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2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 1 MICROBIOLOGIA AULA 8 Estreptococos INTRODUÇÃO Cocos gram positivos de importância médica, agrupados em pequenas cadeias ou pares e com catalase negativa. CLASSIFICAÇÃO • Comportamento em ágar-sangue: Um meio de cultura sólido com extrato de algas marinhas e sangue. → β-hemolíticos: Quebra total das hemácias, meio fica transparente entorno das colônias. → α-hemolíticos: Degradação parcial das hemácias, com alguns compostos derivados da hemoglobina. Apresenta uma clarificação entorno das colônias ou esverdeada pelos compostos liberados. → Não hemolíticos: Não tem degradação. • Quanto aos grupos de Lancefield: Baseada na presença de um carboidrato na parede celular → Grupo A: S. pyogenes → Grupo B: S. agalactiae → Não grupáveis: S. pneumoniae e grupo viridans (coloração esverdeada no ágar-sangue). • Quanto as características bioquímicas e/ou fisiológicas. PRINCIPAIS ESPÉCIES • S. pyogenes: β-hemolíticos do grupo A. • S. agalactiae: β-hemolíticos do grupo B. • Grupo viridans: α-hemolíticos não grupáveis (S. mutans, S. salivarius, S. sanguinis, S. mitis, S. oralis). • S. pneumoniae: α-hemolíticos ou não hemolíticos não grupáveis. É diferenciado dos viridas pelo critério bioquímico e fisiológico. Streptococcus pyogenes FATORES DE VIRULÊNCIA São fatores da bactéria, que tem papel na sua capacidade de provocar a doença no hospedeiro. • Cápsula (ác. hialurônico): Ação anti-fagocitária. O S. pyogenes pode ser afetado pela resposta específica através da fagocitação opsonizada. No entanto, por te ácido hialurônico em sua cápsula, não conseguimos responder adequadamente, pois também temos esse componente nas nossas células. Dessa forma, o corpo não reage contra a cápsula, o que chamamos de mimetismo antigênico. • Peptideoglicana: Ação pró-inflamatória (PAMP). • Ácido lipoteicoico: Ligação ao tecido do hospedeiro e pró-inflamatório (PAMP). • Proteína M: Possui uma classificação em sorotipos (150 descritos), por isso podemos ter inúmeras infecções por S. pyogenes. → Ação anti-fagocitária que degrada C3B, fração do complemento originada da quebra de C3, com ação opsonizante. → Induz a produção de anticorpos protetores, de longa duração (resposta imune específica). → Podem apresentar epítopos de reação cruzada com os nossos tecidos. PRODUTOS EXTRACELULARES • Exotoxinas pirogênicas (Spe) A, B, C e D: Produzidas por conversão fágica. → Os genes que os codificam não fazem parte do cromossoma, estarão presentes quando a bactéria estiver infectada por um fago (vírus). → A e C são superantígenos, por isso, provocam ativação policlonal dos linfócitos T. APC apresenta os epítopos dentro do MHC classe 2 para os linfócitos T, no caso dos superantígenos, a ligação se faz fora dessa especificidade. Dessa forma, muitos clones de linfócito T são ativados simultaneamente, de maneira inespecífica. → Os linfócitos T ativados produzem TNF-alfa e INF- gama. O TNF-α pode provocar a perda da contratilidade do miocárdio, baixa perfusão chegando ao choque tóxico. • Estreptolisina O: Quebra células do hospedeiro, como hemácias, leucócitos e plaquetas. Além disso, possui ação imunogênica provocando a criação de anticorpos, chamados de anti-streptolisina O (ASLO), que serve como indicador diagnóstico. • Estreptolisina S: Quebra células do hospedeiro, mas não é imunogênica. • Estreptoquinase: Possu ação fibrinolítica, quebrando coágulos, e é usado terapeuticamente. • Dnase: Quebra DNA fluidificando o pus, facilitando sua propagação pelo tecido 2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 2 • C5a peptidase: Quebra do C5a (sistema complemento), retardando a quimiotaxia de neutrófilos e monócitos. PATOGENIA • Depende da virulência da amostra; • Dose infectante; • Porta de entrada; • Susceptibilidade do hospedeiro. PORTAS DE ENTRADA TRATO RESPIRATÓRIO • Inalação de gotículas contendo a bactéria. • Portador assintomático. • Faringo-amigdalite: Prevalente em crianças em idade escolar. → Sinais e sintomas: Dor de garganta, febre, aumento dos linfonodos cervicais, exudato purulento, astenia e anorexia. • Escarlatina: Faringite acompanhada de rash eitematoso (erupção cutânea). → Sinais e sintomas: Língua em framboesa dor de garganta, febre, aumento dos linfonodos cervicais, exudato purulento, astenia e anorexia e exotoxina pirogênica (produzida por conversão fágica). → Diagnóstico: Coleta de material clínico na região da orofaringe com o swab. Realização do exame direto pela coloração de gram ou detecção rápida de Ag (carboidrato do grupo A). Além disso, pode ser feito o cultivo em ágar-sangue e, em seguida, a identificação bioquímica. LESÃO DE PELE • Ocorre a entrada de bactérias por meio de ferimentos, picada de inseto, fissuras etc. • Dependem da profundidade que ela atinge na pele. • Impetigo: Multiplicação da bactéria na epiderme. → Sinais e sintomas: Lesões começam como pequenas pápulas, em seguida se transformam em vesículas, elas estouram e formam crostas. → Tratamento: Geralmente, o uso tópico de antibióticos e antissépticos já é suficiente. • Erisipela: Contaminação de lesões, com multiplicação da bactéria na derme. → Sinais e sintomas: Formação de edema, seguida por eritema e descamação da pele. Os membros inferiores e face são mais acometidos. • Celulite: Acometimento do tecido subcutâneo. → Sinais e sintomas: Presença de sintomas sistêmicos (linfadenite, febre, calafrios, mal-estar e bacteriemia). • Fascite necrotizante: Acomete o tecido subcutâneo profundo e a fáscia muscular (miosite), causando necrose da pele. A ferida é contaminada com amostra altamente invasiva (sorotipo 1 ou 3), também chamadas de comedoras de carne. → Sinais e sintomas: Dor local, febre, prostração, a área fica inchada com rash purpura, dor intensa, bolhas com fluído escuro e necrose. • Infecção puerperal: Invasão do endométrio por S. pyogenes proveniente do TRS de contactante da parturiente. → Sinais e sintomas: Dor local, febre, prostração, a área fica inchada com rash purpura, dor intensa, bolhas com fluído escuro e necrose. • Choque tóxico: Normalmente, causadas por amostras produtoras de exotoxina pirogênica A ou C. → Sinais e sintomas: Toxemia, hipotensão, choque, coma, falência múltipla dos órgãos. TRATAMENTO • Penicilina G: Benzatina, procaína e cristalina (casos graves). • Cefalosporinas de 1ª e 2ª geração. • Macrolídeos (Eritromicina ou Clacitromicina) ou azalídeos (Azitromicina), em casos de pessoas alérgica. Streptococcus agalactiae S. AGALACTINE • Presente na microbiota do trato intestinal, trato respiratório superior e mucosa vaginal. • 10 a 30% das mulheres são portadoras transitórias na mucosa vaginal. • Comuns causando infecções graves em recém- nascidos. • Raramente infecta adultos, quando isso ocorre está associada a um fator de risco, como diabetes, câncer e alcoolismo, podendo causar infecção urinária ou pneumonia. • Em grávidas pode causar infecção urinária, amnionite (infecção do líquido amniótico) e endometrite. FATORES DE VIRULÊNCIA São fatores da bactéria, que tem papel na sua capacidade de provocar a doença no hospedeiro.• Cápsula: Constituída de polissacarídeos, que permite a diferenciação de 11 sorotipos dentro dessa espécie. 2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 3 INFECÇÕES EM RN • Perinatal: Período intraparto, algumas horas antes, durante ou após o parto. • Pós-natal: Desenvolve poucas semanas após o nascimento, dentro dos 3 meses de vida. FORMAS DA INFECÇÃO • Precoce: Se manifesta na primeira semana de vida. → Bacteremia. → Pneumonia e meningite. → Fonte de infecção: Microbiota vaginal da parturiente. • Tardia: Entre a primeira semana e os 3 primeiros meses de vida. → Bacteremia, afetando o sistema nervoso. → Meningite. → Fonte de infecção: Microbiota do trato respiratório superior das pessoas que cuidam da criança. FATORES DE RISCO • Parto prematuro; • Mãe intensamente colonizada; • Ruptura precoce das membranas fetais. MEDIDAS DE PREVENÇÃO • Pesquisa de S. agalactiae na mucosa vaginal da mãe, entre a 35ª e a 37ª semana. • Uso profilático de antibiótico, com penicilina G cristalina, 4 horas antes do parto nos casos das mães portadoras de S. agalactiae na mucosa vaginal. • Teste rápido para EGB pela técnica de imunocromatografia. Grupo viridans GRUPO VIRIDANS • Fazem parte da microbiota da cavidade oral, trato genito-urinário e intestinal. • São patógenos oportunistas, podendo causar uma variedade de doenças. Destacam-se a endocardite e a cárie dentária. ENDOCARDITE BACTERIANA • Infecção do endotélio vascular do coração, incluindo as válvulas cardíacas. • Vegetação séptica: Composta por um agregado de plaquetas, fibrina, bactérias e células inflamatórias, aderidas a parede do vaso ou válvula cardíaca. PATOGENIA 1. Processo hemodinâmico: Vegetação formada por plaquetas e fibrina, que se acumulam a partir de áreas de turbulência (válvulas deformadas), traumas do endotélio (corpos estranhos e substâncias irritantes) ou cicatrizes. 2. Bacteriemia: Chegada de bactérias ou fungos na vegetação, através do sangue. Se adere facilmente a ela, por ser favorável. → A bactéria pode ser oriunda de um foco infeccioso primário ou procedimentos traumáticos envolvendo sítios anatômicos colonizados por microbiota. CONSEQUÊNCIAS • Resposta inflamatória causando o crescimento da vegetação; • Pedaços da vegetação caem na circulação provocando a obstrução de vasos; • Deposição de complexos imunes (antígeno e anticorpo) circulantes em articulação e glomérulos renais, resultando na ativação do sistema complemento pela via clássica. A partir disso, pode causar lesão ao epitélio desenvolvimento artrite ou glomerulonefrite; • Focos metastáticos de infecção. FATORES PREDISPONENTES • Lesões cardíacas: → Congênitas. → Adquiridas (febre reumática, aterosclerose e substituição de válvula). • Procedimentos traumáticos: Envolvendo sítios anatômicos com microbiota abundante. • Corpos estranhos: Cateter venoso profundo ou fio de marca-passo. • Usuários de drogas injetáveis: Compostos irritantes, que causam inflamação na parede do endotélio, virando foco de agregação de bactérias. PRINCIPAIS AGENTES • Cocos gram positivos: → Staphylococcus aureus; → Estafilococos coagulase-negativos; → Estreptococos do grupo viridans; → Enterococos. • Bastonetes gram negativos de crescimento lento (HACEK). → Haemophilus; → Actinobacillus; → Cardiobacterium; → Eikmella; → Kingella. 2 0 2 0 . 2 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 4 SINTOMAS • Febre; • Anorexia; • Perda de peso; • Prostração; • Suor noturno; • Sopro cardíaco; • Petéquias na pele, conjuntiva e cavidade oral; • Esplenomegalia (aumento do baço); • Artralgia; • Glomerulonefrite. EPIDEMIOLOGIA • Acomete mais homens após 50 anos. • 60 a 80% dos pacientes tem fator de risco cardíaco congênito ou adquirido. • A válvula mitral é a mais frequente de ser acometida, além dela temos a válvula aórtica. No caso dos usurários de drogas injetáveis, a válvula tricúspide é a mais frequente. DIAGNÓSTICO • Clínico: → Sopro cardíaco, que antes não existia; → Presença de vegetação no ecocardiograma. • Laboratorial: → Hemocultura, faz a detecção precoce no meio de cultura. É usado o sangue e deve ser feita a punção venosa com muito cuidado para não infectar com células da microbiota da pele. • Critérios de Duke: 2 major ou 1 major + 3 minor. → Major: Hemocultura positiva, aparecimento de regurgitação valvular (sopro) e ecocardiograma demonstrando vegetação. → Minor: Presença de fator predisponentes, febre e vasculite periférica (petéquias). TRATAMENTO • Esquema bactericida; • Administração endovenosa; • Tempo prolongado (4 a 6 semanas). • Drogas: → Penicilina G: Estreptococos do grupo viridans. → Oxacilina: Estafilococos. → Vancomicina: Estafilococos MRSA e Enterococos. → Penicilina + Gentamicina: Enterococos. → Cefalosporinas de 3ª geração: Bastonetes gram negativos (HACEK). PROFILAXIA • Uso de antimicrobiano 1 a 2 horas antes do procedimento invasivo; • Recomendada para pessoas com prótese ou lesão valvular. CÁRIE DENTÁRIA A S. mutans destaca-se como iniciador de cárie em superfície lisa do dente, devido à produção de dextranas (exopolissacarídeos), polímeros insolúveis da glicose, que promovem sua aderência ao esmalte do dente, formando um biofilme. A partir disso, outras bactérias da microbiota oral conseguem aderir e os ácidos produzidos pela fermentação de açúcares lesam o esmalte do dente e promovem a destruição do tecido dentário. CUIDADOS NA HEMOCULTURA • Antissepsia da pele no local da punção com álcool 70% ou clorexidina (aguardar 1 minuto); • Não coletar sangue de cateter vascular; • Coletar 2 amostras de locais diferentes ou com intervalo de tempo de 30 minutos entre as coletas; • Coleta 20 a 30 ml (em adultos ou 1 a 5 ml (em crianças), de cada vez; • A coleta deve ser feita preferencialmente antes do uso de antimicrobianos; • Manter a incubação por até 1 semana; • Levar o mais rápido possível ao laboratório, mantendo a temperatura ambiente (não refrigerar).
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