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Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO PROBLEMA 3 – ABERTURA: OSTEOARTRITE: A osteoartrite é um síndrome degenerativa osteoarticular de ocorrência praticamente universal com o envelhecimento, decorrente de um mecanismo catabólico acelerado, com capacidade de sobrepor a elevada atividade metabólica de condrócitos. Os sítios mais afetados são as articulações de mãos, joelhos (maior número de estudos conduzidos), quadril e vértebras. Fatores de risco para o desenvolvimento de osteoartrite Em relação à prevalência, essa doença pode surgir ainda na fase adulta, porém os sintomas se intensificam com o aumento da idade, acometendo 10% da população com mais de 60 anos. Na análise por sexo, o acometimento em mulheres predomina após os 50 anos, com alterações nas mãos e joelhos, a passo que homens apresentam maior tendência em desenvolver o quadro nos quadris (o progresso ainda assim é mais rápido entre indivíduos do sexo feminino). PATOGÊNESE: A cartilagem articular é formada por uma associação de fluido intersticial, elementos celulares (condroblastos e condrócitos) e moléculas da matriz extracelular, com uma porcentagem inicial de água que chega a representar 70% do volume estrutural total, aumentando com o avanço da osteoartrite. Os condrócitos sintetizam as moléculas que compõem a matriz cartilaginosa, como o colágeno em suas múltiplas apresentações (destacando-se o de tipo II, específico e abundante nesse meio), a elastina, a fibronectina e os complexos polissacarídeos, sendo os mais importantes os proteoglicanos, como o ácido hialurônico. Essa composição garante à cartilagem a elasticidade e a reversão de deformidades, favorecendo o processo adequado de amortecimento dos movimentos ósseos. Organização celular da cartilagem saudável A osteoartrite é decorrente de falhas na cartilagem que circunda as articulações, podendo ser causadas por aspectos genéticos, metabólicos, biomecânicos ou bioquímicos. O processo de patogênese envolve a degeneração e o reparo das já mencionadas cartilagens, bem como dos ossos e da sinóvia. Como mencionado anteriormente, os condrócitos são fundamentais para o equilíbrio entre a produção e a degradação da matriz cartilaginosa, sintetizando componentes da matriz extracelular, mas também atuando na produção de enzimas proteolíticas, as metaloproteinases (MMP). Além disso, essas células são responsáveis por incitar a ação de interleucinas, fatores pró- Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO inflamatórios (IL-1β e TNF-α), e fatores de crescimento (TGF-β). Em situações normais, a velocidade de formação da MEC é igual à de destruição, mantendo assim um equilíbrio. No entanto, alguns gatilhos podem estimular a maior expressão de citocinas inflamatórias, rompendo esse balanço. Com o predomínio do catabolismo cartilaginoso surge a osteoartrite. A perda local de proteoglicanos e de colágeno tipo II se dá inicialmente na superfície da cartilagem, aumentando o conteúdo de água na região e reduzindo a força de tensão e a coesão estrutural da matriz. No líquido sinovial, os novos elementos produzidos sintetizados têm resistência inferiores aos originais, o que os torna mais susceptíveis a quadros lesivos. A ação desses fatores de inflamação causa degradação da cartilagem mediada pela liberação de enzimas proteolíticas (proteinases neutras, catepsina e metaloproteinases), responsáveis por enfraquecer a estruturação articular. A velocidade na qual esse processo de destruição ocorre é maior em compostos osteoartríticos do que na cartilagem normal. Alterações primárias articulares em um paciente com osteoartrite, evidenciando mecanismos de compensação Com a perda da força de tensão e a menor capacidade de suportar peso, o osso subcondral (abaixo da articulação) será submetido a mais carga, bem como os condrócitos presentes na região, que irão, em retaliação, produzir ainda mais enzimas degradadoras. Em resposta a todo esse mecanismo, o osso começará a sofrer microfraturas que irão enrijecer a estrutura, tornando-a menos responsiva à compressão. Alguns produtos resultantes da quebra da cartilagem podem estimular a resposta inflamatória, perpetuando o ciclo destrutivo. Comparação entre um processo articular saudável e um afetado pela osteoartrite O conjunto resultante desses processos de degeneração, auxiliado pelo intenso estresse químico local, favorece o surgimento de osteófitos, pequenas projeções ósseas que invadem a cavidade articular, aumentando ainda mais a pressão local, potencializando as mecânicas de erosão e desgaste. Representação da constituição da cartilagem em estados avançados de osteoartrite, com depleção de fatores proliferativos Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO Os casos de osteoartrite primária são resultado do envelhecimento natural dos tecidos da articulação, ao passo que manifestação secundária pode ser causada por diversos quadros de base, como traumatismo, doenças congênitas, depósito de cristais de cálcio, artrite reumatoide, gota, diabetes melitus e hipotireoidismo, por exemplo. Nessas últimas situações, a manifestação clínica pode ser atípica, com articulações pouco atingidas sendo afetadas. Descrição do processo patogênico da osteoartrite QUADRO CLÍNICO: A osteoartrite surge de forma lenta, gradual e progressiva, instalando-se o longo do tempo. O sintoma inicial mais comum é rigidez articular que se estende por menos de 30 min após acordar ou depois de momentos de repouso prolongado. Com a evolução da doença, podem ser observadas queixas de dor articular, que normalmente piora com o movimento e é aliviada pelo repouso do membro. A intensidade da artralgia é inicialmente baixa, com episódios inconstantes, progredindo para manifestações contínuas e difusas. O exame físico de uma articulação afetada, mas ainda em fase inicial oscila entre a normalidade e a presença de crepitações ao mover a região. Proeminências ósseas geralmente surgem mais tardiamente. Com a evolução da doença, podem surgir também deformidades incapacitantes, como anquilose. Se o quadro acomete mais de uma região, trata-se de osteoartrite generalizada. Além dessas manifestações iniciais, cada sítio pode apresentar sinais e sintomas próprios, a saber: Mãos: a dificuldade de movimento é uma queixa comum. São característicos os nódulos de Heberden e Bouchard, que afetam os dedos, porém o desgaste pode se estender até as falanges metacarpofalangianas; Representação dos nódulos digitais de Herberden e Bouchard Pés: o hálux pode sofrer deformidades, decorrentes do acometimento da primeira articulação metatarsofalangiana. Observa-se, além de dor, alterações na marcha e aumento no risco de quedas; Joelhos: a limitação de movimentos, o derrame articular e as crepitações são comuns. Em casos mais graves, podem apresentar-se como varismo e valguismo. Há aumento da dor ao se colocar de pé e ao subir escadas; Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO Comparação entre as posições de verismo e valguismo decorrentes de osteoartrite no joelho Quadril: a dor pode ser localizada ou atribuída a regiões próximas, como região lombossacra da coluna ou glúteo máximo, podendo ser irradiada para a musculatura da coxa e dos joelhos. Em casos graves, a deformidade pode causar alterações na marcha; Coluna: as áreas mais flexíveis são as mais afetadas, como C5, T8 e L3. A espondilose surge quando os prolongamentos ósseos decorrentes da estimulação do crescimento local causam compressão do canal medular. A dor pode ser aliviada com a posição sentada e a coluna fletida; Esse desgaste pode causar espondilolistese casoas vértebras comecem a deslizar sobre si mesmas. Ombros: a articulação acromioclavicular é acometida, geralmente com dor na região anterior, que piora com a realização de movimentos repetitivos; Articulação temporomandibular: há a presença de crepitações audíveis e palpáveis com a mastigação, o que pode provocar redução do interesse em se alimentar e o surgimento de sintomas constitutivos, como anorexia. Se o quadro de osteoartrite for associado a dor parietotemporal, zumbido e hemianopsia do lado acometido, há a ocorrência de Síndrome de Costen. DIAGNÓSTICO: O diagnóstico da osteoartrite baseia-se em aspectos clínicos, com a construção de uma anamnese sólida, junto a um exame físico de qualidade, e em achados radiológicos. Dentre os diagnósticos diferenciais encontram-se bursite, artrite reumatoide e osteonecrose. Não existem, no entanto, sinais patognomônicos ou laboratoriais para essa condição (presença de marcadores inflamatórios normais). Dentre os sinais radiológicos claros para a osteoartrite estão o estreitamento do espaço articular, a formação de cistos subcondrais, a esclerose subcondral e os osteófitos, caracterizando um quadro hipertrófico. Também pode ocorrer apenas a diminuição do segmento articular, sem outras alterações, demarcando a osteoartrite atrófica. Achados radiológicos comuns em quadros de osteoartrite Manifestações mais graves podem provocar subluxações, deformidades e corpos livres no espaço interarticular. A realização de tomografia computadorizada ou ressonância magnética é recomendada para pacientes com sintomatologia sugestiva de acometimento nervoso, com compressão da raiz dos nervos ou estenose do canal medular. Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO No que se refere aos exames laboratoriais, são solicitadas dosagens de marcadores comuns em quadros reumáticos com apresentação clínica semelhante, que apresentariam resultados negativos em pacientes com osteoartrite. A artrocentese pode ser realizada para investigar a presença de leucocitose no infiltrado sinovial, que deve ser também negativa, com valores < 2.000/mm³. TRATAMENTO: O manejo da osteoartrite deve ser iniciado por meio da implementação de medidas não farmacológicas direcionadas para a prática de exercícios físicos (adaptada para o grau de comprometimento articular) e o uso de órteses. As estratégias farmacológicas, por sua vez, contam com a prescrição de AINES (menor dose possível), em pacientes com manifestações leves a moderadas, de forma a controlar a inflamação, de antidepressivos para aqueles com contraindicações para a classe citada. Analgésicos tópicos podem ser receitados frente a falhas terapêuticas. Em quadros mais graves ou em situações de ineficácia dos tratamentos farmacológicos, é recomendada a execução de pedidas intervencionistas, como: Lavagem articular (remoção de detritos da cápsula com soro); Artroscopia (raspagem de fragmentos da cartilagem); Artroplastia (retirada cirúrgica da articulação comprometida, substituída por uma prótese). o É indicada apenas para pacientes refratários aos demais tratamentos e com incapacidade funcional elevada. Comparação entre articulação do joelho afetada por quadro grave de osteoartrite e o resultado da artroplastia
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