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PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA CONTEMPORANEIDADE Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Dra. Simone Becher Araujo Moraes CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Impresso por: Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Joice Carneiro Werlang Marcelo Bucci Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2019 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. M827p Moraes, Simone Becher Araujo Práticas pedagógicas na contemporaneidade. / Simone Becher Araujo Moraes. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 151 p.; il. ISBN 978-85-7141-315-3 1. Práticas pedagógicas - Contemporaneidade - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 372.98161 Sumário APRESENTAÇÃO ..........................................................................05 CAPÍTULO 1 Práticas Pedagógicas: Modelos, Tendências, Abordagens ..............................................................7 CAPÍTULO 2 O Fazer Docente e as Novas Demandas Contemporâneas .........................................................................55 CAPÍTULO 3 Práticas Pedagógicas Na Era Do Digital ...............................109 APRESENTAÇÃO Sejam bem-vindos à disciplina de Práticas Pedagógicas na Contemporaneidade. Esta disciplina pretende ajudar você a conhecer de uma maneira mais aprofundada as práticas pedagógicas na contemporaneidade tendo em vista o fazer docente no espaço escolar contextualizado com os aspectos sociopolítico, econômico e cultural da nossa sociedade em constante transformação. Nesta disciplina, a expectativa é que você conheça as diferentes perspectivas teóricas, práticas curriculares e tendências atuais que circundam a prática pedagógica, de maneira a fornecer a você subsídios para a aplicação destes conhecimentos no contexto do seu cotidiano escolar. A fim de guiar você no seu percurso de aprendizagem, este livro didático foi preparado trazendo algumas das principais referências das áreas de Práticas Pedagógicas e está dividido em três capítulos: Capítulo 1 – Práticas pedagógicas: modelos, tendências e abordagens; Capítulo 2 – O fazer docente e as novas demandas contemporâneas e Capítulo 3 – Práticas pedagógicas na era do digital. No Capítulo 1, abordaremos a noção de práticas pedagógicas, bem como visitaremos os modelos pedagógicos mais importantes que fundamentam as práticas pedagógicas contemporâneas. Ainda neste capítulo, você conhecerá com mais profundidade as tendências pedagógicas bem como as abordagens da prática pedagógica a partir de grandes nomes das teorias da aprendizagem tais como Piaget e Vygotsky. No Capítulo 2, abordaremos o fazer docente e as novas demandas contemporâneas, inicialmente diferenciando os conceitos de função docente e de fazer docente, para posteriormente, investigarmos as novas competências para ensinar, elaboradas pelo sociólogo suíço Philippe Perrenoud. Por fim, no Capítulo 3, você conhecerá as práticas pedagógicas na era do digital, acessando teorias e práticas curriculares juntamente às novas abordagens em práticas pedagógicas inovadoras e metodologias ativas. Conhecer as Práticas Pedagógicas na Contemporaneidade faz parte do seu trabalho como educador e o intuito deste material é ajudá-lo a trilhar este percurso de maneira mais objetiva e prática, de forma que, ao final desta disciplina você esteja apto a exercer plenamente as suas funções como professor, ciente de todas as implicações que isto envolve. Bons estudos! CAPÍTULO 1 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: MODELOS, TENDÊNCIAS, ABORDAGENS A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: Desenvolver competências e habilidades importantes dentro da formação docente no tocante às práticas pedagógicas na contemporaneidade. Compreender o conceito de Práticas Pedagógicas, assim como os conceitos que se correlacionam dentro do espaço escolar. Compreender e identifi car, por meio do estudo dos modelos, tendências e abordagens pedagógicas, as ideias e conceitos centrais que constituem as práticas pedagógicas elaboradas por importantes pensadores da área. Abordar um panorama geral das tendências, abordagens e modelos pedagógicos desenvolvidos ao longo da história e perceber como estes produzem efeitos diretos nas práticas pedagógicas da atualidade. Tornar-se agente de mudanças dentro do contexto escolar, bem como realizar a atualização das práticas pedagógicas quando necessário, embasado, sobretudo, em conhecimentos fundamentados e sólidos. 8 Práticas Pedagógicas na Contemporaneidade 9 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: MODELOS, TENDÊNCIAS, ABORDAGENS Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Quando tratamos de modelos, tendências e abordagens das Práticas Pedagógicas, estamos tratando de estudos, teorias e referenciais teóricos pautados nas concepções que visam buscar, conhecer e identifi car como o ser humano aprende melhor e como ele constitui seus processos de aprendizagem. No início deste capítulo, iremos nos deter especifi camente ao estudo dos modelos e das tendências das práticas pedagógicas. O intuito é compreender de que forma, com o passar do tempo histórico e com o desenvolvimento de novas teorias e conceitos, essas práticas sofreram efeitos e também causaram efeitos sobre a realidade em que elas foram pensadas, bem como compreender como estes modelos e tendências foram e são colocadas em prática no âmbito da educação formal. Cabe destacar que, mesmo nos encontrando hoje no século XXI, um século caracterizado pelo profundo desenvolvimento tecnológico e pelas signifi cativas e rápidas mudanças do mundo do trabalho e da forma como os seres humanos estabelecem suas relações, muito do que foi construído e pensado em termos de teorias e práticas pedagógicas nos séculos anteriores, são, ainda hoje, considerados importantes e relevantes. No fi nal do capítulo, iremos nos concentrar nos estudos e atividades referentes às abordagens pedagógicas. Ainda que sejam apresentadas apenas duas abordagens dentre tantas que já foram teorizadas e colocadas em prática, buscamos aqui resgatar algumas das bases de como os seres humanos aprendem e de que forma este aprendizado pode ser estimulado por meio de Práticas pedagógicas condizentes com a realidade do mundo contemporâneo. Ao fi nal deste capítulo, espera-se que você tenha uma visão mais geral e uma compreensão mais ampla acerca do que já foi pensado em termos de modelos, tendências e abordagens pedagógicas, a fi m de que, a partir deste conhecimento, você possa reconhecer, enquanto professor, as suas próprias posições assumidas nas suas práticas, identifi cá-las em seu cotidiano escolar e utilizá-las como e quando julgar necessário. 2 O QUE SÃO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS? Para que você entenda melhor o que queremos dizer com o termo Práticas Pedagógicas, termo revisitado e discutido ao longo deste livro, vamos relembrar 10 Práticas Pedagógicas na Contemporaneidade a defi nição deste conceito dividindo-o nas duas palavras que o compõe: prática e pedagógica. Qual a defi nição de prática? Prática diz respeito ao que não é teórico. É uma forma de agir, de executar. Pode até ser concebida como uma espécie de hábito, convenção ou costume. Podemos então dizer que prática é aquela ação que executamos no cotidiano ou em momentos específi cos. Por exemplo, as práticas religiosas, esportivas e pedagógicas - que são o foco do nosso estudo. Qual seria então a defi nição de pedagógico? Pedagogia, como vocêjá deve ter estudado na graduação, nada mais é do que a ciência que estuda a educação, ou seja, a pedagogia investiga os processos de ensino e aprendizagem visando compreender como o ser humano melhor aprende. A pedagogia tem um forte viés teórico e conceitual, assim como as outras ciências, mas aliada à prática, ela se torna capaz de ações que visam melhorar na prática as relações de ensino e de aprendizagem. FIGURA 1 - ILUSTRAÇÃO DE PRÁTICA PEDAGÓGICA FONTE: <http://bit.ly/2CPBcF2>. Acesso em: 29 out. 2018. 11 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: MODELOS, TENDÊNCIAS, ABORDAGENS Capítulo 1 Uma das questões que você deve estar se fazendo é: “porque eu preciso estudar sobre Práticas Pedagógicas?”. Uma resposta mais curta e informal para esta pergunta seria: o professor contemporâneo não pode prender-se ou limitar- se apenas aos métodos, teorias e fórmulas prontas no processo de ensino, ele precisa desenvolver uma Prática pedagógica que contemple as necessidades de aprendizagem do aluno, bem como as questões que permeiam o mundo contemporâneo, visando uma formação integral do aluno. Se formos responder à pergunta do motivo pelo qual você, professor, precisa estudar sobre Práticas pedagógicas de uma maneira mais longa e formal, podemos dizer que a educação é bastante globalizante e compreende os vários âmbitos da vida dos sujeitos enquanto pessoas e enquanto cidadãos. A educação está prevista e defi nida na Lei de Diretrizes e Bases da educação - a nossa conhecida LDB de 1996 como uma prática muito mais abrangente do que o âmbito da sala de aula. Na LDB temos descrito, logo no Art. 1° a ideia de que educação “[...] abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais” (BRASIL, 1996, p. 1). Dessa forma, como o processo formativo envolve muito mais do que a memorização e a instrumentalização dos estudantes, é fundamental que o professor conheça as Práticas Pedagógicas do passado e as contemporâneas a fi m de que este possa, em consonância com as diretrizes da LDB e as outras normativas que veremos no decorrer do capítulo, desempenhar seu papel como educador de modo efi ciente, efi caz e signifi cativo para o estudante e para a comunidade escolar em que a escola está inserida. Para se aprofundar na LDB e entender quais as outras diretrizes que a compõem, acesse: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l9394.htm>. Cabe dizer que, o conceito de Práticas pedagógicas pode variar de acordo com os princípios nas quais elas estão fundamentadas. Por exemplo, de acordo com um dos grandes pensadores da educação brasileira, Paulo Freire (1986), as Práticas pedagógicas devem ser caracterizadas pelo enfoque dialógico, de forma que a construção do conhecimento é concebida pela atuação tanto do professor quando do aluno e por isso a ideia de dialógico. Que tipo de diálogo é esse? Segundo Freire (1986, p. 42): 12 Práticas Pedagógicas na Contemporaneidade O diálogo é o encontro entre os homens, mediatizados pelo mundo, para designá-lo. Se ao dizer suas palavras, ao chamar ao mundo, os homens o transformam, o diálogo impõe-se como o caminho pelo qual os homens encontram seu signifi cado enquanto homens; o diálogo é, pois, uma necessidade existencial. Para Fernandes, as práticas pedagógicas podem ser concebidas como: [...] prática intencional de ensino e aprendizagem não reduzida à questão dialética ou às metodologias de estudar e aprender, mas articulada à educação como prática social e ao conhecimento como produção histórica e social, datada e situada, numa relação dialética entre prática-teoria, conteúdo-forma e perspectivas interdisciplinar (FERNANDES, 2006, p. 447). Assim, o espaço escolar nada mais é do que um palco onde atuam diferentes histórias, em que se formam confl itos e relações que contribuem na construção do conhecimento. O conhecimento, por sua vez, só pode ser dar por meio de relações de dialogicidade. Uma das características deste tipo de relação dialógica é a assimetria, ou seja, tanto o professor quanto o aluno estão construindo o conhecimento, aprendendo e ensinando o tempo todo colaborativamente. Nesse sentido, as práticas pedagógicas correspondem ao processo de mediação com um ou mais sujeitos, pois elas só podem se dar na relação com o outro, estabelecendo, pois, um jogo de resistência e de ecos entre as forças que se estabelecem nesta relação. Para Sacristán (1999), se faz necessário ultrapassar o senso comum que busca separar as teorias educacionais das suas práticas, pois o fazer docente não se reduz ao planejamento e execução de tarefas de maneira que: A prática educativa é algo mais do que expressão do ofício dos professores, é algo que não lhes pertencem por inteiro, mas um traço cultural compartilhado, assim como o médico não possui o domínio de todas as ações para favorecer a saúde, mas as compartilha com outros agentes, algumas vezes em relação de complementaridade e de colaboração, e, em outras, em relação de atribuições. A prática educativa tem sua gênese em outras práticas que interagem com o sistema escolar e, além disso, é devedora de si mesma, de seu passado. São características que podem ajudar-nos a entender as razões das transformações que são produzidas e não chegam a acontecer (SACRISTÁN, 1999, p. 91). A partir das palavras de Sacristán (1999), podemos inferir que a escola e o sistema de ensino, de um modo geral, estão conectados intimamente com outros saberes, instituições e práticas que causam efeitos nas práticas pedagógicas. O diálogo é o encontro entre os homens, mediatizados pelo mundo, para designá-lo. Se ao dizer suas palavras, ao chamar ao mundo, os homens o transformam, o diálogo impõe-se como o caminho pelo qual os homens encontram seu signifi cado enquanto homens; o diálogo é, pois, uma necessidade existencial. 13 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: MODELOS, TENDÊNCIAS, ABORDAGENS Capítulo 1 Para você conhecer melhor o que Freire falou sobre a questão da formação do professor e das Práticas pedagógicas, leia sua obra intitulada “Medo e ousadia: o cotidiano do professor” de 1986. Resumidamente, neste livro o autor discorre acerca do cotidiano do professor e também sobre outras questões relativas à educação. Esta obra evidencia a falta de motivação que a escola proporciona para os alunos em função da difi culdade dos professores em buscar conhecimentos e práticas que estejam afi nadas com as necessidades e interesses dos alunos. A obra também faz uma crítica à questão da memorização e ao estímulo por meio de competição por notas, prêmios e recompensas. No fi nal das contas, o aluno acaba por memorizar o que lhe é pedido apenas para obter êxito em provas e ganhar recompensas, com isso, não conseguindo aprender os conteúdos. Sabemos todos das más práticas pedagógicas, seja na posição de professor ou de aluno, alguma vez na vida já tivemos esta experiência, mas, será que podemos falar em boas práticas pedagógicas? Claro que sim! No entanto, é importante esclarecermos que certamente não existe uma prática pedagógica específi ca considerada a melhor dentre todas as práticas. Entretanto, podemos pensar em alguns indicadores que mostram certos elementos fundamentais para que uma prática pedagógica possa ser considerada boa ou efetiva. Por exemplo, podemos citar as práticas pedagógicas que envolvem um compromisso ético, ou seja, que buscam orientar as ações pedagógicas por meio dos princípios da justiça, da solidariedade e do respeito, e, sobretudo as que promovem o diálogo e a refl exão. Para Freire (1986), mais do que disciplinas, o professor ensina por meio de gestos e atitudes. Por meio das práticas pedagógicas, se ensina os modos de ser e de estar no mundo. Decorre daí a necessidade de que haja um esforço por partedo professor no seu planejamento e na execução das suas práticas pedagógicas para que estas estejam sempre em consonância com a realidade do aluno e também com as diferentes dimensões que constituem o conhecimento e a vida na sociedade contemporânea. Por meio das práticas pedagógicas, se ensina os modos de ser e de estar no mundo. 14 Práticas Pedagógicas na Contemporaneidade Após ler e refl etir sobre esta parte introdutória, na qual discorremos sobre o que são as Práticas Pedagógicas e qual a sua importância, responda: 1 O que são Práticas Pedagógicas? R.:____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2 Como você avalia as suas próprias práticas pedagógicas? Caso ainda não tenha experiência em sala de aula, quais as boas práticas pedagógicas que você observava na sua escola ou na sua universidade? R.:____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3 MODELOS PEDAGÓGICOS Neste item, você irá conhecer três modelos pedagógicos importantes e que fundamentam as práticas pedagógicas contemporâneas. Ainda que não se converse ou se discuta largamente e especifi camente sobre estes modelos no cotidiano escolar e no trabalho pedagógico, eles não deixam de existir, e são, certamente, alguns dos elementos mais importantes e que dão o norte para toda ação pedagógica, mesmo que não tenhamos consciência deles. Entretanto, ao conhecer esses modelos, você estará mais apto a fazer as melhores escolhas para as suas práticas pedagógicas. Assim como as outras áreas e âmbitos da nossa sociedade, a educação sempre precisou pensar e construir alguns modelos para que as práticas pedagógicas pudessem ser embasadas tanto epistemologicamente, quanto em termos teóricos e práticos. 15 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: MODELOS, TENDÊNCIAS, ABORDAGENS Capítulo 1 A epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento, sendo também conhecida como teoria do conhecimento. FONTE: <https://www.signifi cados.com.br/ epistemologia/>. Acesso em: 13 mar. 2019. Para iniciar nosso item, precisamos elucidar o conceito de modelo. De acordo com o dicionário do Aurélio, modelo é aquilo que serve ou pode servir de modelo ou exemplo; reproduz com exatidão (copiando do modelo); contornar, delinear os contornos de; planear, dirigir, regular. Dessa forma, é possível afi rmarmos que existem basicamente três modelos centrais que podem representar as relações de ensino e aprendizagem, a saber: o modelo da Pedagogia diretiva, da Pedagogia não diretiva e da Pedagogia relacional. O estudo que você irá fazer acerca destes modelos será embasado no livro de Fernando Becker (2001) intitulado “Educação e construção do conhecimento”. Para aprofundar seu conhecimento sobre esses modelos pedagógicos, sugerimos a leitura deste livro de Fernando Becker (2001): “Educação e construção do conhecimento”. ● Pedagogia diretiva Para ilustrar o modelo chamado de Pedagogia diretiva, vamos iniciar com um case hipotético, ou seja, uma situação fi ctícia, contada por Becker (2001) e que fi zemos uma pequena adaptação. O autor fornece o seguinte panorama: - Em uma sala de aula, o professor observa seus alunos entrarem pela porta aguardando até que todos sentem e fi quem quietos, que façam silêncio. Todas as carteiras são enfi leiradas, como de costume, bem como afastadas umas das outras para prevenir as conversas paralelas entre os estudantes. Se os alunos não fazem silêncio, o professor grita: silêncio! Este chama a atenção de mais um ou outro aluno que ainda não obedeceu ao comando. A aula só começa quando “[...] a palavra seja monopólio seu” (BECKER, 2001, p. 2). 16 Práticas Pedagógicas na Contemporaneidade FIGURA 2 - CHARGE SATIRIZANDO UMA SALA DE AULA DE MODELO DIRETIVO FONTE: <http://bit.ly/2Vf31ho>. Acesso em: 29 out. 2018. Na pedagogia diretiva o professor tende a ver o aluno como uma “tábula rasa”, mas o que isso quer dizer? Isso quer dizer que o aluno é visto pelo professor como um livro em branco, sem conteúdo. O aluno, dentro desta perspectiva é encarado como alguém que precisa de um outro sujeito que sabe mais, no caso, o professor, para vir a aprender algo. Na pedagogia diretiva professor estaria incumbido de dar explicações, de ensinar aos alunos que não sabem. Este é um modelo embasado no empirismo, que parte do princípio de que as pessoas são tábulas rasas e que precisam de um mestre ou no caso, o professor, que lhes ensine. Empirismo: corrente de pensamento que afi rma que todo conhecimento é advindo apenas da experiência, ou seja, do que pode ser captado do mundo externo por meio dos órgãos dos sentidos ou, do mundo interior ou subjetivo. 17 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: MODELOS, TENDÊNCIAS, ABORDAGENS Capítulo 1 Paulo Freire caracteriza este tipo de pedagogia como “educação bancária”: Nas palavras de Freire (2005, p. 68): A concepção bancária de educação nega o diálogo, à medida que na prática pedagógica prevalecem poucas palavras, já que “o educador é o que diz a palavra; os educandos, os que a escutam docilmente; o educador é o que disciplina; os educandos, os disciplinados. Um professor que age como se o aluno fosse um receptáculo de informações e conhecimentos, geralmente encara sua prática pedagógica como uma espécie de transmissão. Para Becker (2001, p. 3), este tipo de professor acredita “[...] no mito da transmissão do conhecimento - do conhecimento enquanto forma ou estrutura; não só enquanto conteúdo.” Segundo o autor, neste modelo pedagógico, considera-se que o sujeito (ou seja, o aluno) seria totalmente determinado ou infl uenciado pelo meio que o circunda, seja este físico ou social, onde o representante deste mundo é o professor. O aluno só estaria apto a aprender algo se o professor lhe ensinar, ou seja, transmitir. FIGURA 3 - ILUSTRAÇÃO DA “EDUCAÇÃO BANCÁRIA” CRITICADA POR PAULO FREIRE A concepção bancária de educação nega o diálogo, à medida que na prática pedagógica prevalecem poucas palavras, já que “o educador é o que diz a palavra; os educandos, os que a escutam docilmente; o educador é o que disciplina; os educandos, os disciplinados. FONTE: <http://bit.ly/2WJOL0C>. Acesso em: 29 out. 2018. Silêncio, atenção, repetição, leitura, escrita, entre outras atitudes e comportamentos é o que se espera dos alunos considerados “ideais” dentro deste modelo, pois o intuito é que eles “absorvam” o conteúdo dado pelo professor e seja capaz de reproduzi-lo nas provas e avaliações. 18 Práticas Pedagógicas na Contemporaneidade No esquema a seguir, ilustrado por Becker (2001), você pode entender melhor como acontece a epistemologia da aprendizagem do aluno. A letra “S” corresponde ao sujeito (aluno), a letra “O” corresponde ao objeto ou ao saber que lhe é apresentado pelo professor. Temos também a letra “A” que corresponde ao aluno (tábula rasa e receptáculo de informações) e a letra “P” que corresponde ao professor (autoridade representante do mundo e do conhecimento). O que então acontece de fato nesta sala de aula? Segundo Becker (2001), nada de novo acontece. Seria como se o futuro estivesse na reprodução do passado. E que tipo de aluno e de cidadão este modelo forma? Qual o resultado deste modelo? Becker (2001) afi rma que o aluno formado neste molde é aquele que, na vida adulta será bem absorvido pelo mundo do trabalho, pois “[...] aprendeu a silenciar, mesmo discordando, perante a autoridade do professor, a não reivindicar coisa alguma, a submeter-se e a fazer um modo de coisassem sentido e sem reclamar” (BECKER, 2001, p. 3). Este modelo de ensino nos remete ao trecho da música interpretada cantor e compositor Cazuza: FIGURA 4 - TRECHO DA MÚSICA DE CAZUZA “O TEMPO NÃO PARA” FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Cazuza>. Acesso em: 29 out. 2018. Desta forma, dentro deste modelo, o professor não aprende e o aluno não ensina. Este é o modelo da repetição e da reprodução. Sem espaço para refl exão ou para o novo. 19 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: MODELOS, TENDÊNCIAS, ABORDAGENS Capítulo 1 A fi m de promover um maior entendimento e sensibilização para este modelo pedagógico, leia com atenção o poema de Status Quaestionis (2012) intitulado “Tábula rasa” e responda: POEMA “TABULA RASA” Tábula rasa? Eu daquela criança Incrédula, em profunda ignorância Perdida no fantasioso mundo infantil Onde nada escada da simplicidade pueril Crescem, e crescem as raízes do mal Estudam, inúteis, o que é legal E o legalismo adulto lhes tolhe a vida Tudo se torna uma punição dolorida O fi m derradeiro do ser humano se aproxima De tanto que encheu sua tábula rasa Com lixo da morta modernidade Defi nhamos com tanto saber Tolos! Já éramos anciãos Não se sabe viver Matagal humano Plantados no nada Como ressurgir, então, Se tudo que restou é inútil? Onde está nossa moral, nosso conhecer? Onde é que está a nossa humanidade livre e feliz? A tábula rasa está cheia de sentimentos robóticos e mecânicos FONTE: <http://mentaldisorderrr.blogspot.com/2012/11/ tabula-rasa.html>Acesso em: 29 out. 2018. 1 Quais são os possíveis conhecimentos prévios que o aluno já traz para a sala e que podem ser levados em consideração dentro das práticas pedagógicas do professor? R.:____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 20 Práticas Pedagógicas na Contemporaneidade 2 Alguma vez você já se sentiu uma “tábula rasa” enquanto aluno? Como isso refl ete na sua prática docente hoje? R.:____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ● Pedagogia não diretiva: Novamente, você lerá um pequeno case para ilustrar como seria uma sala de aula com base no modelo de Pedagogia não diretiva: Em uma sala de aula, o professor observa seus alunos entrarem pela porta, enquanto os cumprimenta, pergunta como foi o dia anterior para alguns alunos, enquanto cada aluno fi ca livre para sentar-se onde quiser e para pegar os materiais e recursos que lhe interessam no momento. O planejamento do professor é baseado nos interesses dos alunos, sem uma ordem específi ca ou direcionamento. O professor assume o papel de facilitador, ou mediador dentro do processo de aprendizagem. O professor já organizou trouxe alguns materiais, livros, imagens, objetos, desta forma, mas ele deixa os alunos livres para a exploração de acordo com seus interesses. Nada está fi xo e tudo fi ca à critério dos interesses e conhecimentos prévios dos alunos, sem sequência ou objetivos específi cos a serem alcançados. FIGURA 5 - ILUSTRAÇÃO DE UMA SALA DE AULA DENTRO DO MODELO NÃO DIRETIVO FONTE: <http://bit.ly/2K0Gnbp>. Acesso em: 29 out. 2018. 21 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: MODELOS, TENDÊNCIAS, ABORDAGENS Capítulo 1 Dentro deste modelo pedagógico, acredita-se que o aluno traz já consigo os saberes que precisam ser estimulados, a fi m trazê-los à tona e para que se façam as conexões entre os saberes. A interferência do professor dentro deste processo é pouca, pois acredita-se que o aluno é capaz de aprender por si mesmo. Segundo Becker (2001), a epistemologia que fundamenta esta abordagem é conhecida pelo nome de apriorista, ou seja, o conhecimento vem de antes, como se já estivesse na sua bagagem genética ou hereditária. A ilustração deste modelo pedagógico, pode ser observada no esquema a seguir, em que o aluno extrairia do objeto o saber que já estaria previamente nele, de forma que o conhecimento parte do aluno “A” para dar os indícios de interesses e necessidades de aprendizagem ao professor “P”: Dentro deste modelo, é muito fácil que o professor caia em certas armadilhas, pois, ao renunciar a intervenção dentro do processo de aprendizagem do aluno, pode tentar buscar outras formas de exercer o poder e o controle sobre os alunos, o que torna a relação de ensino e aprendizagem extremamente perniciosa. Para Becker (2001), corre-se o risco de ser exercido pelo professor numa sala de aula não diretiva, um poder tão predatório quanto na diretiva. Core-se também o risco de que o aluno não aprenda, pois, o professor não está na posição de ensinar algo ao aluno. Uma questão importante a ser ressaltada dentro desta abordagem apriorística que afi rma ser o estudante o indivíduo a trazer dentro de si hereditariamente os conhecimentos necessários, é que o oposto também vale, ou seja, pode-se cair na tentação de afi rmar que os estudantes que, por algum motivo não conseguem atingir os objetivos educacionais sejam considerados menos capazes. Desta forma, segundo Becker (2001, p. 5): Este défi cit, porém, não tem causa externa; sua origem é hereditária - Onde se detecta maior incidência das difi culdades ou retardos de aprendizagem? - Entre os miseráveis, os malnutridos, os pobres, os marginalizados. [...] Está aí, a teoria da carência cultura para garantir a interpretação de quem marginalização econômica-social e défi cit cognitivo são sinônimos. Ao desautorizar o ensino e ao colocar a aprendizagem como o elemento principal, acontece o que Becker (2001) chama de absolutização de um dos lados, tornando a relação impossível, uma vez que se encara a aprendizagem como autônoma e desconectada do ensino. Desta forma, se o aluno não aprende, justifi ca-se que ele tem uma defi ciência herdada. Na Inglaterra, década de 1920 foi criada a escola Summerhill, uma escola com base em ideais libertários e no modelo não diretivo que se tornou referência 22 Práticas Pedagógicas na Contemporaneidade de ensino entre 1960 e 1970. Esta escola tem como uma das características proporcionar aos alunos a autogestão sem nenhum tipo de imposição ou repressão. Nesta escola, as regras são estabelecidas coletivamente. Sem obrigação de assistir às aulas ou realizar tarefas, os alunos realizam apenas aquilo que lhes interessa. Ainda hoje a escola luta para reafi rmar seu espaço junto ao sistema educacional britânico, pois ela foge do padrão tradicional de ensino. Apesar deste modelo de ensino causar estranhamento, nos Estados Unidos existem mais de duzentas escolas que adotam este modelo. ● Pedagogia relacional: Para entender como funciona o modelo da Pedagogia relacional, leia o case descrito por Becker (2001) e adaptado para nosso livro: - Professores e alunos entram em sala. O professor trouxe algum material que acredita ter algum signifi cado para os alunos e sugere, num primeiro momento, que estes coloquem-se a explorar o material. Num segundo momento, ao fi nal da exploração do material, o professor indaga a turma sobre o material para sistematicamente explorar os diferentes aspectos que o envolvem. Num terceiro momento, o professor pede que, em forma de desenho, pintura ou escrita, os alunos representem os problemas ou as ideias suscitadas pela exploração do material. Após esses três momentos, em conjunto com a turma, o professor discute os rumos que a problemática e o material irão tomar nas próximas aulas. FIGURA 6 – ILUSTRAÇÃO DO MODELO DA PEDAGOGIA RELACIONAL FONTE:<http://bit.ly/2KbeeOK>Acesso em: 29 out. 2018. 23 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: MODELOS, TENDÊNCIAS, ABORDAGENS Capítulo 1 No modelo pedagógico do tipo relacional, o professor considerao aluno como sendo portador de uma história e de um conhecimento já adquiridos tanto no âmbito familiar, quanto nas vivências em comunidade e ocorrem em paralelo ao convívio no espaço escolar. Este modelo não concebe o ser humano com uma tábula rasa, como no caso da Pedagogia diretiva, pelo contrário, este modelo entende que, além da bagagem hereditária que o aluno traz consigo, ele também traz toda a bagagem das relações e vivências acumuladas no meio. Para Becker (2001) o aluno compreende melhor a teoria se agir e problematizar sobre ela. Dentro deste modelo, existem, portanto, duas condições para que um novo conhecimento possa ser adquirido ou construído, a sabe, a assimilação e a acomodação: 1) Assimilação: ocorre por meio da ação do aluno sobre o material preparado pelo professor que possui a função de ser interessante para o despertar e a aquisição de um determinado saber; 2) Acomodação: uma vez que o aluno assimilou as problemáticas que envolvem esse material, ele vai conseguir responder e refl etir sobre ele. Mas isso só será possível porque ele agiu sobre o material. Podemos destacar dentro do modelo Pedagógico relacional que a aprendizagem consiste em: ação e tomada de consciência das ações. Este é um modelo epistemológico denominado construtivismo. Veremos sobre o construtivismo com mais detalhes no item 5 deste capítulo, quando você terá acesso aos estudos e leitura acerca das abordagens das práticas pedagógicas. Mas por enquanto, busque entender os fundamentos destes três modelos que estamos estudando, desta forma, poderá dar um passo adiante quando formos tratar das abordagens da prática pedagógica. O modelo pedagógico relacional, portanto, pode ser representado pela ação do Sujeito (S) sobre o objeto (O) e do objeto sobre o sujeito simultaneamente. O mesmo acontece na relação entre professor (P) e aluno (A), uma vez que as relações na sala de aula são fl uidas e dinâmicas. Nas palavras de Becker (2001, p. 25): [...] o que avança mesmo nesse processo é a condição prévia de todo aprender ou de todo conhecimento, isto é, a capacidade construída de, por um lado, apropriar se criticamente da realidade física e/ou social e, por outro, de construir sempre mais e novos conhecimentos. 24 Práticas Pedagógicas na Contemporaneidade Nesta sala de aula o professor não assume uma postura autoritária tampouco permissiva. É, portanto, criado um campo fértil para que o aluno, a partir dos seus conhecimentos prévios e do conhecimento que o professor traz para agregar, possa construir novos saberes e novas competências. 1 As formas e maneiras de agir do professor no tocante das suas práticas pedagógicas são diretamente relacionadas a um modelo pedagógico específi co ou à junção entre diferentes modelos. Neste item, estudamos sobre os três modelos pedagógicos: a pedagogia diretiva, a pedagogia não diretiva e a pedagogia relacional. Com base no exposto, associe os itens utilizando o código a seguir: I- Pedagogia diretiva. II- Pedagogia não diretiva. III- Pedagogia relacional. ( ) Modelo que considera, durante o processo de ensino e aprendizagem a questão da hereditariedade juntamente às vivências o aluno no meio. ( ) Modelos caracterizado pela transmissão do conhecimento. ( ) Modelo que dá ênfase às características e tendências hereditárias dos alunos. 4 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS Neste item você vai aprender sobre as Tendências pedagógicas. Este é um tema muito explorado dentro das práticas pedagógicas e aqui você terá acesso a um panorama geral para ajudar-lhe a situar-se tanto em termos teóricos quanto em termos da sua prática no espaço escolar. Para iniciar nosso item, precisamos elucidar um primeiro conceito, o conceito de tendência. De acordo com o dicionário do Aurélio, tendência é: “ação ou força pela qual um corpo tende a mover-se para alguma parte; propensão; inclinação; propósito”. A partir desta defi nição do conceito de tendência, pode-se entender que tendência é uma espécie de “moda” ou de padrão de se agir ou pensar. 25 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: MODELOS, TENDÊNCIAS, ABORDAGENS Capítulo 1 Em se tratando de educação, a tendência pode ser encarada como uma determinada forma de se pensar e agir dentro das práticas pedagógicas, ou seja, tais práticas seguem uma determinada linha de raciocínio, uma certa corrente teórica que lhes dão uma identidade. Outro fator que pode “ditar” as tendências pedagógicas é a interferência da economia, da política e da sociedade no âmbito do que se espera dentro da formação dos sujeitos, ou seja, podemos perceber que em termos tanto de modelos de práticas pedagógicas, quanto de tendências pedagógicas, não podemos encará-los como neutros e alheios ao que acontece no mundo exterior à escola, por mais que, em muitos casos, se busque fazer da escola um lugar à parte do mundo. No fi nal da década de 1970, o intelectual e educador brasileiro, José Carlos Libâneo desenvolveu uma esquematização das tendências pedagógicas, a fi m de orientar a prática pedagógica. Para Libâneo (1990) a prática pedagógica diz respeito ao cotidiano no espaço escolar. Entretanto, esta não seria apenas uma prática estritamente pedagógica, pois sofre inúmeras infl uências de elementos sociopolíticos, ou seja, as práticas pedagógicas sofrem infl uência das leis, da economia, do cenário social, da justiça etc. Desta forma, a prática pedagógica, desde o planejamento do professor, até a parte da organização da escola e de todas as atividades que são realizadas no espaço escolar, sofre infl uências dos elementos sociopolíticos e econômicos. Por esse motivo, você irá estudar sobre as tendências pedagógicas, pois, a cada momento histórico ou sociopolítico a escola acaba por buscar se adaptar às características e necessidades do cenário vigente, visto que é dentro deste cenário maior que a escola está inserida. Dentro das tendências pedagógicas nós temos basicamente duas tendências predominantes, a saber, a Tendências Pedagógicas Liberais e a Tendências Pedagógicas Progressistas. Embora existam outras tendências, as mais exploradas e citadas são essas duas. Cabe salientar que dentro destas duas tendências pedagógicas gerais também existem tendências secundárias, ou seja, dentro da Tendências Pedagógicas Liberais nós temos mais quatro ramifi cações, a saber: a) a Tendência Liberal Tradicional; b) a Tendência Liberal Renovada Progressivista; c) a Tendência Liberal Renovada não diretiva; d) a Tendência Liberal Tecnicista. Temos também, dentro da Tendência Pedagógica Progressista: 26 Práticas Pedagógicas na Contemporaneidade a) Tendência Progressista Libertária; b) Tendência Progressista Libertadora; c) Tendência Pedagógica Progressista Crítico-social dos conteúdos. A seguir, você irá aprender sobre cada uma delas, juntamente com suas características, métodos e pressupostos. 4.1 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS LIBERAIS Sob a infl uência dos ideais da revolução francesa no século XIX (A revolução francesa ocorreu entre 1789-1799 na França. Com essa revolução em três anos a monarquia absolutista entrou em colapso e houve uma grande transformação na sociedade francesa que repercutiu na Europa toda. As Tendências Pedagógicas Liberais surgiram, em resposta à grande infl uência do liberalismo e do capitalismo. De um modo geral, tais tendências valorizam mais os conteúdos ou os saberes do que as vivências e experiências dos alunos no processo de aprendizagem. Estas tendências têm como uma das características centrais visar a manutenção do status quo da sociedade, ou seja, de preservar a situação em que a sociedade se encontra, de forma a perpetuar os privilégios dos mais ricos em detrimento dos poucos privilégios e direitos dos mais pobres. ● Tendência Liberal Tradicional: Uma escola que atua dentro da Tendência Liberal Tradicional, tem como base a ideia de que esta serve para preparar os indivíduos para as práticas sociais epara os valores liberais burgueses, ou seja, para o mercado de trabalhado. Esta tendência tem como base a preparação intelectual e moral dos alunos para que estes possam assumir a sua posição na sociedade (LIBÂNEO, 2006). De acordo com Libâneo (2006), os conteúdos trabalhados dentro desta tendência são aqueles acumulados e repassados aos alunos como verdades postuladas. Dentro desta tendência, o papel da escola é fundamental e é concebida como o espaço onde os indivíduos serão disciplinados. Se você observar a atentamente a estrutura da maioria das escolas, as carteiras enfi leiradas, a formação de fi las para as atividades e hora do recreio, o sinal para a troca de aulas e intervalo e a fi gura do professor como autoridade, você irá perceber que ela tem características muito semelhantes a de uma fábrica. 27 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: MODELOS, TENDÊNCIAS, ABORDAGENS Capítulo 1 FIGURA 7 – ILUSTRAÇÃO REFLEXIVA SOBRE A TENDÊNCIA PEDAGÓGICA LIBERAL FONTE: <http://bit.ly/2G1w6rD>. Acesso em: 29 out. 2018. O professor, dentro desta tendência, tem como papel, além de disciplinar os alunos, fazê-los memorizar os conteúdos que devem ser aprendidos, ou seja, este é um ensino do tipo mecânico e que não necessariamente aborda temas e assuntos relativos aos interesses e necessidades de aprendizagem dos alunos. A didática exercida pelo professor, lança mão técnicas tais como: generalizações (partindo do todo para chegar ao específi co), aplicação de provas escritas ou orais para testar os alunos. De um modo geral os conteúdos ministrados são enciclopedistas, intelectualista totalmente desvinculados da realidade dos alunos, das vivências destes no seu cotidiano. Para que você possa entender melhor sobre como funciona esta tendência, sugerimos que você assista o vídeo a seguir da fi lósofa e professora Viviane Mosé. Neste vídeo ela trata de algumas características importantes que fazem parte das Tendências Pedagógicas Liberais, fazendo uma interessante comparação com o mundo do trabalho. 28 Práticas Pedagógicas na Contemporaneidade Assista ao vídeo da fi lósofa Viviane Mosé, sobre as tendências pedagógicas liberais. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=GLS1gAwTo0k>. FIGURA 8 – VÍDEO DA FILÓSOFA VIVIANE MOSÉ SOBRE AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS LIBERAIS FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=GLS1gAwTo0k>. Acesso em: 29 out. 2018. É interessante relembrar que, no Brasil, quem introduziu as premissas desta tendência na educação foram os Padres Jesuítas no século XVI, que além de exercerem forte infl uência na sociedade, também trouxeram da Europa uma concepção de educação que contribuiu para a perpetuação das estruturas de poder hierarquizadas bastante fortes dentro dos ideais burgueses. Esta tendência pedagógica possui como uma das características cruciais o elitismo e a seletividade, ou seja, ensina-se assuntos, conteúdos e temas que são inerentes da vivência de uma determinada classe social (no caso da elite). A seletividade diz respeito aos mecanismos - principalmente por meio das provas e testes utilizados como ferramentas para separar os alunos que aprenderam o conteúdo dos que não aprenderam. 29 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: MODELOS, TENDÊNCIAS, ABORDAGENS Capítulo 1 Quais então seriam os métodos utilizados pelos professores dentro desta tendência? O método fundamental é o verbal ou expositivo. Esta é uma tendência de ensino que prioriza o caráter demonstrativo, independentemente da fase, da faixa etária do aluno, das suas capacidades cognitivas ou recursos que este aluno possui. Libâneo (2006), aponta que são seguidos os seguintes passos no método de ensino dentro desta tendência adaptados na tabela a seguir: QUADRO 1 - MÉTODO DE ENSINO DA TENDÊNCIA LIBERAL TRADICIONAL Método de ensino dentro da Tendência Liberal Tradicional a) Preparação do aluno Defi nição do trabalho, recordação da matéria anterior, despertar interesse do aluno. b) Apresentação Realce de pontos-chave, demonstração. c) Associação Combinação do conhecimento novo com o já conhecido por comparação e abstração. d) Generalização Dos aspectos particulares chega-se ao conceito geral, é a exposição sistematizada. e) Aplicação Explicação de fatos adicionais e/ou resoluções de exercícios. FONTE: Adaptado de Libâneo (2006, p. 24). As principais características da Tendência Liberal Tradicional são: 1 ensinar é sinônimo de transmitir conhecimentos; 2 aprender é sinônimo de reproduzir conhecimentos; 3 são poucas ou nulas as situações em que o aluno recebe estímulo para pensar sozinho; 4 predominância de aulas expositivas e fi gura do professor como autoridade; 5 o aluno é considerado um indivíduo passivo na aprendizagem; 6 enfatiza-se a aplicação de exercícios de repetição de conceitos para a memorização; 7 as provas e testes são elementos centrais para a avaliação do aluno pelo professor; 8 rigidez no disciplinamento dos alunos para que atenção e silêncio prevaleçam; 9 busca preparar os alunos para a sociedade com uma visão restrita sobre as diferenças de classe; 10 supõe-se que os homens são iguais em sua natureza e por isso podem ser ensinados dentro do mesmo método. 30 Práticas Pedagógicas na Contemporaneidade 1 De acordo com Libâneo (2006), a Tendência Liberal “[...] subordina a educação à sociedade, tendo como função a preparação de “recursos humanos” (mão de obra para a indústria). A sociedade industrial e tecnológica estabelece (cientifi camente) as metas econômicas, sociais e política, a educação treina (também cientifi camente) nos alunos os comportamentos de ajustamentos a estas metas (LIBÂNEO, 2006, p. 22). A busca pelo ajustamento dos alunos à sociedade é uma das características da tendência liberal conforme Libâneo (2006). Com base no exposto, disserte acerca dos efeitos desta tendência que você identifi ca na sua prática pedagógica e na formação dos alunos. FONTE: LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo: Loyola, 2006 ● Tendência Liberal Renovada Progressivista A Tendência Liberal Renovada Progressivista surge por volta do século XX a partir de um anseio por corresponder melhor às necessidades individuais dos alunos, ou seja, inaugura a busca no âmbito da cultura, atender melhor o desenvolvimento das aptidões individuais dos estudantes. Esta tendência não deixa totalmente de servir para a preparação do aluno para exercer seu papel na sociedade e no mundo do trabalho, mas, para além disso, busca se adaptar às necessidades do aluno ao meio social. Tem como premissa, portanto, “imitar a vida” e o aprender fazendo. Esta tendência, diferentemente da anterior, busca centrar-se no aluno e não no professor de forma a considerar, sempre que possível, os interesses do aluno, valorizando a atitude experimental, fomentando a pesquisa e a descoberta. A escola e a sala de aula são encaradas como “ambiente”, ou seja, o local que deve ser propício ao aprendizado do aluno. O ambiente precisa ser estimulante para que o aluno possa realizar a aprendizagem e, sobretudo, o auto aprendizado. Os conteúdos portanto, devem ser direcionados para a realidade e necessidades da vida cotidiana do aluno ao mesmo tempo em que se destinam a uma preparação para o mundo do trabalho. A fi m de que as práticas pedagógicas sejam voltadas para as necessidades, interesse e realidade do aluno, o professor precisa fornecer e proporcionar as “situações problema”. A partir das “situações problema”, o aluno é encorajado a exercer uma postura proativa na busca da resolução do problema. Há uma grande valorização do trabalho em equipe ou em grupo. Esta tendência, diferentemente da anterior, busca centrar-se no aluno e não no professor de forma a considerar, sempre que possível, os interesses do aluno, valorizando a atitude experimental, fomentando a pesquisa e a descoberta. 31 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: MODELOS, TENDÊNCIAS,ABORDAGENS Capítulo 1 Dentro da Tendência Liberal Renovada Progressivista, o professor mantém sua posição de autoridade, mas deixa de ser autoritário. O professor permanece sendo o condutor das atividades de aprendizagem e passa a ter uma postura de mediador entre o aluno e o conteúdo, bem como entre o meio e o aluno, a fi m de contribuir para que o aluno possa construir seu conhecimento com base nas experiências. “Aprender fazendo” é a grande palavra-chave desta tendência, onde o aluno é incentivado a aprender a aprender, mesmo que este esteja fora da sala de aula. O aluno é incentivado e desenvolver um certo grau de autonomia para seguir aprendendo por ele mesmo. QUADRO 2 - MÉTODO DE ENSINO DA TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA PROGRESSIVISTA Método de ensino dentro da Tendência Liberal Renovada Progressivista a) Colocar o aluno numa situação de experiência que tenha um interesse por si mesma. b) O problema deve ser desafi ante, como estímulo à refl exão. c) O aluno deve dispor de informações e instrução que lhe permitam pesquisar a descoberta de soluções. d) Soluções provisórias devem ser incentivadas e ordenadas com a ajuda discreta do professor. e) Deve-se garantir a oportunidade de colocar as soluções à prova, a fi m de determinar a sua utilidade para a ida. FONTE: Adaptado de Libâneo (2006, p. 25). ● Tendência Liberal Renovada não diretiva Esta tendência foi defendida pelo americano Carl Rogers na década de 40, o criador da “abordagem centrada na pessoa”. Ele afi rmava que o conteúdo do currículo ensinado na escola não tem tanta importância. O mais importante seria no estímulo à capacidade do aluno aprender. Esta tendência atenta para a questão de que a escola deve estar mais voltada para as questões psicológicas do que as pedagógicas ou sociais propriamente ditas e por isso, o papel da escola dentro da concepção desta tendência seria o desenvolvimento ou a formação de “atitudes”. Desta forma, a Tendência Liberal Renovada não diretiva visa o fortalecimento da dimensão sociopolítica do aluno para que ele não desenvolva transtornos ou problemas de aprendizagem e possa fl uir para o auto aprendizado. Leia um trecho da reportagem da revista Nova Escola (2008) sobre a importância da relação entre professor e aluno de acordo com o ponto de vista do psicólogo Carl Rogers, exposta na fi gura a seguir: 32 Práticas Pedagógicas na Contemporaneidade FIGURA 9 – CARL ROGERS: REPORTAGEM DA REVISTA NOVA ESCOLA FONTE: Ferrari (2008) - Revista Nova Escola. Disponível em:<http://bit.ly/2FQl1rL>. Acesso em: 30 out. 2018. De acordo com Libâneo (2006), os métodos de ensino usuais não são levados em consideração, pois o que realmente deve acontecer dentro esta tendência é um esforço do próprio professor em desenvolver uma atitude para a facilitação da aprendizagem do aluno, mas o que faz o professor “facilitador”? Confi ra a seguir uma lista das características deste professor: a) Aceitação da pessoa do aluno. b) Capacidade de ser confi ável. c) Ser receptivo e ter convicção da capacidade do estudante de se autodesenvolver. d) Ajudar o aluno a organizar-se por meio de técnicas de sensibilização. e) Considerar os sentimentos dos alunos para que estes possam ser compartilhados sem que o aluno se sinta intimidado (LIBÂNEO, 2006). Dentro da perspectiva desta tendência, a escola visa promover a auto realização pessoal do aluno, levando mais em consideração as questões psicológicas do que as pedagógicas. A avaliação se dá por meio de atividades, seminários, debates, experimentos realizados de maneira individual e coletiva. ● Tendência Liberal Tecnicista: Esta é uma tendência totalmente voltada para o mercado de trabalho (mais especifi camente para o ensino profi ssionalizante). Portanto, o objetivo é moldar os indivíduos para o mundo do trabalho, ou seja, a fi nalidade é a produção de mão de Dentro da perspectiva desta tendência, a escola visa promover a auto realização pessoal do aluno, levando mais em consideração as questões psicológicas do que as pedagógicas. 33 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: MODELOS, TENDÊNCIAS, ABORDAGENS Capítulo 1 obra. Utiliza-se sobretudo de cartilhas, manuais, apostilas e livros que concentram o conteúdo mais técnico e científi co. Dentro desta tendência, o professor tende a concentrar-se em seguir fi elmente o material didático. A Tendência Liberal Tecnicista foi uma das tendências amplamente difundida no Brasil nos anos 1960 e 1970 e tem até hoje grande infl uência nas Políticas Públicas para a Educação. Esta teve grande aderência do período da ditadura militar, pois existia todo um movimento que visava o aumento da capacidade produtiva do país, a fi m de que ele se tornasse mais autônomo frente às grandes potências mundiais que forneciam bens de consumo para o Brasil. Decorreu deste momento da história do Brasil a necessidade de formar a força de trabalho, do proletariado, ou seja, formar técnicos e pessoas capazes de atuar nas fábricas e na indústria nacional. Conforme Libâneo (2006), a escola nesta tendência tem o papel, de, dentro do sistema social, e, por meio de técnicas específi cas, organizar o processo de aquisição de habilidades, competências e atitudes que úteis para que os sujeitos formados possam integrar a “[...] máquina do sistema social global” (LIBÂNEO, 2006, p. 29). Desta forma, à escola cabe o papel de atuar para o melhoramento da ordem social, no caso, o sistema capitalista, estando esta diretamente articulada com o sistema produtivo. O objetivo central, de acordo com Libâneo (2006, p. 29) é “[...] o de produzir indivíduos ‘competentes’ para o mercado de trabalho, transmitindo, efi cientemente, informações precisas, objetivas e rápidas”. QUADRO 3 - MÉTODO DE ENSINO DA TENDÊNCIA LIBERAL TECNICISTA Método de ensino dentro da Tendência Liberal Tecnicista a) Estabelecimento de comportamentos terminais, através de objetivos instrucionais. b) Análise da tarefa de aprendizagem, a fi m de ordenar sequencialmente os passos da instrução. c) Executar o programa, reforçando gradualmente as respostas corretas correspondentes aos objetivos. FONTE: Adaptado de Libâneo (2006, p. 29). Nesta tendência o professor faz a conexão entre o aluno e o conteúdo a ser estudado. O conteúdo é baseado em verdades científi cas que não é questionado nem pelo professor nem pelo aluno de forma que, nas palavras de Libâneo (2006, p. 30): “Ambos são espectadores frente à verdade objetiva”. A comunicação entre professor e aluno é técnica e tem a função de garantir a transmissão do conhecimento. 34 Práticas Pedagógicas na Contemporaneidade 4.2 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS A partir das tendências pedagógicas progressistas é que o aspecto político da educação passa a ser levado em consideração com um maior afi nco. Como você pode estudar anteriormente, a escola tradicional busca desvincular as questões sociais, políticas e econômicas das questões pedagógicas. Não obstante, as tendências progressistas afi rmam que estas questões estão intimamente ligadas e que a escola precisa levar em conta o contexto e a realidade social em que ela está inserida, assim como colocam em pauta a crítica a realidade social possibilidade por uma educação que abre espaço para a realidade histórico-social. O sujeito passa a ser compreendido como aquele que constrói a sua realidade e capaz de modifi cá-la. A escola, portanto, precisa considerar a educação dentro de um contexto político. Desta forma, o Projeto Pedagógico, instrumento que dá o direcionamento de todas as atividades da escola, passa a ser chamado de Projeto Político-Pedagógico,o famoso PPP. a) Tendência Pedagógica Progressista Libertária: Esta tendência tem como base os ideais anarquistas. Você deve estar se perguntando: mas o anarquismo não é caos, a bagunça? Na verdade, o conceito de anarquismo e os ideais que o constituem possuem uma perspectiva um pouco mais regrada e nadatem a ver com o caos. Cabe dizer, portanto, que o anarquismo não diz respeito à uma sociedade sem ordem, mas sem uma sociedade que é organizada por grupos de gestão e não pelo controle, burocracia e domínio do Estado, que, de acordo com esta perspectiva é nocivo e exclui a participação da população nas decisões. Dentro desta tendência, a escola aparece como uma instituição autogestionária, ou seja, uma instituição administrada por conselhos que decidem regras, métodos, currículos, entre outros aspectos do funcionamento da escola. Desta maneira, as regras, leis, diretrizes não chegariam na escola por uma imposição estatal, mas por decisão dos membros dos conselhos que determinariam o que é melhor ou mais adequado para a sua realidade escolar. Desta forma, o trabalho pedagógico e as práticas pedagógicas passam a ser propostas e colocadas em prática para que os alunos aprendam a lidar com a realidade em que eles estão inseridos, mas qual seria o papel do professor dentro da perspectiva desta tendência? O professor teria um caráter de orientador, mediador ou até mesmo de catalisador. O professor que atua nesta perspectiva, busca oferecer conteúdos e problemas práticos, mas sem a cobrança de resultados pontuais sobre o aluno. Esta tendência visa uma educação muito mais 35 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: MODELOS, TENDÊNCIAS, ABORDAGENS Capítulo 1 voltada para a prática, ou seja, se o aluno aprendeu de fato na prática o que lhe foi ensinado. Existem dois problemas dentro desta tendência e que são os pontos mais criticados pelos opositores desta tendência: um deles diz respeito à questão da avaliação. Dentro desta forma de avaliar os alunos de outras formas que não por uma avaliação por conteúdos, nem sempre fi cam claras as necessidades de aprendizagem dos alunos, as dúvidas que este tem. Tornando assim mais difícil diagnosticar se houve ou não o aprendizado. Outro ponto seria a questão do distanciamento do Estado regulador, de forma que não é garantido que os grupos que tomam as decisões acerca de currículo, metodologias e práticas pedagógicas tenham, de fato a formação necessária e os conhecimentos necessários para a criação de um sistema completo de ensino que venha a satisfazer todas as necessidades dos alunos e da comunidade escolar. QUADRO 4 - MÉTODO DE ENSINO DA TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTÁRIA Método de ensino dentro da Tendência Progressista Libertária a) Vivência grupal e autogestão dos alunos. b) Os alunos têm a liberdade de trabalhar conforme seus interesses. c) Sem direcionamento externo do percurso de aprendizagem. d) Dividida em 4 momentos: 1) oportunização de contatos, aberturas, relações informais entre os alunos; 2) o grupo inicia sua organização, de forma que todos possam participar das discussões, cooperativas, assembleias. Esta participação pode se dar de várias formas e expressão pela palavra; 3) o grupo se organiza de forma mais efetiva; 4) Execução do trabalho. FONTE: Adaptado de Libâneo (2006, p. 37). b) Tendência Pedagógica Progressista Libertadora (ou pedagogia da libertação): Esta é uma das tendências mais conhecidas e também mais criticadas na atualidade. Você já deve ter ouvido falar nela como “Pedagogia de Paulo Freire” ou “escola de Paulo Freire”. O Foco desta tendência é uma educação que vai ao encontro de uma transformação da sociedade, pois, concebe o homem (no sentido de humanidade) como um ser histórico, fruto de um processo histórico. Dentro desta tendência o ser humano é visto como um ser em constante transformação, fugindo, portanto, da ideia de determinismo. Dizer, por exemplo, que uma pessoa analfabeta sempre será analfabeta está equivocado, pois a pessoa analfabeta pode se tornar alfabetizada. O ser humano não está determinado única e exclusivamente pelas leis naturais como os animais, por exemplo. Um pássaro 36 Práticas Pedagógicas na Contemporaneidade nasce pássaro e não pode se tornar outra coisa a não ser um pássaro. O pássaro está limitado a ser um pássaro. Tanto que, por mais que algumas espécies ainda consigam se adaptar às transformações na natureza, muitas entram em extinção por não terem a capacidade da técnica, de criar ferramentas e novas formas de existência como nós seres humanos, que adaptamos a natureza às nossas necessidades. FIGURA 10 – ILUSTRAÇÃO DO HOMEM COMO SER RACIONAL QUE MUDA O SEU MEIO E A SI MESMO POR MEIO DA TÉCNICA FONTE: <http://bit.ly/2uHs7tD>. Acesso em: 29 out. 2018. É, portanto, a partir da educação que Paulo Freire acredita na possibilidade de transformação do homem e da sociedade. Portador da racionalidade, o homem além de se transformar, transforma o meio em que vive. Nesta tendência, acredita- se que a racionalidade humana pode ser melhor desenvolvida por meio da cultura e da educação. A escola, por sua vez, dentro desta perspectiva, é encarada com um ambiente propício para a transformação social. A escola é considerada muito mais do que um prédio, com salas, quadros negros e carteiras, ela é encarada como um espa- ço promotor de transformação da sociedade por meio do ensino. Mas como são trabalhados os conteúdos dentro da tendência libertadora? Dentro deste modelo, a ênfase não é no programa curricular formal, ou seja, as disciplinas e conteúdos que são estabelecidos pelas normas ou diretrizes nacionais. Para Freire esse modelo de programa curricular formal tende a fomentar uma educação do tipo bancária, ou seja, um modelo em que os conteúdos são “depositados” dentro da mente dos alunos que precisam guardar esses conteúdos, mesmo que eles não consigam ar- ticulá-los e aplicá-los na sua realidade de maneira crítica, refl exiva e autônoma. O aluno, dentro deste modelo criticado por Freire, é um mero depósito de conteúdos. 37 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: MODELOS, TENDÊNCIAS, ABORDAGENS Capítulo 1 Dentro desta tendência, existe uma valorização dos chamados “temas geradores” que nada mais são do que temas que têm relação com a realidade do aluno, ou seja, temas que tratam de assuntos tais como: a participação social, o trabalho, as relações sociais, entre outros pertinentes e que fazem parte do contexto do estudante. Para que o “tema gerador” possa acontecer, Freire considera importante que as experiências prévias dos alunos sejam consideradas e valorizadas, a fi m de que se crie uma conexão entre a vida do aluno e o conteúdo a ser estudado. Um dos pontos importantes para que a aprendizagem possa ocorrer é o diálogo que deve haver entre o educador e os educandos. Quando o professor considera relevante as experiências prévias dos estudantes e as situações já vividas por estes, por meio do diálogo, das perguntas e respostas criam-se vários caminhos para o acesso ao conhecimento. Este é um tipo de relação horizontal entre professor e aluno, ou seja, o professor continua sendo autoridade, mas não é autoritário. O professor aprende com o aluno e o aluno aprende com o professor. Esta é uma ideia de construção do conhecimento (construtivismo - que veremos no próximo item), que ultrapassa a dimensão da mera reprodução de textos de livros e apostilas. Para Paulo Freire (1986), o professor cria e constrói juntamente com o aluno o conhecimento. A relação com o conhecimento e com o aluno não é de mera transmissão de conteúdos já preconcebidos por livros ou manuais, que garantem que as ideias dominantes sejam sempre reproduzidas e não modifi cadas, criticadas, alteradas. A realidade faz a mediação dentro da relação professor-aluno. É ela que fornece subsídios para os conteúdos a serem trabalhados pelos estudantes. Dentro desta tendência, Freire (1986) pretende que, dentro da relação professor-aluno o resultado fi nal seja o desenvolvimento da consciência sobre a sociedade, sobre a realidade de forma que esta consciência possa fornecer subsídios para o reconhecimento das ideias dominantes. Mas porque os alunos precisam reconhecer as ideias dominantes? Paulo Freire afi rma que nós vivemosem um Estado de Opressão causado pelas classes dominantes que oprimem as classes dominadas. Somente por meio da ação-refl exão-ação é que esta lógica pode ser rompida. A ação inicia pela observação da realidade. A refl exão seria o reconhecimento do indivíduo como oprimido e a ação fi nal seria uma ação na direção de uma tomada de posição para a saída da situação de opressão. Mas de que forma o oprimido sairia dessa situação? De acordo com esta tendência, seria necessária uma negação da cultura e dos ideais dominantes, bem como a luta pela inserção da sua própria cultura. Somente por meio da educação seria possível esta transformação. Sem a educação, de acordo com Paulo Freire as pessoas não teriam condições de reverter esta situação, sendo condenados à exploração sem nem mesmo reconhecerem que são exploradas e infl uenciadas pela cultura dominante. Para que o “tema gerador” possa acontecer, Freire considera importante que as experiências prévias dos alunos sejam consideradas e valorizadas, a fi m de que se crie uma conexão entre a vida do aluno e o conteúdo a ser estudado. 38 Práticas Pedagógicas na Contemporaneidade Desta forma, dentro da tendência libertadora a fi nalidade da educação é a formação da consciência crítica. QUADRO 5 - MÉTODO DE ENSINO DA TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTADORA Método de ensino dentro da Tendência Progressista Libertadora a) Educação baseada no diálogo engajador. b) Utiliza-se de grupos de discussão, a quem cabe autogerir a aprendizagem, a defi nição do conteúdo e a dinâmica da atividade. c) O professor atua como um dinamizador destes grupos. d) Intervenção mínima do professor, apenas quando necessário para dar informações mais sistematizadas. FONTE: Adaptado de Libâneo (2006, p. 37). FIGURA 11 – CITAÇÃO DE PAULO FREIRE FONTE: <http://bit.ly/2OLVhAT>. Acesso em: 29 out. 2018. c) Tendência Pedagógica Progressista Crítico-social dos conteúdos: Criada entre as décadas de 1970 e 1980, a Tendência Pedagógica Progressista Crítico-social dos conteúdos aparece com uma possível solução para garantir efi ciência da formação de mão de obra para o mercado de trabalho. Desta forma, os chamados conteúdos universais (que conhecemos como base comum atualmente), precisariam ser difundidos e ensinados aos alunos, de forma que estes pudessem ser educados levando em conta os conteúdos universais e a relação destes com a realidade social. 39 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: MODELOS, TENDÊNCIAS, ABORDAGENS Capítulo 1 Dentro desta tendência pedagógica, o professor além de ser mediador e contribuir para que o aluno consiga perceber a realidade ao seu redor, também busca apresentar exercícios e desafi os aos alunos. Concebe-se nesta perspectiva o aluno como uma pessoa com uma visão fragmentada e desorganizada da sociedade e da vida, cabendo à escola fornecer, por meio da intervenção do professor a orientação aos alunos para que eles possam desenvolver uma visão mais global e organizada da sociedade aliado à um posicionamento crítico e autônomo. De acordo com Libâneo (2006, p. 39): [...] a atuação da escola consiste na preparação do aluno para o mundo adulto e suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por meio da aquisição de conteúdos e da socialização, para uma participação organizada e ativa na democratização da sociedade. Apesar desta tendência buscar garantir que o conteúdo objetivo seja passado aos alunos, ao aluno é fornecia a oportunidade de reavaliá-los de maneira crítica. QUADRO 6 - MÉTODO DE ENSINO DA TENDÊNCIA PROGRESSISTA CRÍTICO-SOCIAL DOS CONTEÚDOS Método de ensino dentro da Tendência Progressista Crítico-social dos conteúdos a) Privilegia a aquisição do saber vinculado às realidades sociais. b) Deve haver a correspondência entre os conteúdos e os interesses dos alunos. c) Não se confi gura em mera transmissão do saber e a livre expressão de opiniões. d) Busca fazer uma relação direta com a experiência do aluno confrontada com o saber trazido de fora. FONTE: Adaptado de Libâneo (2006, p. 4). 5 ABORDAGENS DA PRÁTICA PEDAGÓGICA Você como professor talvez já tenha algum dia se questionado: como afi nal de conta nós construímos nosso conhecimento? Bom, esta foi uma pergunta muito recorrente na história da humanidade. Inúmeros fi lósofos e estudiosos antigos, modernos e contemporâneos se debruçaram em estudos sobre este tema, na tentativa de compreender como nós aprendermos a fi m de ajudar na busca e aprimoramento de métodos e práticas pedagógicas. 40 Práticas Pedagógicas na Contemporaneidade Neste item você irá conhecer duas grandes teorias ou abordagens que estão diretamente ligadas com as Práticas pedagógicas do nosso tempo. Tais abordagens dizem respeito mais diretamente aos processos cognitivos que envolvem a aprendizagem. Desta forma, ao compreendermos melhor o funcionamento da nossa mente e as possibilidades que esta nos oferece, se torna mais viável pensarmos em Práticas pedagógicas mais condizentes com as necessidades de aprendizagem dos nossos alunos. Veja a seguir duas teorias ou abordagens sobre a aprendizagem de dois grandes investigadores e estudiosos da mente humana, a saber: Piaget e Vygotsky. 5.1 ABORDAGEM INTERACIONISTA E CONSTRUTIVISTA - PIAGET FIGURA 12 – IMAGEM DE JEAN PIAGET FONTE: <http://bit.ly/2Uv6fAi>. Acesso em: 29 out. 2018 41 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: MODELOS, TENDÊNCIAS, ABORDAGENS Capítulo 1 Como nós construímos nosso conhecimento também era uma grande dúvida para o psicólogo, biólogo e epistemólogo Jean Piaget, que, na década de 40, a partir da observação de crianças, inclusive dos seus próprios fi lhos criou a chamada Teoria Cognitiva. Esta teoria, resumidamente afi rma existirem quatro estágios de desenvolvimento cognitivo pelos quais todo ser humano necessariamente passa, a saber: o sensório-motor, o pré-operatório, o operatório concreto, e, operatório formal ou abstrato. No entando, antes de você estudar estes estágios do desenvolvimento cognitivo humano, vamos relembrar alguns conceitos que permeiam a teoria de Piaget. É interessante mencionar que, na época em que esta teoria foi inaugurada, as discussões sobre o desenvolvimento humano vinham de duas principais bases: o materialismo mecanicista (desenvolvida pelo fi lósofo René Descartes) e o idealismo (desenvolvido pelo fi lósofo Platão). Resumidamente, estas eram teorias buscavam explicar o desenvolvimento humano e a construção do conhecimento, ora com base na ideia de que o homem era dividido entre corpo e mente - ideia desenvolvida por Descartes, ora com base na ideia da separação entre corpo e alma - desenvolvida por Platão. Piaget, por sua vez, afi rmava que o desenvolvimento humano pode ser explicado através do que ele chamou de interacionismo ou sócio-interacionismo. Tal modelo ganhou evidência e notoriedade em função de sua consistência epistemológica, pois foi num estudo realizado por meio de observação, com rigor científi co e por isso é denominado de psicologia genética. A ideia inicial não era a formulação de uma teoria sobre a educação, mas sim de estudar o comportamento humano acerca de como ele se desenvolve desde seu nascimento até a vida adulta. Não obstante, esta ideia é mais tarde trazida para o campo da educação, a fi m de colaborar com a criação de Práticas pedagógicas mais condizentes com a forma como nos seres humanos constroem seu conhecimento apontada por Piaget. Um dos conceitos centrais para Piaget é o de epigênese. Piaget (1976, p. 367) afi rma que “[...] o conhecimento não procede nem da experiência única dos objetos nem de uma programação inata pré- formada no sujeito, mas de construções sucessivas com elaborações constantes de estruturas novas”. O sujeito, portanto, não nasce com o conhecimento, ou seja, o conhecimento não é inerente ao sujeito, tampouco não está apenas nos objetos que ele acessa. Desta forma, o sujeito não pode isoladamente conhecer, por meiodo contato com os objetos. Para Piaget, o conhecimento é, portanto, uma construção conjunta de elaboração com base na experiência e interação, ou em outras palavras, uma junção entre o que o sujeito já carrega consigo associado ao contato e experienciação do objeto. Isso é o que ele chama de evolução da fi logenia humana. Nossa estrutura biológica não traz os processos de estruturação “[...] o conhecimento não procede nem da experiência única dos objetos nem de uma programação inata pré-formada no sujeito, mas de construções sucessivas com elaborações constantes de estruturas novas” 42 Práticas Pedagógicas na Contemporaneidade do conhecimento, é necessária, portanto uma ativação destes processos. Esta ativação, de acordo com Piaget, só se dará a partir do processo de interação com o meio tanto físico quanto social. Nascemos, portanto, com formas ou estruturas primitivas da mente e, no âmbito da socialização essas estruturas ou formas primitivas vão sendo reorganizadas pela nossa psique. Existe, portanto, uma interdependência entre o sujeito conhecedor e o objeto a ser conhecido. Panorama: Antes das teorias de Piaget: se considerava num primeiro momento, apenas os fatores internos, biológicos ou hereditários na aquisição do conhecimento e desenvolvimento humano. Num segundo momento, apenas os valores externos, ou seja, o ambiente, eram levados em consideração na aquisição do conhecimento e desenvolvimento humano. Com Piaget: temos a consideração da união entre esses dois fatores para a aquisição do saber e o desenvolvimento humano. Durante nossa vida, somos sempre desafi ados a conhecer e ter que lidar com o meio que nos rodeia, tanto o fi sco quanto o social. Esses desafi os nos exigem uma contínua estruturação e reestruturação do pensamento. Esse processo de reestruturação pelo qual nós passamos ao longo da nossa vida, desde o nascimento é o processo que Piaget denomina de operações mentais. Operações mentais nada mais são do que processo pelo qual o pensamento lógico passa de um nível mais elementar para um nível mais superior ou complexo. Desta forma, a gênese ou origem do conhecimento está no sujeito em interação com o objeto. A construção do conhecimento se dá de maneira interna a partir das suas estruturas internas e não externamente. Portanto, para que o pensamento lógico possa ser elaborado é necessário um processo interno de refl exão. Epigênese é o processo evolutivo humano tem uma origem biológica. O sujeito já nasce com as estruturas mentais necessárias para a construção do conhecimento, mas é necessária a interação entre o sujeito e o meio para que as estruturas se desenvolvam. Operações mentais nada mais são do que processo pelo qual o pensamento lógico passa de um nível mais elementar para um nível mais superior ou complexo. 43 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: MODELOS, TENDÊNCIAS, ABORDAGENS Capítulo 1 Como então se dá o processo de desenvolvimento humano diante de problemas e da necessidade de conhecer o mundo? Existe um processo chamado equilibração, ou seja, o ser humano tenta, por meio dos seus próprios recursos cognitivos se adaptar às situações que lhe são apresentadas. De acordo com Piaget, são dois os fatores cruciais para o desenvolvimento humano: os fatores invariantes e os fatores variantes: ● Fatores invariantes são as estruturas biológicas, sensoriais e neurológicas que o indivíduo já nasce com elas. Dentro desses fatores invariantes, Piaget diz que naturalmente o indivíduo já carrega consigo duas marcas inatas: a tendência à organização e à adaptação. ● Fatores variantes: se manifestam na forma de esquemas que são a unidade básica do pensamento e da ação estrutural. A inteligência não é herdada mas sim construída no processo de interação entre o homem e o ambiente em que ele está inserido. Desta forma o nosso cérebro busca equilíbrio para que o conhecimento possa ser construído. Com isso, é possível perceber que é através da formulação dos esquemas mentais que conseguimos aprender coisas novas. Ao nos adaptarmos ou equilibrar- mos, nós geramos a capacidade de aprender. A adaptação também é um conceito do Piaget e se dá na forma de dois mecanismos: a assimilação e a acomodação. Assimilação é a tentativa de solucionar alguma situação cognitiva nova a partir da estrutura que o indivíduo já possui. Acomodação é a capacidade de realizar mudanças na estrutura mental já existente para que se consiga conhecer o novo e se adaptar a ele. Desta forma, por meio da assimilação e da acomodação, o indivíduo pode construir o seu conhecimento. Por isso, a palavra construtivismo para caracterizar a teoria piagetiana. Agora, rapidamente, vamos explorar as chamadas Etapas do Desenvolvi- mento de Piaget. Dentro da abordagem piagetiana, são quatro os períodos ou momentos do processo evolutivo no que diz respeito à cognição humana. Cada período mostra o que o indivíduo consegue realizar de acordo com a faixa etária em que se encontra. 44 Práticas Pedagógicas na Contemporaneidade QUADRO 7 - OS QUATRO ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE PIAGET Os quatro estágios do desenvolvimento humano de acordo com a teoria de Piaget 1º 0 a 2 anos Sensório motor 2º 2 a 7 anos Pré-operatório 3º 7 a 11 ou 12 anos Operatório concreto 4º 11 ou 12 anos Operatório formal ou abstrato FONTE: A autora. Segue um breve resumo sobre o que acontece em cada estágio ou períodos de desenvolvimento: ● Sensório motor: quando a criança nasce ela tem muito pouco conhecimento sobre a realidade que a cerca e poucas habilidades motoras. Com o passar do tempo, a criança vai se desenvolvendo, sobretudo, a partir dos seus processos e refl exos inatos (tais como sucção, movimentação dos olhos, sensação de frio e calor) e, naturalmente busca entender o ambiente que a cerca. Neste estágio há, portanto, um esforço para o desenvolvimento das habilidades sensório- motora, sendo de fundamental importância que a criança receba estímulos e interaja com o meio para o seu desenvolvimento. FIGURA 13 – ILUSTRAÇÃO DO ESTÁGIO SENSÓRIO MOTOR FONTE: <http://bit.ly/2UoCHnX>. Acesso em: 29 out. 2018. 45 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: MODELOS, TENDÊNCIAS, ABORDAGENS Capítulo 1 ● Pré-operatório: este período é caracterizado pela manifestação da função simbólica e da linguagem. Para Piaget, a inteligência é anterior ao aparecimento da linguagem, ou seja, a criança já nasce inteligente e possui o motor para o desenvolvimento da linguagem e não o contrário. Como neste estágio a criança já possui um conhecimento maior do ambiente em que ela vive, já consegue identifi car objetos, signifi cados e de realizar a representação simbólica (desenhos, sonhos, imitação). Esta também é a fase do egocentrismo psíquico, ou seja, a criança é muito voltada para o seu “eu” e ainda não consegue reconhecer que as outras pessoas são diferentes dela, com interesses e vontades diferentes e independentes. Neste período, inicia o chamado jogo simbólico ou o “faz de conta”, ou seja, um processo que permite à criança a experimentação de situações diferentes por meio do uso da fantasia e imaginação da criança que a auxilia na leitura e interpretação do mundo e dos acontecimentos da vida. Neste período, a criança tem um período longo de desenvolvimento e existe a necessidade de fornecer mais estímulos e diversidade de interação com o meio, pois, para Piaget, esta é uma fase em que se desenvolve o âmbito afetivo-emocional por meio do jogo simbólico. FIGURA 14 – ILUSTRAÇÃO DO ESTÁGIO PRÉ-OPERATÓRIO FONTE: <http://bit.ly/2YMFMgT> Acesso em: 29 out. 2018. ● Operatório concreto: neste estágio temos o desenvolvimento da capacidade do pensamento racional, de forma que a criança passa 46 Práticas Pedagógicas na Contemporaneidade a acessar o conhecimento, além de classifi cá-lo (fazer combinações, separar por tipos) e de organizá-lo (essa organização agora pode se dar em ordem
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