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Edição Espec ial C A R D A S 2018 5 A i, p is a ra m n o m eu p é! A toda minha família, em especial à minha esposa Da- myla Maria, à minha mãe Maria de Fátima, minhas irmãs, Polyana e Fernanda, e aos meus filhos/sobrinhos – Marce- lo Filho, Lucas Eduardo, Carla Kawany, Maria Vitória, João Pedro, Matheus Gabriel e Francisco Walas – por terem me ensinado a ter fé em Deus e, ao lado d’Ele, traçar minha vida. A todas as pessoas que direta ou indiretamente contri- buíram com a minha formação como dançarino, professor de dança e coreógrafo. Boa leitura, estudos e aprendizados a todos, e tudo de Deus e de dança. 7 A i, p is a ra m n o m eu p é! Agradecimentos A toda comunidade da dança de salão pelos múltiplos aprendizados adquiridos com os profissionais, alunos, DJs, coreógrafos, parceiros(as) e tantas outras pessoas. À minha mestra Rachel Mesquita que sempre me mo- tivou a dar aulas acreditando no aluno como sujeito ativo no processo ensino-aprendizagem. Aos questionamentos e contribuições dos amigos, alu- nos, professores que se predispuseram a ler este trabalho an- tes de sua publicação; em especial à Liliane Santos Nunes, que me ajudou com a correção e com inúmeros questionamentos durante todo o processo de construção deste livro. A todos os meus alunos que me ensinaram muito sobre dança e sobre a vida, em especial a: Ana Lucia Faria, Anto- nio Sussumu, Antonio Luis Duarte, Corinne Fontenelle, Elza Rodrigues, Fernanda D’Urso, Irene Baroni, José Roberto Ga- zelli, Laura Gonzales, Lucas Sakai, Luis Cassio Baroni, Maria Brasilina, Márcia Takagui, Marcos Paulo Januário, Neide Gry- ga, Rosa Mendonça e Saul Maguil. Pessoas que não mediram esforços para contribuir com a realização deste sonho. Às escolas de dança de salão: Estúdio de Dança Flavia Rodrigues (Pirituba – SP) e Studio de Dança Baila Comigo Mogi (Mogi das Cruzes – SP), que me deram a honra de ex- perimentar grande parte das propostas deste livro e ser seu padrinho, com isso aumentando ainda mais minhas responsa- bilidades em buscar conhecimentos, tornando-me, a cada dia, um profissional mais comprometido. 8 M a rcelo G ra n g eiro A Celi Pechulo e Henry Wense, da Poli imobiliária, que, acreditando nesse trabalho não mediram esforços, como alu- nos e amigos, para incentivar esta conquista. A Lucimar Cordeiro da Marmogran de Açailândia (MA), por sempre ter incentivado e acreditado no nosso tra- balho, mesmo quando ninguém acreditava. Ao Dimas de Melo Pimenta (DIMEP – SP), por sua amizade, companheirismo, ensinamentos, incentivos, apoio e cumplicidade, estando sempre ao nosso lado. Ao amigo Marcelo Medeiros da Marka Produções e Eventos, de Brasília (DF), que já está no mercado há mais de dez anos, sempre acreditando e incentivando projetos artísti- cos e culturais em todo Brasil. Ao irmão, amigo, pai, professor, cúmplice... Luiz Carlos Breim (Miami – USA), por, ao longo desses quase dez anos de amizade, mostrar-me o mundo por um ângulo diferente e com isso me permitir ir em busca dos meus sonhos e objetivos. Ao amigo Alexsandar Mandic, por me permitir partici- par um pouco da sua vida e com isso crescer e evoluir como ser empreendedor. Ao meu querido amigo e pesquisador, Marco Antonio Perna (dancadesalao.com), por ter aceitado o convite, revisa- do, questionado e modificado algumas informações históricas sobre a dança de salão, não deixando que o livro contivesse informações históricas infundadas. A tantos outros amigos que não citei aqui, mas que me fizeram acreditar nos meus sonhos/objetivos e que contribuí- ram para a realização dele, sempre me encorajando a buscá-los. Aos professores que aguçaram minha vontade de bus- car mais conhecimentos e aos que tentaram me podar durante esse processo. 9 A i, p is a ra m n o m eu p é! Amigos africanos me asseguram que, em muitos idiomas nativos da África, existem muitos termos para “Caminho” e “Caminhar”, com incríveis nuances. Caminhar com uma criança, fala-se de um modo. Caminhar com os pais, fala-se de outra maneira. Caminhar com os amigos, diz-se de um jeito. Com uma pessoa amada, de outro. Mas me asseguraram que não existe, simplesmente não existe, nenhum significado para a palavra “CAMINHAR SOZINHO”. Assmann, H. 11 A i, p is a ra m n o m eu p é! Tenho 65 anos, sou vegana e apaixonada pela dança e por música em geral. Participei de várias vivências de dan- ça em diversos estilos, clássica, jazz, afro, kathak, ballroom, zouk, etc. Ao longo dos anos adquiri uma série de conhecimentos técnicos e vícios de postura, porém nunca consegui ultrapas- sar as minhas barreiras sociais e psicológicas para fazer da dança uma expressão livre e não mecanizada. A participação nas aulas ministradas pelo Marcelo me levou a ter conexão com a minha mais pura essência e prepa- raram o meu corpo e a minha mente para realmente desfrutar da dança e da música. Nunca me esqueço da minha primeira aula, quando ele observou que eu precisava fortalecer as minhas pernas para que eu tivesse melhor performance e aproveitamento de meu potencial, até porque na ocasião me preparava para participar de um campeonato de zouk. Marcelo entende e trabalha a natureza de cada aluno e, o mais importante, incentiva e promove a espontaneidade e a criatividade em suas aulas. Isto através de um método de ensino sedutor e fascinante. Marcelo apresenta o ensino da dança de salão de uma maneira holística e que respeita a indi- vidualidade dos alunos. A Surya Brasil é uma empresa de cosméticos orgâni- cos, naturais e veganos; uma empresa quântica que acredita na inter-relação de tudo que existe no universo e na união do espiritual com o material e é baseada no trinômio: Ayurveda, Tecnologia e Natureza. Ao contrário de uma economia com processos rígi- dos e engessados, que restringem a capacidade criativa do ser 12 M a rcelo G ra n g eiro humano, principal motor do desenvolvimento, a Surya Brasil acredita em uma nova economia, com recursos naturais do planeta de maneira sustentável, respeitando o meio ambiente e a cada ser vivo como especial e diferente dentro de sua pró- pria natureza. A Surya Brasil acredita também na dança como uma das expressões máximas da criatividade humana, e através da Surya Solidária, seu braço social mantenedor de ações de res- ponsabilidade social, educação ambiental e proteção a formas de vida, apoia essa iniciativa cultural. O livro Ai, pisaram no meu pé! Um novo conceito em aprendi- zagem e ensino na dança de salão nos traz uma identificação ime- diata, pois o ensino andragógico que é a base conceitual do livro é o começo de uma quebra de paradigmas do ensino- -aprendizagem, visando respeito e troca de conhecimento en- tre os participantes do processo. Aprender não precisa ser apenas através de um pro- cesso ortodoxo, reconhecemos o aprendizado livre, criativo e inovador. Clélia Angelon Fundadora da Surya Brasil 13 A i, p is a ra m n o m eu p é! Prefácio Nas minhas andanças pelo Brasil dando cursos de Edu- cação Física Escolar e Dança de Salão, fui convidada para ir à cidade de Imperatriz, no Maranhão. Lá encontrei Marcelo Grangeiro. Ainda muito menino, na condição de aluno do curso de dança de salão, convidou-me para assistir ao espetáculo de dança que estava produzindo. De imediato aceitei. À noite, no teatro com condições elementares para ser categorizado com tal, sentada em um caixote, pude aos poucos me deslumbrar com o que vi. Não me surpreendia com as coreografias apre- sentadas, com o conceito que sustentava as apresentações e muito menos com o cenário (um lençol como pano de fundo). Naquele “menino” conseguia perceber determinação como dançarino, coreógrafo, diretor, figurinista, iluminador, empresário, relações públicas do grupo e tantas outras fun- ções. Era um monstro em cena. E quando todos riam dos en- graçados textos e danças do grupo, eu chorava. Minha emo- ção era muito forte, pois analisava criticamentea real condição contextual do que assistia e os múltiplos empreendimentos de todos gerenciados por um sonhador. No final, aproximei-me para parabenizar o grupo e sabia que naquele momento, com o forte abraço em Marcelo, selava minha admiração por ele e lhe oferecia minha fiel amizade. Ao voltar para o Rio de Janeiro, estive com Carlinhos de Jesus e lhe falei sobre aquele “menino”, que certamente conquistaria grande espaço no universo da dança de salão. Seu trabalho baseava-se nos ensinamentos de Jomar Mesquita, e então pude ter a certeza que ele proliferaria. 14 M a rcelo G ra n g eiro O tempo ficou responsável de acelerar outras conquis- tas de Marcelo. Formou-se em Educação Física, mudou-se para São Paulo e logo foi chamado para participar como pro- fessor do quadro “Dança dos Famosos” da Rede Globo, ao lado da atriz Sheron Menezzes. Durante esse tempo estive- mos juntos e ampliamos nossas possibilidades de melhor co- nhecer alguns dos alcances do processo ensino-aprendizagem da dança de salão. Posteriormente foi fazer pós-graduação em Dança de Salão na FAMEC, em Curitiba (PR). Ministrando aulas no módulo de Metodologias de Ensi- no para a Dança de Salão, pudemos mais uma vez (dentre tan- tas de nossas inquietações) discutir a forma consolidada como a maioria dos professores ensinava dança de salão no Brasil. Levantar diferentes indicadores e principalmente questionar os aspectos que sedimentavam esse ensino com propostas fe- chadas o obrigaram a investigar o assunto. Isso o inquietava, pois, mais que ensinar passos, Marcelo se preocupava em aju- dar o aluno a sujeitar-se no processo ensino-aprendizagem. Um assunto já bem discutido em outras áreas da educação, mas ainda pouco conhecido na Dança de Salão. Convidou- -me, então, para ser a orientadora de sua monografia. Aceitei, logicamente. E agora, mais uma vez assumindo a condição de “me- nino” atrevido, citada anteriormente, hoje um professor cons- ciente de sua dimensão educacional, apresenta neste livro algu- mas de suas descobertas. Transita pelo assunto ultrapassando o limite da pedagogia para escrever sobre andragogia. Nessa dimensão facilita a compreensão do leitor, sem subestimar sua capacidade de entendimento, utilizando-se de linguagem de fácil compreensão para abordar o que para muitos pos- sa ser novidade. Tem como trunfo maior a coerência interna do discurso, dando-lhe credibilidade. A necessária ruptura do ensino da dança de salão, moldado ainda em metodologias que centralizam o professor como referência maior para o 15 A i, p is a ra m n o m eu p é! aprendizado, é analisada criticamente nesta obra. Aponta o au- tor algumas das implicações deste processo explicando causas e consequências no desenvolvimento de quem quer aprender a dançar. Vislumbra algumas alternativas para romper com a estrutura rígida ainda existente nas aulas de dança de salão sem dar soluções, pois cairia no erro de modelar recursos. Viciosamente teríamos outra forma para ensinar como úni- ca e a preservação do modelo impediria avanços conceituais. Alerta-nos para a necessidade da autonomia corporal do alu- no como responsabilidade de quem ensina e para tal evidencia a responsabilidade do professor. Sem desrespeitar as conquis- tas didáticas metodológicas do processo que sustenta a dança de salão no Brasil até hoje, enfrenta o desafio maior de expor propostas de ensino mais abertas. Rachel Mesquita Mestre em Pedagogia do Movimento Humano, pós-graduada em Dança Escolar, Educação Física Escolar e Didática do Ensino Superior Sumário 1. Liberdade de expressão. Você tem? ...........................................19 2. Aceita dançar comigo? .................................................................23 3. Prazer, Andragogia! ......................................................................27 4. A busca pela liberdade .................................................................31 5. Os alunos de hoje .........................................................................35 6. História da dança ..........................................................................41 7. A dança na educação ....................................................................49 7.1 A dança de salão na perspectiva educacional ....................53 8. História da dança de salão ...........................................................59 8.1 Dança de salão no Brasil ......................................................65 8.1.1 Alguns dos principais professores de dança de salão na sociedade brasileira ......................................69 8.1.2 Alguns dos principais professores da cidade do Rio de Janeiro – RJ ................................................................71 8.1.3 Alguns dos principais professores da cidade de São Paulo (SP) .........................................................................76 8.1.4 Um dos principais professores da cidade de Belo Horizonte (MG) ............................................................78 9. Eventos de formação de professores de dança de salão no Brasil ..............................................................................................79 10. Pedagogia, Andragogia e Heutagogia: conceitos básicos ....87 10.1 Andragogia ...........................................................................92 10.2 Andragogia prática na dança de salão ............................102 Conclusão .........................................................................................119 Bibliografia .......................................................................................123 Anexo: Depoimentos .....................................................................131 19 A i, p is a ra m n o m eu p é! 1 Liberdade de expressão. Você tem? “Aprender a dançar na perspectiva andragógica é emocio- nante e divertido. Sempre começa com muitos exercícios e alguns desafios e quando você se dá conta está reali- zando movimentos que julgava ser só para profissionais. É admirável como o facilitador tem fé nas pessoas, bem como seu empenho em fazer de todos dançarinos tão bons quanto possível. Com a maior naturalidade do mun- do descobri como dançar de uma maneira que eu nem imaginava ser capaz.” Saul Maguil, arquiteto, 32 anos “Dançar é ter liberdade de expressão.” Quando ouvi essa frase me senti motivado a dançar. Ao começar as aulas o que eu ouvia era: “Não pode fazer assim”, “Tá errado”, “O certo é o que estou te ensinando, o restante tá tudo errado”. E por aí foi... Isso sempre me incomodou como aluno, pas- sando a incomodar ainda mais quando me tornei professor. Ficava me perguntando como eu poderia fazer para ter uma dança menos engessada, mais livre e que tivesse características próprias, mesmo fazendo movimentos que todos os dançari- nos faziam. Depois de quase dez anos de trabalho, pesquisas e questionamentos, foi que realmente comecei a entender e descobrir formas de como trabalhar essas possibilidades. Três acontecimentos foram primordiais para que eu pudesse con- seguir me encontrar neste caminho: 20 M a rcelo G ra n g eiro 1. Aula de montagem de coreografia e composição core- ográfica com o professor Jomar Mesquita, na Mimulus escola de dança, em Belo Horizonte (MG). Na ocasião foram trabalhadas ações de criação através da técnica de movimento de Rudolf Laban. Essa aula abriu minha mente para as possibilidades de execução de diferentes movimentos e comecei a entender melhor como pode- ria ir além. 2. Aula de metodologia de ensino no curso de pós-gradu- ação com a mestra Rachel Mesquita. Lembro-me que ela trabalhou na teoria e na prática, de forma lúdica e técnica vários elementos da dança de salão, mantendo sempre o foco nos objetivos de ensino e nas suas pos- sibilidades de alcance. Para tal compartilhou sempre as decisões da aula com todos nós, alunos. 3. Quando eu fui apresentado por uma amiga à Andra- gogia, fiquei totalmente embriagado com a leiturae de imediato me identifiquei com o que lia. Eu dizia: “Eu faço isso na minha aula e não sabia que era Andrago- gia”. Assim como eu, acredito que muitos professores vão se identificar com esta proposta; muitos são andra- gogos e não sabem. Como um dos recursos para apresentação deste livro, solicitei a alguns alunos que registrassem, através de depoi- mentos, o resultado do ensino andragógico em suas vidas. Es- ses testemunhos ilustrarão o início de cada capítulo. Amigos, professores, jornalistas e um historiador, também foram con- vidados para expressarem suas conclusões, sobre a proposta deste livro: A Andragogia aplicada ao aprendizado e ensino na dança de salão. Uma forma de dar voz a todos. A vocês, muito obrigado. 21 A i, p is a ra m n o m eu p é! Sampa Dança 2010 Espaço de Dança Andrei Udilof (São Paulo). 23 A i, p is a ra m n o m eu p é! 2 Aceita dançar comigo? “Aprendi coisas que não são usualmente abordadas em au- las. A discussão sobre a liberdade de a dama propor ao ca- valheiro numa dança a dois me foi particularmente impor- tante, por me trazer confiança e proporcionar um ‘a mais’ na minha dança. Você abriu a minha mente!” Márcia Takagui, professora universitária Acreditando ser possível a reconstrução das estruturas sólidas existentes nos modelos sistemáticos e assistemáticos de ensino para aulas de dança de salão – mesmo que de forma gradativa e lenta – é que construímos este livro. O mesmo tra- ta de uma investigação construída e observada durante anos de trabalho com crianças, jovens e adultos, das dificuldades, desafios e dúvidas que foram surgindo no decorrer do pro- cesso e que cercam o ato de ensinar e aprender as danças e de forma incisiva as de salão. Pesquisas mostram que atualmente a prática da dança de salão aumentou consideravelmente (CIOLA, 2008, p. 8). Silva relata que “a dança de salão começou a criar forças de al- guns anos para cá” (1997, p. 8). É inegável e perceptível reco- nhecer que a dança de salão vem crescendo vertiginosamente nos últimos anos, em função dos inúmeros acontecimentos, tais como: sua projeção em programas televisivos, internet, aparecimento de novas academias, professores, espetáculos de dança, estilos diferenciados de músicas e de dançar a dois, 24 M a rcelo G ra n g eiro personal dancer1, dentre outros. Esse crescimento tem facilitado, por vezes, que sua prática aconteça em qualquer lugar e de qualquer forma, sem que haja uma incisiva preocupação com os processos de aprendizagem e ensino. Sem formação acadêmica e utilizando-se apenas de seus conhecimentos práticos, a grande parte dos professores de danças de salão em nosso país, vem negligenciando os proces- sos evolutivos do aprender e ensinar necessários para o desen- volvimento consciente de um trabalho pautado no ensino do e pelo movimento ritmado. Esse futuro professor tem como comprometimento éti- co propiciar aos seus alunos as mais diversas experiências educativas e não limitar-se a ensinar aquilo que somente ele considera como importante, o que geralmente acontece com a maioria dos professores. (UGAYA, 2011, p. 43) Muitos professores, usando de suas experiências práti- cas como dançarinos (sem desprezá-las), começaram a minis- trar aulas sem uma preocupação constante com o processo ensino-aprendizagem, muitos destes profissionais têm destra- tado, de alguma forma, os diferentes alcances que a dança poderia provocar na vida daqueles que a praticam. Dentre eles podemos citar alguns aspectos – psicológicos, afetivos, sociais, culturais, sexuais, comportamentais, humanistas e educacionais, dentre outros – que compõem a estrutura do processo ensino-aprendizagem e raramente registrados em seus objetivos de ensino. Um bom exemplo para ilustrar essa situação que posso evidenciar é de quando eu ainda morava no Maranhão e tinha que ir aprender a dançar no sudeste do país. A cada contato 1 Seguindo a mesma linha do personal trainer, o personal dancer é um profis- sional contratado para acompanhar uma dama ou grupo de damas num encontro dançante, seja um baile público ou até mesmo numa festa fecha- da (PERSONAL, 2013). 25 A i, p is a ra m n o m eu p é! com um professor, eu mudava minha forma de dançar. Para entendermos ainda mais essa situação, como exemplo, eu aprendi o passo básico do samba de gafieira de quatro formas diferentes, e cada vez que fazia aulas com um professor dife- rente, ele me dizia que estava errado e o certo ele iria me en- sinar naquele momento. Dessa maneira, acabei aprendendo o mesmo movimento de formas diferentes. Isso me intrigava, e muito. Também observava que os professores me ensinavam de uma forma e no final da aula, quando demonstravam o que havíamos aprendido, sempre usava outros recursos como en- feites, anulando assim o aprendizado anterior. Cheguei à con- clusão de que existiam inúmeras formas de se fazer o mesmo movimento. Fiquei extasiado. Um dos aspectos mais impor- tantes que constituem este processo é a metodologia. Metodologia de ensino, pois, nada mais é do que o conjun- to de procedimentos didáticos, expressos pelos métodos e técnicas de ensino, que visam levar a bom termo a ação didática, que é alcançar os objetivos do ensino e, conse- quentemente, os da educação, com o mínimo de esforço e o máximo de rendimento. (NÉRICI, 1989, p. 53) Método é o caminho. Os professores de dança de sa- lão de hoje, em sua maioria, estão muito mais preocupados em ensinar passos predeterminados por eles do que realmen- te ensinar a dança para as pessoas dentro de seus interesses, necessidades, possibilidades e expectativas. Dessa forma, po- demos dizer que o método de ensino quando focados apenas em passos poderá pular momentos e etapas importantes de amadurecimento dos aprendizados. Respeitar as condições básicas deste processo levará o praticante ao encontro de si mesmo, ao encontro com o outro e com o que está em sua volta: a música, o salão, sua liberdade de ação e expressão, o ambiente de aprendizagem, as pessoas, a cultura implícita em 26 M a rcelo G ra n g eiro cada estilo de dança, o contexto e a comunidade da dança de salão, dentre outros aspectos. Para que haja uma transformação positiva neste pro- cesso será importante que os professores passem a analisar de forma sistemática e mais crítica a imensa responsabilidade inserida no ato de ensinar e o aluno no ato de aprender. “En- sinar não é apenas transferir conhecimento, mas criar possibi- lidades para a sua produção ou a sua construção” (FREIRE, 2011, p. 24). Sampa Dança 2010 – Espaço de Dança Andrei Udilof (São Paulo). 27 A i, p is a ra m n o m eu p é! 3 Prazer, Andragogia! “As aulas se diferenciam por uma abordagem múltipla do ensino da dança de salão. Uma abordagem que reúne uma sólida técnica de ensino de passos, a sensibilização do alu- no à percepção das respostas do parceiro durante a dança, e exercícios lúdicos, que têm o propósito de mostrar que existem divertidas possibilidades de variação ou criativida- de na dança, sem precisar dominar uma infinidade de pas- sos. Afinal, se aprende a dançar bem, com prazer e a dois de verdade.” Corinne H. S. Fontenelle, administradora de empresas, 41 anos A apropriação de conhecimentos referentes às etapas do desenvolvimento da aprendizagem precisa ser considera- da. Dentro da nossa proposta apresentamos a Andragogia2. Esta proposta buscou apontar as importâncias que este as- pecto supracitado tem recebido na literatura específica deste assunto, enquanto comprometida com o aprender e, como consequência, o ensinar. Ampliar estes conhecimentos para colaborar com os professores de dança de salão me motivou a enfrentar esse desafio e procurar apontar, dentro de algumas 2 Andragogia: Antonio Geraldo da Cunha (1982, p. 46), afirma que o pre- fixo andr(o) tem origem no grego na forma de anér andrós, sendo relativo a homem. Já gogia, sufixo comum aos termos em voga advém da sufixologia queé explicado por Cunha (1982, p. 480), como originário de log(o), que por sua vez é oriundo do grego logos e que é relacionado à palavra estudo. 28 M a rcelo G ra n g eiro teorias, alguns pontos em que os professores e alunos possam recorrer quando precisarem desses conhecimentos. Com estas descobertas poderemos, de alguma forma, minimizar algumas das carências de formação voltada para as técnicas de ensino-aprendizagem e dentre elas, nosso foco, o restrito conhecimento da Andragogia para o ensino da dança de salão. Para Luciana Esmeralda Otetto, em se tratando da formação de professores, a abertura para o mundo deverá ser sempre um exercício permanente e fundamental, no entanto, frequentemente tem sido negli- genciado, esquecido e até, por muitas vezes, desprezado. (2006, p. 39) Procuramos, com a construção deste livro, fornecer al- guns subsídios teóricos e práticos capazes de minimizar essa lacuna na qual o professor e aluno transitam, a fim de buscar e propor possibilidades que fujam dos conceitos metodológicos – hoje podendo ser vistos como arcaicos – que ainda envolvem o processo de aprendizagem na dança de salão. Karina Belídio Cesar, ao analisar as metodologias de ensino usadas por professores em grandes e renomadas aca- demias da cidade do Rio de Janeiro, constatou que as propostas de ensino fechadas, engessadas no poder de- cisório do professor e na repetição do aprendizado de se- quências de passos ainda têm um traço forte na forma de ensinar a dança de salão. (2012, p. 27) Propostas mais abertas de ensino, e estas serão aborda- das no conteúdo deste livro, deveriam estruturar aulas onde a criatividade, a expressividade e a espontaneidade tenham fo- cos definidos. Até porque, estes aspectos são pré-requisitos básicos a serem incluídos ao dançar bem a dois. 29 A i, p is a ra m n o m eu p é! Buscamos ainda atender algumas de nossas angústias como professores, na medida em que tivemos sempre que con- frontar nossos conhecimentos acadêmicos com a forma como aprendemos a dança de salão. Posteriormente, enfrentamos a mesma angústia como professores quando nos vimos procu- rando alternativas didáticas metodológicas para ensinar sem romper com a técnica, no entanto, dando oportunidades para que todos os alunos aprendam com mais liberdade, insiram-se de forma mais ativa nas aulas e assim, tornando-se também, responsáveis nos resultados de suas conquistas. Não têm sido comuns iniciativas de articulação mais diretas entre o ensino da dança e as pesquisas feitas no âmbito da Pedagogia e da Didática, porque existem professores e estu- diosos que fazem restrições a ligar o ensino da dança com a didática, em virtude de esta ter uma conotação metódica, de rigidez técnica, que contraria características próprias da dan- ça como criatividade, espontaneidade e expressividade. Por outro lado, trata-se de uma dança codificada, que tem seus movimentos, passos e características específicas, que deve ser ensinada conforme suas origens. (SANTOS, 2009, p. 20) ENAF – Encontro Nacional de Atividades Físicas (Poços de Caldas – MG). Discussão em aula sobre descobertas de movimentos dançados a dois. 31 A i, p is a ra m n o m eu p é! 4 A busca pela liberdade “Olha o movimento do quadril, não se esqueçam de que o corpo todo dança... Experimentem dançar agora somente a tempo e, a seguir, somente a contratempo... Experimen- tem improvisar considerando o repertório adquirido e atenção ao ritmo... Experimentem, experimentem, experi- mentem... E por aí vai. É também da maior importância a oferta que ele nos faz de conhecermos as potencialidades de nosso corpo na dança, de experimentarmos a liber- dade, a calma e a leveza que a dança propõe, ainda que amparada no repertório de passos, formas e movimentos característicos de cada ritmo, e ainda que uma dança a dois deva ser uma dança a dois, parceiros na interpretação corporal das músicas. É bonito, é prazeroso, é consistente – é aprendizado que fica.” Maria Isabel Iório Soncini, professora e assessora de ensino de Ciências e Biologia, 60 anos Para CESAR (2012, p. 42), há fortes traços de repro- dução marcando ainda o ensino da dança de salão na cida- de do Rio de Janeiro. “O saber pelo fazer ainda sustenta o discurso da maioria dos professores de dança de salão.” De uma forma ainda tímida, já surge neste cenário uma di- ferenciação na prática de ensinar que enfatiza a busca pela autonomia do aluno. 32 M a rcelo G ra n g eiro Apresentação de forró no navio temático Tango e Milonga da Costa Cruzeiros (Foto: Divulgação Costa Cruzeiros). Na teoria andragógica existem vários conceitos que po- dem ser aplicados ao ensino da dança de salão e que visam estimular a autonomia do aluno. Em geral, esses pressupostos, não são considerados de forma consciente pela maioria dos professores que, negligenciando os mesmos, acabam abrindo um precedente negativo no processo de evolução do apren- dizado do aluno. Faremos uma análise crítica de alguns dos conceitos e aspectos andragógicos que poderão ser aplicados ao ensino da dança de salão, identificando a relação do papel do aluno e do professor. Para a construção deste trabalho foi constatada escassez de referencial bibliográfico que tratasse diretamente das questões andragógicas. Este assunto, desta forma, merece mais atenção. Há algumas décadas, as danças de salão eram ensinadas por dançarinos que se destacavam no salão. A figura do profes- sor relacionava-se, básica e diretamente, àquele dançarino que sabia fazer mais passos e através de repetições, enfatizavam 33 A i, p is a ra m n o m eu p é! aspectos técnicos dos movimentos. As questões didático-peda- gógicas, por serem desconhecidas pela maioria, não receberam o tratamento necessário e assim, essa questão foi quase com- pletamente desconsiderada e até mesmo destratada. Afinal, se o dançar não focava estes indicadores, os mesmos não pode- riam ser considerados. Isso não quer dizer que esta forma foi ruim para a evolução da dança de salão, nem certa ou errada, pelo contrário, esse fenômeno foi de grande valia para o desen- volvimento das danças de salão no Brasil. 35 A i, p is a ra m n o m eu p é! 5 Os alunos de hoje “É uma satisfação poder expressar a minha opinião sobre esse trabalho. Com ele, aprendi a ousar cada vez mais, sem medo de errar, esquecendo um pouco das estruturas fecha- das, além de fazer da aula um momento de aprendizado, consegui ficar muito à vontade e além de serem transmi- tidos os conhecimentos de forma tranquila, clara, sempre divertida e precisa.” Ramphis Perrotta Junior, empresário, 58 anos Nos últimos tempos a humanidade vem passando por um processo permanente de transformações que fizeram com que as pessoas analisassem seus conceitos, expectativas e con- sequentemente aumentassem suas exigências sobre diferentes questões. Dentre elas, podemos destacar os princípios básicos para ensinar e suas implicações no aprender. O grande de- safio dos professores será sempre motivar o aluno de dança a perceber seu corpo, assim como reconhecê-lo dentro das suas possibilidades de ação, com suas características pessoais, sociais e culturais, que estão intrinsecamente ligadas à forma com que foram estimulados na construção de sua história de vida desde a sua gestação, tornando seus movimentos o mais conscientes possível. A maior parte do público alvo das escolas, casas, cen- tros, academias e estúdios de dança de salão são os adultos. Não poderemos mais negar a necessidade de dar múltiplas atenções às formas de serem ensinadas as danças de salão 36 M a rcelo G ra n g eiro para este público alvo. Malcolm Shepherd Knowles (2009, p. 123), adverte-nos que “ensinar o adulto necessitará sem- pre envolvê-lo de forma ativa no processo de construção de seus aprendizados”. Trabalhar ou desenvolver um corpo que “já está pronto” não é uma tarefa fácil. O professor precisa adquirir várias estratégiasde aprendizagem e ensino para li- dar com as situações diárias que implicam o ato de ensinar e aprender. Ele precisará estar preparado com várias técnicas, sejam elas pedagógicas, andragógicas e/ou outras para avan- çar na sua condição de professor. O processo de desenvolvimento, e mais especificamente, o processo de desenvolvimento motor, deveria lembrar- -nos constantemente da individualidade do aprendiz. Cada indivíduo tem um tempo peculiar para a aquisição e para o desenvolvimento de habilidades motoras. (GALAHUE; OZMUN, 2005, p. 5) Negligenciar as particularidades de cada indivíduo no processo é negar a possibilidade, tanto do aluno como do professor, de ampliar seus conhecimentos no ato de aprender e ensinar. Prendemo-nos a discutir mais os aspectos ligados à Andragogia e apontar de forma elementar a Pedagogia e a Heutagogia como correntes de ensino-aprendizagem. Será sempre preciso levar em consideração que cada indivíduo traz consigo um acervo de ações corporais que foi construído no seu contexto real de vida. Estes registros não poderão ser des- prezados por quem ensina e nem por quem aprende. O caso é ainda mais grave nos adultos, que possuem mais experiências e estas tatuadas de diferentes formas, em suas vidas. Os pro- fessores, não tendo conhecimento das técnicas, processos e aspectos ligados ao ato de ensinar e aprender, poderão pular ou até mesmo negligenciar etapas importantes para a apren- dizagem dos alunos. O erro está em acabar repetindo com 37 A i, p is a ra m n o m eu p é! os seus alunos o mesmo caminho que trilhou para aprender com o seu professor, que na maioria dos casos aconteceu de forma prática e repetitiva, com o poder de decisão centrado totalmente nele, o professor. Vejamos abaixo o alerta para a questão metodológica relacionada: No ensino tradicional dos cursos de dança, presente des- de a corte de Luís XIV, quando nasceu o balé clássico, os métodos mais frequentemente utilizados são baseados na demonstração de exercícios, repetição e memorização... São frequentes os procedimentos de demonstração e imitação, comprovados com a utilização frequente do espelho, atra- vés do qual os alunos copiam e repetem os exercícios ou sequências demonstrados pelo professor. Não há questiona- mentos, justificativas para determinado esforço, explicações ou contextualizações dos exercícios. (SANTOS, 2009, p. 34) Desta forma, podemos supor que esta proposta de en- sino está mais ancorada no fator instintivo e técnico, do que pelo fator conhecimento específico e organização didático- -pedagógica e/ou andragógica. Na observação de Daniela Le- onardi Libâneo, ela tem verificado que independentemente do estilo da dança codificada ou da técnica ensinada, estão sendo adotados modelos e prá- ticas de ensino provavelmente advindo do balé clássico. (1999, p. 79) Essa suposição pode estar relacionada ao fato do balé clássico ser a dança codificada mais antiga e mais presente nas academias desde que se começou a ensinar danças pelo Brasil. Podemos supor que esta seja a única forma que muitos professores de dança de salão conheçam e, por esse motivo, reproduzam-na. 38 M a rcelo G ra n g eiro Baile Domingueira de forró Espaço de Dança Andrei Udiloff (São Paulo). Repensar o ato de ensinar e aprender as danças de sa- lão, neste momento, torna-se necessário e urgente, para que possamos construir corpos mais inteligentes e acessíveis a no- vos aprendizados, corpos esses livres de vícios de referências exclusivas do professor, da dependência do espelho e outros indicadores. Assim sendo, os alunos poderão de alguma for- ma, desenvolver-se nas danças de salão de uma maneira mais abrangente e não apenas como um corpo que obedece e pro- cura imitar os movimentos de outro corpo dançando. O rompimento da condição do aluno submisso para a construção de um sujeito mais ativo nas aulas de dança de salão se faz necessário. Este processo poderá ser doloroso demais porque os alunos e professores já estão acomodados e acostumados a ficarem na frente do espelho ensinando e aprendendo passos previamente elaborados. Para que uma transformação possa acontecer, os professores de dança de salão precisarão se tornar mais investigadores e menos repro- dutores, permitindo que seus alunos possam participar do processo de construção do aprendizado. Para tal, a criação de 39 A i, p is a ra m n o m eu p é! diferentes situações-problemas nas aulas, acreditando que os alunos possam se tornar protagonistas do seu próprio proces- so de aprendizagem, será um dos caminhos. Isto sem negar aos professores a sua condição de interventor e de autoridade. Um grande desafio. 41 A i, p is a ra m n o m eu p é! 6 História da dança “Posso defini-lo apenas com uma palavra: verdade! Faz-nos ver e acreditar que mesmo com nossas limitações podemos alcançar tudo o que queremos, basta termos paciência e determinação! Hoje me sinto uma pessoa mais feliz e re- alizada! Marcelo é uma pessoa simples, dedicada, sincera e objetiva! Só posso agradecer a Deus por tê-lo colocado em meu caminho e tenho orgulho de tê-lo como professor.” Rosa Mendonça, empresária, 44 anos Não se sabe exatamente como a dança surgiu. O que se sabe é que ela existe desde o início da humanidade. A dança nasceu da necessidade de expressar uma emoção, de uma plenitude particular do ser, de uma exuberância ins- tintiva, de um apelo misterioso que atinge até o próprio mundo animal. (CAMINADA, 1999 apud FERREIRA, 2004, p. 17) Os primeiros documentos encontrados na pré-história, que se tratam dos passos de dança, foram encontrados nas ca- vernas. Na África e no sul da Europa, foram encontradas pin- turas rupestres de dançarinos nas paredes das cavernas. Em determinada época os homens primitivos só registravam nas paredes coisas importantes, como afirmam as bases teóricas da Arqueologia, ciência que estuda o homem em suas manifesta- ções artísticas e culturais, tais como “a caça, a alimentação, a 42 M a rcelo G ra n g eiro vida e a morte. É possível que essas figuras dançantes fizessem parte de rituais de cunho religioso” (FARO, 1986, p. 13). Alguns estudiosos como Portinari (1989) apud Ferreira (2004, p. 17), em suas expressões artísticas e sua leitura histó- rica, apontam a existência da dança antes mesmo da própria existência do homem, “a dança precedeu o homem”. A dança nasceu da necessidade que o homem tinha de se expressar e da ligação do homem com os deuses e a natureza. “O homem se movimenta a fim de satisfazer uma necessidade” (LABAN, 1978, p. 19). A arte da dança se fazia presente em todos os acontecimentos do homem primitivo: morte, guerra, nasci- mento, colheitas, casamento, acasalamentos e outros e tinha muitos significados. É evidenciado que a dança se manifesta através de movimentos que imitam as forças da natureza que parecem mais poderosas ao homem e que trazem consigo a ideia de que esta imitação tornará possível a posse dos poderes dessas forças. Pode-se afirmar que no seu primórdio a dança foi uma manifestação natura- lista. Os gestos se apresentavam desordenados e a repetição sincronizada desses gestos pode ser considerada a primei- ra técnica desenvolvida pelo ser humano. (CAMINADA, 1999, apud FERREIRA, 2005, p. 17) Os estudos sócio-antropológicos acreditam que a dan- ça exerceu um papel importante na caça e em muitas outras atividades ao longo da história, em especial na África onde temos como base científica o surgimento da espécie humana, caracterizando uma abordagem analítica ao movimento negro pela dança. No campo das ciências, pesquisadores acreditam que estudando as danças de várias culturas, dentre elas as de origem afro, os estilos e formas de dançar de um povo/na- ção podem revelar muita coisa sobre seus costumes, valores e em geral seu modo de vida. Os antropólogos e arqueólo- gos “assumem que o homem ‘primitivo’ dançava como sinal 43 A i, p is a ra m n o m eu p é! deexuberância física, rudimentar tentativa de comunicação e, posteriormente, já como forma de ritual” (PORTINARI, 1989, apud FERREIRA, 2004, p. 18). Para Faro (1986, p. 13), a arqueologia não deixa de indicar a existência da dança como parte integrante de cerimônias religiosas, parecendo correto afirmar-se que a dança nasceu da religião, se é que não nasceu junto com ela. Assim como as ciências sociais mantêm a relevância de estudo sobre o surgimento da dança e suas influências na construção cultural do povo brasileiro, manifestações essas ainda presentes em cultos religiosos não só de ordem africana, como também no sincretismo que envolve as demais religiões no país. O autor ainda nos relata que a dança é fruto da necessidade de expressão do homem. Essa necessidade liga-se ao que há de básico na natureza humana. Assim, a dança, provavelmente, veio da necessida- de [...] de aplacar os deuses ou de exprimir alegria por algo de bom concedido pelo destino. (FARO, 1986, p. 13) Podemos constatar que a dança exerce um papel impor- tante em várias áreas do conhecimento e é parte integrante da vida do homem. A dança contribui muito no desenvolvimen- to e afirmação da identidade dos povos, seja na era primitiva ou na contemporânea. No Egito, as pinturas, esculturas e rela- tos históricos deixados através da dança, foram de fundamen- tal importância para o estudo e conhecimento desses povos e das suas danças: As pinturas, esculturas e escritos do antigo Egito fornecem informações sobre os primórdios da dança egípcia. Este povo dedicava-se principalmente à agricultura, por isso suas festas religiosas mais importantes se concentravam em danças para homenagear Osíris, o deus da vegetação. A 44 M a rcelo G ra n g eiro dança também servia como entretenimento. Os escravos, por exemplo, dançavam para divertir as famílias ricas e seus convidados. (ORIGEM, 2012) Na Grécia antiga, a dança era considerada parte impor- tante do e no processo educacional, tendo uma essencial rele- vância para a educação, para o culto e para o teatro. O filósofo Platão aconselhava que todos os cidadãos da Grécia aprendes- sem a dançar. Ele acreditava que através da dança podia se de- senvolver dentre outras habilidades o autocontrole e o desem- baraço, melhorando assim o desempenho nas guerras. Já em Esparta, por possuírem um espírito militar, as danças com ar- mas faziam parte da educação de seus jovens. Na Idade Média, com a dominação da igreja católica, foram proibidas as danças teatrais. De acordo com os dogmas arcaicos do catolicismo da época, essas danças eram realizadas com movimentos muito sensuais e exuberantes, indo assim contra seus conceitos. Essa proibição tinha como objetivo abolir a dança teatral e o culto aos deuses. Buscando refúgios para continuar com as manifes- tações dançantes, os dançarinos se apresentavam às escondi- das nas aldeias e feiras, fazendo com que a dança se mantivesse viva nesse período. Só no final da Idade Média a dança passou a fazer parte das festividades da sociedade dominante. No Renascimento, a cultura ganhou força pelo retorno da filosofia greco-romana, o humanismo manifestou-se pela arte e a dança teve um grande desenvolvimento. Os nobres italianos começaram a contratar mestres de dança para criar espetáculos, que serviam de entretenimento entre a nobre- za. Nessa época, essas danças eram chamadas de “baletti” ou “bali”. Os nobres ofereciam os espetáculos uns aos outros e cada um queria preparar o melhor e maior espetáculo. Gran- des personalidades como Leonardo da Vinci eram convidadas a participar criando os figurinos. Nessa época a dança passou a ter um significado filosófico, acreditavam que a harmonia 45 A i, p is a ra m n o m eu p é! dos movimentos da dança refletia a harmonia no governo, na natureza e no universo, pensamento de centralização de poder e ordem exercida pela coroa e seus governantes como princípios literários da burguesia europeia. O movimento que deu grande importância à liberdade de expressão individual e pessoal foi o Romantismo, a dança passa, a partir desse movimento, a ter outras características. A grande parte dos balés dessa época acontecia em torno de mitos e lendas de deuses; com a chegada do Romantismo, eles passaram a tratar de pessoas comuns. No século XIX, as danças sociais3, começaram a se po- pularizar na América e na Europa, levadas pela expansão cul- tural das nações colonizadoras, enriquecendo a formação de povos/nações mesmo que por mecanismo de desigualdades sociais. Novamente a nobreza imita os camponeses ao invés de lançar moda. A partir de 1900, a dança começa apresentar várias formas e estilos. Com a chegada da dança moderna, que tem como base a liberdade de expressão, a ruptura com a estrutura rígida do corpo moldado pelo balé clássico, a dança passou por um grande momento de transformação e experi- mentação. É necessária uma abordagem crítica, já que muitos dos modelos expressivos da arte da dança tiveram seu cunho eurocêntrico e de aculturação, uma postura de posse cultural dos mais inúmeros elementos surgidos em suas camadas de população com menor acessibilidade à corte. Na atualidade temos a dança contemporânea, que é tudo aquilo que se faz hoje dentro dessa arte. Não importa o estilo, procedência, os objetivos nem a forma. É tudo 3 Danças das aldeias, as danças passaram a ser realizadas nos salões da nobreza real. Danças como sarabandas, polcas, mazurkas e minuetos eram dançados pela nobreza, indicando diversão. Atualmente, citamos as dan- ças das festas e danceterias como funk, axé, pagode, forró... que são deno- minadas pelos próximos gêneros musicais. Como exemplo de danças de salões/sociais. (GASPARI in DARIDO, 2011, p. 202-203). 46 M a rcelo G ra n g eiro aquilo que é feito em nosso tempo, por artistas que nele vive. (FARO, 1986, p. 124) O mesmo autor ainda relata que podem ser incorpo- rados valores sociais de diferentes camadas sociais e que no Brasil sua marca de modernização assimilou muito da cultura africana. Os dançarinos passaram a se inspirar em diferentes conceitos para criar suas obras coreográficas. Por vezes, em experiências próprias, em um texto, em problemas sociais, carregados pela memória e identidade dos anciãos, registrados historicamente sob diferentes óticas, mesmo que em momen- tos, de suas festas, ainda que religiosas ou profanas. Este estilo de dança não nega a técnica de execução dos movimentos, mas não tem dependência dela. Para o autor, a dança tem al- cançado um verdadeiro crescimento e progresso: Tem sido contínuo, atualmente, chega a ser vertiginoso, com uma incrível variedade de propostas que nos dão a medida exata, não apenas das pesquisas que sobre ela se realizam, mas, principalmente, de sua constante e perma- nente atualização. Isso nos permite dizer que a dança, em suas diversas manifestações, está de tal modo ligada à raça humana que só se extinguirá quando esta deixar de existir. (FARO, 1986, p. 10) A presença da dança em todas as épocas e civilizações com suas várias formas e estilos foram de grande importância para o fortalecimento das suas identidades. Segundo Ferreira (s.d.) apud Ferreira, constata-se na afirmação abaixo que a evo- lução da dança ocorreu paralelamente à evolução do homem na sociedade. A dança faz parte do contexto histórico da civilização hu- mana, aparecendo em diferentes épocas com maneiras e estilos diferentes. Existem vários estilos de dança, como 47 A i, p is a ra m n o m eu p é! por exemplo, a dança étnica, que tem vinculação com atos religiosos, a dança folclórica, a dança social que é muito encontrada em bailes, festas, boates, discotecas e outras co- memorações, e a dança teatral que teve origem na Idade Média para entreter a realeza. (FERREIRA, 2004, p. 19) Sendo a dança parte imprescindível no desenvolvimen- to da humanidade, dos seus progressos e evoluções, temos que nos apropriar dessas riquezas que estão totalmenteà dis- posição do público, na diversidade de estilos que emergiram de contextos sociais. A dança como conhecemos hoje passa então por um processo de democratização, pois todas as classes sociais pas- saram a ter a oportunidade de vivenciá-la, em um processo contínuo de evolução. A arte da dança deixa sua simbologia europeia de arte de elite, para se transformar num meio de diversão e cultura de todas as classes. No entanto, visamos apresentar a dança de salão como um dos mecanismos de formação socio-educacional na transformação do indivíduo sujeito e ativo socialmente. 48 M a rcelo G ra n g eiro Espetáculo Quilombagem do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos Carmem Bascaran – Açailândia (MA). Turnê Espanha 2008 – Coreografia Disparada – Coreografia de Marcelo Grangeiro. 49 A i, p is a ra m n o m eu p é! 7 A dança na educação “Marcelo é um professor engajado e apaixonado pelo o que faz. Em nossas aulas eu não aprendi apenas passos de dan- ça, aprendi a olhar para dentro de mim, reconhecer meu corpo e a superar barreiras.” Talitha Viola, professora, 35 anos A dança está inserida no ensino formal e informal den- tro do campo da educação, das artes, da educação física e através de projetos sociais tendo várias funções e podendo ser desenvolvida com diferentes objetivos. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Artes: Embora em muitos países ela já faça parte do currículo escolar obrigatório há pelo menos dez anos, no Brasil, a sua presença oficial (curricular) nas escolas, na maioria dos Estados, apresenta-se como parte dos conteúdos de Edu- cação Física (prioritariamente) e/ou de Educação Artística (quase sempre sob o título de Artes Cênicas, juntamente com Teatro). No entanto, a Dança é ainda predominan- temente conteúdo extracurricular, estabelecendo-se de formas diversas: grupos de dança, festivais, campeonatos, centros comunitários de arte. (BRASIL, A. 1998, p. 27) Garaudy (1989) apud Isabel A. Marques (2005, p. 15), “pessimistamente declarou ser a dança o primo pobre da educação”. O desprezo dela com o conteúdo pedagógico nas aulas de educação física escolar e artes permitiu-lhe esta 50 M a rcelo G ra n g eiro afirmação. No que temos vivenciado, desenvolvido e pesqui- sado ao longo de vários anos de trabalho com a dança, nos faz acreditar nos reais valores experimentados e construídos, durante o processo de ensino-aprendizagem e no direciona- mento a ela dado a fim de criar um verdadeiro diálogo com a educação. No PCN Artes, encontramos sustentabilidade para esta afirmação: Encarregada não de reproduzir, mas de instrumentalizar e de construir conhecimento em dança e por meio da dança com seus alunos, a escola pode proporcionar parâmetros para a apropriação crítica, consciente e transformadora dos seus conteúdos específicos. Com isso, poderá trabalhá-la como forma de conhecimento e elemento essencial para a educação do ser social que vive em uma cultura plural e multifacetada como a nossa. (BRASIL, A. 1998, p. 71) Marques (2005, p. 101) pontua que o reconhecimento da dança como área de conhecimento a ser trabalhada nas escolas foi oficialmente iniciada na cida- de de São Paulo nos anos de 1991-92 e coroado em âmbito nacional em 1997. Em relação aos PCN, muitas críticas surgiram aos con- teúdos propostos. Para Márcia Strazacappa (2003, p. 74), a crítica sobre o PCN (Arte e Educação Física) deve se particu- larizar pela “presença da dança apenas como demonstrações em momentos cívicos e folclóricos, inviabilizando a sua práti- ca como mecanismo de aprendizagem e ensino”. Podemos entender melhor, com a crítica do autor, que o próprio PCN ainda destrata a dança como área de conte- údos e conhecimentos específicos, sendo sempre colocada ou apresentada em segundo plano. E quando, na maioria das vezes, ainda aparecem nas festividades do calendário escolar, 51 A i, p is a ra m n o m eu p é! constamos ser um conteúdo fantasma por não ter um apren- dizado sistematizado e assim, uma realidade falsamente ex- posta no âmbito escolar. Não é interesse neste nosso trabalho apresentar a dança como disciplina específica nem discuti-la dentro do ensino nas escolas. Torna-se imprescindível, no entanto, que não deixemos de relacionar e apontar as desatenções existentes dentro do en- sino formal e da importância que temos que dar ao conheci- mento de dança a fim de torná-la de fato e de direito, área de conhecimento reconhecida para as vias de alcances: educacio- nais, sociais e artísticas. Importante que os alunos a vivencie em todos os seus aspectos, sendo entendida que a mesma exerce um papel de fundamental importância no desenvolvimento do ser humano como um todo. No PCN Arte é destacado que é esta uma das grandes riquezas e contribuições da dança no processo educacional: a possibilidade de conhecer, reco- nhecer, articular e imaginar a dança em diferentes corpos, e, portanto, com diferentes maneiras de viver em sociedade. (BRASIL, A. 2007, p. 73) É preciso refletir sobre este ponto a fim de melhorar essa ação para orientar uma prática de dança que venha satis- fazer os alunos provocando um processo de ensino de dança que vá além de realizar movimentos. Segundo Marques, “a ne- cessidade de valorização da arte como forma de conhecimento indispensável ao ser humano é, para mim, inegável e inques- tionável” (2011, p. 38). Desta forma, banalizar o ensino da dança valorizando apenas apresentações como fim, em muito reduzirá seus sentidos e significados no contexto da educação. Suraya Cristina Darido et al. justificam a dança como educa- ção na escola compreendendo seus alcances na transformação dos alunos “em melhores pensadores de arte, consumidores, expectadores, almas. É considerar a dança como fonte de au- toconhecimento, e não como técnica acabada” (2011, p. 204). 52 M a rcelo G ra n g eiro 1ª Convenção Nacional de Dança de Salão (ENAF) – Curso de dança de salão para crianças. 53 A i, p is a ra m n o m eu p é! 7.1 A dAnçA de sAlão nA perspectivA educAcionAl “As aulas nos proporcionam muita diversão, entretenimen- to, liberdade de expressão e confiança. Conseguem estreitar o elo entre professor-aluno criando uma melhor conexão durante o ensino-aprendizagem, trazendo dinamismo, de- safios e novas possibilidades para as aulas, o que nos apro- xima do conteúdo fazendo diminuir no aluno a expectativa do difícil. As vivências proporcionadas na dança de salão na perspectiva andragógica, nos fez crescer para além das aulas, dos ensaios e dos palcos, nos ensinando a nos com- portar como verdadeiras Damas e Cavalheiros, como pro- fissionais responsáveis e comprometidos com o trabalho, com artistas entregues a sua arte, e com isso nos tornando seres humanos com uma visão de mundo mais ampliada. Definimos o trabalho como Inovador, Profissional, Educa- cional, Social e Humano!” Leidiane Sousa e Robertt Reyly, Cia de Dança de Açailândia (MA) Sueli de Lima (2007, p. 03), ao focar a necessidade de “descobrir sempre, inquietar-se, não render-se” afirma que as questões produzidas, engessadas e verticalmente ensinadas di- ficultarão aprendizados significativos. Ainda evidencia que o ensinar e o aprender deveriam acompanhar o método freiriano do saber. O objeto de estudo desta pesquisa, utilizando-se da arte e da cultura como mecanismos de educação, assimila a arte da dança à arte de educar na perspectiva anteriormente descrita. 54 M a rcelo G ra n g eiro Para Freire, “as palavras a que falta a corporeidade do exemplo pouco ou quase nada valem. Pensar certo é fa- zer certo” (2011, p. 35). Rachel Mesquita in Marco Antonio Perna (2011, p. 113), corroborando com o posicionamento do autor, enfatiza que para repensar o ensino-aprendizagem da dança de salão será necessário que haja uma mudança de comportamento e posicionamento dos professores e alunos. Enfatiza a necessidade de serem ampliadas as possibilidades de pensamento acerca do mundo em que vivemos, para em seguida, poder ser ampliada a visão em relação ao ato de en- sinar e aprender a dança de salão em contextos reais e atuais. Precisamos criticamente entender e nos apropriarmos dos as- pectos de ensino-aprendizagem encontrados nos recursos di- dáticos metodológicos, na Pedagogia e Andragogia no sentido de aumentar as nossas ferramentas para o desenvolvimento das aulas, enquanto professores de dança de salão. De acordo com o PCN Educação Física: Trata-se de compreender, na construção das propostas de ensino e aprendizagem, a busca da eficiência (técnica) e da satisfação (prazer) como aspectos simultâneos e comple- mentares e não como antagônicos ou excludentes. Aspec- tos que podem coexistir, mas que não são, necessariamente, vinculados ou decorrentes um do outro. (BRASIL, E. F. 1998, p. 48) Necessitamos entender que podemos não só atingir o aprender, na dança de salão, a executar uma sequência de pas- sos de forma equilibrada e rítmica, não só escutar discursos vazios de que estamos neste caminho de forma intuitiva. Pre- cisamos no mínimo conhecer os mecanismos dos processos ensino-aprendizagem, expandi-los para nossas aulas de dança de salão de uma forma consciente para depois começarmos a assistir os inúmeros benefícios que isso poderá trazer para a vida social, cultural, afetiva, intelectual dos envolvidos neste 55 A i, p is a ra m n o m eu p é! processo. Freire (2011, p. 68) afirma, “que na altura das con- siderações que toda prática educativa demanda a existência de sujeitos, um que, ensinando aprende, outro que, aprendendo ensina”. Isto nos permitirá sempre avançar nas questões peda- gógicas e ou andragógicas. Corroborando com este posiciona- mento, o PCN Educação Física nos diz que sempre que se falar em ensino e aprendizagem de alguma técnica corporal, é necessário ter claro qual o universo de conhecimento que se está elegendo como referencial e qualquer que seja esse referencial, omitir a técnica é obrigar o sujeito a “reinventar a roda”, alienando-o dos conheci- mentos socialmente construídos. Valorizar o conhecimento técnico como referência ideal e imutável é desconsiderar o sujeito da aprendizagem e inviabilizar a sua contribuição nessa construção. (BRASIL, E. F. 1998, p. 48) Nos posicionamentos discutidos acima não há uma proposta de rejeição a ensinar passos, a valorizar técnicas e outros indicadores básicos da dança. Estes elementos são im- prescindíveis. Fica evidente, no entanto, a supervalorização dada a estas questões em detrimento a outros indicadores também importantes. Em recente pesquisa na dança de salão concluiu-se que há fortes traços de reprodução marcando ainda o ensino da dança de salão, mas de uma forma ainda tímida, já surge neste cenário uma diferenciação na prática de ensinar, enfa- tizando a busca pela autonomia do aluno e outros alcances. (CESAR, 2012, p. 42) Mesmo ainda que não tenhamos muitas correntes no ensino-aprendizagem da dança de salão que busquem ampliar os olhares para as técnicas e teorias de aprendizagem já exis- tentes, alguns poucos professores já aplicam esses conheci- mentos, uns de forma assistemática, intuitiva e inconsciente e 56 M a rcelo G ra n g eiro outros de forma sistemática e consciente. Nessa perspectiva será necessário abrir um leque de outros caminhos que po- derão levar a desenvolver em nossos alunos uma capacida- de maior de se tornarem pessoas/dançarinos mais críticos, participativos, pesquisadores, comunicativos, questionado- res, produtivos e acima de tudo mais comprometidos com os alcances da dança de salão em suas vidas. Quando todas essas características, que a princípio podem parecer idealis- tas, porém reais em um futuro bem próximo, começarem a aparecer pelos salões de dança a fora, passaremos a entender que dançar vai muito além de realizar sequências de passos e figuras pré-estabelecidas por um professor. Freire (2011, p. 69), insiste em nos alertar com sua concepção mais aberta de ensino que quem aprende não é um simples depósito de in- formações. E justifica: “Primordialmente minha posição tem de ser a de respeito à pessoa que queira mudar ou recuse mu- dar. Não posso negar-lhe ou esconder-lhe minha postura, mas não posso desconhecer o seu direito de rejeitá-la”. 57 A i, p is a ra m n o m eu p é! Convenção Nacional de Dança de Salão ENAF (MG) – Explicações sobre o processo de ensino-aprendizagem nas danças de salão. Studio de Dança Baila Mogi (Mogi das Cruzes) – Aula de Zouk: Giros e suas variações. 59 A i, p is a ra m n o m eu p é! 8 História da dança de salão “Posso dizer que fiquei feliz por ser convidado a escrever algumas palavras para seu livro e ainda mais feliz por saber que existem vários Marcelos por aí, correndo atrás do co- nhecimento e crescendo. Na dança de salão o que vemos são professores ensinando passos com métodos próprios. A única perspectiva andragógica que vejo (no cenário atual) é a do bem-estar (espero que existam outras), levando a aula a ser uma terapia. Com relação à aprendizagem pro- priamente dita, não existem metodologias ou padronização. Nesse aspecto é importantíssimo um trabalho como o do Grangeiro, que vem sacudir essa área da dança de salão tão carente em estudo, que é o ensino.” Marco Antonio Perna, pesquisador Morfologicamente, o termo dança de salão vem do in- glês “ballroom” (salão de baile), em que a palavra alemã “ball” transcorreu do neolatim “ballare” ou “ballatio”, que foi utiliza- do para designar dança em pares e diferenciar das danças de roda e danças saltitantes. No diálogo popular e na poesia, a cultura trocou o termo latino “ballare” pela palavra germânica “danse” (RIED, 2003, p. 8). Ainda segundo Ried (2003, p. 8), “as classes nobres diferenciavam-se das classes baixas, entre outras através das danças típicas, cuja aprendizagem fazia parte da educação”. Os aristocratas eram praticantes das danças da corte, enquan- to o povo praticava as danças folclóricas. Importante relatar que nesse contexto as danças sociais se referiam a todas as 60 M a rcelo G ra n g eiro danças que eram dançadas em companhia, incluindo as de roda e folclórica e se caracterizavam pela presença de intera- ção social. Já a “dança de salão era atividade social dançante que ocorria no salão de baile, ou seja, em ambiente nobre e requintado com regras de etiqueta severas” (KROMBHOLZ apud RIED, 2003, p. 8). A dança como atividade social – de início, praticada pela aristocracia e pela nobreza – “surgiu na Europa, duran- te a Idade Média e o Renascimento, a partir do século XV” (PERNA, 2005, p. 11). Já para Angélica Totti (2010, p. 5), “como pares entrelaçados, a dança de salão apareceu somente a partir do século XVIII”. O abraço caracterizava a dança de salão e este surgiu na corte austríaca e alemã com a valsa, a primeira dança de salão, em que a dama dependia do cavalhei- ro para dançar e reciprocamente. Danças de Salão é a arte conservacionista que se universa- liza em práticas sociais, não cênicas nem esportivas, consis- tindo na interpretação improvisada da música através dos movimentos dos corpos de um casal independente, quando o Cavalheiro conduz a Dama. (ZAMONER, 2013 p. 38) Outro termo muito usado no passado era “Dança So- cial”, que, segundo Josiane B. F. dos Santos (2010, p. 9), “ca- racterizava-se por agrupamento de pares, com frequentes tro- cas dos mesmos, onde a atuação dos homens diferenciou-se da atuação das mulheres. Tinha por objetivo atividade social que se caracterizava pela interação social”. Para Faro (1986, p. 30), as danças de salão, que cresce- ram entre a nobreza europeia, descenderam diretamente das danças populares. Sua evolução obedeceu ao seguinte trajeto: Iniciou-se no templo, foi para aldeia, em seguida para a igreja, depois para as praças, os salões e por último os palcos. Essa evolução aconteceu durante centenas de anos. O termo sa- lão é devido à necessidade de uso desalas grandes para sua 61 A i, p is a ra m n o m eu p é! execução (PERNA, 2005, p. 10). De acordo com Caminada (1999) apud Ferreira (2004, p. 21), “em 1820, através do mi- nueto e depois com os Cotillos e o Quadrille, deu-se a popu- larização das danças sociais. Depois do minueto, por volta de 1780 o mundo conheceu a valsa, que revolucionou os salões”. O nascimento da dança de salão esteve (e ainda está) di- retamente ligado ao desenvolvimento da cultura europeia. Era uma forma de mostrar parte dos seus valores sociais, culturais e educacionais. Joana Barreto Pontes relata que na Europa, saber dançar significava ter requinte e boa edu- cação: fazia parte da educação básica das pessoas e era nas aulas de dança que se transmitiam as noções de etiqueta. (2011, p. 24) E Perna complementa: Tendo como registro seu surgimento na Europa, na época do Renascimento a dança de salão se tornou uma forma de lazer muito apreciada, quer entre a plebe, quer entre os nobres. (2005, p. 11) Por mais que ela tenha sido, por muito tempo, dançada pela nobreza, dentro da classificação das danças, podemos afirmar que a dança de salão está também inserida na catego- ria de dança popular por ter suas origens nas causas sociais, políticas ou acontecimentos destacados na linha do tempo. Carolina Lage Gualberto (2007, p. 37) extrapola afirmação anterior justificando que “a dança popular é aquela produzi- da espontaneamente numa comunidade com laços culturais em comum”. A denominação dança de salão pode ser contundente por se referir a um local e não a um gênero ou tipo de dança. Trata-se de dança social, executada aos pares, com os corpos 62 M a rcelo G ra n g eiro entrelaçados, em geral, um homem e uma mulher, por este motivo, também, muitas vezes denominada de dança a dois ou danças em pares independentes (ZIEL, 2010, p. 9). Nos últimos tempos, em função da constante evolução da humanidade e a necessidade de adaptação, os bailes que em outrora eram realizados em grandes clubes e salões, passa- ram a existir dentro de espaços pequenos localizados em casas noturnas ou dentro das próprias escolas de dança. Podemos dizer que essa necessidade surgiu para que os praticantes ti- vessem mais espaços para colocar em prática o que aprendiam em aula. Mesmo com essa adaptação a espaços alternativos, o termo “salão” continua valendo para designar o ato de se dançar a dois. Pelo menos desde os séculos XV e XVI, tornou-se uma for- ma de lazer muito apreciada, tanto nos salões dos palácios da nobreza, como entre o povo em geral. É chamada de social por ser praticada por pessoas comuns, em festas de confraternização, propiciando o estreitamento de relações sociais de amizade, de romance, de parentesco e outras. De salão, porque requer salas amplas para os dançarinos faze- rem livremente suas evoluções e porque foi através da sua prática nos salões das cortes reais europeias. Este tipo de dança foi valorizada e levada para as colônias da América, Ásia e África, desta forma foi sendo divulgada pelo mundo todo se transformando num divertimento muito popular entre diversos povos. (GOMES, 2010, p. 1) O registro histórico citado por Faro (1989) nos facili- ta entender a derivação dos gêneros da dança de salão rela- cionada aos espaços percorridos por ela, e suas influências populares: Dança de salão: designação de todos os tipos de danças sociais, executadas por pares em bailes ou reuniões. Des- de a Idade Média a nobreza dançava loures, alemandes ou 63 A i, p is a ra m n o m eu p é! courantes em suas festas, surgindo mais tarde minuetos, es- cocesas, valsas, tangos. Foxtrott, maxixe, charleston, rock and roll, etc. Há nestas danças forte influência folclórica, sendo que muitas, como a polca e a mazurka, derivam claramente de danças populares que chegaram aos salões. (FARO, 1989, p. 108) Cinthia Ceribelli (2008, p. 79) fortalece o conceito de dança de salão “relacionando-as àquelas dançadas a dois e executadas por um casal de dançarinos sendo elas praticadas socialmente, como forma de entretenimento e integração so- cial”. Avançam na questão de seus alcances quando a incluem para fins competitivos. Uma realidade do contexto contem- porâneo. Para esta classificação a dança de salão é chamada de “Dança Esportiva”. Em seu vasto leque de estilos, a dança de salão tem tradicionalmente a “influência europeia com a valsa, o dinamismo do foxtrot, a sensualidade latina representada pelo tango e a salsa e a diversidade da cultura brasileira com o samba e o forro” (SEQUINEL, 2011, p. 33). Existem muitos gêneros de dança de salão: Baião, bachata, bolero, calipso, cha-cha-cha, côco, country, cumbia, forró, foxtrot, habanera, hustle, jive, lambada, lin- dy hop, mambo, maxixe, merengue, milonga, pagode, paso doble, quickstep, rancheira, rock, rumba, salsa, samba, son, soltinho, slow-fox, swing, tango, valsa, west coast swing, xote, zouk. (GIL, 2010, p. 6) Esta diversidade tem exigido dos dançarinos uma gran- de versatilidade corporal já que a cultura originária dos ritmos é impregnada nos movimentos básicos dançados/criados ca- racterísticas ímpares de cada gênero, muito da história de cada povo e de sua cultura. 64 M a rcelo G ra n g eiro Ball in the Concert Hall of the Winter Palace during the Official Visit of Nasir al-Din Shah in May 1873. 65 A i, p is a ra m n o m eu p é! 8.1 dAnçA de sAlão no BrAsil “Este livro é uma notável contribuição à reflexão e coloca a dança de salão num patamar técnico que deixa distante aquela visão estereotipada de que tudo se resume a bailes e passinhos. Ao colocar o ensino da dança de salão em dis- cussão, Marcelo Grangeiro abre novos campos ao pensa- mento. Que o nosso meio, sejamos francos, precisa muito.” Milton Saldanha, jornalista, 68 anos Segundo Giselle Fernandes Barbosa (2010, p. 33), a dança de salão chegou ao Brasil através dos colonizadores portugueses, no século XVI, e mais tarde, pela vinda de imi- grantes de outros países da Europa. Quando a valsa chega ao Brasil, ela desenvolve caracte- rísticas próprias, como andamentos bem lentos e um esquema de modulações semelhante ao da polca que foi dançada pela primeira vez no Brasil, por uma companhia de teatro francesa em 1845, no teatro São Pedro de Alcântara (PERNA, 2005, p. 16). O autor evidencia que inicialmente no Brasil a dança de salão só era praticada pela nobreza. Nesse mesmo momento histórico a classe baixa e alta desenvolviam suas danças: “en- quanto a camada social alta praticava as danças da moda da época, os escravos executavam suas danças típicas, que pos- teriormente influenciariam no desenvolvimento de novos gê- neros musicais e danças sociais como o Samba” (TONELI, 2007, p. 26). 66 M a rcelo G ra n g eiro Nessa época não havia a liberdade de hoje, tudo era ce- rimonioso e se passava sob os olhares vigilantes dos pais, ou dos irmãos. As moças iam para os bailes de “carnet”. Anota- vam-se aí os compromissos para as danças. Estava também na etiqueta da época o pedido cerimonioso para esta ou aquela dança. Como atitude corporal, o cavalheiro curvava-se ante a dama e solicitava a honra de dançar com ela a próxima valsa ou a próxima polca (ELLMERICH, 1964, p. 113). Dentro do processo de evolução da dança de salão no Brasil e do ponto de vista urbano: O primeiro gênero musical a fazer sucesso no Brasil foi o lundu no início do século XIX, porém sua dança (o lun- dum) não era a dois, enlaçada ou agarrada. O lundu(m) é uma dança campestre. Não se pode precisar quando a pala- vra apareceu no Brasil. As primeiras referências conhecidas remontam a data de 1780 e descrevem a dança como licen- ciosa e indecente. (PERNA, 2005, p. 18) É possível afirmar que naquela época o lundu(m) foi aceito por todas as classes sociais e fazia parte dos bailes, agradando tanto a classe média, quanto a alta burguesia como gênero de música e como dança. A moda do lundu(m) se es- tendeu desde os primeiros anosdo século XIX, até 1920. Em meados do século XIX e a partir do aparecimento da polca, em 1845, as casas impressoras de músicas começaram a lan- çar no mercado exemplares que denunciavam o processo de fusão do lundu(m) com outras danças binárias importadas. Depois do reinado do lundu(m), foi a vez do maxixe. O refe- rido autor ainda confirma: O maxixe foi a primeira dança urbana, de salão, a dois (e agarrada), a ter origem no Brasil, por volta de 1870. Era uma forma de dançar (abusada) não atrelada a um gênero musical específico, sendo inicialmente dançado ao som de polca, schottish (xôtis) e mazurka e posteriormente ao som 67 A i, p is a ra m n o m eu p é! de músicas brasileiras baseadas no tango. Ou seja, a dan- ça de salão maxixe surgiu antes do gênero musical maxixe. (PERNA, 2005, p. 26) Podemos perceber, chegando até a afirmar, que o maxi- xe foi o embrião do que hoje dançamos nos salões de todo o Brasil e quão importante foi para o desenvolvimento da dança de salão brasileira. Não se sabe exatamente quem foi o cria- dor dessa dança, o que se sabe é que as danças daquela época seguiam o modelo europeu de dançar. Posteriormente essas danças da corte passaram por um processo de adaptação, dos nobres para o povo, dando continuidade ao ciclo, pois no iní- cio esse caminho era feito de forma inversa. Depois desse período temos o surgimento de outras danças de salão brasileiras até chegarmos ao samba de ga- fieira4, bolero, soltinho, lambada, zouk, forró e outras. A mis- tura das raças, culturas, costumes, crenças do povo europeu, africano e indígena, foi o que verdadeiramente fez emergir a forma de dançar especificamente brasileira. Com o passar dos tempos essa forma foi se moldando de tal modo que pode- mos até afirmar que a dança se molda de acordo com a reali- dade contextual onde ela está inserida. A dança de salão brasileira é uma arte em constante evolução que além de demonstrar sua forma rica e plural, se enraíza em cada cultura absorvendo o meio expressando-se em movimento. Cada lugar tem suas características singulares na forma de dançar, obedecendo à ação de adaptação e emer- são. Sendo assim, cada um tem sua história, seus protagonis- tas, suas formas de se expressar, pensar, agir e que também pode ser revelada através das danças de salão. 4 Gafieira: É o local onde são realizados bailes com orquestras e dança de salão. Eram considerados como bailes de fuleiros. Um espaço aonde iam as classes menos favorecidas. Hoje, popularmente refere-se ao samba dançado a dois. Perna (2005, p. 71) 68 M a rcelo G ra n g eiro Madame Poças Leitão, uma senhora suíça que veio para São Paulo em 1914, fugindo da primeira guerra mundial, trou- xe para a cidade a forma francesa de ensinar dança, passando a ministrar essencialmente aulas de tango e de valsa para a sociedade (CIOLA, 2008, p. 18). Dentre as principais e mais executadas modalidades de dan- ça de salão presentes no Brasil estão o bolero, o soltinho (forma abrasileirada de dançar o swing americano), o samba, a salsa, o tango, o zouk e o forró. (RUTHES, 2007, p. 32) Para o ensino dos diferentes ritmos incluídos na dança de salão, diferentes professores, em diferentes épocas e por diferentes motivos, registraram (e ainda registram) suas múlti- plas contribuições à história desta dança social. No capítulo a seguir registramos alguns deles. Marcelo e Damyla – Navio Temático Tango e Milonga da Costa Cruzeiro. 69 A i, p is a ra m n o m eu p é! 8.1.1 Alguns dos principAis professores de dAnçA de sAlão nA sociedAde BrAsileirA Não poderíamos deixar de mencionar alguns dos prin- cipais personagens que ajudaram ou até mesmo escreveram a história da dança de salão no Brasil. Vamos nos ater às refe- rências bibliográficas. Professores ligados ao desenvolvimen- to da dança de salão desde o seu surgimento no Brasil até como a conhecemos hoje, enfatizando o Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Os primeiros professores de dança e de etiqueta, cuja fun- ção era assegurar que os jovens nobres dominassem as for- mas refinadas de comportamento que lhes assegurassem a aceitação no seu grupo social. (REGERT, 2007, p. 22) Joana Barreto Pontes nos relata quando apareceram os primeiros professores de dança de salão aqui no Brasil e por que vieram: “Professores europeus vieram ao nosso país para ensinar à nobreza brasileira, de modo que esta pudesse se atu- alizar com o que acontecia na Europa em relação à dança” (2011, p. 24). No Rio de Janeiro, celeiro da dança de salão, ela cres- ceu inicialmente graças à figura da grande professora de dança de salão Maria Antonietta Guaycurús de Souza. Em seguida vieram grandes nomes que, além de ostentar e ex- pandir a cultura da dança de salão no Brasil, tornaram o nos- so bolero, o zouk, o samba no pé e de gafieira famosos no 70 M a rcelo G ra n g eiro mundo todo, dando uma nova roupagem na forma de dançar e ensinar. Destes, Cesar (2012, p. 8), Barbosa (2010, p. 29) e Perna (2005, p. 167-181) evidenciam os nomes de Carlinhos de Jesus, Jaime Arôxa e Jimmy de Oliveira. 71 A i, p is a ra m n o m eu p é! 8.1.2 Alguns dos principAis professores dA cidAde do rio de JAneiro – rJ Uma das figuras mais importantes e marcantes do ce- nário da dança de salão nacional foi Maria Antonietta. Nas- ceu no ano de 1927, em Manaus e se mudou para o Rio de janeiro quando ainda era criança. Desde criança, em Manaus, onde morava, ela dançava de forma livre e intuitiva, mas foi nas gafieiras do Rio de Janeiro que aperfeiçoou sua dança. Aos dezessete anos ela já era auxiliar de dança na Academia Moraes de dança de salão. Quando a escola Moraes fechou, Antonietta alugou uma pequena sala e começou a dar aulas individuais. Durante os famosos bailes da Elite/ Gafieira, popularmente conhecida na Praça da República. Quando ela começava a dançar chamava logo muita atenção devido a sua elegância. Nessa época, por mais que todos dançassem bem e pelo processo de aprendizagem acontecer neste espaço, aque- les que não tinham aulas com Maria Antonietta dançavam de forma “copiativa”, e como resultado, os dançarinos não tinham elegância e domínio técnico dos passos. “Antonietta dizia que antigamente os instrutores de dança de salão traba- lhavam apenas corrigindo passos e as aulas eram entre alu- nos” (PERNA, 2005, p. 97). Podemos perceber que as aulas em grupos já aconteciam, mas não apresentavam uma forma em que o professor dava aulas para todos da turma, parecen- do serem aulas mais individualizadas. Ela foi professora de Rachel Mesquita, parceira de Carlinhos de Jesus e parceira e 72 M a rcelo G ra n g eiro professora de Jaime Arôxa, grandes nomes da dança de salão que mencionaremos abaixo. Carlos Augusto da Silva Caetano de Jesus, mais conhe- cido como Carlinhos de Jesus. Carioca de Cavalcante nas- ceu no dia 27 de janeiro de 1953, formou-se em Pedagogia e desenvolveu sua dança nas gafieiras tradicionais como o Elite Clube, Clube Paratodos, Pavuna, Vera Cruz, dentre outros lugares. Aprendeu a dançar vendo os grandes dançarinos nas pistas e no final da década de 1980, Carlinhos de Jesus se tornou um ícone de grande presença e carisma cenográficos e passou a chamar a atenção da mídia e do público para a dança de salão. Observou-se que ele foi pioneiro na divulgação da dança de salão carioca por praticamente todo o Brasil, abrindo as portas, inclusive, deste estilo de dança, no festival de Join- ville. (PERNA, 2005, p. 104) Trabalhou como dançarino e coreógrafo e conseguiu reconhecimento público quando trabalhou com a cantora Elba Ramalho, fazendo shows em 1989. Por muito tempo sua academia foi dirigida pela dançarina e sócia Stelinha Cardoso. Carlinhos de Jesus teve sua primeira turma de dança de salão em 1983 (PERNA, 2005, p. 168). Hoje no cenário nacional é reconhecido pelos profissionais como o embaixador e ícone da dança de salão. Jaime Arôxa (Jaime Alves Arôxa Neto) nasceu em Recife,
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