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Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e o Trabalho do Professor

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PROGRAMA FORMAÇÃO PELA ESCOLA/FNDE
Marta Faria Monteiro Barreto
Patrícia Estevam Rosa
PNLD:
Programa Brasileiro de Livros Didáticos
Valnês Soares da Silva
São Francisco de Itabapoana
2019
PROGRAMA FORMAÇÃO PELA ESCOLA/FNDE
Marta Faria Monteiro Barreto
Patrícia Estevam Rosa
PNLD:
Programa Brasileiro de Livros Didáticos
Trabalho final de conclusão do Censo Escolar da Educação Básica no âmbito do Programa Formação pela Escola.
Valnês Soares da Silva
São Francisco de Itabapoana
2019
RESUMO
Este estudo discute como algumas propostas do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) refletem, representam e influenciam o trabalho do professor, dos gestores, dos alunos e da comunidade em geral. Por meio de uma breve história do PNLD, além de uma discussão sobre o contexto de produção de livros didáticos, busca-se compreender como tais propostas foram desenvolvidas e são apresentadas atualmente. A análise dos livros didáticos de 1ª série a 5ª série e a orientação dos professores indica uma lacuna entre as orientações dos livros didáticos e o trabalho do professor e a necessidade de reconsiderar e reformular as propostas para que contribuam para o desenvolvimento do conhecimento e a organização do trabalho do professor.
Palavras-chave: Programa Brasileiro de Livros Didáticos (PLND); Contexto de Produção; Trabalho do professor.
SUMÁRIO
	1
	INTRODUÇÃO.................................................................................................
	04
	2
	REVISÃO LITERATURA..............................................................................
	06
	2.1
3
4
5
	PNLD – PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO DIDÁTICO ...............................
METODOLOGIA ................................................................................................
CARACTERIZAÇÃO DO CONTEXTO DA PESQUISA.....................................
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................
REFERÊNCIAS.................................................................................................
	06
06
09
10
12
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, todas as escolas públicas brasileiras recebem livros do PNLD - Programa Nacional do Livro Didático, compostos de materiais e propostas variadas, como livros didáticos, livros literários, dicionários e guias para o professor, como o Guia de Livros. Além da presença quase constante na sala de aula, o que já justificaria o estudo do programa, os livros didáticos e os guias para professores são objeto de atenção devido à centralidade que ocupam na organização do trabalho educativo realizado pelo professor, desde que transmitam uma certa seleção e seqüência do conteúdo a ser ensinado, sugerem procedimentos metodológicos, geram expectativas de percursos e ritmos de aprendizagem (SILVA; Nogueira, 2015).
Diante desse cenário, e sabendo que a presença massiva desses materiais pode ser um fator de risco para reduzir o papel do professor na organização do trabalho educativo, o objetivo deste estudo é conhecer o conteúdo das diretrizes de alguns manuais e livros didáticos e problematizar suas.
Entende-se que o trabalho do professor é mediado por “[…] instrumentos materiais ou simbólicos, na medida em que o professor se apropria de artefatos socialmente construídos e disponibilizados para ele pelo meio social” (MACHADO, 2007, p. 91). Dentre os diversos instrumentos que medem a atividade docente, juntamente com as crenças e concepções, teorias e propostas no campo do ensino e metodologia didática e tradição profissional (AMIGUES, 2004), as orientações do livro didático ocupam um lugar privilegiado nesse processo, presença marcante e, talvez, ao detalhamento e sistematização das atividades apresentadas.
Assim, há uma dinâmica quase perversa entre os livros didáticos, autores e editores e os professores e profissionais da educação: à medida que os programas e manuais começam a elaborar e detalhar a seqüência e formato das atividades de ensino, os professores são pouco a pouco privados do trabalho de concepção e organização do ensino. 
Objeto complexo, resultante de um processo de produção que envolve dimensões econômicas, técnicas, sociais, políticas e educacionais, a literatura escolar exige e permite o estudo dessas diferentes dimensões. Apesar do recente surgimento de novas abordagens temáticas e metodológicas, a determinação do interesse da pesquisa brasileira em apenas uma dessas dimensões - na educacional, e particularmente em sua faceta didática, em seus conteúdos e metodologia - mostra, portanto, a necessidade de superar esse forte desequilíbrio e atribuir à literatura escolar um status específico, isto é, da necessidade de assumir esse fenômeno não apenas como um meio para o estudo de conteúdos e metodologia de ensino, mas também como objeto de investigação.
É exatamente no espaço indicado pelos autores, tomando os livros didáticos como objeto de investigação, que tentamos inscrever nossas reflexões sobre algumas propostas do PNLD.
O PNLD é um programa do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), responsável pela avaliação, seleção e distribuição de livros didáticos para todas as escolas públicas brasileiras. Além da distribuição dos livros, o programa também desenvolve outras propostas, entre elas, o PNLD Dicionários (Dicionários do PNLD). Dado o amplo escopo e a capilaridade do programa, considera-se fundamental entender como as propostas que chegam à escola afetam o trabalho e a autonomia do professor.
2 REVISAO DE LITERATURA
2.1 PNLD – PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO DIDÁTICO
Criado por meio do Decreto nº 91.542, de 1985 e agora regulamentado pelo Decreto 7.084, de 27/01/2010, tem por objetivo fornecer aos alunos da rede pública, material didático de qualidade.
No ano de 2018, as escolas fizeram a escolha dos livros didáticos para o Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano), que serão utilizados neste no ano de 2019.
Os livros já chegaram às escolas aos poucos. 
O PNLD é constituído de várias etapas, iniciada com a inscrição das coleções, pelas editoras, em resposta a um edital público do MEC, passa por um longo e cuidadoso processo de avaliação, que reúne professores de diversas instituições educacionais de várias regiões de nosso país todos eles com larga experiência no ensino-aprendizagem da matemática escolar.
I - inscrição, composta de: cadastramento dos titulares de direito autoral ou de edição; pré-inscrição das obras; e entrega dos exemplares;
II - triagem;
III - pré-análise;
IV - avaliação pedagógica;
V - escolha ou seleção, conforme o caso;
VI - habilitação;
VII - negociação;
VIII - contratação;
IX - produção;
X - distribuição; e
XI - controle de qualidade.
3 METODOLOGIA
Este estudo foi realizado por abordagem qualitativa e estudo de caso. A pesquisa qualitativa é caracterizada pelo “uso de dados obtidos em entrevistas, documentos e observações para a compreensão e explicação dos fenômenos” (DIAS; SILVA, 2010, p. 46).
Gil (2009) considera o estudo de caso como delineamento de pesquisa “em que são utilizados diversos métodos ou técnicas de coleta de dados, como por exemplo, a observação, a entrevista e a análise de documentos”. (GIL, 2009, p. 6).
Como a pesquisa foi realizada com o objetivo de verificar como se processou a escolha dos livros didáticos, em uma escola pública de São Francisco de Itabapoana - RJ, está de acordo com a descrição de Fachin (2005) para o estudo de caso, já que foi uma descrição de uma situação in loco.
Nesta pesquisa, foram utilizados como fontes de informação documentos e sujeitos.
Os documentos utilizados foram: o Levantamento da Escolha dos Livros Didáticos; a Ata de Escolha dos Livros Didáticos; o Comprovante de Escolha, feito pela internet; o Comprovante de Recebimento dos Livros Didáticos, e a Relação dos Professores atuantes no E. M. Ernesto José Henriques, do ano letivo de 2019.
O Levantamento da Escolha dos Livros Didáticos foi elaborado pela Diretora do Colégio, duranteo processo de escolha dos livros didáticos, com a finalidade de organizar os títulos mais indicados como 1ª e 2ª opção pelos professores, por disciplina.
A Ata da Escolha de Livros Didáticos foi àquela oferecida pelo FNDE, com o objetivo de registrar a participação dos professores e dar transparência ao processo da escolha dos livros didáticos. Nessa ata, o processo de escolha deve ser descrito sucintamente e os códigos da 1ª e 2ª opção devem ser fornecidos para cada disciplina.
Já o Comprovante de Escolha, feito pela internet é um documento gerado a partir da gravação da 1ª e 2ª opção de cada componente curricular no sistema do FNDE. Tal comprovante contém informações sobre os seguintes dados da escolha: o programa em execução (neste caso, o PNLD Ensino fundamental 2019); a entidade (no caso, o E. M. Ernesto José Henriques) e a data em que foi realizada a escolha.
Por sua vez, o Comprovante de Recebimento dos Livros Didáticos contém as informações sobre os títulos e quantidades de livros didáticos recebidos pelo colégio.
Quanto aos sujeitos utilizados nesta pesquisa, esses foram: a diretora do colégio e os professores que lecionam durante o primeiro semestre letivo de 2019, quando foi realizada a coleta de dados para esta pesquisa.
Para coletar as informações com os sujeitos desta pesquisa, os instrumentos utilizados foram entrevista e questionário, conforme apêndices A, B, C, D e E.
O tipo de entrevista elaborada para esta pesquisa e direcionada a diretora do Colégio, classifica-se como entrevista guiada, pois “as informações pretendidas são especificadas previamente, mas o pesquisador define sua seqüência e formulação no curso da entrevista”. (GIL, 2009, p. 64)
O roteiro utilizado na entrevista com a diretora do E. M. Ernesto José Henriques foi organizado em três blocos, descritos a seguir, sendo que para essa entrevista foi utilizado o roteiro dos apêndices B, C e D:
Identificação do entrevistado: formação e experiência profissional, e rotina de trabalho (Apêndice B);
Caracterização geral das reuniões do colégio: situações mais comuns que demandam tomadas de decisão, participantes envolvidos na tomada de decisão, freqüência com que ocorrem reuniões, convocação dos participantes, dentre outros (Apêndice C);
Caracterização de reuniões para escolha do livro didático: início da organização das reuniões, fontes de informação utilizadas para subsidiar a escolha do livro didático, número de docentes que participaram do processo de decisão, forma como foi realizada a discussão dos livros didáticos, tempo e espaços físicos para realização das reuniões, dentre outros (Apêndice D).
Foram utilizados, nesta pesquisa, dois questionários: um com objetivo de caracterizar o E. M. Ernesto José Henriques, aplicado com a diretora do Colégio (Apêndice A); e outro, que consta no Apêndice E, utilizado para compreender como os professores desse colégio organizaram e desenvolveram ações durante o processo de escolha dos livros didáticos, no âmbito do PNLD 2019.
As questões que compunham o questionário para a caracterização do Colégio estavam organizadas de modo a dar um panorama geral da instituição.
Já o questionário direcionado aos professores estava organizado de modo a possibilitar uma compreensão da participação deles, no processo de escolha dos livros didáticos. As questões que compunham o questionário aplicado aos professores abrangeram o vínculo profissional com o Colégio E. M. Ernesto José Henriques, a participação no processo de escolha dos livros didáticos, no âmbito do PNLD 2019 e a relação dos professores com os livros didáticos recebidos.
A entrevista com a diretora do Colégio ocorreu em Abril de 2019 e os questionários aos professores foram distribuídos e recolhidos durante a primeira semana de Abril de 2019.
Quanto aos professores, foram distribuídos um total de 6 (seis) questionários, um para cada professor que leciono no Colégio, em 2019, ocasião do levantamento de dados. Dessa quantidade de questionários, foram recolhidos 6 respondidos.
4 CARACTERIZAÇÃO DO CONTEXTO DA PESQUISA
O Colégio E. M. Ernesto José Henriques está localizado na R. Projetada Um, 2 - Retiro, São Francisco de Itabapoana - RJ, 28230-000.
O Colégio tem seu funcionamento nos turnos matutino e vespertino.
O nível de ensino oferecido, em 2019, é apenas o Ensino fundamental.
Em 2019, o Colégio E. M. Ernesto José Henriques conta com os seguintes servidores, apresentados abaixo:
1 (um) Diretor Geral 
1 (um) Secretário 
6 (seis) Professores 
2 (dois) Apoio 
Total 10 (dez)
No ano letivo de 2019, o Colégio possuí 80 alunos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A fim de compreender a relação entre as diretrizes do livro didático, do professor, os pais e alunos, ao longo deste trabalho argumentaram-se a favor da análise do contexto da produção do livro didático e das implicações das diretrizes do livro didático. Nesse sentido, ressaltamos a necessidade de os gestores e avaliadores do PNLD olharem para além do próprio livro, estando mais atentos à adequação entre as diretrizes dos manuais e as propostas dos livros didáticos e os efeitos das diretrizes dos manuais sobre as condições reais para a organização do trabalho docente em sala de aula.
Se a presença de livros didáticos é marcante na sala de aula, muito se deve a programas como o PNLD, que, ao mesmo tempo em que busca garantir e universalizar o acesso aos livros didáticos acaba determinando a maneira como é elaborado. Entre as muitas vozes que ecoam no livro didático, a voz do PNLD é bastante forte, numa tentativa de os editores terem seus trabalhos aprovados, diante do mercado muito rentável que é o dos livros didáticos no Brasil. O professor parece ser o interlocutor declarado, não o interlocutor real, um lugar ocupado pelos avaliadores do programa. À distância e o descompasso entre o interlocutor real e o imaginado também podem ser a causa da distância que se encontra entre o manual do professor e o que realmente encontramos nas atividades direcionadas aos alunos em sala de aula.
Em relação ao PNLD Dicionários, embora o Guia apresente sugestões de atividades interessantes e exeqüíveis, estas não foram pensadas com foco nos dicionários disponíveis nas coleções, de modo que nem sempre são adequados ao que estes ofertas de trabalhos. A constituição da coleção com diferentes títulos não considera momentos em que seria mais significativo para o processo de aprendizagem que todos os alunos da turma usassem dicionários iguais. Além disso, o número reduzido de cópias dificulta o desenvolvimento de atividades coletivas, e a necessidade de constante mediação do professor não favorece a autonomia do aluno.
As propostas dos livros didáticos podem afetar o professor de forma muito mais profunda e estendida, indo muito além do uso ocasional em sala de aula, pois esse material tem / teria o potencial de provocar reflexões sobre suas concepções educacionais e práticas. Ou seja, é fundamental considerar como o professor que segue as orientações de um livro didático pode entender os conceitos veiculados, a escolha de determinados conteúdos, seqüências e procedimentos de ensino, ao invés de outras possibilidades. Foi possível indicar que, nos livros, predomina ainda propostas de ensino que reproduzem o que o professor já conhece e costuma fazer na sala de aula. Assim, além de legitimar e reiterar certas práticas educativas, e principalmente pela centralidade que ocupam na organização do trabalho didático, é necessário problematizar como os livros didáticos podem contribuir para a construção e efetivação de práticas mais apropriadas pelos professores às características e necessidades de seus alunos.
Portanto, em termos do processo de alfabetização e ensino da língua portuguesa, vale a pena perguntar: como os livros didáticos podem abordar diferentes usos sociais, as especificidades da linguagem escrita, o funcionamento discursivo, entre muitos outros aspectos a serem ensinados na escola? Acredita-se que, para isso, é importante considerar professores e alunos como interlocutores e primordiais, protagonistas,bem como assumir o contexto escolar como espaço para os processos polissêmicos de linguagem, produção e circulação dos mais variados textos socialmente produzidos.
REFERÊNCIAS
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MORAES, Roque. Análise de conteúdo. Revista Educação, Porto Alegre, v. 22, n. 37, p.7-32, 1999.
RAUEN, Fábio José. Roteiros de investigação científica. Tubarão: Unisul, 2002.
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