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AULA 2 FERRAMENTAS BIM EM GESTÃO DE PROJETOS Prof. Norimar Ferraro 2 CONVERSA INICIAL Em uma época de mudanças drásticas, são os que têm capacidade de aprender que herdarão o futuro. Quanto aos que já aprenderam e se julgam cultos, estes se descobrirão equipados para viver em um mundo que não existe mais. (Eric Hoffer) Nesta aula poderemos compreender com mais propriedade os conceitos mais importantes da tecnologia BIM. Entenderemos de que forma ela se insere em todo o ciclo de vida de uma edificação e como os profissionais a utilizam. Será vista também a importância do trabalho colaborativo, um dos principais diferenciais dos sistemas BIM. BIM é uma abreviação do termo Building Information Modelling, cuja tradução seria “modelagem da informação da construção”, o que não nos permite entender com precisão a que exatamente ela se refere. Trata-se de um termo que serve mais para denominação de tecnologia. Para uma compreensão mais profunda, devemos entender as diversas implicações de seu uso em relação ao processo de projeto, construção e uso de uma edificação. Este é o conteúdo que será visto nesta aula. TEMA 1 – O QUE NÃO É TECNOLOGIA BIM Se analisarmos a definição da tecnologia BIM, dentre os mais diversos autores, é difícil sua compreensão. Não se pode ter uma precisa noção, justamente por se tratar de um processo e não exatamente um mero software que realiza diversas funções. Suas definições tentam descrevê-la de forma sintética, quando na verdade é necessária uma análise de como ela se aplica nas diversas etapas do ciclo de vida das edificações. Dentre as definições existentes, uma delas (BIM..., 2019) descreve o BIM como um conjunto de políticas, processos e tecnologias que, combinados, geram uma metodologia para gerenciar o processo de projetar uma edificação ou instalação e ensaiar seu desempenho, gerenciar as suas informações e dados, utilizando plataformas digitais (baseadas em objetos virtuais), através de todo seu ciclo de vida. Pode-se perceber que, ao entender o sentido das palavras, uma série de dúvidas e outras definições se tornam necessárias para sua compreensão. Assim sendo, iniciaremos a sua descrição, entendendo primeiro o que não é tecnologia BIM. Isso possibilita, de maneira mais clara, a diferenciação dos sistemas de 3 softwares em uso, como o CAD, que gerenciam e trabalham informações de modo restrito. Como um primeiro aspecto, devemos entender que nem tudo que é 3D é BIM, mas, se for BIM, tem que necessariamente ser 3D. Isso porque muitos softwares possuem uma ampla capacidade de modelagem, inclusive com denominações de elementos construtivos, porém não vão além da simples geometria e identificação dos objetos. São bons para a visualização da edificação, mas não servem para as análises, simulações do objeto, ou mesmo a integração dos dados do projeto, condição fundamental para a tecnologia BIM. Existem alguns softwares que utilizam múltiplas referências 2D do projeto e emulam modelos tridimensionais, porém, não permitem a extração automática de quantidades, nem é possível analisar ou simular com base nesse modelo virtual, não se encaixando também no conceito BIM. Como visto anteriormente, a parametrização é um conceito de grande importância para a tecnologia BIM. Existem no mercado alguns softwares que são capazes de realizar projetos nas diferentes disciplinas (arquitetura/ estruturas/ instalações), mas cujos objetos ou elementos geométricos não têm a capacidade paramétrica de modificá-los de forma inteligente. Isso faz com que seu uso seja bastante demorado, quando as alterações se tornam necessárias. As incompatibilidades e inconsistências dos projetos também não são facilmente detectadas. Eastman (2011) acrescenta, no caso de parametrização, que um sistema que não tem suporte para comportamento não seria uma tecnologia BIM. Em outras palavras, um software que não permite que seus objetos possam ser ajustados em suas dimensões ou posicionamento no modelo não utilizaria a inteligência paramétrica. No caso citado antes, no capítulo da parametrização, no qual a janela seria inserida somente numa parede, devemos levar em conta que a altura do peitoril da janela está referente ao objeto parede. Assim, a alteração da informação referente à sua dimensão altera os dois objetos simultaneamente. Outro conceito importante é a atualização automática de todos os desenhos e tabelas de dados extraídos do projeto, para cada alteração que seja necessária. Sem isso, a verificação de incompatibilidades e a revisão do projeto pode ser precária, se não houver extremo cuidado, durante o processo, de acompanhar todas as interferências. As soluções BIM utilizam, além do modelo virtual da edificação e suas vistas geométricas, tabelas e planilhas que traduzem as informações numéricas 4 das geometrias e propriedades dos elementos construtivos. Essas tabelas devem obrigatoriamente se atualizar nos sistemas BIM, quando feitas alterações em sua geometria e vice-versa. Uma alteração no valor da tabela também altera a geometria. Sendo assim, as soluções 3D que não atuam como gestores de bancos de dados integrados não são BIM. Nos temas subsequentes veremos duas características de grande importância na tecnologia BIM, a saber: modelo compartilhado e trabalho colaborativo. Isso significa que o modelo 3D BIM deve permitir que vários profissionais trabalhem simultaneamente no mesmo objeto, como também que exista a interação deles durante o processo. Nesta aula veremos também os diferentes ciclos de vida de uma edificação, desde a concepção até seu uso. Por definição, o BIM deve atuar em todas as suas fases, e as soluções que não as contemplam não podem ser consideradas BIM. Como conclusão do tema, podemos definir, de forma básica, uma solução BIM, aquela que possui um modelo 3D compartilhado, contendo informações igualmente compartilhadas e manipuladas. Deve permitir um trabalho colaborativo dentre os diferentes ciclos de vida da edificação. Suas informações devem também ser armazenadas e atualizadas de forma automática, podendo ser exportadas para diferentes softwares e bancos de dados. TEMA 2 – O MODELO BIM (MODELO FEDERADO) Anteriormente citamos que os sistemas CAD até então utilizados trabalhariam com o projeto como representação gráfica e que os profissionais envolvidos trabalhariam de forma isolada; nestes, as informações são meramente coletadas, desenhadas e distribuídas entre os projetistas, num intenso fluxo de informações. Isso torna o processo de compatibilização das interferências um trabalho de extremo cuidado e propenso a problemas na construção, quando ausente ou feito de forma parcial ou deficiente. Na seguinte ilustração podemos entender o fluxo de informações comparativas entre os sistemas de projetos antes do BIM (modelo não compartilhado) e o modelo BIM (compartilhado ou federado): 5 Figura 1 – Comparação entre modelo tradicional de projetos e modelo compartilhado Fonte: CBIC, 2016 Percebe-se, na imagem à esquerda, a necessidade de troca intensa de informações entre diferentes atores do trabalho projetual. Nesse modelo, toda e qualquer alteração no projeto deve ser compartilhada entre os diferentes atores, a fim de que não haja incompatibilidades ou erros de projeto. Erros e omissões nos documentos impressos ou digitais compartilhados levam frequentemente a problemas na execução da obra e também a disputas judiciais. Por outro lado, no modelo BIM denominado compartilhado ou federado, todos os atores trabalham em um mesmo modelo tridimensional virtual, possibilitando, assim, a divisão do trabalho e a percepção imediata das alterações em qualquer disciplina. Historicamente, o BIM se desenvolveu em algumas fases definidas: o BIM 1.0, a fase mais antiga na qual o modelo virtual era desenvolvido em uma plataforma,com atualização automática de desenhos, vistas etc., sem, contudo, ter a participação de diferentes profissionais em um modelo compartilhado. O BIM 2.0, que passou a integrar esses profissionais em um modelo compartilhado, inclusive incluindo informações relativas ao cronograma e custos, tendo, porém, problemas na interoperabilidade (a ser vista em breve), que trata do intercâmbio das informações entre diferentes softwares. A fase atual, BIM 3.0, evoluiu para a integração de todos os agentes envolvidos no empreendimento e resolve a 6 questão de interoperabilidade por meio de protocolos IFC (Industry information classes), também explicados em breve. Com base nessas definições citadas, entende-se o grau de maturidade que as empresas possuem em relação ao uso do BIM. A migração para os sistemas BIM não é de modo algum isenta de dificuldades. Por isso, no início da transição, muitas empresas se limitam a trabalhar dentre os modelos BIM 1.0, e uma empresa que atua nessa condição se diz trabalhar em BIM nível 1. Somente após adquirirem experiência com as ferramentas e realizarem o treinamento da equipe, sentem-se seguras para avançar em modelos BIM 2 e 3.0, ou níveis 2 e 3. A dificuldade de se trabalhar em um modelo compartilhado é a de que todos os profissionais envolvidos devem, sobretudo, ter plena capacitação de trabalho com os softwares, a fim de promover um trabalho produtivo. Segundo, deve-se definir de modo antecipado a qualidade de informações e modelagem dos modelos compartilhados (LOD – level of development), a ser visto posteriormente. É preciso garantir que informações e a que nível de detalhe serão compartilhadas. Por último, deve haver uma gerência do projeto como um todo, responsável pela definição da qualidade e do fluxo de trabalho BIM. TEMA 3 – O TRABALHO COLABORATIVO O trabalho colaborativo é com certeza um dos pontos mais importantes e salientados sobre as vantagens do BIM, tanto em livros como palestras. A indústria da construção civil é caracterizada pelo fato do processo de projeto e construção raramente ser feito dentro de uma mesma empresa. Isso implica na troca de informações e consequentemente em diferenças de metodologias e velocidade de trabalho, bem como sua qualidade. O projeto tradicional em CAD não facilitava a integração dos agentes envolvidos nos projetos e obra, o que, de certa forma, representava um esforço maior, tornando o trabalho mais moroso e complexo. Mesmo com o surgimento de softwares 3D mais “inteligentes”, a integração dos diversos agentes ainda era inócua e deficiente. Apenas com o surgimento do BIM foi possível o trabalho colaborativo em um modelo único e virtual. Nos modelos compartilhados iniciais, a troca de informações do modelo virtual era feita de “mão única”, em que as informações se originavam em uma disciplina (arquitetura, por exemplo) e as demais só conseguiriam importá-las. Somente a partir da criação das IFC, classes ou famílias que definem o modelo 7 virtual, é que foi possível passar-se para um modelo compartilhado inteligente o suficiente para proporcionar sua interoperabilidade, e assim o trabalho colaborativo mais eficiente. Foi possível, com esse avanço, o trabalho de troca de informações em “mão dupla”. Porém, o trabalho colaborativo envolve a questão da troca de informações e a confiança decorrente dela. É sabido que as empresas de projeto e construção desenvolvem, há tempos, objetos e templates próprios, a fim de otimizar seu trabalho de produção de projetos. Mesmo na era do uso do CAD, os escritórios desenvolviam blocos de desenho próprios, que implicavam em custo de produção. O mesmo ocorre com os modelos BIM, nos quais há objetos e “famílias” próprias, desenvolvidas com a experiência e custo das empresas. Por isso, só se pode pensar em trabalho colaborativo que seja de modo totalmente “integrado”. Informações, famílias e componentes seriam armazenados em um servidor único, ou mesmo na “nuvem”, que supririam todos os modelos multidisciplinares e a troca justa de dados e informações. Não obstante, é um processo irreversível na construção civil e as empresas ou se adaptarão ou serão extintas. Talvez você esteja perguntando, mas como funciona, na prática, esse trabalho colaborativo dentro do software? Como citado, no trabalho colaborativo, o modelo federado ou compartilhado é acessado por meio de um servidor central. Esse modelo é também chamado modelo central. Com base nele, outros submodelos virtuais do projeto são criados e dependentes do modelo central. Podem estar armazenados dentro da rede de um escritório, ou em uma rede externa ou “nuvem”. Isso permite o trabalho integrado com profissionais de diferentes localidades em uma cidade e até mesmo em outros países. Um projeto sendo elaborado no Brasil pode ter colaboradores situados na Austrália, por exemplo. No início do trabalho, um escritório cria o modelo central e, após isso, distribui o modelo para outros profissionais, que terão permissões totais ou parciais de interferir no modelo central. Essas permissões podem se referir, por exemplo, ao trabalho em um pavimento específico ou a uma parte das instalações, como hidráulica ou elétrica. No software Revit, a designação das partes a serem trabalhadas são denominadas worksets, como ilustrado na Figura 2: 8 Figura 2 – Organização de compartilhamento do modelo central BIM Fonte: Campos Netto, 2016 A criação dos worksets permite a coordenação entre os vários membros da equipe, que podem alterar o modelo central somente mediante à solicitação de permissões. Os worksets são flexíveis e permitem diferentes organizações de projetos e colaboração, dependendo da complexidade do projeto e da intenção do seu coordenador. TEMA 4 – OS SISTEMAS BIM E O CICLO DE VIDA DO EMPREENDIMENTO Temos visto, até aqui, que os sistemas BIM não são meramente uma ferramenta de substituição ao CAD, que basicamente é utilizado apenas em projetos. O BIM atuaria em todo o ciclo de vida de um empreendimento, desde a sua concepção à sua utilização. Iremos descrever nesse tema, com mais precisão, quais são as fases de um empreendimento. Numa descrição mais ampla, uma edificação possui três fases distintas, a saber: pré-obra, obra e pós-obra. Quadro 1 – Fases do ciclo de vida de um empreendimento PRÉ-OBRA CONCEPÇÃO E VIABILIDADE PROJETO LICITAÇÃO E CONTRATAÇÃO OBRA CONSTRUÇÃO PÓS-OBRA COMISSIONAMENTO USO E OPERAÇÃO MANUTENÇÃO E MONITORAMENTO DESCOMISSIONAMENTO 9 A fase de pré-obra compreende as fases de criação, projeto e preparação para a construção da edificação. Um projeto normalmente se inicia nas etapas de concepção e conceituação, nas quais, em empreendimentos de maior porte, o arquiteto, o proprietário, investidores e mesmo profissionais de venda e marketing interagem no sentido de se estudar a viabilidade e o briefing1 do projeto. Essa fase é de fundamental importância para o sucesso da obra e nela são vistos aspectos que influenciam a configuração do edifício, seus aspectos estéticos e funcionais, e, em consequência, seu custo. Ao contrário do que normalmente se imagina, os softwares BIM possuem ferramentas de modelagem de massas conceituais (sólidos básicos para concepção rápida de alternativas de projeto), equivalentes a modeladores tridimensionais tradicionais, e de apresentação por meio de imagens renderizadas2. Porém, estes não se resumem apenas a isso, pois permitem a produção de dados como áreas, custos e especificações, integrando com planilhas de custos, e possibilitando uma rápida avaliação financeira do empreendimento. Os modelos básicos elaborados pelas ferramentas BIM permitem também simulações e avaliações preliminares, como insolação, por exemplo, que já na fase conceitual irá conduzir a soluções de projeto mais sustentáveis. As primeiras avaliações de custo,desenvolvidas nessa fase de concepção, são baseadas normalmente em dados históricos conhecidos, como custo por metro quadrado de edificações, que são genéricos. As ferramentas BIM podem fornecer, com rapidez, mesmo nas fases preliminares, alternativas de sistemas construtivos, mais precisas em relação às estimativas de custo por m2. Não somente o custo é importante na fase de viabilidade, mas os estudos iniciais podem revelar os riscos e o nível de aceitação ou rejeição do projeto. Nessa questão, as simulações e análises elaboradas com rapidez pelos sistemas BIM são cruciais para a tomada de decisões. Quanto mais se aproxima das fases finais do projeto para alterações projetuais, maior será a dificuldade e o custo dessas modificações. Após a fase inicial de concepção, temos todas as fases de desenvolvimento de projetos arquitetônicos e complementares e nelas o BIM mostra a sua força. Requer, entretanto, uma mudança metodológica na forma de se projetar para que 1 Traduzido do inglês como “instruções”, o briefing é um conjunto de informações ou uma coleta de dados passados em uma reunião para o desenvolvimento de um trabalho ou documento. 2 Imagens renderizadas são vistas realistas de um projeto em realidade virtual, calculadas por software. 10 se tenha pleno uso de seus recursos. O modelo central e o trabalho colaborativo conduzem a uma redução significativa de trabalho e retrabalho, pois evita a necessidade de se iniciar novos desenhos e novos modelos tridimensionais a cada fase e tipo de projeto. Leva, inclusive, a uma redução do trabalho de compatibilização de projetos, antes realizada em sua maior parte somente após a conclusão dos projetos. A compatibilização é fundamental para se evitar erros na execução de obras, e no Brasil ainda é feita de modo precário no sistema atual de se projetar e construir, pois implica custos. Um aspecto importante na fase de projetos é o atendimento às normas de desempenho de edificações (ABNT NBR 15575/2013), envolvendo a responsabilidade dos projetistas e contratantes. Os sistemas BIM, por meio da especificação mais detalhada da informação dos sistemas construtivos e todos os componentes, favorecem seu atendimento. No que se refere à fase de licitação e contratação, podemos afirmar que os sistemas BIM têm sua contribuição no sentido de proporcionar uma maior exatidão de orçamentos e especificações. No caso de obras públicas, garante também uma maior transparência nas licitações, contribuindo para a redução na corrupção nessas áreas. A fase de construção propriamente dita tem como um dos principais desafios o sucesso no planejamento das etapas construtivas, de forma a garantir o cumprimento dos prazos contratuais. O modelo BIM elaborado na fase de projeto não contempla esse estudo e deve ser desenvolvido com base nele um modelo adaptado a essa tarefa. O planejamento do canteiro de obras, com seus espaços para maquinários e alojamentos, dimensionamento das equipes de trabalho, a fabricação e montagem de componentes, podem ser planejados e controlados com base em um modelo BIM específico para essa fase. Normalmente, esse modelo não é contratado na fase de projeto, porém realizado pelas próprias construtoras nas fases iniciais da obra. Alguns softwares BIM permitem inclusive a visualização da sequência das atividades programadas, por meio de animações virtuais. Após a conclusão da obra, que denominamos anteriormente de pós-obra, pode ser desenvolvido um modelo BIM que servirá de base de dados e referência para a gestão do uso, operação e manutenção da edificação. Esse modelo BIM contemplará não só a especificação dos elementos construtivos da arquitetura, mas a relação dos componentes dos sistemas de projetos complementares. Pode 11 detalhar também a especificação do mobiliário adquirido, com informações de fabricantes, modelos, garantias, custos etc. O importante nesse modelo é a organização dessas informações, que devem fornecer sua exata localização dentro da edificação. Considerando-se o longo tempo de vida útil de uma edificação, pode-se imaginar todas as mudanças que ocorrem, bem como seu desgaste e necessidade de renovação. Para aqueles que trabalham com a manutenção dos edifícios, o modelo BIM traz vantagens diversas. Primeiro, possibilita um melhor uso do espaço, visto que sua visualização no modelo proporciona seu gerenciamento e otimização das instalações. Favorece também a criação de programas de manutenção predial mais efetivos, bem como uma análise energética constante e que possa ser aprimorada com o surgimento de novas tecnologias nessa área. Por último, ainda se relacionando à manutenção, os proprietários podem tomar decisões de compra, entendendo melhor onde esses custos são distribuídos. Com base nessas considerações, podemos classificar os modelos BIM em quatro categorias básicas: Modelo BIM de projeto ou modelos autorais – referem-se à cada uma das disciplinas de projetos, sejam de arquitetura ou complementares. Eles definem a edificação a ser construída, tendo como objetivo a coordenação entre as diferentes disciplinas, análises diversas, como custos e de desempenho, bem como a produção de toda a documentação que será utilizada na fase de construção. Modelo BIM de planejamento ou de construção – são específicos para a fase de construção, sendo mais propriamente utilizados para o planejamento das etapas construtivas e controle do cronograma da obra, chamada de planejamento 4D, como veremos no tema seguinte. Esse modelo pode ser acompanhado de animações das etapas construtivas, demonstrando seu encadeamento de atividades programadas. Modelo BIM de produção ou de construção para canteiro – utilizado para o planejamento do canteiro de obras e os recursos que sejam necessários para a execução, como posicionamento de gruas, barracões de materiais e empregados, entre outros. Embora esses recursos não façam parte da obra em si, são fundamentais para a execução. 12 Modelo BIM de operação e manutenção – tem a finalidade específica na gestão das informações da obra já edificada, contendo especificações e quantificações do projeto já construído (as built). Deve corresponder com fidelidade à obra construída para que seja efetivo. TEMA 5 – AS DIMENSÕES BIM O entendimento do ciclo de vida das edificações e os modelos correspondentes à cada uma de suas partes, levou, de uma maneira ampla, a se criar uma terminologia para descrever o modelo referente à cada uma das suas etapas. Essa terminologia classifica as informações dos modelos como sendo dimensões BIM. Ela surgiu com base nas denominações 2D para bidimensional e 3D para tridimensional, porém, seu significado para o BIM atualmente vai muito mais além do que as simples informações geométricas. Cada denominação deve levar em conta também o nível de detalhamento de informações (LOD), que será visto em breve. Essa classificação não é um consenso e possui variações, de acordo com o autor. A terminologia classifica em dimensões chamadas 3D a 7D, sendo que as variações de definição ocorrem nas dimensões 6D e 7D. As dimensões 1D e 2D normalmente não aparecem, por se referirem mais às questões textuais e documentais, que estariam inseridas nas demais dimensões. Existe também a referência a uma dimensão 8D, que trataria da prevenção de acidentes durante a obra. Veremos a seguir o significado de cada uma delas: 3D – é a dimensão das informações referentes ao modelo virtual (tridimensional) do projeto. É a informação gráfica e não gráfica do projeto, que será compartilhada no trabalho colaborativo. Conforme a etapa de desenvolvimento do projeto, ela será cada vez mais elaborada e detalhada. 4D – é a dimensão referente às etapas de projeto e construção e seu cronograma de desenvolvimento e execução.Na fase de licitação, esse tipo de informação pode permitir que os conceitos iniciais sejam explorados e comunicados para inspirar confiança na capacidade da equipe de cumprir o trabalho. 5D – quando se acresce a dimensão do custo, associada às dimensões anteriores, possibilita-se visualizar a progressão das atividades de projeto e construção em relação a seu custo ao longo do tempo de execução. 13 Dessa forma, consegue-se maior precisão e previsão no que se relaciona às estimativas do projeto, às mudanças de materiais e equipamentos. A adição de informações de custo pode ser extremamente útil, não apenas na fase de design, mas também mais cedo, permitindo que a viabilidade da obra seja avaliada desde o início. 6D – a dimensão 6D do BIM refere-se à questão da sustentabilidade, ou seja, à análise da performance energética da edificação. Entendendo-se que o conceito de sustentabilidade é mais amplo que o simples desempenho energético do edifício, podemos ampliar a dimensão à toda tecnologia capaz de contribuir à sustentabilidade. Essa dimensão não se refere somente às análises feitas durante a etapa de projeto, mas também à sua ocupação pós-obra. 7D – como última dimensão, ela está relacionada à gestão do empreendimento. É a etapa do ciclo de vida pós-obra, sendo a mais longa delas. É o modelo como construído (as built), e não traz consigo apenas as informações do que foi projetado, mas efetivamente construído. Isso implica num nível de detalhamento maior do modelo, pois, como visto, trata de toda a gestão e operação da edificação construída. Na Figura 3 há um quadro com resumo das dimensões BIM e palavras- chave das relações com o ciclo de vida da obra: Figura 3 – As dimensões BIM FINALIZANDO Nesta aula conseguimos nos aproximar do entendimento do conceito BIM, principalmente nos aspectos de como essa tecnologia se utiliza do trabalho colaborativo, com base em um modelo virtual e compartilhado da edificação. 14 Pudemos esclarecer o ciclo de vida da edificação, relacionando-o com os diversos aspectos dos modelos e dimensões BIM. Em breve compreenderemos melhor a importância e os benefícios dessa tecnologia. 15 REFERÊNCIAS BIM e suas potencialidades. IV ENCONTRO NACIONAL DE SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO. Anais..., 2018. Disponível em: <https://cbic.org.br/relacoestrabalhistas/wp- content/uploads/sites/27/2018/10/1-Dionisio.pdf>. Acesso em: 22 maio 2019. CAMPOS NETTO, C. Autodesk Revit Architecture 2016 conceitos e aplicações. São Paulo, Érica, 2016. CBIC – CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO. Implementação Bim – Partes 1 a 5: implementação do BIM para construtoras e incorporadoras. Brasília: 2016. EASTMAN, C.; TEICHOLZ, P.; SACKS, R.; LISTON, K. A guide to building information modeling for owners, managers, engineers and contractors. Londres: Whurr Publishing, 2011. MANZIONE, L. Proposição de uma estrutura conceitual de gestão de processo de projeto colaborativo com o uso de BIM. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. THE FUTURE of BIM Will Not Be BIM — and It's Coming Faster than You Think, Bill Allen. Autodesk University, 23 nov. 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=xq6yKyauu-o>. Acesso em: 13 jun. 2019.
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