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PRÁTICA JURÍDICA PENAL Professora: Sonia Fátima Brandão 1 QUEIXA CRIME – MATERIAL DE APOIO A queixa-crime é a petição inicial acusatória no âmbito da ação penal de iniciativa privada (propriamente dita, personalíssima e subsidiária da pública), de modo que deverá ser oferecida por advogado constituído nos autos com poderes especiais, nos termos do artigo 44 do CPP. AÇÃO PENAL PRIVADA - QUERELANTE (AUTOR DA AÇÃO/VÍTIMA) E QUERELADO (RÉU/OFENSOR) O titular é o ofendido ou seu representante legal (e não o MP., embora manifeste-se nos autos, como custus legis - fiscal da lei) que a promove através de queixa, requerimento que deve ser elaborado nos moldes da denúncia do MP. Na parte especial do código, diz: "somente se procede mediante queixa". Diferentemente da representação, que não exige formalidades, a queixa equipara-se à denúncia do Ministério Público, e, portanto, deve estar revestida de todas as formalidades obedecendo ao rito do artigo 41, do Código de Processo Penal, sob pena de não ser recebida pelo Juiz PRÁTICA JURÍDICA PENAL Professora: Sonia Fátima Brandão 2 Embora o titular da ação seja o ofendido não quer dizer que pode punir o ofensor, mas pode apenas requerer a atuação do Estado-Juiz. Na ação penal privada, o direito de queixa deve ser exercido no prazo de seis meses, a contar do dia em que o ofendido ou seu representante legal vier a saber quem é o autor do fato, sob pena de "decadência". Na ação penal privada, pode o ofendido renunciar expressa ou tacitamente. RENÚNCIA EXPRESSA: quando há declaração inequívoca, com assinatura do ofendido ou de seu representante legal. RENÚNCIA TÁCITA: quando resultante da prática de atos incompatíveis com o exercício do direito de queixa (exemplo: se o ofendido janta na casa do ofensor). A indenização não retira do ofendido o direito de queixa-crime, isto porque, aquela gravita no campo financeiro, enquanto a última no campo penal. A renúncia expressa ou tácita só pode ser praticada "antes" do recebimento da queixa pelo juiz. Depois de recebida a queixa pelo juiz, o ato a ser praticado é o perdão do ofendido (art. 105/106, do CP), que não deve ser confundido com o perdão judicial, que é aquele concedido pelo juiz, nem com a retratação do querelado. O perdão do ofendido só é cabível "antes" do trânsito em julgado da sentença. O perdão também pode ser expresso ou tácito. PRÁTICA JURÍDICA PENAL Professora: Sonia Fátima Brandão 3 Se o perdão for concedido a um dos querelados (ofensor), estende-se aos demais. Todavia, quando há mais de um querelante (ofendido), o perdão dado por um deles não prejudica o direito dos outros querelantes (ofendidos) de prosseguir na ação. Caso o querelado (ofensor) recuse o perdão, este não produzirá efeito. Havendo dois ou mais querelados (ofensores), pode um deles não aceitar o perdão, caso em que a ação prosseguirá somente contra ele. Exemplo: Há três querelados (ofensores) em um querelante (ofendido), este perdoa apenas um deles, todos os outros automaticamente serão perdoados. Exemplo: Há três querelantes ofendidos), um deles perdoa o querelado (ofensor), os outros dois querelantes podem prosseguir no processo. Exemplo: Há um querelante (ofendido) e um querelado (ofensor), e o querelante o perdoa, porém, o querelado recusa o perdão, o processo continua. PRÁTICA JURÍDICA PENAL Professora: Sonia Fátima Brandão 4 Conclui-se, portanto, que a renúncia e o perdão, expresso ou tácito, só é cabível na ação penal privada, e a diferença existente entre eles é que a renúncia somente pode ocorrer "antes" do recebimento da queixa pelo juiz (é a desistência de exercer o direito de queixa) e o perdão ocorre "depois" de iniciada a ação penal, porém "antes" do trânsito em julgado da decisão. DIVISÃO DA AÇÃO PENAL PRIVADA EXCLUSIVA, PRINCIPAL OU SIMPLES - quando só o ofendido ou seu representante legal podem exercê-la. PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA - é aquela intentada pelo ofendido ou por seu representante legal, quando houver inércia do Ministério Público. Portanto, cabe ação subsidiária somente quando houver inércia do promotor, por exemplo; nos casos de ação penal pública, quando o promotor não oferece a denúncia dentro do prazo (5 dias para réu preso - 15 dias réu solto), o ofendido ou seu representante legal a promovem através de queixa), ressaltando que ela permanece como ação penal pública. A oferta da queixa, pelo interessado, não afasta seu caráter de ação penal pública. PRÁTICA JURÍDICA PENAL Professora: Sonia Fátima Brandão 5 Tal medida não cabe quando o inquérito policial for arquivado. Ressalta-se, ainda que a vítima tem o prazo de 6 (seis) meses para propor a queixa subsidiária, iniciando a contagem a partir do dia que se encerra o prazo para o Ministério Público oferecer a denúncia. Se a vítima não usar deste direito (não será extinta a punibilidade do agente pela decadência já que se trata de ação penal pública), o Ministério Público pode oferecer a qualquer tempo a denúncia desde que não tenha ocorrido a prescrição. PERSONALÍSSIMA - é aquela que só pode ser intentada pelo ofendido, não há possibilidade da figura do representante legal, de sucessão por morte, apresentação de queixa-crime por procurador/representante, como por exemplo, o induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento de casamento (art. 236, do CP), que depende de queixa do contraente enganado. PRINCÍPIOS QUE REGEM A AÇÃO PENAL PRIVADA OPORTUNIDADE/CONVENIÊNCIA DISPONIBILIDADE INDIVISIBILIDADE INTRANSCENDÊNCIA PRÁTICA JURÍDICA PENAL Professora: Sonia Fátima Brandão 6 PUBLICIDADE PRAZO - DECADÊNCIA DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO E DE QUEIXA O prazo decadencial do direito de representação e de queixa (que não é contado para requisição do Ministro da Justiça) é, em geral de seis meses (artigo 38, CPP), contado da data em que o ofendido ou seu representante legal toma conhecimento do fato. Nos crimes de ação privada, o inquérito só será instaurado mediante requerimento escrito do ofendido ou de seu representante legal, quando necessário (esse requerimento não se confunde com a queixa-crime, que deve ser proposta perante o Poder Judiciário). Quando o advogado é procurado para promover ação penal privada e houver necessidade de inquérito, deverá obter a procuração para ambos os fins: instauração de inquérito e oferecimento de queixa, ressaltando que na procuração já deve descrever o fato típico, sob pena de ser rejeitada a queixa-crime. Cabe esclarecer que, na ação penal privada, o direito de queixa se exerce em juízo. É claro que o simples fato de haver a vítima requerido a instauração de inquérito dentro do prazo não elide a decadência (ou seja, não suspende a contagem do prazo, razão pela qual deve o advogado ficar atento quanto à sua tramitação) pois o que a lei quer é a que queixa-crime seja oferecida dentro do prazo de seis meses perante o juízo. Já em se tratando de ação penal pública condicionada à representação a instauração de inquérito policial suspende o prazo PRÁTICA JURÍDICA PENAL Professora: Sonia Fátima Brandão 7 decadencial, vez que a lei permite (art. 39) seja ela feita perante a autoridade policial, promotor de justiça e juiz. A queixa-crime não, somente pode ser proposta perante o poder judiciário. Não existe decadência no curso da ação penal, visto que a decadência abrange a perda do direito de queixa e representação, isto é, antes de iniciar a ação penal. No curso da ação penal privada pode ocorrer a perempção, já que esta se refere à inércia do querelante em dar andamento no processo. Assim, não existe perempção antes da instauraçãode processo. Conta-se o prazo de seis meses da data (inclui-se o dia do começo) em que o ofendido ou seu representante legal toma conhecimento do fato, sendo certo que, como se trata de prazo decadencial não há prorrogação, por exemplo, se o último dia for feriado, final de semana, o protocolo deve ocorrer no dia anterior. PRÁTICA JURÍDICA PENAL Professora: Sonia Fátima Brandão 8 O que acontece se a ação penal privada não for proposta contra todos SE A OMISSÃO FOI VOLUNTÁRIA SE A OMISSÃO FOI INVOLUNTÁRIA Renunciando o direito de queixa em relação a Pedro, isso também beneficiará João. Isso porque o CPP prevê que “a renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá” (art. 49). Em suma, se o querelante deixou, deliberadamente, de oferecer queixa contra um dos autores ou partícipes, o juiz deverá rejeitar a queixa e declarar a extinção da punibilidade para todos (arts. 104 e 109, V, do CP). Todos ficarão livres do processo. Ex: João e Pedro praticaram o crime contra Maria. Ela propõe a queixa apenas contra João e deixou Pedro de fora porque é seu amigo. Entende-se que ela renunciou tacitamente ao seu direito de processar Pedro. Veja um precedente do STJ que corrobora essa ideia: (...) O reconhecimento da renúncia tácita ao direito de queixa exige a demonstração de que a não inclusão de determinados autores ou partícipes na queixa-crime se deu de forma deliberada pelo querelante. Se ficar demonstrado que a omissão de algum nome foi involuntária (ex: o crime foi praticado por João e Pedro, mas o querelante não sabia da participação deste último), então, neste caso, o Ministério Público deverá requerer a intimação do querelante para que ele faça o aditamento da queixa-crime e inclua os demais coautores ou partícipes que ficaram de fora. Se o querelante fizer o aditamento: o processo continuará normalmente. <!- Se o querelante se recusar expressamente ou permanecer inerte: o juiz deverá entender que houve renúncia (art. 49 do CPP). Assim, deverá extinguir a punibilidade em relação a todos os envolvidos. Obs.: o querelante só poderá incluir o outro autor/partícipe se ainda estiver dentro do prazo decadencial de 6 meses. PRÁTICA JURÍDICA PENAL Professora: Sonia Fátima Brandão 9 ESTRUTURA DE PETIÇÃO PARA ELABORAÇÃO DA PEÇA - QUEIXA Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz ...................... (O endereçamento da peça queixa crime depende da competência, por exemplo, Justiça Comum Estadual, Justiça Comum Federal, Juizado Especial Criminal, etc..). (Não tem sido pontuado pela OAB o espaçamento entre o endereçamento e o início da petição, mas sugere-se, pular cinco ou dez linhas) (Nome), (nacionalidade), (estado civil), (profissão), portador da cédula de identidade R.G. nº xxxxx e inscrito no CPF/MF nº xxxxxx, por intermédio de seu advogado e bastante procurador que esta subscreve, procuração anexa (Doc.), vem à presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 30 do Código de Processo Penal (aqui é necessário observar qual fundamento legal, pois dependendo do tipo da ação penal privada o artigo muda, por exemplo: na ação penal privada subsidiária da pública) propor a presente QUEIXA-CRIME Em face de (qualificar o querelado se conhecida a autoria), pelos motivos que a seguir passa a expor: DOS FATOS ➢ ELABORAR UMA SÍNTESE DO OCORRIDO DO DIREITO ➢ É A PARTE MAIS IMPORTANTE DA PEÇA, OU SEJA, HÁ NECESSIDADE DE SE FUNDAMENTAR, ARGUMENTANDO, PESQUISANDO DOUTRINA, SÚMULAS, ETC. ➢ DEVE SER INDICADO O TIPO PENAL OU OS TIPOS PENAIS INFRINGIDOS PELO(A) QUERELADO(A) ➢ POR EXEMPLO: O ARTIGO 140 DO CÓDIGO PENAL DIZ QUE: PRÁTICA JURÍDICA PENAL Professora: Sonia Fátima Brandão 10 DO PEDIDO Diante do exposto, REQUER (nunca utilize a primeira pessoa do verbo, por exemplo: requeiro, peço) a Vossa Excelência, após manifestação do Ministério Público, o recebimento da presente queixa crime (observar o tipo de queixa....), determinando a citação do querelado para responder a presente ação penal, com a intimação das testemunhas abaixo arroladas e, ao final, a procedência total desta ação, condenando o (s) querelado(s) por infringência do(s) artigo(s)....................(caso tenha situação de aumento de pena deve ser descrita). Requer, ainda, a fixação de valor mínimo de indenização a ser pago pelo querelante nos termos do artigo 387, IV, do Código de processo Penal. Termos em que, Pede e espera deferimento. Local, data ROL DE TESTEMUNHAS 1. Nome..., Residência... 2. Nome..., Residência... 3. Nome..., Residência... 4. Nome..., Residência... 5. Nome..., Residência... 6. Nome..., Residência... 7. Nome..., Residência... 8. Nome..., Residência... PRÁTICA JURÍDICA PENAL Professora: Sonia Fátima Brandão 11 OBSERVAÇÕES GERAIS O ROL DE TESTEMUNHAS DEPENDE DO RITO PROCESSUAL ADOTADO Rito Ordinário – 08 testemunhas – Fundamento Legal Artigo 401 do CPP - Art. 401. Na instrução poderão ser inquiridas até 8 (oito) testemunhas arroladas pela acusação e 8 (oito) pela defesa. Rito Sumário – 05 testemunhas – Fundamento Legal Artigo 532 do CPP - Art. 532. Na instrução, poderão ser inquiridas até 5 (cinco) testemunhas arroladas pela acusação e 5 (cinco) pela defesa. Rito Sumaríssimo – 03 testemunhas – Fundamento Legal – Artigo 81 da Lei n° 9.099/95 - Aplicação subsidiária do artigo 34, da mesma Lei. Rito Júri Sumário da Culpa (1° fase do sistema bifásico) – 08 testemunhas – Fundamento Legal Artigo 406, § 3° do CPP - § 3o Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares e alegar tudo que interesse a sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, até o máximo de 8 (oito), qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário. Rito Júri Plenário (2° fase do sistema bifásico) – 05 testemunhas Artigo 422 do CPP. Ao receber os autos, o presidente do Tribunal do Júri determinará a intimação do órgão do Ministério Público ou do querelante, no caso de queixa subsidiária, e do defensor, para, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas que irão depor em plenário. PRÁTICA JURÍDICA PENAL Professora: Sonia Fátima Brandão 12 SENDO CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO Em se tratando de rito especial - Juizado Especial Criminal- em razão da pena (não superior a 2 anos), deve-se pedir a audiência de conciliação prévia, conforme prevê o art. 69 em diante (fase preliminar) da Lei n. 9.099/95. https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11305789/artigo-69-da-lei-n-9099-de-26-de-setembro-de-1995 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/103497/lei-dos-juizados-especiais-lei-9099-95
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