/1994. Segundo o referido artigo, são necessários para a inscrição como advogado junto à OAB: Capacidade civil — absoluta ou plena. Diploma ou certidão de graduação em Direito, obtido em instituição de ensino ofi cialmente autorizada e credenciada — todavia, não é possível a apresentação do diploma de conclusão de curso; conforme se observa no art. 23 do Regulamento Geral da Advocacia e da OAB, é permitida a Estatuto da Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)122 apresentação da certidão de graduação em Direito, acompanhada de cópia autenticada do respectivo histórico escolar. Já o portador de diploma es- trangeiro deve apresentá-lo revalidado na forma do art. 48, § 2º, da Lei nº. 9.394 (BRASIL, 1996). Título de eleitor e quitação do serviço militar, se brasileiro — a exigência quanto à comprovação de quitação de obrigações com o serviço militar é apenas para os homens. O estrangeiro ou brasileiro, quando não graduado em Direito no Brasil, deve fazer prova do título de graduação, obtido em instituição estrangeira, devidamente revalidado, além de atender aos demais requisitos previstos neste artigo. Também é necessário não exercer atividade incompatível com a advocacia, ter idoneidade moral e prestar compromisso perante o conselho. Segundo o Estatuto da Advocacia e a OAB, existem três tipos de inscrição para o advogado, conforme se observa no art. 10 do referido diploma legal (BRASIL, 1994): Inscrição principal do advogado — é a primeira inscrição a ser feita nos quadros da Ordem, frente ao Conselho Seccional em cujo território pretende estabelecer o seu domicílio profi ssional. Considera-se domicílio profi ssional a sede principal da atividade de advocacia, prevalecendo, na dúvida, o domicílio da pessoa física do advogado. Contudo, nada impede que o profi ssional atue de forma eventual em outros Estados do País. Inscrição suplementar do advogado — deve ser solicitada junto ao Con- selhos Seccionais em cujos territórios passar a exercer habitualmente a profi ssão, considerando-se habitualidade a intervenção judicial que exceder cinco causas judiciais por ano. Outra situação característica dessa inscrição é quando um escritório de advocacia abre uma fi lial em outro Estado do País, conforme se observa do § 5º, do art. 15 da Lei nº. 8.906/1994, todos os sócios, inclusive o titular da sociedade unipessoal de advogados, são obrigados à inscrição suplementar, devendo a constituição da fi lial ser averbada junto ao registro da sociedade junto ao Conselho Seccional da região onde funcionará. Inscrição por transferência — nos casos de mudança efetiva do domicílio profi ssional do advogado para outra unidade federativa, este deve solicitar a transferência de sua inscrição para o Conselho Seccional correspondente. 123Estatuto da Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Para a inscrição como estagiário junto à OAB, o estudante deve observar o disposto no Capítulo IV do Regulamento Geral da Advocacia e da OAB, bem como preencher os requisitos previstos no art. 9º, que são (BRASIL, 1994): capacidade civil; título de eleitor e quitação do serviço militar, se brasileiro; não exercer atividade incompatível com a advocacia; idoneidade moral; prestar compromisso perante o conselho; ter sido admitido em estágio profissional de advocacia. A inscrição do estagiário deve ser feita no Conselho Seccional em cujo território se localize seu curso jurídico. Em caso de exercício de atividade incompatível com a advocacia, o estudante pode frequentar o estágio ministrado pela sua respectiva instituição de ensino jurídico, para fins de aprendizagem, sendo proibida sua inscrição junto à OAB. O estágio profissional de advocacia, com duração de 2 anos, realizado nos últimos anos do curso jurídico, pode ser mantido pelas respectivas instituições de ensino superior pelos Conselhos da OAB, ou por setores, órgãos jurídicos e escritórios de advocacia credenciados pela OAB, sendo obrigatório o estudo deste Estatuto e do Código de Ética e Disciplina. O estagiário de Direito, devidamente inscrito na OAB, pode realizar, em conjunto com advogado ou defensor público, a postulação junto a órgão do Poder Judiciário e aos juizados especiais, bem como exercer as atividades de consultoria, assessoria e direção jurídicas. Ele ainda pode: praticar isoladamente, sob a responsabilidade do advogado, a retirada e devoluçãode autos em cartório, assinando a respectiva carga; obter junto aos escrivães e chefes de secretarias certidões de peças ou autos de processos em curso ou findo; assinar petições de juntada de documentos a processos judiciais ou administrativos. Para o exercício de atos extrajudiciais, o estagiário pode comparecer iso- ladamente, quando receber autorização ou substabelecimento do advogado. Os casos de incompatibilidade e impedimento do exercício da advocacia estão previstos nos arts. 27 a 30 da Lei nº. 8.906/1994. A grande distinção entre aquela e esta é que a primeira determina a proibição total do exercício Estatuto da Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)124 da advocacia, mesmo que em causa própria, enquanto a segunda se refere a uma proibição parcial do exercício da advocacia. Incompatibilidade = proibição total de advogar. Impedimento = proibição parcial de advogar. O Estatuto da Advocacia e a OAB estabelece que a advocacia é incompatível com as seguintes atividades: chefe do Poder Executivo e membros da mesa do Poder Legislativo e seus substitutos legais; membros de órgãos do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos tribunais e conselhos de contas, dos juizados especiais, da justiça de paz, de juízes classistas, bem como de todos os que exerçam função de julgamento em órgãos de deliberação coletiva da Administração Pública direta e indireta (ver ADI nº. 1127-8); ocupantes de cargos ou funções de direção em órgãos da Administra- ção Pública direta ou indireta, em suas fundações e em suas empresas controladas ou concessionárias de serviço público — não se incluindo, nesse caso, os que não detenham poder de decisão relevante sobre interesses de terceiro, a juízo do conselho competente da OAB, bem como a administração acadêmica diretamente relacionada ao magis- tério jurídico; ocupantes de cargos ou funções vinculados direta ou indiretamente a qualquer órgão do Poder Judiciário e os que exercem serviços notariais e de registro; ocupantes de cargos ou funções vinculados direta ou indiretamente à atividade policial de qualquer natureza; militares de qualquer natureza, na ativa; ocupantes de cargos ou função que tenha competência de lançamento, arrecadação ou fiscalização de tributos e contribuições parafiscais; ocupantes de funções de direção e gerência em instituições financeiras, inclusive privadas. 125Estatuto da Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) A incompatibilidade permanece mesmo que o ocupante do cargo ou da função deixe de exercê-lo temporariamente. No que tange ao impedimento do exercício da advocacia, dispõe o art. 30 do Estatuto da Advocacia e a OAB os seguintes profissionais (BRASIL, 1994): os servidores da administração direta, indireta e fundacional, contra a Fazenda Pública, que os remunere ou à qual seja vinculada a entidade empregadora, com a exceção dos docentes dos cursos jurídicos; os membros do Poder Legislativo, em seus diferentes níveis, contra ou a favor das pessoas jurídicas de direito público, empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações públicas, entidades para- estatais ou empresas concessionárias ou permissionárias de serviço público. Em outras palavras, podemos dizer que são impedidos de advogar: os servidores da administração direta, indireta e fundacional, desde que não retenham comando de resolução importante sobre interesses de terceiros em contraposição à Fazenda Pública ou entidade empregadora que os pague; vereadores, deputados estaduais, deputados distritais, deputados federais e senadores, desde que não sejam componentes da mesa de suas casas legislativas, em desacordo ou em prol das pessoas jurídicas de direito público; empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações públicas, entidades paraestatais ou empresas concessionárias ou permissionárias prestativas de serviço público. Estatuto da Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)126 Nesse sentido, trazemos a lume uma ementa da decisão do Tribunal de Ética acerca do tema impedimento e incompatibilidade, in verbis: E-4.625/2016 — EMENTA 01 — IMPEDIMENTO E INCOMPATIBILI- DADE — UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA QUANTO À AD- MISSIBILIDADE DE CONSULTA — COMPETÊNCIA DA COMISSÃO DE SELEÇÃO E INSCRIÇÃO QUANTO AOS REQUISITOS LEGAIS — COM- PETÊNCIA DO TRIBUNAL DEONTOLÓGICO QUANTO AOS ASPECTOS ÉTICOS – EXAME EM TESE — ATIVIDADES COMPLEMENTARES — PREVISÃO NA LEGISLAÇÃO INTERNA — ARTIGO 47 DO CÓDIGO DE ÉTICA — BALIZAMENTO ÉTICO E ESTATUTÁRIO. Cada qual dos órgãos da OAB possui sua atividade preponderante, mas são verdadeiros vasos comunicantes, havendo entre eles intensa e viva troca de informações, um complementando o outro. O Tribunal de Ética, nos moldes do ar- tigo 47 do CED, possui também competência residual e delegada. Na espécie, a própria Comissão de Seleção remete ao Sodalício a Consulta sobre impedimentos e incompatibilidade para resposta em tese, pois a atuação daquela depende da efetiva comprovação do exercício da função pública mediante requerimento com apresentação da Portaria de nomeação. Assim, quanto à admissibilidade da consulta, estabelece-se, nos seguintes termos: Uniformização de Jurisprudência nº. 1/2016 “O Tribunal de Ética da OAB/SP é competente para conhecer e orientar sobre questões de impedimentos e incompatibilidades, desde que em tese e que o advogado consulente não tenha submetido a pretensão à Comissão de Seleção e Inscrição. Entretanto descabe conhecer de consultas sobre matéria sub judice, de representação disciplinar, de comportamentos de terceiros, de direito positivo ou ainda, a juízo do Plenário, que alguma circunstância pareça ardilosa. A critério do Plená- rio ou da Presidência, as consultas mais relevantes poderão ser enviadas à Comissão de Seleção e Inscrição para conhecimento e deliberação, se o caso”. Exegese dos artigos 27 a 30 do Estatuto da OAB, artigos 47, 49, 50 do Código de Ética, Regimento Interno da OAB/SP, artigos 2º, 136, § 3º, 63, “a” e “c”, Regimento Interno do TED, artigos 3º e 4º entre outros dispositivos. V.U., em 26/4/2016, do parecer e ementa do Rel. Dr. Fabio Kalil Vilela Leite — Rev. Dra. Cristiana Correa Conde Faldini — Presidente Dr. Pedro Paulo Wendel Gasparini (SÃO PAULO, 2016, documento on-line). 127Estatuto da Advocacia e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) BITTAR, E. C. B. Curso de ética: ética geral e profissional. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. BRASIL. ADI 3026. Relator: Ministro: Eros Grau. Tribunal Pleno. DJ, 29 set. 2006. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 3 maio 2018. BRASIL. Decreto nº. 20.784 de 14 de dezembro de 1931. Aprova o Regulamento da Ordem dos Advogados Brasileiros. 1931. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto/1930-1949/d20784.htm>. Acesso em: 3 maio 2018. BRASIL. Lei nº. 8.906, de 4 de julho de 1994. Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). 1994. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm>. Acesso em: 3 maio 2018. BRASIL. Lei nº. 9.394, de 20 de setembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/ leis/L9394.htm>. Acesso em: 3 maio 2018. CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. História da Ordem dos Advogados do Brasil. [200-?]. Disponível em: <http://www.oab.org.br/historiaoab/ index_menu.htm>. Acesso em: 3 maio 2018. SÃO PAULO. 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