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■ O uso das terapias de substituição renal se torna necessário quando os rins não são mais capazes de remover produtos de degradação, de manter os eletrólitos e de regular o equilíbrio hídrico. Este estado pode ocorrer rapidamente ou se estender por um longo período de tempo, e a necessidade de terapia de substituição pode ser aguda (a curto prazo) ou crônica (a longo prazo). As principais terapias de substituição renal incluem os vários tipos de diálise e o transplante renal. Diálise Os tipos de diálise incluem a hemodiálise, a TSRC e a DP. A diálise aguda ou urgente é indicada quando existem níveis altos e crescentes de potássio sérico, sobrecarga hídrica ou edema pulmonar iminente; acidose crescente; pericardite; e uremia avançada (Porth & Matfin, 2009). Pode ser também utilizada para remover determinados medicamentos ou toxinas (envenenamento ou superdosagem de medicamentos) do sangue ou para o edema que não responde a outro tratamento, coma hepático, hipopotassemia, hipercalcemia, hipertensão e uremia. A diálise crônica ou de manutenção é indicada na DRC avançada e na DRT nas seguintes circunstâncias: presença de sinais e sintomas urêmicos que afetam todos os sistemas orgânicos (náuseas, vômitos, anorexia grave, letargia crescente, confusão mental), hiperpotassemia, sobrecarga hídrica, que não responde aos diuréticos e à restrição hídrica, e falta generalizada de bemestar. O atrito pericárdico, que indica a presença de pericardite urêmica, constitui uma indicação urgente para diálise em clientes com insuficiência renal. A decisão de iniciar a diálise só deve ser tomada após uma discussão detalhada entre o cliente, a família, o médico e outros membros da equipe de saúde. A enfermeira pode ajudar o cliente e a família ao responder às suas perguntas, esclarecendo as informações fornecidas e apoiando suas decisões. O transplante renal bemsucedido elimina a necessidade de diálise. Observase uma acentuada melhora não apenas na qualidade de vida dos clientes com DRT que se submetem ao transplante, mas também na função fisiológica. Os clientes que se submetem a transplante renal de doadores vivos, antes que a diálise seja iniciada, em geral apresentam uma sobrevida mais longa do rim transplantado do que aqueles que recebem transplante após o início do manejo com diálise (Serur & Charlton, 2011). Hemodiálise A hemodiálise é utilizada em clientes que estão extremamente doentes e que necessitam de diálise a curto prazo, durante alguns dias a semanas, até a recuperação da função renal, bem como em clientes com DRC avançada e DRT, que necessitam de terapia de substituição renal a longo prazo ou permanente. A hemodiálise evita a morte, porém não cura a doença renal, nem compensa a perda das atividades endócrinas ou metabólicas dos rins. Mais de 90% dos clientes que necessitam de terapia de substituição renal a longo prazo se submetem a hemodiálise crônica (USRDS, 2011). A maioria dos clientes recebe hemodiálise intermitente, que consiste em tratamentos 3 vezes/semana, com duração média entre 3 a 5 h em um ambiente ambulatorial. A hemodiálise também pode ser realizada em casa pelo cliente e por um cuidador familiar. Com a diálise domiciliar, o tempo de manejo e a sua frequência podem ser ajustados para suprir as necessidades ideais do cliente. A hemodiálise tem por objetivo extrair as substâncias nitrogenadas tóxicas do sangue e remover o excesso de líquido. O dialisador (também conhecido como rim artificial) é uma membrana semipermeável sintética através da qual o sangue é filtrado para remover toxinas urêmicas e uma quantidade desejada de líquido. Na hemodiálise, o sangue carregado de toxinas e produtos de degradação nitrogenados é desviado do cliente para uma máquina por meio do uso de uma bomba de sangue até o dialisador, no qual as toxinas são filtradas e removidas do sangue, sendo o sangue, então, devolvido ao cliente. A hemodiálise se baseia nos princípios de difusão, osmose e ultrafiltração (ver Capítulo 13). As toxinas e os produtos de degradação no sangue são removidos por difusão – isto é, deslocamse de uma área de maior concentração no sangue para uma área de menor concentração no dialisado. O dialisado é uma solução que circula através do dialisador, composta de todos os eletrólitos em suas concentrações extracelulares ideais. O nível de eletrólitos no sangue do cliente pode ser controlado por meio de um ajuste apropriado dos eletrólitos na solução do dialisado. A membrana semipermeável impede a difusão de moléculas grandes, como eritrócitos e proteínas. O excesso de líquido é removido do sangue por osmose, em que a água se move de uma área de baixo potencial de concentração (o sangue) para uma área de alto potencial de concentração (o banho do dialisado). Na ultrafiltração, o líquido se move sob alta pressão para uma área de menor pressão. Esse processo é muito mais eficiente do que a osmose na remoção da água e é realizado pela aplicação de pressão negativa ou de uma força de sucção à membrana de diálise. Como os clientes portadores de doença renal que exige diálise em geral são incapazes de excretar água, essa força é necessária para remover o líquido, a fim de obter um equilíbrio hídrico. O sistematampão do organismo é mantido utilizandose um banho de dialisado, constituído de bicarbonato (mais comum) ou acetato, que é metabolizado para formar bicarbonato. Administrase o anticoagulante heparina para impedir a coagulação do sangue no circuito extracorpóreo de diálise. O sangue limpo é devolvido ao organismo com a meta de remover água, equilibrar os eletrólitos e controlar a acidose. Dialisadores Os dialisadores são dispositivos de fibras ocas contendo milhares de minúsculos tubos capilares, que transportam o sangue através do dialisador. Os tubos são porosos e atuam como membrana semipermeável, possibilitando a passagem de toxinas, líquido e eletrólitos pela membrana. O fluxo constante da solução mantém o gradiente de concentração para facilitar a troca dos resíduos do sangue através da membrana semipermeável para a solução do dialisado, no qual são removidos e descartados (Figura 54.3). Os dialisadores sofreram muitas modificações tecnológicas no seu desempenho e biocompatibilidade. O dialisador de alto fluxo utiliza membranas altamente permeáveis para aumentar a depuração de moléculas de peso molecular baixo e médio. Essas membranas especiais são utilizadas com velocidades de fluxo mais altas do que as tradicionais para a entrada e saída do sangue do dialisador (500 a 550 mℓ/min). A diálise de alto fluxo aumenta a eficiência dos tratamentos, enquanto diminui a sua duração e reduz a necessidade de heparina. Acesso vascular O acesso ao sistema vascular do cliente deve ser estabelecido para possibilitar a remoção, a limpeza e o retorno do sangue ao sistema vascular do cliente, em rápidas taxas de 300 a 800 mℓ/min. Vários tipos de acesso podem ser criados cirurgicamente ou colocados durante procedimentos realizados no setor de radiologia intervencionista ou na cabeceira do leito. Dispositivos de acesso vascular O acesso imediato à circulação do cliente para hemodiálise aguda é obtido por meio da inserção de um cateter de grande calibre, duplo lúmen e sem bainha na veia subclávia, jugular interna ou femoral pelo médico (Figura 54.4). Este método de acesso vascular envolve algum risco (p. ex., hematoma, pneumotórax, infecção, trombose da veia subclávia, fluxo inadequado). O cateter é removido quando não é mais necessária (p. ex., devido à melhora da condição do cliente ouao estabelecimento de outro tipo de acesso permanente). Cateteres de duplo lúmen com bainha também podem inseridos, em geral por um cirurgião ou radiologista intervencionista, na veia jugular interna do cliente. Como esses cateteres têm bainhas sob a pele, o local de inserção cicatriza, fechando a ferida e reduzindo o risco de infecção ascendente. Por esse motivo, esses cateteres são seguros para uso a longo prazo. Todavia, as taxas de infecção permanecem elevadas, e a sepse continua sendo uma causa comum de admissão hospitalar (Lincoln, 2011). Figura 54.3 Sistema de hemodiálise. O sangue de uma artéria é bombeado (A) para um dialisador, onde flui através de tubos capilares sintéticos (B), que atuam como membrana semipermeável (detalhe). O dialisado, que tem uma composição química particular, flui no dialisador ao redor dos tubos capilares através dos quais flui o sangue. Os produtos de degradação no sangue sofrem difusão, através da membrana semipermeável, para a solução do dialisado. Figura 54.4 Cateter de hemodiálise de duplo lúmen com manguito utilizado na hemodiálise aguda. O lúmen vermelho é acoplado a uma linha sanguínea por meio da qual o sangue é bombeado do cliente para o dialisador. Após a passagem do sangue pelo dialisador (rim artificial), ele retorna ao cliente pelo lúmen azul do cateter. Fístula arteriovenosa O método preferido de acesso vascular permanente para diálise é uma fístula arteriovenosa (FAV), que é criada por meios cirúrgicos (em geral, no antebraço) pela união (anastomose) de uma artéria com uma veia, sendo essa união laterolateral ou terminolateral (Figura 54.5A). As agulhas são inseridas no vaso para obter a passagem de um fluxo sanguíneo adequado através do dialisador. O segmento arterial da fístula é utilizado para o fluxo arterial em direção ao dialisador, e o segmento venoso, para a reinfusão do sangue dialisado. Esse acesso necessita de tempo (2 a 3 meses) para “amadurecer” antes que possa ser utilizado. À medida que a FAV amadurece, o segmento venoso se dilata, devido ao fluxo sanguíneo aumentado que provém diretamente da artéria. Uma vez alcançada uma dilatação suficiente, ela irá então acomodar duas agulhas de grande calibre (calibre de 14, 15 ou 16), que são inseridas para cada tratamento de diálise. O cliente é incentivado a realizar exercícios com a mão para aumentar o tamanho desses vasos (i. e., espremendo uma bola de borracha para fístulas realizadas no antebraço), a fim de acomodar as agulhas de grande calibre. Uma vez estabelecido, este acesso é o que apresenta maior vida útil, constituindo, assim, a melhor opção de acesso vascular para o cliente submetido a hemodiálise crônica (RoyChaudhury, ElKhatib, CamposNaciff et al., 2012). Enxerto arteriovenoso Podese criar um enxerto arteriovenoso pela interposição subcutânea de um material de enxerto biológico, semibiológico ou sintético entre uma artéria e uma veia (Figura 54.5B). Em geral, criase um enxerto quando os vasos do cliente não são apropriados para a criação de uma FAV. Os clientes com comprometimento do sistema vascular (p. ex., devido ao diabetes melito) frequentemente necessitam de um enxerto, visto que seus vasos podem não ser apropriados para a criação de uma FAV. Os enxertos são, em geral, colocados no braço, mas também podem ser aplicados na coxa ou na parede do tórax. As complicações mais comuns desse acesso consistem em estenose, infecção e ocorrência de trombose. Não é raro observar um cliente tratado com diálise apresentando numerosos acessos “antigos” ou “não funcionantes” nos braços. Pedese ao cliente que identifique o acesso atual em uso, que é cuidadosamente verificado quanto à presença de sopro e frêmito. Figura 54.5 A. São criadas fístulas arteriovenosas por meio de anastomose de uma veia com uma artéria do cliente. Esta figura ilustra uma anastomose laterolateral. B. São estabelecidos enxertos arteriovenosos a partir da colocação de um tubo sintético entre a artéria e a veia. Ver a seção Considerações especiais: manejo de enfermagem do cliente hospitalizado sob diálise, posteriormente neste capítulo, para intervenções de enfermagem e cuidado ao cliente com enxerto ou fístula arteriovenosos. Alerta de enfermagem | Qualidade e segurança A falha do acesso de diálise permanente (fístula ou enxerto) é responsável pela maioria das internações de clientes que são submetidos a hemodiálise crônica. Por conseguinte, a proteção do acesso é de alta prioridade. Complicações Embora a hemodiálise possa prolongar a vida, ela não altera a evolução natural da DRC subjacente, nem substitui por completo a função renal. As complicações da DRC previamente discutidas continuam se agravando e exigem tratamento. Com o início da diálise, os distúrbios do metabolismo dos lipídios (hipertrigliceridemia) são acentuados e contribuem para as complicações cardiovasculares. Podem ocorrer insuficiência cardíaca, doença da artéria coronária, angina, acidente vascular encefálico e doença vascular periférica, podendo incapacitar o cliente. A doença cardiovascular continua sendo a principal causa de morte em clientes submetidos à diálise (Danquah, Zimmerman, Diamond et al., 2010). A anemia é agravada pela perda de sangue que ocorre durante a hemodiálise. Podem ocorrer úlceras gástricas • • • • • • • • em consequência do estresse fisiológico da doença crônica, do uso de medicamentos e de condições clínicas preexistentes (p. ex., diabetes melito). Os clientes com uremia relatam um gosto metálico e a ocorrência de náuseas quando necessitam de diálise. Podem existir vômitos durante o manejo de hemodiálise na presença de rápidos deslocamentos de líquido e hipotensão. Isso contribui para a desnutrição observada em clientes submetidos a diálise. O metabolismo deficiente do cálcio e a osteodistrofia renal podem resultar em dor e fraturas ósseas, interferindo na mobilidade. À medida que continua o tratamento com diálise, a calcificação dos principais vasos sanguíneos foi relatada e ligada à hipertensão e a outras complicações vasculares. Podem ocorrer depósitos de fósforo na pele, causando prurido. Muitos indivíduos que se submetem à hemodiálise apresentam problemas importantes de sono, que complicam ainda mais o seu estado de saúde geral (Danquah et al., 2010). A diálise, no início da manhã ou no final da tarde, pode constituir um fator de risco para o desenvolvimento de transtornos do sono. Outras complicações do manejo com diálise podem incluir as seguintes: Com frequência, ocorrem episódios de dispneia à medida que o líquido se acumula entre os tratamentos Pode ocorrer hipotensão durante o tratamento, à medida que o líquido é removido. Os sinais comuns de hipotensão consistem em náuseas, vômitos, sudorese, taquicardia e tontura Podem ocorrer cãibras musculares dolorosas, em geral no final da diálise, quando o líquido e os eletrólitos deixam rapidamente o espaço extracelular Pode ocorrer exsanguinação se as linhas sanguíneas se separarem, ou se houver deslocamento das agulhas de diálise As arritmias podem resultar de alterações dos eletrólitos e do pH ou da remoção dos medicamentos antiarrítmicos durante a diálise A embolia gasosa é rara, mas pode ocorrer se houver entrada de ar no sistema vascular Pode ocorrer dor torácica em clientes com anemia ou com cardiopatia arteriosclerótica O desequilíbrio da diálise resulta de deslocamentos do líquido cerebral. Os sinais e sintomas consistem em cefaleia, náuseas, vômitos, inquietação, nível diminuído de consciência e convulsões. É raro e tem mais tendência a ocorrer na IRA ou quando os níveis de ureia estão muito elevados (ultrapassando 150 mg/dℓ). Manejo deenfermagem A enfermeira na unidade de diálise desempenha um importante papel no monitoramento, suporte, avaliação e orientação do cliente. Durante a diálise, o cliente, o dialisador e o banho do dialisado exigem monitoramento constante, devido à possibilidade de numerosas complicações, incluindo coagulação do tubo de diálise ou dialisador, embolia gasosa, remoção inadequada ou excessiva de líquido, hipotensão, cãibras, vômitos, extravasamentos de sangue, contaminação e complicações do acesso. O cuidado de enfermagem do cliente e a manutenção do dispositivo de acesso vascular são particularmente importantes e são discutidos na seção Considerações especiais: manejo de enfermagem do cliente hospitalizado sob diálise. Promoção da terapia farmacológica Muitos medicamentos são removidos do sangue durante a hemodiálise; por conseguinte, a dose e a hora de administração do medicamento podem exigir um ajuste. Os medicamentos hidrossolúveis são rapidamente removidos durante a hemodiálise, enquanto aqueles que são lipossolúveis ou que aderem a outras substâncias (como a albumina) não são muito bem dialisados. Esta é a razão pela qual algumas superdosagens de substâncias são tratadas com hemodiálise de emergência, e outras não. Os clientes que se submetem à hemodiálise e que necessitam de medicamentos (p. ex., glicosídios cardíacos, antibióticos, medicamentos antiarrítmicos, agentes antihipertensivos) são rigorosamente monitorados para garantir que os níveis sanguíneos e teciduais destes medicamentos sejam mantidos sem haver acúmulo tóxico. A terapia antihipertensiva, que frequentemente constitui parte do esquema de clientes sob diálise, é um exemplo em que a comunicação, a orientação e a avaliação podem fazer uma diferença nos resultados do cliente. O cliente precisa saber quando tomar o medicamento e quando não tomálo. Por exemplo, se um agente antihipertensivo é tomado no dia da diálise, pode ocorrer hipotensão durante a diálise, causando uma pressão arterial perigosamente baixa. Muitos medicamentos que são administrados 1 vez/dia podem ser suspensos até depois do tratamento com diálise. Promoção da terapia nutricional e hídrica A dieta é importante para clientes submetidos a hemodiálise, devido aos efeitos da uremia. As metas da terapia nutricional consistem em minimizar os sintomas urêmicos e os desequilíbrios hidreletrolíticos; em manter um bom estado nutricional por meio de aporte adequada de proteínas, calorias, vitaminas e minerais; e em possibilitar o consumo de uma dieta saborosa e agradável. A restrição da proteína dietética diminui o acúmulo de produtos de degradação nitrogenados, reduz os sintomas urêmicos e pode, até mesmo, adiar o início da diálise por alguns meses. A restrição de líquido também faz parte da prescrição nutricional, visto que pode ocorrer acúmulo de líquidos, levando ao ganho de peso, insuficiência cardíaca e edema pulmonar. Com o início da hemodiálise, o cliente em geral necessita de alguma restrição no aporte nutricional de proteína, sódio, potássio, fósforo e líquidos. A aporte de proteína é restrita para cerca de 1,2 a 1,3 g/kg do peso corporal ideal por dia; por conseguinte, a proteína ingerida precisa ser de alta qualidade biológica. O sódio em geral é restrito para 2 a 3 g/dia; os líquidos são limitados a uma quantidade igual ao débito urinário diário mais 500 mℓ/dia. A meta para clientes submetidos à hemodiálise consiste em manter o ganho de peso interdialítico (entre os tratamentos de diálise) abaixo de 1,5 kg. A restrição de potássio depende da quantidade de função renal residual e da frequência da diálise. A restrição nutricional é uma mudança mal recebida no estilo de vida de muitos clientes com DRT. Os clientes podem se sentir estigmatizados em situações sociais, visto que pode haver poucas escolhas alimentares disponíveis para a sua dieta. Se as restrições forem ignoradas, podem surgir complicações que comportam risco de vida, como hiperpotassemia e edema pulmonar. Por conseguinte, o cliente pode se sentir punido por responder aos impulsos humanos básicos de se alimentar e beber. A enfermeira que cuida de um cliente com sintomas ou complicações em consequência de imprudência alimentar deve evitar tons ásperos, de crítica ou punitivos ao se comunicar com o cliente. É necessária uma educação regular com reforço para alcançar essa difícil mudança no estilo de vida do cliente (Lingerfelt & Thornton, 2011) (Boxe 54.8). Atendimento às necessidades psicossociais Os clientes que necessitam de hemodiálise a longo prazo frequentemente estão preocupados com a falta de previsibilidade da doença e a desorganização de suas vidas. Com frequência, eles têm problemas financeiros, dificuldade em manter o emprego, desejo sexual diminuído e impotência, depressão clínica e medo de morrer. Os clientes mais jovens ficam preocupados com o casamento, ter filhos e a carga que representam para suas famílias. O estilo de vida rígido imposto pelos frequentes manejos de diálise e pelas restrições na alimentação e na ingestão de líquidos pode ser desmoralizante para o cliente e a sua família. Boxe 54.8 PESQUISA DE ENFERMAGEM Os benefícios do monitoramento domiciliar da pressão arterial em clientes sob hemodiálise Lingerfelt K, Hodnicki D. (2012) Hypertension management in patients receiving hemodialysis: The bene�ts of home blood pressure monitoring. Nephrology Nursing Journal, 39(1), 31-36. Finalidade Clientes com doença renal terminal sob hemodiálise correm risco de eventos cardiovasculares, devido à hipertensão, cuja detecção pode ser difícil, em virtude das medidas não con�áveis da pressão arterial (PA) nos centros de diálise. A �nalidade desse projeto piloto foi descrever a avaliação da PA e evitar o tratamento excessivo da PA elevada. Metodologia Esse estudo descritivo analisou 36 clientes submetidos à hemodiálise em um único centro de hemodiálise. Os clientes sob hemodiálise, cujas medições da pressão arterial realizadas no centro não corresponderam à meta recomendada de 130/80 mmHg após manejos consecutivos de diálise, no decorrer de um período de 1 a 2 semanas, foram candidatos ao estudo. Os participantes foram acompanhados com monitoramento da PA 2 vezes/semana, durante um período de 6 semanas. Foram coletados dados relacionados com o ganho de líquido entre os tratamentos de diálise e o aporte de sódio relatado pelos próprios clientes. Achados Depois de 6 semanas de revisões 2 vezes/semana e ajuste do tratamento, quando indicado, as medições domiciliares da PA foram avaliadas para determinar se a meta da PA no manejo da hipertensão era alcançada. Nem todos os participantes com PA acima de 130/80, utilizando medições peridiálise, necessitaram de ajuste nos medicamentos. As medições domiciliares da PA obtidas após a hemodiálise e antes do acúmulo de líquidos e de níveis tóxicos urêmicos podem proporcionar um quadro mais acurado do controle da hipertensão, em comparação com medidas da PA pré-diálise. Implicações para a enfermagem O ajuste dos medicamentos anti-hipertensivos é realizado no centro de diálise, no hospital, no ambiente comunitário e no consultório ambulatorial. Os achados desse estudo indicam que o monitoramento domiciliar da PA proporciona uma avaliação minuciosa da PA do cliente e pode evitar o tratamento excessivo em alguns clientes. O risco de hipotensão sintomática em clientes submetidos a hemodiálise pode ser reduzido se houver disponibilidade de monitoramento domiciliar da PA nessa população de clientes. A diálise altera o estilo de vida do cliente e de sua família. O tempo necessário para a diálise e as consultas médicas e o fato de apresentar uma doença crônica podem criar conflito, frustração,culpa e depressão. Pode ser difícil para o cliente, o cônjuge e a família expressar raiva e sentimentos negativos. A enfermeira precisa dar ao cliente e à sua família a oportunidade de expressar os sentimentos de raiva e preocupação sobre as limitações impostas pela doença e seu tratamento, sobre os possíveis problemas financeiros e a falta de segurança no trabalho. Se a raiva não for expressa, ela pode ser direcionada para o interior do cliente e levar à depressão, desespero e tentativa de suicídio (o suicídio é mais prevalente em clientes submetidos a diálise); todavia, se a raiva for projetada para outras pessoas, ela pode destruir relações familiares já ameaçadas (Makaroff, 2011). Embora esses sentimentos sejam normais nessa situação, eles frequentemente são profundos e avassaladores. O aconselhamento e a psicoterapia podem ser necessários. A depressão pode exigir manejo com agentes antidepressivos. Além disso, pode ser útil encaminhar o cliente e a família a um profissional de saúde mental com experiência no cuidado de clientes submetidos à diálise. As enfermeiras clínicas especialistas, os psicólogos e os assistentes sociais podem ser valiosos para ajudar o cliente e a sua família a enfrentar as alterações produzidas pela insuficiência renal e pelo seu manejo. A sensação de perda que o cliente vivencia não pode ser subestimada, visto que cada aspecto de uma “vida normal” está rompido. Alguns clientes recorrem à negação para lidar com o conjunto avassalador de problemas clínicos (p. ex., infecções, hipertensão, anemia, neuropatia). As equipes que são tentadas a rotular o cliente como uma pessoa que não colabora precisam considerar o impacto que a insuficiência renal e o seu tratamento tem sobre o cliente e a família, bem como as estratégias de enfrentamento que eles podem utilizar. Os princípios de cuidados paliativos, que focalizam o controle dos sintomas, estão se tornando cada vez mais importantes à medida que uma maior atenção é dispensada para as questões relacionadas com a qualidade de vida do cliente (Bayoumi & ElFouly, 2010). Os clientes e suas famílias são incentivados a discutir as opções de fase terminal e a desenvolver diretrizes antecipadas ou testamentos. Promoção dos cuidados domiciliar e comunitário Orientação do cliente sobre autocuidado A preparação de um cliente para a hemodiálise é essencial. A avaliação ajuda a identificar as necessidades de aprendizado do cliente e de seus familiares. Em muitos casos, o cliente recebe alta antes que se proceda a uma avaliação completa das necessidades de aprendizado e disposição para aprender; por conseguinte, as enfermeiras hospitalares, a equipe de diálise e as enfermeiras de cuidados domiciliares precisam trabalhar em conjunto para dar orientação apropriada que atenda às necessidades mutáveis e à disposição para aprender do cliente e da família. O diagnóstico de DRT e a necessidade de diálise podem oprimir o cliente e a sua família. Além disso, muitos clientes com DRT apresentam depressão clínica, redução do tempo de atenção, nível diminuído de concentração e alteração da percepção. Por conseguinte, as instruções devem ser fornecidas em breves sessões de 10 a 15 min, com um tempo adicional para esclarecimento, repetição, reforço e perguntas do cliente e da família. A enfermeira precisa demonstrar uma atitude sem julgamento para que o cliente e a sua família possam discutir as opções e seus sentimentos sobre essas opções. As reuniões em equipe são valiosas para compartilhar as informações e proporcionar a cada membro da equipe a oportunidade de discutir as necessidades do cliente e da família. ■ Hemodiálise domiciliar Os clientes que se submetem à hemodiálise o fazem, em sua maioria, em ambiente ambulatorial; todavia, a hemodiálise domiciliar constitui uma opção para alguns. A hemodiálise domiciliar requer um cliente altamente motivado, que tenha vontade de assumir a responsabilidade do procedimento e que seja capaz de ajustar cada tratamento para atender às necessidades mutáveis do organismo. Exige também o compromisso e a cooperação de um cuidador familiar para auxiliar o cliente. Entretanto, muitos clientes não se sentem confortáveis em impor essa tarefa a outras pessoas e não querem sujeitar os familiares ao sentimento de que a sua casa se transformou em uma clínica. A equipe de saúde nunca força um cliente a utilizar a hemodiálise domiciliar, visto que esse manejo exige mudanças na casa e na família. A hemodiálise domiciliar precisa ser uma decisão tomada pelo cliente e pela família (Loiselle, O’Connor, & Michaud, 2011). O cliente que se submete à hemodiálise domiciliar e o cuidador familiar que irá ajudálo precisam ser treinados para preparar, operar e desmontar a máquina de diálise; manter e limpar o equipamento; administrar os medicamentos (p. ex., heparina) nas linhas da máquina; e solucionar os problemas de emergência (ruptura do dialisador de hemodiálise, problemas elétricos ou mecânicos, hipotensão, choque e convulsões). Como a hemodiálise domiciliar impõe ao cliente e ao familiar a responsabilidade principal do tratamento, eles devem compreender e devem ser capazes de realizar todos os aspectos do procedimento de hemodiálise (Boxe 54.9). Antes de iniciar a hemodiálise domiciliar, são avaliados o ambiente domiciliar, os recursos domiciliares e comunitários e a capacidade e vontade do cliente e da família de realizar esse tratamento. A casa é inspecionada para ver se as tomadas elétricas, os encanamentos e o espaço de armazenamento são adequados. Podem ser necessárias modificações para que o cliente e seu assistente possam realizar diálise com segurança e lidar com emergências. Uma vez iniciada a hemodiálise domiciliar, a enfermeira de cuidados domiciliares deve fazer visitas periódicas para avaliar a adesão às técnicas recomendadas, examinar o cliente à procura de complicações, reforçar as instruções prévias e dar segurança. Cuidados contínuos A meta da equipe de saúde no tratamento de clientes com insuficiência renal crônica consiste em maximizar o seu potencial vocacional, estado funcional e qualidade de vida. Para facilitar a reabilitação renal, o acompanhamento apropriado e o monitoramento por membros da equipe de saúde (médicos, enfermeiras de diálise, assistente social, psicólogo, enfermeiras de cuidados domiciliares e outros, quando apropriado) são essenciais para identificar e solucionar precocemente os problemas. Muitos clientes com insuficiência renal crônica podem retomar uma vida relativamente normal, fazendo as coisas que são importantes para eles, como viajar, fazer exercícios, trabalhar ou participar ativamente nas atividades da família. Quando intervenções apropriadas estão disponíveis no início do curso da diálise, o potencial de uma saúde melhor aumenta, e o cliente pode permanecer ativo na família e na vida comunitária. As metas de resultados da reabilitação renal incluem emprego daqueles que são capazes de trabalhar, melhor funcionamento físico de todos os todos os clientes, melhor compreensão sobre a adaptação e as opções para viver bem, maior controle sobre os efeitos da doença renal e da diálise e retomada das atividades apreciadas antes da diálise. Terapias de substituição renal contínua As TSRC podem ser indicadas para clientes com insuficiência renal aguda ou crônica, que estão clinicamente muito instáveis para a realização de hemodiálise tradicional, para clientes com sobrecarga hídrica secundária à insuficiência renal oligúrica (débito urinário baixo), e para clientes cujos rins são incapazes de atender às necessidades metabólicas ou nutricionais extremamente altas. Algumas formasde TSRC podem não exigir máquinas de diálise nem pessoal de diálise para executar os procedimentos e podem ser iniciadas rapidamente. Dispõese de vários tipos de TSRC, que são amplamente utilizados em unidades de terapia intensiva (Figura 54.6). Os métodos são semelhantes, na medida em que exigem um acesso à circulação e à passagem do sangue através de um filtro artificial. Em todos os tipos, utilizase um hemofiltro (um filtro extremamente poroso para sangue, que contém uma membrana semipermeável). • • • • • • • • • • • • ■ Boxe 54.9 LISTA DE VERIFICAÇÃO DO CUIDADO DOMICILIAR Hemodiálise Ao concluírem as orientações sobre os cuidados domiciliares, o cliente ou o cuidador familiar serão capazes de: CLIENTE CUIDADOR FAMILIAR Discutir a insu�ciência renal e seus efeitos sobre o organismo. ✓ ✓ Descrever a causa da insu�ciência renal e o motivo pelo qual a hemodiálise é necessária. ✓ ✓ Descrever os princípios básicos da hemodiálise. ✓ ✓ Discutir os problemas comuns que podem surgir durante a hemodiálise e a sua prevenção e manejo. ✓ ✓ Demonstrar conhecimento sobre os medicamentos prescritos e o motivo para a sua utilização, os efeitos colaterais potenciais, as diretrizes sobre quando noti�car o médico e o horário dos medicamentos nos dias de diálise e nos dias sem diálise. ✓ ✓ Reconhecer as restrições nutricionais e hídricas, a justi�cativa e as consequências da não adesão. ✓ ✓ Descrever os valores laboratoriais comumente medidos, os resultados e as implicações. ✓ ✓ Listar as diretrizes para a prevenção e a detecção de sobrecarga hídrica, o signi�cado do peso “seco” e como se pesar. ✓ ✓ Demonstrar o cuidado do acesso vascular, como veri�car a perviedade, os sinais e sintomas de infecção e a prevenção das complicações. ✓ ✓ Discutir as estratégias para detecção, manejo e alívio do prurido, da neuropatia e de outras complicações da insu�ciência renal. ✓ ✓ Desenvolver estratégias para controlar e reduzir a ansiedade e manter a independência. ✓ ✓ Coordenar arranjos �nanceiros para a diálise e estratégias para identi�car e obter recursos. ✓ ✓ Hemofiltração venovenosa contínua A hemofiltração venovenosa contínua (HVVC) é frequentemente usada para o manejo da IRA. O sangue de um cateter venoso de duplo lúmen é bombeado (utilizando uma pequena bomba de sangue) através de um hemofiltro e, em seguida, é devolvido ao cliente pelo mesmo cateter. A HVVC possibilita uma remoção lenta e contínua de líquido (ultrafiltração); por conseguinte, os efeitos hemodinâmicos são leves e mais bem tolerados pelos clientes com condições instáveis. A HVVC exige um cateter venoso de duplo lúmen e enfermeiras de terapia intensiva treinadas no manejo da terapia, que podem instalar, iniciar, manter e encerrar o sistema. Muitos hospitais desenvolveram uma abordagem interdependente para o manejo da terapia com HVVC entre a equipe de enfermagem de terapia intensiva e nefrologia. Hemodiálise venovenosa contínua A hemodiálise venovenosa contínua (HDVVC) se assemelha à HVVC. O sangue é bombeado a partir de um cateter venoso de duplo lúmen através de um hemofiltro e devolvido ao cliente pelo mesmo cateter. Além dos benefícios da ultrafiltração, a HDVVC utiliza um gradiente de concentração para facilitar a remoção das toxinas urêmicas e do líquido, acrescentando uma solução de dialisado no circuito. Há necessidade de um cateter venoso de duplo lúmen; os efeitos hemodinâmicos são, em geral, leves; e as enfermeiras de terapia intensiva podem instalar, iniciar, manter e encerrar o sistema com o apoio da equipe de enfermagem de nefrologia. Diálise peritoneal Os objetivos da DP consistem em remover as substâncias tóxicas e os produtos de degradação metabólicos e em restabelecer o equilíbrio hidreletrolítico normal. A DP pode constituir o tratamento de escolha para clientes com insuficiência renal, que são incapazes ou que não tem vontade de se submeter à hemodiálise ou ao transplante renal. Os clientes que são suscetíveis às rápidas alterações hidreletrolíticas e metabólicas, as quais ocorrem durante a hemodiálise, exibem um menor número destes problemas com a velocidade mais lenta da DP. Por conseguinte, os clientes com diabetes melito ou com doença cardiovascular, muitos clientes idosos, e os que podem correr risco de efeitos adversos da heparina sistêmica são prováveis candidatos à DP. Além disso, a hipertensão grave, a insuficiência cardíaca e o edema pulmonar que não respondem aos esquemas habituais de manejo têm sido tratados, de forma bemsucedida, com a DP. Menos de 8% dos clientes com DRT recebem DP como modalidade de tratamento (USRDS, 2011). Na DP, a membrana peritoneal que cobre os órgãos abdominais e que reveste a parede do abdome atua como membrana semipermeável. O líquido do dialisado de dextrose estéril é introduzido na cavidade peritoneal por meio de um cateter abdominal a determinados intervalos (Figura 54.7). Quando a solução estéril se encontra na cavidade peritoneal, as toxinas urêmicas, como a ureia e a creatinina, começam a ser depuradas do sangue. Ocorrem difusão e osmose, à medida que os produtos de degradação se movem de uma área de concentração mais elevada (a corrente sanguínea) para uma área de menor concentração (o líquido do dialisado) por meio de uma membrana semipermeável (o peritônio) (Prowant, Moore, Satalowich et al., 2010). Esse movimento de soluto do sangue para o líquido do dialisado é denominado depuração. Como as substâncias atravessam a membrana peritoneal em velocidades diferentes, são efetuados ajustes no tempo de permanência da solução na cavidade peritoneal e na quantidade de líquido usada para facilitar o processo. A ultrafiltração (remoção de água) ocorre na DP por meio de um gradiente osmótico criado com o uso de um líquido de dialisado com maior concentração de glicose que a do sangue. Figura 54.6 Os aparelhos para a administração de terapia de substituição renal contínua (TSRC) oferecem um aquecedor de líquido integrado para aquecer a infusão e o dialisado, um sistema de pesagem, para reduzir a possibilidade de erro na avaliação do equilíbrio hídrico, e uma bateria de reserva que possibilita a continuação do tratamento quando o cliente é movimentado. A. Diapact CRRT System, BBraun Medical, Inc., Bethlehem, PA. B. PRISMA, Gambro Corporation, Lakewood, CO. C. System One, NxStage Medical Inc., Lawrence, MA. Figura 54.7 Na diálise peritoneal e na diálise peritoneal intermitente aguda, o dialisado é infundido na cavidade peritoneal por gravidade; em seguida, o clampe na linha de infusão é fechado. Depois de um tempo de permanência (quando o dialisado está na cavidade peritoneal), o tubo de drenagem é aberto, e o líquido drena da cavidade peritoneal, também por gravidade. Um novo recipiente de dialisado é infundido tão logo a drenagem seja concluída. A duração do tempo de permanência depende do tipo de diálise peritoneal. Procedimento À semelhança de outras formas de manejo, a decisão de iniciar a DP é tomada pelo cliente e pela família em conjunto com o médico. O cliente pode estar extremamente doente, exigindo, portanto, um tratamento a curto prazo para corrigir os distúrbios graves do estado hidreletrolítico, ou pode apresentar DRT e necessitar de receber tratamentos continuados. Preparo do cliente A preparação do cliente e da família pela enfermeira para a DP depende do estado físico e psicológico, do nível de alerta e da experiência prévia do cliente com a diálise, bem como da compreensão e da familiarização com o procedimento. A enfermeira explica o procedimento ao cliente e o ajuda a obter o consentimento assinado para a inserção do cateter. São registrados os sinais vitais, o peso e os níveis séricosde eletrólitos em condições basais. Efetuase uma inspeção do abdome para a colocação do cateter, a fim de facilitar o autocuidado. Tipicamente, o cateter é colocado no lado não dominante para permitir que o cliente tenha um acesso mais fácil ao local de conexão do cateter quando for efetuar as trocas. O cliente é incentivado a esvaziar a bexiga e o intestino para reduzir o risco de punção dos órgãos internos durante o procedimento de inserção. Podem ser administrados antibióticos de amplo espectro para evitar a infecção. O cateter peritoneal pode ser inserido na radiologia intervencionista, no centro cirúrgico, ou à cabeceira do cliente. Dependendo da situação, será necessário explicar isso ao cliente e à sua família. Preparo do equipamento Além de montar o equipamento para a DP, a enfermeira consulta o médico para determinar a concentração do dialisado a ser utilizado e os medicamentos a acrescentar. A heparina pode ser acrescentada para evitar a formação de fibrina e a consequente oclusão do cateter peritoneal. Podese prescrever cloreto de potássio para evitar a hipopotassemia. Podem ser acrescentados antibióticos para tratar a peritonite (inflamação da membrana peritoneal) causada por infecção. Podese adicionar insulina regular para clientes com diabetes melito, devido à alta concentração de dextrose da solução de DP. É imperativo seguir uma técnica asséptica toda vez que forem acrescentados medicamentos à solução da DP. Antes da adição dos medicamentos, o dialisado é aquecido até a temperatura corporal para evitar o desconforto do cliente e a ocorrência de dor abdominal, bem como para dilatar os vasos do peritônio, a fim de aumentar a depuração da ureia. As soluções que são muito frias provocam dor, cólicas, vasoconstrição, e reduzem a depuração. Recomendase o calor seco (estufa, incubadora ou almofada térmica). Os métodos não recomendados incluem mergulhar as bolsas de solução em água morna (essa prática pode introduzir bactérias na parte externa das bolsas de solução e aumentar a probabilidade de peritonite) e o uso de microondas para aquecer o líquido (aumenta o risco de queimar o peritônio). Imediatamente antes de iniciar a diálise, a enfermeira, utilizando uma técnica asséptica, monta o equipo e o conjunto de administração. O equipo é preenchido com o dialisado preparado, a fim de reduzir a quantidade de ar que entra no cateter e na cavidade peritoneal, o que poderia aumentar o desconforto abdominal e interferir na instilação e na drenagem do líquido. Inserção do cateter De modo ideal, o cateter peritoneal é inserido no centro cirúrgico ou no serviço de radiologia para manter a assepsia cirúrgica e minimizar o risco de contaminação. Os cateteres para uso a longo prazo são, em geral, macios, flexíveis e feitos de silicone, com uma faixa radiopaca para possibilitar a sua visualização nas radiografias. Esses cateteres apresentam três partes: (1) uma parte intraperitoneal, com numerosas aberturas e uma extremidade aberta, para possibilitar o fluxo livre do dialisado; (2) uma parte subcutânea, que passa pela membrana peritoneal e faz um túnel através do músculo e do tecido subcutâneo até a pele; e (3) uma parte externa, para conexão com o sistema do dialisado. Esses cateteres dispõem, em sua maioria, de dois manguitos (cuffs) feitos de poliéster de Dacron. Os cuffs estabilizam o cateter, limitam o movimento, impedem vazamentos e proporcionam uma barreira contra os microrganismos. Um cuff é colocado exatamente distal ao peritônio, enquanto o outro cuff é posicionado subcutaneamente. O túnel subcutâneo (com 5 a 10 cm de comprimento) protege ainda mais contra a infecção bacteriana (Figura 54.8). Figura 54.8 Diálise peritoneal ambulatorial contínua. A. O cateter peritoneal é implantado através da parede do abdome. B. Os cuffs de Dacron e um túnel subcutâneo fornecem proteção contra a infecção bacteriana. C. O dialisado flui por gravidade através do cateter peritoneal para o interior da cavidade peritoneal. Depois de um intervalo de tempo prescrito, o líquido é drenado por gravidade e descartado. Uma nova solução é, então, infundida dentro da cavidade peritoneal até o próximo período de drenagem. Por conseguinte, a diálise prossegue em uma base de 24 h por dia, período durante o qual o cliente tem liberdade de se mover e realizar suas atividades habituais. Realização da troca A DP envolve uma série de trocas ou ciclos. Uma troca se refere a todo o ciclo, incluindo a infusão (enchimento), a permanência e a drenagem do dialisado. Esse ciclo é repetido durante todo o curso da diálise. O dialisado é infundido por gravidade no interior da cavidade peritoneal. Em geral, é necessário um período de cerca de 5 a 10 min para a infusão de 2 a 3 ℓ de líquido. O tempo de permanência ou de equilíbrio prescrito possibilita a ocorrência de difusão e osmose. No final do tempo de permanência, começa a fase de drenagem da troca. Retirase o clampe do tubo, e a solução drena a partir da cavidade peritoneal por gravidade através de um sistema fechado. A drenagem termina, geralmente, em 10 a 20 min. O líquido de drenagem é normalmente incolor ou cor de palha e não deve ser turvo. Podese observar uma drenagem sanguinolenta nas primeiras trocas depois da inserção de um novo cateter; todavia, ela não deve continuar depois desse período. O número de ciclos ou trocas e a sua frequência são prescritos com base nos valores laboratoriais determinados mensalmente e com base na presença de sintomas urêmicos. As trocas podem ser realizadas manualmente durante as horas de vigília pelo cliente (diálise peritoneal ambulatorial contínua [DPAC]) ou por meio de uma máquina de DP (ciclador), que realiza as trocas de modo automático, em geral enquanto o cliente dorme à noite (diálise peritoneal cíclica contínua [DPCC]). A remoção do excesso de água durante a DP ocorre pelo fato de que o dialisado possui uma alta concentração de glicose, tornandoo hipertônico. Um gradiente osmótico é criado entre o sangue e a solução do dialisado. Dispõese de soluções de glicose a 1,5%, 2,5% e 4,25% em vários volumes, de 1.000 mℓ a 3.000 mℓ. Quanto mais alta a concentração de glicose, maior o gradiente osmótico e maior a quantidade de água removida. A escolha da solução apropriada se baseia no estado hídrico do cliente (Prowant et al., 2010). Complicações As complicações da DP são, em sua maioria, mínimas; todavia, várias delas, se não forem tratadas, podem ter graves consequências. Complicações agudas Peritonite A peritonite constitui a complicação mais comum e grave da DP. O primeiro sinal de peritonite consiste em um líquido de drenagem do dialisado turvo. Ocorrem, muito mais tarde, dor abdominal difusa e hipersensibilidade de rebote. A hipotensão e outros sinais de choque também podem ocorrer com a infecção avançada. O cliente com peritonite pode ser tratado como cliente internado ou ambulatorial (mais comum), dependendo da gravidade da infecção e do estado clínico do cliente. O líquido de drenagem é examinado para a contagem de células; são realizadas uma coloração de Gram e culturas para identificar o microrganismo e orientar o tratamento. Em geral, são acrescentados antibióticos (aminoglicosídios ou cefalosporinas) às trocas subsequentes até que sejam obtidos os resultados da coloração de Gram ou da cultura para determinação do antibiótico apropriado. A administração intraperitoneal de antibióticos é tão efetiva quanto a administração por via intravenosa e, portanto, é usada com mais frequência. A antibioticoterapia é mantida por 10 a 14 dias (White & Vinet, 2010). A seleção cuidadosa e o cálculo da dose do antibióticosão necessários para evitar a nefrotoxicidade e o comprometimento adicional da função renal residual. Independentemente do microrganismo causador da peritonite, o cliente perde grandes quantidades de proteína por meio do peritônio. Em consequência, podem ocorrer desnutrição aguda e cicatrização tardia. Por conseguinte, devese dispensar uma atenção para a detecção e o manejo imediato da peritonite. Vazamento Pode ocorrer extravasamento do dialisado no local do cateter imediatamente após a sua inserção. Em geral, o vazamento cessa de modo espontâneo se a diálise for suspensa por vários dias, dando ao tecido que circunda os cuffs localizados no cateter abdominal a possibilidade de infiltrar o Dacron e fechar o túnel de inserção. Proporciona também um tempo suficiente para a cicatrização do local de saída. Durante esse intervalo de tempo, é importante reduzir os fatores passíveis de retardar a cicatrização, como atividade indevida da musculatura abdominal e esforço durante a defecação (Yang, Wang, Yeh et al., 2011). Em muitos casos, podese evitar o vazamento com o uso de pequenos volumes (500 mℓ) de dialisado, aumentando gradualmente o volume até 2.000 a 3.000 mℓ. Sangramento Em certas ocasiões, podese observar um efluente sanguinolento (drenagem), particularmente em mulheres jovens que menstruam. (O líquido hipertônico puxa o sangue a partir do útero, através da abertura nas tubas uterinas e para o interior da cavidade peritoneal.) O sangramento também é comum durante as primeiras trocas depois da inserção de um novo cateter, visto que uma certa quantidade de sangue penetra na cavidade abdominal após a inserção. Em muitos casos, não é possível identificar nenhuma causa para o sangramento, embora o deslocamento do cateter a partir da pelve tenha sido ocasionalmente associado à ocorrência de sangramento. Alguns clientes apresentaram efluente sanguinolento depois de um enema ou em consequência de pequeno traumatismo. Com mais frequência, o sangramento cessa em 1 a 2 dias e não requer nenhuma intervenção específica. Durante esse período, podem ser necessárias trocas mais frequentes, bem como a adição de heparina ao dialisado para evitar a obstrução do cateter com coágulos sanguíneos. Complicações a longo prazo A hipertrigliceridemia é comum em clientes que se submetem a DP a longo prazo, sugerindo que a terapia pode acelerar a aterogênese. A doença cardiovascular constitui a principal causa de morbidade e de mortalidade em clientes com insuficiência renal, e muitos clientes apresentam um controle subótimo da pressão arterial (Eskridge, 2010). Devemse utilizar betabloqueadores e inibidores da ECA para controlar a hipertensão ou proteger o coração, e devese considerar o uso de ácido acetilsalicílico e estatinas. Outras complicações que podem ocorrer com a DP a longo prazo consistem em hérnias abdominais (incisional, inguinal, diafragmática e umbilical), provavelmente devido à pressão intraabdominal continuamente elevada. A elevação persistente da pressão intraabdominal também agrava os sintomas da hérnia de hiato e das hemorroidas. Além disso, podem ocorrer lombalgia e anorexia, devido ao líquido existente no abdome, bem como a um sabor doce constante relacionado com a absorção de glicose. Em certas ocasiões, são observados problemas mecânicos, que podem interferir na instilação ou na drenagem do dialisado. A formação de coágulos no cateter peritoneal e a constipação intestinal constituem fatores que podem contribuir para estes problemas. Abordagens A DP pode ser realizada utilizando várias abordagens diferentes: diálise peritoneal intermitente aguda, DPAC e DPCC. Diálise peritoneal intermitente aguda As indicações para a DP intermitente aguda, uma variação da DP, consiste em sinais e sintomas urêmicos (náuseas, vômitos, fadiga, alteração do estado mental), sobrecarga hídrica, acidose e hiperpotassemia. Embora a DP não seja tão eficiente quanto a hemodiálise na remoção de solutos e líquido, ela possibilita uma mudança mais gradual no estado do volume de líquidos do cliente e na remoção dos produtos de degradação. Por conseguinte, pode constituir o tratamento de escolha para o cliente com instabilidade hemodinâmica. Pode ser realizada manualmente (a enfermeira aquece, perfura e pendura cada frasco de dialisado) ou por um aparelho ciclador. Os tempos de troca variam de 30 min a 2 h. Uma rotina comum é a troca a cada hora, que consiste em uma infusão de 10 min, um tempo de permanência de 30 min, e um tempo de drenagem de 20 min (Prowant et al., 2010). A manutenção do ciclo da DP é uma responsabilidade de enfermagem. A técnica asséptica estrita é mantida • • • • • • quando os frascos de solução são trocados e os frascos de drenagem são esvaziados. Os sinais vitais, o peso, o equilíbrio hídrico, os valores laboratoriais e o estado do cliente são monitorados com frequência. A enfermeira emprega um fluxograma ou registro médico eletrônico para documentar cada troca e registra os sinais vitais, a concentração do dialisado, os medicamentos acrescentados, o volume de troca, o tempo de permanência, o equilíbrio do líquido de diálise para cada troca (líquido perdido ou ganho) e o equilíbrio hídrico cumulativo. A enfermeira também avalia cuidadosamente o turgor da pele e as mucosas para avaliar o estado hídrico e monitorar o cliente quanto à ocorrência de edema. Alerta de enfermagem | Qualidade e segurança Se o líquido peritoneal não drenar de modo apropriado, a enfermeira pode facilitar a drenagem mudando o cliente de posição de um lado para outro ou elevando a cabeceira do leito. O cateter nunca deve ser empurrado excessivamente para o interior da cavidade peritoneal. Outras medidas para promover a drenagem incluem a verificação da desobstrução do cateter ao inspecionar a existência de dobras, clampes fechados ou trava de ar. A enfermeira monitora a ocorrência de complicações, incluindo peritonite, sangramento, dificuldade respiratória e extravasamento de líquido peritoneal. A circunferência abdominal pode ser medida periodicamente para determinar se o cliente está retendo grandes quantidades de solução de diálise. Além disso, a enfermeira deve assegurar que o cateter de DP permaneça fixo, e que o curativo seja seco. São fornecidas medidas de conforto físico e mudança frequente de posição, bem como cuidados da pele. O cliente e a sua família são instruídos sobre o procedimento e mantidos informados acerca da evolução (perda de líquido, perda de peso, valores laboratoriais). São fornecidos apoio emocional e estímulo ao cliente e à sua família durante esse período estressante e incerto. Diálise peritoneal ambulatorial contínua A DPAC constitui a segunda forma mais comum de diálise para clientes com DRT (USRDS, 2011). A DPAC é realizada em casa pelo próprio cliente ou por um cuidador familiar treinado, que, geralmente, é um familiar. O procedimento permite ao cliente uma razoável liberdade e controle das atividades diárias, porém exige um sério comprometimento para ser bemsucedido. O Boxe 54.10 discute a adequabilidade para a DPAC. Boxe 54.10 Considerações na diálise peritoneal ambulatorial contínua Embora não seja apropriada para todos os clientes com doença renal terminal (DRT), a diálise peritoneal ambulatorial contínua (DPAC) constitui uma terapia viável para aqueles que podem realizar o autocuidado e as trocas e que conseguem acomodar a terapia em sua própria rotina. Com frequência, os clientes relatam ter mais energia e uma sensação de maior saúde quando começam a DPAC. As enfermeiras podem ser essenciais ajudando os clientes com DRT a encontrar a terapia de diálise que melhor se adapte a seu estilo de vida. Osclientes que consideram o uso da DPAC precisam compreender as vantagens e as desvantagens, bem como as indicações e as contraindicações dessa forma de terapia. Vantagens Liberdade em relação à máquina de hemodiálise Controle sobre as atividades diárias Oportunidades para ter uma dieta mais liberal do que aquela permitida com a hemodiálise, aumentar o consumo de líquidos, elevar os valores do hematócrito, melhorar o controle da pressão arterial, evitar punções venosas e obter uma sensação de bem- estar Desvantagens Diálise contínua, 24 h por dia, 7 dias por semana Alterações nutricionais relacionadas com as perdas de proteína e de potássio. Os clientes podem ser incentivados a aumentar o consumo de proteína e de potássio na dieta, devido a essas perdas nas trocas de líquido na diálise peritoneal Indicações Vontade, motivação e capacidade do cliente de realizar a diálise em casa • • • • • • • Forte sistema de apoio familiar ou comunitário (essencial para o sucesso), particularmente se o cliente for idoso Problemas especiais com a hemodiálise a longo prazo, como dispositivos de acesso vascular disfuncionais ou que falham, sede excessiva, hipertensão grave, cefaleias pós-diálise e anemia grave, exigindo transfusão frequente Terapia intermediária enquanto se aguarda um transplante renal DRT secundária ao diabetes melito, visto que a hipertensão, a uremia e a hiperglicemia são mais fáceis de controlar com a DPAC do que com a hemodiálise Contraindicações Aderências decorrentes de cirurgia prévia (as aderências reduzem a depuração dos solutos) ou doença inǼamatória sistêmica Lombalgia crônica e doença discal preexistente, que poderiam ser agravadas pela pressão contínua do líquido de diálise no abdome Artrite grave ou força manual fraca, exigindo auxílio na realização da troca. Todavia, os clientes cegos ou parcialmente cegos e aqueles com outras limitações físicas podem aprender a realizar a DPAC A DPAC segue os mesmos princípios de outras formas de DP: difusão e osmose. Ocorrem flutuações menos extremas nos valores laboratoriais do cliente com a DPAC do que com a DP intermitente ou a hemodiálise, visto que a diálise está progredindo constantemente. Os níveis séricos de eletrólitos permanecem, em geral, na faixa normal. Procedimento O cliente realiza as trocas 4 ou 5 vezes/dia, durante as 24 h do dia, 7 dias por semana, a intervalos agendados durante todo o dia. Diferentes fabricantes fornecem equipamentos diferentes. Com mais frequência, empregase um sistema em forma de Y, em que uma bolsa contendo a solução do dialisado vem acoplada a um ramo do “Y”, enquanto uma bolsa vazia estéril está acoplada ao segundo ramo. Isso deixa a terceira parte do “Y” aberta e disponível para acoplamento com o equipo de transferência no cateter de DP. Para realizar uma troca, o cliente (ou a pessoa que realiza a troca) lava as mãos, coloca uma máscara e, em seguida, remove a tampa do equipo de transferência, enquanto mantém a esterilidade. A extremidade aberta do equipo em “Y” é acoplada à extremidade do equipo de transferência, e o dialisado é infundido onde irá permanecer. Após a infusão do dialisado, o cliente retira o clampe do equipo de transferência e conjunto do equipo, desconecta o conjunto do equipo e aplica uma nova tampa ao equipo de transferência, para manter o sistema fechado. O cliente drena o líquido (efluente) da cavidade peritoneal através do cateter (durante cerca de 20 a 30 min) para o interior da bolsa vazia. Após drenagem completa do efluente, instilase líquido fresco dentro da cavidade peritoneal. Quanto maior o tempo de permanência, melhor a depuração das toxinas urêmicas. Se o tempo de permanência for excessivo, o cliente absorverá parte do efluente de volta ao organismo, simplesmente devido à perda do gradiente osmótico. Uma vez alcançado o equilíbrio, cessa o movimento de líquido e toxinas. Complicações Para reduzir o risco de peritonite, o cliente (e todos os cuidadores familiares) deve ter um cuidado meticuloso para evitar a contaminação do cateter, do líquido ou do equipo, e evitar desconectar, acidentalmente, o cateter do equipo. Sempre que for efetuada uma conexão ou desconexão, devese realizar a higiene das mãos, e toda pessoa que estiver a uma distância de 1,80 m da área deve colocar uma máscara, para evitar a contaminação por bactérias transportadas pelo ar. Devese evitar a manipulação excessiva, e devese, também, ter um cuidado meticuloso com o local de entrada do cateter, utilizando um protocolo padronizado. Diálise peritoneal cíclica contínua A DPCC utiliza uma máquina, denominada ciclador, para realizar as trocas. É programada para fornecer uma quantidade estabelecida de solução de DP, que irá permanecer na cavidade peritoneal por um período de tempo programado, antes de drenar da cavidade peritoneal por gravidade. O ciclador também é programado para realizar um número específico de trocas de líquido em determinado período de tempo. Como a DPCC é programada, ela também acompanha as quantidades totais removidas e aciona um alarme se os limites não forem cumpridos. Requer que uma pessoa monte e desmonte o sistema para uso, o que tipicamente leva cerca de 15 min. A DPCC combina a DP intermitente durante a noite com um tempo de permanência prolongado durante o dia. O cateter peritoneal é acoplado a um aparelho ciclador todas as noites, em geral logo antes de o cliente deitar durante a noite. Como a máquina é muito silenciosa, o cliente pode dormir, e o equipo extralongo permite ao cliente se movimentar e mudar de decúbito normalmente durante o sono. Pela manhã, o cliente é desconectado do ciclador. Algumas vezes, o dialisado permanece na cavidade abdominal por um ciclo de permanência diurno mais longo. Esta troca diurna é drenada durante o dia utilizando um equipo em “Y” ou por meio de reconexão ao ciclador. Esse processo é realizado todos os dias para obter os efeitos desejados da diálise. A DPCC apresenta uma taxa de infecção menor do que outras formas de DP, visto que existem menos oportunidades para a contaminação com as trocas de bolsas e desconexões do equipo (Kelman, 2012). Permite também ao cliente ficar livre das trocas durante o dia, possibilitando a realização de seu trabalho e das atividades de vida diária com mais liberdade. Manejo de enfermagem Atendimento às necessidades psicossociais Além das complicações da DP anteriormente descritas, os clientes que optam pela DP podem perceber uma alteração da imagem corporal, devido à presença do cateter abdominal, bolsa, equipo e ciclador. A circunferência da cintura aumenta de 2,5 a 5 cm (ou mais) com a presença do líquido no abdome. Isso afeta a escolha das roupas e pode fazer com que o cliente se sinta “gordo”. A imagem corporal pode estar tão alterada que os clientes podem não querer olhar ou cuidar do cateter durante vários dias ou semanas. A enfermeira pode providenciar um encontro do cliente com outros clientes que se adaptaram bem à DP. Embora alguns clientes não tenham problemas psicológicos com o cateter – eles o consideram como uma linha da vida e um dispositivo de sustentação da vida –, outros consideram que estão fazendo trocas o dia inteiro e que ficam sem tempo livre, particularmente no início. Podem sofrer depressão, visto que se sentem sobrecarregados com a responsabilidade do autocuidado. Os clientes que se submetem à DP também podem apresentar alteração dos padrões de sexualidade e disfunção sexual. O cliente e a parceira podem relutar em se engajar em atividades sexuais, em parte pelo fato de o cateter estar psicologicamente “no caminho” do desempenho sexual. O cateter peritoneal, a bolsa de drenagem e cerca de 2 ℓ de dialisado podem interferir na função sexual do cliente,bem como na sua imagem corporal. Nos clientes submetidos à DPCC, a presença do ciclador de diálise no quarto e a sua conexão contínua durante as horas de sono também podem interferir na intimidade. Embora esses problemas possam se resolver com o decorrer do tempo, alguns podem exigir aconselhamento especial. As perguntas da enfermeira sobre as preocupações relacionadas com a sexualidade e com a função sexual frequentemente proporcionam ao cliente uma oportunidade bemvinda para discutir essas questões, constituindo o primeiro passo para a sua resolução. Promoção dos cuidados domiciliar e comunitário Orientação do cliente sobre autocuidado Os clientes são orientados, como clientes internados ou ambulatoriais, a realizar a DP tão logo sua condição esteja clinicamente estável. As orientações, em geral, levam de 5 dias a 2 semanas. Os clientes são orientados de acordo com a sua própria capacidade de aprendizado e nível de conhecimento, e somente por um período de tempo, sem que se sintam desconfortáveis nem sobrecarregados. Os tópicos da orientação do cliente e da sua família que irão realizar a DP em casa estão descritos no Boxe 54.11. O uso de um currículo baseado na teoria de aprendizagem de adultos pode diminuir as taxas de peritonite e de infecção do local de saída. Devido à perda de proteína com a DP contínua, o cliente é orientado a consumir uma dieta nutritiva hiperproteica, e também é incentivado a aumentar o consumo diário de fibras, para ajudar a evitar a constipação intestinal, que pode impedir o fluxo do dialisado para dentro ou para fora da cavidade peritoneal. Muitos clientes ganham de 1,2 a 2 kg em 1 mês após o início da DP, de modo que podem ser solicitados a limitar o consumo de carboidratos, para evitar um ganho de peso excessivo. Em geral, não há necessidade de restrição de potássio, sódio e líquido. Os clientes perdem normalmente cerca de 2 a 3 ℓ de líquido acima do volume de dialisado infundido no abdome durante um período de 24 h, permitindo um aporte normal de líquidos, mesmo em um cliente anéfrico • • • • • • • • • • • • • • • • • • • (cliente sem rins). Boxe 54.11 LISTA DE VERIFICAÇÃO DO CUIDADO DOMICILIAR Diálise peritoneal, diálise peritoneal ambulatorial contínua ou diálise cíclica ambulatorial contínua Ao concluírem as orientações sobre os cuidados domiciliares, o cliente ou o cuidador familiar serão capazes de: CLIENTE CUIDADOR FAMILIAR Discutir as informações básicas sobre a função renal normal. ✓ ✓ Discutir as informações básicas sobre o processo patológico. ✓ ✓ Discutir os princípios básicos da diálise peritoneal. ✓ ✓ Demonstrar o cuidado com o cateter e com o local de saída. ✓ ✓ Demonstrar a medição dos sinais vitais e do peso. ✓ ✓ Discutir o monitoramento e o manejo do equilíbrio hídrico. ✓ ✓ Discutir os princípios básicos da técnica asséptica. ✓ ✓ Demonstrar o procedimento de troca da diálise peritoneal ambulatorial contínua (DPAC), utilizando uma técnica asséptica (os clientes submetidos à diálise peritoneal cíclica contínua [DPCC] também devem demonstrar o procedimento de troca em caso de falha ou falta de disponibilidade da máquina de ciclagem). ✓ ✓ Demonstrar o procedimento de montagem e manutenção do ciclador no caso da DPCC. ✓ ✓ Discutir as complicações da diálise peritoneal; prevenção, reconhecimento e manejo das complicações. ✓ ✓ Demonstrar o procedimento para adicionar medicamentos à solução de diálise. ✓ ✓ Demonstrar o procedimento para obter amostras de líquido de diálise estéreis. ✓ ✓ Discutir os exames laboratoriais de rotina necessários e as implicações dos resultados. ✓ ✓ Discutir as restrições nutricionais. ✓ ✓ Discutir os medicamentos: nome dos medicamentos, suas ações, seus efeitos colaterais potenciais e quando entrar em contato com o médico. ✓ ✓ Discutir a prescrição, o armazenamento e o inventário dos suprimentos de diálise. ✓ ✓ Descrever o plano para o cuidado de acompanhamento. ✓ ✓ Demonstrar a manutenção dos registros de diálise domiciliar. ✓ ✓ Descrever as ações em caso de emergência. ✓ ✓ Cuidados contínuos O cuidado de acompanhamento por meio de ligações telefônicas, visitas à clínica de diálise, ambulatório e cuidado domiciliar continuado ajuda os clientes na transição para o domicílio e promove a sua participação ativa no seu próprio cuidado de saúde. Com frequência, os clientes dependem de uma verificação feita pela enfermeira para confirmar se estão fazendo as escolhas corretas sobre o dialisado ou o controle da pressão arterial, ou apenas para discutir um problema. Os clientes podem ser observados pela equipe de DP como clientes ambulatoriais uma vez por mês ou com mais frequência, se necessário. O procedimento de troca é avaliado nessa ocasião para verificar se a técnica asséptica estrita está sendo utilizada. Os valores da bioquímica do sangue são rigorosamente acompanhados para certificarse de que a terapia seja adequada para o cliente. Se for feito um encaminhamento para cuidado domiciliar, a enfermeira de cuidados domiciliares examina o ambiente domiciliar e sugere modificações para acomodar o equipamento e as instalações necessárias para a realização da DP. Além disso, a enfermeira avalia a compreensão do cliente e da família em relação à DP, bem como ■ a técnica que eles utilizam na realização da DP. As avaliações incluem a verificação de alterações relacionadas com a doença renal; complicações, como peritonite; e problemas relacionados com o manejo, como insuficiência cardíaca, drenagem inadequada e ganho ou perda de peso. A enfermeira continua reforçando e esclarecendo as instruções sobre a DP e a DRT e avalia o progresso do cliente e da família na sua capacidade de lidar com o procedimento. Esse momento também é uma oportunidade para lembrar ao cliente a necessidade de participar em atividades apropriadas de promoção da saúde e triagem de saúde (p. ex., exames ginecológicos, colonoscopia). Considerações especiais: manejo de enfermagem para o cliente hospitalizado sob diálise O cliente, seja ele submetido à hemodiálise ou à DP, pode ser hospitalizado para o tratamento de complicações relacionadas com a diálise, o distúrbio renal subjacente ou problemas de saúde não relacionados com a disfunção renal ou o seu manejo. Proteção do acesso vascular Quando o cliente submetido à hemodiálise é hospitalizado por qualquer motivo, é preciso tomar cuidado para proteger o acesso vascular. A enfermeira avalia o acesso vascular quanto à sua permeabilidade e toma precauções para assegurar que o membro com acesso vascular não seja utilizado para medir a pressão arterial nem para obter amostras de sangue; devemse evitar também curativos apertados, contenções ou joias sobre o acesso vascular. O sopro ou “frêmito” sobre o local de acesso venoso deve ser avaliado pelo menos a cada turno. A ausência de frêmito palpável ou de sopro audível pode indicar bloqueio ou coagulação no acesso vascular. Pode ocorrer coagulação se o cliente tiver uma infecção em qualquer outra parte do corpo (aumento da viscosidade do soro), ou se houver queda da pressão arterial. Quando o fluxo sanguíneo é reduzido através do acesso por qualquer motivo (hipotensão, aplicação de torniquete ou do manguito de pressão arterial), o acesso pode coagular. Se o cliente tiver um cateter de hemodiálise ou um dispositivo de acesso para hemodiálise implantado, a enfermeira precisa observar quaisquer sinais e sintomas de infecção, como rubor, edema, drenagem do local de saída, febre e calafrios. A enfermeira precisa avaliar a integridade do curativo e trocálo, quando necessário. Os clientes com doença renal têm mais propensão à infecção; porconseguinte, devemse utilizar medidas apropriadas de controle da infecção para todos os procedimentos. O dispositivo de acesso vascular do cliente não deve ser usado para qualquer outra finalidade além da diálise, a não ser que surja uma situação de emergência e não haja nenhum outro acesso disponível. Neste caso, a enfermeira de diálise ou o médico devem canular o acesso vascular. Precauções a tomar durante a terapia intravenosa Quando o cliente necessita de terapia intravenosa, a velocidade de administração deve ser a mais lenta possível. Registros acurados do equilíbrio hídrico são essenciais. Alerta de enfermagem | Qualidade e segurança Como os clientes submetidos a diálise não podem excretar água, a administração rápida de solução intravenosa pode resultar em edema pulmonar. Monitoramento dos sintomas de uremia À medida que ocorre acúmulo de produtos finais do metabolismo, os sintomas da uremia se agravam. Os clientes com aceleração da taxa metabólica (aqueles que recebem medicamentos corticosteroides ou nutrição parenteral, aqueles com infecções ou distúrbios hemorrágicos e os submetidos à cirurgia) acumulam produtos de degradação mais rapidamente e podem necessitar de diálise diária. Esses mesmos clientes têm mais tendência a apresentar complicações do que outros clientes que recebem diálise. Detecção das complicações cardíacas e respiratórias É necessário conduzir frequentemente uma avaliação cardíaca e respiratória. À medida que ocorre acúmulo de líquido, verificase o desenvolvimento de sobrecarga hídrica, de insuficiência cardíaca e de edema pulmonar. Os estertores nas bases dos pulmões podem indicar edema pulmonar. A pericardite pode resultar do acúmulo de toxinas urêmicas. Se não for detectada e tratada imediatamente, essa complicação grave pode evoluir para o derrame pericárdico e para o tamponamento cardíaco. A pericardite é detectada pelo relato do cliente de dor torácica subesternal (quando o cliente pode se comunicar), febre baixa (que frequentemente passa despercebida) e atrito pericárdico. Com frequência, observase a presença de pulso paradoxal (diminuição da pressão arterial de mais de 10 mmHg durante a inspiração). Quando a pericardite progride para o derrame, o atrito desaparece, as bulhas cardíacas se tornam distantes e abafadas, as ondas do ECG revelam uma voltagem muito baixa, e o pulso paradoxal se agrava (Park, Lee, Kim et al., 2011). O derrame pode progredir para o tamponamento cardíaco potencialmente fatal, observado pelo estreitamento da pressão do pulso, além das bulhas cardíacas abafadas ou inaudíveis, dor torácica constritiva, dispneia e hipotensão. Alerta de enfermagem | Qualidade e segurança Embora a pericardite, o derrame pericárdico e o tamponamento cardíaco possam ser detectados por meio de radiogra䜀�a de tórax, eles também podem ser detectados mediante uma avaliação de enfermagem experiente. Em virtude de seu signi䜀�cado clínico, a avaliação do cliente quanto a essas complicações representa uma prioridade. Controle dos níveis de eletrólitos e da dieta As alterações eletrolíticas são comuns, e as alterações do potássio podem comportar risco de vida. Todas as soluções intravenosas e os medicamentos a serem administrados são examinados quanto ao conteúdo de eletrólitos. Os valores laboratoriais séricos são determinados diariamente. Se houver necessidade de transfusões sanguíneas, podem ser administradas durante a hemodiálise, se possível, de modo que o excesso de potássio possa ser removido. O aporte nutricional também deve ser monitorado. As frustrações do cliente relacionadas com as restrições alimentares aumentam tipicamente se a alimentação não for apetitosa. A enfermeira precisa reconhecer que este fato pode levar a uma imprudência nutricional e hiperpotassemia. A hipoalbuminemia constitui um indicador de desnutrição em clientes que se submetem a diálise a longo prazo ou de manutenção. Embora alguns clientes possam ser tratados apenas com nutrição adequada, outros permanecem hipoalbuminêmicos por motivos que ainda não estão bem elucidados. Manejo do desconforto e da dor É necessário tratar as complicações, como prurido e dor em consequência de neuropatia. Os agentes anti histamínicos, como o cloridrato de difenidramina, são comumente utilizados, e podem ser prescritos medicamentos analgésicos. Todavia, como a eliminação dos metabólitos dos medicamentos ocorre por meio da diálise e não pela excreção renal, pode ser necessário ajustar as doses dos medicamentos. Manter a pele limpa e bem umedecida com o uso de óleos após o banho, sabonete supersaponificado e cremes ou loções ajuda a promover o conforto e a reduzir o prurido. A instrução ao cliente para manter as unhas aparadas, a fim de evitar arranhaduras e escoriações, também promove o conforto. Monitoramento da pressão arterial A hipertensão na insuficiência renal é comum. Resulta, em geral, da sobrecarga hídrica e, em parte, da secreção excessiva de renina. Muitos clientes que se submetem à diálise recebem alguma forma de terapia antihipertensiva. Os clientes necessitam de instruções detalhadas e de reforço das informações sobre o esquema antihipertensivo, visto que não é raro que necessitem de mais de um agente antihipertensivo (Eskridge, 2010). As rápidas flutuações dos líquidos em clientes submetidos à diálise também criam um desafio para manter o controle da pressão arterial. Os agentes antihipertensivos devem ser suspensos antes da diálise para evitar a hipotensão, devido ao efeito combinado da remoção de líquido com a diálise e os medicamentos. Tipicamente, esses clientes necessitam de agentes antihipertensivos isolados ou múltiplos para alcançar uma pressão arterial normal, aumentando, assim, o número total de medicamentos necessários em uma base contínua. Prevenção da infecção Os clientes com DRT apresentam normalmente baixas contagens de leucócitos (e capacidade diminuída de fagocitose), baixas contagens de eritrócitos (anemia) e comprometimento da função plaquetária. Em conjunto, estas alterações geram um elevado risco de infecção e de potencial de sangramento, mesmo após traumatismo mínimo. A prevenção e o controle da infecção são essenciais, devido à incidência elevada de infecção. A infecção do local de acesso vascular e a pneumonia são comuns. Cuidado com o local do cateter Os clientes que se submetem a DPAC sabem, geralmente, como cuidar do local do cateter; entretanto, a permanência no hospital proporciona uma oportunidade para avaliar a técnica de cuidado do cateter e corrigir percepções errôneas ou desvios da técnica recomendada. O cuidado rotineiro do local do cateter, recomendado diariamente ou 3 ou 4 vezes/semana, é tipicamente realizado durante o banho de chuveiro ou de banheira. O local de saída não deve ser submerso na água do banho. O método de limpeza mais comum consiste em água e sabão; recomendase um sabão líquido. Durante o cuidado, a enfermeira e o cliente precisam se certificar de que o cateter permanece fixo, para evitar qualquer tensão e traumatismo. O cliente pode usar uma gaze ou curativo semitransparente sobre o local de saída. Administração dos medicamentos Todos os medicamentos e as doses prescritos para qualquer cliente submetido à diálise precisam ser rigorosamente monitorados para evitar os que são tóxicos para os rins e que podem ameaçar a função renal remanescente. Os medicamentos também são examinados quanto a seu conteúdo de potássio e de magnésio, e os que contêm tais substâncias devem ser evitados. Devese tomar cuidado para avaliar todos os problemas e sintomas relatados pelo cliente, sem atribuílos automaticamente
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