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João Victor Castro Villela FAMED - UFAL 2021 Equilíbrio Eletrolítico Equilíbrio da água no organismo - regra geral, entrada = eliminação. Objetivo - manutenção da osmolaridade (tonicidade) plasmática entre 285 e 290 mOsm/Kg. Mecanismo de concentração e diluição urinária tem papel fundamental para a manutenção deste equilíbrio. Vasopressina (ADH) - produção pelo hipotálamo, com ação nos receptores V2 dos túbulos coletores, levando a expressão de aquaporinas (AQPs). AQPs - aumentam a reabsorção renal de água livre (efeito antidiurético). Aumento da osmolaridade - sede + aumento ADH. Redução da osmolaridade - supressão da sede + supressão do ADH. Distúrbios do Sódio Hiponatremia Na < 135 mEq/L. Distúrbio eletrolítico mais comum no hospital geral. Associado com redução de osmolaridade - hipotonicidade. Para avaliar as causas de hiponatremia, temos que acessar o perfil volêmico dos pacientes 1 - Hiponatremia Hipotônica - hiponatremia hipotônica HIPERVOLÊMICA - aumento da água corporal total, com edema. - Em geral há aumento de sódio corporal, porém o mecanismo da hiponatremia é dilucional. - Patologias que cursam com retenção hídrica. - Insuficiência cardíaca - Hepatopatias crônicas - Síndrome nefrótica - DRC em estágio avançado - Gestação - hiponatremia hipotônica HIPOVOLÊMICA - redução de água corporal total, com perda de sódio. - Perda de sódio + água. - Dosar sódio urinário. - com sódio urinário baixo: < 20 mEq/L - perda extra renal (desidratação, diarreia, vômitos) - com sódio urinário aumentado: > 40 mEq/L - perda renal (diuréticos, nefropatia perdedora de sal) - hiponatremia hipotônica EUVOLÊMICA/NORMOVOLÊMICA - aumento da água corporal total (mecanismo dilucional), sem edema - sódio corporal total pode estar normal ou baixo, podem ser as seguintes causas: - SIADH - Hiponatremia pós-cirúrgia (aumento temporário do ADH + excesso de fluidos) - Hipotireoidismo - situações de mixedema - Polidipsia psicogênica (> 10L/dia) - Insuficiência adrenal - deficiência de corticoides levam a redução da água corporal. - Com diurese hipertônica: Osm urinária > 100 mOsm/L e Na > 40 mEq/L - insuficiência renal secundária; hipotireoidismo; síndrome de antidiurese inapropriada - SIAD -. João Victor Castro Villela FAMED - UFAL 2021 - Com diurese hipotônica: Osm urinária < 100 Osm/L - polidipsia primária; cirurgia de ressecção transuretral de próstata; alcoolismo. 2 - Hiponatremia Não Hipotônica - Síndromes hiperglicêmicas do diabético - 100 pontos de aumento na glicemia (maior que 100 mg/dl), tem-se em média uma redução de 1,6 pontos na natremia. - Fazer cálculo de sódio corrigido! 3 - Síndrome secreção inapropriada do ADH - causa mais comum de hiponatremia no ambiente hospitalar. Aumento da secreção do hormônio antidiurético pelo hipotálamo (ADH/vasopressina). Causas comuns: - SNC: infecções, hemorragias, tumores, trauma, pós-acidentes vasculares encefálicos. - Neoplasias: pulmonar (pequenas células), pâncreas, duodeno etc. - Pulmonares: tumores, infecções, tuberculose, fibrose cística etc. - Drogas: AINHs, clorpropamida, tricíclicos etc. 4 - Critérios Diagnósticos 1) Na < 135 mEq/L. 2) Osmolaridade plamática a) Normal: dosar lipídios e proteínas no soro i) Aumentado: pseudo-hiponatremia: dosar Na pelo método iônico. ii) Normal: Manitol isotônico. b) Baixa - avaliar a osmolaridade urinária i) < 100 mOsm/L: polidipsia primária. ii) > 100 mOsm/L: avaliar a volemia, que pode estar: (1) Aumentada (edema) - ICC, cirrose, ins. renal. (2) Normal - SIAD, hipotireoidismo, ins. suprarrenal. (3) Reduzida: avaliar o Na urinário, que se estiver maior que 40 é por perda renal e se for menor que 20 é por perda extra renal. c) Elevada: síndromes diabéticas hiper osmolares; uso de manitol hipertônico. 5 - Apresentações Clínicas - assintomática: Na > 125 mEq/L - Na < 120 mEq/L: cefaleia, desorientação, convulsões, torpor, coma. João Victor Castro Villela FAMED - UFAL 2021 - Gravidade dos sintomas têm relação com a velocidade de instalação e com a intensidade da alteração. - Edema cerebral é a complicação mais grave da instalação rápida da hiponatremia - neurônio está mais “hipertônico” em relação ao plasma - movimento de entrada de água no neurônio - edema cerebral. - Síndrome de Desmielinização Osmótica (SDO): distúrbio da consciência; tetraparesia; disartria e disfagia. - Lesão anatomopatológica: mielinólise pontina. 6 - Tratamento Hiponatremias crônicas assintomáticas - restrição hídrica - uso de furosemida - tolvaptan - antagonista dos receptores V2 do ADH - suspensão de tiazídicos - nas formas hiper volêmicas, manejo das causas base + uso de furosemida Hiponatremias graves crônicas ou agudas sintomáticas - Correção cautelosa de sódio. - 1) Aumentar sódio sérico em 1 mEq/L/hora nas 3 primeiras horas, com solução salina a 3%. - 2) Depois, aumentar 0,5 mEq/L/hora até completar 24 horas (máximo 12 mEq/L em 24 horas). - Homem: déficit de sódio = 0,6 x peso x variação desejada de sódio. - Mulher: déficit de sódio = 0,5 x peso x variação desejada de sódio. - 3) Com o resultado do déficit de sódio. - Dividir o resultado por 17. - x 100. - Dividir por 3. - Volume de salina a ser infundido. - Utilizar salina hipertônica (3%) - Associar furosemida (0,5 - 1,0 mg/Kg EV) em SIADH - eliminação de água livre. Trazer a osmolaridade urinária para 300 mOsm/L. Hipernatremia Na > 145 mEq/L. Geralmente leva a aumento da osmolaridade sérica (geralmente acima de 300 mOsm/kg). Toda hipernatremia é hipertônica. 1 - Causas - Perda de água livre; - Perda de fluidos hipotônicos; - Redução patológica da ingestão de água; - Ganho de sal ou soluções hipertônicas. 2 - Tipos Hipernatremia HIPERVOLÊMICA - aumento de água e de sódio corporal total. - Forma menos comum de hipernatremias. - Uso de bicarbonato de sódio. - Síndrome de Cushing (excesso de mineralocorticóides). - Hiperaldosteronismo. Hipernatremia HIPOVOLÊMICA - redução de água corporal total, com perda de sódio. Causas mais comuns. - Desidratação - diarreia - vômitos - sudorese profusa - queimados Hipernatremia EUVOLÊMICA - sódio corporal total em geral está normal. - Diabetes insipidus - perda de água livre pelos rins por deficiência central ou resistência tubular ao ADH João Victor Castro Villela FAMED - UFAL 2021 - poliúria e polidipsia - relação com deficiência de ADH - sede excessiva 3 - Apresentação Clínica da Hipernatremia Sintomatologia e gravidade do quadro também tem relação com velocidade de instalação da hipernatremia. Na > 160 mEq/L e osmolaridade > 320 mOsm/L - sede - relacionado a hiperosmolaridade - fraqueza muscular - confusão mental - déficit neurológico focal - convulsões - torpor - coma Complicação mais grave: hiperosmolaridade plasmática - saída de água do neurônio para o plasma hiperosmolar - desidratação neuronal. 4 - Tratamento - Objetivos - interromper a perda de água livre - repor a água perdida - tratar a causa de base - redução do sódio sérico - Água potável (VO ou enteral). - Solução hipotônica: SG 5% ou NaCl a 0,45% IV. - Redução do sódio em até 10 mEq/L nas primeiras 24 horas! - Se reposição hídrica rápida: edema cerebral. Distúrbios do Potássio Hipocalemia Principal cátion no meio intracelular. Cerca de 98% do potássio do corpo está no meio intracelular. K no intracelular é 120-150 mEq/L. K no extracelular é 3,5-5,0 mEq/L. Bomba de sódio-potássio ATPase mantém o potássio como o principal cátion intracelular. Existe na membrana das células um canal de vazamento de potássio que estão constantemente abertos que tornam a célula polarizada para que ocorra a despolarização das células excitáveis, isso gera o potencial de repouso. É a bomba de sódio-potássio ATPase para manter este equilíbrio. O potássio extracelular deve ser finamente controlado! Senão haverá disfunção do potencial de repouso das células musculares - cardiomiócitos, músculo esquelético e liso. Definição: K < 3,5 mEq/L. Principais “órgãos-alvo” - Coração: arritmias ventriculares, intox. digital. - Músculoesquelético: fraqueza e rabdomiólise. - Músculo liso: íleo paralítico. Etiopatogênese - Redução da ingesta de potássio. - Entrada na célula. - Insulina (em excesso pode gerar hipocalemia) e beta-2 adrenérgico. - Perda exógena (renal ou extrarrenal). - Renais: aldosterona (aumenta a reabsorção de sódio), alcalose (como por vômitos repetitivos) e Mg reduzido (o Mg é importante para manter o potássio dentro da célula). João Victor Castro Villela FAMED - UFAL 2021 - Extra Renal: perda de suco digestivo abaixo do piloro (causam hipocalemia por perda direta de potássio). Manifestações Clínicas - Leve a moderada - Fraqueza, fadiga, cãimbras, constipação. - Grave - Paralisia (hipoventilação), íleo, rabdomiólise, arritmias - Crônica - Tubulopatia vacuolar (DI nefrogênico, IRC). Laboratório Gradiente transtubular de potássio (é útil quando a causa é obscura) Eletrocardiograma “A onda T acompanha o potássio.” Tratamento Qual sal de K deve ser reposto? - KCL. - Citrato de potássio em situações específicas, por ser transformado em bicarbonato pelo fígado, ou seja, usado em acidose. Via oral administrada preferencialmente. IV somente em: intolerância oral; perdas GI importantes; hipocalemia grave. Dose ● Hipocalemia LEVE (3,5-3,0) ○ 40-80 mEq/dia ○ 1 grama de KCL = 13 mEq de K. ○ Exemplo: xarope KCl 6% - 15 a 30 ml/dia. ● Hipocalemia GRAVE (< 3,0) ○ 10-20 mEq/hora Hipercalemia Definição: K > 5 mEq/L. Principais “órgãos-alvo” - Coração (arritmias ventriculares). - Músculo esquelético (fraqueza). - Músculo liso (íleo paralítico). Etiopatogênese - DRC. - Redução da excreção renal sem DRC. - Saída da célula. - Diminuição da excreção renal sem DRC. - IECA, BRA, diuréticos “poupadores de K” - Hipoaldosteronismo: insuficiência adrenal, hiporreninêmico, nefrites intersticiais crônicas (aumenta resistência do túbulo) - Saída de potássio da célula - Acidose - redução de 0,1 pH = aumento de 0,7 mEq/[K] Manifestações Clínicas - Leve a moderada - Fraqueza, fadiga, constipação. - Grave - Paralisia (hipoventilação), íleo, arritmias. Eletrocardiograma “ A onda T acompanha o potássio.” Obs.: metade dos pacientes com hipercalemia não possui EC alterado. João Victor Castro Villela FAMED - UFAL 2021 Tratamento - Confirmar se é uma hipercalemia verdadeira. - Suspender fontes de K. - Rever medicamentos. Se Hipercalemia grave (K > 6,5 mEq/L) ou sintomática: 1) Proteger eletricamente o miocárdio, com Gluconato de cálcio 10 ml IV em 2-3 min. Exceto nos casos de intoxicação digitálica. 2) Reduzir o potássio sérico com: a) Agonistas beta-2-adrenérgicos i) Salbutamol 10-20 gotas. b) Insulina i) Insulina regular 10U + glicose 50% 10 ml em 20 min c) HCO3 i) 50 mEq (50 ml da solução a 8,4%) IV em 20 min. d) Resina de troca VO i) Sorcal 30 g (1 sachê) 12/12 horas. No hipoaldosteronismo verdadeiro 1) Fludrocortisona 0,1 mg/dia
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