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1 Autogestão e Práticas Organizacionais Horizontalizadas: Amplificando Sinais Autoria: Maria Ceci Araujo Misoczky, Joysinett Moraes da Silva, Rafael Kruter Flores Resumo O tema da autogestão e da auto-organização tem sido consistentemente marginal(izado) no campo dos estudos organizacionais em decorrência das dificuldades para ver arranjos organizacionais diferentes daqueles que são produzidos e continuamente produzem a teoria hegemônica. Este artigo dá continuidade a uma tradição de trabalho acadêmico e ativismo, considerando vertentes tradicionais sobre o tema da auto-organização e da autogestão - o anarquismo libertário e os princípios do cooperativismo. Refletindo sobre fenômenos do nosso tempo no contexto da América Latina, realiza-se uma sistematização desses registros, destacando, ao longo do texto, idéias e práticas que marcam cada um deles. No encerramento, essas idéias e práticas são organizadas à moda de um tipo ideal de inspiração Weberiana. Assim, se pretende contribuir para a sociologia das ausências indicando a existência de práticas decretadas como não-existentes pelo conhecimento dominante, e para a sociologia das emergências, amplificando sinais de práticas organizacionais alternativas ao hierarquismo. Introdução O tema da autogestão e da auto-organização tem sido consistentemente marginal(izado) no campo dos estudos organizacionais. Disciplinados e dóceis à tirania do visível (BLAUG, 1999), temos muitas dificuldades para ver arranjos organizacionais diferentes daqueles que são produzidos e continuamente produzem a teoria hegemônica. Obcecados com o hierarquismo, somos incapazes de reconhecer práticas organizacionais existentes na prática, mas às margens de nosso arcabouço teórico. Trata-se, segundo Blaug (1999, p.34), de uma “recorrente falha perceptiva e cognitiva”. Para esse autor, a natureza desta falha reside em uma “ilusão institucionalizada de surpreendente estabilidade”: uma interpretação bastante particular do conceito de organização. O hierarquismo defende que para o sucesso, no mundo, da ação de conjuntos de pessoas, é indispensável uma hierarquia de comando, controle centralizado e a institucionalização de papéis de perícia e liderança. […] Ele inclui modos de coordenação da ação mais afim com estruturas burocráticas, já que se baseia na divisão do trabalho, na sistematização de tarefas e na imunização das elites decisórias contra aqueles que são definidos como carentes de perícia. Finalmente, o hierarquismo adota a razão instrumental em sua orientação para o sucesso, ganhos da complexidade estrutural e substituição sistemática do julgamento discursivo e da argumentação deliberativa por regras escritas imparciais, formalizadas e procedimentais. Ao adotarmos esse modo de ver produzimos ativamente a não existência de práticas organizacionais distintas. Nesse sentido, a revelação de um objeto que era anteriormente invisível se torna um ato de aprendizagem. Para tanto, a adoção da sociologia das ausências pode ser um caminho fecundo. Segundo a sociologia das ausências, a investigação tem como objetivo explicar que o que não existe é ativamente produzido como não existente. O não existente é ativamente produzido sempre que certa entidade ou fenômeno é desqualificado e tornado invisível, incompreensível, ou irreversivelmente descartável. Santos (2003, p.5) descreve cinco lógicas ou modos de produção da não existência: 1) A monocultura e o rigor do conhecimento – consiste em tornar a ciência moderna e a alta cultura o único critério para a verdade e a qualidade estética, respectivamente. 2) A monocultura do tempo linear - significado e direção têm sido simbolizados de modos diferentes ao longo dos últimos séculos (progresso, modernização, desenvolvimento, globalização), produzindo a não existência ao descrever como 2 atrasado e retrógrado tudo que é assimétrico face ao que é declarado como progressista e moderno. 3) A classificação social – consiste em distribuir populações em termos de uma monocultura que naturaliza hierarquias, produzindo a não existência como uma forma de inferioridade. 4) A lógica da escala dominante que leva à monocultura do universal e do global, ou seja, a escala adotada como primordial determina a irrelevância de todas as outras escalas possíveis, o não existente é, então, produzido sob a forma do particular, do local, do nacional. 5) A lógica da produtividade – reside na monocultura do critério da produtividade e eficiência capitalista, que ao ser aplicada ao trabalho produz populações descartáveis por desqualificação profissional, falta de habilidades, e até por preguiça. A produção dessas ausências resulta na perda da experiência social dos cinco não existentes: o ignorante, o residual, o inferior, o local e o não produtivo. Como uma reação, a sociologia das ausências proclama uma ampla versão de realismo que inclui tornar visíveis realidades tornadas ausentes pelo silêncio, supressão, e marginalização – realidades que são ativamente produzidas como não existentes. Esta sociologia demanda imaginação epistemológica e democrática; desejo e capacidade de perceber, identificar e amplificar os sinais de experiências alternativas de construção de futuros possíveis, de tendências e latências que são ativamente ignoradas pelo conhecimento e racionalidades hegemônicos (SANTOS, 2003). Baseado em Ernst Bloch (1995) e em seu conceito de ‘não ainda’ como uma categoria que expressa o que existe como mera tendência, como o modo pelo qual o futuro está inscrito no presente, Santos (2003, p. 9) desenvolve uma proposta de pesquisa sobre as alternativas que estão contidas no horizonte das práticas concretas. “Ela consiste em realizar um alargamento simbólico do conhecimento, práticas e agentes, de modo a identificar tendências do futuro (do não ainda) nas quais é possível intervir de modo a maximizar a probabilidade da esperança face à possibilidade da frustração”. Para tanto, precisamos tanto criticar a tradição quanto afirmar novas possibilidades e/ou caminhos pouco ou nada explorados nos estudos organizacionais. Este é, precisamente, o objetivo deste artigo. Os temas da autogestão e da auto-organização já estiveram presentes em nosso campo disciplinar. De modo algum estamos nos referindo às técnicas de gestão da força de trabalho no padrão da acumulação flexível – células de produção, times de trabalho, grupos semi- autônomos e que tais. Sobre esses, concordamos com análises como a de Antunes (2002, p. 52), que as considera como uma forma de “participação manipuladora que preserva, na sua essência, as condições de trabalho alienado e estranhado”. Estamos nos referindo aos esforços empreendidos principalmente por Maurício Tragtenberg e Fernando Prestes Motta, na transição da década de 70 para a de 80. A despeito do interesse do tema por pesquisadores da área, Prestes Motta (1981, p. 9) afirmou: Nos últimos anos, um grande número de estudiosos das organizações, nos mais variados países, tem escolhido a autogestão como objeto de estudo e pesquisa. Em países como a França, esse tipo de estudo tem uma longa tradição, mas mesmo assim os incontáveis artigos que vêm sendo publicados revelam uma volta, mais ou menos recente, ao tema. Na Iugoslávia, onde está implantado um sistema autogestionário específico e discutível, quanto à sua natureza, o material é abundante. Esta produção está fortemente influenciada pelo contexto das experiências de auto- gestão desenvolvidas, naquele período, em organizações produtivas européias. Em Venosa (1987, p.122), por exemplo, são trazidas experiências realizadas em países do leste europeu, como a Polônia e a Iugoslávia. Sobre este último caso, o autor menciona que sua discussão “é Bárbara Bastos 3 importante, ao menos para colocar em suspenso a crença de que as organizações hierarquizadas são um pré-requisito para a eficiência empresarial”. Prestes Motta (1981) parte desse fenômeno doqual era contemporâneo, mas recorre às formulações de Proudhon para refletir sobre o tema da autogestão, buscando entender tanto a natureza autoritária da organização burocrática moderna, quanto a proposta autogestionária em sua origem, pois “a característica fundamental da administração burocrática é a heterogestão e sua única alternativa radical é a autogestão” (PRESTES MOTTA, 1981, p. 10). Prestes Motta (1981, p. 141) explora, também, o conceito de homem coletivo: “um fenômeno tão certo quanto a personalidade do homem indivíduo”. É desta concepção do ser em geral, e em particular do eu humano, que eu creio possível provar a realidade positiva e, até certo ponto, demonstrar as idéias (as leis) do eu social ou do grupo humano, e de constatar e manifestar, acima e fora de nossa existência individual, a individualidade do homem superior coletivo (PROUDHON Apud PRESTES MOTTA, 1981, p. 141). O homem coletivo de Proudhon difere do homo economicus, e de todos os conceitos de homem que se seguiram na evolução das teorias organizacionais, pelo predomínio da solidariedade sobre o egoísmo. Tragtenberg (1987, p. 31), por sua vez, pressupõe que a auto-organização ou “autogestão não constitui nenhum imperativo ideológico; ela tem sua legitimidade na medida em que surge da reivindicação do movimento real” (TRAGTENBERG, 1987, p. 31), pois para autogerir alguma coisa, segundo ele, é preciso começar autogerindo a própria luta: se os sujeitos sociais são capazes de organizar, de modo autônomo e coletivo, diretamente a própria luta, então serão capazes também de organizar a produção e a mudança social. A luta, de acordo com Tragtenberg (1987), é o embrião do que virá, é o exercício da organização; é o começo da viabilização prática do estabelecimento de relações sociais coletivistas. Tendo essa postura ativista e politicamente comprometida, Tragtenberg (1987) analisa criticamente a ‘co-gestão’ adotada na Alemanha Federal, os Conselhos de Estabelecimentos - formados por trabalhadores de acordo com suas unidades de produção. A co-gestão, segundo o autor, comporta co-decisão: uma decisão só pode ser tomada por concordância das partes; se houver representação desigual, pela maioria dos membros que compõem esse órgão, ou seja, as duas partes têm o mesmo direito (TRAGTENBERG, 2005, p. 55). Nessa perspectiva, conclui que o Conselho “parece corresponder ao desejo dos assalariados em constituir um meio válido de interlocução com o chefe da empresa” (TRAGTENBERG, 2005, p. 75). Discute, também, organizações cooperativas na Europa ocidental: na Espanha, na década de 50; na Itália e na França, na década de 70. Havia, por parte destes autores, uma preocupação com a exploração de experiências concretas como meio para formulações teóricas que apoiassem a prática dos trabalhadores de seu tempo. Desde então, a presença de trabalhos sobre auto-organização é praticamente inexistente em nosso meio acadêmico; o que não significa, obviamente que estes processos não estejam ocorrendo. Portanto, este artigo se propõe a continuar essa tradição de trabalho acadêmico e ativismo, trazendo formulações da história e experiências contemporâneas que poderão contribuir para a retomada dessa temática entre nós. Assim como nossos autores de inspiração, neste artigo consideramos vertentes tradicionais sobre o tema da auto-organização e da autogestão: o anarquismo libertário e os princípios do cooperativismo. Consideramos, também, fenômenos do nosso tempo, focando no contexto da América Latina. Nos próximos itens faremos, então, uma sistematização desses registros, destacando, ao longo do texto, idéias e práticas que marcam cada um deles. No encerramento do artigo, essas idéias e práticas são organizadas à moda de um tipo ideal de inspiração Weberiana. Assim, pretendemos contribuir para a sociologia das ausências indicando a existência de práticas decretadas como não-existentes pelo conhecimento dominante, e para a sociologia das Bárbara Bastos Bárbara Bastos Bárbara Bastos Bárbara Bastos Bárbara Bastos 4 emergências, amplificando sinais de práticas organizacionais alternativas ao hierarquismo. Como foi salientado por Weber (1999), não se pode perder de vista o caráter fluído das relações na realidade social. Portanto, a sistematização apresentada no último item não tem caráter de modelo, não tem qualquer intenção prescritiva, trata-se meramente de uma indicação de algumas possibilidades de ver mundos organizacionais possíveis e existentes entre nós. 1 As tradições do socialismo libertário e do cooperativismo O ato de organizar, para os socialistas libertários, os anarquistas, deve estar desvinculado de estruturas ou autoridades hierárquicas, pois essas são consideradas as fontes que regem as principais instituições de todas as sociedades. De acordo com Faure (1981, p. 58), esse é o ponto que distingue o pensamento anarquista acerca da organização: “a negação do princípio da autoridade nas organizações sociais e o ódio a tudo que origina instituições baseadas neste princípio”. Organizações constituídas na forma de hierarquias e que concentram poder no topo da estrutura piramidal, tais como corporações, burocracias governamentais, exércitos, partidos políticos, organizações religiosas, universidades etc., mostram como as relações resultantes desse processo afetam negativamente os indivíduos, sua sociedade, e sua cultura (PROJETO PERIFERIA, 2006). Os indivíduos são livres para se associar como julgarem mais conveniente, sendo os coletivos regidos por assembléias de todos os membros, embora os assuntos puramente administrativos possam ser geridos por comitês eleitos pelos membros da assembléia. Tais comitês seriam formados por delegados, peritos se necessário, mas com mandatos temporários e revogáveis a qualquer tempo. Na organização hospitalar, por exemplo, seria respeitada a perícia do médico, porém o planejamento e as atividades que dizem respeito à organização como um todo seriam elaborados pelo coletivo. Isto é, o processo organizativo da proposta anarquista é constituído a partir de baixo, pois é do coletivo que partem as decisões. Esse organizar, ao contrário do que se dissemina sobre o anarquismo enquanto desordem, confusão e caos, implica na constituição de práticas organizacionais estipuladas a partir do trabalho em grupo e sob a coordenação do próprio grupo. Tragtenberg (1987, p. 27) traduz bem os socialistas libertários ao afirmar que a concepção de uma sociedade que é capaz de se autogerir tem como fundamento a autoconsciência do ser humano, a compreensão do ambiente que o rodeia e a si próprio, o que implica no abandono e na rejeição de todos os mitos e formas de falsa consciência: culto a chefes carismáticos, nacionalismos, patriarcalismos, fé na racionalidade da hierarquia. Malatesta (1927) salienta que uma organização anarquista deve ser estabelecida sobre a plena autonomia, plena independência e, conseqüentemente, plena responsabilidade dos indivíduos e dos grupos. Deve haver livre acordo entre aqueles que crêem ser útil unir-se para cooperar em um trabalho comum; há que existir dever moral de manter os engajamentos assumidos e nada fazer que esteja em contradição com o programa aceito (MALATESTA, 1927). Sobre essas bases, adaptam-se as práticas e os instrumentos aptos a dar vida à organização. Assim, quando necessário, ainda que sofrendo pela utilização de corpos representativos e de todas as suas imperfeições, a organização estaria isenta de todo autoritarismo porque não impõem aos outros suas próprias deliberações. O que os anarquistas rejeitam, portanto, não é a organização, é o hierarquismo, o estabelecimento de um grupo particular cuja função seria organizar as outras pessoas. Malatesta (1927) assinala que a organização outra coisa não é senão a condição natural, necessária, da vida social, um fato inelutável que se impõe a todos, tanto na sociedade humana em geral quanto em todo grupo de pessoas que tenhaum objetivo comum a alcançar. A questão, como salienta o autor, está em como organizar. Bárbara Bastos 5 Acerca da organização pensada pelos socialistas libertários, as seguintes características se destacam: livre associação; descentralização; ausência de autoridades hierárquicas ou estruturas rígidas predefinidas; assembléia geral como instância de tomada de decisão não- rotineira; assuntos administrativos rotineiros geridos por comitês eleitos em assembléia; comitês compostos por delegados, peritos temporários e revogáveis, se necessário; autonomia; responsabilidade individual e coletiva. O cooperativismo faz, historicamente, parte das tentativas de auto-organização dos trabalhadores. A cooperativa, de produção ou de serviços, é uma sociedade voluntária de pessoas que tem como finalidade atender as necessidades dos seus associados, sem visar lucros (PRESTES MOTTA e PEREIRA, 1980). As cooperativas têm se configurado, ao longo do tempo, enquanto experiências que refletem um determinado contexto histórico dos trabalhadores e, por vezes, respondem, mesmo, à necessidade de reprodução do capital sob determinados contextos. A maioria dos princípios cooperativistas são oriundos da Sociedade dos Probos de Rochdale, reconhecida como a primeira cooperativa moderna, criada em 1844, na Inglaterra, no bairro de Rochdale- Manchester, por 28 operários (27 homens e uma mulher) que, em sua maioria, eram tecelões. De acordo com Rique (2000), os fundadores dessa cooperativa viram no associativismo uma forma de contornar, por meio da compra e venda comum de mercadorias, os efeitos danosos do capitalismo sobre suas condições de vida. Para tanto, reuniram capital e alugaram um armazém para estocar produtos que, adquiridos em grande quantidade, poderiam ser comprados a preços mais baratos (RIQUE, 2000, p. 4). Como salienta a autora, os motivos para a criação de Rochdale não eram novidade. O novo foi quando tentaram encontrar uma solução para a questão “O que fazer com a sobra?”. A resposta veio na elaboração de um estatuto cujos princípios isolados também não eram novos, mas que no conjunto eram revolucionários, pois propunha a um só tempo: controle democrático; um sócio, um voto; adesão aberta de novos membros com as mesmas condições de igualdade dos antigos; juros limitados ou fixados sobre o capital subscrito; distribuição de parte do excedente proporcional às compras; vendas à vista, sem crediário, para evitar endividamento; vendas só de produtos puros, não adulterados; neutralidade político-religiosa de modo que todos que tivessem interesse ou necessidade de participar da cooperativa pudessem; não era preciso ser um trabalhador da cooperativa para se tornar seu membro; e não era necessário ser membro da cooperativa para trabalhar na mesma. Tragtenberg (2004) afirmava que um dos principais problemas associados às cooperativas é sua tendência de se tornar uma empresa convencional, explorando a mão-de- obra assalariada, se não houver uma base ideológica forte. Historicamente, a falta dessa base ideológica tem conduzido à degeneração das cooperativas, seja por transformarem-se em empresas convencionais ou porque fecham devido a conflitos internos. Segundo Tragtenberg (2004), isto ocorre porque, embora a proposta da cooperativa seja coletivista, não pressupõe transformações na estrutura econômica da sociedade. Assim, à medida que os trabalhadores- membros optam por aumentar o valor de cotas através da contratação de assalariados, ao invés de diluir o patrimônio pela admissão de novos membros, a cooperativa gradualmente perde as características que a distinguiam de uma empresa tradicional, com fins exclusivamente lucrativos (TRAGTENBERG, 2004). Acerca das possíveis contribuições dos princípios do cooperativismo, algumas características podem ser destacadas: trabalho organizado sob a responsabilidade técnica de representantes eleitos pelos próprios pares em cada área da organização; constituição de grupos de trabalho; reuniões para prestar conta das tarefas e definir novas atividades; Assembléia Geral, como órgão deliberativo máximo; gestão realizada somente por pessoas da própria organização que recebem a atribuição revogável a qualquer tempo da Assembléia Geral; cada pessoa, um voto; os mandatos para todas as atividades são revogáveis a qualquer Bárbara Bastos 6 tempo; os deveres são assumidos como responsabilidades individuais e coletivas e deve ser prestadas contas ao coletivo; respeito à perícia. 2 Práticas organizacionais horizontalizadas no contexto da América Latina Um fenômeno recente no contexto Latino-Americano é o das fábricas recuperadas na Argentina. Essas organizações representam, talvez, um dos resultados mais imediatos da luta por parte dos trabalhadores para conservar seus empregos pois, via de regra, são ocupadas por ex-empregados somente empresas em situação falimentar e dentro do contexto específico da crise econômico-social que teve seu auge no final de 2001 (FAJN, 2004; FAJN e REBÓN, 2005; LIMA, 2006). Na maior parte dos casos, as empresas recuperadas são pequenas e médias e abarcam diversos ramos de atividade, com forte presença da indústria. Os trabalhadores compreendidos nessas experiências não passam de alguns milhares em todo o país (Argentina), o que levou alguns observadores a subestimar sua importância em função desse critério quantitativo. Mas, sem dúvida, essas empresas desencadearam um grande movimento de solidariedade: convocaram estudantes, artistas, técnicos e profissionais, estabeleceram colaboração com organizaçoes sindicais, outras empresas recuperadas, movimentos de desempregados, produtores rurais para realizar intercâmbios de produtos e matérias primas, e realizaram uma intensa propaganda em torno da importância de não se isolar, não baixar os braços e buscar recuperar o valor da associação e do espírito de luta. (CAMPIONE e RAJLAND, 2006, p. 321) Como subsídio para refletir sobre práticas organizacionais por parte dos trabalhadores, essas experiências têm mostrado valiosas potencialidades, uma vez que as pessoas têm buscado, elas mesmas, dar respostas concretas aos seus próprios problemas, tornando-se protagonistas das próprias lutas e, desse modo, fortalecendo sua capacidade de organização, formando parte do que pode vir a ser um processo amplo de organização popular e de construção de poder (FAJN, 2004; FAJN e REBÓN, 2005; PARRA, 2005). Essas experiências geram práticas organizacionais cujo ponto central é a descentralização das tomadas de decisão, a polivalência de funções e o desaparecimento de hierarquias salariais, rompendo com a propriedade privada e avançando na direção de uma tentativa de propriedade coletiva dos meios de produção (PARRA, 2005). A reconstrução do espaço organizacional a partir de uma perspectiva autogestionária tem o efeito de desestruturar as relações capital-trabalho que são hierarquizadas ao extremo através de relações de obediência e submissão. [...] Essa desestruturação parece favorecer uma reapropriação coletiva dos saberes da gestão, assim como a emergência de processos democráticos de tomada de decisão no interior da empresa. De fato, em todas as empresas recuperadas é comum a adoção de práticas assembleiárias para a tomada de decisão. (FAJN, 2004, p. 5) Fajn (2004, p. 6) assinala que a nova cartografia do poder organizacional é determinada pela dinâmica das ações coletivas e essas devem começar no processo de reapropriação coletiva das capacidades e recursos para conduzir os destinos da empresa. Essas capacidades, segundo o autor, estão vinculadas ao saber fazer da gestão, aos conhecimentos políticos, organizacionais, produtivos, técnicos, contábeis, comerciais e outros, requeridos para administrá-la. “O desenvolvimento de tais recursos deve ser um movimento em permanente ampliação e, o que é fundamental, a reapropriação deve ser de caráter coletivo, evitando a emergência de ‘manchas’ burocráticas que se apoderemde tais capacidades”. Quando as empresas são pequenas ou médias, os trabalhadores, normalmente, têm as relações horizontais mais facilitadas porque as reuniões podem ser mais freqüentes e são possíveis as interações diretas, cara a cara, entre todos os seus membros da empresa; quando a organização apresenta altos graus de complexidade e diversidade de processos produtivos, os processos de horizontalidade são mais lentos e, via de regra, é utilizada a Assembléia Geral, com datas pré-definidas, de modo a obter a participação de todos; a implementação de 7 processos decisórios de caráter coletivo acontecem sob formas de delegação: são eleitos representantes que controlam as dinâmicas organizacionais rotineiras (FAJN, 2004; FAJN e REBÓN, 2005; PARRA, 2005). As normas são criadas através de decisão coletiva para firmar regras de conduta e evitar que os sócios-trabalhadores acreditem que tudo é possível no âmbito organizacional (NOVAES, 2007). Ackerley (2007, p. 4), acerca das práticas organizacionais nas empresas recuperadas argentinas, afirma que as Assembléias só se consolidam enquanto instâncias de uma prática organizacional horizontal quando, de fato, todos têm direito à palavra. “Quem fala, de que fala, que conseqüências são produzidas quando todos podem falar, são perguntas que podem ser equiparadas a: quem tem o poder, poder de quê, que conseqüências são produzidas quando todos têm o poder?” O motivo da Assembléia pode ser diverso: um problema com um fornecedor, a falha de uma máquina, o problema de um trabalhador, uma mudança específica, uma entrega antecipada etc. Necessariamente todos devem comparecer à Assembléia respeitando a cadeia de produção, [...] pois não se pode deter instantaneamente as máquinas para participar da Assembléia, então, deve-se esperar o final do processo e depois iniciar a Assembléia. (ACKERLEY, 2007, p. 7) Na Assembléia todos falam, embora um ou dois trabalhadores, eleitos previamente, coordenem e distribuam os diálogos. A comunicação, segundo Ackerley (2007), vai se tornando mais horizontal à medida que são dissolvidos os mecanismos de poder, mas para tanto, aqueles que não estão acostumados a falar, a dar sua opinião e, portanto, não sabem comunicar uma idéia, tanto quanto aqueles que não sabem escutar “um outro que é seu igual”, devem aprender com a prática e com a ajuda dos outros. A relação cara a cara induz a uma auto-organização no pensamento que é incomparável a qualquer outra forma de comunicação” e facilita a auto-organização dos próprios assembleístas. Há que se salientar, também, que não existe um padrão de organização para as empresas recuperadas. O que é observado é a tendência à adoção de práticas horizontalizadas por parte dessas organizações. Na maior fábrica recuperada da Argentina, a Zanon, também é adotada a Assembléia Geral como órgão máximo para a tomada de decisão. Todavia, ao contrário de algumas outras empresas recuperadas, que preferem adotar um regime de horário mais flexível, a Assembléia da Zanon estabeleceu como norma que todos devem chegar 15 minutos antes e sair 15 minutos depois do horário de trabalho estabelecido para que os trabalhadores possam entrar em contato com as novidades do dia, bem como conversar sobre o que se passou ao longo do turno de trabalho (LAVACA, 2004). Já o tempo destinado ao almoço é estipulado por cada um, bem como as paradas para o mate e as conversas. O que é esperado é que cada um se responsabilize por suas atividades, sem a necessidade de controle (LAVACA, 2004). Algumas práticas organizacionais que caracterizam as empresas recuperadas podem ser destacadas, tais como: gestão coletiva; reapropriação coletiva dos saberes da gestão; desenvolvimento de saberes coletivos na gestão; processos democráticos de tomada de decisão; práticas assembleiárias para a tomada de decisão; práticas organizacionais coletivas; constituição de instâncias deliberativas; delegações para execução das decisões tomadas pelo coletivo; decisão coletiva para firmar regras de conduta; definição de propostas comuns e a utilização da tomada de decisão através do consenso; garantia do direito à palavra para todos; responsabilidade individual e coletiva, uma vez que as decisões envolvem a todos e as conseqüências ou resultados positivos ou negativos vão recair sobre todos igualmente; responsabilidade pela execução das próprias atividades sem a necessidade de controle; definição de uma nova cartografia do poder organizacional definida pela dinâmica das ações coletivas e pela construção do poder desde baixo. Entende-se, portanto, que no âmbito das organizações horizontais, o sentido da ação não está somente no resultado, mas na própria ação em sua peculiaridade, produzindo um 8 outro sentido e uma outra valorização dos meios. Isto é, a própria prática organizacional definida para a consecução dos objetivos estabelecidos seria, também, a razão de ser da organização social, seu leitmotiv, cuja centralidade está no coletivo da organização. Um sentido prático da legitimidade produzida no coletivo é identificado por Ramirez (2004; 2006), quando trata das práticas organizacionais adotadas pelo povo alteño (El Alto - Bolívia) no levante indígena-popular, em 2003, conhecido como a “Guerra do Gás”. Segundo o autor, as práticas organizacionais do povo alteño se fundamentaram nos saberes coletivos que permitiram a organização de toda a cidade em comitês de vigília, grupos de controle e segurança. “Cada membro de família era parte da estrutura de organização e mobilização social”. Uns cuidavam das casas enquanto outros protestavam nas ruas da cidade de La Paz. Alguns cozinhavam enquanto outros levavam mate e ervas medicinais aos feridos. “Se teceu uma complexa solidariedade coletiva não vista desde a fundação da cidade. Por isso foi uma multidão que assumiu corpo político que teve a capacidade de traspassar facilmente as fronteiras do poder constituído” (RAMIREZ, 2006, p. 281). Sob essas condições se fizeram legítimos os micro-governos dos bairros. Primeiro pela contundência de sua ação e organização coletiva e, segundo, por ser a referência de segurança da vida social nos bairros. Essa legitimidade significava que havia uma aceitação total de seus membros a esta forma de organização dos bairros. Ademais, era o único referente da defesa da vida. [...] Cada milímetro da cidade estava coberta por essas organizações. […] Nenhum ladrão se atrevia abertamente a roubar ou entrar nas casas. Se o fizesse, eram as próprias pessoas do bairro, das organizações, que se encarregavam dele. (RAMIREZ, 2006, p. 278- 281) Construir poder a partir de baixo significa, então, uma concepção e uma lógica de formação que articula todos os envolvidos no processo. A expressão “a partir de baixo”, de acordo com Rauber (2002), não alude a uma localização espacial, embora indique um posicionamento político-social a partir de onde se produz a construção do poder, colocando em um lugar central, protagonista, a participação “dos que estão abaixo”. Não implica, também, a negação de construções realizadas em âmbitos que podem ser chamados “de cima” porque os que podem, aos olhos de um desavisado que não compreende a lógica organizacional em questão, parecer que estão acima, na realidade, ali estão como executores nomeados pelos que estão abaixo. Vecchio (2007), estudando as práticas organizacionais da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, de Porto Alegre, assinala como uma das bases da criação desse Grupo de Teatro a crença na capacidade dos indivíduos de se articular e transformar seu meio e, a partir dessa base, orientar as suas práticas organizacionais. De acordo com Vecchio (2007), cada atuador - como se auto-intitulam os integrantes desse Grupo de Teatro - recém integrado ao grupo ou já experiente, pode intervir, decidir e fazer parte de qualquer uma das atividades dentro do Grupo. Essa prática, segundo o autor, dilui as funções especializadas, umavez que no andamento das ações do Grupo, cada sujeito se envolve com a atividade para a qual se sente apto e para isso também conta com a colaboração sensível e atenta dos atuadores mais experientes. A função desses últimos, como ressalta o autor, no momento da escolha de que ‘papel’ ou função vai desenvolver o novo participante do Grupo, é perceber aptidões e estimular interesses, mas a decisão do que vai fazer e com o que vai se envolver parte do próprio sujeito, desde que seja respaldado pelo coletivo. Desse modo, segundo Vecchio (2007), a partir das escolhas de cada pessoa são distribuídos os encargos e com eles as responsabilidades inerentes. A fim de manter a coesão do Grupo, a distribuição dos trabalhos, inevitavelmente, passa pela apreciação coletiva. Nesse caso, segundo o autor, o que é percebido é que a distribuição dos encargos não é necessariamente uniforme, o que significa que, em função das habilidades, disponibilidade de tempo e interesses, alguns podem se envolver mais que outros, mas essa é uma decisão individual que precisa ser apoiada pelo 9 coletivo. Todavia, o coletivo necessita que as responsabilidades assumidas sejam efetivadas para a própria manutenção do Grupo. Isso é trabalhado no próprio Grupo rotineiramente. Da elaboração do texto à construção do cenário, da confecção dos figurinos à interpretação dos personagens, não há hierarquia de funções, nem papéis especializados. As figuras do ator, diretor, produtor e cenógrafo estão presentes na dinâmica do conjunto, mas não são identificadas como personalidades. E da mesma forma, o gerenciamento do espaço físico e a divulgação dos seus projetos são feitos coletivamente. (ALENCAR apud VECCHIO, 2007, p. 61) Misoczky, Flores e Böhm (2008), chamam atenção para as organizações de resistência contra a instalação de plantas de celulose, na América do Sul. Na cidade de Gualeguaychú, Argentina, por exemplo, uma cidade diretamente afetada pela implantação das atividades industriais da Botnia, instalada no país vizinho, Uruguai, os habitantes, cerca de 85 mil, resistem através da adoção de práticas organizacionais que podem ser identificadas pela sua horizontalidade, no espaço da Assembléia Ambiental Cidadã de Gualeguaychú. Os autores constataram, in loco, seu funcionamento ao visitá-la, inclusive para que pudessem filmar a reunião assembleiária, primeiro fizeram uma solicitação que foi votada por todos os que estavam presentes. “Este episódio mostrou que, literalmente, cada pequeno detalhe é votado em uma tentativa de ter o suporte amplo e popular para tudo que está sendo decidido dentro e fora da Assembléia” (MISOCZKY, FLORES e BÖHM, 2008, p. 7). As decisões são tomadas por consenso, e se não for possível, a grande maioria precisa concordar com a ação. Isso é de fundamental importância para assegurar a unidade da Assembléia, já que “nada é mais destrutivo em qualquer luta organizada do que uma Assembléia que não é unificada e permite a formação de frações”. A horizontalidade permite a participação de todos. Isso também significa que a Assembléia é um espaço totalmente aberto que pretende representar todas as pessoas de Gualeguaychú. Qualquer pessoa pode entrar na Assembléia e qualquer um pode trazer uma proposta para a Assembléia. Todas as decisões precisam ser votadas, e ninguém pode bloquear qualquer decisão. Em Gualeguaychú tudo é votado. (MISOCZKY, FLORES e BÖHM, 2008, p. 7) Os autores salientam que “horizontalidade também significa que ninguém pode falar em nome da Assembléia”. Embora, é claro, nem tudo seja realizado por todos. Assim, a Assembléia elege comitês para trabalhar com questões específicas como finanças, comunicação, transporte etc.; bem como possui um secretário permanente que resolve as questões do dia-a-dia; advogados e outros profissionais voluntários. “Mas todas essas pessoas não podem representar a Assembléia. Elas simplesmente executam os desejos da Assembléia” (MISOCZKY, FLORES e BÖHM, 2008, p. 7). A Associação das Mães da Praça de Maio, um movimento que surgiu na Argentina, em 1977, quando as Mães deixaram de reivindicar individualmente informações acerca dos filhos ‘desaparecidos’ e passaram a protagonizar, juntas e sem intermediários, suas próprias reivindicações, interpelando diretamente o Estado, utiliza a Assembléia Geral como instância máxima para a tomada de decisões. Na Assembléia é realizado o exercício da direção de todos os assuntos por todas. Naquele âmbito, as Mães tomam as decisões por consenso; discutem durante horas acerca de um tema e se aparecer no meio da Assembléia qualquer outro assunto, também se permitem falar. “Deixamo-nos falar de tudo e se passam horas e quando terminamos, seguimos com a reunião” (BONAFINI apud GORINI, 2006, p. 128). Depois que tomam uma decisão, distribuem as tarefas entre si através do uso da delegação autorizada. Quando agem, o fazem autorizadas pelo grupo. A Associação tem como Presidente Hebe de Bonafini auxiliada por duas Conselheiras, Mercedes de Meroño e Evel de Petrini, todas eleitas por consenso para o exercício dos cargos. Desse modo, agem em nome do coletivo que representam e, portanto, somente concretizam as decisões tomadas por ele através da delegação autorizada, o que significa que todo poder delegado a elas para o exercício do cargo 10 pode ser revogado pela Associação das Mães da Praça de Maio a qualquer tempo (SILVA, 2008). No que diz respeito à Assembléia Geral, como já afirmado, esse é o órgão deliberativo máximo da organização horizontal e, portanto, composto por todos os seus membros. No espaço dessa Assembléia todos podem emitir suas opiniões, escutar e avaliar os argumentos dos demais para que a melhor decisão seja tomada por consenso, isto é, de modo que todo o grupo coomparta a decisão. Isso significa que todas as pessoas precisam compartilhar as informações necessárias para a discussão de determinado tema. Essa prática viabiliza que todos se posicionem na tomada de decisão. Albert (2000, p. 3) ressalta que as informações relevantes para as decisões têm duas origens: “o conhecimento do caráter da decisão, seu contexto e suas implicações mais prováveis; e o conhecimento de como se sente cada pessoa sobre essas implicações e concretamente como valorizam as diferentes opções”. Segundo o autor, o primeiro tipo de conhecimento é, em média, muito especializado, mas o segundo é sempre diversificado, uma vez que cada pessoa é a única que pode definir as próprias valorizações e escolhas, bem como seus motivos. Desse modo, no que tange ao conhecimento especializado sobre as implicações das decisões tomadas, essas podem ser disseminadas de forma que todos os participantes possam avaliar a situação e formar sua própria opinião com tempo suficiente para expressá-la na Assembléia. O especialista no assunto em pauta deve falar para todos os membros da comunidade organizacional e esses, por sua vez, devem escutar. Porém, no momento concreto da tomada de decisão, o voto do especialista vale tanto quanto o de qualquer outro. Isso posto que, se cada pessoa tiver direito a um voto, mas não tiver as informações sobre as opções possíveis, o voto se converteria em farsa (ALBERT, 2000). Rey (2004) questiona se é necessário que estejam todos os membros da organização presentes na Assembléia Geral, e se é necessário que participem ativamente para que determinada decisão seja legítima? Também pergunta se, em alguns casos, basta notificar quem não estava na Assembléia da decisão tomada? Se há Assembléia, quem está habilitado para definir o momento e o lugar em que ela vai acontecer? As pessoas devem participar das decisões ou é um direito que a pessoa pode optar por exercer ou não? Aquele que não vai à Assembléia pode delegar seu voto a um representante ou esse é intransferível? As pessoas devem influenciar nas decisões na proporção em que são afetadas por elas? O que legitima uma decisão tomada no âmbito da Assembléia: o espaço assembleárioou o número de participantes e quem decide isso? Trata-se de indagar, como salienta Fernández (2007), como certas configurações coletivas criam condições de possibilidade para instalar outras modalidades de agir, de imaginar, de se vincular. Se um dos objetivos das organizações que adotam práticas horizontalizadas é a própria participação dos sujeitos, uma vez que essas têm como método e objetivo que as práticas organizacionais sejam definidas por todos os seus membros, consideradas sua autonomia e responsabilidades individuais e coletivas, essas são decisões que deveriam ser tomadas pelo próprio coletivo, visto que não há uma organização igual a outra. Somente a vontade de participar ativamente não é suficiente, uma vez que a participação ativa depende de uma pluralidade de circunstâncias, tais como participar pessoalmente e disponibilidade de tempo. Nos processos autogestionários as interações apresentam particularidades específicas; ao não se estabelecer a diferenciação entre representantes e representados, a potência de imaginar, de inventar e de fazer não cai nas mãos de poucos. Não só se produz uma potência coletiva, como cada um pode ter o registro da mesma. [...] Quando um coletivo constitui uma máquina de horizontalidade autogerida e atua na lógica da multiplicidade, suas capacidades de invenção e de ação podem ir muito mais além do que seus integrantes poderiam ter calculado. (FERNÁNDEZ, 2007, p. 2) 11 Bourdieu (2004, p. 41) reflete sobre como uma organização coletiva pode se comunicar internamente, com outras organizações e/ou a sociedade sem comprometer sua essência coletiva, em contraste com o grito, protesto ou discurso individual, o discurso do porta-voz é um discurso autorizado que deve a sua autoridade ao fato que a pessoa que o pronuncia obtém sua autoridade do grupo que o autoriza a falar em seu nome. Quando o porta-voz fala, é um grupo que fala através dele; um grupo que existe enquanto tal, através daquele discurso que pronunciou o porta-voz. O porta-voz é uma solução para o problema tipicamente Durkheimiano da existência do grupo além dos obstáculos biológicos relativos aos limites temporais e espaciais inerentes à corporeidade dos indivíduos. Uma das funções do porta-voz e dos atos de manifestação é divulgar o grupo que o autoriza. Um porta-voz autorizado pode acionar a força da qual deriva a sua autoridade convocando o grupo a se mobilizar e, efetivamente o mobilizando, levando-o, então, a manifestar-se (quando for importante a manifestação massiva). A delegação autorizada é aquela que é capaz de mobilizar o grupo que a autoriza, e, portanto, capaz de manifestar o grupo tanto para si mesmo (através do suporte à manutenção de sua moral e crença) quanto para os outros. Albert (2000) ainda assinala que cada pessoa ou grupo envolvido em uma decisão, além de ter os meios organizativos para conhecer e expressar seus desejos, assim como os meios para avaliá-los de forma sensata, deveria ter a opção de abster-se quando considerar plausível. A autonomia, em termos concretos de organização e gestão dos assuntos, de acordo com Rey (2004, p. 9), “nomeia a possibilidade de expressão sem condicionamentos, sem ataduras, sem restrições, de atuar por vontade própria e de pensar sem limites. Evoca o campo da liberdade”. Isso significa, também, a possibilidade de não participar ativamente de todas as assembléias. Albert (2000) acredita que se todos tivessem uma influência na tomada de decisão proporcional ao grau em que lhes afetam as conseqüências dessas, algumas dessas respostas seriam obtidas mais facilmente. Quanto à responsabilidade, todos os deveres assumidos individual ou coletivamente para com a organização devem ser cumpridos conforme as decisões previamente compartilhadas na Assembléia Geral. São reconhecidos os direitos de independência, opinião livre, liberdade individual e iniciativa de cada membro, mas também é requerido que eles assumam deveres organizacionais fixos, assim como são exigidas a execução das decisões compartilhadas (MHAKNO et al, 1926). Isto é, a responsabilidade de cada sujeito é condição sine qua non para a sobrevivência da organização a longo prazo. A responsabilidade é a obrigação de responder pelos próprios atos ou de alguém ou de algo que nos foi confiado. [...] A responsabilidade tem dois aspectos: individual e coletivo. A responsabilidade individual obriga a pessoa a responder por seus atos ante o coletivo e este enquanto tal responde ao indivíduo. A responsabilidade coletiva obriga não só responder pelos próprios atos, mas também pelos atos alheios, quando se trata de atos deliberados, aceitos e decididos livremente por um grupo de indivíduos associados para realizar uma tarefa comum. [...] Não há oposição entre a responsabilidade coletiva e individual. Ambas se completam e se ampliam sob o ponto de vista social (CUBEROS, 2001). Há que se compreender que as decisões, enquanto não são convertidas em tal, a princípio, não são obrigatórias, pois são apenas proposições submetidas e discutidas entre todos os interessados; elas só se tornam obrigatórias e executáveis para aqueles que as aceitam, e só até o ponto em que as aceitam. É o coletivo de uma organização que assume sua direção e administração através do meio organizativo usualmente denominado de Assembléia Geral. Assim, pressupõe-se que a decisão de todos os assuntos esteja nas mãos de todos e de cada um, de maneira direta, sem qualquer intermediário, com exceção dos assuntos rotineiros, pois como afirma Rey (2004, p. 38), “a experiência histórica ensina que sem organização e sem um suporte mínimo para sustentar o trabalho de um coletivo, os impulsos para a ação terminam se diluindo”. 12 Esse tipo de administração, como já tratou Weber (1999), significa a possibilidade do exercício da direção dos assuntos comuns por todos, minimizando a extensão do poder de mando: as funções administrativas poderiam ser assumidas em um sistema de turnos; seriam conferidas mediante eleição direta; os períodos de exercício seriam curtos, os cargos poderiam ser revogáveis a qualquer tempo; as decisões não rotineiras seriam tomadas em assembléia por todos os membros da associação, e deixadas com os funcionários somente a execução das decisões e a administração dos assuntos correntes. Entretanto, segundo Weber (1999), esse processo só seria possível em organizações de pequeno porte e geograficamente próximas. No entanto, como já comentado, as organizações criadas e ativadas em torno da “Guerra do Gás” chegaram a congregar mais de 800 mil pessoas, ou seja, cada “cada milímetro da cidade” estava conectado, como afirmou Ramirez (2006); e a Assembléia Cidadã Ambiental de Gualeguaychú é a instância de auto-organização de cerca de 85.000 pessoas – em ambos os casos, isso não impediu a utilização de práticas horizontalizadas. Ao contrário, seu ‘poder’ organizativo vem, justamente, nas práticas organizacionais horizontais. O que é percebido, portanto, é que as decisões são coletivas e, como a execução das decisões tomadas pelo coletivo não podem ser realizadas por todos, é, então, utilizado o recurso da delegação autorizada. Isso significa que quem executa determinada atividade o faz executando os desejos do coletivo, com um mandato temporário e revogável a qualquer tempo por esse mesmo coletivo. Desse modo, as atividades delegadas têm caráter essencial, e a responsabilidade individual e coletiva dos delegados para com a realização das atividades é exigida para o funcionamento da organização. Assim, a pessoa ou o grupo investido de autoridade pelo coletivo, quando exige o cumprimento de determinada tarefa, o faz em nome do coletivo organizacional e, ao fazê-lo, ao mesmo tempo, está obedecendo a esse coletivo. Isso significa, para a prática organizacional horizontalizada, o conjunto das seguintes características: o órgão máximo deliberativo é a Assembléia Geral e esta é composta por todos os membros daorganização; as decisões não rotineiras são tomadas somente em Assembléia Geral; a execução das decisões e a administração dos assuntos correntes são deixadas com os membros da organização que foram eleitos para tanto; a Assembléia Geral constitui e destitui, a qualquer tempo, os sujeitos ou órgãos empossados como representantes do coletivo organizacional; qualquer decisão tomada pelos delegados ou comitês pode ser revogada a qualquer tempo pela Assembléia Geral; qualquer regra ou regulamento só pode ser legitimado no âmbito da Assembléia Geral; aquele ou aqueles nomeados como representantes, ao mesmo tempo em que coordenam as atividades em nome do coletivo, são coordenados por esse; quem obedece aos delegados ou comitês, às regras e regulamentos, só o faz como membro da organização e, ao mesmo tempo, como definidor de tais regras e regulamentos que determinam, também, os delegados e comitês; as práticas organizacionais devem ser formalizadas e do conhecimento de todos; o acesso igualitário às informações e aos demais recursos necessários ao grupo devem ser mantidos para que cada sujeito possa, de fato, participar das decisões; a organização é patrimônio coletivo de todos os seus membros. Como conclusão: sinais de práticas organizacionais alternativas ao hierarquismo Para a prática organizacional horizontal, que se baseia na construção do poder desde baixo, quem manda “manda obedecendo”. Segundo o Subcomandante Marcos (apud WALLERSTEIN, 2008, p. 3), do EZLN, isto significa “dirigir obedecendo às vozes e desejos dos liderados”. A vontade da maioria é o caminho no qual deve andar o passo do que manda. Se esse separa seu caminhar do que é a razão da maioria, deve trocar o coração [órgão sede da sabedoria] que manda por outro que o obedeça. Assim nasce o poder. “O que manda obedece se é verdadeiro, o que obedece manda pelo coração comum dos homens e mulheres verdadeiros”, de modo que ninguém receba nada dos que mandam mandando e que se 13 imponha o bom caminho daquele que manda, mas manda obedecendo (SUBCOMANDANTE MARCOS apud DUSSEL, 2005, p. 47). A prática organizacional se manifesta, então, do modo como segue: I. Impera o princípio da igualdade de participação ou poder de decisão em Assembléia Geral: cada pessoa tem direito a um voto e esse independe de sua função na organização; as decisões sempre que possível são oriundas da construção do consenso. II. Rege o princípio da difusão das informações relevantes a todos com a maior freqüência possível para as respectivas deliberações através de uma rede formalizada; o que evita o acesso privilegiado a informações, bem como a dissimulação de relações de poder existentes. III. Rege o princípio da alocação de tarefas, funções e cargos, segundo critérios alter- racionais: habilidade, interesse, desejo e responsabilidade. a) Após eleitos para a realização de determinada função, esta assume caráter de dever, pois o indivíduo assume um compromisso e uma responsabilidade frente ao coletivo. b) Quando a atividade for especializada e exigir instrução oficial na matéria, a competência é parte do critério de escola. IV. Rege o princípio da distribuição de autoridade através de escolha direta em Assembléia Geral para órgãos coordenadores das atividades organizacionais, ou seja, de funções administrativas que vão, rotineiramente, garantir o cumprimento regular e contínuo dos deveres e exercício dos direitos dos membros da organização. a) Cada função é regulamentada e tem seus limites estabelecidos em âmbito assembleiário. b) Aqueles cujas funções administrativas foram delegadas respondem por seu cumprimento perante a Assembléia Geral. c) As tarefas, dentro do possível, são rotativas, pois quanto mais cada um sabe sobre como a organização funciona, mais igualitário se torna o exercício do poder e maior é a eficácia política. V. Rege o princípio da autoridade máxima da Assembléia Geral, que pode constituir e destituir, a qualquer tempo, os seus representantes. VI. Rege o princípio da inseparabilidade entre os meios e o coletivo organizacional. Embora não exista apropriação do patrimônio da organização, tampouco dos cargos. VII. Rege o princípio da documentação dos processos administrativos, que são registrados e amplamente divulgados para o conhecimento de todos os membros. VIII. Rege o princípio da transparência dos processos organizacionais, que devem ser explícitos e formalizados para que todos tenham a compreensão dos motivos de suas existências, bem como das práticas estabelecidas para o seu cumprimento. Entre as categorias fundamentais que constituem as práticas organizacionais horizontais podem ser destacadas: Assembléia Geral como órgão deliberativo máximo; delegação autorizada para cargos temporários, revogáveis a qualquer tempo; regras determinados em Assembléia, isto é, pelo coletivo; igualdade de participação ou poder de decisão; tomada de decisão por consenso e em último caso por votação; compartilhamento das informações por todos; inseparabilidade entre os meios e o coletivo organizacional; documentação dos processos administrativos e sua ampla divulgação; instâncias explícitas de tomada de decisão. Há que se salientar que, caso exista a negação absoluta de instâncias para a tomada de decisão, de qualquer tipo de ‘liderança’, ainda que essa seja designada pelo coletivo organizacional, além da falta de definição clara das tarefas de cada pessoa, isso, provavelmente, se deve à inexistência de práticas organizacionais explícitas. Tal situação possibilita o espontaneísmo organizacional. Por um lado, pode ocorrer o surgimento de salvadores que resolvem tudo, dizem o que fazer, quando fazer, como fazer e, muitas vezes, também tentam realizar todas as tarefas; por outro, pode acontecer o contrário, ou seja, 14 ninguém toma a situação nas mãos e a organização se dilui em discussões inorgânicas e improdutivas. É importante destacar, também, que a adoção de uma atitude de laissez-faire pode ser a dissimulação ou uma forma de mascarar relações de poder que existem em qualquer organização. Isto porque, se as regras sobre como as decisões são tomadas não são conhecidas por todos, então, o exercício do poder se realiza à revelia daqueles que o desconhecem. Essas práticas organizacionais não são consideradas horizontais, uma vez que para tanto, é preciso que todos os processos organizacionais sejam explícitos e não implícitos, que as regras de deliberação sejam conhecidas e, principalmente, compreendidas por todos. Isso não implica que a formalização destrua a concretização de práticas organizacionais horizontais, ao contrário, possibilita sua existência, uma vez que impede o surgimento de instâncias de tomada de decisão que não são conhecidas por todos os membros da organização. Em síntese, em práticas organizacionais horizontais as decisões e a execução das decisões são submetidas ao coletivo. As relações de poder são expressas através da participação direta de todos nas decisões e essas são concretizadas por meio de delegação autorizada. Assim, quando uma atividade é executada por alguns é o coletivo que a executa através daqueles que estão autorizados a executá-la. Logo, a responsabilidade pela decisão e execução é de todos, individual e coletivamente, pois o indivíduo presta contas ao coletivo e este ao indivíduo, havendo, por conseguinte, compartilhamento das responsabilidades. Usando as palavras de Dussel (2005, p. 47): “o poder reside na comunidade, que é soberana e última instância de toda representação”; o que exerce o poder o faz “obedecendo ao poder originário da comunidade e é um ‘servidor’, é o que manda obedecendo”; o poder da comunidade é exercido no exercício delegado do poder da autoridade obediente”. Referências ACKERLEY, María Isabel. Fábricas recuperadas y comunicación horizontal: un modelo que redefine el poder. Disponível em http://www.rebelion.org/docs/58566.pdf. Acesso em: 10 nov. de 2007. ALBERT, Michael. La Auto-gestióncomo objetivo. 2000. Disponível em http://www.zmag.org/Spanish/parecon04.htm. Acesso em: 12 nov. de 2007. ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho. Campinas: Boitempo Ed., 2002. BLAUG, Ricardo. The Tyranny of the visible: problems in the evaluation of anti-institutional Radicalism. Organization, n. 1, v. 6, p. 33-56, 1999. BLOCH, Ernst. The principle of hope. Cambridge: MIT Press, 1995. BOURDIEU, Pierre. 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