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Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO PROBLEMA 3 – ABERTURA: AVALIAÇÃO CLÍNICA E EXAMES COMPLEMENTARES EM ARTRALGIAS: A coleta de dados durante a anamnese é de grande importância para a consolidação de hipóteses diagnósticas, visto que diversas doenças apresentam perfis epidemiológicos específicos. Assim, destacam-se como fatores a serem investigados: Sexo: o lúpus eritematoso sistêmico, a osteoporose e a esclerodermia são mais prevalentes no sexo feminino, ao passo que a gota e a poliartrite nodosa acometem principalmente homens; Idade: crianças e adolescentes são mais afetados pela febre reumática e osteomielite, ao passo que a incidência de gota, artrose e osteoporose é mais evidente em pessoas > 45 anos; Ocupação: atividades que envolvam o levantamento de altas cargas aumentam o risco individual de desenvolvimento de lombalgias, ao passo que esportistas são mais susceptíveis a desordens articulares decorrentes do desgaste cartilaginoso, por exemplo; História da doença atual: a estratificação da cronologia (distúrbios agudos x crônicos), do modo de início e dos sintomas associados da artralgia pode auxiliar na exclusão de diagnósticos diferenciais. De modo geral, as dores em articulações podem ser tanto agudas (artrite séptica, gota ou bursite), quanto crônicas (artrose ou artrite reumatoide). Na investigação sintomatológica da artralgia, a avaliação deve ser mediada pelo decágono da dor (localização, irradiação, intensidade, duração, evolução, relação com funções orgânicas, fatores desencadeantes, fatores de melhora e sintomas associados). Uma pergunta bastante relevante é a correlação entre movimentação ativa/passiva e o surgimento de dor, podendo denotar inflamações em componentes articulares. O caráter da dor distingue-se principalmente em duas manifestações, em peso, típica da artrose, ou excruciante, evidente na gota e em quadros de artrite séptica. Outro sintoma de bastante destaque em distúrbios articulares é a rigidez matinal, bastante comum em inflamações, que causam acúmulo excessivo de líquido sinovial na cavidade da articulação acometida. Na presença desse achado, sua duração pode ajudar a decifrar o caráter da doença, sendo maior com o aumento da intensidade desta. Ao exame físico geral, a inspeção e a palpação de processos articulares pode levar à detecção de processos inflamatórios (aumento de temperatura local) ou degenerativos (crepitações articulares), porém não são apenas essas regiões que devem ser avaliadas. Na inspeção de pele e fâneros, por exemplo, podem ser identificadas a presença do fenômeno de Raynaud e de lesões eritematoescamosas, ambas bastante associadas ao lúpus. A detecção de nódulos justarticulares apresenta elevada relevância diagnóstica, uma vez que, quando essas estruturas são encontradas, únicas ou múltiplas, geralmente indolores e situadas na região posterior dos cotovelos, o quadro é quase certamente reumatológico (artrite reumatoide ou febre reumática, por exemplo). Outro importante achado do exame físico são os depósitos da gota úrica, formados Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO pelo acúmulo de uratos na região articular, causando dor. De modo geral, os principais aspectos avaliados no exame físico articular são: Formato e volume das juntas; Posição das estruturas osteocartilaginosas; Presença de atrofia muscular periarticular; Presença de sinais inflamatórios; Alterações ósseas adjacentes; Crepitos articulares (indicadores de degeneração); Capacidade de movimentação articular (avalia a dor e o comprometimento funcional resultante a parir da rotação, flexão/extensão e adução/abdução); Exemplos de movimentos articulares investigados em queixas de artralgia nas extremidades distais dos membros superiores (punho, polegar e articulações falangeanas) De forma a confirmar a hipótese diagnóstica criada ao longo do exame clínico, alguns exames complementares podem ser solicitados. As modalidades mais requisitadas são: Exames laboratoriais: são usados principalmente para detectar distúrbios de caráter inflamatório. o Provas de atividade inflamatória: englobam exames capazes de detectar alterações sérica gerais frente à ocorrência de inflamação, não apresentando utilidade de forma isolada. Destacam-se: Hemossedimentação: mais utilizada, detecta aumento na velocidade de dissociação entre elementos figurados do sangue (típico de inflamação), sendo valorizada no acompanhamento terapêutico do paciente; Mucoproteínas séricas: detecção de agentes carreadores α-2, típicos de reações inflamatórias); Proteína C reativa: sua elevação é evidente frente à inflamação ou a processos necróticos; Eletroforese de proteínas: identifica a hipoalbulinemia dependente de inflamação; Concentração de proteínas do sistema complemento: pode estar reduzida em doenças autoimunes. o Provas “específicas” de atividade inflamatória: possuem considerável caráter diagnóstico quando associadas a dados do exame clinico, ainda que possam evidenciar resultados positivos para mais de uma doença. Seus principais representantes são: Anticorpos antiestreptocócicos; Fatores reumatoides: correspondem a autoanticorpos do tipo IgM que atacam porções da IgG, apresentando grande relevância para o diagnóstico de artrite reumatoide, dentre outras possíveis etiologias; Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO Etiologias associadas à presença de fator reumatoide no soro Anticorpos antinucleares (FAN): são autoanticorpos para DNA-histona presentes na maioria dos pacientes com lúpus eritematoso sistêmico e outras doenças que acometem de forma difusa o tecido conjuntivo. A detecção dessa primeira manifestação é mais sugestiva com a presença de vários padrões de FAN; Ácido úrico: corresponde ao último produto do metabolismo das purinas, com excreção predominantemente renal. O aumento de sua concentração sérica ou urinária pode estar associado à diminuição na depuração renal ou à estimulação de sua produção, decorrente de distúrbios enzimáticos. É um bom indicativo para ocorrência de gota. Principais distúrbios associados à hiperuricemia, ou seja, excesso sérico de ácido úrico o Sistema HLA: são moléculas de reconhecimento antigênico leucocitário que permitem que o organismo diferencie células próprias daquelas externas. Algumas combinações entre os possíveis locus gênicos para essas estruturas são mais associadas a quadros autoimunes, como a HLA- B27, encontrada em vários pacientes com espondilite anquilosante. Principais associações entre doenças articulares e padrões gênicos do HLA o Hemograma: não possui valor direto para laudar a ocorrência de um distúrbio, porém auxilia a determinar os impactos sistêmicos da doença de base, podendo reforçar ou até mesmo esclarecer um diagnóstico prévio. Diversas alterações no eritro e leucograma são observadas em disfunções reumatoides; o Coagulograma: é importante principalmente frente a suspeita de lúpus eritematoso sistêmico, uma vez que portadores da doença podem apresentar anticorpos antifator VIII, causando importantes alterações nos resultados esperados. O anticorpo lúpico também pode ser identificado, desta vez por meio do aumento do tempo de protrombina ou por reações cruzadas falso-positivas para sífilis ou anticardiolipina. o Dosagens enzimáticas: úteis em doenças reumáticas, podem Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO evidenciar degeneração muscular causada por inflamação (utiliza como marcador a CPK), ou a evolução sistêmica de doenças hepáticas (elevação da aspartato- aminotransferase, AST); oDosagem de fosfatase alcalina, cálcio e fósforo: alterações na dosagem sérica ou na concentração desses compostos na urina podem indicar disfunções ósseas, capazes de se manifestar por meio de artralgia isolada ou difusa; o Análise do líquido sinovial: a punção desse líquido pode servir tanto para a detecção de infecções localizadas ou hemorragias, como também para o alívio da pressão na cavidade sinovial. Achados laboratoriais e possíveis interpretações do sinoviograma Exames de imagem: o Exames radiológicos: a interpretação desses tipos de exames, representados primariamente pela radiografia e pela tomografia computadorizada, deve ter como parâmetros as superfícies ósseas e as partes moles, estejam elas entre os processos ósseos ou circundantes à articulação. No raio X, é necessário buscar por desgastes no osso, como escleroses ou rarefações, e por assimetrias, instabilidades ou corpos estranhos no segmento articular. As artropatias podem ser inflamatórias, com presença de estreitamento do espaço articular e erosões na epífise óssea; degenerativas, associadas ao estreitamento irregular da faixa de articulação, consolidação de osteófitos e a ossificação de cartilagens; ou metabólica, com manutenção do espaço articular, presença de erosões de margem óssea e acúmulo de massas de tecidos moles. Comparação entre uma radiografia normal da mão (esq.) e uma imagem de paciente com artrite reumatoide, evidenciando osteoporose (1 e 2), desgastes de margem óssea (3) e estreitamento da fenda articular (5) Na tomografia, por sua vez, é possível avaliar de forma precisa a atenuação tecidual, possibilitando uma melhor diferenciação entre tecidos saudáveis e doentes, sem que haja exposição à radiação e de forma pouco invasiva, o que torna esse exame uma das principais ferramentas diagnósticas em distúrbios osteoarticulares. o Ressonância magnética: favorece a detecção de alterações que impactem morfologicamente sobre a cartilagem, com visibilidade superior à da radiografia; Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO Comparação entre a visualização de um derrame articular em uma radiografia (seta branca em A), numa ressonância magnética com contraste (B e C), que detectaram também espessamento da sinóvia o Ultrassonografia: promove a distinção clara entre processos inflamatórios e rupturas teciduais, além de detectar a presença de derrames locais ou de corpos estranhos, tudo isso de forma inócua, com boa qualidade de imagem e baixo custo de realização. Graças a essas características, é um mecanismo bastante utilizado na orientação de procedimentos intervencionistas. o Artroscopia e exame histopatológico: são métodos de avaliação destinados para casos sem diagnóstico após exploração de estratégias menos invasivas, baseiam-se na coleta de material sinovial do joelho para análise, de forma a detectar possíveis lesões.
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