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C) CULTURAS INDUSTRIAIS AUTORES BRUNO FERNANDO FARIA PEREIRA DÉBORA CLIVATI Cultulra industriais 103 IntroduçãoIntrodução Este caderno traz informações que seguramente contribuirão para o aprendizado teórico e prático do aluno de Licenciatura em Ciências Agrárias; trataremos nele de culturas industriais. O termo culturas industriais define as plantas ou culturas que produzem algum tipo de bem ou serviço. A energia, por exemplo, pode ser gerada através do biocombustível obtido a partir de diversas plantas como a cana-de- açúcar, mamona, soja e outras. Vejamos outros exemplos: os estimulantes (como a cafeína) podem ser obtidos através dos frutos do café; a borracha pode ser obtida extraíndo-se o látex da seringueira; o açúcar e álcool podem ser oriundos da cana-de-açúcar. Sendo mais específico, neste caderno estudaremos as seguintes culturas industriais: mandioca, batata- doce, guaraná, seringueira, cana-de-açúcar e o café. Estas culturas, principalmente as quatro primeiras, fazem parte da história e cultura da região norte do Brasil, e até hoje são fundamentais para a subsistência de grande parte da população e para o desenvolvimento econômico desta região. O sucesso na produção das culturas industriais, ou de qualquer outra cultura agronômica, depende do uso correto de diversas técnicas; em sendo assim as mostraremos o uso delas, considerando desde o momento do cultivo, a colheita até o processamento das culturas industriais. De forma geral, aprenderemos os aspectos básicos sobre: i) importância econômica destas culturas; ii) aspectos sociais relacionados a estas culturas; iii) botânica; iv) exigências edáficas e climáticas; v) produção de mudas; vi) condução de mudas nos viveiros; vii) adubação e calagem; viii) da implantação das culturas; ix) tratos culturais; x) colheita; xi) beneficiamento; e xii) comercialização. É importante ressaltar que essas técnicas/operações, que serão estudadas neste caderno, podem variar conforme a região e serem alteradas de acordo com os recursos ou condições disponíveis no local onde se encontra a cultura. Elas também estão em constante aperfeiçoamento através de novas pesquisas e/ou experiência prática dos agricultores. Palavras do professor autor Você está cursando as últimas disciplinas do curso em Licenciatura em Ciências Agrárias. Se você chegou até aqui é porque provavelmente já possui grande parte do conhecimento básico para entender com facilidade o conteúdo que estudaremos nesta unidade. Palavras do professor autor Culturas industriais 104 Garanto a você que os conhecimentos transmitidos nesta disciplina, mesmo que de forma muito simplificada, terão muita valia em sua formação acadêmica. E, além disto, caso se dedique com esforço, a disciplina pode ser um diferencial em sua vida e das pessoas que o cercam. É com sentimento de esperança que desejo que aproveitem essa oportunidade para investirem mais algumas horas de estudos em seu crescimento pessoal e profissional. Bons estudos. Bruno Fernando Faria Pereira Débora Clivati Orientações para estudo Como você já está quase concluindo o curso de Licenciatura em Ciências Agrárias deduzimos que já adquiriram rotina e habilidade com os estudos no ensino à distância. Entretanto, mesmo assim, aqui vão algumas dicas: 1 - Motive-se. Principalmente nos momentos de dificuldades, lembre-se dos motivos pelos quais você decidiu cursar Licenciatura em Ciências Agrárias; 2 - Organize seu tempo conforme o calendário proposto neste módulo e siga rigorosamente as datas determinadas; 3 - Estabeleça um horário diário para iniciar e finalizar os estudos; 4 - Leia cuidadosamente o caderno antes da realização dos fóruns e demais atividades; 5 - Tire suas dúvidas com o tutor presencial, à distância ou professor; 6 - Estabeleça o seu período de lazer. Ementa Estudo da importância econômica, aspectos sociais de cada cultura, botânica, exigências climáticas e edaficas, ecológicas e fisiológicas, tratos culturais, colheita, beneficiamento, comercialização e alternativas das culturas da mandioca, bata-doce, guaraná, cana-de-açúcar, seringueira e cafeeiro. Orientação para estudo Ementa 105 Unidade 1 Mandioca Culturas industriais Objetivos de ensino-aprendizagem 1. Demonstrar, através de atividades, conhecimento dos termos técnicos envolvidos com algumas culturas industriais; 2. Discutir com os seus colegas as técnicas de cultivo mostradas neste caderno; 3. Identificar as semelhanças e particularidades das técnicas de cultivos de algumas culturas industriais. 4. Demonstrar, através de atividades, a noção das quantidades de insumos necessárias para a implantação de determinadas culturas; 5. Realizar atividades agrícolas para demonstrar conhecimento das principais etapas de cultivo das culturas industriais. Unidade1 Mandioca Síntese: Nesta unidade estudaremos a importância econômica, os aspectos sociais, a botânica, as exigências climáticas e edaficas, os tratos culturais, a colheita, o beneficiamento e a comercialização da mandioca. Importância econômica A mandioca é produzida em larga escala nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento das regiões tropicais, sendo que os maiores produtores de mandioca no ano de 2009 foram: Nigéria, Tailândia e Indonésia. O Brasil foi o 7o maior produtor mundial daquele ano (FAOSTAT, 2009). A mandioca é o 5o produto entre as culturas temporárias mais cultivadas no Brasil. Em 2009, os maiores produtores brasileiros foram os estados do Pará, Paraná e Bahia. O estado do Amazonas ficou em 6o lugar, produzindo quase 996 mil toneladas naquele ano (FAOSTAT, 2009;IBGE, 2009). Alguns estudos mostram que há uma perspectiva de crescimento de consumo da mandioca. Isto ocorre devido às mudanças de mercado (HENRI et al., 2004). Algumas são as razões que levam os estudiosos a esse ponto de vista. Continuando com Henri et al. (2004), eles creditam ao tempo que se despende em tarefas domésticas, mas podemos considerar também existirem outros fatores, como a tecnologia, o que pode elevar a procura por produtos mais práticos, como a mandioca pré-cozida e congelada e farofas prontas. Além disso, a fécula poderia reduzir as importações, substituindo a farinha de trigo em produtos como biscoitos, bolos, massas e misturas prontas para pães. Também se pode substituir a brn Highlight brn Highlight 106 Culturas industriais Unidade 1 Mandioca farinha de trigo nas colas das indústrias de móveis. Em alguns países da Europa essa substituição é feita com rações animais, quando o preço está favorável (EMBRAPA, 2006). Atualmente, está sendo pesquisada a viabilidade de se utilizar o amido da mandioca como matéria-prima de etanol, especialmente no Amazonas onde esse combustível tem alto custo devido ao transporte desde a região sudeste; além disso, o amido também tem sido estudado como matéria-prima de bioplásticos que, além de biodegradar em 45 dias, podem ser mais baratos que o plástico derivado do petróle (CEREDA, 2003; VALLE et al. 2009). Aspectos sociais da cultura A mandioca é originária da América do Sul, provavelmente do Brasil Central. Essa cultura já era fonte de alimento para os indígenas desde antes da descoberta do Brasil. Mas o cultivo da mandioca foi difundido pelos colonizadores portugueses e espanhóis, e, atualmente, está presente em todos os estados brasileiros (EMBRAPA, 2009). A mandioca é amplamente cultivada nas propriedades rurais de produção familiar devido à possibilidade de diferentes usos dessa cultura. Ela é produzida tanto para subsistência quanto para comercialização. Antigamente, a atividade de beneficiamento da mandioca era feita por membros de uma mesma família, mas com a mecanização dos processos essa maneira de beneficiá-la (interação familiar) mudou. Atualmente há uma divisão das tarefas, nas quais os homens são responsáveis pelas operações dos equipamentos, as mulheres pela ação de descascá-la e torná-la preparada para a obtenção dossubprodutos, como o tucupi, o carimã, a tapioca, a farinha entre outros. Botânica A mandioca também é conhecida no Brasil por outros nomes populares, como macaxeira e aipim e seu nome científico é Manihot esculenta Crantz (Euphorbiaceae). Essa família é conhecida pela produção de látex (a matéria prima da borracha). O gênero Manihot tem 98 espécies que ocorrem desde o estado do Arizona, nos Estados Unidos, até a Argentina. Das 98 espécies, 80 ocorrem no Brasil. Manihot esculenta é a espécie mais cultivada para consumo humano, da qual se come a raiz e seus derivados (farinha e fécula). Algumas espécies são cultivadas para outros fins, como a maniçoba. Maniçoba é o nome popular dado às espécies Manihot dichotoma, M. caerulescens e M. glaziovii e foi utilizada por muito tempo no nordeste brasileiro como fonte alternativa de látex, pela sangria da raiz. As folhas de Manihot glaziovii ainda são utilizadas como forragem brn Highlight brn Highlight 107 Unidade 1 Mandioca Culturas industriais para gado, depois de destoxificadas, e as sementes de M. dichotoma são consumidas por pessoas de baixa renda e usadas pra alimentar porcos e galinhas. As maniçobas também são usadas na construção de cercas (CHACÓN et al., 2008; EMBRAPA, 2006). Muitas espécies são tóxicas, pois contém até 5 glicosídeos cianogênicos, que depois de hidrolisados, liberam ácido cianídrico. Este é um dos vários componentes responsáveis pela toxicidade da mandioca. Quando ingerido, o ácido cianídrico pode causar diversos problemas de saúde, podendo levar até a morte (SILVA et al., 2004). Por isso, deve-se prestar muita atenção quando estiver identificando uma espécie. Como algumas características da mandioca são muito semelhantes, podem-se confundir as espécies tóxicas com as comestíveis. Deve-se então utilizar principalmente as características dos frutos e das flores para identificar as espécies de mandioca. Atualmente existem mais de 4 mil variedades de mandioca catalogadas no Brasil (EMBRAPA, 2011) e por isso é preciso conhecer muito bem as características de Manihot esculenta e as de suas variedades para identificá-las corretamente. As folhas da mandioca são decíduas, ou seja, duram de um a dois meses e depois caem. O pecíolo varia bastante de comprimento e sua posição em relação à haste pode ser inclinada para cima, horizontal ou inclinada para baixo; a cor do pecíolo pode ser verde-amarelada, verde ou roxa. O limbo foliar é palmado, com 3 a 11 lobos. A cor das nervuras das folhas pode ser verde, amarela ou vermelha. As folhas porem ser concolores ou discolores (EMBRAPA, 2006). A mandioca começa a florescer aos 6 meses de idade. As flores são agrupadas em uma inflorescência terminal que mede de 5 a 15 cm de comprimento e são dioicas. As flores femininas encontram-se na base da inflorescência e as masculinas na porção apical. O número de flores masculinas é quase 10 vezes maior que o de flores femininas. Então, em uma mesma inflorescência há em torno de 6 flores femininas e 50 masculinas. Ambas as flores são monoclamídeas, com 5 tépalas (EMBRAPA, 2006; GRANER, 1942). A flor masculina tem pedicelo curto e reto. Sua cor varia de verde a amarelado. As tépalas são imbricadas e às vezes apresentam franjas nas margens. Na parte interna da flor masculina há um disco com 10 dentes, dos quais partem 10 estames de 2 ciclos. Os estames internos são curtos e alternados com as tépalas, enquanto os externos são longos. As anteras são abertas por duas fendas, voltadas para o eixo da flor. O pólen é produzido em grande quantidade, é amarelo, esférico e apresenta muitos poros (EMBRAPA, 2006; GRANER, 1942). 108 Culturas industriais Unidade 1 Mandioca A flor feminina apresenta o pedicelo curvo e longo, é voltada para cima, mas depois de fecundada torna-se pêndula. As flores femininas são maiores que as masculinas e suas tépalas são separadas até a base. As tépalas são verde-amareladas com margem purpúrea, lisas ou com franjas curta. Os frutos são do tipo esquizocarpo, com carpóforos persistentes depois da deiscência do fruto (EMBRAPA, 2006; GRANER, 1942). As plantas produzidas por estacas apresentam de 1 a 10 raízes tuberosas. Elas apresentam uma fina camada de súber, que se destaca com facilidade da raiz. Debaixo do súber está o córtex, muito reduzido e de cores variáveis conforme a variedade. A parte comestível da raiz é formada pelo xilema e também podem ter diversas cores, as mais comuns sendo creme, amarelo e rosa. Exigências climáticas e edáficas A exigência climática de uma espécie diz respeito à faixa de valores ideais de variáveis como temperatura relativa do ar, precipitação, umidade, insolação e outros, para que determinada espécie vegetal possa se desenvolver plenamente e expressar sua máxima capacidade produtiva. Já a exigência edáfica refere-se às propriedades ideais do solo para que determinada cultura possa expressar o seu máximo desenvolvimento e consequentemente produtividade. A cultura da mandioca é pouco restritiva quanto às condições climátias e edáficas. Devido a esta rusticidez da cultura o seu cultivo pode ser estabelecido em condições adversas de clima e solo, onde geralmente, as outras culturas não se adaptam. De forma geral esta cultura é adaptada em quase todo o território nacional. O cultivo da mandioca pode ocorrer mesmo em solos ácidos, pobres em nutrientes, com deficiência hídrica, alagados, ou pouco profundos. Conforme estes autores, 89% das raízes da mandioca encontram- se até a profundidade de 1 m de profundidade. Sendo assim, solo com profundidade entre 1 e 2 m ou mais de 2 metros de profundidade, são adequados para o cultivo da mandioca. Solos de textura média ou arenosos são mais adequados à cultura. Solos com esta textura facilitam a aeração das raízes e facilitam o preparo do solo para o plantio e a colheita. Além disto, estes solos proporcionam maior drenagem da água no perfil do solo evitando o apodrecimento das raízes. Quanto aos nutrientes, a quantidade extraída pelas raízes da mandioca obedece a seguinte ordem: K > N > Ca > P > Mg (SOUZA; SOUZA; GOMES, 2006). A possível degradação do solo ocasionada por esta cultura também deve ser considerada. O cultivo da mandioca proporciona grandes perdas de solo por erosão devido aos seguintes fatores: i) crescimento brn Highlight brn Highlight 109 Unidade 1 Mandioca Culturas industriais lento inicial da cultura; ii) espaçamento entre as plantas; iii) necessidade de capina nos primeiros estádios da cultura; iv) movimentação do solo durante o plantio e colheita. Sendo assim, para se minimizar os problemas com erosão no cultivo da mandioca, é fundamental o uso de práticas conservacionistas como o plantio em nível, cobertura morta sobre o solo, consorciação e rotação de culturas que auxiliam na redução de problemas com a erosão no cultivo da mandioca. Esta cultura é sensível a solos salinos e a condutividade elétrica do solo não pode ultrapassar 4 dS m-1. A adição de matéria orgânica no solo (esterco, torta de mamona, adubo verde, etc), bem como a calagem e adubação em solos de baixa fertilidade possuem influência positiva na produção de mandioca (MATTOS; CARDOSO, 2003). Conforme estes autores, o pH do solo para esta cultura é de 6,5. Neste valor de pH do solo ocorre a maximização da disponibilidade de macro e micronutrientes às plantas (SOUZA; SOUZA; GOMES, 2006). Implantação da cultura Para a implantação da cultura, inicialmente deve-se realizar a amostragem do solo para a análise química que será utilizada para a recomendação da calagem e consequentemente correção da acidez do solo e para a adubação da cultura. Mattos e Cardoso (2003) recomendam que a necessidade de calagem (NC) deve ser estimada conforme a fórmula abaixo: NC (t/ha) = [2 – (cmolc Ca 2+ + Mg2+/100 cm3)] x f f = 100/PRNT Ainda conforme estes autores, a calagem deve ser feita com 2 meses de antecedência do plantio, em qualquer época do ano, utilizando- se calcáriodolomítico, a lanço em área total, como incorporação à 20 cm. Por outro lado, independentemente da recomendação de calagem, Gomes e Silva (2006) relatam que a aplicação doses entre 1 a 2 t ha-1 de calcário tem sido suficiente para a correção da acidez do solo. Espaçamento, preparo da cova e plantio O plantio deve ser realizado próximo à época das águas, assegurando-se que não haja estresse hídrico por falta d’água à cultura. A falta d’água no período inicial da cultura causará sérios prejuízos ao seu desenvolvimento e produtividade. No Estado do Pará, o plantio de inverno inicia-se no final de dezembro ou início de fevereiro e o de verão no final de maio e junho (MATTOS; CARDOSO, 2003). O espaçamento para o plantio conforme Mattos (2006) geralmente é de 1,0 m entre linhas e 0,4 m 0,6 m entre plantas para solos brn Highlight brn Highlight 110 Culturas industriais Unidade 1 Mandioca menos férteis e de 1,2 m entre linhas e 0,4 a 0,6 m entre plantas para solos mais férteis. Deve-se atentar para a profundidade e posição de plantio das manivas. Mattos (2006) recomenda que o sulco para plantio deve ter 10 cm de profundidade, sendo realizado com o auxílio de sulcadores à tração motora ou animal. O plantio também pode ser realizado em covas abertas com um golpe de enxada. Outra forma de plantio é com o auxílio de plantadeiras tracionadas por trator que possibilitam o plantio de 2 a 3 linhas simultaneamente. Recomenda-se plantar uma maniva por cova em profundidade entre 5 e 10 cm. O plantio das manivas pode ser realizado na posição vertical, inclinada (45º) ou horizontal. Deve-se garantir que haja no mínimo 4 gemas por maniva. No plantio vertical a brotação das plantas ocorre mais rapidamente, porporcionando sombreamento mais rápido do solo. Contudo, neste sistema a colheita é mais difícil e onerosa. No plantio inclinado as raízes seguem a direção do ângulo da maniva. Já no plantio horizontal, o plantio é mais fácil e as raízes são mais superficiais, facilitando a colheita. Após a calagem deve-se então realizar a adubação de plantio. Par o Estado do Pará, com base no resultado da análise de solo recomenda- se (quadro 1). Nutriente Adubação P (Mehlich) – mg dm-3 P2O5 (kg ha -1) Até 3 60 4 a 6 40 7 a 10 20 K (Mehlich) – mg dm-3 K2O (kg ha -1) Até 20 40 21 a 40 30 41 a 60 20 Quadro 1. Recomendação da adubação de plantio, com base nos teores de P e K no solo, para o cultivo de mandioca. Nitrogênio: Aplica-se 30 kg ha-1 de N mineral ou orgânico em cobertura aos 30 e 60 dias após a brotação das manivas. Fonte: Mattos; Cardoso (2003). Após definidas as doses de P e K conforme quadro 1, os adubos devem ser distribuídos no fundo das covas ou no sulco de plantio. Recomenda-se o uso de superfosfato triplo ou simples e cloreto de potássio como fonte de P e K. Quanto aos micronutrientes, Mattos e Cardoso (2003) recomendam a aplicação de 20 kg ha-1 de ZnSO4 e 20 kg ha -1 de MnSO4 no sulco de plantio junto com P e K. Contudo, deve-se atentar que adubações sucessivas ao longo dos anos com Zn e Mn podem ocasionar o acúmulo desses elementos no solo e possível toxidez às plantas. Assim, é fundamental se monitorar os teores dos nutrientes através da análise química de solo. Além da adubação de plantio da mandioca, preconiza-se a consorciação de culturas. A consorciação consiste no plantio simultâneo 111 Unidade 1 Mandioca Culturas industriais de outras culturas junto com a cultura principal. Este sistema apresenta diversas vantagens sobre o plantio convencional (monocultura), dentre os quais se destacam: i) ciclagem de nutrientes; ii) a interrupção do ciclo de pragas e doenças; iii) a melhoria da fertilidade do solo e; iv) a redução da população de plantas daninhas. Mattos e Cardoso (2003) recomendam o plantio da mandioca consorciado com milho, feijão, amendoim. Tratos culturais Irrigação Índices pluviométricos entre 1000 a 1500 mm ao ano são satisfatórios ao cultivo da mandioca. Geralmente o plantio e os cinco meses de estabelecimentos da cultura são os mais críticos quanto ao déficite hídrico. Também é possível a utilização de sistemas de irrigação no cultivo da mandioca. Contudo, para a implantação de um projeto de irrigação alguns fatores devem ser considerados: capital e mão-de-obra disponíveis para a implantação e manutenção do sistema; número de colheitas à serem realizadas ao ano; acesso à compra e manutenção do sistema de irrigação; disponibilidade e qualidade da água de irrigação. Caso necessário, a irrigação da cultura pode ser realizada com os sistemas de irrigação por aspersão (pivô-central, aspersão convencional, canhão hidráulico e auto propelido), superfície (sulcos, bacias em nível, inundação, faixas), e localizada (gotejamento e microaspersão) (OLIVEIRA; COELHO; NOGUEIRA, 2006). Controle de plantas daninhas As plantas daninhas reduzem a produtividade, além de aumentar o custo e produção e de colheita, e reduzirem a qualidade do produto colhido. O período mais crítico de interferência das plantas daninhas no cultivo da mandioca ocorre do 4º ao 5º mês após o plantio (CARVALHO, PERESSIN; ARAÚJO, 2006). O controle das plantas daninhas pode ser realizado através de roçagem, capinas manuais, enxadas, cultivador, pelo controle químico, coberturas mortas ou vivas e cultivos intercalares. Em áreas sob clima tropical, como na maior parte do Brasil, chuva e sol são intensos. Estes fatores colaboram muito com a erosão do solo, perda de nutrientes, oxidação da matéria orgânica do solo, lixiviação de bases trocáveis, etc. Assim, é necessário haver uma proteção sobre o solo com folhas e material orgânico, como ocorre numa floresta primária. A roçagem consiste no corte do mato/planta daninha, em 2 a 3 cm acima da superfície do solo e a preservação da palhada sobre o solo. Assim, a roçagem elimina a competição das plantas daninhas com a cultura principal. Além disto, leva o acúmulo de matéria orgânica no solo que proporcionará inúmeros benefícios para a fertilidade do solo. 112 Culturas industriais Unidade 1 Mandioca Controle de doenças e viroses Como a propagação da mandioca é vegetativa, as viroses estão entre as doenças mais frequentes para esta cultura. As principais doenças que atingem esta cultura são: mosaico africano (African cassava mosaic virus), mosaico das nervuras (Cassava vein mosaic), couro de sapo (Cassava frogskin), mosaico comum (Cassava common virus). Controle de doenças feito através do uso de: i) variedades resistentes; ii) produção de mudas livres de vírus; iii) rotação de culturas; iv) uso de microganismos antagônicos; v) eliminação de plantas infectadas; vi) inspeção periódica da cultura; e vii) tratamento químico das manivas. Para viroses recomenda-se o tratamento das manivas com água à 35o C, desinfecção com hipoclorito de sódio, medidas quarentenárias, controle de vetores, erradicação de plantas doentes (FUKUDA, 2006; MAISSNER FILHO; VELAME, 2006). Controle de pragas As principais pragas que afetam a cultura da mandioca nas Américas são: ácaros, colchonilha farinha, mandorová, percevejo de renda, percevejo subterrâneo, mosca da fruta, mosca do broto, mosca das galhas, larvas brancas, cupins, brocas do caule, formigas cortadoras de folhas, colchonilhas das raízes e gafanhotos (FARIAS; BELLOTTI, 2006). De acordo com Gallo et al. (2002) os principais métodos de controle destas pragas são: -Métodos mecânicos: esmagamento manual de ovos dos insetos brocas, catação de larvas e formação de barreiras contra o ataque de gafanhotos; -Método cultural: práticas culturais para o controle das pragas, por exemplo: rotação de culturas, época de plantio e colheita, destruição de restos culturais, podas, adubação e irrigação, plantio direto; -Resistência varietal: utilizar varidades resistentes a determinadas pragas; -Métodos de controle físico: fogo, drenagem de terras alagadas, inundação ou temperatura; -Controle biológico: regulação do número de plantas e animais porinimigos naturais que ocasionaram a morte biológica das pragas. Colheita/Arraquio A colheita deve ser realizada quando a planta alcançar o máximo de sua quantidade de matéria seca e de suas características organolépticas. Contudo, outros fatores devem ser considerados (MATTOS; ALMEIDA 2006): i) tamanho do ciclo: precoce (10 a 14 meses), semiprecoces (ciclo de 14 a 18 meses), tardias (ciclo maior do que 18 meses); ii) estágio de desenvolvimento que se encontra cada área de plantio; iii) sistema de Cultulra industriais 113 Unidade 2 Batata doce plantio; iv) condições de solo e clima; v) situação das estradas e caminhos de acesso; vi) mercado e preços de produto; vii) disponibilidade de mão- de-obra; e ix) compromisso assumido pelo produtor. A primeira etapa do arraquio da mandioca consiste na poda da parte aérea a uma altura entre 20 e 40 cm da superfície do solo. A segunda etapa consiste no arranquio das raízes que pode ser manual em solos arenosos, ou com o auxílio de picareta em solos argilosos (MATTOS; ALMEIDA, 2006). Segundo estes autores, a colheita mecanizada da mandioca também pode ser realizada através de implementos denominados afofadores e arrancadores. Independentemente do método escolhido para colheita, deve-se cuidar para minimizar a quebra das raízes. Beneficiamento, comercialização e alternativas Tanto as raízes quanto a parte aéra da mandioca são aproveitáveis. As folhas e hastes podem ser utilizadas na alimentação animal como silagem e feno, ou mesmo fresca. Para a alimentação humana as folhas também podem ser utilizadas como farinha após sua desidratação (CARDOSO; GAMEIRO, 2006). Quanto ao seu uso industrial, os mais importantes produtos são as farinhas e a fécula (CARDOSO; GAMEIRO, 2006). A comercialização das raízes geralmente é in natura; contudo, a madioca pré-cozida e congelada e como snack (salgadinho) encontram-se em expansão. Estas são boas alternativas para pequenos produtores que podem agregar valor ao produto final. Estas alternativas exigem baixo investimento em tecnologia e são operacionalmente simples. Unidade 2 Batata doce Síntese: Nesta unidade, estudaremos a importância econômica, os aspectos sociais, a botânica, as exigências climáticas e edaficas, os tratos culturais, a colheita, o beneficiamento e a comercialização da batata-doce. Importância econômica A batata-doce é cultivada em 111 países, e 90% da produção são originárias da Ásia, 5% da África e 5% no restante no mundo. A China é o maior produtor mundial, produzindo 100 milhões T ano-1. É uma planta rústica, resistente à seca, às pragas, de ampla adaptação, crescendo em solos pobres e degradados e respondendo pouco a fertilizantes. É cultivada desde áreas ao nível do mar até 3000 m de altitude, em diversos climas, desde temperado até o tropical e o desértico (SILVA; LOPES; MAGALHÃES, 2004). Culturas industriais 114 Unidade 2 Batata doce A cultura de batata-doce é de grande importância para a agricultura familiar e geração de emprego e renda, pois demanda mão- de-obra, principalmente na colheita, na qual não se utiliza processos mecanizados. Além disso, quase não há aplicação de inseticida ou herbicida, o que leva a despesa com insumos girar em torno de 13% o custo operacional total (MONTES et al., 2006). O investimento na cultura da batata-doce é baixo, especialmente em tecnologia, e o principal motivo é a baixa lucratividade. Apesar disso, o cultivo da batata-doce é amplo no país, mas desde a década de 1970 até os anos 2000 houve declínio na sua produção. Isso devido ao intenso êxodo rural e substituição da batata-doce pelo pão. Antes a batata-doce era consumida também no desjejum pelas famílias rurais (SILVA; LOPES; MAGALHÃES, 2004). Aspectos sociais da cultura A batata-doce adapta-se melhor em regiões tropicais onde vive a maior proporção de populações pobres. Nessas áreas é um alimento de alta qualidade nutricional, pois é fonte de energia e de proteínas, vitaminas A e C e minerais. As raízes apresentam Ca, K e teor de carboidratos variando entre 25% e 30%, dos quais 98% são facilmente digeríveis. Além disso, a cultura tem grande importância na alimentação animal e na produção industrial de derivados como a farinha, o amido e o álcool (SILVA; LOPES; MAGALHÃES, 2004). Botânica A batata-doce (Ipomoea batatas) pertence à família Convolvulaceae. Esta família é conhecida por seu hábito escandente e suas flores muito peculiares, com todas as pétalas unidas desde a base. O caule é herbáceo, prostrado, com variações na cor e na pilosidade. As folhas são largas, com pecíolo longo e margem recortada. As flores são hermafroditas, mas de fecundação cruzada. Os frutos são cápsulas deiscentes com 2 a 4 sementes pequenas e castanho-claras. Possui 2 tipos de raiz: uma de reserva de nutrientes e água, conhecida como “batata”; e a outra de absorção de água e nutrientes do solo. As batatas podem ser arredondadas, oblongas, fusiformes ou alongadas. Elas podem apresentar veias ou dobras, e a pele delas pode ser lisa ou rugosa. Essa variação da forma e a presença de dobras ocorrem devido à compactação do solo e à presença de pedras e torrões (SILVA; LOPES; MAGALHÃES, 2004). As cores da pele e a da polpa da batata-doce variam de roxo a salmão, de amarelo a creme ou a branco. As batatas (raízes tuberosas) desenvolvem gemas vegetativas quando são destacadas da planta ou quando a parte aérea é removida ou ressecada. Então, quando a planta está em crescimento, as raízes tuberosas não apresentam gemas (olho). Cultulra industriais 115 Unidade 2 Batata doce O corte da raiz pode aumentar a brotação, mas isso pode levar ao apodrecimento, pois o tecido fica mais suscetível à ação de patógenos (SILVA; LOPES; MAGALHÃES, 2004). Segundo os mesmos autores o caule (ou rama) pode ser divido e utilizado como rama semente para a formação de lavoura. As ramas sementes emitem raízes em 3 a 5 dias. Quanto mais quente o clima, mais rápido é o enraizamento. Exigências climáticas e edáficas Para o cultivo da batata-doce devem-se escolher áreas com boa exposição solar e evitar áreas sombreadas ou que receba ventos fortes (GOMES, 2007). A batata-doce se desenvolve melhor em locais com temperatura média superior a 24 ºC e pluviosidade anual média entre 750 e 1000 mm (SILVA, LOPES; MAGALHÃES, 2008). É considerada uma cultura bastante rústica e pouco exigente quanto à qualidade do solo. Ela se desenvolve melhor em solos arenosos e com boa drenagem. Os solos arenosos facilitam a penetração das raízes e o arranquio da batata na colheita. Isto evita sua quebra e aumenta a qualidade do produto colhido. De acordo com Gomes (2007) solos areno- argilosos, soltos, bem estruturados e com boa areação, com profundidade maior do que 30 cm são de forma geral os mais adequados ao cultivo da batata doce. Conforme estes autores, o pH ideal de solo para esta cultura está entre 5,6 e 6,4. Implantação da cultura Solo Como para a maioria das culturas agrícolas, é recomendável que antes do plantio seja realizado a amostragem do solo e análise química. Para o Estado de Minas Gerais recomenda-se a calagem buscando-se elevar a saturação por bases à 60% (CASALI, 1999). Caso seja necessária, a calagem deve ser realizada em área total com 2 meses de antecedência do plantio para que haja tempo suficiente para reação química do corretivo aplicado. Gomes (2007) recomenda que a adubação com P deve ser realizada com 50- 60 dias após a calagem, e com 5 dias de antecedência do plantio realiza-se nova aração e gradagem. Espaçamento, preparo da cova e plantio Os espaçamentos mais utilizados para o cultivo da batata- doce são de 0,80 a 1,00 m entre linhas e 0,25 a 0,50 m entre plantas. Para o plantio devem-se abrir sulcos no solo com 10 cm de profundidade mantendo-se o espaçamento desejado. O adubo deve ser distribuído e incorporado no sulco (GOMES, 2007). Conforme este autor, o plantio em Culturas industriais 116 Unidade 2 Batata doce leirascom 0,30 a 0,40 m de altura é o mais recomendável. Por fim, as mudas devem ser retiradas dos vasos onde foram desenvolvidas se eliminado as raízes enoveladas e colocando-se uma muda por cova. Então, adiciona- se terra até a cobertura total do sistema radicular. Após a finalização do plantio recomenda-se fornecer água para as plantas. Para isto, podem- se utilizar regadores manuais, mangueiras de borracha ou sistema de irrigação. Deve-se tomar o cuidado para que o jato d’água não cause o arraste das partículas do solo. Para isto, recomenda-se o uso de esguicho para tornar as gotas de água menores, diminuindo o seu impacto sobre o solo. Tratos culturais Adubação A recomendação de adubação para o cultivo da batata-doce varia conforme o Estado. Para os Estados do Espirito Santo, Minas gerais e São Paulo recomenda-se aplicar respectivamente 20, 60 e 40 kg ha-1 de N para o ciclo da cultura. Já a recomendação de adubação com P e K deve serguir feita de acordo com os resultados das análises de solo e a interpretação das faixas limites. Conforme estes autores, no plantio, devem-se aplicar todo o P, 50% do N e 50% do K. O que restar do N e do K deve ser aplicado em cobertura após aproximadamente 40 dias do plantio. Veja o quadro: Parâmetro analisado Baixo Médio Alto Fósforo (mg dm-³) Textura argilosa < ou = 5 6-10 > 10 Textura média < ou = 10 11-20 > 20 Textura arenosa < ou = 20 21-30 > 30 Potássio (mg dm-³) < ou = 30 31-60 > 60 Quadro 2. Faixas de interpretação de P e K no solo utilizadas após a análise do solo. Fonte: SILVA; LOPES; MAGALHÃES (2008). Conforme a quadro acima, por exemplo, se o resultado da análise de um solo argiloso indicar o teor de P de 9 mg dm-3, o solo será classificado como “médio” para o teor de P. Se, para o mesmo solo o teor de K nutriente no solo fosse de 25 mg dm-3, este solo seria classificado como “baixo” quanto ao teor de K. Então, utilizando-se os dados do exemplo acima e quadro de interpretação abaixo a recomendação seria de: 120 kg ha-1 de P2O5 e 90 kg ha -1 de K2O. No Estado do Espírito Santo recomenda-se aplicar 0,5 a 1,0 g ha-1 de B para o cultivo de batata-doce se a análise do solo indicar baixos teores deste elemento (ABREU et al, 2007). Cultulra industriais 117 Unidade 2 Batata doce Fósforo Potássio Espirito Santo Baixo Médio Alto kg ha-1 de P2O5 – K2O Baixo 90-100 90-70 90-40 Médio 60-80 60-70 60-40 Alto 40-100 40-70 40-40 Minas Gerais Baixo 180-90 180-60 180-30 Médio 120-90 120-60 120-30 Alto 60-90 60-60 60-30 São Paulo Baixo 100-120 100-90 100-60 Médio 80-120 80-90 80-60 Alto 60-120 60-90 60-60 Quadro 3. Recomendação de adubação para batata-doce para os Estados do Espirito Santo, Minas Gerais e São Paulo. Fonte: SILVA; LOPES ; MAGALHÃES (2008). Controle de plantas daninhas O controle de plantas daninhas após o plantio deve ser realizado principalmente até os 60 dias após o plantio. A capina de plantas daninhas é, geralmente, realizada manualmente (GOMES, 2007). Leia mais sobre controle de plantas daninhas a descrição sobre o assunto na Unidade 1 Mandioca. Doenças Dentre as doenças fúngicas mais comuns no cultivo de batata- doce estão mal-do-pé (Plenodomus destruens). Além disto, outros fungos fitopatogênicos causam danos nesta cultura: Ceratocystis fimbriata, Elsinoë batatas (Sphaceloma batatas), Albugo ipomoeae-panduratea, Alternaria spp., Fusarium spp., Monilochaetes infuscans, Sclerotium rolfsii, Rizoctonia solani, Cercospora. Doenças bacterianas também podem causar prejuízo à cultura da batata-doce. Como medida de controle para estas doenças, recomenda-se: i) evitar áreas que tenham sido cultivadas anteriormente com quiabo, tomate, alface e batata; ii) utilizar cultivares resistentes; iii) fazer rotação de cultura; iv) fazer cultivo de crotalárias ou outras plantas antagônicas; e, v) eliminar as soqueiras (SILVA; LOPES; MAGALHÃES, 2008). Controle de pragas As principais pragas para a cultura são a broca-da-raíz Euscepes postfasciatus, Coleoptera, Curculionidae, e a broca das hastes (Megastes pusialis, Lepidoptera, Pyralidae) (SILVA; LOPES; MAGALHÃES, 2008). Insetos como vaquinhas (Diabrotica speciosa), lagartas, besouros, pulgões, Culturas industriais 118 Unidade 2 Batata doce cigarrinhas e outras também atacam a batata-doce. Segundo estes autores, o controle de pragas da batata-doce pode ser realizado através da rotação de culturas, uso de inseticidas, controle biológico (Beauveria bassiana, Bacillus thuringiensis) e pela formação de mudas com ramos/tubérculos isentos de brocas (GALLO et al, 2002; GOMES, 2007). Colheita Geralmente a colheita da batata-doce é feita entre 120 e 150 dias após o plantio, quando as raízes apresentam aproximadamente 300 g. Contudo, em condições ideais de cultivo, a colheita pode ser realizada até com 90 dias (SILVA; LOPES; MAGALHÃES, 2008). A colheita pode ser realizada manual ou mecanicamente escavando-se lateralmente as leiras, cuidando-se para não ferir as raízes e puxando-se as raízes do solo. Beneficiamento Após a colheida, a batata-doce deve ser lavada e selecionada. As batatas quebradas, perfuradas por broca, ou com coloração escurecida devido ao ataque de pragas ou doenças devem ser descartadas. Se houver necessidade de armazenamendo, as batatas não devem ser lavadas, pois podem prejudicar a conservação e aumentar as perdas devido ao ataque de patógenos (SILVA; LOPES; MAGALHÃES, 2008). Contudo, estes autores ressaltam que a lavagem geralmente é necessária quando a cultura é instalada em solos argilosos. Geralmente quando instalada em solos arenosos esta prática é dispensável. Comercialização e alternativas Oficialmente não há uma norma para classificação para comercialização da batata-doce. Em mercados como os de São Paulo e Rio de Janeiro consideram-se tipo Extra-A 301 a 400 g; tipo Extra-B 201 a 300 g; Especial – 151 a 200 g. A embalagem mais utilizida para comercialização é a caixa tipo “K” (SILVA; LOPES; MAGALHÃES, 2008). Cultulra industriais 119 Unidade 3 Guaraná Unidade 3 Guaraná Síntese: Nesta unidade, estudaremos a importância econômica, os aspectos sociais, a botânica, as exigências climáticas e edaficas, os tratos culturais, a colheita, o beneficiamento e a comercialização do guaraná. Importância econômica O Brasil é o maior produtor comercial de guaraná do mundo (PEREIRA, 2005). O cultivo de guaraná é responsável pela geração de milhares de empregos diretos e indiretos na região norte do Brasil. O cultivo do guaraná também é fonte de renda para populações amazônidas interioranas contribuindo para redução de êxodo urbano (ARRUDA et al., 2007). Em vários estados, a cultura é plantada por agricultores familiares. Mas no estado do Amazonas, o guaraná também é plantado por grandes produtores, especialmente na cidade de Maués. No ano 2000, os principais produtores de guaraná no Brasil foram os estados da Bahia, Amazonas e Mato Grosso (SUFRAMA, 2003). Em 2003, quase 800 toneladas de sementes secas de guaraná foram produzidas em 5.178 ha no Amazonas. Esse número ficou bem abaixo da media do Brasil, que no período alcançou 298 kg/ha. Em 2010, foram destinados 2.868 hectares à colheita de guaraná, dos quais 2.150 hectares foram efetivamente colhidos. Nessa área, foram produzidas 24.429 toneladas de sementes de guaraná, com rendimento médio de 11.362 kg/ha, no valor correspondente de 28 milhões de reais (IBGE, 2010). A produção brasileira de guaraná é quase toda destinada ao mercado consumidor interno. Apenas pequena parte é exportada para outros países. No Brasil, cerca de 70% das sementes de guaraná são absorvidas pelos fabricantes de refrigerantes e o restante é comercializado basicamente como xarope, pó, extrato e bastão (PEREIRA, 2005). Aspectos sociais da cultura Há séculos as civilizações indígenas utilizam o guaraná para diversos fins. Os registros mais antigos de sua utilização datam de 1669. Suas propriedades medicinais teem sido comprovadas cientificamentee a planta já é utilizada como antitérmico, antinevrálgico, antidiarreico, estimulante, analgésico e antigripal (HENMAN, 1982). É das sementes que se extrai a matéria prima para as indústrias farmacêuticas e também alimentícias, como para a fabricação de refrigerantes, xaropes, sucos, pós-solúveis e bastões. Essa variedade de produtos influencia seu cultivo em pequenas propriedades pelos agricultores familiares (PEREIRA, 2005). Culturas industriais 120 Unidade 3 Guaraná Botânica O guaraná (Paullinia cupana Kunth) pertence à família Sapindaceae. Ele pode ser reconhecido por seu hábito escandente arbustivo. Seus ramos são sulcados e suas folhas são compostas com 5 folíolos. Algumas espécies apresentam gavinhas, que são axilares. As flores são monoicas, teem a corola amarela, zigomórfica, com 5 pétalas e 5 sépalas pilosas, 8 estames e ovário trilocular com um disco glandular na base. Uma inflorescência de aproximadamente 25 cm pode produzir, em condições ideais, cerca de 50 frutos. O fruto é uma cápsula carnosa, obovada, glabra, profundamente segmentada, com pedúnculo longo. Mede de 2 a 2,5 cm de diâmetro, é vermelho-alaranjado quando maduro. Cada fruto contém de 1 a 3 sementes, as quais são parcialmente cobertas por um arilo branco e farináceo, com um tegumento (ou testa) marrom escuro brilhante. As sementes, depois de tostadas, formam o produto comercializável. Elas possuem uma alta quantidade de cafeína, mais do que a do próprio café. Os nativos da região amazônica preparam o guaraná retirando a testa da semente, em seguida socam, amassam e secam as sementes, defumando-as. Depois de secas, são moídas para serem utilizadas em forma de pó diluído em água. Mas, atualmente, o uso mais comum do guaraná tem sido em forma de xarope (HENMAN, 1982). Há duas variedades de Paullinia cupana, a ‘Cupana’ e a ‘Sorbilis’. A primeira difere da segunda por não apresentar gavinhas, seus folíolos são mais lobados e suas flores e frutos são maiores. O guaraná é uma planta alógama (que se reproduz por fecundação cruzada), cuja polinização é realizada principalmente por abelhas. Por esse motivo, os grandes produtores de guaraná mantém a produção no meio da mata, para que os agentes polinizadores tenham acesso às plantas de guaraná. A planta ocorre no Brasil, Equador, Peru e Venezuela. No Brasil, o guaraná está distribuído na Amazônia legal e nos estados da Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso e São Paulo (EMBRAPA, 2005; MISSOURI, 2011). O cultivo do guaranazeiro Produção de mudas A produção de mudas vigorosas é o primeiro passo para formação de uma lavoura produtiva (BRAUN et al., 2007). Devido a grande variabilidade genética não se recomenda a propagação via semente. A propagação comercial do guaranazeiro geralmente ocorre por mudas formadas através do enraizamento de estacas. A primeira etapa para propagação é o enraizamento de estacas, e a segunda, a formação das mudas. A escolha das estacas será detalhada no item abaixo “Coleta de estacas” (PEREIRA, 2005). Cultulra industriais 121 Unidade 3 Guaraná Assim, para produção de mudas deve se possuir um viveiro para o enraizamento e outro para a formação das mudas. Para o enraizamento de mudas, o viveiro deve possuir cobertura com sombrite que proporcione 70% de sombra. Já para produção de mudas o viveiro deve ser construído com sombrite que proporcione 40-50% da redução de luz. Detalhes da construção do viveiro são encontrados em Pereira (2005). Coleta de estacas Para a produção das mudas, deve-se escolher-se os clones, ou seja, as plantas das quais serão retirados os ramos para a formação das novas plantas/mudas. Por que escolhler os clones em vez das plantas tradicionais? Pereira (2005) nos apresenta algumas vantagens, tais como: a) o tempo para formação da muda é diminuído; pois se usarmos a semente o tempo de formação é de 12 meses, enquanto com o clone a formação da muda só leva sete. b) o clone é resistente à antracnose. c) com o clone a produtividade é dez vezes maior. d) há precocidade para que se possa iniciar a produção. Com o clone temos o início da produção a partir de dois anos enquanto que com as sementes temos que esperar quatro. e) a sobrevivência em relação às plantas, produzidas a partir dos clones, é maior do que as que foram produzidas a partir das sementes. A sobrevivência em relação às primeiras é de 95% e quanto às últimas é de 20%. As estacas (pedaços de ramos) de plantas matrizes de guaraná, para a formação das novas plantas, devem apresentar bom vigor e não estar com sintomas de deficiência nutricional, ataque de pragas e/ou doenças. Para o Estado do Amazonas, a coleta das estacas é realizada entre março e maio. Esta atividade deve ser realizada na época de lançamento dos ramos entre 5 e 7 h da manhã a fim de se diminuir a perda de água das estacas (PEREIRA, 2005). Preparo do substrato O substrato para a produção das mudas constitui-se de uma mistura com diferentes proporções de terra, material orgânico e adubo. Ele será o meio físico para o desenvolvimento das mudas e o reservatório de água e nutrientes. É fundamental para o enraizamento das estacas e para que a muda cresca vigorosa. Na literatura são encontrados diversos tipos de substratos feitos pela mistura de diversos componentes. A escolha da mistura a ser utilizada dependerá principalmente da matéria prima disponível no local. Pereira Culturas industriais 122 Unidade 3 Guaraná (2005) recomenda que o substrato para produção de mudas de guaraná contenha uma proporção de terriço de mata: areia de 4:1. Para cada 1 metro cúbio desta mistura acrescenta-se 3 kg de superfosfato simples, fonte de fósforo (P). Substratos comerciais à base de casca de pinus misturado com esterco de galinha e carvão moído têm proporcionado bons resultados na produção de mudas de guaranazeiro (ARRUDA et al., 2007). Após o preparo do substrato deve-se acondicioná-lo em saco plástico preto (23 x 18 cm e 0,15 mm de espessura). O terço inferior do saco deve conter aproximadamente 24 furos com 5 mm de diâmetro para a aeração do das raízes e drenagem da água (PEREIRA, 2005). Os furos no fundo do saco plástico das mudas são importantes para a aeração das raízes e para a drenagem de água. Plantio de estacas Para o plantio das estacas, primeiro, com o auxílio de um pedaço de madeira roliço e pontiagudo com diâmetro de aproximadamente 2 cm, realiza-se um furo no substrato ao centro do saco a uma profundidade de 3 a 5 cm. Em seguida, a estaca deve ser introduzida neste furo e depois feita uma leve pressão ao redor da estaca assegurando-se que o substrato e a estaca estejam em contato. Não deve haver bolhas de ar no substrato. Se existirem bolhas de ar no substrato, as raízes não se desenvolverão nestes locais. Isto reduzirá a eficiência da planta em absorver água e nutrientes, consequentemente prejudicando o crescimento da muda (PEREIRA, 2005). Irrigação de mudas A irrigação feita com nebulizadores tem proporcionado melhores resultados para o desenvolvimento das mudas de guaranazeiro. Os nebulizadores pulverizam micro gotículas de água sobre as folhas. Este tipo de irrigação proporciona o aumento da umidade relativa do ar e mantém a superfície foliar do guaraná umidecida. Durante a irrigação do guaranazeiro deve-se evitar o excesso de umidade no substrato. As mudas de guaranazeiro são sensíveis ao excesso de água, podendo ocorrer a morte das plantas no caso de echarcamento do substrato (ARRUDA et al., 2007; PEREIRA, 2005). Condução das mudas no viveiro Adubação de mudas Além do adubo utilizado na composição do substrato, preconiza- se a realização de novas adubações das mudas ainda no viveiro. Esta adubação garantirá o desenvolvimento de mudas bem nutridas e saudáveis. Nesta operação são fornecidos N e K. Para esta adubação, deve-se preparar Cultulra industriais 123 Unidade 3 Guaraná uma solução contendo 200 g de uréia, fonte de N, mais 200 g de KCl, fonte de K diluídosem 20 L de água. A cada 30 dias deve-se realizar adubação das mudas aplicando-se 25 mL por planta desta solução. Esta adubação, junto com aquela realizada durante o preparo do substrato, garantirá o suprimento dos 3 macronutrietes às plantas. Controle de plantas daninhas das mudas Manualmente devem-se retirar as plantas daninhas do substrato das mudas. As plantas daninhas concorrem por água, luz e nutrientes, desacelerando o desenvolvimento das mudas de guaraná. As plantas daninhas que ocorrem no substrato geralmente são originárias de sementes trazidas na terra coletada para a fabricação do substrato, pelo ar ou agentes dispersores de sementes como pássaros. É importante que o controle das plantas daninhas seja feito periodicamente, preferencialmente a cada 4 ou 5 dias. Deve-se evitar que as plantas daninhas floresçam, pois, isto dificultará o seu controle. Implantação do guaranazal Clima e solo O guaranazeiro se desenvolve melhor em locais com temperaturas médias de 23oC a 28oC e precipitação pluviométrica de 1500 a 3000 mm ano-1. Estas condições são encontradas na Amazônia, sul da Bahia e norte do Mato Grosso. Por questões de custo e preservação ambiental devem- se escolher áreas para o plantio anteriormente cultivadas ou de capoeira (PEREIRA, 2005). O mesmo autor recomenda que os solos mais adequados ao cultivo de guaranzeiros são aqueles profundos, bem drenados, sem predegozidade, com textura variando de média a argilosa. Conforme já descrito no item “Irrigação de mudas”, o guaranazeiro é bastante susceptível ao encharcamento do solo. O excesso de água no solo por períodos prolongados pode ocasionar a podridão das raízes e morte da planta. Logo, na escolha do local de plantio, devem ser evitadas as baixadas ou áreas sujeitas a alagamento. Solos muito argilosos podem desfavorecer a cultura por possuirem baixa velocidade de infiltração de água no perfil, tendendo ao encharcamento do solo e morte das plantas. Assim, solos de textura média, por apresentarem mais velocidade de infiltração da água no perfil, favorecerão o desenvolvimento da cultura. Solos pedregosos devem ser evitados por dificultarem o desenvolvimento das raízes e a fixação das plantas. Culturas industriais 124 Unidade 3 Guaraná Espaçamento, preparo da cova e plantio O espaçamento recomendado para o guaranazeiro é de 5 m entrelinhas e 5 m entre plantas. O plantio pode ser feito mecanicamente utilizando-se sulcadores numa profundidade de 40 cm o que reduz os custos de plantio. Para o plantio manual deve-se raspar 5 cm de terra da superfície do solo num raio de aproximadamente 1 m, deixando esta porção da terra separada. Em seguida, abre-se uma cova com pelo menos 40 x 40 x 40 cm de largura, separando-se outra porção de terra. Na primeira porção separada adiciona-se 150 g de superfosfato simples e pelo menos 10 L de esterco de gado ou 4 L de esterco de aves curtidos. Mistura-se bem e preenche-se a cova. Se a quantidade da mistura não for suficiente para encher a cova, deve-se utilizar o solo dela, retirada para completá-la. O nível do solo da cova não deve ser inferior ao nível do solo da área para não haver o acúmulo de água. O plantio das mudas deve ser feito no período chuvoso de janeiro a março (PEREIRA, 2005). Após a muda ter sido colocada na cova e sua lateral preenchida com a terra, deve-se fazer uma leve pressão no solo para garantir que não haja espaços com ar ao redor da muda trasplantada. Grandes espaços de ar em contato com as raízes podem impedir o bom desenvolvimento da planta conforme descrito no item ”Plantio das estacas”. Estes espaços inibem localmente o desenvolvimento das raízes, dificultando a absorção de água e nutrientes. Sombreamento Este procedimento visa à proteção das mudas contra a exposição direta dos raios solares e sua adaptação gradual à radiação solar. Após o plantio, deve-se cobrir as mudas com folhas de palmeiras utilizando-se 3 folhas com aproximadamente 1 m cada (PEREIRA, 2005). Tratos culturais Controle de plantas daninhas Durante os dois primeiros anos deve-se fazer o coroamento das plantas com exada num raio de um metro ao redor da planta. Este procedimento deve ser realizado com cuidado, evitando-se cortar as raízes do guaranazeiro. O corte das raízes pela enxada diminui a eficiência da planta em absorver água e nutrientes do solo, além de favorecer a exposição da planta por pragas e doenças no solo. O coroamento da planta é importante, pois: i) impede a competição das plantas daninhas; ii) facilita a rega das mudas no campo; e, iii) diminui a dispersão dos adubos granulados aplicados. Após o segundo ano de cultivo com o desenvolvimento da Cultulra industriais 125 Unidade 3 Guaraná cultura a copa da planta se desenvolverá. Isto aumentará a área de sombreamento ao redor dos guaranazeiros, inibindo o desenvolvimento das plantas daninhas facilitando o seu controle. Cobertura morta A cobertura morta consiste na manutenção de uma camada de vegetal (resto de folhas e caules) sobre o solo e ao redor da planta. Comumente utiliza-se o mato roçado na entrelinha como cobertura morta. A cobertura morta não deve tocar o tronco da planta, pois favorece o aumento de umidade ao redor do tronco, criando condições adequadas para o desenvolvimento de doenças as quais poderão prejudicar o desenvolvimento das plantas (PEREIRA, 2005). Além de inibir o desenvolvimento das plantas daninhas, a cobertura morta é benéfica ao longo dos anos, pois aumentará a quantidade de matéria orgânica sobre o solo. Isto proporcionará inúmeros benefícios à fertilidade do solo, tais como: i) aumento da disponibilidade de água e nutrientes às plantas; ii) redução da incidência direta de raios solares sobre o solo; iii) redução da temperatura da superfície do solo; iv) redução das variações excessivas da temperatura do solo; v) manutenção de um ambiente mais favorável ao desenvolvimento de microrganismos no solo; vi) facilitar a infiltração da água e favorecer a manutenção da umidade no solo; e, vii) aumento a atividade microbiológica do solo; Pereira (2005) preconiza a manutenção da cobertura morta sobre o solo durante os 2 primeiros anos de cultivo. Contudo, estudos recentes com outras culturas, como citros, têm demonstrado efeitos benéficos da permanente manuteção da cobertura morta sobre a produção das plantas. Assim é recomendável que a cobertura morta seja sempre mantida sobre a superfície do solo. Podas De forma geral as podas visam manter ou recuperar a estrutura produtiva das plantas e diminuir custos nos tratos culturais das lavouras (MATTIELO; GARCIA; ALMEIDA, 2007). Conforme estes autores, a poda das plantas proporciona também: i) entrada de luz na planta; ii) aumenta a área de ramos produtivos, devido ao crescimento de novos ramos; iii) renovação dos ramos das plantas; iv) eliminação do excesso de ramos; v) reduz a altura das plantas facilitando os tratos culturais; vi) arejamento no interior da copa, reduzindo a incidência e facilitando o controle de pragas e doenças; e, vii) facilita a colheita. Pereira (2005) nos diz que basicamente são realizados dois tipos de poda na cultura do guaranazeiro. . Poda de limpeza: A poda de limpeza deve ser realizada após a colheita, janeiro-fevereiro. Devem-se eliminar os ramos secos, quebrados Culturas industriais 126 Unidade 3 Guaraná ou doentes. Deve-se cortar tambem um terço da exremidade dos ramos mais longos. Isto evitará que as plantas fechem as linhas de cultivo. Devem ser retirados os restos de flores e frutos . Poda de frutificação: Deve ser realizado entre abril e maio, reduzindo-se em 50% o número de lançamentos e em 50% o comprimento dos ramos remanescentes. Primeiro, retira-se os ramos da base da copa e, em seguida, retira-se os ramos da parte superior da planta. A planta ficará com o formato de taça. Adubação Como regra geral, a adubação das culturas agrícolas deve sempre ser realizada com base na quantidade de nutrientesdisponíveis no solo, estimado através da análise química do solo. Para culturas agrícolas bastante estudadas, como milho, citros, café, e outras, foram estabelecidos as tabelas de recomendação com base na análise de solo. Contudo, pouco se estudou sobre a relação entre as concentrações de nutrientes no solo e a produção de guaraná esperada. Coforme as plantas se desenvolvem, elas absorvem os nutrientes do solo. Os nutrientes então passam do solo para a planta e são utilizados para o crescimento das raízes, caules, folhas, produção de flores e frutos. Sendo assim, é fundamental a reposição dos nutrientes no solo para que a planta possa ser nutrida. Para o Estado do Amazonas, a recomendação de adubação e épocas de aplicação é sugerida por Pereira (2005). A adubação do guaranazeiro deve ser realizada aplicando-se N, P, K, manganês (Mn), boro (B) e zinco (Zn). As doses de N e K devem ser parceladas apartir do segundo ano de cultivo. Idade Parcelamento Sulfato de amônio Superfosfato simples Cloreto de potássio Sulfato de magnésio Boráx Sulfato de zinco g planta-1 1º ano Plantio - 150 - - - - 3 meses após plantio 40 - 40 50 10 10 Total 40 150 40 50 10 10 1º aplicação 40 300 - 50 - - 2º ano 2º aplicação 40 - 40 - 10 10 3º aplicação 40 - 40 - - - Total 120 300 80 50 10 10 1º aplicação 90 300 - 50 - - 3º ano 2º aplicação 90 - 40 - 10 10 3º aplicação 180 - 80 - - - Total 360 300 120 50 10 10 Quadro 4. Recomendação de adubação para o guaranazeiro para o Amazonas conforme teores disponíveis no solo. Fonte: Pereira (2005). Cultulra industriais 127 Unidade 3 Guaraná Controle de pragas Comparando-se com outras culturas agrícolas, o guaraná apresenta um pequeno número de pragas que podem interferir em seu desenvolvimento e produção. O tripes (Liothrips adísi) é a principal praga que ataca as mudas do guaranazeiro. O ataque de tripes provoca ressecamento das flores e pode atacar frutos em estádio inicial de desenvolvimento prejudicando seu desenvolvimento. Quando necessário deve-se fazer uso de inseticidas para o seu controle (PEREIRA, 2005). Controle de doenças Mudas de guaraná com sintomas de antracnose ou superbrotamento devem ser descartadas. A antracnose é causada pelo fungo Colletotrichum dematium. A podridão vermelha das raízes (Ganoderma philippii) pode causar prejuizos ao guaranazeiro causando a seca das plantas. Para o controle destas doenças recomenda-se erradicar a plantas doentes e queimá-las envitando-se a disseminação dos fungos. O uso de fungicidas pode também auxiliar no combate a estas doenças. Colheita No Estado do Amazonas, o período de colheita vai de setembro até janeiro (PEREIRA, 2005). Conforme este autor, a colheita dos frutos do guaraná deve ser feita manualmente com o auxílio de tesouras para retirada dos cachos. O ponto de colheita é determinado quando no mínimo 50% dos frutos estiverem abertos, com coloração amarelo à vermelha. Segundo o autor, o guaranazeiro possui a frutificação desuniforme, sendo então necessário realizar a colheita no mínimo duas vezes por semana. Beneficiamento Após a colheita, os frutos devem permanecer durante três dias em local limpo e seco sobre cerâmica ou cimento para que haja a fermentação dos frutos. Após o despolpamento, as sementes deverão ser classificadas conforme o tamanho, separadas e torradas em tacho de barro em fogo brando. Pereira (2005) descreve que as sementes estão prontas para comercialização quando sua umidade estiver em torno de 5 a 12%, variando de acordo com o uso que se vai dar a elas. Comercialização e alternativas O guaraná possui diversos usos e alternativas de comercialização. Dentre os principais usos estão: em produtos elaborados pelas indústrias de refrigerante e farmacêutica; em bastão, uso em pó; fabricação de sorvetes, cosméticos, artesanatos e outros. A escolha dos métodos Culturas industriais 128 Unidade 4 Cana -de-açúcar de comercialização dependerá da disponibilidade dos compradores, disponíveis no mercado (PEREIRA, 2005). Unidade 4 Cana-de-açúcar Síntese: Nesta unidade, estudaremos a importância econômica, os aspectos sociais, a botânica, as exigências climáticas e edáficas, os tratos culturais, a colheita, o beneficiamento e a comercialização da cana-de-açúcar. Importância econômica A cana-de-açúcar foi a primeira grande riqueza brasileira, tanto agrícola quanto industrial. O seu cultivo trouxe desenvolvimento econômico ao Brasil colônia e, por longo período, foi a base da economia colonial. A partir de 1975, com a criação da PRO-ÁLCOOL, houve um crescimento expressivo no cultivo de cana-de-açúcar. Nos últimos 10 anos, a cana passou a estar entre as 3 culturas que mais ocupam as lavouras temporárias no Brasil, junto com as do milho, soja e feijão. Todas as regiões do Brasil cultivam cana-de-açúcar, totalizando quase 7 milhões de hectares de área cultivada, mas as que mais se destacam são as regiões Sudeste (com mais de 4,5 milhões de hectares) e Nordeste (em torno de 1,2 milhões de hectares) (ALVARENGA; QUEIROZ, 2008). Estima-se que mais de 46% da cana-de-açúcar cultivada são destinados à produção de açúcar e 53% a do álcool. Entretanto, não apenas açúcar e álcool são produzidos a partir da cana, mas também o álcool germicida (para uso doméstico e hospitalar), o bagaço para diversos fins (desde combustível para caldeiras até compostagem para adubação orgânica), o palhiço (resíduo de folhas e ponteiros usado para controlar ervas daninhas), o óleo fúsel (matéria prima para extração de álcool), a vinhaça (resíduo de destilação, rico em nutriente, utilizado como adubo orgânico e alimentação animal), a torta de filtro (resíduo do caldo, rico em fósforo, utilizado com adubo) e o melaço (líquido residual da fabricação do açúcar, é matéria prima para a produção de álcool etílico, acetona, butanol, glicerol e outros) (TOMAZ, 2011). Essa ampla diversidade de produtos derivados da cana-de- açúcar mostra sua enorme importância econômica para o Brasil. Aspectos sociais da cultura Cultulra industriais 129 Unidade 4 Cana-de-Açúcar Por muito tempo, a cana-de-açúcar foi cultivada em latifúndios, nos quais funcionavam os engenhos de açúcar, operados por escravos (indígenas ou africanos). O açúcar produzido nessas propriedades era vendido ao mercado europeu. Atualmente, o setor sucroalcooleiro dispõe de mais de 1 milhão de empregos diretos, sendo 770 mil relacionados à produção de álcool. Além dos empregos gerados pela indústria sucroalcooleira, há muitas vantagens que este setor traz para a sociedade. Uma delas é a utilização dos resíduos da cana na produção agrícola, como acabamos de ver. Outra vantagem é a geração de energia pela própria indústria para a produção de álcool e açúcar. O que excede desta energia é vendido para as empresas distribuidoras de energia. E o álcool utilizado como combustível emite menos poluentes para a atmosfera, quando comparado com os combustíveis derivados de petróleo; também é vantajoso por ser renovável (TOMAZ, 2011). Apesar de tantas vantagens e tantos empregos gerados, a indústria sucroalcooleira pouco evoluiu na questão das condições dos cortadores de cana. Atualmente, os cortadores recebem seus salários de acordo com sua produção pessoal, o que causa muitos problemas de saúde pelo excesso de trabalho. A seleção para essa função requer que o trabalhador corte de 8 a 10 toneladas diárias de cana. Em 2010, o preço pago por tonelada foi pouco mais de 3 reais. O perfil desses trabalhadores é de baixo grau de escolaridade, sem outra capacitação profissional, o que os impede de procurar outros empregos (ALVARENZA; QUEIROZ, 2008). A mecanização da colheita tem trazido ainda mais problemas aos trabalhadores, que ultrapassam seus limites físicos. Eles precisaram aumentar a colheita para não serem dispensados, competindo com as máquinas que fazem o trabalho de 100 homens, cada. Além disso, a descoberta da maior concentração de açúcar na baseda cana exige hoje que os trabalhadores cortem a cana rente ao chão, curvando exageradamente seu corpo para baixo, causando graves problemas de saúde (LIMA, 2011). Conforme o recente zoneamento agroecológico da cana-de- açúcar, que determina os limites do território nacional para o plantio desta cultura, estabeleceu-se que: Conforme Manzatto (2009) foram excluídas as seguintes áreas: 1. As terras com declividade superior a 12%, observando-se a premissa da colheita mecânica e sem queima para as áreas de expansão; 2. As áreas com cobertura vegetal nativa; 3. Os biomas Amazônia e Pantanal; 4. As áreas de proteção ambiental; Culturas industriais 130 Unidade 4 Cana -de-açúcar 5. As terras indígenas; 6. Remanescentes florestais; 7. Dunas; 8. Mangues; 9. Escarpas e afloramentos de rocha; 10. Reflorestamentos; e, 11. Áreas urbanas e de mineração. Nos Estados da Região Centro-Sul (GO, MG, MT MS, PR e SP). Botânica O nome científico da cana-de-açúcar é Saccharum officinarum L. Ela pertence à família Poaceae, mesmo grupo da aveia, do milho, sorgo, trigo, etc. É uma planta cultivada nas regiões tropicais e subtropicais, e seu cultivo se deve principalmente à grande concentração de açúcar em seu colmo, mas também tem outros fins, como: forragem, fonte de energia e como matéria prima da cachaça. Pode ser identificada por sua capacidade de perfilhamento (ou capacidade de rebrota) e pelo colmo cilíndrico e afinado na região de crescimento da planta. Cada variedade apresenta um colmo característico. Suas folhas são alternadas, apresentam a lâmina plana, alongada, de comprimento variável entre 2,5 a 10 cm, conforme a variedade. A margem das folhas é geralmente serrilhada e pode ter pêlos finos, chamados de joçal. Quando velhas, as folhas morrem e desprendem-se do colmo, deixando uma cicatriz. Acima desta cicatriz, há uma região chamada de zona radicular, cujo tecido poderá dar origem a um novo sistema radicular, muito importante para a formação de novas mudas (SCARPARI; BEAUCLAIR, 2010). A inflorescência é do tipo panícula, a flor é hermafrodita e tem apenas um óvulo. Os estigmas são roxos a avermelhados, com a extremidade plumosa. A flor possui 3 estames os quais carregam grãos de pólen muito pequenos, cuja viabilidade dura cerca de 12 minutos após sua dispersão pelo vento. O fruto é do tipo cariopse, ou seja, há apenas uma semente por fruto (SCARPARI; BEAUCLAIR, 2010). O gênero Saccharum possui 6 espécies, mas somente a S. officinarum possui alta concentração de açúcar com finalidade comercial. Entretanto, a cana hoje cultivada no Brasil e no mundo é um híbrido entre S. officinarum L. e S. spontaneum L. Isso porque S. offininarum tem altos níveis de açúcar, mas é pouco resistente a doenças e a S. spontaneum, apesar de não acumular sucrose, é muito resistente a doenças. Assim, o híbrido resultante acumula sucrose e é mais resistente a doenças. Cultulra industriais 131 Unidade 4 Cana-de-Açúcar Implantação da cultura Clima e solo Dentre as culturas industriais estudadas nesta disciplina, a cana-de-açúcar destaca-se quanto ao número de estudos realizados buscando conhecer as condições ideais de clima e solo para o seu cultivo e maximização da produtividade. Os fatores de solo que podem estimar o potencial de uma área para produção de cana-de-açúcar são: a profundidade do solo; a fertilidade; textura; e, a disponibilidade de água (PRADO et al., 2010). Estes autores descrevem que a profundidade do solo está diretamente relacionada com o volume de solo explorado pelas raízes e com a disponibilidade de água. A fertilidade do solo relaciona-se à disponibilidade de nutrientes à cultura. Já a textura relaciona-se com os teores de matéria orgânica do solo, com a CTC e a disponibilidade de água. A água é parte da solução do solo, que é vital à sobrevivencia das plantas. De forma geral, Argissolos, Latossolos, Nitossolos, Chernossolos, Cambissolos e Gleissolos com alta quantidade de água disponível, eutróficos/ eutroférricos/mesoférricos e com CTC média/alta são considerados como solos com potencial de alta produtividade para o cultivo da cana-de- açúcar. Quanto às exigências climáticas da cultura da cana-de-açúcar, devem-se considerar as temperaturas máximas e mínimas, fotoperíodo, radiação solar e precipitação. Conforme Brunini (2010), o cultivo da cana- de-açúcar é realizado desde a latitude 35 ºN até a 35 ºS. Esta cultura se desenvolve bem em locais com temperaturas entre 30 e 34 ºC, sendo que o seu crescimento é lento em temperaturas abaixo de 25º ou acima de 35 ºC (TAUCNNIER; BASSEREAU apud BRUNINI, 2010). De forma geral, 12 a 12,5 horas de fotoperíodo são necessárias para a indução do florescimento desta cultura. Após a indução floral, inicia-se o processo de isoporização da cana-de-açúcar. Como a cana-de-açúcar é uma planta do tipo C4, quanto maior for a radiação solar, mais intensa será sua fotossíntese, maior será a produção de açúcares. Nas regiões com mais tradição na produção canavieira a precipitação anual está entre 1000 e 1600 mm (BRUNINI, 2010). Produção de mudas e propagação A produção de mudas saudáveis é o primeiro passo para o sucesso na implantação da cultura da cana-de-açúcar. A propagação da cultura da cana-de-açúcar é geralmente vegetativa. De forma geral, utilizam-se plantas de um canavial com idade entre 8 e 10 anos para a retirada das mudas que darão origem a um novo canavial. É desejável que o canavial que irá fornecer as mudas esteja bem nutrido e isento de pragas e doenças para que possa dar origem a plantas saudáveis. Culturas industriais 132 Unidade 4 Cana -de-açúcar Diversas técnicas podem ser utilizadas para a propagação da cana-de-açúcar, dentre elas estão: “quebra-quebra”, “divisão de touceiras”, “meiose”, “cultivo de meristemas” e “minitoletes”. Estas técnicas são detalhadas por Xavier; Mendonça; Sanquino (2010). Para a técnica do “quebra-quebra”, devem-se cortar colmos com 5 a 7 gemas viáveis de plantas com aproximadamente seis meses de idade e plantá-las para formação de um novo talhão. Em relação a “divisão em touceiras”, a muda é plantada e após 60 dias é desmembrada e replantada. Para “meiose” devem-se plantar duas linhas de cana, deixando-se 10 linhas livres para a rotação de cultura. Após a colheita da cultura intercalar (cultura plantada nas entrelinhas da cana), a cana é quebrada e plantada nas dez linhas previamente oculpadas pela cultura intercalar. No cultivo de meristemas, os meristemas são retirados de mudas provenientes de viveiros, tratados termicamente e submetidos a controle fitossanitário e testes sorológicos de diagnose das principais doenças. Após o cultivo do meristema, a plântula é transplantada para o substrado, aclimatizada e finalmente transferida para o campo. Preparo do solo para plantio O primeiro passo para o preparo do solo para o plantio da cana-de-açúcar deve ser a amostragem do solo para análise química das camadas de 0 a 20 cm e 20 a 40 cm. Após a análise de solo, caso necessário, deve-se realizar a calagem buscando a saturação por bases em 60%. Metade da quantidade necessária de calcário deve ser aplicada antes da aração e outra metade após aração, incorporando-se com grade niveladora (STORINO; PECHE FILHO; KURACHI, 2010). Korndörfer, Ribeiro; Andrade (1999) recomendam a gessagem se os teores de Ca2+ na camada 20-40 cm forem inferiores a 0,4 cmolc dm -3 e/ ou a saturação por Al3+ for maior que 40%. A dose de gesso é estabelecida conforme se segue: Teor de argila (%) x 60 = kg ha-1 de gesso. A fosfatagem realizada com fosfato natural ou termofosfato em área total deve ser feita buscando-se incorporar o fosfato o mais profundo possível. Storino; Peche Filho; Kurachi (2010) recomendam ainda que antes de qualquer operação é necessário que se observe alguns itens como: tipo de solo; tipo de colheita; épocas de plantio e de colheita; tipo de preparo do solo; tipo do traçado (em nível ou em quadra); cobertura do solo;e, o tamanho e geometria dos talhões. Sistemas de preparo reduzidos do solo veem sendo utilizados no cultivo da cana-de-açúcar. Conforme Storino; Peche Filho; Kurachi (2010), estes sistemas utilizam implementos menos agressivos como: os escarificadores; técnicas conservacionistas, como a rotação de culturas; Cultulra industriais 133 Unidade 4 Cana-de-Açúcar adubação verde; e, culturas com sistema radicular pivotante. A associação de leguminosas e o plantio direto sobre a soja veem sendo preconizados como preparo conservacionista do solo para o cultivo da cana-de-açúcar. Algumas variações no sistema de preparo mínimo sobre a ótica conservacionista são sugeridas por Coleti (2010): Associação com leguminosas: • Dessecação do canavial anterior; • Aplicação de corretivos; • Semeadura a lanço de leguminosas (cortalária juncea, crotalária spectabilis, feijão-guandú); • Subsolador/destorroador/incorporador; • Pousio no verão; • Incorporação da massa, preferencialmente com rolo faca; • Aguarde de tempo para secagem da massa verde; e, • Sulcação e plantio. Rotação de cultura com grãos: Modalidade 1 • Dessecação da cana soca velha; • Distribuição de corretivos; • Incorporação com subsolador/destorroador; • Plantio da cultura eleita para rotação (ex: soja ou amendoim); e, • Pousio no verão e colheita do grão no outono. Modalidade 2 • Distribuição de corretivos após o corte; • Subsolador/destorroador; • Plantio de soja que permita a dessecação de remanescentes da soca; • Pousio no verão e colheita do grão no outono; e, • Sulcação e plantio. Espaçamento, preparo da cova e plantio Na região Centro-Sul, o plantio geralmente ocorre entre setembro e outubro para “cana de ano” e janeiro a março para “cana de ano e meio”. No Nordeste, o plantio ocorre entre junho a setembro, ou seja, durante inverso chuvoso (RIPOLI; RIPOLI, 2010). De forma geral, espaçamentos mais adensados requerem maiores cuidados com pragas e doenças, exportam maior quantidade de nutrientes por área além de outros fatores. Contudo, plantios adensados, ao que Culturas industriais 134 Unidade 4 Cana -de-açúcar indica, oferecem maiores produtividades. Os espaçamentos entre linhas de plantio de cana-de-açúcar de 1 m eram superiores quando comparado com os talhões espaçados em 2 m (GALVANI et al., 1997). Contudo, estes autores concluiram que os espaçamentos em torno de 0,90 m aumentaram ainda mais a produtividade. Conforme Anjos e Figueiredo (2010), o espaçamento para o plantio da cana-de-açúcar pode variar de 0,80 até 1,50 m, em áreas mecanizadas deve ser de 1,30 até 1,50 m. Para o cultivo de cana-de-açúcar forrageira no Estado de Rondônia, o espaçamento de 1,20 m é o adequado. Após a realização do preparo da terra, como descrito no tópico “Preparo do solo para plantio” desta unidade, devem-se abrir os sulcos de plantio no solo com o auxílio de sulcadores, enxadões ou equipamentos similares disponíveis. De forma geral, a profundidade de plantio deve variar entre 25 e 30 cm (ANJOS; FIGUEIREDO, 2010). Após o preparo do sulco realiza-se a adubação conforme descrito no tópico – “Tratos culturais/Adubação”. Então, após o preparo das mudas como descrito no tópico “Produção de Mudas”, as mudas/toletes devem ser destribuidas no solo, horizontalmente, no sentido do sulco, numa profundidade variando entre 25 e 30 cm. Finalmente as mudas devem ser cobertas com uma capa de aproximadamente 8 cm de terra. Esta operação pode ser realizada com auxílio de enxadas ou então mecanicamente, utilizando-se um equipamento cobridor tracionado por um trator. Tratos culturais Dentre os principais tratos culturais da cana-de-açúcar Coleti (2010) destaca: i) o fornecimento de água; ii) o fornecimento de nutrientes; e, iii) o controle de plantas daninhas. Certamente a absorção dos nutrientes fornecidos dependerá da disponibilidade de água. Ou seja, a planta só terá nutrientes disponíveis à absorção se estes estiverem no solo sob forma assimilável na solução do solo. Assim, o controle das plantas daninhas por sua vez é importante para diminuir a competição por água, nutrientes e luminosidade com a cana-de-açúcar. Na ausência de um sistema de irrigação, o fornecimento de água dependerá da época da chuva. Assim, a escolha da variedade e a época do plantio devem ser previamente determinadas para combinar a necessidade hídrica da variedade e a época de chuva na região. Entretanto, o uso de sistemas de irrigação pode possibilitar o fornecimento de água para a cultura em épocas de estiagem. Além disto, a presença da cobertura morta sob o solo também diminui a perda d’água através da evaporação, o que pode elevar a disponibilidade de água às plantas. Controle de plantas daninhas O controle das plantas daninhas pode ser realizado através de: i) Cultulra industriais 135 Unidade 4 Cana-de-Açúcar medidas preventivas; ii) manejo cultural; iii) método mecânico; iv) método físico; e, v) método químico (AZANIA; ROLIM; AZANIA, 2010). Estes autores relatam que dentre as medidas preventivas estão o cuidado com as mudas que devem ser bem limpas e cortadas com cuidado. Além disto, deve-se ter atentar com a aplicação de vinhaça e outros resíduos para garantir que estes não transportem sementes para a área de cultivo. As ferramentas, veículos e equipamentos que transitam nas diferentes áreas dentro e fora da propriedade devem ser sempre limpos para evitar a contaminação das áreas de cultivo. O manejo cultural inclui o uso correto de espaçamento de mudas, escolha das variedades adaptadas, manejo adequado do solo, uso racional da água, profundidade correta de plantio. Os métodos físicos consitem na adição de materiais como serragem, bagaço de cana e palhas sobre a superfície do solo que impediram a incidência de raios solares sobre o solo, evitando assim a germinação e desenvolvimento das plantas daninhas. Por fim os métodos químicos consistem no uso de herbicidas para o controle das plantas daninhas. Cobertura morta A adição de cobertura morta ou a manutenção de restos culturais em cobertura sobre o solo é considerada como técnica mecânica de controle de plantas daninhas. Além dos efeitos da cobertura morta no controle de plantas daninhas, lembramos que esta cobertura morta ou matéria orgânica, proporcionará vários benefícios físicos, químicos e biológicos para o solo como: i) ciclagem de nutrientes; ii) aumento da CTC; iii) redução da adsorção de P em solos sob clima tropical; iv) aumento da atividade microbiana do solo; v) redução da temperatura na superfície do solo; vi) redução da variação de temperaturas extremas na superfície do solo; vii) aumento da taxa de infliltração de água no solo; viii) controle da erosão do solo; ix) manutenção da umidade do solo; x) inibição da brotração de plantas daninhas; e, xi) diminuição do banco de sementes de plantas daninhas no solo. Adubação Assim como para as demais culturas industriais já estudadas, para a região Norte, poucos estudos foram realizados quanto à recomendação de corretivos e fertilizantes. Já os Estados do Sudeste, Centro-Oeste do Brasil já possuem recomendações de adubação para cana-de-açucar bem definidas. De forma geral a recomendação da adubação com N, P e K para o cultivo da cana-de-açúcar é feita conforme o resultado da análise de solo e a produtividade esperada. Vamos exemplificar. Tendo-se o resultado da análise de solo e o teor de argila no solo, o primeiro passo é identificar a faixa dos teores de P e K no solo conforme quadro 5 utilizado para o Estado de Minas Gerais. Ora, se o teor de argila do solo é de 70% e os Culturas industriais 136 Unidade 4 Cana -de-açúcar teores de P e K no solo, conforme análise de solo, são 24 mg dm-3 e 100 mg dm-3, respectivamente, quais são os critérios de interpretação para este solo? Com base no quadro 5, o P está no nível médio e o K no nível bom. Característica Muito baixo Baixo Médio Bom Muito bom Argila P disponível – Mehlich 1 (mg
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