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CRIME DE CONTRABANDO : 
ASPECTOS GERAIS E NÚMEROS ANTES E APÓS EDIÇÃO DA 
LEI Nº 13.008 DE 2014 
 
 
Paula Semiguem da Cunha Godinho1 
André Lopes Godinho2 
Manuella de Oliveira Soares3 
 
 
Resumo: Este artigo pretende expor algumas considerações com relação ao crime de 
contrabando, previsto no caput artigo 334-A do Código Penal, especificamente quanto a 
importação de cigarros na fronteira entre o Paraguai e parte da região sul do Estado do Mato 
Grosso do Sul, bem como dados gerais a respeito do crime além dos números relativos ao 
contrabando nessa região apontada no período de um ano antes e um ano após a edição da Lei 
nº 13.008 de 2014. Para tanto, utilizou-se de pesquisa bibliográfica e de campo, onde se 
concluiu que houve uma redução do número de Inquéritos Policiais instaurados para apuração 
desse crime após a alteração da pena cominada entrar em vigor. 
 
Palavra-chave: Código Penal; Contrabando; Cigarros. 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
As considerações deste trabalho terão como objetivo analisar apenas o caput do artigo 
334-A do Código Penal, tendo em vista as diversas peculiaridades do tema que exigem uma 
atenção especial. Ainda cabe destacar que o crime de contrabando será tratado com foco na 
importação de cigarros de origem estrangeira. 
O crime de contrabando previsto no Código Penal, alterado pela Lei nº 13.008 de 
junho de 2014 que separou em dispositivos próprios os crimes de Contrabando e Descaminho 
e modificou a pena base do Contrabando de reclusão de 1 a 4 anos para 2 a 5 anos, possui em 
seu caput o seguinte tipo legal: "Importar ou exportar mercadoria proibida". 
Nesse sentido, vale diferenciar os crimes de contrabando e descaminho que de acordo 
com COSTA JUNIOR (2002, p. 1064): 
 
O contrabando, além de atentar contra o erário público, poderá ofender a higiene, a 
moral ou a segurança pública, sendo idôneo ainda a prejudicar a indústria nacional. 
 
1 Acadêmica do 3º ano do curso de Direito, UEMS - Naviraí/MS. Email: paulasemiguem@hotmail.com.br 
2 Acadêmico do 3º ano do curso de Direito, UEMS - Naviraí/MS. Email: lopesgodinho@yahoo.com.br 
3 Professora Orientadora da UEMS, advogada, doutora em Sistema Constitucional de Garantia de Direitos pela 
ITE/Bauru, mestre em processo civil e Cidadania pela UNIPAR. E-mail: manuellauems@uol.com.br 
O descaminho, ao contrário, é essencialmente um ilícito de natureza fiscal, 
atentando apenas contra o erário público. Como se costuma dizer, o descaminho é 
um contrabando contra o Fisco. A tutela ao erário público nacional é o bem 
protegido, essencialmente. Ou ainda a economia nacional, o que justifica a 
classificação sistemática do delito, dada a concepção ampla de administração 
pública. Subsidiariamente, no contrabando, outros bens, retromencionados, são 
igualmente tutelados (...). 
 
Portanto, os crimes de contrabando e descaminho possuem características distintas, 
sendo aquele a importação ou exportação de mercadoria que as normas do Estado consideram 
proibidas, ao ponto que o crime descaminho não se trata de mercadorias proibidas no 
território, mas sim pela entrada ou saída de mercadoria permitida porém com ausência de 
pagamento dos tributos devidos, ou com pagamento inferior ao devido. 
Diante do exposto, observa-se que o tipo penal do crime de contrabando necessita de 
um complemento, pois falta a definição de quais mercadorias são proibidas. Dessa forma, 
tratando-se de uma norma penal em branco. Nesse caminho, o Governo Brasileiro possui o 
encargo, através dos seus Ministérios, de definir quais são os itens considerados proibidos. 
A conduta de importar cigarros de origem estrangeira se enquadra no tipo penal 
definido no artigo 334-A do Código Penal pois, apesar de a venda de cigarros nacionais não 
ser proibida no Brasil, existem regulamentações específicas sobre o produto como limites para 
a propaganda ( Lei nº 10.167 de 2000), a proibição de uso em ambientes coletivos, públicos 
ou privados (Lei nº 12.546 de 2011 regulamentada em 2014), e também a seu comércio 
exterior como pode-se observar no artigo 46 da Lei nº 9.532 de 1997 que diz: "É vedada a 
importação de cigarros de marca que não seja comercializada no país de origem." O Decreto 
nº 6.759 de 2009 também apresenta enunciado semelhante em seu artigo 600. 
Por conseguinte, para compreender os aspectos gerais do crime de contrabando faz-se 
necessário pontuar algumas classificações doutrinárias e jurisprudenciais que serão 
observadas nos próximos tópicos. 
 
2 MÉTODOS UTILIZADOS 
 
Como propostas de análise deste artigo estão a pesquisa bibliográfica sobre os 
aspectos gerais do crime de contrabando e também o levantamento do número de inquéritos 
instaurados em um determinada região para apuração do contrabando de cigarros. 
Conforme leciona FONSECA (2002, p. 32, apud TATIANA, DENISE, 2009, p. 37 ), 
sobre pesquisa bibliográfica: 
 
A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já 
analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos 
científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma 
pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou 
sobre o assunto. Existem porém pesquisas científicas que se baseiam unicamente na 
pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de 
recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual 
se procura a resposta. 
 
Os dados gerais sobre o crime de contrabando, observados neste artigo, são oriundos 
de pesquisas bibliográficas em livros publicados de alguns autores de notoriedade no meio 
jurídico, assim como de jurisprudências de Tribunais Superiores, possibilitando o alinhamento 
entre doutrina e jurisprudência. 
Para alcançar o segundo objetivo deste trabalho foi realizado uma abordagem 
qualitativa, que ainda segundo FONSECA (2002, p. 20, apud TATIANA, DENISE, 2009, p. 
33 ) : 
 
(...)A pesquisa quantitativa se centra na objetividade. Influenciada pelo positivismo, 
considera que a realidade só pode ser compreendida com base na análise de dados 
brutos, recolhidos com o auxílio de instrumentos padronizados e neutros. A pesquisa 
quantitativa recorre à linguagem matemática para descrever as causas de um 
fenômeno, as relações entre variáveis, etc. A utilização conjunta da pesquisa 
qualitativa e quantitativa permite recolher mais informações do que se poderia 
conseguir isoladamente. 
 
Dessa forma, quanto aos números do crime de contrabando na região especificada para 
pesquisa, os dados são oriundos da análise quantitativa do número de Autos de Prisão em 
Flagrante realizados pela Delegacia de Polícia Federal de Naviraí/MS, relacionados ao 
período de Junho de 2013 (um ano antes) a junho de 2015 (um ano após a Lei 13.008 de 2014 
entrar em vigor), pois, conforme será indicado neste trabalho, a ela compete prevenir e 
reprimir o contrabando nas cidades da região em estudo. 
 
3 CLASSIFICAÇÃO DO CRIME DE CONTRABANDO 
 
É importante classificar os crimes pois possuem a capacidade de interferir de diversas 
formas no direito penal e processual penal, como pode-se observar em relação a possibilidade 
de punição no caso de conduta oriunda de negligência, imprudência ou imperícia do autor, no 
que diz respeito ao momento em que o delito se consuma entre outras. 
Diversos autores apresentam classificações das infrações penais, como ensina 
MASSON (2014, p.330), a classificação pode ser legal ou doutrinária, assim: 
 
Classificação legal é a qualificação, ou seja, o nome atribuído ao delito pela lei penal. 
A conduta de 'matar alguém' é denominada pelo art. 121 do Código Penal de 
homicídio. Na Parte Especial do Código Penal, todo crime é acompanhado por sua 
denominação legal (nomen iuris), também chamada de rubrica marginal. 
Classificação doutrinária é o nome dado pelos estudiosos do DireitoPenal às 
infrações penais. 
 
Dessa forma, observa-se que a classificação do crime de contrabando segundo 
GRECO (2015, p.578) é: 
 
Crime comum; doloso; de forma livre; comissivo, ou omissivo próprio (uma vez que 
a ilusão no pagamento pode ser total ou parcial); formal; instantâneo, de efeitos 
permanentes; monossubjetivo; plurissubsistente; transeunte (podendo no entanto, ser 
considerado como não transeunte, se houver possibilidade de realização de perícia). 
 
Em relação aos sujeitos do crime, ou seja, o autor da infração penal (sujeito ativo) e 
quem sofre a lesão ao bem jurídico (sujeito passivo), o crime de contrabando possui as 
seguintes características: 
- Sujeito ativo: Qualquer pessoa, pois não exige condição especial do sujeito, porém se 
funcionário público transgredir o seu dever de ofício responderá por facilitação de 
contrabando ou descaminho, artigo nº 318 do Código Penal, que possui o seguinte 
enunciado: "Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou 
descaminho". 
- Sujeito passivo: o Estado; 
Quanto aos elementos subjetivo e objetivo do crime de contrabando observa-se que: 
- Elemento Subjetivo: Dolo, ou seja, vontade de realizar a conduta descrita no tipo 
penal, não havendo para esse crime previsão para a modalidade culposa. Importante observar 
as orientações apresentadas por Greco (2015, p. 578) ao ensinar que: "O agente deverá 
conhecer todos os elementos que integram a figura típica em estudo, pois, ao contrário, poderá 
ser arguido o erro de tipo ou mesmo o erro de proibição". 
- Elemento Objetivo: de forma mais completa, CAPEZ (2009, p. 527) ensina que: 
 
Importar ou exportar mercadoria proibida: diz com a entrada ou saída de mercadoria 
do País, compreendendo este o solo pátrio (espaço ocupado pela corporação política), 
o mar territorial (faixa de mar exterior ao longo da costa, que se estende por 12 
milhas marítimas de largura art. 1º da Lei n°8.617/930 e o espaço aéreo (de acordo 
com o art. 11 da Lei n° 7.565/86, o Brasil exerce completa e exclusiva soberania 
sobre o espaço aéreo acima de seu território e mar territorial). A mercadoria (objeto 
material) no caso é o bem móvel cujo comércio, por motivo de ordem pública, o 
Estado proíbe. 
 
Para consumação do crime de contrabando considera-se o seguinte: 
- Resultado Naturalístico: Delito formal, portanto não exige resultado naturalístico, 
conforme pode-se observar no voto da Min. Laurita Vaz no AgRg no Recurso Especial nº 
1.419.119/PR: 
 
1. A Quinta Turma desta Corte firmou entendimento no sentido de que o 
descaminho é crime formal, e não material, razão pela qual o resultado da conduta 
delituosa relacionada ao quantum do imposto devido não integra o tipo legal. 2. Nos 
termos do art. 334 do Código Penal, o crime de descaminho se perfaz com o ato de 
iludir o pagamento de imposto devido pela entrada de mercadoria no país. 
Desnecessária, portanto, a apuração administrativo-fiscal do montante que deixou de 
ser recolhido para a configuração do delito. O mesmo raciocínio deve ser aplicado 
ao delito de contrabando. Precedentes. 3. Decisão que se mantém por seus próprios 
fundamentos. 4. Agravo regimental desprovido. "Grifo nosso" 
 
Quanto a ação penal, o artigo nº 100 do Código Penal aduz que "a ação penal é pública, 
salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido", portanto, em relação ao 
crime de contrabando será: 
- Crime de ação penal pública incondicionada, pois a norma não exige outra condição 
para promoção da ação penal; 
Em relação a possibilidade de suspensão condicional do processo e de fiança 
extrajudicial, concedida pela autoridade policial, no crime de contrabando (serão tratadas de 
forma mais completa no próximo tópico): 
- Suspensão condicional do processo: Não é admitida tendo em vista a pena mínima 
ser superior a um ano. 
- Fiança extrajudicial: não é cabível tendo em vista ter pena máxima superior a quatro 
anos. 
Isto posto, após observar a classificação do crime de contrabando, segundo alguns 
autores e jurisprudência de Tribunal Superior, pode-se compreender melhor as peculiaridades 
do delito em estudo. 
 
4 EFEITOS DA MODIFICAÇÃO DA PENA COMINADA PELA LEI Nº 13.008 DE 
2014 
 
Com o aumento da pena cominada ao crime de contrabando de 1 a 4 anos para 2 a 5 
anos, a pena passou a ser prejudicial ao réu, portanto, já pode-se concluir que não irá retroagir 
àqueles que praticaram a conduta antes da nova lei entrar em vigor, conforme aduz TALON 
(2018, p. 02) que: "[...] a lei nova que cria algum tipo penal, aumenta penas ou, de qualquer 
forma, é mais gravosa, somente será aplicada aos fatos praticados após a sua entrada em vigor, 
o que significa que não atinge as condutas referentes ao seu período de vacatio legis". 
Uma das modificações é a impossibilidade de aplicar a suspensão condicional do 
processo, pois a pena mínima passou a ser superior a um ano, tendo em vista o enunciado do 
artigo 89 da Lei 9.099 de 1995 aduz: 
 
Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, 
abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá 
propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não 
esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os 
demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena. 
 
O prazo prescricional também foi alterado de 8 para 12 anos, pois de acordo com 
o artigo nº 109, inciso III, do Código Penal de 1940: 
 
Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o 
disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa 
de liberdade cominada ao crime, verificando-se: 
I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze; 
II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a 
doze; 
III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito; 
IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro; 
V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não 
excede a dois; 
VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano. 
 
Ao observar o artigo 313, inciso I, do Código de Processo Penal, verifica-se que passa 
a ser possível a decretação da prisão preventiva no caso do crime de contrabando, pois a 
norma diz que será admitida a decretação da prisão preventiva nos crimes dolosos punidos 
com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos. 
Outro aspecto relevante diz respeito a impossibilidade de concessão de fiança por 
parte da autoridade policial, pois o artigo nº 322 do Código Penal aduz que "A autoridade 
policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de 
liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos". 
Portanto, com a alteração apresentada pela Lei 13.008 de 2014, que modificou a pena 
cominada ao crime de contrabando de 1 a 4 para 2 a 5 anos de reclusão, é possível observar 
que, não obstante o aumento da pena ter sido de apenas um ano nas margens da pena base, 
trouxe diversos reflexos para o sujeito ativo. 
 
5 BENS JURÍDICOS LESADOS 
 
 O crime de contrabando de cigarros, conforme entendimento do próprio STF em 
diversos julgados, fere bens jurídicos que ultrapassam o valor pecuniário não recolhido pelo 
erário, mas lesando também a saúde pública, pois produtos nocivos são inseridos no mercado 
nacional para consumo sem controle pelos órgão de vigilância, e também a própria indústria 
nacional, além da moral, higiene e segurança pública. 
 Podemos observar no julgamento do Recurso Especial nº 1112748⁄TO de 2009, o 
relator, Ministro FELIX FISCHER, a seguinte consideração sobre o tema: 
 
Ora, na hipótese do contrabando de cigarros, o bem juridicamente tutelado vai além 
do mero valor pecuniário do imposto elidido, alcançando também o interesseestatal 
de impedir a entrada e a comercialização de produtos proibidos em território 
nacional, a saúde pública e a indústria nacional. 
 
 Assim como no HABEAS CORPUS nº 121.376/PR de 2014, no qual a relatora Min. 
CÁRMEN LÚCIA AFIRMA que: 
 
Inaplicável o princípio da insignificância ao crime de contrabando de cigarros, 
porquanto o bem jurídico tutelado ultrapassa o valor pecuniário do imposto elidido, 
alcançando também o interesse estatal de impedir a entrada e a comercialização de 
produtos proibidos em território nacional, a saúde pública e a indústria nacional. 
 
 No Agravo Regimental em Recurso Especial nº 1405930/SC de 2013, a relatora Min. 
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA ADUZ que: 
 
Em sede de contrabando, ou seja, importação ou exportação de mercadoria proibida, 
em que, para além da sonegação tributária há lesão à moral, higiene, segurança e 
saúde pública, não há como excluir a tipicidade material tão-somente à vista do 
valor da evasão fiscal, ainda que eventualmente possível, em tese, a exclusão do 
crime, mas em face da mínima lesão provocada ao bem jurídico ali tutelado, gizese, 
a moral, saúde, higiene e segurança pública. 
 
 Por conseguinte, é possível observar que o entendimento dos Tribunais Superiores em 
relação aos bens jurídicos tutelados no crime de contrabando estão além do valor da evasão 
fiscal, pois também estão relacionados a lesão a saúde pública, moral, segurança pública, 
higiene e indústria nacional. 
 
6 DADOS GERAIS DO CRIME DE CONTRABANDO DE CIGARROS 
 
Durante o desenvolvimento deste artigo foi possível observar a carência de 
informações sobre os dados relativos ao crime de contrabando na região, principalmente por 
ser um local que faz fronteira com o Paraguai, origem de grande parte do contrabando de 
cigarros que entram no Brasil. 
Segundo o Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (IDESF), 
mais de 70% dos veículos apreendidos realizando o transporte de cigarros são oriundos de 
furto ou roubo. Ainda, o IDESF (2015, p. 11) afirma que: 
 
(...) o cigarro representa hoje 67,44% de todo o contrabando que entra pelas 
fronteiras, ou o equivalente a R$ 6.4 bilhões, entre perdas da indústria e não 
tributação. Destes, R$ 4.5 bilhões correspondem aos tributos que o governo deixa 
de arrecadar. 
 
Pode-se observar na imagem 01, que de acordo com estudos do IDESF o Estado do 
Mato Grosso do Sul concentrou mais de 14% das apreensões de cigarros entre os Estados no 
ano de 2014, e mais de 24% dos cigarros apreendidos no país, sendo 2º lugar em ambos os 
quesitos, o que fortalece a necessidade de levantamento de informações sobre o assunto. 
 
 
Imagem 01: Apreensões de Cigarros por Estados em 2014 - Fonte: (IDESF, 2015, p. 15) 
 
 As informações apresentadas demonstram que o crime de contrabando de cigarros está 
relacionado a prática de outros crimes como exemplo do furto/roubo de veículos para o 
transporte das cargas, o que contribui para o aumento da violência. Observa-se também a 
importância da região analisada neste artigo para a ocorrência do ilícito em tela, sendo porta 
de entrada para quase um quarto do volume de cigarros que entrou no território no ano de 
2014. 
 
7 COMPETÊNCIAS 
 
A competência para o processo e julgamento do crime de contrabando está indicada 
pela Súmula nº 151 do Superior Tribunal de Justiça que apresenta o seguinte enunciado: " A 
competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se 
pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens". 
Já o órgão de segurança pública responsável por prevenir e reprimir o contrabando 
está indicado na própria Constituição Federal de 1988 em seu artigo nº 144, § 1º, II, que diz: 
 
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, 
é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do 
patrimônio, através dos seguintes órgãos: 
I - polícia federal; 
II - polícia rodoviária federal; 
III - polícia ferroviária federal; 
IV - polícias civis; 
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. 
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e 
mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: 
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, 
serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, 
assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou 
internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; 
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o 
contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos 
públicos nas respectivas áreas de competência. 
 
Pode-se observar que sendo competente para processo e julgamento do crime estudado 
a Justiça Federal, o região objeto desta análise se enquadra na jurisdição da 1ª Vara Federal de 
Naviraí/MS, conforme observa-se no site4 do TRF3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região). 
Já a Delegacia de Polícia Federal de Naviraí/MS é o órgão de segurança pública com 
competência para instauração dos Inquéritos Policiais relacionados aos crimes de contrabando 
que ocorrem nos municípios de Naviraí, Juti, Jateí, Itaquiraí, Eldorado, Mundo Novo, Japorã, 
Iguatemi, Tacurú e Sete Quedas. 
Portanto, essas cidades serão objeto de análise para o próximo tópico em relação ao 
 
4 Disponível no site: < http://www.trf3.jus.br/trf3r/index.php?id=3076> 
número de inquéritos policiais instaurados para apuração do crime de contrabando de cigarros. 
 
8 NÚMERO DE INQUÉRITOS POLICIAIS INSTAURADOS 
 
A Lei nº 13.008 passou a vigorar em junho de 2014, portanto será objeto de análise a 
quantidade de inquéritos policiais instaurados no período relativo a um ano antes e um ano 
após a nova redação entrar em vigor, assim como a quantidade de maços de cigarros 
apreendidos. Ressalta-se que cada maço contém 20 unidades de cigarros. Isto posto, foi 
possível observar os seguintes dados relativos ao número de inquéritos policiais relacionados 
ao crime de contrabando de cigarros ocorridas na região em estudo: 
 
Período Junho 2013 a Maio 2014 Julho 2014 a junho 2015 
Inquéritos 
instaurados 
33 Inquéritos relacionados a 
contrabando de cigarros 
19 Inquéritos relacionados a 
contrabando de cigarros 
Maços de cigarros 
apreendidos 
Mais de 15,5 milhões Mais de 9,7 milhões 
Tabela 01: Números de inquéritos instaurados e cigarros apreendidos - Fonte: Autor 
 
 
Gráfico 01: Projeção dos dados informados na tabela 01 - Fonte: autor. 
 
Os crimes de contrabando flagrados nos dez municípios citados no tópico anterior, que 
0
5
10
15
20
25
30
35
Nº de Inquéritos Maços de Cigarros 
apreendidos 
(milhões)
1 ano antes
1 ano depois
correspondem a área de atribuição da Delegacia de Polícia Federal de Naviraí/MS, dão início 
ao procedimento administrativo preliminar por meio da instauração do Inquérito Policial. 
Pelos dados apresentados na tabela 01, observa-se que o número de inquéritos 
instaurados para apurar o crime de contrabando de cigarros na região em estudo reduziu cerca 
de 42%, após o aumento da pena cominada com a edição da Lei nº 13.008 de 2014. Observa-
se também que a quantidade de cigarros apreendidos reduziu por volta de 37%, o que 
equivale a mais de 5 milhões de maços de cigarros, ou seja, mais de 100.000.000 (cem 
milhões) de unidades de cigarros. 
Desse modo, pela observação dos números de inquéritos instaurados, tem-se uma 
diminuição da quantidade de apreensões e consequentemente do número de inquéritos 
policiais instaurados. 
 
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Foi possível observar as características doutrinárias e jurisprudenciais gerais do crime 
de contrabando e aspectos relativos especificamente ao contrabando de cigarros de origem 
estrangeira,com foco em uma região específica. assim como dados do número de apreensões 
no período anterior e posterior a Lei nº 13.008 de 2014. 
É importante destacar que faz-se necessário estudar os diversos aspectos que possam 
ser responsáveis pelas alterações nos números indicados acima, como possíveis variações na 
quantidade/qualidade das fiscalizações, modificação nas condições socioeconômicas locais e 
regionais, mudança do modus operandi das quadrilhas especializadas na execução do crime 
de contrabando, dificuldade das quadrilhas em cooptar motoristas para o transporte das cargas 
devido ao recrudescimento da pena e tantas outras possibilidades. 
Por fim, o artigo apresentou aspectos gerais sobre o crime tipificado no artigo nº 334-
A do Código Penal e os números correspondentes as apreensões realizadas em uma região 
específica, ressaltando a necessidade de aprofundar no tema a fim de melhor direcionar as 
ações governamentais para a resolução desta demanda. 
 
10 REFERÊNCIAS 
 
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13008.htm>. Acesso em: 24 
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9532.htm>. Acesso em: 28 ago 2017. 
 
 
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