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Alfabetização em Tempos de Pandemia

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Universidade Federal Fluminense
Instituto de Educação de Angra dos Reis
Departamento de Educação
Disciplina: Alfabetização II - 2020.1
Aluno: Gabriel Oliveira Herculano da Silva
Alfabetização e Pandemia: que mundo é esse?
A título de início deste trabalho quero explicitar que neste primeiro momento
os dados que coletei dizem respeito à rede pública de ensino, uma vez que a rede
privada continuou com as aulas de forma remota. Sobre as práticas de alfabetização
da rede privada comentarei mais ao fim do texto.
De acordo com o PNAD 2019 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio -
Divulgada pelo IBGE) o Brasil ainda tem 11 milhões de pessoas não alfabetizadas,
isso é um reflexo de como as políticas de alfabetização em diferentes modalidades
não tem funcionado como o planejado, e esse número tende a aumentar neste ano
em razão do período de isolamento social e do problema de desigualdade social
que afeta a população pobre do país. As preocupações da ABAlf (Agência Brasileira
de Alfabetização), publicadas em nota, giram em torno de três tópicos essenciais: 1)
A infraestrutura, principalmente quanto ao acesso à internet, que muitas vezes é
precário ou inexistente, condições de moradia e de dar continuidade ao ensino de
forma remota; 2) Com a adaptação do planejamento e dos elementos que temos
acesso com mais intensidade no ensino presencial, como a interação entre pares,
afetividade, jogos e brincadeiras e o acesso das crianças aos livros (Entre outros),
mais especificamente como isso procede nesse período?; 3) Uma boa parte dessas
questões necessitam da observação, participação complementação e intervenção
dos professores, para se garantir e ampliar o processo de ensino e aprendizagem, e
a aula remota não permite esse ‘gerenciamento pedagógico’ sobre o processo de
alfabetização de forma plena, prejudicando as práticas e atrapalhando o processo
como um todo.
A ABAlf ainda menciona a Medida Provisória do governo federal que permite
que as escolas suspendam os 200 dias letivos presenciais, mas mantenham uma
carga horária de 800 horas e sobre a necessidade de haver uma formação
específica sobre a utilização das redes para exercer os processos da educação, que
não se resume à uma questão de técnica, “sob risco de ampliar e agravar as
disparidades já existentes no sistema Educacional do país”.
Em entrevista ao canal Futura, a professora da UFMG Magda Soares afirma
que a ausência de ações profissionais de alfabetização são difíceis de executar fora
do contexto escolar, em aulas remotas. Quando perguntada sobre o agravamento
dos efeitos da pandemia sobre a disparidade social, a professora responde:
Infelizmente, não tenho dúvidas sobre o efeito negativo dessa
interrupção do processo de escolarização na qualidade, já precária,
da alfabetização das crianças das camadas populares, resultado das
desigualdades econômicas, sociais, culturais. Para essas crianças é
que uma aprendizagem de qualidade, e não só da alfabetização, é
essencial para que tenham condições avançar na escolarização, de
lutar por condições mais justas neste país tão marcado por
discriminações sociais. Elas têm o direito a um nível de escolaridade
que lhes permita prosseguir no processo de escolarização, adquirir
uma profissão, ser reconhecidas e respeitadas no meio social
privilegiado.
Ela ainda afirma que a presença do alfabetizador é imprescindível no processo, e
que dificilmente essa presença pode ser substituída por um adulto não formado nessa
atividade, isso em detrimento de todas as especificidades do processo de alfabetização e
letramento e suas complexidades, que envolvem inclusive a forma que a criança
compreende a estrutura da língua, cria hipóteses e a reinventa.
Fazendo uma análise comparativa com o Webinário “A alfabetização possível em
tempos de pandemia”, do canal do youtube “e-Docente”, as professoras convidadas fazem
exposições iniciais sobre metodologia de estudo e práticas de alfabetização (Mas de uma
maneira bem geral, evitando entrar na questão dos métodos, propriamente dita). A
abordagem alfabetizadora que elas comentam é a que vemos refletida no trabalho de
profissionais que colhem frutos dos estudos da Psicogênese da Língua Escrita (Emília
Ferreiro e Ana Teberosky) e a abordagem Construtivista Piagetiana, dialogando com o viés
Socioconstrutivista de Vygotsky. As perguntas direcionadas às palestrantes giraram em
torno da questão “É possível alfabetizar em tempos de ensino remoto?”, e como sempre,
elas expuseram que não existe uma resposta pronta, já que o que chamamos de
alfabetização constitui um processo complexo construído a partir de práticas e
entendimentos variantes entre os professores alfabetizadores. Elas apontam questões
primordiais de base para que se possa trabalhar a alfabetização, como a forma como as
crianças estão estabelecendo relações com o processo de escrita e leitura agora nesse
período de isolamento social, se alguém lê para elas, se estão criando hipóteses de escrita
(O que é bem mais difícil e cansativo de identificar remotamente), e dissertam sobre como
as famílias podem apoiar o trabalho do professor alfabetizador nesse momento - e não fazer
o trabalho por eles.
A professora Elaine comenta que nos estudos da professora Delia Lerner, ela aponta
quatro situações didáticas fundamentais: 1°) Leitura pelo professor - o momento em que o
professor lê para os seus alunos; 2°) Leitura pelo aluno - o momento em que o aluno,
mesmo não lendo convencionalmente, é convidado pelo professor a estar nesse papel de
leitor ativo, em que tenta coletar indícios para atribuir sentidos ao texto; 3°) Escrita pelo
Professor - o momento em que a criança dita e o professor escrever (Também conhecido
como textos coletivos) e ela aponta que esse momento também é primordial na contribuição
para a materialização da língua escrita; 4°) Escrita pelo Aluno - que é quando os alunos são
convidados à suas escritas espontâneas. Nesse sentido, a orientação da mesma é que
levem essas situações em consideração no momento de fazer o planejamento das aulas,
uma vez que são situações possíveis de realizar em diferentes plataformas, como em
grupos no whatsapp - em que o professor pode ler semanalmente, ou diariamente para os
seus alunos e pedir aos pais para que reproduzam o áudio para eles, por exemplo -, as
próprias ferramentas dos aplicativos de encontros virtuais (Como o google meet, zoom e
etc). Outra recomendação é que as propostas pedagógicas alfabetizadoras sejam
compartilhadas de forma mais detalhada e simples possível, para que o tutor da criança que
esteja acompanhando entenda o processo e consiga auxiliar presencialmente de alguma
maneira.
No meu entendimento o processo pedagógico na rede pública estadual no ano de
2020 sofreu uma interrupção abrupta que não será recuperada nos limites temporais deste
ano. Infelizmente o poder público demorou muito tempo para oferecer uma resposta de
combate à pandemia eficaz nesse período, o que prejudicou completamente os alunos da
rede pública estadual e municipal. Acrescido a isto está a problemática que foi colocada no
dia 14/10/2020, em resolução publicada pelo secretário de educação atual Comte
Bittencourt, da aprovação automática exclusivamente neste ano, independente dos
resultados apresentados pelos alunos. A questão é polêmica, pois, de fato, não existe
relação de aprendizagem comprovada entre a reprovação de um aluno e a melhora escolar
dele, porém isto é atribuído em explicação como uma ação para evitar a evasão escolar.
Ora, é possível sim produzir este entendimento, mas é mais necessário cobrar uma ação
propositiva do poder público, para que os alunos consigam acessar espaços educacionais
de forma virtual durante nosso isolamento social, já que o número de alunos que não
possuem acesso regular à internet em casa é expressivo também. De forma objetiva:
aprovação automática não resolverá o problema da evasão escolar em 2021. Quanto à
questão das escolas particulares e a continuidade do ensino, penso que isso tem sido feito,
em muitos casos, de forma completamente irresponsávele extrapolando os limites físicos
dos alunos, ao tentar reproduzir de forma remota o uso do tempo que temos acesso
presencialmente. Ora, se não estamos ocupando os mesmos espaços, tendo acesso às
aulas da mesma forma, e vivenciando a experiência escolar de maneira regular, por quê o
período de aulas síncronas precisa ser o mesmo? Todo o estudo que conduzi diante da
minuta publicada pela UFF, que rege nosso período remoto, aponta exatamente no sentido
oposto, no sentido de que esta produtividade forçada é prejudicial ao processo de ensino
aprendizagem e pode prejudicar o interesse do aluno pela escola.
Por fim, quero considerar o esforço dos professores da rede pública em manter os
alunos em contato com os processos educacionais, em diversos relatos que ouvimos todos
os dias destes profissionais compartilhando materiais com eles e inclusive indo em casa
entregar. Ações que devem ser encorajadas, mas sem perder de vista a crítica à inércia do
estado na promoção de mais ações de inclusão digital em prol da educação pública.
REFERÊNCIAS
https://28473cf1-9f63-40b0-b146-f3b3c65a8b23.filesusr.com/ugd/64d1da_02d84c489f92489
5a8ceb7ffc60fe062.pdf
https://guiadoestudante.abril.com.br/atualidades/dia-mundial-da-alfabetizacao-a-situacao-do
-brasil-e-desafios-na-pandemia/
https://www.futura.org.br/como-fica-a-alfabetizacao-e-o-letramento-durante-a-pandemia/
Live Webinário: https://www.youtube.com/watch?v=DAkM4SXl39g&t=2096s
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/blog/edimilson-avila/post/2020/10/14/rede-estadual-de-
ensino-do-rj-tera-aprovacao-automatica-em-2020.ghtml
https://28473cf1-9f63-40b0-b146-f3b3c65a8b23.filesusr.com/ugd/64d1da_02d84c489f924895a8ceb7ffc60fe062.pdf
https://28473cf1-9f63-40b0-b146-f3b3c65a8b23.filesusr.com/ugd/64d1da_02d84c489f924895a8ceb7ffc60fe062.pdf
https://guiadoestudante.abril.com.br/atualidades/dia-mundial-da-alfabetizacao-a-situacao-do-brasil-e-desafios-na-pandemia/
https://guiadoestudante.abril.com.br/atualidades/dia-mundial-da-alfabetizacao-a-situacao-do-brasil-e-desafios-na-pandemia/
https://www.futura.org.br/como-fica-a-alfabetizacao-e-o-letramento-durante-a-pandemia/
https://www.youtube.com/watch?v=DAkM4SXl39g&t=2096s
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/blog/edimilson-avila/post/2020/10/14/rede-estadual-de-ensino-do-rj-tera-aprovacao-automatica-em-2020.ghtml
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/blog/edimilson-avila/post/2020/10/14/rede-estadual-de-ensino-do-rj-tera-aprovacao-automatica-em-2020.ghtml

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