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Suzana Feltrin – MED LVIII Metabolismo do glicogênio Introdução Glicogênio como uma molécula de reserva., com capacidade de armazenar a glicose em excesso. Em momentos de hiperglicemia, se tem um desfecho do metabolismo da glicose através de cascatas de transformação, com a utilização de enzimas. Há a produção de piruvato no citosol e o piruvato tem alguns destinos diversos. Na ausência de uma concentração específica de oxigênio, ele permanece no citosol e se torna substrato da enzima lactato- desidrogenase e com uma oferta adequada de oxigênio molecular, esse piruvato é translocado até a matriz da mitocôndria, onde de fato ele será transformado em acetil-CoA e fará um elo de ligação com o ciclo de Krebs, cadeia transportadora de elétrons e produção de ATP. As células se encarregam de processar a glicose. Ou seja, as células recebem a função de tornar uma hiperglicemia em uma normoglicemia – que precisamos oferecer ao organismo. Para o processamento de glicose, ocorre uma série de eventos fisiológicos anteriores ao processo de metabolização da glicose que é um processo integrado de diversos tecidos e órgãos como o pâncreas, ossos..... É necessário produzir ATP porque ele é uma moeda energética, que auxilia a contextualização – sinalização celular – da célula através das kinases, cujo ATP é sua molécula principal. Essas kinases são capazes de transduzir o sinal ao núcleo, que é capaz de expressar os genes específicos. Características e marcas epigenéticas: respostas ao ambiente em que as células se encontram; aspectos bioquímicos muitas vezes levam a uma transformação da característica epigenética dessas células desmontando metilação, desmontando acetilação de componentes nucleares que possam prevenir ou favorecer eventos de transcrição gênica. As kinases gastam ATP servindo então como uma molécula doadora de grupamento fosforil. Conseguem transformar seus substratos e trazer a informação até o núcleo onde há a resposta específica ao ambiente onde estão inseridas. As kinases precisam se manter constantes. As enzimas atuam numa concentração específica de substrato em uma temperatura ótima. Dentre os substratos das kinases, um comum a todas é o ATP – o ATP deve se manter em uma concentração específica. Para isso, realizamos uma série de reações. Não é possível armazenar ATP, mas para que se mantenha constante a concentração de ATP, mantemos constantes as reações de metabolismos de carboidratos. Teremos agora um destino diferente da glicose-6-fosfato. Há dois conjuntos de reações: glicogênese e glicogenólise. Quem decidirá se será realizada glicogênese ou glicogenólise será o estado alimentar do indivíduo, na razão insulina-glucagon ditada pela própria fisiologia. Suzana Feltrin – MED LVIII Hepatócitos com grânulos enegrecidos de glicogênio. O glicogênio é um polímero ramificado de glicose unido por ligações glicosídicas que deixam a coloração enegrecida. Os grânulos de glicogênio têm a capacidade de se solvatar – atração com água – formando uma camada de água ao seu redor que faz com que as enzimas participantes de seu metabolismo também componham estes grânulos de glicogênio. Se tudo dependesse do metabolismo de glicogênio, demandaria uma grande quantidade de água. Existe uma relação de 1g de glicogênio para 3g de água. Isso faz com que esta seja uma via pouco eficiente em termos de espaço e peso. Por isso, durante os processos evolutivos, tivemos a possibilidade de armazenar energia nos triacilgliceróis nos adipócitos na ausência de água. Sintetizam glicogênio: Células musculares; Células hepáticas. Distinguem-se entre si na glicogenólise pelo destino do produto glicose-6-fosfato. Uma dessas células não consegue realizar o processo de manutenção glicêmica com tanta eficiência quanto as outras. É importante manter a concentração de glicose no sangue – glicemia – para manter, por exemplo, as atividades dos neurônios que metabolizam exclusivamente glicose e evitar os episódios de desmaios e disfunção neurológicas. GLICOGÊNESE, GLICOGENÓLISE Piruvato, oxaloacetato e glicerol levam à produção de glicose-6-fosfato através do processo de gliconeogênese. Glicose-6-fosfato se transforma em glicogênio pelo processo de glicogênese. Glicogênio se transforma em glicose- 6-fosfato pelo processo de glicogenólise. CLICOGÊNIO Polissacarídeo; Pouco solúvel (não provoca aumento da pressão osmótica); Bastante ramificado; eficiência de montagem e desmontagem, são nessas extremidades que as enzimas que sintetizam e degradam participam. Maior oferta de extremidades para a atuação de enzimas e maior eficiência do processo de glicogênese ou glicogenólise. Constituído exclusivamente por monômeros de glicose unidos entre si por ligações glicosídicas 1,4 (e 1,6 nas ramificações, quebrando a linearidade). Alto peso molecular; Encontrado principalmente no músculo (1- 2% do peso) e no fígado (até 10% do peso). Constitui uma forma de reserva de glicose. Os grânulos, eletro densos em microscopia, são armazenados nos hepatócitos, distribuídos no citosol. Suzana Feltrin – MED LVIII glicogenólise Degradação do glicogênio; Remoção sucessiva de resíduos de glicose a partir das extremidades não redutoras – pontas das ramificações. Várias enzimas, ao mesmo tempo, fazendo a retirada de monômeros terminais das ramificações de glicogênio. Em um evento de hipoglicemia, a fisiologia pede ajuda aos hepatócitos. Ocorre no citosol. Três enzimas: 1. Glicogênio fosforilase. 2. Fosfoglicomutase. 3. Enzima desramificadora. 1ª reação Remoção de um resíduo de glicose terminal de um ramo de glicogênio pela enzima glicogênio fosforilase que fosforila essas extremidades não redutoras sem gasto de ATP (por isso não se utiliza a kinase) e fazem a quebra da ligação glicosídica – papel de glicosidase. A enzima glicogênio fosforilase fosforila os monômeros de glicose das extremidades não redutoras e colocam o grupamento fosfato no carbono 1, produzindo moléculas de glicose-1- fosfato (que possui a mesma característica energética da glicose-6-fosfato, mas têm a fosforilação sendo feita em uma posição diferente). A glicogênio fosforilase fosforila os monômeros até contar 4 resíduos de glicose próximos à ligação alfa-1,6 e não consegue mais quebrar as ligações alfa-1,4, pois não consegue mais encaixar esse polímero nesse sítio ativo. Substrato da glicogênio-fosforilase: glicogênio-n. Produtos da glicogênio-fosforilase: glicose- 1-fosfato e glicogênio-(n-1). 2ª reação Leva-se em conta que ficaram 4 resíduos de glicose próximas à ligação alfa-1,6. Em uma primeira etapa, a enzima desramificadora (transferase) irá remover uma ligação alfa-1,4 e transferir 3 resíduos (amarelos) até a extremidade mais próxima, sobrando o resíduo de glicose (vermelho) que está fazendo a ligação alfa-1,6. 3ª reação A segunda etapa da enzima ramificadora é feita quebrando-se a ligação glicosídica alfa-1,6 (papel de glicosidase) e libera a glicose.Produtos da enzima desramificadora: um glicogênio linear e uma molécula de glicose que estava fazendo uma ligação alfa-1,6. A glicose pode sair, pois não está fosforilada, ou pode ficar dentro do citosol, sendo substrato da hexoquinase. Suzana Feltrin – MED LVIII Ao final disso tudo, temos o glicogênio sendo reduzido de tamanho e há a produção de glicose. Saldo: da concentração de glicose-6-fosfato e de glicose que estavam anteriormente realizando ligação alfa-1,6. 4ª reação A glicose-1-fosfato vai participar de uma reação catalisada pela enzima fosfoglicomutase.. Essa enzima vai translocar ou fazer uma mutação do grupamento fosfato da posição 1 para a posição 6. A glicose-6-fosfato já é uma molécula reconhecida. Assim,pode-se produzir glicose-6- fosfato de duas maneiras: uma através da fosforilação da glicose pela hexoquinase e pelo produto da fosfoglicomutase. Destino da glicose-6-fosfato no músculo No músculo, haverá a continuação do processo de glicólise, transformando a glicose-6- fosfato em piruvato, que, dependendo da quantidade de oxigênio, será transformado em lactato (anaerobiose) ou em acetil-CoA (aerobiose) para produzir ATP necessário à contração muscular. Há, nesse tecido, pouca contribuição para a regulação da glicemia, pois há pouquíssima concentração de glicose liberada no processo de glicogenólise. Havendo a produção de lactato – piruvato reduzido – a partir do piruvato pela lactato- desidrogenase, o lactato faz a reoxidação do NADH+. É possível levar o lactato nessa condição pela corrente sanguínea., transportando o piruvato através do lactato até chegar no hepatócito. No hepatócito uma enzima lactato- desidrogenase hepática fará uma reoxidação do lactato a piruvato. O piruvato no hepatócito será o principal substrato da gliconeogênese – produção de glicose. Essa glicose pode passar pela membrana dos hepatócitos através de seus transportadores e chegar na corrente sanguínea. Destino do glicogênio no fígado A glicose-6-fosfato, no fígado, sofre um destino diferente. Há um processo que permite que a glicose saia. A glicose obedece a um gradiente de concentração – se está mais concentrado no citosol ela sai, se está menos concentrado no citosol ela entra. É preciso criar uma estratégia de diminuir essa concentração de glicose-6-fosfato no citisol, transformando-a em glicose – pois só há transportadores de membrana de glicose e não de glicose-6-fosfato. Assim, há a ação da enzima glicose-6- fosfatase, que antagonicamente às kinases, desfosforila a glicose-6-fosfato, transformando-a em glicose. A glicose sai da célula e vai para a circulação, realizando o controle da glicemia. Suzana Feltrin – MED LVIII O fígado, então, produz a glicose como principal produto. Ele também usa a glicose-6- fosfato para a produção de energia, levando-a para a mitocôndria. GLICOGÊNESE Síntese de glicogênio; Transformação de monõmeros de glicose em polímeros extremamente ramificados de glicogênio; Ocorre no citosol; Cinco enzimas: 1. Hexoquinase. 2. Fosfoglicomutase. 3. Glicose-1-fosfato uridil transferase. 4. Glicogênio sintase. 5. Enzima de ramificação ou ramificadora. Obs: É a mesma hexoquinase que realiza a fosforilação da glicose no processo de glicólise. Percebe-se, então, que a glicose-6-fosfato segue caminhos diferentes de acordo com a necessidade (ATP ou glicogênio). 1ª reação A glicose-6-fosfato produzida pela hexoquinase é substrato da fosfoglicomutase que transformará a glicose-6-fosfato em glicose-1- fosfato. Essa reação é reversível e obedece os princípios de Le Chatelier, ou seja, será produzido glicose-1-fosfato caso haja aumento da concentração de glicose-6-fosfato. No caso contrário, quando há a maior concentração de glicose-1-fosfato, será produzida glicose-6-fosfato. 2ª reação A glicose-1-fosfato é convertida em UDP- glicose pela enzima UDP-glicosil transferase, que transfere o grupamento UDP para a molécula de glicose através de substratos de glicose-1-fosfato e UTP (três fosfatos, só muda a base do ATP). Essa enzima pega um fosfato da glicose-1-fosfato e pega um fosfato do UTP, junta esses dois fosfatos em uma única molécula chamada de pirofosfato (PPi). O grupamento fosfato com uridina se liga na glicose, formando a UDP-glicose. Glicose-1-fosfato sem fosfato = glicose UTP-glicose sem 1 fosfato = UDP Glicose + UDP = UDP-glicose. Duas etapas: retirada do fosfato da glicose-1-fosfato e retirada do fosfato da UTP. A soma de grupamentos fosfatos nos substratos e produtos é igual, sem perda de fosfatos – a estequiometria se mantém. 3ª reação A UDP-glicose é é ligada a uma molécula de glicogênio pela ação da enzima glicogênio sintase. Faz a polimerização linear do polímero glicogênio; pega a UDP-glicose e transfere o Suzana Feltrin – MED LVIII monômero de glicose para a extremidade do polímero de glicogênio fazendo uma ligação alfa- 1,4 e liberando, assim, o grupamento UDP. Substratos do glicogênio sintase: UDP- glicose e glicogênio-n (incorporação de um glicogênio já preexistente). Produtos do glicogênio sintase: carreador de glicose para a glicogênio sintase que é o UDP e glicogênio-(n+1). Crescimento linear do glicogênio. A UDP sofre a ação de uma enzima que faz a sua conversão em UTP, com gasto de ATP – faz-se a transferência de um grupamento fosfato do ATP para a UDP. Se precisarmos iniciar a síntese de glicogênio-n, a glicogênio sintase não vai reconhecer do nada; ela precisa de um ponto de partida. Todo ponto de partida para formação dos grânulos de glicogênio vem de uma proteína. Para iniciar um novo grânulo – pós um período de jejum intenso – é necessário que a enzima glicogenina (que tem na posição 1,9,4 uma tirosina, que tem uma cadeia lateral ramificada com uma hidroxila). Essa hidroxila não será fosforilada, mas será glicosilada. Quem faz isso é uma enzima chamada glicosiltransferase, que pega a UDP- glicose e transfere a glicose para o grupamento hidroxil da tirosina (Tyr) da posição 1,9,4 da glicogenina. Libera-se UDP e a glicose foi inserida na posição 1,9,4 da glicogenina. Há um aumento da cadeia por enzimas que vão estender essa molécula a um polímero até que esse glicogênio-n possa ser reconhecido pela enzima glicogênio sintase. A glicogênio sintase tem um papel antagônico ao da glicogênio fosforilase (glicosidase). Adição de UDP-glicose ao grupo hidroxil da Tyr da glicogenina, com liberação de UDP. 4ª reação As ramificações são feitas pela enzima ramificadora (antagonicamete à enzima desramificadora). Acontece mediante ao sítio ativo e o posicionamento de substrato. Onze resíduos de glicose unidos por ligações glicosídicas alfa-1,4 (uma ponta no carbono 1 de um resíduo e outra ponta no carbono 4 de um resíduo) compõem a linearidade do glicogênio-(n+1). A enzima ramificadora “conta” os onze resíduos e consegue posicionar esses onze resíduos de glicose em seu sítio ativo; “conta” sete resíduos de glicose, dos onze presentes na cadeia linear de glicogênio e consegue quebrar a Suzana Feltrin – MED LVIII ligação glicosídica alfa-1,4 e transferir até o primeiro resíduo, formando uma ligação glicosídica alfa-1,6 com ele. Resumindo, a enzima ramificadora transfere sete resíduos de glicose para o primeiro dos onze resíduos da cadeia linear, formando uma ligação alfa-1,6 com ele. A glicogenina é, então, o núcleo do grânulo de glicogênio. A partir daí, aumenta-se sucessivamente as extremidades ou pontas do glicogênio.
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