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OAB Ética Profissional Sumário 1. Ética Profissional ............................................................................................................ 6 2. Da Advocacia Pública e da Defensoria Pública .......................................................... 10 3. Da Atividade da Advocacia – Do Estatuto da Advocacia (Lei nº 8.906/94)............... 17 4. Da Ética do Advogado .................................................................................................. 23 5. Da inscrição do advogado na OAB .............................................................................. 29 6. Da Ordem dos Advogados do Brasil: Fins, Organização e Receita ......................... 35 7. Da Publicidade............................................................................................................... 41 8. Da Sociedade de Advogados ....................................................................................... 46 9. Das Eleições e dos Mandatos ...................................................................................... 52 10. Das Incompatibilidades e dos Impedimentos ............................................................. 59 11. Das Infrações e das Sanções Disciplinares ................................................................ 65 12. Das Regras Deontológicas Fundamentais ou dos Princípios Fundamentais .......... 74 13. Das Relações com o Cliente e do Dever de Urbanidade ........................................... 80 14. Do Advogado Empregado ............................................................................................. 87 15. Do Conselho Federal da OAB ....................................................................................... 91 16. Do Conselho Seccional da OAB ................................................................................. 104 17. Do Desagravo Público ................................................................................................. 116 18. Do Estágio Profissional ............................................................................................... 121 19. Do Processo na OAB: Processo Disciplinar e Recursos ......................................... 126 20. Sigilo Profissional ........................................................................................................ 139 21. Dos Direitos e das Prerrogativas do Advogado ........................................................ 145 22. Dos Honorários Advocatícios ..................................................................................... 159 23. Do Tribunal de Ética .................................................................................................... 172 Apresentação Olá, caro (a) estudante! O período de dedicação e preparação para uma prova de concurso público é uma jornada árdua e trabalhosa. Pensando nisso, elaboramos esta Apostila com toda dedicação e atenção que você merece. O seu conteúdo foi criado com todo o rigor necessário para sua utilização como material de apoio ao estudo para todas as pessoas que almejam prestar concursos e/ou realizar o exame da ordem. Os conteúdos citam fontes confiáveis, atualizadas e completas sobre os mais variados temas em Direito e foram elaborados por profissionais com experiência em ensino e prática jurídica. O material está organizado hierarquicamente (em modo decrescente de hierarquia: Temas, Tópicos e Subtópicos). Essa estrutura permite a exploração organizada dos conteúdos da disciplina e agrupam os objetos do conhecimento que se relacionam, conferindo uma leitura mais fluida e orgânica. Mapas mentais, que são um método de memorização e organização do conhecimento adquirido, foram desenvolvidos ao final de cada Tema com o objetivo de facilitar o aprendizado dos conteúdos estudados. O estudo da ética profissional tem por objetivo a formação plena do profissional do Direito, capacitando este a reconhecer qual a melhor conduta a ser tomada em cada situação de sua vida profissional, considerando as regras e os princípios envolvidos. Assim, o comportamento ético visa minimizar dúvidas sobre a forma correta de agir e resolver eventuais conflitos. A observância das regras pertinentes à ética profissional não somente demonstra zelo pela prática do Direito na prestação de serviços, como também denota a preocupação com a atividade e os efeitos que esta gera na sociedade. “Pode-se concluir que o fundamento ético do Direito advém da responsabilidade social sobre o outro, decorrente da própria conduta humana. ” (BITTAR, 2019). Sendo assim, iniciaremos o estudo conceituando a ética, mencionando algumas de suas principais teorias. Esse panorama geral é importante em um momento inicial, pois a ética profissional é apenas um dos ramos em que essa complexa ciência do conhecimento é aplicada. Depois passaremos a estudar a ética aplicada à conduta daqueles que lidam com o Direito. Por isso, analisaremos todas as particularidades do Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil. O primeiro passo para isso é diferenciar os diversos tipos de carreiras que exercem a advocacia e particularizar, sob uma perspectiva ética, o seu agir. Assim, abordaremos a advocacia, tanto a pública quanto a privada, e a Defensoria Pública. O estudo pode ser dividido em três grandes eixos, os quais foram abordados de forma intercalada, para não ficar cansativo. São eles: os procedimentos profissionais que o advogado deve observar na sua atuação, além disso as implicações éticas que esta atuação pode gerar e, ainda, a Ordem dos Advogados do Brasil, instituição responsável pela organização e coordenação da carreira. Em relação aos procedimentos, vamos tratar do estagiário do Direito, da inscrição dos advogados na OAB, da relação do advogado que é empregado e de quando estes profissionais se juntam em sociedade. Ainda, abordaremos as regras que regulam a percepção dos honorários. Sobre as implicações éticas da conduta profissional, abordaremos as regras deontológicas fundamentais da profissão, que podem ser entendidas como os direitos fundamentais que lhe são atinentes. Nessa mesma linha, trataremos dos direitos e das prerrogativas do advogado, com ênfase no desagravo e no sigilo profissional. Outro ponto a ser abordado é a relação com o cliente e o dever de urbanidade e, consequentemente, a normativa sobre a publicidade dos atos. As incompatibilidades e impedimentos da atuação do advogado também serão vistas. De igual importância neste material é o conhecimento a respeito da OAB, dessa forma estudaremos a sua estrutura, organização e competências. Por consequência, o Conselho Federal e os Conselhos Seccionais serão destrinchados, assim como as eleições e os mandatos dos integrantes desses órgãos. O desrespeito pelo advogado da conduta que lhe é preceituada, gera um processo, que é levado a cabo pela OAB e, mais especificamente, pelo Tribunal de Ética. Da mesma forma, todas as particularidades desse procedimento e os seus agentes serão vistos. Esperamos que, ao final do estudo, o aluno consiga situar de forma geral o que é a ética e como ela se aplica ao âmbito do Direito e da atuação do advogado. Ademais, que todos os procedimentos, direitos e deveres da categoria estejam definidos de forma detalhada, assim como as consequências pela sua não observância. Em relação à OAB, é importante que as suas competências e estrutura interna estejam delimitadas. Desejamos bons estudos e uma excelente prova! Atenciosamente, Equipe pedagógica LFG 6 1. Ética Profissional A ética profissional é o estudo das regras e dos princípios que norteiam e disciplinam o exercício das profissões, em suas mais diversas áreas de atuação. A ética jurídica se aplica aos profissionais do Direito. Assim, questiona-se: Quais são os direitos e as obrigações dos envolvidosna relação travada entre o profissional do Direito e o seu cliente? Até onde vai a responsabilidade por determinada prática e quais as consequências previstas pela legislação? Normalmente, as respostas para essas perguntas são encontradas nas normas, aqui entendidas no sentido mais amplo da palavra. A norma posta ou lei ou regra posta (positiva) já nasce da compreensão que temos da necessidade de ordem ou de organização, percebe- se que esses conceitos são indeterminados. Assim a noção do que seja ordem e organização é extraída da moral e da ética. Muitas vezes, antes de uma conduta ser inserida dentro do ordenamento legal, ela já é entendida como obrigatória. Isso ocorre em função dos padrões morais que aquela conduta envolve. Observa-se, então, que a moral e a ética são a base para que muitas leis passem a existir. Vamos começar compreendendo melhor a moral, a ética e a lei. Conceitos importantes para que você consiga identificar as diferenças e semelhanças entre elas. A moral e a ética muitas vezes são tratadas como sinônimos. Contudo, para parcela da doutrina, esses conceitos se diferenciam. Nesse sentido, explica Bittar (2019): “O saber que se intitula ética tem por objeto de estudo a ação moral e suas tramas. ” Em outro sentido “O termo moral tem usualmente uma significação mais ampla que o vocábulo _ética” (FERRATER, 1978, p. 191). Grande parte da confusão que é feita entre os conceitos de moral e de ética provém da origem etimológica de ambas palavras origem etimológica. A moral, como a entendemos hoje, sofre influência direta do termo latino moralis, que significa comportamento próprio, maneira. Contudo a raiz desse vocábulovem do termo grego êthica, que possui duas denotações. Em um primeiro momento, retrata a motivação interna para alguma conduta. Já em segundo, porém, também pode significar a aceitação social que alguns valores sociais recebem. Percebe-se, então, que a tradução romana para moral apenas abarcou o segundo significado de êthica, retratando sua faceta social. 7 Apesar da natureza dúplice da etimologia apresentada para ética, hoje, ela é entendida como uma regra autoimposta , ou seja, eu escolho cumpri-la. Portanto, trata-se de um conceito subjetivo, independentemente de ser uma regra posta (de ser uma lei que deve ser observada por todos), conforme Kant; ou uma norma subjetiva, que dependa da minha individualidade, conforme Hegel. (ABBAGNANO, 2007, p. 391 e p. 693). A ampliação dessa norma interna, subjetiva de cada indivíduo, quando compartilhada como ideia ou ideal de um todo (grupo) é chamada moral. Ocorre que, nesse processo, ela perde o caráter de motivação pessoal, e a pessoa cumpre aquilo que lhe é imposto. Em um primeiro momento, a ética pode ser compreendida como o conjunto de comportamentos seguidos pela sociedade, concebendo os meios e os fins que elas buscam nesse comportamento, que visa à boa convivência dentro de um grupo (ABBAGNANO, 2007, p. 391). Em outra abordagem, a ética corresponde ao “exercício social de reciprocidade, respeito e responsabilidade. A ética, enquanto exercício de humanidade, nos confirma em nossa condição de seres que vivenciam, aprendem e trocam valores” (BITTAR, 2019, p.02). A palavra latina mores significa costumes. Estes podem ser entendidos como as “regras institucionalizadas por determinado grupo social” (ABBAGNANO, 2007, p. 229). Sendo assim, a moral compreende o conjunto de regras e comportamentos, relacionando-se a cultura dominante e efêmera; ao passo que a ética denota permanência. A depender dos motivos que levam a uma conduta ética, o estudo geral desta é dividido em, pelo menos, três grandes teorias ou correntes, a saber: ética das virtudes, ética utilitarista e ética deontológica ou normativa. A principal diferença entre elas é a intenção do indivíduo ou o benefício que determinada ação ou conduta moral tem na sociedade. Na ética das virtudes, cujo principal autor é Aristóteles, uma ação é ética se provém de um indivíduo que conheceu e exercitou práticas consideradas como excelentes, e essa excelência é produzida pela busca constante e alcance da mediania (meio termo). Assim, o meio-termo está na relação entre falta e excesso, sendo o exemplo mais comum a coragem, que é o meio termo entre a covardia (falta) e a temeridade (excesso). (ARISTÓTELES, 1992, p. 238). Na ética utilitarista, cujo principal autor é Jeremy Bentham, uma conduta é ética se considera a quantidade de pessoas envolvidas e a qualidade de benefícios envolvidos. A ética utilitarista 8 tende a considerar como boa uma ação que envolva a chegada de um bem maior para o maior número de pessoas (BENTHAM, 1979). Na ética deontológica ou normativa, cujo principal autor é Immanuel Kant, uma atitude é considerada ética se a intenção do indivíduo é boa e tendente à universalização. Em sua teoria ética, Kant propõe que a norma moral é orientada pela razão e que, se ela é boa, pode ser universalizada -usada por qualquer um-(KANT,1964). Em suma, esses autores visam determinar quando uma conduta pode ser considerada ética. Dessa forma, uma ação é ética quando praticada com a observância de uma norma conferida pela razão, quando o meio-termo é alcançado ou quando se opta por aquelas ações que têm o potencial de trazer o maior benefício para o maior número de pessoas. Seja qual for o critério utilizado para considerar uma conduta ética, uma vez que esta é assim reconhecida, ela passa a ser substrato potencial para o surgimento de uma norma expressa e, como meio de coerção, estipula-se uma sanção para a hipótese do seu descumprimento. Em outras palavras, as teorias éticas fundamentam o nascimento da norma posta, ou seja, de uma lei, quando ampliam regras individuais de conduta para o coletivo. Ressalta-se que não necessariamente uma conduta moralmente aceita será normatizada, porém ela possui potencial para tanto. Ao passo que, as sanções estão previstas para as vezes em que a norma não for observada pelos indivíduos, e esta é a razão pela qual as leis se impõem. Nesse ponto, já entendemos um pouco melhor o que é a ética, sua diferença da moral e sua relação com as leis. Vamos agora estudar a ética profissional aplicada aos profissionais do Direito, fique atento! 1.1. Do Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil- Anexo único da Resolução nº 02/2015 do CFOAB Em 2015, por meio da Resolução nº 02 do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, foi instituído um novo Código de Ética e Disciplina, que substituiu o anterior, vigente desde o ano de 1995. Dentre as principais alterações, cita-se a previsão da advocacia prestada de forma gratuita – voltada aos economicamente vulneráveis-, a flexibilização das normas relativas à publicidade, a previsão de honorários para o trabalho do advogado nos 9 métodos adequados de resolução de conflitos - como a mediação e a arbitragem – e a inclusão de um capítulo destinado à regulamentação da advocacia pública. Dessas alterações, observa-se uma preocupação da instituição em adequar o preceituado às inovações legislativas recentes, como o Código de Processo Civil de 2016, “buscando atualizar os deveres de conduta da classe e modernizar os imperativos ético-profissionais de acordo com as exigências da atual quadra histórica. ” (Coelho, 2017). O Conselho Superior da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB) justificou o novo texto dessa forma: “O CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, ao instituir o Código de Ética e Disciplina, norteou-se por princípios que formam a consciência profissional do advogado e representam imperativos de sua conduta, os quais se traduzem nos seguintes mandamentos: lutar sem receio pelo primado da Justiça; pugnar pelo cumprimento da Constituição e pelo respeito à Lei, fazendo com que o ordenamento jurídico seja interpretado com retidão, em perfeita sintoniacom os fins sociais a que se dirige e as exigências do bem comum; ser fiel à verdade para poder servir à Justiça como um de seus elementos essenciais; proceder com lealdade e boa-fé em suas relações profissionais e em todos os atos do seu ofício; empenhar-se na defesa das causas confiadas ao seu patrocínio, dando ao constituinte o amparo do Direito, e proporcionando-lhe a realização prática de seus legítimos interesses; comportar-se, nesse mister, com independência e altivez, defendendo com o mesmo denodo humildes e poderosos; exercer a advocacia com o indispensável senso profissional, mas também com desprendimento, jamais permitindo que o anseio de ganho material sobreleve a finalidade social do seu trabalho; aprimorar-se no culto dos princípios éticos e no domínio da ciência jurídica, de modo a tornar-se merecedor da confiança do cliente e da sociedade como um todo, pelos atributos intelectuais e pela probidade pessoal; agir, em suma, com a dignidade e a correção dos profissionais que honram e engrandecem a sua classe.” Das razões apresentadas, percebe-se a importância da retidão na conduta do profissional, salientando-se a boa-fé, a busca por justiça e a obediência ao ordenamento legal. Assim, conclui-se que a ética deve pautar essas relações. O código possui regras que são fundamentais ao bom exercício profissional. Se cumpridas, elas têm o condão de minimizar, ou até mesmo elidir, situações que coloquem as partes envolvidas (profissional e cliente/assistido) em embate. A partir do que foi estudado no tópico anterior, pode-se fazer um claro paralelo entre as razões que ensejaram a confecção do novo código e as principais teorias que tratam da ética. Assim, o principal escopo da normativa é reger a conduta dos profissionais visando a 10 prevenção de ações atentatórias, com potencial de causar conflitos. Contudo, existem normas que regulam a imposição de sanções próprias no caso de descumprimento de algum de seus preceitos. A relevância da conduta proba daquele que atua na seara jurídica reside justamente na importância que esse profissional possui na sociedade. Conforme bem explicita a Constituição Federal, no seu art. 133, que possui a seguinte redação: “o advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.”. Ressalta-se que a lei a qual alude o final do dispositivo em questão é o código ora analisado. A partir de agora, conseguimos identificar, em linhas gerais, os princípios norteadores daquele que lida com as leis. Ademais, ficou claro o relevo dessa atividade dentro do contexto social em que estamos inseridos. Assim, vamos tratar, de forma mais detalhada, de algumas categorias profissionais que, em verdade, são especificações da advocacia. 2. Da Advocacia Pública e da Defensoria Pública Além de dar tratamento à advocacia, de forma generalista, a Constituição Federal regula o exercício da Advocacia Pública, a qual é composta por profissionais que fazem a defesa jurídica da União. Outra categoria que exerce funções correlatas à advocacia é a Defensoria Pública, a qual é composta por servidores públicos que atuam no interesse dos vulneráveis, judicial e extrajudicialmente. Em relação à Advocacia-Geral da União, os artigos 131 e 132 da Constituição Federal regulam a profissão: Art. 131. A Advocacia-Geral da União é a instituição que, diretamente ou através de órgão vinculado, representa a União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei complementar que dispuser sobre sua organização e funcionamento, as atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo. § 1º - A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-Geral da União, de livre nomeação pelo Presidente da República dentre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada. § 2º - O ingresso nas classes iniciais das carreiras da instituição de que trata este artigo far-se-á mediante concurso público de provas e títulos. 11 § 3º - Na execução da dívida ativa de natureza tributária, a representação da União cabe à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, observado o disposto em lei. Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o ingresso dependerá de concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercerão a representação judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas. Parágrafo único. Aos procuradores referidos neste artigo é assegurada estabilidade após três anos de efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho perante os órgãos próprios, após relatório circunstanciado das corregedorias. Desses dispositivos, pode-se extrair que a Advocacia-Geral da União é composta por advogados concursados que atuarão juridicamente em nome do Poder Executivo. Ela é presidida pelo Advogado-Geral da União, cuja nomeação é feita de forma livre pelo Presidente da República. Dentre as atividades, o Procurador da União deve representar os interesses da União, judicial e extrajudicialmente (ou seja, dentro e fora do processo). Além da representação, ele também presta serviços de consultoria sobre assuntos jurídicos. Na Constituição Federal, o Código de Ética passou a reger a atuação dos advogados públicos, determinando que a sua conduta, seja com os seus colegas de trabalho, seja com as autoridades ou o público em geral, deve sempre se guiar pelo respeito e pela consideração com os outros, conforme se extra dos seguintes artigos: Art. 8º As disposições deste Código obrigam igualmente os órgãos de advocacia pública, e advogados públicos, incluindo aqueles que ocupem posição de chefia e direção jurídica. § 1º O advogado público exercerá suas funções com independência técnica, contribuindo para a solução ou redução de litigiosidade, sempre que possível. § 2º O advogado público, inclusive o que exerce cargo de chefia ou direção jurídica, observará nas relações com os colegas, autoridades, servidores e o público em geral, o dever de urbanidade, tratando a todos com respeito e consideração, ao mesmo tempo em que preservará suas prerrogativas e o direito de receber igual tratamento das pessoas com as quais se relacione. 12 Assim, o advogado público tem independência técnica para atuar da forma que entenda adequada. Atualmente, a necessidade de inscrição dos Procuradores na OAB está sendo discutida no Supremo Tribunal Federal (ADI 5334, STF). A Defensoria Pública, por sua vez, tem a sua atuação regulada pelos artigos 134 e 135 da Constituição Federal: Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal. § 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais. § 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99, § 2º. § 3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias Públicas da União e do Distrito Federal. § 4º São princípios institucionais daDefensoria Pública a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional, aplicando-se também, no que couber, o disposto no art. 93 e no inciso II do art. 96 desta Constituição Federal. Art. 135. Os servidores integrantes das carreiras disciplinadas nas Seções II e III deste Capítulo serão remunerados na forma do art. 39, § 4º. Depreende-se desses artigos que a Defensoria Pública é instituição parte do regime jurisdicional do Estado, atuando na concretização da defesa dos necessitados, a partir da orientação jurídica, da defesa dos Direitos Humanos e dos direitos individuais e coletivos desses sujeitos. Sua atuação também pode ser extrajudicial ou judicial. Assim, os Defensores Públicos são servidores públicos vinculados à União ou aos Estados, sendo por esses órgãos remunerados para atuação em prol daqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade. 13 A aproximação das funções do defensor e do advogado são bastante perceptíveis, visto que ambos atuam na defesa judicial das pessoas sem capacidade postulatória. Contudo, a jurisprudência atualmente tem julgados que afastam as categorias. Com efeito, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), em 2016, entendeu que o Defensor Público não é obrigado a obedecer a regulamentação ética destinada à advocacia (Recurso em Habeas Corpus, nº 61.848-PA). Neste sentido, em 2018, o mesmo Tribunal entendeu que o defensor público não precisa ter registro na OAB para o exercício das suas funções (Recurso Especial nº 1.710.155 – CE). Agora, conseguimos compreender as particularidades das funções e, dessa forma, observar as distinções entre os papeis exercidos por estes profissionais. Além disso, fica clara a principal similaridade entre o Defensor Público e o Procurador, qual seja, a sua atuação estar relacionada a uma função pública. Vamos passar a falar, então, do profissional que atua na advocacia fora do âmbito estatal, ou seja, privada. PARA FIXAR – ADVOCACIA PÚBLICA: 1. A função dos Advogados da União é defendê-la juridicamente, no âmbito judicial, extrajudicial. Essa defesa é feita a partir da consultoria e assessoramento; 2. O Advogado-Geral da União é o chefe da instituição. Ele é nomeado pelo Presidente da República; 3. Há exceção quanto à representação em ações de natureza tributária que envolvam a União, pois nestes casos a representação incumbe à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional; 4. Os Procuradores da União se organizam em carreira, e são investidos por meio de concurso público, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil; 5. Os Procuradores da União são estáveis após 03 anos de efetivo exercício, se aprovados na avaliação de desempenho. PARA FIXAR – DEFENSORIA PÚBLICA: 1. Aos Defensores Públicos incumbe a orientação jurídica e a representação processual e extraprocessual dos vulneráveis, de forma gratuita; 14 2. Podem tutelar os direitos de forma individual ou coletiva, pois visam resguardar os Direitos Humanos em última análise; 3. As defensorias possuem indivisibilidade e independência funcional. Isso quer dizer que compõem uma instituição independente, ou seja, que não se submete aos desígnios de outras instituições durante a sua atuação; 4. Ela é vinculada às normas da Lei Complementar específica da carreira; 5. Os Defensores Públicos são remunerados conforme previsão de receita orçamentária, que é formulada pela instituição, apresentada ao Poder Executivo e apreciada pelo Legislativo (art. 39 da Constituição Federal); 6. A Defensoria Pública é instituição permanente e essencial a uma plena jurisdição do Estado. Mapa Mental Constituição Federal Advocacia Pública Servidores Públicos Representam a União Defensoria Pública Unidade, autonomia e independência Representam os vulneráveis Servidores Públicos 15 Referências Bibliográficas ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Tradução de Alfredo Bosi, revisado por Ivone Benedetti - 5ª ed.-. São Paulo: Martins Fontes, 2007. 1026 p. ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. Trad. De Mário da Gama Kury. 2ª ed. Brasília, Editora Universidade de Brasília: 1992. 238 p. BITTAR, Eduardo C. B. Curso de ética jurídica. 15. ed. São Paulo, Saraiva: 2019. BENTHAM, J. Princípios da moral e da legislação. In: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultura, 1979. BRASIL. Constituição Federal, 2019 Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Estatuto da Advocacia, 2019. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 5334. Disponível em <http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4794666>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso em Habeas Corpus, n º 61.848 – PA. 2016. Disponível em <https://www.conjur.com.br/dl/defensor-publico-nao-obrigado-seguir.pdf>. Acesso em novembro de 2019 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.710.155 – CE. 2018. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/acordao-stj-defensores-publicos-nao.pdf>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3.026/DF. 2006. Disponível em <https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/760367/acao-direta-de- inconstitucionalidade-adi-3026-df>. Acesso em novembro de 2019. CASTILHO, Ricardo. Filosofia geral e jurídica. 6. Ed. São Paulo, Saraiva: 2019. COELHO, M. V. F. Comentários ao Novo Código de Ética dos Advogados. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. CONSELHO FEDERAL DA OAB. Ordem dos Advogados do Brasil. Disponível em <https://www.oab.org.br/historiaoab/antecedentes.htm#iab>. Acesso em novembro de 2019. CONSELHO FEDERAL DA OAB. Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, 2019. Disponível em <https://www.oab.org.br/arquivos/resolucao-n-022015- ced-2030601765.pdf>. Acesso em novembro de 2019 16 CONSELHO FEDERAL DA OAB. Regulamento Geral. Disponível em <https://www.oab.org.br/content/pdf/legislacaooab/regulamentogeral.pdf>. Acesso em novembro de 2019. FERRATER MORA, José. Dicionário de Filosofia. Trad. António José Massano e Manuel Palmeirin. Lisboa: Dom Quixote, 1978. KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução: Antônio Pinto de Carvalho. Lisboa: Companhia Editora Nacional, 1964. 17 3. Da Atividade da Advocacia – Do Estatuto da Advocacia (Lei nº 8.906/94) O advogado é figura de extrema importância para assegurar a efetividade dos direitos constitucionais ao contraditório e à ampla defesa, sendo indispensável à administração da justiça. O exercício da advocacia, seja ela pública, como visto anteriormente, seja ela privada, é regido pelo Estatuto da Advocacia, Lei nº 8.906/94. Nos seus artigos 1º a 5º estão previstas as regras gerais para o exercício da atividade da advocacia: Art. 1º São atividades privativas de advocacia: I - a postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos juizados especiais; II - as atividades de consultoria, assessoria e direção jurídicas. § 1º Não se inclui na atividade privativa de advocacia a impetração de habeas corpus em qualquer instância ou tribunal. § 2º Os atos e contratos constitutivos de pessoas jurídicas, sob pena de nulidade, só podem ser admitidos a registro, nos órgãos competentes, quando visados por advogados. § 3º É vedada a divulgação de advocacia em conjunto com outra atividade. Art. 2º O advogado é indispensável à administração da justiça. § 1º No seu ministério privado, o advogado presta serviço público e exerce função social. § 2º No processo judicial, o advogado contribui, na postulação de decisão favorável ao seu constituinte, ao convencimento do julgador, e seus atos constituem múnus público. § 3º No exercício da profissão, o advogado é inviolável por seusatos e manifestações, nos limites desta lei. Art. 3º O exercício da atividade de advocacia no território brasileiro e a denominação de advogado são privativos dos inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), § 1º Exercem atividade de advocacia, sujeitando-se ao regime desta lei, além do regime próprio a que se subordinem, os integrantes da Advocacia-Geral da 18 União, da Procuradoria da Fazenda Nacional, da Defensoria Pública e das Procuradorias e Consultorias Jurídicas dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas entidades de administração indireta e fundacional. § 2º O estagiário de advocacia, regularmente inscrito, pode praticar os atos previstos no art. 1º, na forma do regimento geral, em conjunto com advogado e sob responsabilidade deste. Art. 4º São nulos os atos privativos de advogado praticados por pessoa não inscrita na OAB, sem prejuízo das sanções civis, penais e administrativas. Parágrafo único. São também nulos os atos praticados por advogado impedido - no âmbito do impedimento - suspenso, licenciado ou que passar a exercer atividade incompatível com a advocacia. Art. 5º O advogado postula, em juízo ou fora dele, fazendo prova do mandato. § 1º O advogado, afirmando urgência, pode atuar sem procuração, obrigando- se a apresentá-la no prazo de quinze dias, prorrogável por igual período. § 2º A procuração para o foro em geral habilita o advogado a praticar todos os atos judiciais, em qualquer juízo ou instância, salvo os que exijam poderes especiais. § 3º O advogado que renunciar ao mandato continuará, durante os dez dias seguintes à notificação da renúncia, a representar o mandante, salvo se for substituído antes do término desse prazo. Pelo que se denota dos dispositivos acima elencados, a ideia do legislador é, primeiramente, definir as atividades de competência exclusiva destes profissionais. Assim, ao advogado cabe a postulação ao Judiciário e aos Juizados Especiais, além da consultoria, do assessoramento e da direção em assuntos jurídicos, visando a melhor resolução da questão que lhe é conferida. A postulação e o assessoramento jurídico são, portanto, atividades privativas dos advogados, excetuando-se apenas o habeas corpus, que pode ser proposto pelo próprio indivíduo que teve o direito de liberdade tolhido. A habilitação profissional é conferida aos inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil, tanto os advogados quanto os estagiários da área jurídica. Nesse sentido, os atos praticados por pessoa não habilitada ao exercício profissional da advocacia são nulos de pleno direito. 19 O mandato é espécie de contrato, no qual o cliente outorga ao seu procurador os poderes para a sua representação. A procuração, por sua vez, é o instrumento pelo qual o mandato ocorre, assim, a procuração é indispensável para o exercício da defesa jurídica pelo advogado. Esta regra é excepcionada pelo Estatuto em questão, nos casos de medidas urgentes, porém a procuração deverá ser apresentada no prazo de 15 (quinze) dias, prorrogáveis por igual período, sob pena de não análise do seu pedido, cancelamento ou revogação de eventual pedido concedido. A procuração confere poderes gerais de postulação. Existem matérias, porém, as quais a lei exige poderes especiais para a prática, ou seja, para que o advogado possa realizar tais atos em nome do seu cliente, é necessária a sua especificação no instrumento de procuração. Dentre os atos que exigem poderes especiais, cita-se o levantamento de alvarás, que é o recebimento de valores em nome do cliente. A renúncia de um mandato ocorre quando o advogado, por quaisquer motivos, não desejar prosseguir como procurador de um cliente. Ela deve ser feita por meio de notificação no processo e comunicação ao cliente. Após esses avisos, o advogado ainda fica vinculado ao processo por 10 (dez) dias, salvo se outro procurador o substituir antes de decorrido o prazo. É vedada a prática da advocacia concomitantemente ao exercício de outra atividade. Esse dispositivo pretende preservar a dignidade da advocacia e manter o foco das atividades jurídicas no assistido, uma vez que as demandas de cunho jurídico, por si só, requerem cuidados específicos e atenção do profissional ao conduzir a causa. O advogado é inviolável por seus atos e manifestações, ou seja, possui liberdade de atuação e manifestação. Entretanto, esse direito pode ser limitado por lei, que, entretanto, deverá fazê-lo de forma expressa. Por possuir função social, a atividade do advogado é essencial à justiça. Isso se justifica pois ele é apto a fazer a intermediação entre o juiz e a parte postulante. Ademais, ele é capacitado para agir nas instâncias administrativas, garantindo a efetividade dos direitos dos seus clientes. 20 Mapa Mental Atividade da Advocacia Postula em qualquer órgão Somente inscritos na OAB exercem as atividades (advogados e estagiários) Atua sem procuração, desde que a junte em 15 dias, prorrogáveis Consultoria, assessoria e direção jurídicas Função Social Atividade jurídica é privativa de advogado não pode ser feita por mais ninguém Habeas Corpus é exceção, ato não privativo do advogado 21 Referências Bibliográficas ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Tradução de Alfredo Bosi, revisado por Ivone Benedetti - 5ª ed.-. São Paulo: Martins Fontes, 2007. 1026 p. ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. Trad. De Mário da Gama Kury. 2ª ed. Brasília, Editora Universidade de Brasília: 1992. 238 p. BITTAR, Eduardo C. B. Curso de ética jurídica. 15. ed. São Paulo, Saraiva: 2019. BENTHAM, J. Princípios da moral e da legislação. In: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultura, 1979. BRASIL. Constituição Federal, 2019 Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Estatuto da Advocacia, 2019. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 5334. Disponível em <http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4794666>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso em Habeas Corpus, n º 61.848 – PA. 2016. Disponível em <https://www.conjur.com.br/dl/defensor-publico-nao-obrigado-seguir.pdf>. Acesso em novembro de 2019 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.710.155 – CE. 2018. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/acordao-stj-defensores-publicos-nao.pdf>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3.026/DF. 2006. Disponível em <https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/760367/acao-direta-de- inconstitucionalidade-adi-3026-df>. Acesso em novembro de 2019. CASTILHO, Ricardo. Filosofia geral e jurídica. 6. Ed. São Paulo, Saraiva: 2019. 22 COELHO, M. V. F. Comentários ao Novo Código de Ética dos Advogados. 2. Ed. São Paulo: Saraiva, 2017. CONSELHO FEDERAL DA OAB. Ordem dos Advogados do Brasil. Disponível em <https://www.oab.org.br/historiaoab/antecedentes.htm#iab>. Acesso em novembro de 2019. CONSELHO FEDERAL DA OAB. Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, 2019. Disponível em <https://www.oab.org.br/arquivos/resolucao-n-022015- ced-2030601765.pdf>. Acesso em novembro de 2019 CONSELHO FEDERAL DA OAB. Regulamento Geral. Disponível em <https://www.oab.org.br/content/pdf/legislacaooab/regulamentogeral.pdf>. Acesso em novembro de 2019. FERRATER MORA, José. Dicionário de Filosofia. Trad. António José Massano e Manuel Palmeirin. Lisboa: Dom Quixote, 1978. KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução: Antônio Pinto de Carvalho. Lisboa: Companhia Editora Nacional, 1964. 23 4. Da Ética do Advogado Conforme referido anteriormente, a Ética do Advogadoé regulada pelo Código de Ética e Disciplina da OAB. O dispositivo normativo traz, nos seus primeiros artigos, os princípios fundamentais, é importante que se tenha uma ideia clara deles, pois eles são a base daquilo que é esperado do profissional. Em razão disso, segue a sua transcrição na íntegra: Art. 1º O exercício da advocacia exige conduta compatível com os preceitos deste Código, do Estatuto, do Regulamento Geral, dos Provimentos e com os princípios da moral individual, social e profissional. Art. 2º O advogado, indispensável à administração da Justiça, é defensor do Estado Democrático de Direito, dos direitos humanos e garantias fundamentais, da cidadania, da moralidade, da Justiça e da paz social, cumprindo-lhe exercer o seu ministério em consonância com a sua elevada função pública e com os valores que lhe são inerentes. Parágrafo único. São deveres do advogado: I – preservar, em sua conduta, a honra, a nobreza e a dignidade da profissão, zelando pelo caráter de essencialidade e indispensabilidade da advocacia; II – atuar com destemor, independência, honestidade, decoro, veracidade, lealdade, dignidade e boa-fé; III – velar por sua reputação pessoal e profissional; IV – empenhar-se, permanentemente, no aperfeiçoamento pessoal e profissional; V – contribuir para o aprimoramento das instituições, do Direito e das leis; VI – estimular, a qualquer tempo, a conciliação e a mediação entre os litigantes, prevenindo, sempre que possível, a instauração de litígios; VII – desaconselhar lides temerárias, a partir de um juízo preliminar de viabilidade jurídica; VIII – abster-se de: a) utilizar de influência indevida, em seu benefício ou do cliente; b) vincular seu nome a empreendimentos sabidamente escusos; c) emprestar concurso aos que atentem contra a ética, a moral, a honestidade e a dignidade da pessoa humana; 24 d) entender-se diretamente com a parte adversa que tenha patrono constituído, sem o assentimento deste; e) ingressar ou atuar em pleitos administrativos ou judiciais perante autoridades com as quais tenha vínculos negociais ou familiares; f) contratar honorários advocatícios em valores aviltantes. IX – pugnar pela solução dos problemas da cidadania e pela efetivação dos direitos individuais, coletivos e difusos; X – adotar conduta consentânea com o papel de elemento indispensável à administração da Justiça; XI – cumprir os encargos assumidos no âmbito da Ordem dos Advogados do Brasil ou na representação da classe; XII – zelar pelos valores institucionais da OAB e da advocacia; XIII – ater-se, quando no exercício da função de defensor público, à defesa dos necessitados. Art. 3º O advogado deve ter consciência de que o Direito é um meio de mitigar as desigualdades para o encontro de soluções justas e que a lei é um instrumento para garantir a igualdade de todos. Art. 4º O advogado, ainda que vinculado ao cliente ou constituinte, mediante relação empregatícia ou por contrato de prestação permanente de serviços, ou como integrante de departamento jurídico, ou de órgão de assessoria jurídica, público ou privado, deve zelar pela sua liberdade e independência. Parágrafo único. É legítima a recusa, pelo advogado, do patrocínio de causa e de manifestação, no âmbito consultivo, de pretensão concernente a direito que também lhe seja aplicável ou contrarie orientação que tenha manifestado anteriormente. Art. 5º O exercício da advocacia é incompatível com qualquer procedimento de mercantilização. Art. 6º É defeso ao advogado expor os fatos em Juízo ou na via administrativa falseando deliberadamente a verdade e utilizando de má-fé. Art. 7º É vedado o oferecimento de serviços profissionais que implique, direta ou indiretamente, angariar ou captar clientela. Dos dispositivos acima transcritos, merece destaque os seguintes pontos: 25 O advogado deve atuar com honra e dignidade em todos os momentos. Pode-se observar a ênfase que a lei procura dar à boa-fé, adequando-se ao resto do ordenamento jurídico, que, cada vez mais, procura trazer esse princípio para todos os ramos do direito. Assim, a conduta proba é requisito tanto durante a sua atuação dentro do processo – sendo, pois, proibido ao exercer a advocacia com má-fé, realizando manobras processuais que interfiram no bom julgamento do processo -, quanto nas esferas extraprocessuais – visto que ao advogado é proibido tratar diretamente com a parte contrária, caso esta tenha patrono, assim como ingressar em pleitos administrativos caso possua vínculos com as autoridades dos locais. É também seu dever não aconselhar a propositura de ações temerárias, ou seja, causas que sabidamente ou reconhecidamente possam ser prejudiciais para seu cliente / assistido. Em suma, o Código é claro ao proibir ao advogado que falte com a verdade ou atue com má-fé, visto ser ele figura indispensável à consecução da justiça. A norma também estimula a capacitação contínua do advogado, para que esteja apto a contribuir para o aprimoramento das instituições, das leis e do Direito de forma geral e para a manutenção de uma classe que preza pelos interesses dos indivíduos que assistem. Neste sentido, a função desse profissional tem um caráter público, sendo integrante da estrutura do Estado Democrático de Direito, visto ser um garantidor de direitos. Assim, é imprescindível que ele tenha consciência do seu papel, enquanto agente apto a gerar igualdade dentro da sociedade, com atuações que perpassem o plano individual, atingindo o coletivo. Outro aspecto referenciado pela lei é o papel do advogado na prevenção de litígios judiciais, assim ele deve estimular a mediação e a conciliação e evitar o ajuizamento de lides temerárias. O código preza pela independência e liberdade de atuação do advogado. Nesse sentido, ele ressalva expressamente que o profissional deve manter essas características inclusive quando for empregado de empresas e escritórios. Conclui-se, portanto, que a atividade da advocacia deve ser exercida com excelência, visto a elevada função pública da qual se reveste, devendo o advogado preservar, em suas condutas, a nobreza e a dignidade da profissão. 26 Mapa Mental Ética do Advogado Moral individual, social e profissional Conduta honrada Atuação independente Administração da justiça e defesa do Estado Democrático de Direito Função Social Advocacia incompatível com a mercantilização Direito como mitigador de desigualdades 27 Referências Bibliográficas ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Tradução de Alfredo Bosi, revisado por Ivone Benedetti - 5ª ed.-. São Paulo: Martins Fontes, 2007. 1026 p. ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. Trad. De Mário da Gama Kury. 2ª ed. Brasília, Editora Universidade de Brasília: 1992. 238 p. BITTAR, Eduardo C. B. Curso de ética jurídica. 15. ed. São Paulo, Saraiva: 2019. BENTHAM, J. Princípios da moral e da legislação. In: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultura, 1979. BRASIL. Constituição Federal, 2019 Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Estatuto da Advocacia, 2019. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 5334. Disponível em <http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4794666>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso em Habeas Corpus, n º 61.848 – PA. 2016. Disponível em <https://www.conjur.com.br/dl/defensor-publico-nao-obrigado-seguir.pdf>. Acesso em novembro de 2019 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.710.155 – CE. 2018. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/acordao-stj-defensores-publicos-nao.pdf>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3.026/DF.2006. Disponível em <https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/760367/acao-direta-de- inconstitucionalidade-adi-3026-df>. Acesso em novembro de 2019. CASTILHO, Ricardo. Filosofia geral e jurídica. 6. Ed. São Paulo, Saraiva: 2019. COELHO, M. V. F. Comentários ao Novo Código de Ética dos Advogados. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. CONSELHO FEDERAL DA OAB. Ordem dos Advogados do Brasil. Disponível em <https://www.oab.org.br/historiaoab/antecedentes.htm#iab>. Acesso em novembro de 2019. CONSELHO FEDERAL DA OAB. Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, 2019. Disponível em <https://www.oab.org.br/arquivos/resolucao-n-022015- ced-2030601765.pdf>. Acesso em novembro de 2019 28 CONSELHO FEDERAL DA OAB. Regulamento Geral. Disponível em <https://www.oab.org.br/content/pdf/legislacaooab/regulamentogeral.pdf>. Acesso em novembro de 2019. FERRATER MORA, José. Dicionário de Filosofia. Trad. António José Massano e Manuel Palmeirin. Lisboa: Dom Quixote, 1978. KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução: Antônio Pinto de Carvalho. Lisboa: Companhia Editora Nacional, 1964. 29 5. Da inscrição do advogado na OAB O graduado em Direito está apto a exercer a advocacia desde que preencha certos requisitos expressos na lei. Nesse sentido, o Código de Ética e Disciplina dispõe, nos artigos 8º a 14º, sobre a inscrição. Vamos comentar os principais pontos, uma vez que, cumprindo os requisitos legais, especialmente aqueles previstos nos incisos do art. 8º, o postulante resta inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Assim, o postulante deve ter capacidade civil plena; possuir diploma na área de Direito, o qual deve ser emitido por instituição oficialmente autorizada; apresentar o título de eleitor (se brasileiro/a) e de quitação do serviço militar (se brasileiro do sexo masculino); ser aprovado no exame de admissão da Ordem dos Advogados do Brasil; não exercer atividade incompatível com a advocacia; possuir idoneidade moral e prestar compromisso perante o conselho da OAB. A idoneidade corresponde a não ter sido condenado por crime infamante, salvo reabilitação. Para inscrição como estagiário de advocacia, o postulante deve preencher todos os requisitos exigidos para o advogado. Contudo, não são necessários para a sua inscrição o diploma de conclusão e a aprovação no exame da OAB. O estágio profissional em advocacia deve ter a duração máxima de 02 (dois) anos e ser realizado nos últimos anos de faculdade, podendo ser mantido pelas respectivas instituições de ensino superior, pelos Conselhos da OAB ou por setores, órgãos jurídicos e escritórios de advocacia, desde que estes sejam credenciados pela OAB, sendo obrigatório o estudo do Estatuto da Advocacia e do Código de Ética e Disciplina. O registro perante a OAB gera o documento de identidade profissional (carteira da OAB), de uso obrigatório no exercício da atividade profissional ou estágio de advocacia. Para que seja permitido o uso do nome escritório de advocacia ou a divulgação da atividade de advocacia é obrigatória a indicação do nome do advogado e o seu número no registro da OAB ou o nome e o número de registro da sociedade de advogados. A inscrição principal deve ser feita no domicílio do profissional, que, prioritariamente, corresponde ao Estado em que o advogado mantém seu domicílio 30 profissional. De modo diverso, para o estagiário, a inscrição deverá ser efetuada no Estado em que cursar a faculdade. Caso o profissional atue em outro Estado, são permitidas inscrições complementares. Dessa forma, como exemplo, o profissional pode ter a sua inscrição principal na OAB do Estado de Santa Catarina e uma inscrição complementar na OAB do Estado de São Paulo, o que lhe confere poderes para atuar em ambos os estados. Ressalta-se que a inscrição complementar apenas é necessária nos Estados em que o advogado atuar em mais de cinco causas por ano. A inscrição do profissional pode ser cancelada nos casos previstos pelos incisos do artigo 11 do Estatuto em questão, a saber: Art. 11. Cancela-se a inscrição do profissional que: I - assim o requerer; II - sofrer penalidade de exclusão; III - falecer; IV - passar a exercer, em caráter definitivo, atividade incompatível com a advocacia; V - perder qualquer um dos requisitos necessários para inscrição. § 1º Ocorrendo uma das hipóteses dos incisos II, III e IV, o cancelamento deve ser promovido, de ofício, pelo conselho competente ou em virtude de comunicação por qualquer pessoa. § 2º Na hipótese de novo pedido de inscrição - que não restaura o número de inscrição anterior - deve o interessado fazer prova dos requisitos dos incisos I, V, VI e VII do art. 8º. § 3º Na hipótese do inciso II deste artigo, o novo pedido de inscrição também deve ser acompanhado de provas de reabilitação. Assim, o pedido de cancelamento pode ser feito pelo próprio advogado; contudo, nos casos em que ele for excluído do quadro, falecer ou exercer atividade incompatível, o pedido também poderá ser feito por terceiros. Se o profissional quiser se inscrever novamente, é necessário que demonstre os seguintes requisitos: ter capacidade civil, não exercer atividade incompatível com a advocacia, ter idoneidade moral e realizar o compromisso perante o 31 conselho. Ressalte-se que, nesses casos, não é necessária a realização de novo exame de admissão. Caso o advogado tenha sofrido processo de exclusão da categoria, ele deverá apresentar provas de reabilitação para que a nova inscrição seja obtida. Além do cancelamento, o advogado poderá ser licenciado das suas atividades. Ele poderá requerer pessoalmente, justificando o motivo ou nos casos de exercício de atividade incompatível ou doença mental, ambos com caráter provisório. 32 Mapa Mental Inscrição Advogado X Estagiário Capacidade, aprovação no exame, diploma em Direito, idoneidade, prestação de compromisso Inscrição na sede do domicílio profissional, pode haver inscrição suplementar (mais de cinco causas por ano) A licença tem caráter provisório, o cancelamento é permanente, mas pode haver nova inscrição. Cancela a inscrição por atividade incompatível permanente, falecimento, penalidade de exclusão, a pedido, ou com a perda dos requisitos para inscrição Estágio profissional com duração máxima de 2 anos Inscrição no Conselho do território onde faça o curso Se exercer atividade incompatível com advocacia, pode fazer o estágio, mas não terá inscrição como estagiário Obrigatoriedade do estudo de ética profissional no estágio 33 Referências Bibliográficas ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Tradução de Alfredo Bosi, revisado por Ivone Benedetti - 5ª ed.-. São Paulo: Martins Fontes, 2007. 1026 p. ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. Trad. De Mário da Gama Kury. 2ª ed. Brasília, Editora Universidade de Brasília: 1992. 238 p. BITTAR, Eduardo C. B. Curso de ética jurídica. 15. ed. São Paulo, Saraiva: 2019. BENTHAM, J. Princípios da moral e da legislação. In: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultura, 1979. BRASIL. Constituição Federal, 2019 Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Estatuto da Advocacia, 2019. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 5334. Disponível em <http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4794666>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso em Habeas Corpus, n º 61.848 – PA. 2016. Disponível em <https://www.conjur.com.br/dl/defensor-publico-nao-obrigado-seguir.pdf>. Acesso em novembro de 2019 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.710.155 – CE. 2018. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/acordao-stj-defensores-publicos-nao.pdf>.Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3.026/DF. 2006. Disponível em <https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/760367/acao-direta-de- inconstitucionalidade-adi-3026-df>. Acesso em novembro de 2019. CASTILHO, Ricardo. Filosofia geral e jurídica. 6. Ed. São Paulo, Saraiva: 2019. COELHO, M. V. F. Comentários ao Novo Código de Ética dos Advogados. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. CONSELHO FEDERAL DA OAB. Ordem dos Advogados do Brasil. Disponível em <https://www.oab.org.br/historiaoab/antecedentes.htm#iab>. Acesso em novembro de 2019. CONSELHO FEDERAL DA OAB. Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, 2019. Disponível em <https://www.oab.org.br/arquivos/resolucao-n-022015-ced- 2030601765.pdf>. Acesso em novembro de 2019 CONSELHO FEDERAL DA OAB. Regulamento Geral. Disponível em <https://www.oab.org.br/content/pdf/legislacaooab/regulamentogeral.pdf>. Acesso em novembro de 2019. 34 FERRATER MORA, José. Dicionário de Filosofia. Trad. António José Massano e Manuel Palmeirin. Lisboa: Dom Quixote, 1978. KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução: Antônio Pinto de Carvalho. Lisboa: Companhia Editora Nacional, 1964. 35 6. Da Ordem dos Advogados do Brasil: Fins, Organização e Receita A origem da Ordem dos Advogados do Brasil remonta ao Instituto dos Advogados do Brasil, criado ainda na época do Império, contudo a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), com contornos similares aos observados nos dias de hoje, nasceu no ano de 1930 (OAB, 2019). A respeito da sua natureza jurídica, em uma primeira, análise classifica-se como a entidade de classe dos advogados, o Supremo Tribunal Federal, porém, entendeu que, em verdade, trata- se de uma instituição sui generis. Conforme lecionou o Ministro Eros Grau: “A Ordem é um serviço público independente, categoria ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro. ” (Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3.026/DF. Supremo Tribunal Federal, 2006). Assim, uma vez compreendida a importância da OAB. Vamos, então, entender melhor o funcionamento dessa instituição. As finalidades da OAB estão dispostas no capítulo I do título II do Estatuto da Advocacia, no artigo 44: Art. 44. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), serviço público, dotada de personalidade jurídica e forma federativa, tem por finalidade: I - defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado democrático de direito, os direitos humanos, a justiça social, e pugnar pela boa aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e pelo aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas; II - promover, com exclusividade, a representação, a defesa, a seleção e a disciplina dos advogados em toda a República Federativa do Brasil. § 1º A OAB não mantém com órgãos da Administração Pública qualquer vínculo funcional ou hierárquico. § 2º O uso da sigla OAB é privativo da Ordem dos Advogados do Brasil. Fica claro que a OAB, além de ser a responsável por fiscalizar e regulamentar o exercício da advocacia, presta um serviço público, uma vez que contribui para o funcionamento da ordem democrática de forma geral. Frisa-se que ela não faz parte da Administração Pública. O artigo 45 do Estatuto trata da sua organização: 36 Art. 45. São órgãos da OAB: I - o Conselho Federal; II - os Conselhos Seccionais; III - as Subseções; IV - as Caixas de Assistência dos Advogados. § 1º O Conselho Federal, dotado de personalidade jurídica própria, com sede na capital da República, é o órgão supremo da OAB. § 2º Os Conselhos Seccionais, dotados de personalidade jurídica própria, têm jurisdição sobre os respectivos territórios dos Estados-membros, do Distrito Federal e dos Territórios. § 3º As Subseções são partes autônomas do Conselho Seccional, na forma desta lei e de seu ato constitutivo. § 4º As Caixas de Assistência dos Advogados, dotadas de personalidade jurídica própria, são criadas pelos Conselhos Seccionais, quando estes contarem com mais de mil e quinhentos inscritos. § 5º A OAB, por constituir serviço público, goza de imunidade tributária total em relação a seus bens, rendas e serviços. § 6º Os atos conclusivos dos órgãos da OAB, salvo quando reservados ou de administração interna, devem ser publicados na imprensa oficial ou afixados no fórum, na íntegra ou em resumo. (Vide Lei nº 13.688, de 2018) (Vigência) Do dispositivo, pode-se perceber que a OAB possui a forma federada, sendo composta por órgãos no nível nacional (Conselho Federal), estadual (Conselhos Seccionais) e municipal (Subseções) e pelas Caixas de Assistência aos Advogados, que prestam serviços e concedem benefícios aos inscritos. Ressalta-se que, dentre esses órgãos, apenas o Conselho Federal, os Conselhos Seccionais e as Caixas de Assistência dos Advogados têm personalidade jurídica própria. Ademais, reforçando o caráter ímpar citado pelo STF, ela possui imunidade tributária. Em relação aos responsáveis pela administração e funcionamento destes órgãos, a matéria é tratada nos artigos 47 a 50 do citado Estatuto: Art. 48. O cargo de conselheiro ou de membro de diretoria de órgão da OAB é de exercício gratuito e obrigatório, considerado serviço público relevante, inclusive para fins de disponibilidade e aposentadoria. 37 Art. 49. Os Presidentes dos Conselhos e das Subseções da OAB têm legitimidade para agir, judicial e extrajudicialmente, contra qualquer pessoa que infringir as disposições ou os fins desta lei. Parágrafo único. As autoridades mencionadas no caput deste artigo têm, ainda, legitimidade para intervir, inclusive como assistentes, nos inquéritos e processos em que sejam indiciados, acusados ou ofendidos os inscritos na OAB. Art. 50. Para os fins desta lei, os Presidentes dos Conselhos da OAB e das Subseções podem requisitar cópias de peças de autos e documentos a qualquer tribunal, magistrado, cartório e órgão da Administração Pública direta, indireta e fundacional. O artigo 46 do Estatuto trata de algumas funções inseridas na segunda faceta da Ordem, quais sejam a de fiscalizar e regulamentar a classe dos advogados: Art. 46. Compete à OAB fixar e cobrar, de seus inscritos, contribuições, preços de serviços e multas. Parágrafo único. Constitui título executivo extrajudicial a certidão passada pela diretoria do Conselho competente, relativa a crédito previsto neste artigo. Art. 47. O pagamento da contribuição anual à OAB isenta os inscritos nos seus quadros do pagamento obrigatório da contribuição sindical. Agora que conhecemos as finalidades e um pouco da organização da OAB, vamos entender as fontes de receita da instituição, a qual possibilita que as suas funções sejam exercidas. A receita está prevista no Regulamento Geral, que integra a legislação base das normas para o exercício da advocacia (Regulamento Geral. Conselho Federal da OAB, 2019). As normas relativas à receita estão nos artigos 55 a 61. Os inscritos na OAB devem pagar a anuidade à Ordem, além de contribuições, multas e preços de serviços, os quais são fixados pelo Conselho Seccional, possuindo, portanto, abrangência estadual. A destinação de 60% das anuidades tem destino definido em lei, sendo que 10% (dez por cento) pertence ao o Conselho Federal; 3% (três por cento) para o Fundo Cultural; 2% (dois por cento) para o Fundo de Integração e Desenvolvimento Assistencial dos Advogados - FIDA, regulamentado em Provimento do Conselho Federal. Além disso, desse montante, 45% (quarenta e cinco por cento) se vincula às despesas administrativas e à manutenção do Conselho Seccional. 38 As Seccionais são responsáveis pela elaboração anual de seus orçamentos, levando em conta o limite acima descrito. Do percentual destinado aos entes estaduais, cabe à Caixa de Assistência dos Advogados ametade dessa receita, incluídas as eventuais atualizações monetárias e juros. Pode haver despesas deduzidas nos valores enviadas à Caixa, desde que previamente pactuado. As Seccionais devem enviar um relatório anual com as suas despesas ao Conselho Federal, que analisará na primeira sessão ordinária do ano seguinte. Este será julgado por colegiado próprio do Conselho Federal e poderá haver recurso para o Órgão Especial. Por fim, ressalta-se que é permitida a alteração da receita no curso do seu exercício, mediante justificada necessidade devidamente aprovada pelos respectivos colegiados. Mapa Mental Receita Advém dos pagamentos de anuidades, contribuições, multas e preços Repasses são indicados pelo Conselho Federal Cabe às Seccionais 45% da receita proveniente das anuidades. Metade deste valor é destinado à Caixa. Conselhos seccionais aprovam orçamentos e deliberam sobre contas 39 Referências Bibliográficas ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Tradução de Alfredo Bosi, revisado por Ivone Benedetti - 5ª ed.-. São Paulo: Martins Fontes, 2007. 1026 p. ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. Trad. De Mário da Gama Kury. 2ª ed. Brasília, Editora Universidade de Brasília: 1992. 238 p. BITTAR, Eduardo C. B. Curso de ética jurídica. 15. ed. São Paulo, Saraiva: 2019. BENTHAM, J. Princípios da moral e da legislação. In: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultura, 1979. BRASIL. Constituição Federal, 2019. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Estatuto da Advocacia, 2019. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 5334. Disponível em <http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4794666>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso em Habeas Corpus, n º 61.848 – PA. 2016. Disponível em <https://www.conjur.com.br/dl/defensor-publico-nao-obrigado-seguir.pdf>. Acesso em novembro de 2019 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.710.155 – CE. 2018. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/acordao-stj-defensores-publicos-nao.pdf>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3.026/DF. 2006. Disponível em <https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/760367/acao-direta-de- inconstitucionalidade-adi-3026-df>. Acesso em novembro de 2019. CASTILHO, Ricardo. Filosofia geral e jurídica. 6. Ed. São Paulo, Saraiva: 2019. COELHO, M. V. F. Comentários ao Novo Código de Ética dos Advogados. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. CONSELHO FEDERAL DA OAB. Ordem dos Advogados do Brasil. Disponível em <https://www.oab.org.br/historiaoab/antecedentes.htm#iab>. Acesso em novembro de 2019. CONSELHO FEDERAL DA OAB. Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, 2019. Disponível em <https://www.oab.org.br/arquivos/resolucao-n-022015-ced- 2030601765.pdf>. Acesso em novembro de 2019 40 CONSELHO FEDERAL DA OAB. Regulamento Geral. Disponível em <https://www.oab.org.br/content/pdf/legislacaooab/regulamentogeral.pdf>. Acesso em novembro de 2019. FERRATER MORA, José. Dicionário de Filosofia. Trad. António José Massano e Manuel Palmeirin. Lisboa: Dom Quixote, 1978. KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução: Antônio Pinto de Carvalho. Lisboa: Companhia Editora Nacional, 1964. 41 7. Da Publicidade A normativa que trata da publicidade no exercício da advocacia é descrita pelo Código de Ética, no Capítulo VIII. Frisa-se que a matéria sofreu alterações significativas com a edição do novo código, em 2005, que flexibilizou as proibições vigentes anteriormente. Quis o novo Código reforçar a tradição da publicidade profissional como atividade meramente informativa, jamais podendo se configurar como captação de clientela, aqui entendida como a publicidade efetuada em desacordo com os padrões firmados no Código de ética e Disciplina (COELHO, 2017). É permitida a utilização de placas, painéis luminosos e inscrições nas fachadas dos escritórios de advocacia. Além disso, são admissíveis como formas de publicidade o patrocínio de eventos ou publicações de caráter científico ou cultural, assim como a divulgação de boletins, por meio físico ou eletrônico, sobre matéria cultural de interesse dos advogados, desde que sua circulação fique adstrita a clientes e a interessados do meio jurídico. Porém, apesar dessa permissão legal, são vedados os seguintes meios de divulgação: a veiculação da publicidade por meio de rádio, cinema e televisão; o uso de outdoors, painéis luminosos ou formas assemelhadas de publicidade; inscrições em muros, paredes, veículos, elevadores ou em qualquer espaço público; a divulgação de serviços de advocacia juntamente com a de outras atividades ou a indicação de vínculos entre alguns e outras; o fornecimento de dados de contato, como endereço e telefone, em colunas ou artigos literários, culturais, acadêmicos ou jurídicos, publicados na imprensa, bem assim quando de eventual participação em programas de rádio ou televisão, ou em veiculação de matérias pela internet, sendo permitida a referência a e-mail; a utilização de mala direta, a distribuição de panfletos ou formas assemelhadas de publicidade, com o intuito de captação de clientela. Da mesma forma, o Código veda que o advogado adote as seguintes condutas: responder com habitualidade a consulta sobre matéria jurídica, nos meios de comunicação social; debater, em qualquer meio de comunicação, causa sob o patrocínio de outro advogado; abordar tema de modo a comprometer a dignidade da profissão e da instituição que o congrega; divulgar ou deixar que sejam divulgadas lista de clientes e demandas; insinuar-se para reportagens e declarações públicas. Caso o advogado publique textos jurídicos, estes não deverão induzir o leitor a litigar nem promover, dessa forma, captação de clientela. Quando ele se manifestar 42 profissionalmente de forma pública, deve visar a objetivos exclusivamente ilustrativos, educacionais e instrutivos, sem propósito de promoção pessoal ou profissional, vedados pronunciamentos sobre métodos de trabalho usados por seus colegas de profissão, bem como evitar insinuações com o sentido de promoção pessoal ou profissional, bem como o debate de caráter sensacionalista. Na publicidade profissional que promover ou nos cartões e material de escritório de que se utilizar, o advogado fará constar seu nome, nome social ou o da sociedade de advogados, o número ou os números de inscrição na OAB. Neste contexto, poderão ser referidos apenas os títulos acadêmicos do advogado e as distinções honoríficas relacionadas à vida profissional, bem como às instituições jurídicas de que faça parte, as especialidades a que se dedicar, o endereço, o e-mail, o site, a página eletrônica, o QR code, a logotipo e a fotografia do escritório, o horário de atendimento e os idiomas em que o cliente poderá ser atendido. É vedada a inclusão de fotografias pessoais ou de terceiros nos cartões de visitas do advogado, bem como menção a qualquer emprego, cargo ou função ocupado, atual ou pretérito, em qualquer órgão ou instituição, salvo o de professor universitário. O Código descreve a publicidade via meios eletrônicos, regulando o uso da telefonia e da internet. Assim, é permitido o envio de mensagens a destinatários certos, desde que estas não impliquem o oferecimento de serviços ou representem forma de captação de clientela. Diante do exposto, fica bem claro que se espera um caráter discreto e informativo desse tipo de publicidade. Fica proibida, então, a captação de clientela e a mercantilização da profissão. Assim, essa é a tônica que deve guiar o profissional ao oferecer os seus serviços.43 Mapa Mental Da Publicidade Nas manifestações em meios públicos, é vedada a captação de clientela Vedada a vinculação da advocacia a outra atividade Publicidade deve ter caráter informativo Meios moderados de publicidade 44 Referências Bibliográficas ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Tradução de Alfredo Bosi, revisado por Ivone Benedetti - 5ª ed.-. São Paulo: Martins Fontes, 2007. 1026 p. ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. Trad. De Mário da Gama Kury. 2ª ed. Brasília, Editora Universidade de Brasília: 1992. 238 p. BITTAR, Eduardo C. B. Curso de ética jurídica. 15. ed. São Paulo, Saraiva: 2019. BENTHAM, J. Princípios da moral e da legislação. In: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultura, 1979. BRASIL. Constituição Federal, 2019 Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Estatuto da Advocacia, 2019. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 5334. Disponível em <http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4794666>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso em Habeas Corpus, n º 61.848 – PA. 2016. Disponível em <https://www.conjur.com.br/dl/defensor-publico-nao-obrigado-seguir.pdf>. Acesso em novembro de 2019 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.710.155 – CE. 2018. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/acordao-stj-defensores-publicos-nao.pdf>. Acesso em novembro de 2019. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3.026/DF. 2006. Disponível em <https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/760367/acao-direta-de- inconstitucionalidade-adi-3026-df>. Acesso em novembro de 2019. CASTILHO, Ricardo. Filosofia geral e jurídica. 6. Ed. São Paulo, Saraiva: 2019. COELHO, M. V. F. Comentários ao Novo Código de Ética dos Advogados. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. CONSELHO FEDERAL DA OAB. Ordem dos Advogados do Brasil. Disponível em <https://www.oab.org.br/historiaoab/antecedentes.htm#iab>. Acesso em novembro de 2019. CONSELHO FEDERAL DA OAB. Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, 2019. Disponível em <https://www.oab.org.br/arquivos/resolucao-n-022015-ced- 2030601765.pdf>. Acesso em novembro de 2019 45 CONSELHO FEDERAL DA OAB. Regulamento Geral. Disponível em <https://www.oab.org.br/content/pdf/legislacaooab/regulamentogeral.pdf>. Acesso em novembro de 2019. FERRATER MORA, José. Dicionário de Filosofia. Trad. António José Massano e Manuel Palmeirin. Lisboa: Dom Quixote, 1978. KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução: Antônio Pinto de Carvalho. Lisboa: Companhia Editora Nacional, 1964. 46 8. Da Sociedade de Advogados Advogados com interesses em comum podem ser e unir, em dois ou mais, para formação de uma sociedade de advogados. Dessa forma, eles podem unir esforços na mesma área jurídica ou dividir a atuação, direcionando os profissionais para searas diferentes. Atuar em áreas distintas ou aliar esforços nas mesmas áreas pode auxiliar sobremaneira nas demandas que forem surgindo. Tanto no Código de Ética e Disciplina quanto no Estatuto da Advocacia estão previstas regras que disciplinam a formação desta sociedade, além da sua manutenção e da sua extinção. Sendo assim, começaremos com algumas regras esparsas contidas no Código de Ética e Disciplina (CFOAB, 2015). O Código trata da tergiversação, que é o patrocínio de interesses opostos, conduta que é, inclusive, tipificada na seara penal. Nesse sentido, o artigo 19 proíbe advogados que façam parte da mesma sociedade de patrocinar clientes cujos interesses sejam opostos: Art. 19. Os advogados integrantes da mesma sociedade profissional, ou reunidos em caráter permanente para cooperação recíproca, não podem representar, em juízo ou fora dele, clientes com interesses opostos. A obediência ao preceituado é bastante razoável, visto que a defesa de clientes com interesses opostos pelo mesmo escritório seria temerária do ponto de vista prático. Evita-se, assim, que informações sigilosas e estratégias de defesa cheguem ao conhecimento da parte contrária. Ainda que persista a independência e autonomia do advogado, elas dizem respeito à escolha da melhor defesa, e não ao patrocínio de pessoas que busquem objetivos contrapostos. Ora, conforme estudamos na “ética do advogado”, o advogado é indispensável à administração da justiça, possuindo papel auxiliar na busca de melhores resultados, sempre torna por base um comportamento adequado e o alcance da verdade. Assim, uma vez que o valor a ser defendido por ele, em qualquer causa, é o direito do cliente, a defesa de interesses opostos pela mesma sociedade advocatícia constitui-se em total incoerência com os objetivos do ordenamento jurídico. Tanto é que, caso sobrevenham conflitos entre clientes já assistidos, os advogados que compõem a mesma sociedade devem optar por um ou outro. Como exemplo, cita-se um caso 47 de divórcio em que o casal inicia desejando um processo amigável, mas passa a ter conflitos. Nesse sentido, o artigo 20 do citado dispositivo: Art. 20. Sobrevindo conflitos de interesse entre seus constituintes e não conseguindo o advogado harmonizá-los, caber-lhe-á optar, com prudência e discrição, por um dos mandatos, renunciando aos demais, resguardado sempre o sigilo profissional. Em situação similar, o artigo 22 trata da oposição que surge com o passar do tempo. Assim, a norma orienta o advogado ou a sociedade de advogados, que haja efetuado ou colaborado na efetivação de ato jurídico, a não atuar, posteriormente, em causa que questione a legitimidade desse ato. Da mesma forma, não é permitida a defesa em causa cujo conflito de interesses seja originário de atuação profissional anterior. Vejamos a sua redação: Art. 22. Ao advogado cumpre abster-se de patrocinar causa contrária à validade ou legitimidade de ato jurídico em cuja formação haja colaborado ou intervindo de qualquer maneira; da mesma forma, deve declinar seu impedimento ou o da sociedade que integre quando houver conflito de interesses motivado por intervenção anterior no trato de assunto que se prenda ao patrocínio solicitado. Para exemplificar, imagine que uma sociedade de advogados tenha sido contratada, em 2015, para elaborar e redigir um contrato de prestação de serviços para a empresa A, contrato que será aplicado para todas as suas relações com parceiros e clientes. Em 2018, a empresa A acaba tendo problemas com um determinado fornecedor e este procura o escritório que elaborou o contrato para a empresa A, requerendo a defesa de seus interesses contra a empresa. Neste caso, a norma estudada proíbe que os profissionais responsáveis pela elaboração do contrato de A patrocinem a causa para este fornecedor, uma vez que foram os profissionais responsáveis para elaboração de documento que, certamente, será uma das principais provas em eventual processo judicial. Além da oposição de interesses, o Código também regula a publicidade da sociedade de advogados. Nesse sentido, a sociedade de advogados deve informar os nomes de seus integrantes e o número de sua inscrição (ou os números das inscrições dos advogados que a compõem): Art. 44. Na publicidade profissional que promover ou nos cartões e material de escritório de que se utilizar, o advogado fará constar seu nome ou o da sociedade de advogados, o número ou os números de inscrição na OAB. 48 Ademais, em disposições comuns ao advogado que atua sozinho e à sociedade de advogados, o Código refere que a prestação de serviços deverá ser contratada, preferencialmente, por escrito (art. 48). Além disso que o pagamento dos honorários pode ser feito de diversas formas, inclusive
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