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– 1 • Anatomia Gástrica Básica s O estômago é a parte mais LARGA do trato alimentar, que se encontra entre ESÔFAGO-DUODENO. Está localizado no abdome superior, estendendo-se do quadrante superior esquerdo para baixo e fica, geralmente, localizado nas áreas HIPOCONDRIO DIREITO, EPIGÁSTRIO e UMBILICAL. É um órgão peritonizado em que a parte visceral do peritônio em contato com ele é INTERROMPIDA pelas inserções dos omentos maior e menor, caracterizando as CURVATURAS MAIOR E MENOR Delimitações Gástricas ➔ Junção Gastroesofágica - a abertura do esôfago no estômago é o ÓSTIO CÁRDICO, que não possui um esfíncter anatômico específico – esse óstio é circundado pela CÁRDIA. ➔ Fundo - tem formato de CÚPULA e se projeta na direção oposta a do ÓSTIO CÁRDICO para entrar em contato com a cúpula esquerda do diafragma. Sua localização é ACIMA de uma linha imaginária traçada a partir da incisura gástrica até a curvatura maior. ➔ Corpo - se estende do FUNDO a INCISURA ANGULAR, que é uma incisura externa na extremidade inferior da curvatura menor. ➔ Antro Pilórico - se estende da linha que delimita inferiormente o corpo até o SULCO INTERMEDIÁRIO onde o estômago se estreita para formar o CANAL PILÓRICO – esse canal possui um espessamento da camada circular no seu fim, formando o ESFÍNCTER PILÓRICO. O piloro não é um esfíncter anatomicamente definido, porém o comportamento contrátil das camadas musculares na região se distingue das camadas adjacentes. Há, pois, uma região diferenciada que, fisiologicamente, é um esfíncter. Entre o estômago e o bulbo duodenal há um anel conjuntivo, interrompendo a continuidade de fibras musculares. Apenas algumas fibras da camada longitudinal passam pela junção, de um para outro órgão. ➔ Curvatura Menor - se estende entre os ÓSTIOS CÁRDICO e PILÓRICO – o omento menor está inserido nessa curvatura, contendo os VASOS GÁSTRICOS DIREITOS e ESQUERDO. ➔ Curvatura Maior - começa a partir da INCISURA CÁRDICA, segue pelo ápice do fundo (região ascendente) iniciando trajeto descendente pelo corpo, depois medialmente até atingir o piloro. Inervação - Inervado por FIBRAS SIMPÁTICAS que derivam dos NERVOS ESPLÂNICOS TORÁCICOS por meio do PLEXO CELÍACO e por FIBRAS PARASSIMPÁTICAS que derivam do NERVO VAGO. Ambos os tipos de fibras fazem sinapse com os neurônios INTRAMURAIS em dois plexos: MIENTÉRICO E SUBMUCOSO – contém os neurônios efetores cujas terminações estão em contato com FIBRAS MUSCULARES e CÉLULAS EPITELIAIS. – 2 Irrigação – fornecida por ramos do TRONCO CELÍACO. A artéria gástrica esquerda é originada desse tronco e dirige-se para esquerda-cima e irriga a porção superior direita do estômago – a artéria gástrica direita origina-se da ARTÉRIA HEPÁTICA, segue para a esquerda e irriga a porção inferior direita. O suprimento do fundo é proveniente das artérias gástricas curtas originadas da artéria esplênica. • Gastrite A gastrite é uma inflamação gástrica caracterizada por ALTERAÇÕES HISTOLÓGICAS no revestimento do estômago. Assim, o seu diagnóstico é feito por HISTOPATOLÓGICO, observando a resposta das células gástricas frente a uma AGRESSÃO! Gastrite Crônica Condição inflamatória prolongada que pode afetar diferentes regiões do estômago e exibir diferentes graus de lesões! Grande parte das gastrites são SILENCIOSAS, a importância está relacionada ao fato de ser um FATOR DE RISCO para outras afecções!! ➔ Tipos de Gastrite Crônica ▪ Gastrite por H. pylori ▪ Gastrite Atrófica Metaplásica Ambiental/Atrófica Multifocal ▪ Gastrite Atrófica Metaplásica Autoimune • Etiopatogenia Fatores de Risco ➔ Bebidas Alcoólicas – Uso crônico pode causar eritema e erosões, uma vez que o álcool rompe a BARREIRA MUCOSA gástrica e permite uma RETRODIFUSÃO DE ÍONS H+. • Em um estudo com 18 etilistas com gastrite crônica, 14 apresentaram a H. pylori. Experimentalmente, foi suspenso o uso das bebidas alcoólicas por 4 semanas, não causando NENHUMA ALTERAÇÃO NA HISTOLOGIA → álcool não é o principal causador! ➔ Medicamentos – Anti-inflamatórios Não-Esteroidais (AINEs). A fisiopatologia da lesão induzida por AINEs baseia-se na SUPRESSÃO DA SÍNTESE DE PROSTAGLANDINAS (PGs) – essa supressão causa agregação de neutrófilos nas células endoteliais da circulação gástrica, REDUZINDO O FLUXO SANGUÍNEO EFETIVO e a PRODUÇÃO DE MUCO PROSTAGLANDINA-DEPENDENTE! Com a circulação comprometida, frente à uma lesão, não vai haver difusão das células de defesa, dificultando a cicatrização! – 3 ➔ Dieta Inapropriada • Refrigerantes – aqueles a base de cola diminuem a pressão sob o esfíncter esofagiano inferior, causando refluxo gastroesofágico. Isso altera o conteúdo gástrico e aumenta a secreção de H+ quando há estímulo de gastrina. • Condimentos Picantes – aumentam a secreção gástrica e causam IRRITAÇÃO constante na mucosa, levando a sua inflamação. Especialmente a capsaicina é capaz de elevar a secreção ácida e a perda de potássio. ➔ Tabagismo – a nicotina tem o mesmo efeito dos refrigerantes de cola! ➔ Estresse – aumenta a secreção gástrica mediante aos hormônios estressores. • Infecção por H. pylori A infecção por H. pylori é uma das PRINCIPAIS CAUSAS de inflamação da mucosa gástrica (gastrite), de úlcera e de câncer gástrico, podendo ser obtida por meio de contato pessoa/pessoa, oral/fecal e por alimentos contaminados! A H. pylori é uma bactéria GRAM NEGATIVA, ESPIRALADA, MICROAERÓFILA. Por ser um ambiente muito hostil (pH ácido), são poucos os organismos que conseguem sobreviver ao ácido do estômago – a H. pylori apresenta diversos mecanismos que permitem a COLONIZAÇÃO e SOBREVIVÊNCIA nesse local. Vale destacar que a gastrite crônica não é decorrente da H. pylori propriamente dita, mas sim das SUBSTÂNCIAS liberadas por ela!! No estômago, os prováveis receptores da H. pylori são os CARBOIDRATOS das mucinas gástricas, que permitem uma ligação estável que contribui para a cronicidade da infecção. A H. pylori produz substâncias que NEUTRALIZAM os ácidos gástricos, formando uma NUVEM PROTETORA ao seu redor enquanto procura um local para se fixar. Essa nidação ocorre por meio da RUPTURA DA BARREIRA DE MUCO (que está lá para proteger o estômago da própria acidez) e se ADERE A MUCOSA abaixo do muco, local com menor acidez! Algumas podem, até mesmo, atingir a lâmina própria penetrando as células epiteliais. ➔ Início – Após esse processo inicial de nidação abaixo do muco, a bactéria se PROLIFERA e invade ainda mais a mucosa, causando uma GASTRITE AGUDA NEUTROFÍLICA, i.e., uma resposta inflamatória imediata que dura cerca de 7-10 dias, podendo ou não ser acompanhada de sintomas. Em resposta a essa INVASÃO + PROLIFERAÇÃO, o organismo reage, além da inflamação, com DEPLEÇÃO DE MUCINA, DEGENERAÇÃO DE CÉLULAS EPITELIAIS (pelas toxinas liberadas), ATROFIA GLANDULAR, METAPLASIA INTESTINAL. – 4 ➔ Resposta Imune – embora exista uma resposta imune intensa, somente uma PEQUENA parte dos indivíduos elimina totalmente a H. pylori. A grande maioria permanece com a bactéria e desenvolve uma INFLAMAÇÃO CRÔNICA (gastrite crônica)! ▪ Mediadores – algumas cepas da H. pylori podem produzir TOXINAS EM VACÚOLOS, sendo essas cepas as principais responsáveis pelo surgimento de ÚLCERAS DUODENAIS! Além das toxinas, algumas FOSFOLIPASES produzidas pelas bactérias podem causar DANO NA SUPERFÍCIE DO EPITÉLIO ao romper a bicamada fosfolipídica e permitir ALTERAÇÕES NA PERMEABILIDADE DA MEMBRANA, DEGRADAÇÃO DE MUCO e MAIS EFEITOS INFLAMATÓRIOS. • Topografia da Gastrite Crônica – Grande parte dos pacientes apresentam PANGASTRITE e podem ser assintomáticos inicialmente, manifestando úlcera gástrica e carcinoma posteriormente. Alguns indivíduos podem fugir desse padrão e apresentar PREDOMINÂNCIA ANTRAL, que tem uma maior predisposiçãoa desenvolver úlcera duodenal, geralmente porque a resposta inflamatória foi MAIOR NO ANTRO do que no corpo. Independentemente do tipo, esses pacientes apresentam um OUTPUT DE ÁCIDO e GASTRINA muito elevado, causando metaplasia gástrica no duodeno proximal. • A fase inicial da gastrite crônica é representada por uma gastrite superficial. As alterações inflamatórias se limitam à lâmina própria da mucosa superficial, com edema e infiltrados celulares que separam glândulas gástricas intactas. • O estágio seguinte é a gastrite atrófica. O infiltrado inflamatório se estende mais profundamente para dentro da mucosa, com distorção progressiva e destruição das glândulas. – 5 • O estágio final da gastrite crônica é a atrofia gástrica. As estruturas glandulares são perdidas e existe escassez de infiltrados inflamatórios. Ao exame endoscópico, a mucosa pode mostrar-se substancialmente fina, possibilitando a visualização clara dos vasos sanguíneos subjacentes. • Tratamento ➔ Erradicação da Bactéria ▪ Esquema Tríplice - cura consistentemente mais de 80% das infecções, especialmente se os microorganismos são sensíveis à claritromicina e tratamentos de duração mais longa (14 ou 10 dias em vez de 7 dias) são usados. A terapia tripla, composta de dois antibióticos, claritromicina (500 mg 2 vezes ao dia) e amoxicilina (1 g 2 vezes ao dia), junto com um IBP (p. ex., omeprazol 20 mg 2 vezes ao dia, lansoprazol 30 mg 2 vezes ao dia, pantoprazole 40 mg duas vezes ao dia, rabeprazol 20 mg duas vezes ao dia ou esomeprazol 40 mg ao dia) por 7 a 14 dias é atualmente o tratamento inicial mais utilizado para o tratamento da infecção por H. pylori. • Metronidazol (500 mg duas vezes ao dia), pode ser um substituto tanto de amoxicilina quanto de claritromicina, mas este antibiótico só é apropriado para INDIVÍDUOS ALÉRGICOS À PENICILINA ou INTOLERANTES A MACROLÍDEOS, porque a resistência ao metronidazol é comum e pode reduzir o sucesso do tratamento • Embora tenham sido usados há mais de uma década, regimes duplos de tratamento com um único antibiótico (amoxicilina ou claritromicina) e um IBP não são mais recomendáveis porque a erradicação é significativamente menor que a com os tratamentos com três medicamentos • O tratamento inicial da infecção por H. pylori falha em até 25% dos pacientes como resultado da infecção por micro-organismos resistentes a antibióticos, aderência precária ao tratamento e características demográficas dos pacientes, tais como faixas etárias mais jovens, tabagismo, uso prévio de antibióticos e condição subjacente (dispepsia funcional contra úlcera péptica) ➔ Se a INFECÇÃO PERSISTE após este tratamento, as bactérias são provavelmente resistentes à claritromicina. Portanto, o retratamento deve ser com uma das terapias de IBP triplas destacadas anteriormente, incorporando uma combinação de medicações diferentes ou uma terapia baseada em bismuto por 14 dias. – 6 – 7 Referências • SILVERTHORN, D.U. Fisiologia Humana. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2010 • Tratado de Gastroenterologia - Da Graduação à Pos-Graduação, Schilioma Zaterka, Jayme Natan Eisig, eds. 2ª ed, São Paulo: Editora Atheneu, 2016.
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