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PRINCÍPIOS DE NUTRIÇÃO CLÍNICA, HOSPITALAR E AMBULATORIAL PRINCÍPIOS DE NUTRIÇÃO CLÍNICA, HOSPITALAR E AMBULATORIAL 1 1 Sumário PRINCÍPIOS DE NUTRIÇÃO CLÍNICA, HOSPITALAR E AMBULATORIAL ................................................................................................ 0 FACUMINAS ............................................................................................ 2 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 3 PRINCIPAIS MEDIDAS E ÍNDICES ANTROPOMÉTRICOS UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO DE ADULTOS: ENFOQUE AMBULATORIAL ......................... 7 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL AMBULATORIAL ..................................... 16 TRANSTORNOS ALIMENTARES: ANOREXIA E BULIMIA NERVOSA 25 PERCURSO METODOLÓGICO ............................................................ 30 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................. 33 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 44 file:///C:/Users/User/Desktop/NOVAS%20APOSTILAS%20FACUMINAS/PRINCÍPIOS%20DE%20NUTRIÇÃO%20CLÍNICA,%20HOSPITALAR%20E%20AMBULATORIAL.docx%23_Toc52964316 file:///C:/Users/User/Desktop/NOVAS%20APOSTILAS%20FACUMINAS/PRINCÍPIOS%20DE%20NUTRIÇÃO%20CLÍNICA,%20HOSPITALAR%20E%20AMBULATORIAL.docx%23_Toc52964316 2 2 FACUMINAS A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Facuminas, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A Facuminas tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 3 INTRODUÇÃO Para o conceito de “estado nutricional”, adotamos o proposto por Vasconcelos (2008), por incorporar a dimensão biológica (manifestação biológica sobre o corpo da relação entre consumo e as necessidades nutricionais) e social (manifestação biológica das relações que se operam sobre o corpo no interior da sociedade). Dessa forma, o autor conceitua estado nutricional como a síntese orgânica das relações entre o homem, a natureza e o alimento, as quais se estabelecem no interior de uma sociedade. Portanto, para a avaliação do estado nutricional de um individuo ou grupo populacional, é necessária a utilização de métodos de coleta e procedimentos diagnósticos que possibilitem determinar o estado nutricional, assim como as causas prováveis que deram origem ao(s) problema(s) nutricional(is), para que medidas de intervenção sejam planejadas, executadas e monitoradas nos âmbitos individual ou coletivo. Em referência aos conceitos apresentados, a avaliação do estado nutricional tem como objetivo identificar distúrbios e riscos nutricionais, e também a gravidade desses, para então traçar condutas que possibilitem a recuperação ou manutenção adequada do estado de saúde. O monitoramento do paciente, através da avaliação nutricional, também é muito importante para acompanhar as respostas do indivíduo às intervenções nutricionais. Outros usos da avaliação nutricional de grande relevância: na vigilância alimentar e nutricional nos diferentes ciclos da vida; no diagnóstico da magnitude e distribuição geográfica dos problemas nutricionais; na tomada de decisão para 4 4 intervenção nutricional no âmbito das políticas e dos programas públicos de combate aos problemas nutricionais mais relevantes considerados como sendo de saúde pública e no monitoramento dos efeitos da intervenção nutricional nos âmbitos individual e coletivo. O conceito de estado nutricional aqui adotado implica na concepção de um modelo multicausal de determinação dos problemas nutricionais que aumenta sua complexidade na medida em que incorpora uma hierarquização no processo de causalidade. Este modelo parte de causas básicas/estruturais que expressam os processos econômicos, políticos e ideológicos da organização social, o desenvolvimento das forças produtivas e as relações de produção. Este, então, segue para um nível de determinação intermediário (mediato), que tem a ver com as relações de organização de produção e consumo de cada classe social, e, finalmente, atinge o nível de determinação mais imediato ou individual que se relaciona com a influência de fatores biológicos, ambientais, econômicos, sociais (quanto à saúde e à educação), culturais e ideológicos e com a forma como se organiza a produção e o consumo familiar e individual. Este último nível se relaciona mais diretamente com a dimensão biológica quando considera a relação entre ingestão alimentar e gasto energético. Assim, em ultima instância, é no desequilíbrio entre o consumo alimentar e o gasto energético que se observam as alterações no estado nutricional ao nível do corpo biológico. O desequilíbrio entre consumo e necessidades nutricionais, em decorrência do consumo insuficiente para atender as necessidades nutricionais, pode ter como consequência doenças carenciais, a exemplo da desnutrição energético proteica, anemia ferropriva, hipovitaminose A, bócio, cárie dental, dentre outras carências nutricionais. No caso do excesso de consumo, tem-se a obesidade, excesso de algumas vitaminas e minerais, as dislipidemias e algumas doenças crônicas não 5 5 transmissíveis, como a hipertensão, o diabetes não insulino dependente e alguns tipos de câncer. Pelo exposto, a definição dos métodos a serem utilizados na avaliação do estado nutricional tem relação com a identificação das manifestações orgânicas dos problemas nutricionais ao nível do corpo, denominados de métodos diretos, e com a identificação das causas desses problemas, denominados de indiretos. Os métodos diretos são classificados, ainda de acordo com o tipo de abordagem, em objetivos (abordagem quantitativa) e subjetivos (abordagem qualitativa). Os métodos objetivos compreendem os exames antropométricos (peso, altura, dobra cutânea etc); exames laboratoriais (hemoglobina, colesterol etc); exame clínico nutricional (sinais e sintomas clínicos nutricionais) e métodos sofisticados como a densitometria, bioimpedância etc. Quanto aos subjetivos, tem-se a semiologia nutricional, a avaliação subjetiva global e a avaliação muscular subjetiva. Os métodos indiretos buscam identificar os fatores associados ao processo de determinação do estado nutricional, ou seja, aqueles que explicam a ocorrência do problema nutricional, além de identificarem indivíduos ou grupos em risco nutricional. São os demográficos (sexo, idade, faixa etária, morbidade, mortalidade etc); socioeconômicos (salário, ocupação, escolaridade, acesso ao serviço de saúde etc.); culturais (tabus alimentares, características locais específicas); estilo de vida (atividade física, hábito de fumar e consumir bebidaalcoólica, etc.) e de inquérito de consumo alimentar (recordatório alimentar de 24 horas, frequência alimentar, pesada direta etc.). A associação de todos esses métodos é imprescindível para melhorar a acurácia e precisão do diagnóstico. Com o apoio dos métodos diretos e indiretos podem ser construídos os indicadores do estado nutricional. 6 6 A partir dessa premissa e de posse do conhecimento epidemiológico e clinico do processo de determinação dos problemas nutricionais, é possível direcionar e ampliar as informações a serem obtidas, considerando a queixa do paciente e fatores ambientais, com sua influência no acesso ao alimento, genéticos (hereditariedade, predisposição ao desenvolvimento de doenças etc) e psicológicos (anorexia, bulimia, ansiedade, etc). Dessa forma, durante o atendimento nutricional, o nutricionista deve estar atento a todas essas condições, no sentido de potencializar a eficácia da intervenção nutricional. Considerando a variabilidade dos métodos para avaliação do estado nutricional, é necessário saber escolhê-los. Para a escolha dos métodos adequados para aplicação em determinada situação é importante a apropriação de alguns conhecimentos, tais como: distinguir uma avaliação para coletividade (pesquisa) de uma avaliação nutricional individual, pois, apesar do mesmo objetivo – correção e/ou manutenção do estado nutricional adequado –, existem métodos que são possíveis de se desenvolver em uma avaliação individual, mas que não se aplicam em populações/ coletividades; a epidemiologia do problema a ser investigado e as formas de manifestações orgânicas dos problemas nutricionais, assim como o conhecimento sobre a validade dos métodos em termos de sensibilidade e especificidade para o diagnóstico do problema nutricional a ser investigado. Ou seja, a escolha do método a ser utilizado dependerá inicialmente do objetivo da avaliação e dos problemas a serem investigados. Agrega-se ainda à diversidade de elementos a serem avaliados e considerados para escolha do método adequado à faixa etária em questão as condições do espaço físico para o exame e a disponibilidade dos instrumentos, dentre outros quesitos. A avaliação nutricional pode ser individual ou coletiva, a depender do método utilizado: clínico ou epidemiológico. 7 7 A avaliação de populações ou coletividades apresenta caráter mais abrangente, uma vez que aborda a questão com maior ênfase na dimensão social, possibilitando o diagnóstico e a explicação dos fatores de determinação para um dado grupo ou população, que conduz a ações de promoção e prevenção para a coletividade, e não para o indivíduo. A avaliação nutricional de coletividades, mais utilizada por profissionais que atuam na área da saúde coletiva, será abordada em um capítulo específico no segundo volume desta série didática. A avaliação nutricional do indivíduo, ou avaliação nutricional no âmbito da clínica, é uma ação desenvolvida pelo nutricionista no seu processo de trabalho domiciliar, ambulatorial e hospitalar. Para a realização da avaliação nutricional, há a necessidade do uso do raciocínio clínico e investigativo para associar o conhecimento técnico e cientifico à habilidade na utilização de métodos e técnicas de diagnóstico e ao processo de determinação dos problemas nutricionais. PRINCIPAIS MEDIDAS E ÍNDICES ANTROPOMÉTRICOS UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO DE ADULTOS: ENFOQUE AMBULATORIAL Massa corporal (peso corporal) Medida que quantifica todos os componentes corpóreos do indivíduo. É comumente utilizada em conjunto com a estatura, na avaliação do Índice de Massa Corporal. Possui alta precisão e grau de reprodutibilidade. Entretanto, sofre mudança durante o dia por alteração no estado de hidratação e na ingestão alimentar recente (WILLETT, 1998). Segundo Gordon, Chumlea & Roche (1988), a massa corporal pode variar em até 2 kg durante o dia. Por isso, recomenda-se aferir essa 8 8 medida pela manhã, após 12 horas de jejum e com a bexiga vazia (ISAK, 2001). Quando não é possível aferir seguindo essa recomendação, é importante registrar a hora do dia em que a medida foi realizada. Quanto ao instrumento utilizado para aferição, há diferentes tipos de balanças: mecânica, digital e analógica, que podem ser fixas ou portáteis. A ISAK (International Society for the Advancement of Kinanthropometry) aconselha utilizar balanças mecânicas ou digitais fixas. Aspectos importantes que devem ser verificados antes da aferição do peso • Quanto ao avaliado: - Roupas: mínimo de roupa possível (ex.: trajes de academia como top, legging ou bermudas) e sem sapatos. - Adornos: se o indivíduo não apresenta adornos como relógios, óculos, correntes, cintos, pochetes, chaves, moedas nos bolsos, adornos na cabeça. • Quanto ao instrumento: - se a balança encontra-se tarada (zerada), especialmente quando utilizada a balança mecânica para aferição do peso; - se a balança está localizada em superfície plana; - se a balança está calibrada (na balança mecânica agulha do braço e o fiel devem estar na mesma linha horizontal). Na balança digital, podem ser utilizados pesos padronizados. • Aferição da medida: - Posicionar o indivíduo no centro da balança com o olhar na linha do horizonte, corpo ereto, com o peso distribuído igualmente nos dois pés, com os braços estendidos ao longo do corpo (Figura 3). Figura 3 9 9 • Aferição da massa corporal • Leitura do resultado: - Na balança mecânica, a leitura deve ser realizada após travar a balança, no lado direito dos pesos deslizantes, quando a agulha do braço e o fiel estiverem nivelados. 1 0 10 Estatura Aspectos importantes que devem ser verificados antes de se medir a estatura • Quanto ao instrumento: O estadiômetro é fixo na parede ou móvel, normalmente com resolução em milímetros. • Aferição da medida: O paciente deve ser posicionado no centro do equipamento, descalço e com a cabeça livre de adornos. Mantê-lo de pé, ereto, com os braços estendidos ao longo do corpo, com a cabeça erguida, posicionada no plano de Frankfurt (Figura 3). As pernas devem estar paralelas, mas não é necessário que as partes internas estejam encostadas. 1 1 11 Os pés devem formar um ângulo reto com as pernas. Idealmente, o indivíduo deve encostar os calcanhares, as panturrilhas, os glúteos, as escápulas e parte posterior da cabeça (região do occipital) no estadiômetro (CUPPARI, 2005; BRASIL, 2011) Índice de massa corporal (IMC) 1 2 12 É um índice internacional utilizado como medida do estado nutricional e preditor da adiposidade corporal do indivíduo (WHO, 2000). É calculado a partir da razão entre peso atual (kg)/ pelo quadrado da estatura (m). Ex.: Uma pessoa com 1,60m de estatura, pesando 53kg, seu IMC = 53kg/1,60m x 1,60m = 20,70 kg/m2 (classificação = eutrofia). Os pontos de corte demonstrados no Quadro 3 trazem a relação entre IMC e o risco de doença crônica ou mortalidade. Quadro 3. Classificação do estado nutricional segundo IMC em adultos e relação com o risco de doenças. Como é um indicador que não discrimina a composição corporal (massa magra de gordurosa) ou a distribuição de gordura corporal, deve ser utilizado com cautela e em conjunto com outras medidas/ indicadores na avaliação do risco de doenças. Também se deve ter cuidado ao utilizá-lo em pessoas muito baixas ou muito altas e naquelas com desproporcionalidade corporal (troncos grandes, pernas curtas) (SAMPAIO, 2012). 1 3 13IMC = Índice de Massa Corporal; PMB = Perímetro Muscular do Braço; AMB= Área Muscular do Braço; AMBc= Área Muscular do Braço corrigida; PPA= Perímetro da Panturrilha; CB= Perímetro do Braço; AGB= Área Gordurosa do Braço; PC= Perímetro da Cintura; RCE= Relação Cintura Estatura; RCCx= Relação Cintura Coxa; RCQ= Relação Cintura Quadril; IC= Índice de Conicidade; DAS= Diâmetro Abdominal Sagital; PP= Perímetro do Pescoço; MME= Massa Muscular Esquelética. Composição corporal As medidas de composição corporal refletem o risco de doenças relacionadas ao excesso de gordura corporal ou à depleção da massa magra. 1 4 14 A avaliação da composição corporal é importante no monitoramento das mudanças na composição corporal em programas de intervenção nutricional ou de atividade física (SAMPAIO, 2012). Embora o corpo humano seja composto por vários elementos, de maneira didática, a massa corporal pode ser quimicamente dividida em dois compartimentos: massa de gordura (massa corporal composta por gordura) e a massa isenta de gordura (demais componentes excluído a massa de gordura, ex.: ossos, músculos, órgãos e o tecido conjuntivo) (WILMORE; COSTILL, 2001). Para avaliação da massa muscular, podem-se utilizar as medidas de PMB, AMB, AMBc. A massa de gordura é amplamente avaliada pelas dobras cutâneas. Avaliação da massa muscular A massa muscular esquelética (MME) representa grande parte da massa isenta de gordura e pode ser estimada por meio do perímetro do braço (PB), perímetro muscular do braço (PMB), área muscular do braço corrigida (AMBc) e equações preditivas da MME corporal total. A depleção da massa magra está relacionada à perda de força/trabalho muscular do indivíduo, à redução de proteínas somáticas e, consequentemente, à imunodepressão e doenças carenciais (SAMPAIO, 2012). Antes de explicar como realizar cada medida, é importante salientar que o ponto médio entre os acidentes ósseos acrômio e rádio é utilizado como referência na avaliação dessas medidas. Assim, segue o passo a passo para localização desse ponto. Para localizar o ponto médio entre o acrômio e o rádio, primeiramente é necessário identificar esses dois acidentes ósseos. • Identificação e marcação do acrômio: - Definição: ponto na parte superior da borda do acrômio com o aspecto mais lateral. 1 5 15 - Posição do indivíduo na avaliação: deve estar em posição relaxada com os braços ao lado do corpo, com a palma da mão voltada para a coxa. - Localização: A medida deve ser realizada com o avaliador posicionando-se atrás e ao lado do braço direito do indivíduo. Primeiramente, palpe ao longo da espinha da escápula até o canto do acrômio, que representa o início da borda lateral, que geralmente corre para frente, ligeiramente superior e medial. A semiologia nutricional é realizada de forma sistêmica e progressiva, da cabeça aos pés, e tem como finalidade determinar as condições nutricionais do paciente. A avaliação semiológica relacionada ao estado nutricional abrange a anamnese nutricional para a identificação dos sintomas clínicos nutricionais e o exame físico para avaliação dos sinais clínicos nutricionais. O exame físico, quando combinado a outros elementos da avaliação nutricional, oferece uma perspectiva única da evolução do estado nutricional, fornecendo indicativos das deficiências e/ou carências nutricionais ou piora funcional. Essas informações muitas vezes podem passar despercebidas e acabar sendo perdidas na anamnese nutricional (HAMMOND, 1999; DIAS et al., 2011). Ao final do exame físico, o avaliador consegue obter várias informações que são fundamentais para o diagnóstico nutricional, tais como (DIAS et al., 2011): • Se o peso está acima ou abaixo do habitual; • Sinais de depleção nutricional (perda de tecido subcutâneo na face, bola gordurosa de Bichat, tríceps, coxas e cintura); • Perda de massa muscular nos músculos quadríceps e deltoide; • Presença de edema nos membros inferiores, região sacral e ascite; • Presença de desidratação na avaliação do pulso e pele; 1 6 16 • Alteração na coloração e integridade de mucosas, pele e conjuntiva para diagnosticar carências de vitaminas e minerais; • Alteração das unhas, dentes, pelos e cabelo. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL AMBULATORIAL 1. Aspectos do corpo a serem observadas no exame físico geral a) Cabeça O exame físico deve ser iniciado pela cabeça, observando os cabelos, olhos, boca (lábios e língua) e face (SAMPAIO et al., 2012). Nos cabelos as características a serem avaliadas são: coloração, brilho, espessura, hidratação, quantidade e ocorrência de alopecia. Suas condições normais são: aspecto brilhoso, firmes e difíceis de arrancar, crescimento normal, macio e coloração adequada. Quando o cabelo está sem brilho, com aspecto seco, quebradiço, despigmentado e fácil de arrancar, é sugestivo de deficiência de proteína e zinco, o que pode ser confirmado com exames laboratoriais (WAITZBERG, 2009; SAMPAIO, 2012). Nos olhos é importante observar a cor das mucosas e membranas que, quando pálidas, indicam anemia. A anemia pode ter várias causas, como deficiência de ferro, vitamina B12, ácido fólico; ou por hemorragias, insuficiência renal crônica, desnutrição, entre outras. A palidez localizada pode também ser causada por isquemia, não havendo relação com o valor nutricional nesse caso (DUARTE, 2007). É importante analisar também os sinais de excesso de nutrientes (ex.: níveis elevados de lipídeos circulantes), como xantelasma e arco córneo lipídico. Olhos escavados, escuros e com flacidez ao redor são sinais de deficiências 1 7 17 nutricionais a serem observados na desnutrição. A xeroftalmia e nictalopia são características de hipovitaminose Em condições normais, os olhos apresentam características como membranas róseas e úmidas, sem manchas e boa adaptação em ambientes escuros (WAITZBERG, 2009; SAMPAIO, 2012). Nos lábios, devemos analisar a coloração da mucosa, que deve ser rosada, caso contrário, pode-se sugerir um quadro de anemia, devendo ser confirmado através do exame laboratorial. A presença de estomatite angular e de queilite pode ser por uma possível deficiência de vitamina B2 (WAITZBERG, 2009; SAMPAIO, 2012). A língua também precisa ser examinada; deve ser observada a coloração, fissuras, cortes, umidade, textura e simetria. Ao pedir que o paciente projete a língua para fora da cavidade oral, ela deve estar protusa simetricamente. Algumas anormalidades na simetria da língua podem sugerir problemas com o XII par de nervos cranianos (hipoglosso), que podem trazer prejuízos aos pacientes, como mastigar os alimentos inadequadamente(WAITZBERG, 2009). A língua deve ser rosada e úmida, sem cortes ou fissuras, e sua textura deve ser ligeiramente áspera, devido à presença das papilas gustativas. Na presença de glossite, a língua se torna vermelha, atrófica e dolorosa. Caso a língua apresente qualquer outra coloração (ex.: magenta), pode significar distúrbio nutricional (WAITZBERG, 2009). Sintomas como glossite, língua magenta, atrofia e hipertrofia das papilas são indicativos de hipovitaminoses do complexo B, respectivamente, vitamina B3, B2, B9 e B12 (WAITZBERG, 2009; SAMPAIO, 2012). Na face, a atrofia temporal é um importante parâmetro a ser observado quando ocorre a atrofia bitemporal; significa que o paciente parou de mastigar ou deixou de usar a mastigação como fonte principal de ingestão alimentar. 1 8 18 Quando se reduz ou se troca a mastigação por qualquer outra forma de ingestão alimentar, pressupõe-se que o paciente esteja ingerindo uma dieta hipocalórica(DUARTE, 2007). Independentemente de estar ou não doente isso pode acontecer, visto que qualquer pessoa que resolva fazer uma dieta para emagrecer, uma dessas dietas da moda (especialmente aquelas baseadas em sopas, sucos, chás e shakes), e pare de mastigar por três ou quatro semanas, vai ter a musculatura temporal atrofiada. A atrofia temporal também é muito comum em pacientes com hipo ou anorexia, da mesma maneira que naqueles com disfagia (DUARTE, 2007). É importante salientar que no início das manifestações anteriormente citadas, o paciente apresenta atrofia da musculatura temporal e pode apresentar mais tardiamente a depleção da bola gordurosa de Bichat; portanto se torna crucial examinar o paciente em perfil para interpretar a relação da atrofia muscular temporal e da bola gordurosa de Bichat (DUARTE, 2007). O sinal da asa quebrada é definido pela junção da atrofia da musculatura temporal com a perda da bola gordurosa, observado quando o paciente é examinado em perfil. Isso significa que o paciente está com perda proteico- calórica prolongada (DUARTE, 2007). b) Massas musculares no pescoço, tórax, dorso e membros superiores Devemos analisar as perdas musculares na região do pescoço através da exacerbação das regiões supra e infraclaviculares e da fúrcula esternal. A atrofia nas regiões supra e infraclavicular do paciente, seja visto de pé, sentado ou deitado é indicativa de perda crônica de massa muscular(DUARTE, 2007). No tórax é possível identificar retração intercostal, o que implicará menor força respiratória em situações de dispneia (DUARTE, 2007). A atrofia da musculatura paravertebral reduz a força de sustentação corporal, o que leva o paciente a adotar o decúbito dorsal com mais frequência. 1 9 19 O indivíduo no qual a musculatura paravertebral está atrofiada perde a capacidade de sustentar seu peso e sua coluna e começa a fazer cifose, consequentemente, tem sua capacidade de expansão ventilatória pulmonar diminuída (DUARTE, 2007). c) Abdome O abdome poderá estar distendido, plano ou escavado, isso dependerá da doença de base ou do tempo de instalação da desnutrição proteico calórica (WAITZBERG, 2009). Quando o abdome se encontra escavado, significa que o paciente está privado de alimentos há muito tempo ou em estado catabólico intenso (DUARTE, 2007). Em alguns casos, o paciente está desnutrido, mas não apresenta abdome escavado, como pacientes com insuficiência hepática que têm desnutrição, todavia, o abdome encontra-se distendido pela ascite (DUARTE, 2007). d) Membros inferiores Nos membros inferiores é possível observar a atrofia da musculatura das coxas, principalmente na porção interna, o que dá a impressão (quando o paciente fecha a perna encostando os joelhos) que há um “vale” formado pela perda da massa muscular na sua porção medial (DUARTE, 2007). A atrofia da musculatura das panturrilhas é a mais precoce atrofia a ocorrer quando começa o processo de desnutrição proteico-calórica, principalmente nos pacientes graves em unidades de terapia intensiva (DUARTE, 2007). Esses dois tipos de atrofias favorecem maior enfraquecimento dos membros inferiores e podem comprometer a capacidade de força, equilíbrio e mobilidade (DUARTE, 2007). 2. Outros aspectos a considerar no exame físico geral a) Desidratação 2 0 20 A desidratação é outro fator que implica o aparecimento de sintomas e sinais na pele, mucosa e demais tecidos do corpo. Ela pode ser causada por baixa ingestão ou perda excessiva de água, ou ambos os fatores. Na hipótese de baixa ingestão de água, é importante destacar que os idosos e os dependentes de cuidadores, sobretudo durante os meses de mais calor, são mais propensos à desidratação. Dentre as causas de perda excessiva de água corporal destacamos: vômitos, diarreias, sudorese intensa e poliúria. Os sinais e sintomas baseiam-se na intensidade do quadro e podem ser: sede intensa, astenia, fraqueza, apatia, sonolência, agitação psicomotora, e, nos casos mais graves, convulsões (DUARTE, 2007). Diante da suspeita de um paciente com desidratação, o examinador deve proceder da seguinte maneira: solicitar ao paciente que produza salivação; verificar o brilho dos olhos; verificar a tensão ocular, pois os olhos tendem a ficar encovados; verificar a umidade das mucosas gengival e conjuntiva; examinar o turgor pinçando com o polegar e o indicador uma prega de pele que engloba tecido subcutâneo (se a pele está com o aspecto de pele murcha e a prega se desfaz lentamente, indica desidratação)(WAITZBERG, 2009). b) Edema Observar a presença de edema é de grande importância no diagnóstico de desnutrição proteico-calórica, pois está relacionado à presença de hipoproteinemia e a hipoalbunemia. Valores de proteínas totais inferiores a 5,0 g/dL ou de albumina menores que 2,5 g/dL são capazes de gerar edema (DUARTE, 2007). Para a pesquisa de edema, deve-se levar em consideração o decúbito de preferência do paciente, pois caso ele fique muito tempo em pé ou sentado, deveremos procurar os membros inferiores, começando pelos tornozelos(DUARTE, 2007). 2 1 21 É importante também que o examinador faça uma pressão sobre a face anterior da perna contra a estrutura óssea e observe se ocorre uma depressão tecidual, chamada de Cacifo ou Sinal de Godet,a qual demorará um tempo até que volte ao normal (DUARTE, 2007). Além dessas situações elencadas anteriormente, o edema também pode ser decorrente de doenças renais, hepáticas, cardíacas e outras (COELHO, 2004). c) Alterações na pele, nos pelos e nos fâneros As alterações mais descritas na pele, pelos e unhas são aquelas relacionadas às deficiências de ferro, zinco, proteínas, ácido fólico e niacina (B3 )(DUARTE, 2007). Na Tabela 1.1, apresentamos as principais alterações encontradas em algumas deficiências nutricionais. 2 2 22 Exame físico em condições específicas: sinais físicos nas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e nos transtornos alimentares As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) têm causa multifatorial e são a principal causa de mortalidade no Brasil. Dentre os principais fatores de risco para o desenvolvimento dessas doenças destacam-se o fumo, a baixa ou nenhuma atividade física, alimentação não saudável e uso excessivo de álcool (BRUCE et al., 2012). Juntamente com os parâmetros bioquímicos, a avaliação dos sinais físicos e aspectos clínicos dos pacientes que apresentam doenças crônicas ajudam a complementar o atendimento nutricional. 2 3 23 Diabetes mellitus É um distúrbio provocado pela elevação das taxas de glicose no sangue (hiperglicemia). Esse aumento pode ser causado pela deficiência na produção de insulina ou na sua ação, ou Nutrição 18 em ambos os mecanismos. Pode ser classificada em tipo 1, 2, gestacional ou outros tipos (monogênicos, secundário a medicamentos, a infecções, etc) (SBD, 2017). a) Dislipidemia O diagnóstico da dislipidemia se dá basicamente pelos exames bioquímicos, por meio dos quais são medidas as concentrações dos lipídios plasmáticos e os resultados são comparados com os parâmetros de referência (BERTOLAMI; FALUDI; ALDRIGHI, 2001). No entanto, em casos mais graves, é possível perceber alterações físicas que alertam para o problema antes mesmo que seja feito o exame laboratorial (BERTOLAMI; FALUDI; ALDRIGHI, 2001). Dentre os sinais físicos comuns, podem ser citados o arco de córneo, a lipemia retinalis, os xantomas e xantelasmas. O arco de córneo, diferentemente dos demais sinais físicos mencionados, permanece no indivíduo mesmo após a normalização dos níveisde colesterol sanguíneo, não sendo reversível (BERTOLAMI; FALUDI; ALDRIGHI, 2001). 2 4 24 Obesidade Os indivíduos que apresentam índice de massa corporal (IMC) igual ou superior a 30kg/ m2 são diagnosticados com obesidade (ALVARENGA; KORITAR; POLACOW, 2012). Essa doença crônica caracteriza-se pelo acúmulo excessivo de gordura no tecido adiposo, causando prejuízo para a saúde. De acordo com a forma em que ocorre a distribuição regional da gordura abdominal, é possível classificar a obesidade em dois tipos (ALVARENGA; KORITAR; POLACOW, 2012): • Androide: apresenta maior acúmulo de gordura na região abdominal, é também descrita como central ou formato maçã. Mais comum em indivíduos do sexo masculino (ALVARENGA; KORITAR; POLACOW, 2012). • Ginoide: apresenta acúmulo de gordura de modo mais uniforme e periférico, também descrita como formato de pera. Mais comum em indivíduos do sexo feminino (ALVARENGA; KORITAR; POLACOW, 2012). Independente do tipo de obesidade, o indivíduo obeso apresenta sinais físicos característicos apresentados na Tabela 4 2 5 25 O exame físico é de suma importância e por isso deve ser feito de forma minuciosa para estabelecer um diagnóstico nutricional adequado, a fim de determinar condutas positivas para os pacientes. O exame deve compreender a avaliação nutricional de todo e qualquer tipo de pessoa, devendo-se ampliar a investigação diagnóstica por meio de exames laboratoriais e encaminhar o paciente para outros profissionais de saúde para avaliações complementares se for o caso. TRANSTORNOS ALIMENTARES: ANOREXIA E BULIMIA NERVOSA Anorexia nervosa Na anorexia nervosa, ocorre perda significativa de peso por meio de restrição calórica, prática excessiva de atividade física, uso indevido de purgantes intestinais, uso de fármacos anorexígenos ou diuréticos e/ou indução de vômitos. 2 6 26 Há também a preocupação exacerbada com o corpo, acompanhada de autojulgamento e medo de perda de controle quanto ao consumo de calorias e ganho de peso ponderal. Além disso, há diminuição da libido em homens e mulheres, sendo que as mulheres acabam desenvolvendo também amenorreia (ausência de menstruação)(MANN; TRUSWELL, 2009; MESQUITA et al., 2014). Com o agravo do transtorno alimentar acontece a perda de peso e as consequências fisiológicas e psicológicas começam a aparecer. No que diz respeito aos sinais físicos (MANN; TRUSWELL, 2009), é possível identificar alguns, como mostra a Tabela 5. Bulimia nervosa 2 7 27 Uma característica predominante no indivíduo com bulimia é a falta de controle do que ele ingere, comendo de maneira exagerada e sem limite (MANN; TRUSWELL, 2009). Somados a isso existem os mecanismos de compensação decorrentes de sentimento de culpa após os episódios, como vômitos auto induzidos, uso abusivo de laxantes e diuréticos, períodos intercalados de jejum, consumo de fármacos supressores de apetite ou anorexígenos, hormônios tireóideos e/ou prática de exercícios físicos de maneira exagerada (MANN; TRUSWELL, 2009; MESQUITA et al., 2014). Por fim, assim como na anorexia nervosa, o indivíduo com bulimia apresenta a mesma preocupação exacerbada com o corpo e tenta controlar a ingestão calórica por medo de ganhar peso (MANN; TRUSWELL, 2009). Diferentemente dos casos de anorexia nervosa, as pessoas com bulimia nervosa costumam permanecer com o peso dentro da normalidade (MANN; TRUSWELL, 2009), não sendo esse um sinal físico tão relevante a ser observado. As mulheres podem apresentar menstruação irregular ou ausente, fraqueza e letargia, dores abdominais e de dente (MANN; TRUSWELL, 2009; ALVARENGA; KORITAR; POLACOW, 2012; MESQUITA et al., 2014). Os sinais físicos associados à bulimia estão na Tabela 6. 2 8 28 A Política Nacional de Humanização (PNH) em seu projeto destaca a necessidade de construir e implementar ações específicas para os diferentes setores de saúde, a fim de responder às necessidades da população de forma integrada à rede de serviços de saúde local e regional. Aliado à necessidade desta nova cultura de atenção, os novos perfis demográficos, de mortalidade e morbidade da população têm exigido abordagens diferenciadas para um atendimento qualificado. Ao lado destas demandas que afetam diretamente o atendimento nos hospitais, a desnutrição intra-hospitalar também é considerada um aspecto preocupante por estudiosos do tema. Diante deste contexto, o cuidado nutricional assume fundamental importância dentro do processo de humanização no ambiente hospitalar, visto que são poucos os indicadores e ações humanizadoras concebidos com os setores envolvidos neste cuidado. O termo cuidado é tradicionalmente adotado pela área de enfermagem. Borestein et al., ampliando este conceito para a área de saúde, destacam que o cuidado é um encontro estabelecido entre a pessoa que cuida e quem é cuidado, manifestando-se através de ações profissionais disciplinares e interdisciplinares que se dão no processo de interação terapêutica entre os seres humanos. 2 9 29 Na nutrição, a American Dietetic Association (ADA) define o cuidado nutricional como um processo de ir ao encontro das diferentes necessidades nutricionais de uma pessoa, o que inclui [...] a avaliação do estado nutricional do indivíduo, a identificação das necessidades ou problemas nutricionais, o planejamento de objetivos de cuidado nutricional que preencham essas necessidades, a implementação de atividades nutricionais [...] e a avaliação do cuidado nutricional. Ainda Boog9 destaca a necessidade de envolver aspectos sensoriais e psicológicos ao cuidado nutricional. Sousa e Proença adotam os termos cuidado alimentar e nutricional e argumentam que, para a efetivação destes cuidados, é necessário um conjunto de ações articuladas entre os setores de produção de refeições e de atendimento clínico-nutricional. Estas ações consistem em estratégias coletivas que visam não só às ações qualificadas em saúde e nutrição, como também à realização dos profissionais envolvidos pela oportunidade de interação e aprendizagem mútuas no trabalho. Para o presente estudo, embora estes termos não sejam adotados pela legislação que regulamenta o exercício profissional do nutricionista no Brasil, os conceitos apresentados podem auxiliar nas práticas deste profissional dentro do contexto da humanização. A inserção dos nutricionistas nos hospitais é destacada em pesquisa do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN). Dos nutricionistas que atuam em nutrição clínica, cerca de 80% estão nos hospitais e clínicas e, dos que atuam na alimentação coletiva, 28% o fazem no setor hospitalar. Em Santa Catarina, 48,4% dos nutricionistas estavam no setor hospitalar, havendo, posteriormente, uma migração para a área de alimentação coletiva, que engloba também outros setores, além do hospitalar. Além dos aspectos referidos, a situação do trabalho deste profissional tem sido objeto de alguns estudos. 3 0 30 Os resultados têm revelado falta de comunicação entre as unidades de internação clínica e a produção de refeições, dificultando a interação entre a prescrição e a execução da dieta, bem como a análise da efetividade do tratamento nutricional oferecido. Destaca-se ainda a falta de definição clara de responsabilidades, formação insuficiente dos profissionais de saúde para lidar com os problemas nutricionais, pouca influência sobre a adesão do paciente ao tratamento, falta de cooperação entre a equipe e de envolvimento da gerência dos hospitais, além de acúmulode atividades ligadas ao gerenciamento de serviços. Estes dados são relevantes para uma reflexão sobre as competências e habilidades que estes profissionais necessitam para o desenvolvimento de ações em alimentação e nutrição qualificadas dentro do contexto de humanização. O desenvolvimento destas ações depende de condições dignas de trabalho e da interação de profissionais com os cuidados ao paciente. A PNH é uma política generalista. Portanto, não apresenta especificidades de ações relacionadas ao cuidado alimentar e nutricional. Baseado nestas considerações, o objetivo do estudo foi identificar as ações de cuidado alimentar e nutricional, considerando a perspectiva de nutricionistas de um hospital de referência para a PNH. PERCURSO METODOLÓGICO A pesquisa apresentou uma abordagem qualitativa. Para Minayo e Sanches, este tipo de abordagem realiza uma aproximação e de intimidade entre sujeito e objeto, se envolvendo com empatia aos motivos, às intenções, aos projetos dos atores, a partir dos quais as ações, as estruturas e as relações tornam-se significativas. Considerando as características da pesquisa qualitativa e as contribuições para as ciências da saúde advindas dos estudos realizados com 3 1 31 grupos, optou-se, para o presente estudo, pela utilização da técnica do grupo focal. O grupo focal é uma técnica de coleta de dados para pesquisa qualitativa inspirada em técnicas de entrevistas não direcionadas e técnicas grupais utilizadas na psiquiatria. Consiste em entrevistas em grupo, sobre um "foco" ou "tópico" específico. Busca colher informações que possam proporcionar a compreensão de percepções, crenças, atitudes sobre um tema, produto ou serviço. Difere da entrevista individual por basear-se na interação entre as pessoas para obter dados necessários à pesquisa. Sua formação deve obedecer a critérios previamente determinados pelo pesquisador, de acordo com os objetivos da investigação, cabendo a esse a criação de um ambiente favorável à discussão, que propicie aos participantes manifestar suas percepções e pontos de vista. O presente estudo foi desenvolvido no período de abril a agosto de 2006, com a equipe de nutricionistas que atua em um hospital público no município de Florianópolis (SC). O hospital, referência na PNH, apresenta 260 leitos exclusivos do Sistema Único de Saúde e dentre as ações que integram a Política de Humanização interna do hospital destacam-se 22 programas voltados para os trabalhadores da instituição e 42 programas e ações voltados aos usuários do sistema de saúde. A equipe de nutricionistas é composta por treze profissionais, do sexo feminino. Atuam em diferentes setores: uma na gerência geral da unidade de alimentação e nutrição, duas na unidade de produção de refeições e dez nas unidades de internação clínica e ambulatório. O referencial teórico possibilitou a elaboração de um modelo de análise19 abordando-se aspectos conceituais, práticas e éticas da assistência prestada aos pacientes, culminando na categoria "Ser nutricionista para um atendimento humanizado". 3 2 32 A partir da pergunta norteadora, "O que é ser nutricionista para um atendimento humanizado?" Buscou-se compreender as seguintes ações da prática destes profissionais: (1) avaliação do paciente: aspectos clínicos relacionados ao histórico clínico nutricional; (2) planejamento do cuidado nutricional: aspectos clínicos referentes à prescrição dietética, bem como medidas que possibilitem ao paciente atingir suas necessidades nutricionais; (3) implementação do cuidado nutricional: aspectos relacionados à produção de refeições, modificações necessárias para tornar o alimento aceitável pelo paciente e educação nutricional ao paciente e à família e (4) avaliação do cuidado nutricional: aspectos relacionados ao monitoramento da ingestão alimentar, alteração do comportamento alimentar ao monitoramento dos dados clínicos e nutricionais. As treze nutricionistas foram divididas em dois grupos, estabelecendo-se como critério o tempo de serviço no hospital, respeitando-se as recomendações de homogeneidade e número de participantes. O Grupo 1 foi composto por seis nutricionistas, que trabalham há mais de nove anos no hospital, enquanto o Grupo 2 foi composto por sete nutricionistas que trabalham há menos de nove anos. Foram realizados quatro encontros de discussão, sendo dois com cada grupo, com duração aproximada de uma hora e trinta minutos, cujo horário e local foram acordados entre as participantes. Cada encontro teve um objetivo e uma técnica pré-estabelecidos. Ao início de cada reunião, utilizou-se música ambiente e solicitou-se às entrevistadas que fechassem os olhos, aplicando-se um exercício de respiração, para proporcionar relaxamento e concentração. Para as entrevistas, foi utilizada a técnica da "explosão de ideias", a partir da pergunta norteadora. As entrevistas 3 3 33 foram gravadas e registradas em caderno de campo, sendo posteriormente transcritas. Após a transcrição, realizou-se a autoconfrontação, através da qual cada participante recebeu uma cópia da entrevista para acrescentar ou retirar algo ao material e assiná-lo. A análise do conteúdo (AC) foi utilizada como técnica para sistematização das informações obtidas, agrupando-as em unidades de significado. Posteriormente, o conteúdo foi analisado e discutido com o auxílio do referencial teórico sobre o tema. O projeto da pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética de Pesquisa com Seres Humanos (CEPSH) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A fim de assegurar o anonimato das participantes, foram utilizadas as letras "Nut", seguida por algarismos cardinais (Ex: Nut 1; Nut 2), durante a descrição das narrativas nos resultados e discussão. RESULTADOS E DISCUSSÃO A equipe de nutricionistas, com relação ao tempo de formação, é composta por três profissionais com menos de dez anos de formação, seis estão na faixa de dez a 21 anos e quatro há mais de vinte anos. Quanto ao aprimoramento profissional, seis profissionais realizaram especialização na área de nutrição clínica, uma em administração, uma em gerência da qualidade de produção de refeições, uma em gerontologia, uma em saúde pública e uma em terapia nutricional. Deste grupo, quatro são mestres, uma é mestranda e uma doutoranda. O regime de trabalho é de trinta horas semanais, variando para as chefias que totalizam quarenta horas. A análise do conteúdo revelou que, apesar das nutricionistas terem preocupação com a qualidade do cuidado prestado ao paciente, há predomínio 3 4 34 de ações fragmentadas, não sistematizadas e dificuldades de interação com a equipe. A avaliação clínico-nutricional é uma das primeiras ações realizadas na prática dos nutricionistas e faz parte do protocolo de atendimento do hospital. Ocorre, geralmente, nas primeiras horas de internação do paciente. Observam-se, primeiramente, os dados clínicos, bioquímicos, antropométricos e sociais, registrados pela equipe de enfermagem no prontuário. A história de vida dos pacientes foi um dos aspectos ressaltados no processo de avaliação: Eu sempre procuro ler o prontuário primeiro, saber por que o paciente está internando, de onde ele veio antes de falar com ele. Aí a gente conversa com o paciente já sabendo mais ou menos o que ele tem e o que não tem. A avaliação do estado nutricional tem como objetivo identificar os distúrbios nutricionais, possibilitando uma intervenção adequada para auxiliar na recuperação ou manutenção do estado de saúde do indivíduo. Utilizam-se métodos objetivos (antropometria, composição corpórea, parâmetros bioquímicos e consumo alimentar)e métodos subjetivos (exame físico a Avaliação Subjetiva Global), recomendando-se a associação destes indicadores para obter um adequado diagnóstico nutricional27. Estas ações, quando realizadas conjuntamente pela equipe de saúde, podem auxiliar no cuidado nutricional, na evolução clínica e prevenção da desnutrição hospitalar. Os conhecimentos em nutrição, a clareza de papéis e as responsabilidades da equipe são imprescindíveis neste processo28. Destaca-se que a competência técnico-científica também faz parte da humanização. A PNH, além da incorporação de novas tecnologias e a especialização dos saberes, visa como princípio básico ao fortalecimento do trabalho em equipe, fomentando a multidisciplinaridade1. 3 5 35 Há uma preocupação das nutricionistas em utilizarem os dados obtidos pela equipe de enfermagem: Quando o paciente vem da enfermaria normalmente a enfermagem recebe ele e já pesa e mede, só que às vezes eles só perguntam pro paciente. Quando você vai ver os dados não batem, porque foi um dado referido. Às vezes a pessoa não se pesa e não se mede há muito tempo e dá diferença. É importante que as medidas antropométricas sejam coletadas pela equipe de saúde, pois quando referidas pelo paciente nem sempre são fidedignas. Wyszynski et al., investigando o estado nutricional de pacientes hospitalizados na Argentina, constataram que somente em 38,8% dos hospitais estudados houve registros sobre o estado nutricional e apenas 12% dos pacientes lembravam de seu peso usual e atual. Com relação à obtenção dos dados bioquímicos, observam-se dificuldades para estabelecer parcerias entre médicos e nutricionistas. Como exemplo, as nutricionistas referem que os exames frequentemente solicitados pelos médicos e disponíveis no prontuário são hemograma, proteína total e albumina. Outros exames são solicitados somente em casos específicos: Têm médicos que aceitam nossos pedidos, outros não. Normalmente os médicos mais jovens ou mais abertos, que sabem a importância, aceitam melhor. Após a observação do prontuário, as nutricionistas procuram saber como o paciente está e como se sente em relação à doença, objetivando a adequação da dieta às suas necessidades alimentares e nutricionais e a sua condição de vida. Os dados sociais também compõem as informações. É perguntado ao paciente se já esteve internado, se é portador de doença crônica ou se possui acompanhante. Para verificar o consumo alimentar per capita, especialmente de açúcar e óleo, costuma-se perguntar se mora sozinho ou com outras pessoas ou mesmo 3 6 36 se é morador de rua: Quando eu vou conversar com ele, no primeiro momento eu faço algumas perguntas, como ele está como está se sentindo, como é a relação dele com o alimento, o que ele costuma comer, o que gosta e o que não gosta, o que aceita ou não aceita, como é que estava se alimentando em casa, se estava se alimentando ou não, pra ter uma ideia da disponibilidade de alimentos na casa dele, procuro perceber como ele está em relação à doença dele, se ele sabe realmente o que ele tem. Para o registro das informações, é utilizado um formulário específico (histórico de nutrição), usualmente anexado ao prontuário do paciente, constando de dados gerais, história alimentar, análise dietética, avaliação nutricional e conduta dietoterápica. Porém, as profissionais afirmam que o formulário é extenso, tornando-se de difícil aplicação, considerando o número de pacientes por nutricionista e o tempo necessário para a sua aplicação: Quando a gente está com trinta leitos, sem condições de fazer histórico, pelo menos colhemos as informações principais, para auxiliar na adequação da dieta. Nós temos o formulário oficial, que deveríamos aplicar em todos os pacientes, mas é muito grande, toma muito tempo, como a gente normalmente é uma para trinta leitos, não dá. No Canadá, Labonté e Ouelét analisaram o tempo necessário para os dietistas (título equivalente ao nutricionista no Brasil) desenvolverem suas atividades em hospitais e constataram que os dietistas dedicam pouco tempo ao preenchimento de formulários contendo dados clínicos nutricionais do paciente. No Brasil, a relação entre o número de nutricionistas e o número de leitos foi estabelecida pela Resolução nº 201/98 do Conselho Federal de Nutricionistas, que recomenda uma nutricionista para cinquenta, trinta ou quinze leitos, conforme o nível de complexidade da assistência prestada ao paciente. Na França, Guy-Grand revelou insuficiência de profissionais e uma grande heterogeneidade na proporção de dietistas/número de leitos. 3 7 37 A média encontrada foi de 1 dietista /117 leitos. No Brasil, em estudo comparando-se um hospital público e outro privado, constatou-se a relação de 1 nutricionista/36 e 44 leitos, respectivamente. A priorização do atendimento e a necessidade de reformulação das ações de trabalho são relatadas pelas profissionais, considerando os limites apresentados: A gente visita a todos, mas avalia aqueles que a gente julga mais graves, que precisam de maior atenção. Pra isso, não tem padronização ainda. Então, cada um na clínica vê o paciente que é mais grave. A gente prioriza. Os outros, você visita, mas dependendo da patologia ou até mesmo de como ele está evoluindo, não é necessária uma avaliação diária. O histórico nutricional e as orientações dietoterápicas para a alta têm sido objeto de reformulação. No que diz respeito ao histórico nutricional, a proposta baseia-se na aplicação de um instrumento para agilização da avaliação nutricional, a avaliação subjetiva global (ASG), no intuito de otimizar o cuidado nutricional. Aquino destaca a importância da realização da triagem nutricional e afirma que é o primeiro passo para o atendimento ao indivíduo hospitalizado e seu desenvolvimento deve ser realizado a partir da identificação dos fatores associados ao risco de desnutrição na população. A partir das informações que compõem a avaliação clínico-nutricional, o processo de planejamento e implementação do cuidado nutricional, referido pela equipe, objetiva prescrever uma dieta de acordo com as necessidades alimentares e nutricionais dos pacientes: O planejamento ocorre de imediato, quando você conhece o paciente. Nem todo o paciente necessita de cálculo de necessidades. Por exemplo, uma cirurgia de hérnia, se o paciente não for diabético ou hipertenso, é uma dieta normal. Já um paciente que já traz no diagnóstico disfagia por alimentos sólidos, aí eu tenho que fazer um trabalho melhor. 3 8 38 Faço os cálculos por Harris Benedict (fator injúria e atividade), acompanho a ingestão, calculo peso diariamente. A prescrição da dieta é realizada pelos médicos. Havendo necessidade de alterações, as nutricionistas comunicam-se com o médico responsável. Entretanto, algumas profissionais, sobretudo as com menos tempo de serviço, relataram dificuldades de parceria com os médicos, destacando que alguns não aderem ao trabalho multidisciplinar. Revelaram, ainda, sentir insegurança com relação à autonomia das suas ações: Eu procuro conversar, mesmo sem ter muita abertura, registro no prontuário o que eu acho, mas nem sempre sou atendida, e, muitas vezes, fica como está. Até porque eu não posso tomar nenhuma atitude, modificar sozinha. Não sei até quando isso é correto, não sei até onde vai nossa autonomia. Boog, em estudo sobre as dificuldades encontradas por médicos e enfermeiros na abordagem de problemas alimentares, considera que o nutricionista é habilitado por formação para adequar as orientações alimentares à realidade dos pacientes. De fato, esta ação é reconhecida pela legislação que rege a profissão e implica,necessariamente, a conjugação de saberes de nutricionistas, enfermeiros, médicos e outros profissionais da equipe. Outro aspecto destacado pela equipe está relacionado ao encaminhamento das alterações de dietas para o setor de produção de refeições: Oficialmente, as alterações do dia começam a vigorar a partir do café da tarde, só que quando se trata de uma dieta de evolução, e a gente vê que já dá pra fazer na hora do almoço, a gente já fala pra copeira, não espera chegar a tarde. Então isso às vezes é pra tentar adiantar o serviço. Por exemplo, a dieta era líquida restrita e já foi liberada líquida completa, porque eu vou esperar até a hora do lanche, se a gente vê que ele já pode comer melhor? Se o paciente estava em dieta zero e já pode comer, a gente não vai esperar até a tarde pra dar comida pra ele. 3 9 39 Embora a solicitação de alteração e a liberação de dieta sejam operacionalizadas antecipadamente, visando melhorar a aceitação da alimentação pelo paciente, podem-se acarretar dificuldades para o setor de produção: Têm coisas que as copeiras pedem na hora do almoço, mas não dá tempo de descongelar, daí fica para o jantar. Mas elas também perdem os pedidos. Às vezes, chega pedido de alteração às onze da manhã e nessa hora já está tudo feito, não tem como mudar. Mas, se por um lado há uma preocupação com a adaptação da dieta, o gerenciamento do tempo destas atividades gera distanciamento de outras ações também relacionadas com a atenção ao paciente, conforme relatado pelas nutricionistas das unidades de internação clínica: Não dá tempo pra acompanhar todos os pacientes. Há muito pra fazer, ver sonda, prontuários, registrar, conversar com médicos, copeiras, orientações de alta. Tem que supervisionar copeira, fazer atividades burocráticas aqui embaixo [na produção de refeições] e muitas vezes não dá tempo, fora as coberturas extras que a gente tem que fazer, sempre tem alguém de folga ou férias, emergência, enfim! Beck et al. evidenciam um distanciamento deste profissional dos aspectos técnicos e educacionais em favor de conhecimentos administrativos e gerenciais. O nutricionista, tanto nas instituições hospitalares quanto em outros setores, lida com situações de trabalho diversificadas e com diferentes graus de complexidade, demandando destes profissionais exigências cognitivas e psíquicas. Com relação à individualização da dieta, este aspecto parece ser um desafio para os profissionais envolvidos com a produção das refeições. Há dificuldades de se perceber o paciente no processo produtivo, pois o fluxo dos alimentos segue a lógica da padronização e da divisão do 4 0 40 trabalho: Definido qual é nosso plano dietoterápico, coloca-se no mapa de dietas, encaminhamos para a copeira. Como o cardápio é padronizado e é trabalhado com médias por tipo de dieta, aquele paciente vai entrar pra produção no rol das dietas brandas, pastosas. O cardápio segue um padrão dentro da alimentação normal e dentro dele tem as preparações que são feitas de acordo com pedidos extras, pelas preferências ou necessidades deles. A gente percebe ali embaixo [na produção de refeições] que tem pessoas diferentes internadas quando tem pedidos diferentes, se não a gente olha e é tudo igual. Por exemplo, uma dieta branda é toda igual, você não vê uma pessoa, e sim um monte de dietas. A não ser quando tem o pirão ou o peixe frito do Sr. João. A humanização também é caracterizada pelo atendimento destas individualidades, considerando que a inapetência ou a rejeição aos alimentos pode comprometer o tratamento. Desta forma, é fundamental considerar que o ato de se alimentar é parte da construção de identidades culturais e sociais e envolve emoção, memória e sentimentos, que refletem a qualidade simbólica do alimento. Na instituição, as nutricionistas consideraram que, apesar de ser um hospital público, e apresentar restrições financeiras, existe grande variedade de alimentos disponíveis. Na falta de determinado produto, as profissionais comunicam-se com a família do paciente ou com a direção do hospital no intuito de obtê-lo, buscando desta forma a individualização do atendimento. O acompanhamento da aceitação da dieta é uma das ações consideradas importantes dentro do processo de avaliação do cuidado alimentar e nutricional. Através do acompanhamento, é possível identificar alterações a serem realizadas, dependendo das necessidades nutricionais (redução ou aumento da oferta de nutrientes), preferências ou aversões alimentares do 4 1 41 paciente: Estaremos acompanhando se isso deu certo, se a aceitação é boa, e mesmo que seja boa, se precisa acrescentar algum suplemento, tirar alguma coisa. Às vezes têm pacientes obesos que não estão internados pra fazer dieta de emagrecimento, mas a gente reduz as calorias necessárias. Aí é o acompanhamento do dia a dia que é essa visita diária. Se o paciente tem algum grau de desnutrição ou está caminhando pra isso, eu entro com suplemento, modifico alguma preparação, aumento a oferta calórica. Entretanto, para analisar a efetividade do tratamento e, dessa forma, avaliar sua própria conduta, há necessidade de realizar a avaliação continuada para controle mais racional do tratamento e recuperação do estado de saúde e nutrição do paciente. No entanto, para as nutricionistas, o sucesso do tratamento, depende de outros fatores: A avaliação está num conjunto de coisas que a gente faz, desde o início do tratamento. O sucesso do tratamento, ou o cumprimento do objetivo, também depende de outros fatores, que não só nós, porque entre a informação sair lá de cima [unidade de internação] e passar para a cozinha, nesse meio campo, aí acontece muita coisa. O planejamento e o tratamento caminham juntos com a produção. Não adianta você saber tudo sobre o paciente, as preferências, aversões, se você não passa isso pra frente. Alguns estudos têm destacado que a aceitação da alimentação por parte do paciente internado envolve aspectos relacionados à patologia, às características das refeições oferecidas e ao ambiente. Além destes aspectos, a aceitação da alimentação está relacionada aos profissionais envolvidos no cuidado alimentar e nutricional. O cuidado nutricional envolve tanto a avaliação do estado nutricional, a identificação de necessidades nutricionais, o planejamento, implementação e avaliação do cuidado, como também os processos da compra, armazenamento, 4 2 42 higienização, pré-preparo e preparo, proporciona mento, transporte e apresentação final das preparações. Assim, as duas formas de atuação são interdependentes, pois considerá- las de forma isolada seria reduzir a complexidade do cuidado ao paciente, que deve considerar a comida em seus aspectos simbólicos e sensoriais. A dificuldade de relacionamento com os outros profissionais de saúde também ficou constatada durante o processo de avaliação nutricional. Esta dificuldade é observada especialmente com a equipe médica, no que diz respeito às modificações da prescrição dietética e solicitação de exames laboratoriais. A partir dos relatos, observou-se a carência de uma formação de profissionais da saúde baseada na interdisciplinaridade. Os resultados encontrados neste trabalho poderão oferecer aos profissionais subsídios que fundamentem suas ações para a construção de um modelo de cuidado alimentar e nutricional humanizado em hospitais. Além disso, a reprodução de estudos sobre este tema em diferentes contextos pode contribuir ao aprofundamento conceitual acerca do cuidado em alimentação e nutrição. 4 3 434 4 44 REFERÊNCIAS Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização (Humaniza-Sus). 2005. [site da Internet] [acessado 2005 jun 17]. Disponível em: http://www.portal.saude.gov.br Chaimowicz F. A saúde dos idosos brasileiros às vésperas do século XXI: problemas, projeções e alternativas. Rev. Saude Publica 1997; 31(2):184-200 Waitzberg DL, Waleska T, Caiaffa MD, Correia ITD. Hospital malnutrition: the Brazilian National Survey (IBRANUTRI): A study of 4000 patients. Nutrition 2001; 17(7/8):553-580. Mello ED, Beghetto MG, Teixeira LB, Luft VC. Desnutrição hospitalar cinco anos após o IBRANUTRI. 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