Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Medicina – Farmacologia – Thays Lopes Farmacodinâmica É o estudo do que a DROGA faz com o CORPO. CONCEITOS A farmacodinâmica refere-se aos efeitos de um fármaco no organismo; Os efeitos da maioria dos fármacos são atribuídos à sua interação com os componentes macromoleculares do organismo; Essas interações alteram a função do componente envolvido e iniciam as alterações bioquímicas e fisiológicas que caracterizam a resposta ao fármaco; Em farmacologia, para além do ligante, é o receptor que deve ser analisado, pois é ele que dita a resposta; “O fármaco não cria efeitos, ele modula a resposta”; Receptor ou alvo farmacológico refere-se à macromolécula com o qual o fármaco interage para produzir uma resposta celular; Em geral, os fármacos alteram a velocidade ou a magnitude de uma resposta celular intrínseca, em vez de produzir reações que antes não ocorriam; Os receptores dos fármacos geralmente se localizam na superfície da célula, mas também podem estar localizados nos compartimentos intracelulares específicos (ex.: núcleo); Muitos fármacos também interagem com aceptores (ex.: albumina sérica) existentes no organismo; Os aceptores são componentes que não causam diretamente qualquer alteração na resposta bioquímica ou fisiológica; Entretanto, a interação dos fármacos com os aceptores como a albumina sérica pode alterar a farmacocinética das suas (dos fármacos) ações; RECEPTORES FISIOLÓGICOS: → Um grupo importante de receptores farmacológicos são as proteínas, que normalmente atuam como receptores se ligando aos reguladores endógenos; → Muitos fármacos atuam nesses receptores fisiológicos e são particularmente seletivos porque os receptores evoluíram de forma a reconhecer e responder com grande seletividade às moléculas sinalizadoras especificas; → Agonistas – são os fármacos que se ligam aos receptores fisiológicos e simulam efeitos reguladores dos compostos sinalizadores endógenos, ou seja, é todo composto que gera atividade (mudança no receptor) e em sequência uma resposta; Obs.: se um fármaco se ligar ao mesmo sítio de reconhecimento que o agonista endógeno (sítio primário ou ortostérico) é um agonista primário; → Antagonistas – são os fármacos que bloqueiam ou reduzem a ação de um agonista, ou seja, é todo composto que não gera atividade, mas gera uma resposta; → Na maioria dos casos, o antagonismo resulta da competição com um agonista pelo mesmo sitio de ligação (ou por um sitio sobreposto) do receptor (interação sintópica), mas também pode ocorrer por interação com outros sítios do receptor (antagonista alostérico), por combinação com o agonista (antagonismo químico), ou por antagonismo funcional com inibição indireta dos efeitos celulares ou fisiológicos do agonista; TIPOS DE AGONISTAS: → Agonista total (L → RA): a resposta que gera é completamente ativadora, pois se liga somente a um receptor; → Agonista parcial (RI L RA): um único ligante se liga em um receptor estimulatório e no receptor inibitório da atividade, entretanto tem mais afinidade com o estimulatório; → Composto neutro (RI = L = RA): quando o ligante se liga aos dois receptores igualmente, não obtendo resposta; → Agonismo inverso: o ligante se liga totalmente ao receptor inibitório, fazendo com que haja uma resposta inversa do que esperaria; → Agonismo alostérico: se liga em outro sítio, muda a configuração e potencializa a ligação do agonista; Obs.: é importante salientar que os agonistas parciais e os agonistas inversos que interagem sintopicamente com um agonista pleno (total) comportam-se como antagonistas competitivos; Medicina – Farmacologia – Thays Lopes TIPOS DE ANTAGONISTAS: → Competitivo reversível: o ligante de maior quantidade consegue se ligar ao receptor no qual está sendo competido pelo agonista e pelo antagonista; → Irreversível: independente da quantidade o ligante não consegue se ligar ao receptor; → Alostérico: bloqueia a resposta de forma não competitiva; ESPECIFICIDADE DO FÁRMACO: → A força da interação reversível entre um fármaco e seu receptor, que pode ser medida por sua constante de dissociação, é definida como afinidade de um pelo outro; → A afinidade de um fármaco por seu receptor e sua atividade intrínseca são determinadas pela estrutura química da substância, que contribui para sua especificidade farmacológica; → Um fármaco que interage com apenas um tipo de receptor expresso em apenas algumas células diferenciadas é altamente específico; → Se o receptor for expresso ubiquamente por diferentes células distribuídas por todo o organismo, os fármacos que atuam neste receptor amplamente expressam produzem efeitos generalizados e poderiam causar efeitos adversos ou tóxicos potencialmente graves, se o receptor desempenhasse funções importantes em vários tecidos; → Fármacos como: digoxina, antineoplásicos, lidocaína, imunossupressores e os diuréticos, produzem efeitos por uma ação bem distinta, mas geram efeitos no corpo inteiro; → Muitos fármacos importantes na prática clínica apresentam especificidade ampla porque eles conseguem interagir com vários receptores em diversos tecidos; → Essa especificidade ampla poderia aumentar a utilidade clínica de um fármaco, mas também contribui para a ocorrência de vários efeitos adversos atribuídos às interações difusas; → Um exemplo de fármaco que interage com vários receptores é a amiodarona, usada para tratar arritmias cardíacas – no músculo cardíaco, a amiodarona inibe os canais de Na+, Ca+ e K+ e inibe não competitivamente os receptores betadrenérgicos; → Todas essas interações entre o fármaco e seus receptores podem contribuir para sua eficácia terapêutica e sua utilização ampla para tratar diversos tipos de arritmias; → Em todas as situações, deve-se lembrar que determinado fármaco tem vários mecanismos de ação, que dependem de muitos fatores como especificidade dos receptores, expressão tecidual do(s) receptor(es) especifico(s), acesso do fármaco aos tecidos-alvo, concentração do fármaco nos diferentes tecidos, Farmacogenética e interações com outros compostos terapêuticos; → As propriedades farmacológicas de muitos fármacos diferem, dependendo se o fármaco é utilizado por períodos curtos ou longos; → Em alguns casos, a administração prolongada de um fármaco produz hiporregulação ou dessensibilização dos receptores e isto pode exigir ajustes na dose para manter a eficácia do tratamento; → A administração prolongada de alguns fármacos, como por exemplo os nitrovasodilatadores, pode resultar no desenvolvimento rápido de tolerância completa, um processo conhecido como taquifilaxia; → A resistência farmacológica também pode ocorrer em consequência dos mecanismos farmacocinéticos (ex.: o fármaco é metabolizado mais rapidamente quando há exposição crônica), de desenvolvimento de mecanismos que impedem que o fármaco alcance seu receptor, ou da expansão clonal das células neoplásicas que possuem mutações dos receptores dos fármacos e conferem resistência farmacológica; → Os agentes anti-infecciosos como antibióticos, os antivirais e os fármacos usados para tratar infecções parasitárias têm como alvos receptores ou processos celulares fundamentais à proliferação ou à sobrevivência do agente infeccioso, mas que não são essenciais ou não existem no organismo do receptor; → A resistência aos antibióticos, aos antivirais e aos outros fármacos pode ser causada por vários mecanismos, inclusive mutação do receptor-alvo, ampliação da expressão das enzimas que decompõem ou aumentam a expulsão do fármaco pelo agente infecciosos e desenvolvimento e reações bioquímicas alternativas, que evitam os efeitos dos fármacos no agente infeccioso; ASPECTOS QUANTITATIVOS DAS INTERAÇÕES DOS FÁRMACOSCOM SEUS RECEPTORES: → A teoria de ocupação dos receptores pressupõe que a resposta seja gerada por um receptor ocupado por um fármaco e este conceito é a base da lei de ação das massas → A moeda corrente básica da farmacologia do receptor é a curva de dose-resposta (ou concentração-resposta), que representa o efeito Medicina – Farmacologia – Thays Lopes observado de um fármaco em função da sua concentração no compartimento receptor; → Alguns fármacos estimulam as respostas em doses baixas e inibem as respostas em doses altas; AFINIDADE, EFICÁCIA E POTÊNCIA: → Em geral, a interação entre o fármaco e seus receptores caracteriza-se por: 1. Ligação do fármaco ao receptor; 2. Geração da resposta em um sistema biológico; → A capacidade de um fármaco ativar um receptor e gerar uma resposta celular depende de sua eficácia; → A eficácia era entendida como uma constante de proporcionalidade que quantificava a extensão da alteração funcional produzida por um sistema de resposta mediada por receptores depois da ligação de um fármaco; → Desse modo, um fármaco com grande afinidade pode ser um agonista total e, em determinada concentração, produzir uma resposta completa; → Outro fármaco com menos eficácia no mesmo receptor pode não produzir uma resposta total em qualquer dose; → Quando é possível descrever a eficácia relativa dos fármacos em determinado receptor, o composto com eficácia intrínseca baixa é um agonista parcial; → O fármaco que se liga ao receptor e demonstra eficácia nula é um antagonista; QUANTIFICAÇÃO DO AGONISMO: → Quando a potência relativa de dois agonistas com a mesma eficácia é medida no mesmo sistema biológico e as respostas sinalizadoras subsequentes são iguais com os dois fármacos, sua comparação fornece uma medida relativa da afinidade e da eficácia dos dois agonistas; QUANTIFICAÇÃO DO ANTAGONISMO: → Os padrões característicos de antagonismo estão associados a determinados mecanismos de bloqueio dos receptores; → Um deles é o antagonismo competitivo direto, por meio do qual um fármaco com afinidade por seu receptor, mas sem eficácia intrínseca, compete com o agonista pelo sítio de ligação primário do receptor; → O padrão característico desse antagonismo é a produção concentração-dependente de um desvio proporcional à direita da curva de dose-resposta do agonista, sem qualquer alteração da resposta máxima; FIGURA A → A magnitude do desvio da curva à direita depende da concentração do antagonista e da sua afinidade pelo receptor; → Do mesmo modo, um agonista parcial pode competir com outro agonista “total” por sua ligação ao receptor; → Contudo, a elevação das concentrações de um agonista parcial inibe a resposta a um nível finito, que é típico da eficácia intrínseca do fármaco; → O antagonista competitivo reduz a resposta à zero; Medicina – Farmacologia – Thays Lopes → Por essa razão, os agonistas parciais podem ser usados terapeuticamente para “atenuar” uma resposta por inibição da estimulação excessiva dos receptores, sem suprimir por completo sua estimulação; → Um antagonista pode dissociar-se tão lentamente do seu receptor que sua ação seja extremamente prolongada; → Em presença de um antagonista com dissociação lenta, a resposta máxima ao agonista é deprimida com algumas concentrações do antagonista; FIGURA B → Na prática, isso é conhecido como antagonismo não competitivo, embora o mecanismo de ação molecular realmente não possa ser inferido com certeza, tendo como base o efeito; → Um antagonista também pode interagir irreversivelmente (covalentemente) com um receptor, como ocorre com o antagonista α- adrenérgico fenoxibenzamina e o inibidor da acetilcolinesterase DFP, produzindo efeitos relativamente irreversíveis; → Um antagonista irreversível que compete pelo mesmo sítio de ligação que o agonista pode produzir o padrão de antagonismo não competitivo; FIGURA B → O antagonismo não competitivo também pode ser produzido por outro tipo de fármaco conhecido como antagonista alostérico ou alotópico; → Esse tipo de fármaco produz seu efeito ligando-se a um sítio do receptor diferente do que é usado pelo agonista primário e, deste modo, altera a afinidade do receptor por seu agonista; → No caso de um antagonista alostérico, a afinidade do receptor por seu agonista é reduzida pelo antagonista; FIGURA C → Já o fármaco que se liga a um sítio alostérico pode potencializar os efeitos dos agonistas primários – este fármaco poderia ser descrito como agonista ou coagonista alostérico; FIGURA D Variabilidade farmacodinâmica: farmacodinâmicas individual e populacional → Os indivíduos variam quanto à magnitude de suas respostas à mesma concentração de um único fármaco ou de compostos semelhantes e determinado individuo nem sempre pode responder da mesma forma à mesma concentração do fármaco; → A reatividade ao fármaco pode alterar-se em consequência de doenças, ou porque este composto já foi administrado antes; → Os receptores são dinâmicos e sua concentração e sua função podem ser reguladas para cima ou para baixo por fatores endógenos e exógenos; → A variabilidade da resposta farmacodinâmica da população pode ser analisada construindo-se uma curva quântica de concentração-efeito (FIGURA 3- 5A); → A dose do fármaco necessária para produzir determinado efeito em 50% da população é a dose eficaz mediana (ED50); → A dose letal mediana (LD50) é determinada nos animais de laboratório (FIGURA 3-5B); → A razão LD50/ED50 é um indicador do índice terapêutico, que descreve a seletividade com que o fármaco produz efeitos desejáveis versus indesejáveis; Medicina – Farmacologia – Thays Lopes → Um termo semelhante – janela terapêutica – refere- se à faixa de concentrações no estado de equilíbrio do fármaco que produzem eficácia terapêutica com efeitos tóxicos mínimos (FIGURA 3-6); → Nenhum fármaco produz um único efeito e o índice terapêutico de determinado composto varia, dependendo do efeito que esteja sendo avaliada; → A janela terapêutica populacional expressa uma faixa de concentrações, com as quais a probabilidade de eficácia é alta e a probabilidade de toxicidade é baixa (FIGURA 3-6); → Muitos fatores podem afetar a eficácia e a segurança terapêuticas de um fármaco em determinado paciente; → Esses mesmos fatores são responsáveis pela variabilidade interindividual das dosas necessárias para obter efeito terapêutico máximo com efeitos adversos mínimos; → O sucesso e a segurança terapêuticas resultam da integração das evidências de segurança e eficácia aos conhecimentos dos fatores individuais que determinam a resposta em determinado paciente; → Os determinantes farmacocinéticos da variação interindividual da resposta aos fármacos incluem alterações causadas por doenças, falência circulatória, alteração da ligação dos fármacos às proteínas plasmáticas, redução da absorção GI e interações farmacocinéticas dos fármacos;
Compartilhar