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30/10/2020 UNINTER - CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/16 CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO AULA 1 Prof. José Luis Modena 30/10/2020 UNINTER - CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/16 CONVERSA INICIAL No decorrer desta aula, faremos uma abordagem introdutória a respeito da contabilidade aplicada ao setor público. Para tanto, no primeiro item, traremos um conceito da contabilidade pública, objetivos e entidades obrigadas a aplicar esses preceitos. Em seguida, serão apresentadas as leis orçamentárias aplicadas no Brasil, bem como as situações excepcionais que ensejam a inserção de créditos adicionais. No Tema 4, serão apresentados os subsistemas em que são registrados e evidenciados os atos e fatos contábeis. Por último, esclareceremos o regime adotado para os registros contábil e orçamentário. CONTEXTUALIZANDO A contabilidade tem a potencialidade de gerar informações para os mais variados usuários e setores da economia. Nas entidades classificadas como de direito público, essa realidade não poderia ser diferente. Os dados gerados pela contabilidade, por exemplo, são responsáveis por evidenciar a quantidade de gasto do governo; áreas que estão consumindo maiores recursos; arrecadação pública; tributos que têm maior representatividade nas receitas públicas; dentre outras informações imprescindíveis para a gestão e o controle público. Todo esse conteúdo é evidenciado pela área da contabilidade chamada contabilidade aplicada ao setor público, que possui algumas especificidades, aderentes às necessidades do setor público. Falaremos sobre a designação dessa área no decorrer desta aula. Não obstante, na área pública também existe uma preocupação relacionada à despesa e receita pública. Como, então, o governo autoriza e processa esses dispêndios e entradas de recursos? A propósito, esse registro é pelo regime de caixa ou de competência? No decorrer da aula, tentaremos trazer informações que irão auxiliá-lo a sanar essas e outras dúvidas. TEMA 1 – ASPECTOS INTRODUTÓRIOS 30/10/2020 UNINTER - CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/16 Neste tópico, veremos algumas questões introdutórias relacionadas à contabilidade pública. Com essa pretensão, descreveremos, com base em aspectos normativos e doutrinários, os conceitos atinentes a essa área da ciência social aplicada, entidades obrigadas a observar tais preceitos contábeis e, por fim, objetos implícitos na norma. 1.1 CONCEITO O conceito de contabilidade pública foi definido na NBC 16.1, cujo texto traz a seguinte literalidade: Contabilidade Aplicada ao Setor Público é o ramo da ciência contábil que aplica, no processo gerador de informações, os Princípios de Contabilidade e as normas contábeis direcionados ao controle patrimonial de entidades do setor público. Embora esse dispositivo normativo que conceituou esse ramo da ciência social tenha sido revogado pelas Normas Brasileiras de Contabilidade Técnicas do Setor Público de 2016 (NBC TSP), seu conteúdo ainda evidencia ideias presentes até os dias atuais. Ademais, cumpre salientar que a nova norma não trouxe um novo conceito da contabilidade pública, deixando assente que o texto anterior que discorre sobre o assunto permanece com preceitos aplicáveis. Partindo para a análise do conceito trazido pela NBC 16.1, constata-se que a norma indica que a contabilidade pública estaria relacionada com o processo de geração de informações. Araújo e Arruda (2020) explicam que essa ação gerar dados implica na captação de fatos, registro e divulgação dos mesmos, além de terem potencialidade de afetar o patrimônio público, cooperando para ações de controle e na tomada de decisões. Não obstante, esse ramo da ciência aplicado ao setor público também estaria subordinado a princípios e normas norteadoras da contabilidade. Talvez, diante dessa inferência, você esteja se perguntando se essa parte da norma ainda estaria válida, tendo em vista a revogação da Resolução 750/93 e 1282/10, que tratavam sobre os princípios na contabilidade. Diante dessa realidade, primeiramente destacamos que a maior parte desses princípios que outrora figuravam expressos na norma, ainda produzem efeitos nos registros patrimoniais, pois fazem parte da doutrina contábil. Um exemplo é o princípio da continuidade, que ainda vigora, inclusive na atual norma, sendo denominado simplesmente como premissa. Em outras palavras, a contabilidade continua obedecendo princípios consagrados na teoria e implícitos nas novas normas. 30/10/2020 UNINTER - CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 4/16 Ainda no campo normativo, que também figura como fonte da contabilidade pública, encontramos regras em algumas leis do direito financeiro e nas NBC TSP. De modo exemplificativo, temos a Lei 4.320/64, que traz normas gerais do direito financeiro; a Lei 10.180/2001, que dentre algumas atribuições, tem a de organizar a contabilidade federal; e a Lei 101/2000, conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LOA). Essas leis, bem como outros dispositivos legais, embasam a contabilidade aplicada ao setor público. 1.2 ALCANCE Conforme vimos anteriormente, a contabilidade pública é consagrada no controle patrimonial de determinadas entidades. Elucidando essa abrangência de aplicabilidade, a NBC TSP Estrutura Conceitual (2016), determina que as entidades públicas deverão atender a esse regimento, de modo indiscriminado. Nesse rol, estariam inclusas as entidades da administração direta, como o governo nacional, estadual, distrital e municipal, assim como entidades da administração indireta, incluindo empresas públicas dependentes. Em relação às empresas públicas independentes, conforme disposto no item 1.8 D na NBC TSP Estrutura Conceitual (2016), a adoção será facultativa. Esse tipo de organização, a exemplo da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil e da Petrobras, fazem parte da administração pública indireta e não recebem repasses governamentais para amparar despesas operacionais. Assim, conforme determina a regra, somente seriam obrigadas a adotar regras pertinentes à contabilidade pública, caso o órgão regulador assim dispusesse. 1.3 OBJETIVOS Os objetivos da contabilidade aplicada ao setor público estão descritos implicitamente na Lei 4.320/64, arts. 83 a 89. Sintetizando, compreendem: a. evidenciar fatos relacionados à movimentação orçamentária, financeira, patrimonial e industrial; b. cooperar para a prestação de contas dos entes públicos para o devido controle do Tribunal de Contas; c. permitir o acompanhamento da execução orçamentária. TEMA 2 – ORÇAMENTO PÚBLICO 30/10/2020 UNINTER - CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 5/16 Uma das características relacionadas à atividade pública é a necessidade de respaldo legal para efetivação de ações. No art. 37 da Constituição Federal de 1988, ao mencionar sobre as disposições gerais da administração pública, o legislador insere a necessidade de obediência ao princípio da legalidade. Já no inciso II do art. 5º dessa Carta Magna, infere-se que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei” (Brasil, 1988), ou seja, atos e fatos públicos que muitas vezes ensejam registros contábeis necessitam de leis autorizativas. No caso das despesas e receitas públicas, existe a necessidade de observar esse mesmo preceito. No Brasil, essa parte das finanças governamentais é tratada por três leis: Plano Plurianual; Lei de Diretrizes Orçamentárias; e o Orçamento Anual. 2.1 PLANO PLURIANUAL (PPA) O Plano Plurianual (PPA) constitui o rol de diretrizes legais norteadores do orçamento público brasileiro, cuja previsão está contida no parágrafo 1º do art. 165 da CF de 1988: A Lei que instituir o plano plurianual estabelecerá,de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. (Brasil, 1988) Perceba que o constituinte deixou expressa a necessidade de considerar diretrizes, objetivos e metas de forma regionalizada. Giacomoni (2017) lembra que os últimos planos plurianuais, de nível nacional, foram elaborados considerando as cinco regiões geográficas do país (Sul, Sudeste, Centro- Oeste, Norte, Nordeste). O autor, no entanto, destaca que isso não seria uma regra, sendo possível empregar outra forma de regionalização. Não obstante, destaca-se que nos estados e municípios essa consideração regional também pode ser aplicada. No estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, o PPA 2020-2023, estabeleceu programas para atender às necessidades de nove regiões funcionais de planejamento. Nos municípios, por outro lado, essa divisão é um desafio, que para Giacomoni (2017) apresentaria vantagens somente para municípios maiores, com experiência em zoneamento. De todo modo, a pretensão governamental com essa consideração regional no PPA é de que o orçamento reconheça as diferenças existentes nas diversas partes de uma unidade federativa. No que tange ao conteúdo dessa lei orçamentária, nota-se no texto constitucional a previsão obrigatória das despesas de capital e aquelas de duração continuada. Despesa de capital, de acordo 30/10/2020 UNINTER - CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 6/16 com a Lei 4.320/64, seriam investimentos; inversões financeiras; e transferências de capital (discutiremos esse assunto com maior profundidade nas próximas aulas). Já os programas de duração continuada, conforme esclarece Squizzato (2013), seriam gastos públicos que ultrapassam um exercício financeiro. De maneira exemplificativa, sobre essas previsões orçamentárias de cunho obrigatório no PPA podemos citar a conclusão das obras do Hospital Júlio Muller, no Município de Cuiabá. Essa despesa de capital foi prevista na Lei federal n. 13.971/2019 (PPA 2020-2023) para atender ao programa de Atenção Especializada à Saúde, com estimativa de término para 2022. Caso não existisse previsão no PPA, o governo federal não poderia destinar recursos para essa obra, tendo em vista o tipo de despesa e o período de abrangência. Em relação ao prazo de vigência dessa lei, o parágrafo 2º do art. 35 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), determina que vigorará por quatro anos, iniciando sua validade no segundo ano do mandado do chefe do poder executivo. Caso não seja uma reeleição, durante o primeiro ano de mandato do governante, será baseado no PPA do seu antecessor. 2.2 LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS (LDO) A Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO) também possui previsão constitucional. De acordo com o parágrafo 2º do art. 165 da CF: A Lei de diretrizes orçamentaria compreenderá as metas e prioridades da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente, orientará a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações tributárias e estabelecerá a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. (Brasil, 1988) Em análise a esse dispositivo constitucional, note que o legislador estabelece funções para que essa lei funcione como um elo entre o PPA e a LOA. Se de um lado o PPA define estratégias de atuação para um período de quatro anos, por outro, a LDO priorizará algumas dessas ações, que deverão ser operacionalizadas pela LOA no decurso de um ano. Imagine, por exemplo, que determinado PPA municipal defina como despesa de capital a construção de uma nova creche e de um hospital, e a reforma das repartições públicas. Por questões financeiras, às vezes não é possível que todos os projetos contidos nessa lei estratégica sejam executados concomitantemente, já no primeiro ano de validade do PPA. É nesse cenário que a LDO 30/10/2020 UNINTER - CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 7/16 desempenha papel fundamental, priorizando projetos julgados de maior relevância, que serão executados pela LOA no exercício subsequente. Não obstante, a LDO ainda irá dispor sobre as alterações da legislação tributária. Squizzato (2013) explica que essa incumbência constitucional não implica que uma modificação da legislação tributária deva ser previamente autorizada pela LDO; trata-se, portanto, apenas da necessidade de considerar as mudanças tributárias para fins de orientação da elaboração da LOA. Caso exista o estabelecimento de incentivo fiscal, por exemplo, os impactos orçamentários deverão ser verificados pela LDO, afim de que as expectativas de arrecadação sejam devidamente atualizadas. Ainda sobre o conteúdo, essa lei orçamentária destaca que também deverá dispor sobre as políticas de aplicação das agências oficiais de fomento. Em nosso país, temos relevantes entidades de fomento, como o Banco do Brasil, usualmente atuante em políticas de incentivo ao agronegócio, e a Caixa Econômica Federal, envidando esforços para o déficit habitacional. Dada a relevância para o contexto de desenvolvimento econômico e social, esses direcionadores são estabelecidos pela LDO. No que tange ao prazo de validade, assim como ocorre no PPA, o respaldo legal está contido no inciso II do parágrafo 2º do art. 35 da ADCT. Em observância a esse dispositivo legal, a LDO será encaminhada pelo executivo ao Congresso Nacional, para votação, até o dia 15 de abril e devolvida até 17 de julho. Esse processo deverá ocorrer todos os anos, tendo em vista tratar-se de uma lei com validade de um ano. 2.3 LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL (LOA) Na Lei Orçamentária Anual (LOA), o poder público realiza a fixação de despesas e a previsão de receitas, em conformidade com o PPA e a LDO. Em outras palavras, é o texto legal que autoriza a realização de dispêndios financeiros, com base nas receitas estimadas. Para cumprimento dessa incumbência de operacionalização orçamentária, a LOA compreenderá a junção de três orçamentos: fiscal; de investimento das empresas controladas pelo poder público; e de seguridade social. a. Orçamento fiscal: esse orçamento, conforme explicitado por Squizzato (2013), compreenderá as receitas e despesas da administração pública direta e indireta. Por administração direta, entende-se entidades políticas do Estado, ou seja, União, estados, Distrito Federal e municípios. Já a administração indireta é representada por entidades descentralizadas, como autarquias, fundações públicas e empresas estatais. Essas previsões relacionadas à arrecadação e aos 30/10/2020 UNINTER - CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 8/16 gastos públicos contidos no orçamento fiscal, possuem notória relevância para o funcionamento da máquina pública. Crepaldi (2013) destaca que esse orçamento é responsável para prever tanto as despesas usuais do governo como aquelas destinadas à realização de novos investimentos. O respaldo legal para empregar o dinheiro público em despesas com salários, energia elétrica, bem como outros dispêndios necessários para manutenção do poder público e realização de obras são previstos nesse fragmento da LOA. Em relação à receita pública de cunho fiscal, também deverá ser prevista no orçamento. Conforme já mencionamos, essa parte funciona como um respaldo legal para realização dos gastos, já que a autorização para a cobrança de tributos, que é a principal fonte de arrecadação, está contida no direito tributário. b. Orçamento de investimento das empresas controladas pelo poder público: Essa parte do orçamento alcança os investimentos realizados pelas empresas cujo capital é controlado pelo poder público, como Banco do Brasil e Petrobras. Outras despesas e receitas desse tipo de organização não estão incluídas no orçamento público. Como exemplo,tem-se que as receitas geradas pela Petrobras, bem como suas despesas operacionais, não são previstas pela lei orçamentária brasileira, não necessitando de aprovação legislativa prévia. Por outro lado, os investimentos em ativo imobilizado estarão compreendidos na LOA. c. Orçamento de seguridade social: as receitas e despesas relacionadas à saúde, previdência e assistência social estarão listadas no orçamento de seguridade social. É o que explica Giacomoni (2017), destacando que grande parte das entidades públicas possuem previsões nesse tipo de orçamento, pois usualmente executam a título de exemplo, despesas com salários de inativos, bem como no amparo financeiro na saúde dos servidores. Esses três fragmentos orçamentários irão compor a LOA, em um processo dinâmico de renovação anual. A cada exercício, considerando o disposto no inciso III do art. 35 da ADCT, o projeto de lei será encaminhado para a casa legislativa até 31 de agosto, devendo ser devolvido para o Executivo até 22 de dezembro. Passando por esse processo legislativo, bem como da publicação, a LOA passa a ter validade, fixando despesas e prevendo receitas. TEMA 3 – CRÉDITOS ADICIONAIS Embora as estimativas orçamentárias realizadas pelo poder público, devam aproximar-se de uma realidade concreta, situações imprevistas poderão ocorrer. Temos o caso, por exemplo, do 30/10/2020 UNINTER - CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 9/16 coronavírus, que além de causar danos à saúde pública, também impactou as finanças brasileiras em 2020. No primeiro semestre do ano, de acordo com informações do Portal da Transparência do Governo Federal, foram liquidadas despesas para enfrentamento dessa pandemia, no montante de R$ 14,43 bilhões. Frente a isso, como poderia o chefe do poder executivo prever na LOA, elaborada em 2019, esses novos gastos? Para atender a esse tipo de situação imprevista, bem como dotações orçamentárias insuficientes, existem os créditos adicionais. É o que estabelecem os arts. 40 e 41 da Lei 4.320 de 1964 ao elencarem possibilidades de o Poder Executivo executar despesas não previstas nos créditos ordinários aprovados previamente na LOA. Para tanto, de acordo com esse dispositivo legal, o Poder Público contará com três possibilidades de incrementar a dotação orçamentária inicial: créditos suplementares, especiais e extraordinários. 3.1 CRÉDITOS SUPLEMENTARES Os créditos suplementares são abertos por decreto do Poder Executivo, devendo existir lei prévia autorizativa. De acordo com parágrafo 8º do art. 165 da CF de 1988, essa autorização poderá estar contida na própria LOA. Caso não exista essa previsão, outra lei ordinária deverá ser votada e aprovada pelo poder legislativo, para então viabilizar essa suplementação de despesas. Outra peculiaridade pertinente a esse tipo de retificação orçamentária é a necessidade de recursos que permitam amparar as novas despesas. Giacomoni (2017) explica que essa prerrogativa legal é uma extensão do que já ocorre na fixação de despesas na lei orçamentária. Para que uma despesa seja aprovada, existe a necessidade de estimativa de recursos suficientes para amparar os gastos (falaremos mais sobre isso quando abordarmos balanço orçamentário, nas próximas aulas). O art. 43 da Lei 4.320/64 elenca os recursos que poderão ser utilizados para amparar os créditos suplementares. O superávit financeiro é uma dessas fontes que representam a diferença positiva entre o ativo financeiro e o passivo financeiro. Também poderá amparar os créditos suplementares o excesso de arrecadação, ou seja, aquilo que ultrapassar as receitas previstas. Anulação total ou parcial de despesas aprovadas na LOA, ou até mesmo em outro crédito adicional, também é considerada como fonte para abertura de despesas. Por último, temos os recursos gerados por meio de operação de crédito, desde que atendam às prerrogativas legais do direito financeiro. 30/10/2020 UNINTER - CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 10/16 Além disso, a abertura dos créditos suplementares também está condicionada à apresentação de justificativa, isto é, o executivo não poderá simplesmente determinar o valor e a fonte do recurso para abertura do crédito, mas terá de apresentar as razões que validem esse ato público. 3.2 CRÉDITOS ESPECIAIS Os créditos especiais, diferentemente do que ocorre com os suplementares, são criados para suprir despesas que não possuem dotação orçamentária. Seria o caso, por exemplo, de uma ação desenvolvida pelo Ministério da Educação para fomentar cursos técnicos a distância, que não estavam previamente fixados na LOA. No que se refere ao mecanismo legal para inserir essa exceção no rol de despesas autorizadas, é necessário obedecer aos pressupostos contidos no artigo 42 da Lei 4.320 de 1964. De acordo com essa orientação legislativa, é preciso existir uma lei autorizativa, não podendo ser a LOA, aprovada previamente pelo poder legislativo. Frente a essa permissão, o crédito especial poderia adentrar no orçamento público por meio de um decreto executivo. Não obstante, salienta-se que a abertura desse tipo de crédito também está condicionada à existência de fonte de recursos. O rol de possibilidade é o mesmo dos apresentados para abertura dos créditos suplementares. Por último, destacamos o prazo de validade dos créditos adicionais, que poderão ultrapassar o exercício financeiro. Conforme previsto no parágrafo 2º do art. 167 da CF de 1988, caso esse tipo de crédito seja aprovado nos últimos quatro meses do exercício financeiro, sua utilização poderá ocorrer até o encerramento do exercício subsequente. 3.3 CRÉDITOS EXTRAORDINÁRIOS Essa modalidade de crédito é destinada ao amparo de situações imprevistas e urgentes. No parágrafo 3º do art. 167 da CF de 1988, o constituinte, de modo exemplificativo a essa hipótese, cita guerras, comoção interna e calamidade pública. Diante dessas situações, o Poder Executivo detém algumas facilidades para abertura desse tipo de crédito adicional, em comparação com as demais modalidades. Em primeiro lugar, não há necessidade de indicar a fonte de recursos para amparar essa suplementação orçamentária. Além 30/10/2020 UNINTER - CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 11/16 disso, os créditos extraordinários poderão ser implantados pela medida provisória, não sendo necessário lei prévia autorizativa. Nesse caso, o Poder Executivo deverá informar prontamente ao legislativo sobre a edição desse dispositivo legal. No que tange ao prazo de vigência, ocorre situação igual ao crédito especial. Sendo aprovado nos últimos quatro meses do exercício financeiro, poderá ser utilizado até o encerramento do exercício seguinte. Vale ainda ressaltar que essa modalidade de crédito foi utilizada para enfrentamento de emergências na saúde pública, decorrentes do coronavírus, por exemplo. Para tanto, o presidente da república editou a Medida Provisória n. 969/2020, em favor do Ministério da Saúde. Essa lei possibilitou a abertura de R$ 10 bilhões de crédito adicionais, não previstos na LOA. Saiba mais No portal da transparência do governo federal, é possível acompanhar informações relacionadas aos gastos públicos nas ações de enfrentamento ao coronavírus. Disponível em: <http://www.portaltransparencia.gov.br/programas-e-acoes/acao/21C0-enfr entamento-da-emergencia-de-saude-publica-de-importancia-internacional-decorrente-do-coro navirus>. Acesso em: 09 set. 2020. TEMA 4 – SUBSISTEMAS DE INFORMAÇÃO CONTÁBIL Conforme relatado nos temas 2 e 3 desta aula, em finanças públicas existem leis que preveem receitas e fixam despesas. Essa previsibilidade, bem como sua concretização na realidade concreta, produz efeitos na situação orçamentária, financeira e patrimonial das entidades públicas. Esses efeitos, por sua vez, que correspondem aos atos e fatos contábeis, são registrados em diferentes subsistemas. Araújoe Arruda (2020) explicam que doutrinariamente a contabilidade realiza registro em quatro subsistemas: orçamentário, patrimonial, de custos e de compensação. Veremos que algumas ocorrências contábeis geram registros em mais de um subsistema. No entanto, em respeito ao método das partidas dobradas, o montante registrado a débito em um subsistema deverá conter a contrapartida a crédito no mesmo subsistema, ou seja, não é possível contabilizar débito no subsistema orçamentário e crédito no subsistema patrimonial. Destaca-se http://www.portaltransparencia.gov.br/programas-e-acoes/acao/21C0-enfrentamento-da-emergencia-de-saude-publica-de-importancia-internacional-decorrente-do-coronavirus 30/10/2020 UNINTER - CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 12/16 também que cada um desses subsistemas é responsável por trazer determinadas informações, cooperando para o controle e a divulgação contábil, conforme explicitados a seguir. 4.1 SUBSISTEMA ORÇAMENTÁRIO O subsistema orçamentário é destinado ao registro de atos e fatos relacionados às despesas e receitas aprovadas em lei. Conforme já estudamos, a LOA e os créditos adicionais inserem a previsibilidade de gasto e arrecadação pública. Demonstrativos contábeis estariam alinhados para registro daquilo que foi aprovado nesses dispositivos legais, bem como sua realização. De modo exemplificativo da empregabilidade desse subsistema, imagine que determinado governo estadual pretenda construir uma escola pública. O primeiro passo para que esse desejo seja materializado é a previsão legal nas leis orçamentárias. A aprovação da despesa vem acompanhada de um registro nos demonstrativos orçamentários, que será modificado à medida que os gastos públicos forem sendo concretizados. Essa realização no subsistema orçamentário é acompanhada e registrada de acordo com os estágios da receita e despesa pública. As despesas sucedem pela fase de empenho, liquidação e pagamento. As receitas, pelo processo de lançamento, arrecadação e recolhimento. Cada uma das etapas é registrada, cooperando para o controle e acompanhamento da arrecadação e dos gastos. Além de representar um mecanismo de controle, o subsistema orçamentário também é uma ferramenta gerencial. Araújo e Arruda (2020) se referem ao subsistema orçamentário como de natureza essencialmente gerencial, característica que decorre do fato de permitir que o governo possa comparar aquilo que foi previsto e fixado nas leis com as respectivas realizações. 4.2 SUBSISTEMA PATRIMONIAL O subsistema de informação patrimonial, como o próprio nome sugere, é direcionado para registro, processamento e evidenciação dos fatos que alteram o patrimônio da entidade pública. Para tanto, empregam-se princípios e regras contábeis para reconhecimento e mensuração dos ativos e passivos. No Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP), há menção do aspecto patrimonial, explicando que esse subsistema é responsável pela elaboração de alguns demonstrativos 30/10/2020 UNINTER - CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/16 contábeis. É o caso do balanço patrimonial (BP) e da demonstração das variações patrimoniais (DVP), que serão detalhados em aulas futuras. Kohama (2016) lembra ainda que esse subsistema também é responsável por apresentar o resultado econômico do setor público. Diferentemente do que ocorre nas empresas, em que se evidencia lucro ou prejuízo, no setor público os resultados são classificados como superavitários ou deficitários. Para os casos em que as receitas são superiores às despesas, tem-se superávit. Por outro lado, quando as despesas superam as receitas, evidencia-se um déficit. 4.3 SUBSISTEMA DE COMPENSAÇÃO No subsistema de compensação são registrados os atos de gestão que poderão afetar o patrimônio da entidade pública. Para Araújo e Arruda (2020), essa incumbência, além de representar uma maneira de registro desses valores, acaba funcionando como um controle, trazendo informações gerenciais para a administração pública. De forma exemplificativa desse tipo de registro, tem-se a assinatura de um convênio pela administração pública. Nesse caso, por se tratar de um ato, há registro somente nesse subsistema. 4.4 SUBSISTEMA DE CUSTOS O subsistema de custos é responsável por apurar custos dos produtos e serviços que são disponibilizados para a sociedade. De acordo com o item 2 das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (NBC T) 16.11, esse sistema teria o propósito de mensuração, apoio gerencial para tomada de decisão e controle (voltaremos a falar sobre esse sistema futuramente). Outra característica relevante desse subsistema é sua adoção obrigatória para todas as entidades públicas. Essa previsão está contida no item 7 da NBC T 16.11 e no parágrafo 3º do art. 50 da Lei de Responsabilidade Fiscal, que prevê a adoção de um sistema de custo pela administração pública, empregado como mecanismo de avaliação e acompanhamento da gestão governamental. TEMA 5 – REGIME DE CAIXA VERSUS COMPETÊNCIA Na doutrina contábil, ao falarmos sobre regime de registro dos fatos, apresentam-se duas possibilidades: de caixa e de competência. No regime de caixa, receitas e despesas são registradas 30/10/2020 UNINTER - CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/16 quando ocorre a transação financeira, ou seja, recebimento ou pagamento. Por outro lado, no regime de competência, conforme Gelbcke, Santos, Iudícibus e Martins (2018), as receitas e despesas são apropriadas em função da sua ocorrência, independente se impactaram ou não o caixa da entidade. E na contabilidade pública, qual regime é adotado? Para esclarecermos essa questão, primeiramente é necessário fazer uma distinção entre o enfoque orçamentário e o patrimonial. No enfoque patrimonial, os registros devem seguir o regime de competência, aderente às normas internacionais de contabilidade. O item 19 da NBC T 16.5, reforça esse entendimento, trazendo a seguinte literalidade: “as transações do setor público devem ser reconhecidas e registradas integralmente no momento em que ocorreram”. Quando falamos de registros em ênfase patrimonial, não há que se falar em outra alternativa a não ser o registro pelo regime de competência. Por outro lado, no enfoque orçamentário, as despesas são registradas pelo regime de competência e as receitas pelo regime de caixa. Esse preceito é mencionado na Lei 4.320/64, no seu art. 35, cujo texto determina que: pertencem ao exercício financeiro: I – as receitas nele arrecadas; II – as despesas nele legalmente empenhadas. (Brasil, 1964) Uma das razões da adoção desse enfoque para questões orçamentárias está no controle dos gastos públicos. De modo exemplificativo, temos o art. 42 da Lei de Responsabilidade Fiscal, que determina que o chefe do poder executivo, nos dois últimos quadrimestres do seu mandato político, não poderá contrair despesas sem a existência de disponibilidade financeira. TROCANDO IDEIAS Durante a aula, um dos assuntos abordados foi a fixação das despesas por meio das leis orçamentárias, bem como as situações excepcionais que ensejam a inserção de créditos adicionais. Diante disso, convidamos você a participar do nosso fórum de discussão para debater sobre possíveis situações que influenciem a abertura desse tipo de crédito, bem como as repercussões desse procedimento na organização orçamentária do ente público. Para apoiar esse debate, além do material apresentado nessa aula, você poderá fazer uma leitura no artigo “Fatores que impactam na qualidade do planejamento orçamentário dos municípios do https://periodicos.ufv.br/apgs/article/view/5517/5187 30/10/2020 UNINTER - CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 15/16 estado de São Paulo”, disponível em: <https://periodicos.ufv.br/apgs/article/view/5517/5187>. Acesso em: 09 set. 2020. NA PRÁTICA Oprefeito de determinado município, no terceiro ano de mandato, buscando honrar suas promessas eleitorais, anunciou que irá prever na LOA do próximo exercício a construção de uma nova escola. Sabe-se que não há nenhuma previsão em leis orçamentárias anteriores que prevejam a referida despesa. Diante desses fatos, seria possível a previsão desse gasto na LOA? A resposta a esse questionamento está no final deste material, após as referências. FINALIZANDO No decorrer desta aula, vimos que a contabilidade aplicada ao setor público representa a área destinada ao registro e à evidenciação de atos e fatos que afetam o patrimônio público. Receitas e despesas, para que possam produzir esses efeitos, necessitam de autorização prévia das leis orçamentárias (PPA, LDO e LOA). Situações imprevistas não alcançadas por esses dispositivos legais, podem adentrar no orçamento por meio dos créditos adicionais. Essa movimentação orçamentária, bem como sua realização no mundo concreto, é registrada em diferentes subsistemas. Conforme estudamos, existem basicamente quatro subsistemas: orçamentário; patrimonial; de custos; e de compensação. Por último, esclarecemos que no enfoque patrimonial, a contabilidade adota integralmente o regime de competência para os registros contábeis. Por outro lado, quando falamos sobre o enfoque orçamentário, em obediência à Lei 4.320/64, as despesas são reconhecidas pelo regime de competência e as despesas pelo regime de caixa. Nas próximas aulas, abordaremos aspectos atinentes à despesa pública. REFERÊNCIAS ARAÚJO, I.; ARRUDA, D. Contabilidade Pública da Teoria a Prática. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. https://periodicos.ufv.br/apgs/article/view/5517/5187 30/10/2020 UNINTER - CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 16/16 BRASIL. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília. Lei n. 4320, de 17 de março de 1964. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm> Acesso em: 04 set. 2020. BRASIL. Diário Oficial da União, Brasília. Constituição (1988), 05 out. 1988. CREPALDI, S. A. Orçamento Público. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. GELBCKE, E. R.; SANTOS, A. dos; IUDÌCIBUS, S. de; MARTINS, E. Manual de Contabilidade Societária. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018. GIACOMONI, J. Orçamento Público. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2017. KOHAMA, H. Contabilidade Pública – Teoria e Prática. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2016. SQUIZZATO, A. C. Direito Financeiro e Econômico. 1. ed. São Paulo: Método, 2013. GABARITO No caso hipotético evidenciado, a realização da despesa de capital não possui previsão no PPA e o Poder Legislativo não poderá aprovar a realização da despesa, sob pena de ilegalidade da LOA. Conforme vimos, despesas de capital e de duração continuada são de previsão obrigatória no PPA. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm
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