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AULAS DE DIREITO CIVIL – DIREITOS REAIS Ações Possessórias O Código Civil Brasileiro adota a Teoria Objetiva de Jhering que afirma que a posse é o poder de fato sobre a coisa. Para este autor o elemento subjetivo não é o animus domini, mas a affectio tenendi, ou seja, a vontade de proceder como proprietário. A teoria tradicional afirma que o fundamento das ações possessórias pelo fato da posse ser a primeira linha de defesa da propriedade, ou seja, como a posse é a exteriorização da propriedade, então, ela deve ser protegida. Assim, tal teoria vê o fundamento da proteção possessória na propriedade. Entretanto é possível propor ações possessórias mesmo contra o proprietário. Assim, teorias mais modernas defendem a proteção da posse, pela posse, ou seja, entendem que esta, por ser um direito, deve ser protegida. O Direito Brasileiro conhece três ações possessórias (também chamadas interditos possessórios por causa da herança romana): Ação de reintegração de posse, ação de manutenção da posse e interdito proibitório. As ações possessórias se dão pelo procedimento especial, tanto pela celeridade processual, quanto por apresentarem uma primeira fase tipicamente cautelar. 1. Ação de reintegração de posse É usada para se obter a tutela da posse quando esta foi esbulhada. O esbulho é a perda injusta da posse em sua totalidade. Ela tem o objetivo de reaver e restaurar a posse perdida. O artigo 927 do CPC determina que, na ação de reintegração de posse deve-se provar: a posse, o esbulho, a data do esbulho e a perda da posse. Aqui há duas possibilidades: AÇÃO DE FORÇA NOVA ESPOLIATIVA (quando o esbulho datar de menos de ano e dia) e AÇÃO DE FORÇA VELHA ESPOLIATIVA (se o esbulho datar de mais de ano e dia). No primeiro caso a ação se inicia com a expedição do mandado liminar. Assim, o possuidor é prontamente reintegrado e prossegue-se abrindo ao réu prazo de defesa. No segundo caso o juiz citará o réu para que este se defenda, admitirá provas etc. Neste caso, a sentença tem o duplo efeito de reconhecer a posse e repelir o esbulho. Esta ação cabe tanto ao possuidor direto contra terceiro quanto contra o possuidor indireto. 2. Ação de manutenção da posse É adequada para tutelar-se a posse contra turbação. Esta é o ato praticado contra o possuidor que lhe retire parcialmente o gozo da posse. Tal ação tem por objetivo de impedir que atos ofensivos se repitam. O artigo 927 do CPC determina que, na ação de manutenção de posse deve-se provar: a posse, a turbação, a data da turbação e a continuação da posse, apesar da turbação. Esta ação se dá contra qualquer turbação de fato ou de direito (por via judicial ou administrativa). Se a turbação é recente, ou seja, tem menos de um ano e um dia, o juiz concederá a manutenção liminar, sem ouvir o réu (CPC art. 928). É importante ressaltar que o juiz só concederá a manutenção se o autor tiver a chamada “melhor posse”, ou seja, aquela fundada em justo título ou que se dá a mais tempo. Caso contrário é determinado o seqüestro da coisa até que se demonstre qual a melhor posse em decisão definitiva. O CPC não apresenta recurso específico contra o mandado liminar, assim, aquele determina que o autor deve promover a citação do réu em 5 dias. Então, a ação correrá normalmente decidindo pela cassação ou confirmação definitiva da medida. Caso a moléstia tenha ocorrido há mais de ano e dia, não tem cabimento a ação sumária, e sim, a ordinária possessória. A ação de manutenção da posse não tem cabimento para a defesa de servidões. Esta ação cabe tanto ao possuidor direto contra terceiro quanto contra o possuidor indireto. EXCEÇÃO DE DOMÍNIO: Tanto na ação de manutenção quanto na de reintegração o réu poderia defender-se alegando o domínio (artigo 505 do Código Civil de 1916). Assim, a pose acabava sendo deferida a quem tivesse o domínio. Entretanto, de acordo com Caio Mario, o juiz não pode acolher tal argumento, pois não pode o réu, molestar posse alheia sob alegação de propriedade. Assim, cabe-lhe reaver a coisa por via petitória. Dentro da Teoria de Ihering é rejeitada a exceptio dominii. Nela baseou-se o legislador ao dar nova redação ao artigo 923 do CPC e ao redigir o Novo Código Civil. A exceção de domínio perdeu sua utilidade, já que hoje, é proibido discutir-se propriedade em ações possessórias. 2. Interdito Proibitório É usado quando há ameaça de turbação ou esbulho. Assim, ele é um remédio Preventivo cuja transgressão é sancionada com pena pecuniária (art. 932 do CPC). Ele tem por objetivo impedir que se consume o dano temido à posse. O autor deve provar: a posse, ameaça de moléstia e probabilidade que esta venha a verificar-se. É importante lembrar que pode haver nova afronta à posse após o ajuizamento de alguma ação possessória, logo o legislador previu, no artigo 920 do CPC, a fungibilidade dos interditos possessórios. Isso significa que o ajuizamento de uma destas ações não impede que o juiz dê um provimento adequado, diferente do postulado.Assim, a rigor, há apenas uma ação possessória, com variantes determinadas pelas situações de fato (Fabrício Furtado). Outro ponto fundamental é o da possibilidade da cumulação de pedidos na ação possessória (ver artigo 921 do CPC). Além destas três principais, há outras ações que visam a proteção da posse, embora não sejam ações possessórias: ● Ação de dano infecto: é uma ação preventiva na qual o possuidor tem receio de que a ruína do prédio vizinho ou algum vício em sua construção venha a causar-lhe prejuízo. Através dela o autor obtém caução que o assegure contra dano futuro. ● Nunciação de obra nova: Consiste em uma ação com duplo efeito: obstáculo a que seja concluída uma obra, que mesmo que não cause dano atual, no futuro, pode vir a resultar em ato turbativo, caso se complete. O segundo efeito é a cominação de multa para o caso de reinício ou reconstrução. É importante ressaltar que o obra realizada pelo vizinho esteja dentro dos próprios confins deste, caso contrário, se configuraria a turbação propriamente dita. ● Imissão de posse: Segundo o professor Ovídio Batista, esta ação visa a conferir a posse a quem ainda não a tem. Ela não é uma ação autônoma no Código de Processo Civil, mas tem livre curso na execução de sentença. ● Embargos de terceiros: Existe para reprimir atos judiciais que indevidamente possam molestar a posse de terceiros estranhos ao processo. Entretanto, não há ingresso do terceiro na ação que causou moléstia à posse. Os embargos de terceiros geram uma ação autônoma, um processo novo.
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