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1. DIFERENCIAR OS TIPOS DE HEMORRAGIA. (FECHADA E ABERTA E SUA CLASSIFICAÇÃO.) A hemorragia é a perda de sangue através de ferimentos ou pelas cavidades naturais, podendo ser também interna, sem exteriorização do sangue. Podem resultar de um trauma, mas também está presente em diversas condições clínicas. Os quadros agudos com grande perda de volume são graves e podem levar ao choque hipovolêmico e óbito, enquanto as perdas lentas e crônicas costumam levar a anemia ferropriva. As hemorragias podem ser classificadas em arteriais, venosas ou capilares e internas ou externas. As hemorragias arteriais apresentam como características um sangramento de coloração vermelho vivo, em jato pulsátil, enquanto nas venosas o sangue é mais escuro e sai contínua e lentamente, escorrendo pela ferida. Já as hemorragias capilares apresentam coloração intermediária, o sangue goteja lentamente pelo ferimento e geralmente é muito fácil estanca-las através da pressão direta. A hemorragia interna ocorre em uma cavidade pré- formada no organismo, como peritônio, pleura e pericárdio. O sangue não é observado no exterior, mas o indivíduo pode apresentar-se pálido, taquicárdico, sonolento, com pele fria e úmida. A suspeita pode ser feita através da avaliação do mecanismo do trauma e da avaliação inicial do paciente. Sabendo sobre a hemorragia, é importante entender como ela se apresenta morfologicamente. E as principais formas são petéquias, púrpuras, hematomas, equimose e apoplexia. PETÉQUIAS Consistem em pequenas hemorragias, e se apresentam em pequenos “pontinhos” hemorrágicos, que medem cerca de 1 a 2mm. As petéquias se formam por diapedese, ou seja, não há lesão no vaso. Geralmente, as hemácias fluem pela parede intacta do vaso. PÚRPURAS São pontos hemorrágicos maiores que as petéquias e chegam a cerca de 1cm. Também ocorrem por diapedese, mas podem acontecer, também, por reunião de petéquias EQUIMOSE Ao contrário das anteriores, ocorre por ruptura de vaso (pode ser gerada por traumatismos ou por enfraquecimento da parede vascular, por exemplo) e, então, há o extravasamento do sangue para fora do vaso. A equimose se apresenta em manchas planas, difusas e irregulares. É conhecida como hemorragia em lençol, justamente por não provocar elevação no local. É observada como uma mancha roxa na pele, causada por alguma pancada, por exemplo. Não há necessidade de nenhuma interferência, pois ela desaparece sozinha ao longo dos dias. HEMATOMA O hematoma também é ocasionado por ruptura de vaso. Ocorre um acúmulo (coleção) de sangue no tecido, formando uma elevação, um alto-relevo. Uma causa importante de hematomas é o pós-operatório imediato (poucas horas após o procedimento cirúrgico), por exemplo. APOPLEXIA A apoplexia ocorre também por ruptura de vaso, levando ao extravasamento de sangue. Ela acontece em duas situações: quando há uma grande hemorragia no organismo ou quando há qualquer hemorragia a nível cerebral (desde uma hemorragia mínima). 2. CONCEITUAR CHOQUE E PONTUAR SEUS TIPOS. O choque pode ser classificado em 4 tipos principais, baseados tradicionalmente no seu perfil hemodinâmico: hipovolêmico, cardiogênico, obstrutivo e distributivo. É importante ressaltar que o choque também pode ser misto. Por exemplo, nos pacientes com choque séptico, que podem apresentar também o componente hipovolêmico bem como cardiogênico associados. PRINCIPAIS ETIOLOGIAS DO CHOQUE PARA CADA CLASSIFICAÇÃO: HIPOVOLÊMICO O choque hipovolêmico é resultante da redução do volume intravascular secundário a perda de sangue ou fluidos e eletrólitos, gerando assim uma redução da pré-carga e consequentemente do débito cardíaco (DC). A resistência vascular sistêmica (RVS) aumenta numa tentativa de manter a perfusão de órgãos vitais. Sua causa mais comum é a hemorragia. Hemorragias externas ou internas (trauma, hemorragia digestiva) Perdas cutâneas (queimaduras extensas, febre), gastrointestinais (diarreia, vômitos) ou urinárias Sequestro de líquidos para o terceiro espaço (pancreatite, peritonite) É o tipo mais frequente e é causado por débito cardíaco inadequado devido à redução do volume sanguíneo. Dependendo da causa, o paciente pode apresentar hematêmese, hematoquesia, melena, náusea, vômitos, evidências de trauma, ou ser paciente de pós- operatório. Manifestações clínicas incluem pele, axilas, língua e mucosa oral secas, além de redução do turgor cutâneo. CARDIOGÊNICO Ocorre como consequência de uma falência da bomba cardíaca, resultando na incapacidade do coração de manter uma adequada perfusão tecidual, mesmo na presença de volume intravascular adequado. O infarto agudo do miocárdio (IAM) afetando ventrículo esquerdo representa 74,5% das suas causas. IAM (principalmente afetando ventrículo esquerdo) Arritmias Miocardiopatia dilatada avançada Causas mecânicas (defeitos valvares, ruptura de septo, aneurisma de parede) Insuficiência mitral aguda A má perfusão tecidual é resultado do baixo débito cardíaco devido a patologia cardíaca Dependendo da causa, pode haver dispneia, dor no peito ou palpitações. Muitos pacientes apresentam história de doença cardiovascular. Ao exame físico pode haver crepitantes à ausculta respiratória refletindo a congestão pulmonar, além de sopro, galope ou abafamento de bulhas a ausculta cardíaca. Pode haver sinais de congestão pulmonar a radiografia, sinais de isquemia miocárdica ao eletrocardiograma (ECG) além de elevação de enzimas cardíacas. OBSTRUTIVO Resulta de uma obstrução mecânica ao débito cardíaco, causando a hipoperfusão. Tromboembolismo pulmonar maciço Tamponamento cardíaco Pneumotórax hipertensivo Hipertensão pulmonar Coartação de aorta Ocorre devido a obstrução mecânica ao fluxo sanguíneo, o que gera redução do débito cardíaco e da perfusão. A presença de sinais de insuficiência respiratória, enfisema subcutâneo, ausência de murmúrio vesicular, timpanismo a percussão e desvio de traqueia sugerem fortemente pneumotórax hipertensivo. Taquicardia, bulhas abafadas e estase jugular sugerem tamponamento cardíaco. Outros sinais como dispneia, dor retroesternal, cianose e pulso paradoxal podem estar presentes e correlacionados a TEP, coartação de aorta, entre outros. DISTRIBUTIVO É caracterizado pela presença de má distribuição do fluxo sanguíneo relacionado a uma inadequação entre a demanda tecidual e a oferta de oxigênio, fenômeno descrito como shunt. O choque séptico é o exemplo clássico, mais importante e mais prevalente do choque distributivo, levando a altas taxas de mortalidade, que variam entre 20-50%. Entre outras causas, estão ainda a anafilaxia e o choque neurogênico. Diferentemente dos outros tipos de choque, o distributivo é consequência de uma redução severa da RVS, e o DC aumenta após a administração de fluidos numa tentativa de compensar a RVS diminuída. Choque séptico Choque anafilático Choque neurogênico (traumatismo raquimedular) Insuficiência adrenal Coma mixedematoso A má perfusão tecidual é resultado de vasodilatação periférica global que leva a redução acentuada da pressão de enchimento capilar, comprometendo o fornecimento de oxigênio pelos capilares. O débito cardíaco encontra-se preservado, já que não há problema com o coração nem como o volume circulante. OBS: ocorre vasodilatação, porque o mecanismo compensatório (vasoconstrição) não consegue atuar, já que a musculatura lisa arteriolar encontra-se lesada, não respondendo ao estímulo simpático. É o choque mais grave e com pior prognóstico devido à falha do mecanismo compensatório. Dependendoda causa, pode haver dispneia, tosse produtiva, disúria, hematúria, calafrios, mialgias, dor, história de picada de insetos ou trauma raquimedular. Ao exame físico, o paciente pode apresentar febre, taquipneia, taquicardia, petéquias, alteração do estado mental, rubor, e leucocitose ao hemograma. 3. DESCREVER O CHOQUE HEMORRÁGICO. (EPIDEMIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, DIAGNÓSTICO.) O choque hemorrágico está entre as principais causas de morte de vítimas de traumas, por isso a identificação precoce desta fisiopatologia é de extrema importância. Conforme os dados epidemiológicos apresentados por Etienne Krug, durante uma conferência na Organização Pan-Americana da Saúde/Organização mundial da Saúde (OPAS/OMS) no Brasil, em 28 de agosto 2012, a mortalidade por trauma corresponde a 10% de toda as causas de mortes registradas no mundo e, anualmente, 5,8 milhões de pessoas morrem por trauma, sendo este índice maior em pessoas com idade entre 05 e 44 anos. CLASSIFICAÇÃO FISIOLÓGICA O sistema de classificação apresentado a seguir é útil para enfatizar os sinais precoces e a fisiopatologia do estado de choque: • A hemorragia classe I é exemplificada pela condição do doador de uma unidade de sangue. • A hemorragia classe II é representada pela hemorragia não complicada, mas na qual a reposição de cristaloides é necessária. • A hemorragia classe III é um estado de hemorragia a complicado, no qual é necessária a reposição de cristaloides e, possivelmente, de sangue. • A hemorragia classe IV é considerada um evento pré-terminal; a menos que medidas agressivas sejam adotadas, o doente entrará em óbito dentro de poucos minutos. A transfusão sanguínea é necessária. Os sinais clínicos representam uma continuação da hemorragia em andamento e servem somente para guiar o início do tratamento. Hemorragia Classe I: 15% de perda do volume sanguíneo Sintomas mínimos Não ocorrem alterações mensuráveis na pressão arterial, na pressão de pulso ou na frequência respiratória Não exige reposição volêmica ↳ O organismo ativa mecanismos de compensação que conseguirão restaurar o volume sanguíneo A FC é minimamente elevada ou normal. Normalmente, não ocorre alteração na PA, pressão de pulso ou taxa respiratória Hemorragia Classe II: 15 a 30% de perda do volume sanguíneo Taquicardia, taquipneia e redução da pressão de pulso ↳ relacionado primariamente com um aumento da pressão arterial diastólica Mudanças sutis no nível de consciência, como ansiedade, medo e hostilidade O débito urinário é levemente afetado (o débito urinário mensurado costuma ser de 20 a 30 mL) Alguns doentes incluídos nessa categoria podem, eventualmente, necessitar de transfusão sanguínea, mas a maior parte dos doentes com esse volume de perda sanguínea consegue ser estabilizada inicialmente com soluções cristaloides. A FC e a frequência respiratória tornam-se elevadas (100 BPM a 120 BPM, 20 RR a 24 RR). A pressão do pulso começa a estreitar, mas a PA sistólica pode ser inalterada para diminuir ligeiramente Hemorragia Classe III: 31 a 40% de perda do volume sanguíneo Sinais clássicos de perfusão inadequada, incluindo taquicardia e taquipneia pronunciadas Alterações significativas do estado mental Queda mensurável da pressão arterial sistólica Maioria dos doentes incluídos nesta categoria necessitará de transfusão de concentrado de hemácias e de outros hemoderivados para reverter o seu estado de choque. Uma queda significativa na PA e alterações no estado mental ocorrem. A FC e a frequência respiratória são significativamente elevadas (mais de 120 BPM). A produção de urina declina. A recarga capilar é retardada Hemorragia Classe IV: >40% de perda do volume sanguíneo Ameaça imediata a vida Taquicardia acentuada, redução significativa da pressão sistólica e presença de uma pressão de pulso muito estreita ou de uma pressão diastólica não mensurável Débito urinário é desprezível O estado de consciência está notadamente deprimido. Pele encontra-se fria e pálida Intervenção cirúrgica imediata Hipotensão com pressão de pulso estreita (menos de 25 mmHg). A taquicardia torna-se mais pronunciada (mais de 120 BPM), e o estado mental torna-se cada vez mais alterado. A diurese é mínima ou ausente. A recarga capilar é retardada ASPECTOS FISIOPATOLÓGICOS O choque caracteriza-se por colapso circulatório, levando à inadequada perfusão tecidual. O processo choque indica sempre quadro grave que acompanha numerosas doenças e constitui denominador comum de várias entidades que culminam com graves alterações no metabolismo. Poderia ser considerado como uma das vias finais comuns do processo pelo qual doenças ou agressões levam à morte. Os pacientes que sobrevivem ao choque podem estar sujeitos a complicações mediatas, principalmente a insuficiência renal, necrose tubular aguda e a síndrome da angústia respiratória do adulto. O choque hemorrágico causa alterações hemodinâmicas e metabólicas que podem evoluir para essas complicações, muitas vezes irreversíveis. FISIOPATOLOGIA A perda de volume circulante, sangue, plasma e líquido gera, no organismo resposta compensatória de estímulo simpático, à medida que os receptores de volume do átrio direito e das grandes veias detectam menor retorno venoso ao coração. Esta resposta é traduzida pela liberação de adrenalina da medula adrenal e noradrenalina das terminações nervosas simpáticas. A resposta vasoconstritora atinge todos os leitos vasculares ricos em receptores α-adrenérgicos, direcionando o sangue para os territórios cerebral e coronariano, onde a vasoconstrição media dá por receptores é de menor importância. Esta resposta, que tende a preservar os órgãos nobres, se por um lado é benéfica, por outro, se não revertida a tempo pela atenuação da causa inicial, ou pela terapêutica, pode desencadear alterações que tornam o prognóstico sombrio. A vasoconstrição ocorre nas arteríolas e esfíncteres pré-capilares, pós-capilares, vênulas e veias; com intensidade máxima na pele, território esplâncnico, rins, baço, fazendo-se a circulação cerebral e coronariana às custas da hipoperfusão de praticamente todos os outros tecidos. Perdas de 20-30% do volume sanguíneo circulante levam ao choque. A resposta inicial ao choque hipovolêmico, mediada via catecolaminas, não é uniforme no organismo, desviando o sangue para o coração e cérebro. O rim responde de acordo com a rapidez da instalação da hipovolemia; quanto mais lento for o processo de instalação, maior a oportunidade de auto-regulação e orientação do fluxo para os glomérulos justamedulares. A ativação de mecanismos adrenérgicos não só aumenta a resistência pré-capilar, mas também contrai os vasos pós-capilares, mecanismo responsável pela redução do retorno venoso. O aumento da resistência, no entanto, se faz mais acentuadamente na parte pré- capilar, alterando a relação de resistência pré/pós capilar e colocando em cena mais um importante mecanismo de defesa: o reenchimento capilar. De acordo com a hipótese de Starling, o líquido filtrado na extremidade arteriolar do capilar é reabsorvido na extremidade venosa ou encaminhado ao fluxo linfático. A passagem de proteínas para o interstício depende do coeficiente de reflexão da membrana endotelial, que varia de tecido para tecido. O coeficiente de reflexão (proteína linfática/plasmática) é elevado na pele e no músculo, enquanto que é baixo nos pulmões. Isto significa que as alterações de permeabilidade ocorridas no choque são mais importantes na pele que nos pulmões. A redução da filtração na extremidade arteriolar devido ao aumento da resistênciapré-capilar e o efeito preponderante da reabsorção no extremo venular têm como efeito final a transferência de líquido do interstício para a luz vascular. Este reenchimento capilar pode representar até um litro na primeira hora após a agressão. Demonstrou-se recentemente que a hiperglicemia resultante da ativação adrenérgica pode mobilizar, a partir do espaço intracelular, mais 500 ml adicionais de líquido ao intravascular pelo poder osmótico da glicose. Este mecanismo de defesa do volume plasmático mediado pela glicose parece ser importante. Vários são, portanto, os mecanismos pelos quais o organismo tenta se defender da queda do volume circulante: vasoconstrição α-adrenérgica mediada, onde for fisiologicamente interessante; hiperglicemia β-adrenérgica mediada para direcionar água para os vasos; liberação de hormônio antidiurético pela neuro-hipófise, ativação do sistema renina- angiotensina-aldosterona, na tentativa de diminuir as perdas; aparecimento de sede. QUADRO CLÍNICO O quadro clínico do choque hemorrágico depende da velocidade da perda sanguínea e diminuição de volume, da duração do tempo de hemorragia, dos antecedentes clínicos do doente e presença de processos patológicos concomitantes. Manifestações que permitem uma detecção imediata do estado de choque incluem taquicardia, hipotensão, oligúria, extremidades frias, pulso periférico fraco, diminuição da pressão de pulso (< 25 mmHg), atraso no enchimento capilar (> 2 segundos) e estado mental alterado. No entanto, nem sempre o choque é tão óbvio e pode coexistir com sinais vitais normais. Quando a hemorragia é abundante, as cinco localizações mais prováveis são: hemorragia externa, cavidade torácica, cavidade abdominal, espaço retroperitoneal e músculo ou tecido subcutâneo. Três conjuntos de sintomas podem estar presentes em doentes com hipovolemia: Relacionados com a depleção de volume Relacionados com o tipo de fluido perdido Relacionados com os distúrbios eletrolíticos e ácido-base associados. Os sintomas induzidos pela depleção de volume estão principalmente relacionados com a diminuição da perfusão tecidual. Os primeiros sintomas são lassidão, fatigabilidade fácil, sede, cãibras musculares e tonturas. Perdas de volume mais acentuadas podem originar dor abdominal, dor torácica ou letargia e confusão devido a isquemia mesentérica, coronária ou cerebral, respectivamente. Estes sintomas são geralmente reversíveis, mas pode ocorrer necrose tecidual se a situação persistir. De acordo com o tipo de líquido perdido, a hipovolemia sintomática ocorre com mais frequência em doentes com concentração iso-osmótica de sódio e perda de água, nos quais a maioria do déficit de líquido vem do espaço extracelular. Quanto aos distúrbios eletrolíticos e ácido-base associados, estes dependem do mecanismo como o fluido que se perdeu. Os sintomas mais graves e anormalidades associadas incluem fraqueza muscular devido a hipo ou hipercalcemia, poliúria e polidipsia devido a hiperglicemia ou hipercalcemia grave e letargia, confusão, convulsões e coma devido a hipo ou hipernatremia ou hiperglicemia. FREQUÊNCIA CARDÍACA – a taquicardia (> 100 batimentos por minuto) é considerada um dos sintomas clássicos para identificar hipovolemia. No entanto, a frequência cardíaca por si só desempenha um papel pouco importante na manutenção da tensão arterial. Posto isto, a frequência cardíaca não é um indicador sensível para identificar doentes em hipovolemia ou choque. Só as perdas de volume superiores a 15% do volume total induzem alterações na frequência cardíaca. Pela ação dos mecanismos compensatórios, a taquicardia constitui um sintoma tardio. Fazer uma estimativa da perda de sangue com base em parâmetros clínicos como a frequência cardíaca é incorreto. FREQUÊNCIA RESPIRATÓRIA – sob o ponto de vista respiratório, com o agravamento da hipovolemia começa a surgir hipóxia e pode haver taquipneia (> 24 ciclos/minuto) como compensação de uma acidose metabólica por hiperlactacidemia ou edema pulmonar. A magnitude da taquipneia varia de acordo com a depleção do volume intravascular. TENSÃO ARTERIAL – Normalmente, os mecanismos compensatórios desencadeiam vasoconstrição suficiente para manter a tensão arterial em valores relativamente normais. Geralmente, os valores de tensão arterial permanecem dentro da normalidade até perdas de 30% do volume total de sangue. DIAGNÓSTICO O diagnóstico do choque é eminentemente clínico, reconhecendo através de uma avaliação clínica cuidadosa os sinais precoces de perfusão e oxigenação teciduais inadequadas. Este é o primeiro passo para o sucesso no tratamento. Quando houver a suspeita de um paciente estar em choque, o diagnóstico deve ocorrer ao mesmo tempo em que a ressuscitação. Os esforços para restaurar a perfusão jamais devem ser retardados em detrimento da coleta da história, exame físico ou realização de exames laboratoriais ou de imagem. A abordagem inicial deve ser dinâmica, com medidas diagnósticas e terapêuticas ocorrendo simultaneamente, visando corrigir o déficit da perfusão tecidual e prevenir lesão adicional. História médica: Pode trazer informações valiosas e deve ser direcionada à procura da etiologia do choque, fornecendo assim subsídios para a terapêutica mais adequada e eficaz para essa síndrome. A discussão com o paciente ou familiares deve centrar em sintomas sugestivos de depleção de volume, história de trauma, doença cardiovascular, focos infecciosos, medicações em uso, além de possível reação anafilática ou intoxicação aguda. Exame físico: Deve ser eficiente e direcionado para descobrir o tipo, severidade e causa do choque. Os achados não são sensíveis nem específicos para identificar a causa, mas se bem realizado e focado nos sinais sugestivos, o exame físico é de grande valia para fornecer pistas iniciais. Exames complementares: Ajudam a identificar a causa do choque e falência orgânica. Devem ser realizados precocemente na avaliação, mesmo no choque ainda indiferenciado. Exames laboratoriais: devem incluir hemograma, eletrólitos, ureia, creatinina, função hepática, amilase, lípase, coagulação, d-dímeros, enzimas cardíacas, gasometria arterial, screening toxicológico e lactato arterial. Tipagem sanguínea e provas cruzadas serão úteis nos pacientes candidatos à transfusão devido à hemorragia. ECG e Radiografia de tórax são mandatórios. Radiografia de abdômen, TC abdominal, ecocardiograma e exame de urina podem ser auxiliares. Culturas de possíveis sítios de infecção devem sempre ser solicitadas na suspeita de choque séptico. A bacterioscopia pode auxiliar na busca do foco infeccioso enquanto se aguardam os exames culturais. 4. ENTENDER O TRATAMENTO DO CHOQUE HEMORRÁGICO, A FUNÇÃO DOS HEMOCOMPONENTES E QUANDO SUA UTILIZAÇÃO É NECESSÁRIA. (INDICAÇÃO E COMPLICAÇÃO.) O tratamento inicial do choque hipovolêmico consiste na pronta correção do volume sanguíneo para que a perfusão e a oferta de oxigênio sejam restauradas. O tratamento de pacientes de alto risco é baseado no aumento do suprimento de oxigênio, o qual vai diminuir a morbidade e aumentar a sobrevida O diagnóstico e o tratamento do choque devem ser realizados quase simultaneamente. Para a maioria dos doentes traumatizados, o tratamento é instituído inicialmente considerando que o choque seja hemorrágico, a não ser que existam claras evidências de outra etiologia que não a hipovolêmica. O princípio básico a ser seguido no tratamento é interromper o sangramento e repor as perdas volêmicas. ACESSO VASCULAR O acesso ao sistema vascular deve ser obtido rapidamente. A melhor forma de fazê-lo é através da inserção dedois cateteres intravenosos periféricos (calibre mínimo de 18). Cateteres intravenosos periféricos curtos e calibrosos são preferíveis para a rápida infusão de fluidos, ao invés de cateteres longos e finos. Utilize fluidos aquecidos e bombas de infusão rápida na presença de hemorragias maciças e de hipotensão severa. Os locais mais adequados para os acessos venosos periféricos no adulto são as veias do antebraço ou antecubitais. Se as circunstâncias não permitirem o uso de veias periféricas, estará indicada a cateterização de um acesso venoso central (exemplos: veia femoral, jugular ou o vídeo Punção Intraóssea no aplicativo móvel). Assim que forem inseridos cateteres venosos, amostras sanguíneas devem ser coletadas para tipagem sanguínea e provas cruzadas, para exames laboratoriais adequados para estudos toxicológicos e para teste de gravidez em todas as mulheres em idade fértil. Nesse momento, pode ser coletado sangue para gasometria arterial Uma radiografia de tórax deve ser obtida após tentativa de cateterismo venoso central em veias jugulares ou subclávias, para documentar o posicionamento do cateter e avaliar a presença de complicações, como pneumotórax ou hemotórax. REPOSIÇÃO VOLÊMICA INICIAL A quantidade de fluido que será necessária para a reanimação volêmica do doente é difícil de ser estimada durante a avaliação inicial. Comece administrando um bolus inicial de solução isotônica (cristaloides: Ringer Lactato, principalmente, e solução salina normal) aquecida. A dose habitual é de 1 litro para adultos e de 20ml/kg para crianças pesando menos de 40 kg. O American College of Surgeons (2008) recomenda o Ringer lactato e a solução salina normal como escolhas de primeira linha para o tratamento inicial do choque hemorrágico não controlado. ↳ A solução salina normal levanta preocupações relativamente à indução de acidose metabólica hiperclorémica. ↳ O Ringer lactato pode originar alcalose metabólica devido à conversão de lactato em bicarbonato mas isto não parece ter consequências clínicas. O Ringer lactato expande o volume intravascular, substituindo as perdas nos espaços intersticiais e intracelulares. A dose inicial é de 1 a 2 litros nos adultos ou 20 mL/kg em crianças. Este volume é uma orientação aproximada e por isso é fundamental o acompanhamento do doente. Alguns estudos afirmam que o lactato de Ringer é superior à solução salina normal na reanimação de choque hemorrágico não controlado, afirmando que os doentes que recebem grandes volumes de solução salina apresentam maior hemorragia e hipercoagulabilidade. No entanto, outros estudos referem exatamente o contrário. O volume total de fluidos de reanimação deve ser baseado na resposta do doente à reposição, tendo em mente que a quantidade de fluido inicial inclui o volume administrado durante o atendimento pré- hospitalar. O objetivo da reanimação é restaurar a perfusão orgânica e a oxigenação tecidual, o que é obtido através da administração de soluções de cristaloide e de hemoderivados para substituir o volume intravascular perdido. Entretanto, se a pressão arterial do doente aumentar rapidamente antes que a hemorragia tenha sido definitivamente controlada, pode ocorrer mais sangramento. Por essa razão, a administração excessiva de solução cristaloide pode ser prejudicial. A reposição precoce de sangue e de hemoderivados deve ser considerada em doentes com evidência de hemorragias classes III e IV. A administração precoce de hemoderivados em uma baixa proporção entre concentrado de hemácias, plasma e plaquetas pode prevenir o desenvolvimento de coagulopatia e de trombocitopenia. Os padrões de resposta à reposição volêmica inicial podem ser divididos em três categorias: resposta rápida, resposta transitória e resposta mínima ou ausente. Resposta Rápida: Os doentes deste grupo, denominados "respondedores rápidos", respondem rapidamente à reposição volêmica inicial e se tornam hemodinamicamente normais, não apresentando mais sinais de perfusão e oxigenação teciduais inadequadas. Quando isso ocorre, a velocidade infusão pode ser reduzida para taxas de manutenção. Usualmente esses doentes apresentam uma perda menor do que 15% do seu volume sanguíneo. Durante a avaliação e o tratamento iniciais dos respondedores rápidos, são indispensáveis a presença e a avaliação por um cirurgião, visto que uma intervenção cirúrgica pode ainda se tornar necessária. Resposta Transitória: Os doentes do segundo grupo, os "respondedores transitórios", respondem à reposição volêmica em bolus inicial. A maior parte desses doentes apresenta uma perda sanguínea inicial estimada entre 15% a 40% do seu volume sanguíneo (hemorragias classes II ou IlI). A transfusão de sangue e de hemoderivados está indicada, porém o mais importante é identificar e reconhecer que esses doentes necessitam de controle cirúrgico ou angiográfico da hemorragia. Uma resposta transitória à administração de sangue identifica os doentes que persistem com sangramento ativo e que exigem rápida intervenção cirúrgica. Considere também dar início ao protocolo de transfusão maciça (PTM). Resposta Mínima ou Ausente: A falta de resposta à administração de cristaloide e de sangue na sala de emergência indica a necessidade de intervenção definitiva imediata (exemplo: cirurgia ou angioembolização) para controlar uma hemorragia exsanguinante. O choque não hemorrágico deve ser sempre considerado no diagnóstico diferencial nesse grupo de doentes (hemorragia classe IV). Técnicas de monitoração avançada, como a ultrassonografia miocárdica são úteis na identificação da causa do choque. O protocolo de transfusão maciça deve ser iniciado nestes doentes. REPOSIÇÃO DE SANGUE A decisão de iniciar a transfusão sanguínea baseia-se na resposta do doente, como descrito na seção anterior. Os doentes respondedores transitórios ou não-respondedores necessitam de transfusão precoce de concentrado de hemácias, plasma e plaquetas durante a reanimação inicial. Nos pacientes com choque hemorrágico grave, devemos acionar o protocolo de transfusão maciça, em que administramos ácido tranexâmico em até 3 h do trauma, além de concentrado de hemácias, plaquetas e plasma fresco congelado na proporção de 1:1:1. Há diversos escores para acionamento do protocolo de transfusão maciça (ABC score, Shock index, entre outros) e cada instituição adota um algoritmo próprio. HEMODERIVADOS Produtos derivados do sangue são utilizados para restaurar o volume circulante, substituir os fatores da coagulação e aumentar a capacidade de transporte de oxigénio. Hemocomponentes e hemoderivados são produtos distintos. Os produtos gerados um a um nos serviços de hemoterapia, a partir do sangue total, por meio de processos físicos (centrifugação, congelamento) são denominados hemocomponentes. Já os produtos obtidos em escala industrial, a partir do fracionamento do plasma por processos físico-químicos são denominados hemoderivados. Hemoderivados são medicamentos produzidos pelo fracionamento industrial do plasma humano. Depois de colhido, o sangue total é processado nos Serviços de Hemoterapia e dá origem a até quatro hemocomponentes: concentrado de hemácias, concentrados de plaquetas, plasma e crioprecipitado. Os quatro hemoderivados de base, que fazem parte da lista de medicamentos essenciais da Organização Mundial de saúde (OMS) são a albumina, as 7 imunoglobulinas poli-específicas, também chamadas de imunoglobulinas normais, e os concentrados de Fator VIII e de Fator IX da coagulação. Albumina é obtido através de fracionamento do plasma. Está disponível no mercado em concentrações de 5 a 25%, sendo que a concentração de 5% éosmoticamente equivalente ao plasma. O complexo protrombínico ativado (CCPA) é um hemoderivado de origem plasmática humana liofilizado, que contém os fatores de coagulação II, VII, IX, X ativados. O Complexo Protrombínico é um derivado do plasma liofilizado que contém os fatores II, VII, IX, X da coagulação. O Concentrado de Fator IX é um hemoderivado, liofilizado e estéril, produzido a partir do plasma fresco congelado. Concentrado liofilizado de fator VIII da coagulação sendo derivado do plasma. Estes dois últimos produtos são utilizados no tratamento das pessoas portadoras de hemofilia A e B, respectivamente; a albumina é utilizada no tratamento de grandes queimados, pessoas com cirrose, pacientes de terapia intensiva, entre outros. A imunoglobulina, de todos os hemoderivados, é aquele que vem, tendo a maior utilização em todo o mundo, sendo usada para o tratamento de pessoas com AIDS, para pessoas com outros déficits imunológicos, para o tratamento de doenças auto-imunes e para o tratamento de diversas doenças infecciosas. Além destes quatro produtos de base, existem hoje cerca de vinte diferentes tipos de hemoderivados disponíveis no mercado mundial Os glóbulos vermelhos são os hemocomponentes mais utilizados. Cada unidade tem uma meia-vida média de 40 dias. No entanto, quando administrados sem outros componentes do sangue não simulam o que o doente perde durante a hemorragia. O seu uso é recomendado para manter um hematócrito superior a 30%, o que geralmente acontece com a reposição inicial de cristalóides. Por exemplo, a transfusão é imediatamente necessária quando a exsanguinação é iminente. Duas unidades de glóbulos vermelhos devem ser administradas se o doente não melhorar após 2 ou 3 litros iniciais de cristalóides. O Plasma fresco congelado, como o nome indica, está congelado a -30ºC. Cada unidade de 200 mL é descongelada em banho-maria a 37ºC e fica disponível para uso. A administração de plasma fresco congelado ajuda a reverter ou prevenir a coagulopatia através do fornecimento de uma fonte de fatores da coagulação que repõe o défice de factores endógenos provocado por hemorragia, hemodiluição e coagulopatia de consumo. Plaquetas e/ou plasma fresco congelado devem ser administrados em doentes com contagem de plaquetas inferior a 10 000 µL, transfusão de glóbulos vermelhos superior a 6 unidades ou que tenham provas da coagulação anormais. De igual modo, deve ser monitorizada a concentração de cálcio no doente politransfundido. Quando transfundir? O uso de sangue e hemoderivados é necessário quando a perda estimada de sangue ultrapassa 30% do volume de sangue total (hemorragia classe III). No entanto, determinar este valor é extremamente difícil durante uma hemorragia aguda devido à hemodiluição produzida pela fluidoterapia. Apesar das fórmulas propostas para estimar a perda de sangue, o uso de sangue como fluido de reanimação contínua empírico. Atualmente, um doente hipotenso com evidência de hemorragia e que não responda aos cristalóides iniciais, deve ser tratado com sangue e hemoderivados. Uma transfusão deve ser efetuada com base na resposta do doente à reanimação inicial com fluidos. A capacidade da transfusão manter uma concentração normal de glóbulos vermelhos, plaquetas e fatores da coagulação diminui à medida que a hemorragia avança. Tipo de sangue específico é preferível mas se o grupo sanguíneo não for conhecido, deve ser usado sangue O Rh- na mulher e O Rh+ no homem. Várias diretrizes recomendam um nível de hemoglobina entre 6 e 8 g/dL como o limite para transfusão em doentes sem fatores de risco conhecidos. A transfusão profilática não é executada porque não está provado que doentes com níveis de hemoglobina superiores a 10 g/dL beneficiem com a transfusão de sangue. 5. ABORDAR AS CONDUTAS FRENTE AO PACIENTE POLITRAUMATIZADO. (INTRODUÇÃO DO XABCDE DO TRAUMA.) Em geral, o atendimento de um paciente vítima de trauma se inicia ainda no ambiente pré-hospitalar. Diversas instituições são responsáveis tanto pelo atendimento quanto pelo desenvolvimento de protocolos específicos para o atendimento desses pacientes. As que mais frequentemente atuam nesse cenário são o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e o Corpo de Bombeiros, muitas vezes atuando em conjunto para oferecer o cuidado necessário ao paciente Ainda no local da ocorrência, são realizados procedimentos iniciais, como garantir a segurança da cena, triagem e descontaminação do paciente se for necessário, avaliação primária com manejo de vias aéreas controle de hemorragias e lesões ameaçadoras à vida, avaliação secundária se cabível e o transporte seguro da vítima até o hospital de referência. Os princípios de ouro do atendimento pré-hospitalar no trauma Os socorristas devem reconhecer e estabelecer as prioridades dos doentes com lesões múltiplas, seguindo os “Princípios de Ouro” do atendimento pré- hospitalar ao traumatizado. 1. Garantir a segurança dos socorristas e do doente; A segurança do local do trauma deve ter a prioridade máxima na chegada em todos as ocorrências da equipe de atendimento. O socorrista que se expõe a riscos desnecessários pode tornar-se uma vítima também, contribuindo, assim, com as dificuldades de atendimento no local. O equipamento de proteção deve ser sempre utilizado, especialmente no atendimento de doentes traumatizados com a presença de sangue ou fluidos corporais. 2. Avaliar a situação para determinar a necessidade de recursos adicionais; Imediatamente à chegada, deve-se realizar uma avaliação rápida para determinar a necessidade de recursos adicionais ou especiais. Ex: necessidade de unidades de atendimento médico de emergência adicionais, equipamentos de combate a incendia, equipes especiais de resgate, equipe da companhia de eletricidade e etc. 3. Reconhecer a cinemática que produziu as lesões; Compreender os princípios da cinemática leva a uma melhor avaliação do doente. O conhecimento de padrões específicos de lesões ajuda a prevê-las e saber onde examinar. A cinemática pode exercer papel fundamental na escolha da unidade de destino para um determinado doente. 4. Usar a avaliação primária para identificar condições de risco à vida; A pesquisa rápida permite que as funções vitais sejam rapidamente avaliadas e as condições com risco à vida identificas por meio da avaliação sistemática dos ABCDEs (agora XABCDE). Assim que problemas de risco à vida são identificados, o atendimento é imediatamente iniciado. OBS: Em crianças, gestantes e nos idosos, as lesões devem ser consideradas da seguinte forma: 1. São mais graves do que aparentam 2. Têm um impacto sistêmico mais profundo 3. Têm grande potencial de levar à rápida descompensação 5. Cuidar adequadamente da via aérea enquanto a coluna vertebral permanece estabilizada conforme indicado; O cuidado da via aérea continua sendo a maior prioridade no tratamento de doentes gravemente feridos. Isso deve ser feito enquanto se mantém a cabeça e o pescoço na posição neutra alinhada, se indicado pelo mecanismo do trauma. 6. Providenciar ventilação e oferecer oxigênio para manter o nível de SpO2 superior a 95%; Os doentes com bradipneia precisam de suporte ventilatório, assistido ou total, com o dispositivo de máscara com válvula e balão conectado a fonte de oxigênio. Em doentes taquipneicos deve ser estimada a volume minuto (volume corrente x frequência ventilatória). No doente com redução significativa do volume minuto (ventilações rápidas, superficiais), as ventilações devem ser assistidas com o dispositivo de máscara com válvula e balão conectados a fonte de oxigênio. Oxigênio suplementar deve ser administradoa todo doente traumatizado com suspeita ou evidencia de problemas que gerem risco à vida. Manter o SpO2 superior a 95%. 7. Controlar toda hemorragia externa significativa; A maioria das hemorragias externas é prontamente controlada pela aplicação de pressões direta no ponto de sangramento ou, se os recursos forem limitados, pelo uso de curativo compressivo feito com gaze e atadura. Para um doente em choque evidente decorrente de hemorragia externa, as medidas de reanimação devem ser evitadas antes do controle adequado de sangramento. Tentativas de animação nunca terão sucesso na presença de uma hemorragia externa. 8. Realizar terapia básica de choque, incluindo a imobilização adequada das lesões musculoesqueléticas e o restabelecimento e manutenção da temperatura corpórea normal; Ao final da avaliação primária, o corpo do doente é exposto de forma que o socorrista possa verificar rapidamente outras lesões que gerem risco à vida. Uma vez concluído esse exame, o doente deve ser novamente coberto porque a hipotermia pode ser fatal para um doente traumatizado grave. O doente em choque já está comprometido por uma redução acentuada de energia resultante de uma perfusão tecidual inadequada 9. Manter a estabilização manual da coluna até que o doente esteja imobilizado; Após contatar o doente traumatizado, a estabilização manual da coluna vertebral deve ser iniciada e mantida até que o doente esteja imobilizado no dispositivo apropriado ou isento da indicação de imobilização da coluna. A imobilização adequada da coluna implica na imobilização desde a cabeça até a pelve. 10. Quando se trata de doentes traumatizados graves, iniciar o transporte à unidade adequada o quanto antes, após a chegada do AME no local; A solução cristaloide restaura temporariamente o volume intravascular, mas não restabelece a capacidade de transportar oxigênio das hemácias perdidas e a perda dos fatores de coagulação do plasma que extravasa rapidamente para o espaço intersticial, criando problemas de troca de oxigênio. A reanimação nunca será alcançada no doente com hemorragia interna ativa. 11. Iniciar reposição de volume com fluídos intravenosos aquecidos a caminho do local de atendimento; A caminho da unidade de destino, dois cateteres IV de grosso calibre podem ser inseridos e iniciada a infusão de solução cristaloide aquecida, de preferência, Ringer Lactato. 12. Obter histórico clínico do doente e realizar uma avaliação secundária quando os problemas de risco à vida tiverem sido tratados de forma satisfatória ou tiverem sido descartados; Se a avaliação mostrar lesões que gerem risco à vida, as intervenções fundamentais devem ser realizadas e o doente deve ser transportado dentro dos 10 minutos de platina. Por outro lado, se não forem identificadas lesões que gerem risco à vida, uma avaliação secundária deve ser realizada. A avaliação secundária é um exame físico sistemático, da cabeça aos pés, que serve para identificar todas as lesões. O histórico SAMPLE (sintomas, alergias, medicamentos, passado médico, líquidos e alimentos ingeridos pela última vez, eventos que precederam o trauma) é obtido também durante a avaliação secundária. 13. Proporcionar alívio adequado da dor; A administração de analgésicos para aliviar a dor é indicada, desde que não existam contraindicações para a administração. Os doentes não devem sentir dor durante o transporte. 14. Comunicar de forma minuciosa e precisa as informações sobre o doente e as circunstâncias do trauma ao serviço médico de destino; Na chegada ao hospital de destino, o socorrista faz um relato verbal àqueles que estão assumindo o atendimento do doente traumatizado. Esse relato deve ser sucinto e preciso e deve servir para informar à equipe sobre: A condição atual do doente A cinemática do trauma Achados da avaliação Intervenções realizadas A resposta do doente à essas intervenções 15. Acima de tudo, não causar mais dano; Ao cuidar de um doente traumatizado grave, os socorristas devem questionar-se se as suas intenções no local e durante o transporte irão beneficiar o doente de forma razoável. Se a resposta para essa pergunta for não ou incerta, essas intervenções devem ser suspensas e a ênfase deve ser colocada no transporte do doente com trauma ao local de atendimento mais próximo e apropriado. Por fim, não causar mais dano significa, por vezes fazer menos. XABCDE DO TRAUMA O famoso mnemônico do trauma “abcde” ganhou, na 9ª edição do PHTLS 2018, no capítulo 6, mais uma letra: o x. O “x” é referente à hemorragia exsanguinante ou hemorragia externa grave. O XABCDE é um mnemônico que padroniza o atendimento inicial ao paciente politraumatizado. Ele define, portanto, as prioridades na abordagem ao trauma, no sentido de padronizar o atendimento. Ou seja, é uma forma rápida e fácil de memorizar todos os passos que devem ser seguidos com o paciente em politrauma. (X) – Exsanguinação O X lembra que a contenção de hemorragia externa grave deve ser feita antes mesmo do manejo das vias aérea uma vez que, epidemiologicamente, apesar da obstrução de vias aéreas ser responsável pelos óbitos em um curto período de tempo, o que mais mata no trauma são as hemorragias graves. (A) – Vias aéreas e proteção da coluna vertebral No A, deve-se realizar a avaliação das vias aéreas. Para manutenção das vias aéreas utiliza-se das técnicas: “chin lift”: elevação do queixo, uso de aspirador de ponta rígida, “jaw thrust”: anteriorização da mandíbula, cânula orofaríngea (Guedel). A imobilização deve ser de toda a coluna, não se limitando à coluna cervical. Para isso, uma prancha rígida deve ser utilizada. Considere uma lesão da coluna cervical em todo doente com traumatismos multissistêmicos! (B) – Boa Ventilação e Respiração No B, o socorrista deve analisar se a respiração está adequada e se atentar para: frequência respiratória, inspeção dos movimentos torácicos, cianose, desvio de traqueia e observação da musculatura acessória. Para tal, é necessário expor o tórax do paciente, realizar inspeção, palpação, ausculta e percussão. É preciso, também, verificar se a respiração é eficaz e se o paciente está bem oxigenado. (C) – Circulação com Controle de Hemorragias No C, a circulação e a pesquisa por hemorragia são os principais parâmetros de análise. A maioria das hemorragias é estancada pela compressão direta do foco. A diferença entre o “X” e o “C” é que o X se refere a hemorragias externas, grandes hemorragias. Já o “C” refere-se a hemorragias internas, onde deve-se investigar perdas de volume sanguíneo não visível, analisando os principais pontos de hemorragia interna no trauma (pelve, abdômen e membros inferiores), avaliando sinais clínicos de hemorragia como: tempo de enchimento capilar lentificado, pele fria e pegajosa https://www.dicio.com.br/mnemonico/ e comprometimento do nível e qualidade de consciência. (D) – Disfunção Neurológica No D, são feitas análises do nível de consciência, tamanho e reatividade das pupilas, da presença de hérnia cerebral e dos sinais de lateralização, bem como do nível de lesão medular. Nessa fase, o objetivo principal é minimizar as chances de lesão secundária pela manutenção da perfusão adequada do tecido cerebral. Importante aplicar a escala de Glasgow atualizada. (E) – Exposição Total do Paciente No E, a análise da extensão das lesões e o controle do ambiente com prevenção da hipotermia são as principais medidas realizadas. O socorrista deve analisar, entre outros pontos, sinais de trauma, sangramento e manchas na pele. 6. ELUCIDAR O MECANISMO DA VASOCONSTRIÇÃO E FORMAÇÃO E DISSOLUÇÃO DE COÁGULO. (PEQUENOS FERIMENTOS.)– HEMOSTASIA PRIMARIA A hemostasia é composta por uma sequência de eventos integrados que englobam vasos sanguíneos, plaquetas, fatores de coagulação, anticoagulantes naturais, proteínas da fibrinólise e seus inibidores. O objetivo da hemostasia é interromper sangramentos provenientes de lesão vascular. Após lesão vascular, a resposta primária da hemostasia, a qual envolve o endotélio vascular e plaquetas, resulta na formação de um trombo plaquetário cujo efeito hemostático é transitório. A ativação dos fatores de coagulação culminará na geração de trombina e, subsequentemente, de uma rede de fibrina que reforçará e estabilizará o trombo. Os anticoagulantes naturais controlarão a ação dos fatores de coagulação, impedindo que a geração de trombina e de fibrina seja excessiva. Finalmente, a fibrinólise dissolverá gradualmente a rede de fibrina, garantindo um fluxo sanguíneo normal ao longo do leito vascular. 1- Após lesão vascular, fatores neuro-humorais locais induzem vasoconstrição transitória Imediatamente após corte ou ruptura do vaso sanguíneo, o trauma da própria parede vascular faz com que a musculatura lisa dessa parede se contraia. Esse mecanismo reduz de forma instantânea o fluxo de sangue pelo vaso lesado. A contração resulta de 1) Espasmo miogênico local, 2) Fatores autacoides locais dos tecidos traumatizados e das plaquetas 3) Reflexos nervosos. Os reflexos nervosos são desencadeados por impulsos nervosos dolorosos ou por outros impulsos sensoriais, originados no vaso traumatizado ou nos tecidos vizinhos. Entretanto, grau maior de vasoconstrição provavelmente resulta da contração miogênica local dos vasos sanguíneos, iniciada pela lesão direta da parede vascular. Além disso, para os vasos menores, as plaquetas são responsáveis por grande parte da vasoconstrição pela liberação da substância vasoconstritora tromboxano Ar Quanto maior for a gravidade do trauma ao vaso, maior será o grau do espasmo vascular. O espasmo pode durar vários minutos ou mesmo horas, tempo no qual ocorrem os processos de formação dos tampões plaquetários e de coagulação do sangue. 2- Formação do tampão hemostático primário. Quando as plaquetas entram em contato com superfície vascular lesada, especialmente com as fibras de colágeno da parede vascular, alteram suas características de forma drástica, começam a se dilatar e assumem formas irregulares, com inúmeros pseudópodos que se projetam de suas superfícies. Suas proteínas contráteis se contraem intensamente, provocando a liberação de grânulos que contêm vários fatores ativos, esses fatores ficam pegajosos e aderem ao colágeno dos tecidos e à proteína, chamada fator de von Willebrand que vaza do plasma para o tecido traumatizado. Elas secretam grande quantidade de ADP e suas enzimas formam o tromboxano A2. O ADP e o tromboxano por sua vez atuam nas plaquetas vizinhas, ativando-as a superfície grudenta dessas plaquetas recém-ativadas faz com que sejam aderidas às plaquetas originalmente ativadas. Portanto, no local de qualquer abertura da parede de vaso sanguíneo, a parede vascular lesionada ativa número sucessivamente maior de plaquetas que atraem cada vez mais plaquetas, formando assim o tampão plaquetário. Inicialmente, esse tampão fica solto, mas é usualmente bem-sucedido ao bloquear a perda de sangue se a abertura vascular for pequena. A seguir, durante o processo subsequente de coagulação do sangue, são formados filamentos de fibrina. Esses filamentos se prendem de forma muito firme às plaquetas, construindo tampão compacto. Resumindo: Plaquetas se ligam através dos receptores de glicoproteína Ib (GpIb) ao fator de von Willebrand (fvW) na matriz extracelular (MEC) exposta e são ativadas, sofrendo alteração de forma e liberação de grânulos. A liberação da adenosina difosfato (ADP) e do tromboxano A2 (TxA2) induzem a agregação plaquetária adicional pela ligação dos receptores de Gp IIb-IIIa ao fibrinogênio, formando o tampão hemostático primário. 3- Consolidação do tampão plaquetário (formação do coágulo de fibrina) Ativação local da cascata de coagulação (envolvendo fator tecidual e fosfolipídeos plaquetários) resulta na polimerização de fibrina, “cimentando” as plaquetas em um tampão hemostático secundário definitivo 4- Fibrinólise Com a formação do trombo são ativados os mecanismos anti-trombóticos, que visam limitar o tampão evitando trombose. Um dos principais agentes dessa fase é o ativador de plasminogênio tecidual (t- PA), o qual converte o plasminogênio circulante em plasmina, que é uma enzima fibrinolítica que lisa a rede de fibrina. A antiplasmina, presente no plasma, combina-se com o excesso de plasmina liberada, impedindo o aparecimento de fibrinólise generalizada. Esta proteína está presente na circulação em concentração plasmática 10 vezes maior do que a plasmina. Resumindo: Mecanismos contrarregulatórios, mediados pelo ativador de plasminogênio tecidual (t-PA, um produto fibrinolítico) e trombomodulina, restringem o processo hemostático ao local da lesão.
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