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Escolas criminológicas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer as principais contribuições de Lombroso, Ferri e Garofalo para a Escola Positiva. � Descrever a Escola Intermediária de Lyon. � Definir as Escolas Intermediárias Ecléticas. Introdução Não há consenso com relação ao momento do surgimento da crimino- logia. No âmbito de uma visão científica, existem critérios e informes diferentes que procuram situá-la em determinada linha de tempo e espaço. Em uma visão doutrinária mais conservadora, a criminologia positiva nasceu no final do século XIX com a chamada Escola Italiana ou Positivista, representada pelos célebres Lombroso, Ferri e Garófalo. Neste capítulo, você vai estudar as escolas criminológicas e a con- tribuição de cada uma delas para o desenvolvimento da ciência da criminologia. Você vai ter contato ainda com as contribuições céle- bres dos renomados pesquisadores Lombroso, Ferri e Garófalo. Além disso, vai conhecer a Escola Intermediária de Lyon, que defendeu um pensamento diverso do das teses de Lombroso. Por fim, você vai se apropriar das escolas intermediárias ecléticas, conhecendo a Escola Positiva Crítica, a Jovem Escola de Política Criminal e a Escola de Defesa Social. As principais contribuições de Lombroso, Ferri e Garófalo para a Escola Positiva Foi na Revolução Francesa que se deu o apogeu do Iluminismo, por meio do pensamento liberal e humanista de seus grandes representantes: Voltaire, Montesquieu e Rousseau. Eles teceram inúmeras críticas à legislação cri- minal que vigorava na Europa em meados do século XVIII, enfatizando a necessidade de individualização da pena, de redução das penas cruéis, de proporcionalidade, etc. Nessa linha histórica, merece imenso destaque a teoria penológica proposta por Cesare Beccaria, considerado o pai da Escola Clássica (PENTEADO FILHO, 2012). A criminologia positiva nasce com Gerry e Quetelet, no último terço do século XIX, com a chamada Escola Italiana ou Positivista, cujos principais representantes foram Lombroso, Ferri e Garófalo. Lombroso por várias vezes foi considerado o pai da criminologia contem- porânea. Seu ponto de partida foi uma reação às ideias da Escola Clássica, sobretudo no que diz respeito à utilização da metodologia lógico-dedutiva. A criminologia positivista contemporânea é claramente herdeira dessa tomada de posição. Nos anos de maior influência do positivismo, a metodologia racionalista da Escola Clássica — baseada no raciocínio consciencioso, mas desvinculado da observação empírica sistemática — parecia manifestamente insatisfatória para explicar e prevenir o crime. Para essas funções, a metafísica oferecia melhores resultados. Além disso, o conhecimento e a técnica humana não sofriam grande avanço pela via clássica. Por outro lado, a Escola Positivista, do ponto de vista etiológico, aceitava a inserção de fatores biológicos na criminalidade, a ponto de afirmar que a criminalidade dos pais pode ser herdada (FERRI, 2009). Cesare Lombroso (1835–1909) — antropologia criminal Cesare Lombroso foi médico, psiquiatra, antropólogo e político. Ele deixou uma obra riquíssima como legado. Dentro da criminologia, sua obra mais famosa, e um dos pilares da Escola Positivista Italiana, foi L’Uomo Delincuente (O Homem Delinquente). Para Lombroso, não existe nenhum crime que encontre a sua raiz em múltiplas causas — incluindo, claro, variantes ambientais e sociais, tais como o clima, o abuso de bebidas alcoólicas, a educação ou a profissão. Lombroso afirma que existem diversos tipos de criminalidade e que cada um deles responde a um conjunto de causas específicas (apud FERRI, 2009). O crime é caracterizado como um fato, ele ultrapassa o tempo e não é apenas uma abstração jurídica. Partindo dessa ideia, o crime é tido com um fenômeno natural e deve ser analisado a partir da origem de suas causas, para que a solução seja atacá-lo na própria raiz. Para isso, devem ser criados meca- Escolas criminológicas2 nismos de prevenção eficazes. Na visão de Lombroso, a etiologia do crime é de caráter individual e tem como base o estudo do delinquente. Nesse sentido, se compreende a natureza humana como fator gerador do delito. A partir da ideia de que há diferença entre os homens honestos e os cri- minosos, Lombroso traçou um estudo com base na autópsia de criminosos. O cerne da teoria de Lombroso foi a existência do criminoso atávico, que já havia sido tratada por Charles Robert Darwin (1809–1882). O criminoso atávico seria um homem menos civilizado que os demais da sociedade, possuindo física e mentalmente as características primitivas do homem. Essa conclusão levou em consideração que o comportamento humano é biologicamente determinado. Partindo dessas noções, Lombroso afirma que o atavismo, tanto físico quanto mental, é passível de identificação, bastando apenas analisar os sinais anatômicos, como você pode ver na Figura 1. É possível verificar, assim, aqueles indivíduos que estariam hereditariamente propensos a cometer delitos. Nesse sentido, se reduz o crime a um fenômeno natural, uma vez que o criminoso seria um indivíduo primitivo e doente. Figura 1. Desenho dos tipos lombrosianos. Fonte: Carvalho et al. (1987). 3Escolas criminológicas Para desenvolver sua teoria, Lombroso examinava o crânio do criminoso e encontrava, conforme ensinado por Garcia, Molina e Gomes (2002, p. 193): […] uma grande série de anomalias atávicas, sobretudo uma enorme fosseta occipital média e uma hipertrofia do lóbulo cerebeloso mediano (vermis), análoga à que se encontra nos vertebrados inferiores. E baseou o “atavismo” ou caráter regressivo do tipo criminoso no exame do comportamento de certos animais e plantas, no de tribos primitivas e selvagens de civilizações indígenas e, inclusive, em certas atitudes da psicologia infantil profunda. De acordo com o seu ponto de vista, o delinquente padece de uma série de estigmas degenerativos comportamentais, psicológicos e sociais (fronte esquiva e baixa, grande desenvolvimento dos arcos superciliais, assimetrias cranianas, fusão dos ossos atlas e occipital, grande desenvolvimento das maçãs do rosto, orelhas em forma de asas, tubérculos de Darwin, uso frequente de tatuagens, notável insensibilidade à dor, instabilidade afetiva, uso frequente de um determinado jargão, altos índices de reincidência, etc.). Na teoria de Lombroso, o criminoso é dividido em seis categorias: cri- minoso nato (atávico), louco moral (doente), epilético, ocasional, passional e louco. Havia ainda a descrição de uma relação entre criminalidade atávica, loucura moral e epilepsia. Para Lombroso segundo Garcia, Molina e Gomes (2002, p. 193): [...] o criminoso nato é um ser inferior, atávico, que não evolucionou, igual a uma criança ou a um louco moral, que ainda necessita de uma abertura ao mundo dos valores; é um indivíduo que, ademais, sofre alguma forma de epilepsia, com suas correspondentes lesões cerebrais. Assim, Lombroso tentou estabelecer uma divisão entre o homem “bom” e o “mau”, identificando no homem mau as patologias, para justificar a pena como meio de defesa da sociedade. Após esse estudo, ganhou força a linha de raciocínio que defendia que haveria certas afinidades entre o criminoso, os animais e principalmente o homem primitivo, que Lombroso considerava diferente, psicológica e fisicamente, do homem contemporâneo. A teoria da antropologia criminal de Lombroso foi há muito superada, pois os críticos da época acreditavam que ela não passava de descrições de comportamentos de criminosos profissionais. Portanto, não tinha nada de biológico ou nato, sendo apenas a descrição de um tipo de comportamento (GARCIA; MOLINA; GOMES, 2002). Escolas criminológicas4 Lombroso não afastou os fatores exógenos da gênese criminal, entendendo que eles eram apenas aspectos motivadores dos fatores endógenos. Assim, o clima, a vida social, etc. poderiam desencadeara propulsão interna para o delito, pois o criminoso nasce criminoso (determinismo biológico). Tais conclusões embasaram-se especialmente em estudos médico-legais feitos na necropsia do famigerado bandido italiano Villela. Nesses estudos, Lombroso descobriu que Vilella possuía uma fossa occipital igual à dos vertebrados superiores, mas diferente da do homo sapiens, o que foi entendido como degeneração. Na sequência de seus estudos, ao analisar os crimes de sangue cometidos pelo soldado Misdea, Lombroso verificou que a epilepsia poderia se manifestar por meio de impulsos violentos (epilepsia larvar). Inúmeras críticas foram tecidas a Lombroso, justamente pelo fato de que milhares de pessoas sofriam de epilepsia e jamais tinham praticado qualquer espécie de crime. Assim, diante desse cenário e em socorro ao mestre, surgiu o pensamento sociológico de Ferri (PENTEADO FILHO, 2012). Enrico Ferri (1856–1929) — sociologia criminal Enrico Ferri foi um criminologista e político socialista italiano, também conhecido por ser um dos expoentes da Escola Italiana Positivista. Sua obra mais importante foi Sociologia Criminal, publicada em 1884. Nela, ele afirmou que os fatores econômicos e sociais interferiam no comportamento criminoso. Sua teoria influenciou o código penal de vários países europeus e latino- -americanos. Assim, a teoria desenvolvida por Ferri se baseou nos estudos dos fatores sociológicos para definir o que é crime e quem é o criminoso. Ferri, diferentemente de Lombroso, sustentava que o crime era origi- nário de fenômenos sociais, e não produto de patologias individuais. Sua teoria afirmou que as causas do crime eram individuais ou antropológicas (constituição orgânica e psíquica do indivíduo, características pessoais como raça, idade, sexo, estado civil, etc.), físicas ou naturais (clima, esta- ção, temperatura, etc.) e sociais (opinião pública, família, moral, religião, educação, alcoolismo, etc.). De acordo com Garcia, Molina e Gomes (2002, p. 196): [...] o cientista poderia antecipar o número exato de delitos, e a classe deles, em uma determinada sociedade e em um número concreto, se contasse com todos os fatores individuais, físicos e sociais antes citados e fosse capaz de quantificar a incidência de cada um deles. Porque, sob tais premissas, não se comete um delito mais nem menos (lei da “saturação criminal”). 5Escolas criminológicas Outro ponto abordado por Ferri em sua teoria foi o fato de a pena, por si só, ser ineficaz se não fosse precedida ou acompanhada de reformas econômicas e sociais, bem como por uma análise completa do delito. Essas reformas seriam a psicologia positiva, que foi defendida por Garófalo, a antropologia criminal (apontada por Lombroso) e a estatística social. Para Ferri, havia dois tipos de criminosos: o nato, o louco, o habitual, o ocasional, o passional e o involuntário/imprudente. Entretanto, apesar dessa classificação, ele acreditava na vida cotidiana e nas características de diferentes tipos em uma mesma pessoa. Defendeu a pena indeterminada e a indenização da vítima como formas de erradicação do crime. As críticas à teoria de Ferri repousam no fato de existir um excesso de preocupação com a personalidade do criminoso, e não com os efeitos da pena aplicada a ele. Em síntese, o autor dá pouca importância ao efeito da aplicação da pena, pensando excessivamente na função ressocializadora (GARCIA; MOLINA; GOMES, 2002). Rafaelle Garófalo (1851–1934) — psicologia positiva Garófalo foi o primeiro autor da Escola Positiva a empregar o termo “crimi- nologia”, utilizado em sua obra Criminologia, escrita em 1885. Sua teoria é baseada na definição psicológica do crime, e ele sustentava a ideia do crime natural, definindo assim todo e qualquer comportamento que julgava ser uma afronta aos sentimentos de piedade e probidade em uma sociedade. De acordo com Garófalo, a ausência de algum desses sentimentos no indivíduo seria o passaporte para o crime. Na lição de Dias e Andrade (1997, p. 17): “A sua obra ficou assinalada pela tentativa de definição de um conceito ‘sociológico’ de crime, capaz de satisfazer as exigências de universalidade que a criminologia deveria respeitar para justificar o qualificativo de crime”. A teoria da psicologia positiva de Garófalo afirmava ainda que o criminoso possuía um déficit moral da personalidade, de cunho endógeno, e uma mutação psíquica, que seria transmissível hereditariamente e com conotações atávicas e degenerativas. Sua classificação do delinquente se deu da seguinte maneira: o assassino, o criminoso violento, o ladrão e o lascivo. Para Garófalo, a sanção deveria servir como castigo e ter como referência as características particulares de cada criminoso (DIAS; ANDRADE, 1997). Escolas criminológicas6 A teoria do criminoso nato de Lombroso propagou que certas características físicas encontradas em alguns indivíduos, sobretudo mestiços, atestariam a sua predisposição à vida criminosa. A teoria de Lombroso causou tanta repulsa que, em 21 de dezembro de 1965, a Organização das Nações Unidas (ONU) organizou a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, que foi acolhida pelo Brasil, sob o seguinte argumento: “Convencidos de que qualquer doutrina de superioridade baseada em diferenças raciais é cientificamente falsa, moralmente condenável, social- mente injusta e perigosa, e que não existe justificação para a discriminação racial, em teoria ou na prática, em lugar algum” (BEZERRA, 2015). A Escola Intermediária de Lyon A Escola de Lyon, também chamada de Escola Antropossocial ou Criminal Sociológica, propaga um pensamento diverso do das teses de Lombroso e configura uma crítica à Escola Positivista Italiana. De acordo com a Escola de Lyon, o criminoso é como um vírus incubado, até que o ambiente adequado o faz eclodir. Dessa forma, o meio social tem papel fundamental, juntamente à predisposição criminal individual presente em determinadas pessoas, for- mando assim o criminoso. A Escola de Lyon possui como representantes maiores os pensadores Émile Durkheim e Alexandre Lacassagne. Assim, por meio de Lacassagne, a Escola de Lyon definiu o crime como um movimento antifisiológico que ocorre na intimidade do organismo social (GOUZER, 1894 p. 271). Con- sidera-se que o ambiente possui grande influência fisiológica no cérebro, de modo que as influências não seriam apenas biológicas, mas individuais (MOLINA, 2003). A partir dessa construção, os fatores mais importantes da criminologia para a Escola de Lyon são os fatores biológicos e sociais, sendo o social um organismo biológico. Partindo das alegações da teoria de Gall sobre as localiza- ções cerebrais, Lacassagne dividiu o cérebro em três zonas (MOLINA, 2003): 1. zona occipital — a sede dos instintos animais; 2. zona parietal — usada para atividades sociais; 3. zona frontal — sede de faculdades superiores. 7Escolas criminológicas Com base nessa divisão do cérebro, Lacassagne nominou os criminosos da seguinte forma: � zona social frontal produz criminosos; � zona social parietal produz criminosos criminosos; � zona social occipital produz criminosos sentimentais ou instintivos. A teoria de Lacassagne afirma que o delinquente possui mais anomalias corporais e anímicas do que o homem não delinquente. Porém, o autor atribui essas anomalias ao meio social, sendo que para explicar o crime é necessário entender o seu contexto. Em sua compreensão, não são essas anomalias que fazem o delinquente, senão a relação de troca entre o sistema nervoso central do indivíduo e o meio social, que se traduz em imagens mais ou menos equi- libradas do cérebro (MOLINA, 2003). Porém, a importância dada pela Escola de Lyon ao meio social não confunde as ideias dessa escola com a teoria situacional da criminalidade, professada pela Escola Clássica (MOLINA, 2003). Isso significa que não haveria dife- rença qualitativa entre o homem delinquente e o não delinquente (princípioda igualdade). Dessa forma, o crime seria um produto derivado de ato de liberdade in- dividual e da opção concreta ao delito, explicáveis por fatores estritamente situacionais. A Escola de Lyon reconhece uma influência patológica no delin- quente, porém entende que esse viés patológico não se sobrepõe à relevância do meio social. Alexandre Lacassagne era um especialista em toxicologia. Ele foi um dos primeiros a analisar os padrões de manchas de sangue e a pesquisar as marcas de balas e sua relação com armas específicas. As escolas intermediárias ecléticas Em meio ao cenário de extremos bem pontuados das Escolas Clássica e Positiva, surgiram, na sequência dos acontecimentos, posições conciliatórias. Embora abraçassem o princípio da responsabilidade moral, os fiéis dessas escolas não Escolas criminológicas8 aceitavam que tal responsabilidade pudesse ser fundamentada no livre-arbítrio, substituindo-o pelo “determinismo psicológico”. As escolas ecléticas, também chamadas intermediárias, visam a buscar um equilíbrio entre os postulados clássicos e positivistas nos diversos âmbitos: metodológico, filosófico, penal, criminológico e político-criminal. A seguir, você vai ver como as escolas intermediárias ecléticas se dividem. Escola Positivista Crítica (Terza Scuola Italiana) Foram expoentes importantes da Escola Positivista Crítica (Terza Scuola Italiana) os pensadores Alimena, Carnevale e Impallomeni. Segundo Carne- vale, a responsabilidade criminal do delinquente possui a base na sua saúde, entretanto o autor reconhece a necessidade de aplicar medidas de segurança ao inimputável (apud FERRI, 2009). Para o positivismo crítico, a reforma social é o dever principal do Estado no combate à criminalidade, entretanto essa corrente rechaça o conceito de Lombroso sobre o criminoso nato. A teoria do positivismo crítico refuta a possibilidade de o Direito Penal ser absorvido pela sociologia, como apregoa Enrico Ferri na Escola Posi- tivista, e entende a conveniência de se complementar a definição de delito por meio da sociologia, da estatística, da antropologia e da psicologia. Para a Escola Positivista Crítica, a função da pena não se resume apenas ao castigo do culpado, mas requer também a sua correção e a sua readaptação social (MOLINA, 2003). Escola de Marburgo A Escola de Marburgo também é conhecida como Escola Sociológica Alemã e Jovem Escola de Política Criminal. Os seus expoentes são Prins, Van Hamel e Von Liszt, que em 1888 fundaram a Associação Internacional de Criminalística. Prins divulgou sua teoria a respeito do “estado perigoso”, tendo sido o primeiro a formular uma teoria autônoma da “defesa social” (MOLINA, 2003). Porém, o pensador mais relevante dessa escola foi Von Liszt, que se dis- tanciou dos postulados clássicos e positivistas. Ele sustenta ser necessária uma visão pluridimensional do crime, levando em consideração como fatores criminógenos a predisposição individual e o meio em que o criminoso está inserido. Na ótica de Von Liszt, o crime é obra da idiossincrasia do infrator no mo- mento do ato e dos fatores externos presentes no momento do cometimento do 9Escolas criminológicas delito. Para a Jovem Escola de Política Criminal, as causas da criminalidade são os defeitos da personalidade, os déficits no processo de socialização e a decadência da justiça penal. Para Von Liszt, o Direito Penal visa a proteger o indivíduo e a limitar o programa social. Ele nega o livre-arbítrio, assumindo o pensamento determi- nista do positivismo, sugerindo que a pena seja um fim, não simplesmente um castigo, e que se ajuste à fase atual de evolução biológica da espécie humana, com uma clara influência da concepção evolucionista (MOLINA, 2003). Escola da Defesa Social Com o conceito de “defesa social”, surge a ilustração, porém é com o positi- vismo que o expoente Enrico Ferri afirmava a necessidade de defesa social frente aos atos contrários às condições de existência individual e coletiva. A defesa social se traduz em um movimento de política criminal que teve a sua primeira aparição com Prins, em 1910, e que foi consolidado por outros pensadores da época. Essa escola tinha a preocupação de articular uma forma eficaz de proteção da sociedade pela atuação da criminologia, da ciência penitenciária e do Direito Penal. De acordo com Filippo Gramatica (apud FERRI, 2009), que fundou o Centro Internacional de Estudos da Defesa Social em 1945, a defesa social significava um sistema jurídico eficaz para substituir o sistema penal convencional. Ou seja, o que se desejava não era somente a imposição de pena para reprimir o delito cometido, mas a aplicação de medidas de defesa social preventivas, educativas e curativas, de acordo com a personalidade do criminoso. Já Ancel, outro expoente dessa teoria, afirma que o movimento de política criminal se preocupa não com o castigo do delinquente, mas com a proteção eficaz da comunidade, cogitando até a “desjurisdicização” de certa parcela da ciência penal com a finalidade de conferir eficácia à política criminal (apud FERRI, 2009). Para a Escola da Defesa Social, o tratamento ressocializador tinha como base uma investigação biológica, psicológica e situacional do criminoso. Escolas criminológicas10 No Brasil, o Sistema Duplo Binário começou a ser utilizado com o Código Penal de 1940, originado no projeto de Alcântara Machado e inspirado no Código Rocco, de 1930. Nesse momento, houve uma grande evolução da ciência penal no Brasil e o País passou a adotar medidas apontadas pelas escolas penais em destaque na época. O Código Penal de 1940 possui influência da Escola Eclética e, de acordo com o disposto na exposição de motivos, “os postulados clássicos fazem causa comum com os princípios da Escola Positiva” (DE SÁ, 2017, documento on-line) e mantêm a tradição liberal presente desde o Código do Império. Além da implantação do Sistema Duplo Binário no Brasil, o Código Penal trouxe outras características oriundas da Escola Moderna Alemã, como: técnica e simplicidade; pena retributiva com finalidade repressiva e intimidadora; caráter repressivo, construído sobre a crença da necessidade e suficiência da pena privativa de liberdade para o controle da criminalidade. Acesse a versão atualizada do Código Penal no link a seguir. https://goo.gl/t0Tjp BEZERRA, E. Lombroso e a teoria do Criminoso Nato. 2015. Disponível em: <https:// incrivelhistoria.com.br/direitos-humanos/lombroso-criminoso-nato/>. Acesso em: 23 maio 2018. CARVALHO, H. V. et al. Compêndio de medicina legal. São Paulo: Saraiva, 1987. DE SÁ. L. M. F. Direito Penal: Escolas Penais. 2017. Disponível em: <https://luizamigliari. jusbrasil.com.br/artigos/440506758/escolas-penais.> Acesso em: 23 maio 2018. DIAS, J. de F.; ANDRADE, M. da C. Criminologia: o delinquente e a sociedade criminó- gena. 2. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 1997. FERRI, E. Princípios de direito criminal: o criminoso e o crime. 3. ed. Campinas: Russel Editores, 2009. GARCIA, A.; MOLINA, P. de; GOMES, L. F. Criminologia. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. GOUZER, Théorie du crime, Archives d’anthropologie criminelle, Lyon, France. 1894. PABLOS DE MOLINA, A. G. Criminologia: uma introdução a seus fundamentos teóricos. Tradução de: Luiz Flávio Gomes. 3ª. ed. Revista dos tribunais. São Paulo, 2002. PENTEADO FILHO, N. S. Manual esquemático de criminologia. São Paulo: Saraiva, 2012. 11Escolas criminológicas https://goo.gl/t0Tjp http://incrivelhistoria.com.br/direitos-humanos/lombroso-criminoso-nato/ http://jusbrasil.com.br/artigos/440506758/escolas-penais. Leituras recomendadas BARATA, A. Criminologia crítica e crítica do direito penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Saraiva, 1999. BENEVIDES, P. R. Caos: superlotação x penas alternativas. Revista Visão Jurídica, v. 6, n. 59, p. 70-71, abr. 2011. BITENCOURT, C. R. Tratado de direito penal: parte geral. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1. BRASIL. Decreto-lei no 2.848, de 7 de dezembro de1940. Código Penal. 1940. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 21 maio 2018. GARÓFALO, R. La criminologia: estudio sobre el delito y sobre la teoría de la represión. 2. ed. Madrid: Agustin Avrial, 1890. LOMBROSO, C. Discours d’ouverture.VI CONGRÈS D’ANTHROPOLOGIE CRIMINELLE, 6. Annalles..., Paris, 1967. Escolas criminológicas12 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm http://ouverture.vi/ Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo:
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