Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Desenvolvendo Habilidades Socioemocionais - Aula 3: Engajamento com os Outros Workshop Gestão DESENVOLVENDO HABILIDADES SOCIOEMOCIONAIS Aula 3: Engajamento com os Outros e Amabilidade 2 Workshop Gestão INTRODUÇÃO Docente: Anita Lilian Zuppo Abed Psicóloga (USP), Psicopedagoga (PUC), Mestre em Psicologia (São Marcos), Neuroeducadora (CEFAC), Consultora da UNESCO sobre o tema “O desenvolvimento das habilidades socioemocionais como caminho para a aprendizagem”. Doutoramento pela UNIFESP, com pesquisa sobre a utilização de jogos para o desen- volvimento de habilidades socioemocionais e a construção do conhecimento. Atuação profissional: psicote- rapeuta de adultos, adolescentes e crianças (30 anos); psicopedagoga clínica (20 anos); psicopedagoga insti- tucional no Núcleo Psicopedagógico Integração (10 anos) e na Mind Lab (14 anos), desenvolvendo projetos para aplicação em escolas e outros espaços de aprendizagem; docente em cursos de Pós-graduação em Psicopedagogia em várias instituições de ensino do Brasil, nas disciplinas “O jogo como recurso pedagógico” e “Psicopedagogia da Educação Matemática”; palestrante sobre vários temas relacionados à interface Educa- ção e Saúde; elaboração de conteúdos didáticos e de análises técnicas de materiais voltados ao desenvolvi- mento de habilidades e à utilização de recursos lúdicos e artísticos em Educação. Apresentação do Curso Parte integrante do Programa de Desenvolvimento dos Estudantes, o Workshop “Desenvolvendo Habilidades Socioemocionais” tem o objetivo de prover os alunos dos cursos de graduação com conhe- cimentos teóricos sobre o que são habilidades socioemocionais e a sua importância na vida e no mundo do trabalho, oferecendo dicas práticas de como os estudantes podem desenvolver essas competências em si mesmos e nas pessoas que integram seus grupos sociais. Neste Workshop, vamos estudar duas competências que colaboram com o aprimoramento de nossas relações interpessoais: o Engajamento com os Outros e a Amabilidade. 1 Competências Socioemocionais – breve retomada Na aula de hoje, iremos estudar duas macrocompetências bastante relacionadas à “inteligência interpessoal”: Engajamento com os Outros (o quanto alguém se relaciona) e Amabilidade (a qualidade dessas relações). Há diferentes formas de compreender o ser humano. Na abordagem que embasa este curso, as competências socioemocionais são entendidas como uma série de possibilidades internas que todos nós podemos desenvolver para lidar de maneira mais eficiente com as emoções (tanto nossas como dos outros) nas relações que estabelecemos com a gente mesmo e com as outras pessoas. Não acreditamos que haja um “jeito certo” e um “jeito errado” de ser e estar no mundo, defende- mos um processo contínuo de esforço e de investimento no autoconhecimento, na tomada de deci- sões responsáveis e assumidas, em “sermos os melhores de nós mesmos a cada dia”. Utilizamos como referência teórica o modelo “Big Five”, que organiza as competências socioe- mocionais em cinco grandes domínios: Openness (Abertura ao Novo): interesse e motivação para passar por novas experiências Conscientiousness (Autogestão): administração e responsabilidade pelas próprias atitudes nas situações. Extraversion (Engajamento com os Outros): disponibilidade para entrar em relação com as outras pessoas. 3 Desenvolvendo Habilidades Socioemocionais - Aula 3: Engajamento com os Outros Agreeableness (Amabilidade): atuação em grupo de forma colaborativa e cooperativa, com em- patia e respeito. Neuroticism (Resiliência Emocional): lidar com as emoções de maneira resiliente, buscando cons- truir aprendizagens e aumentar a estabilidade e previsibilidade nas reações emocionais. 2 Inteligências múltiplas “Inteligência interpessoal” é um conceito proposto por Howard Gardner (1943-), psicólogo esta- dunidense que a partir de meados da década de 1980 desenvolveu, liderando uma equipe de pesqui- sadores da Universidade de Harvard, a Teoria das Inteligências Múltiplas. Esta abordagem questiona o conceito tradicional de inteligência única bastante vigente na época (que ainda está muito presente em nossa sociedade), identificada com a capacidade de pensamento lógico. O autor define inteligência como o potencial para resolver problemas e criar produtos. Assim, de- pendendo do tipo de problema enfrentado e/ou do produto a ser criado, uma ou mais inteligências são requisitadas. Para compreender e resolver um exercício de Matemática, o raciocínio lógico é bastante exigido, mas para bater um pênalti em um jogo de futebol, há uma outra inteligência que prepondera, a corporal. Todos nós temos todas as inteligências, em maior ou menor grau, e todos podemos desen- volver todas elas ao longo da vida. Gardner propôs, inicialmente, sete inteligências, sempre deixando claro que a pretensão não era esgotar a pluralidade da inteligência humana. São elas: » Lógico-matemática: lidar com dados e informações utilizando o raciocínio abstrato e dife- rentes ferramentas lógicas de pensamento (dedução, inferência etc.), bem como a compre- ensão e operacionalização de símbolos matemáticos. » Linguística: resolver problemas utilizando o domínio das palavras, da linguagem oral e escrita. » Espacial: operar relações de espaço e tempo, localização, composição de formas, senso de direção, organização do pensamento de maneira figurativa (por imagens). » Corporal-cinestésica: utilizar o próprio corpo para resolver problemas; controle e domínio do corpo; execução de movimentos corporais finos e/ou complexos; práticas esportivas; ha- bilidades manuais. » Musical: utilizar símbolos musicais, instrumentos, partituras, ritmos; percepção de sons, tons, timbres; sensibilidade emocional ao som e à música. » Intrapessoal: saber lidar consigo mesmo; controle das emoções; autoconhecimento; auto- motivação; auto estima; usar o entendimento de si mesmo para alcançar objetivos. » Interpessoal: entender as intenções e desejos dos outros; conduzir diálogos; cooperação; sociabilidade; relacionar-se bem em sociedade. Posteriormente, o autor acrescentou à lista a Inteligência Naturalista, referindo-se à capacida- de de lidar bem com o meio ambiente e com espécies da natureza (plantas, animais), e a Inteligência Existencial, relacionada à capacidade de refletir sobre questões fundamentais da existência, como o sentido maior do humano e o propósito das tarefas do dia a dia. O desenvolvimento das inteligências pessoais (inter e intra) não significa um uso ético e apropria- do dessa inteligência. Hitler, por exemplo, tinha uma capacidade imensa de influenciar o outro (inteli- gência interpessoal), mas usou essa sua habilidade “para o mal”. Mais uma reflexão importante diz respeito às possíveis inter-relações entre essas duas direções das inteligências pessoais: conhecer melhor a si mesmo (inteligência intrapessoal) pode colaborar no 4 Workshop Gestão aprimoramento das relações sociais (inteligência interpessoal) e vice-versa. Nesse mesmo sentido, o apri- moramento de cada uma das macrocompetências do Big 5 pode incrementar e facilitar o desenvolvimento das demais. Somos seres complexos, ou seja, funcionamos em redes de fatores interconectados. A inteligência interpessoal comparece de maneira intensa no nosso dia a dia, afinal somos “seres de relações”. No mundo do trabalho, é essencial em profissões que exigem lidar com o outro ou com o público, como por exemplo vendedores, atendentes, recepcionistas, profissionais de saúde, políticos, professores, padres, entre outras. 3 A Função Executiva “Flexibilidade” O avanço dos estudos das neurociências, neste início de milênio, vem demonstrando, por meio de neuroimagens, o jogo de interações entre as diferentes regiões do cérebro. Para organizar esse funcionamento em rede, temos uma grande região do cérebro, o lobo frontal, responsável pelas chamadas “funções executivas” (metaforicamente, o maestro da orquestra). Muriel Lezak, neurocientista que cunhou o termona década de 1980, classificou essas funções em quatro gran- des eixos: motivação, planejamento, execução e avaliação (automonitoramento). Não há consenso sobre quantas e quais são as funções executivas. Focar a atenção ao que real- mente interessa, estabelecer prioridades, identificar objetivos, levantar informações, tomar decisões, estabelecer e gerenciar planejamentos, manter o controle emocional e a memória de trabalho necessá- rios para a realização de uma atividade, atuar com organização e flexibilidade são algumas delas. No estudo das habilidades socioemocionais com foco nas relações interpessoais, optamos por des- tacar a função executiva “Flexibilidade”, uma vez que “encontros entre pessoas” muitas e muitas vezes en- volvem negociações, adaptações, renúncias a desejos, compreensão, respeito e aceitação de novas ideias. O discurso sobre a importância de saber trabalhar em equipe tem estado bastante presente na sociedade e no mundo de trabalho. Desenvolver ações em conjunto exige “jogo de cintura”: por um lado, assertividade para defender ideias e posicionamentos e, por outro, tranquilidade e maturidade para lidar com os limites configurados pelas outras pessoas e pelas posições hierárquicas superiores, que muitas vezes tolhem a liberdade de ação. Como em qualquer outro aspecto da vida, é preciso cuidado para não cair em extremos. É essen- cial aprender a estar com os outros e trabalhar em equipe, assim como é igualmente essencial aprender a estar consigo mesmo e trabalhar sozinho. Pensar em flexibilidade implica grandes questionamentos: O que é ser flexível? O que é ser rígido? Faz sentido ser flexível em tudo? Em que aspectos da vida optamos por manter um certo grau de rigi- dez? Essa opção responde a valores pessoais dos quais não abrimos mão (como por exemplo, não matar ou roubar) ou a algum medo ou ansiedade? Quais são os limites da flexibilidade? De que valores não abrimos mão? Que crenças e atitudes nos dispomos a rever, repensar e, se for o caso, alterar? Na construção e reconstrução de nossa identidade, do nosso eu, certos parâmetros que se mantêm, aqueles aspectos que não flexibilizamos, nos dão uma base segura, uma sensação de nos reconhecermos a mesma pessoa nas diferentes situações e nos diferentes tempos de nossas vidas. Ao mesmo tempo, é por meio dos aspectos em que nos propomos a flexibilizar e a mudar que vamos ampliando a nós mesmos, vamos nos desenvolvendo e evoluindo, modificando e/ou acrescentando novos saberes, novas visões de mundo, novas possibilidades de ação. Uma metáfora interessante para pensar o quanto podemos flexibilizar é o “princípio da vara”: um bambu, por exemplo, tem um limite para entortar antes de quebrar. Assim também é o humano: há um grau de flexibilização para cada um de nós, se ultrapassarmos esse limite podemos “quebrar”. 5 Desenvolvendo Habilidades Socioemocionais - Aula 3: Engajamento com os Outros No equilíbrio dinâmico entre essas duas tendências, “manter” e “flexibilizar/mudar”, vamos cons- truindo a nós mesmos e ao nosso entorno nas interações que estabelecemos no mundo. Para isso, bus- car o conhecimento de si mesmo e de uma visão clara da situação vivida é essencial nas tomadas de decisões. Algumas perguntas que podem nos ajudar nesse processo: 4 Macrocompetência “Engajamento com os Outros” O Engajamento com os Outros relaciona-se com uma série de habilidades ligadas aos aspectos quantitativos das interações: o quanto alguém está aberto ao contato com pessoas e com grupos. No modelo do Instituto Ayrton Senna, essa macrocompetência compreende três facetas: » Iniciativa Social: Aproximar-se de outras pessoas, estabelecer relações sociais. Iniciar, man- ter e apreciar o contato social. » Entusiasmo: Envolvimento com a vida, com as tarefas e com os outros seres; engajamento, interesse, energia, paixão. Construção de sentido pessoal para o dia a dia. » Assertividade: Compartilhar e defender sentimentos e ideias; firmeza nos posicionamentos pessoais. 4. 1 Iniciativa Social Iniciativa social refere-se à habilidade de iniciar e manter o contato social, de aproximar-se e rela- cionar-se com pessoas, conhecidas e ainda a conhecer. 6 Workshop Gestão Diferentes tipos de contextos sociais implicam diferentes tipos e intensidades de interações. Um bate papo com um desconhecido em uma fila de espera é bem diferente de um bate papo com colegas em um barzinho, que também pode muito diferente da forma como nos relacionamos com esse mesmo grupo de colegas em uma situação de trabalho. Ou seja, o “quanto” e o “como” nos aproximamos e cons- truímos as relações sociais variam em função dos contextos e espaços em que essas relações acontecem, assim como das nossas características pessoais e também das características daqueles com quem esta- mos estabelecendo contato. Para estudarmos essa competência, é fundamental refletir sobre os conceitos de introversão e ex- troversão, propostos pelo psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), diferenciando- -os das ideias de timidez e de expansividade. Segundo Jung, todos nós temos dois direcionamentos de nossa energia psíquica: a disposição de nos relacionarmos com nosso mundo interno de representações (introversão) e com o mundo externo de fatos e pessoas (extroversão). Assim como nós temos duas mãos, mas uma delas é dominante (esquer- da no canhoto, direita no destro), cada um de nós tem uma dessas disposições mais preponderante do que a outra. Não há certo ou errado, não há uma hierarquia entre essas duas direções da energia. Nossas “funções superiores” desenham certos contornos à maneira como nos relacionamos na e com a vida. O grau de preferência varia de pessoa a pessoa (lembremos dos ambidestros...) e também da idade, da fase da existência em que estamos. Segundo Jung, inicialmente nós nos apoiamos nas nossas disposi- ções mais dominantes para construir nossas vidas. Na segunda metade da vida, os aspectos que ficaram mais latentes e embrionários vão ganhando força, exercendo uma pressão para se desenvolver. Este é o chamado “Processo de Individuação”, conceito proposto pelo autor para nomear o caminho pelo qual nos tornamos seres inteiros e únicos. Assim, Jung compreende o desenvolvimento psíquico como um processo de crescente equilibra- ção entre forças opostas que habitam dentro de nós. O que significa que em todo extrovertido há uma energia introvertida “cochilando”, buscando se desenvolver, e vice-versa. Ser introvertido não é sinônimo de ser tímido. Uma pessoa pode ser retraída e, mesmo assim, ter interesse no conhecimento de mundo, na criação de ações a serem aplicadas no seu exterior. Do mesmo modo, alguém pode ser expansivo e, mesmo assim, estar com sua energia bastante voltada para aquilo que sente e vive dentro de si. Em muitas esferas da sociedade atual, vemos uma maior valorização do movimento extrovertido, das pessoas expansivas e comunicativas, como se timidez e introversão fossem características negativas a serem superadas. Neste curso, defendemos o pressuposto que os dois direcionamentos da energia (intro e extro) e as duas características (timidez e expansividade) são igualmente válidos e importantes, têm suas vantagens e desvantagens, dependendo da situação, do contexto em que as experiências estão acontecendo, das pessoas com que estamos nos relacionando. Em relação ao mundo do trabalho, já é possível encontrar estudos que salientam “os dois lados da moeda”, os potenciais e as limitações das diferentes características de personalidade dos profissionais. Ao respeitarmos e valorizarmos as diferenças, a constituição das equipes de trabalho fica mais eficiente, pois cada um colabora com o seu potencial e pode desenvolver seus aspectos mais fragilizados no contato com um outro mais capaz naquela habilidade. De maneira bastante superficial, salientamos algumas qualidades e dificuldades que podem ser vividas pelos tímidos e pelos expansivos. Se você é tímido ou expansivo,reflita sobre esses aspectos e outros que lhe parecerem importantes. E se fica tímido em algumas situações e expansivo em outras, tente reconhecer os disparadores – às vezes a questão está no outro, não em você. 7 Desenvolvendo Habilidades Socioemocionais - Aula 3: Engajamento com os Outros 8 Workshop Gestão Em síntese, desenvolver a competência Iniciativa Social é compreendido, neste curso, como estar- mos abertos para buscar relacionamentos humanos que possam nos enriquecer com as trocas realiza- das tanto com os “parecidos” como com os “diferentes” de nós mesmos. Após apresentarmos rapidamente a competência “Entusiasmo”, daremos algumas dicas que po- derão ajudá-los nessa empreitada. 4.2 Entusiasmo A competência “Entusiasmo” refere-se à energia, ao interesse, à motivação e gosto por estar vivo, por buscar sentidos pessoais e realizações no dia a dia. Não significa nunca ficar triste ou desanimado, isso não existe. Implica em demonstrar vivacidade e disposição para encarar o “ser-no-mundo”, como diria o filósofo Martin Heidegger. Todos temos pro- blemas, momentos bons e momentos ruins, isso é a vida! Nas sábias palavras de Caetano Veloso, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. A competência “Entusiasmo” nos lembra a importância de mantermos a disposição de ir em frente para permanecermos no caminho das conquistas. Para nos mantermos conectados com a vida, mesmo em momentos de sofrimento. Algumas sugestões para ampliar as competências socioemocionais Iniciativa Social e Entusiasmo: A primeira grande dica é o autoconhecimento. Reconhecer e assumir o seu próprio jeito de ser, suas facilidades e dificuldades. Tentar ser sincero e bondoso consigo mesmo. Manter a energia amorosa sobre si, apesar de tudo o que não gosta e tem o desejo de mudar. Se está difícil agora, espere mais um pouco. Mas não desista, persista... Se você é muito tímido, assuma a sua timidez e procure formas de administrar seus sentimentos em diferentes situações. Não se deixe isolar por você mesmo. Se você é muito expansivo, cuide para que esse seu jeito não assuste e afaste os outros, não o atrapalhe no ambiente de trabalho e de estudos. Enfim, olhe-se sempre no “espelho” com sinceridade e respeito para continuar melhorando sempre e sempre. Veja algumas perguntas que podem ajudar a se conhecer melhor: 9 Desenvolvendo Habilidades Socioemocionais - Aula 3: Engajamento com os Outros Para ampliar seus círculos de relacionamentos, além de assumir e respeitar seu jeito de ser, é im- portante ser seletivo, fazer escolhas para equacionar o tanto de investimento que deseja fazer nos dife- rentes ambientes sociais e nas diferentes pessoas. A competência Iniciativa Social não significa ser obrigado a se dar bem com absolutamente todas as pessoas, isso pode até ser perigoso. Todos nós temos nossos grupos de pertencimento, algumas pes- soas com quem nos damos melhor do que outras. E será que “aquela pessoa X” vale mesmo a pena? Merece que você gaste a sua energia vital com ela? Quando for possível a escolha (amizade, relacionamento amoroso...), exercite seu poder de decisão – com flexibilidade, é claro! E quando não há opção (pais, filhos, irmãos...), fortaleça o vínculo que for possível, não o idealizado. Ninguém é obrigado a ter uma relação de intimidade com os familiares, se isso não fizer bem para si mesmo e para os demais. Em síntese: 10 Workshop Gestão Mais algumas dicas práticas para ampliar os relacionamentos sociais e o entusiasmo pela vida sobre as quais vale a pena ponderar: » Evite rótulos: procure conhecer melhor a si mesmo e aos outros nos diferentes contextos e situações. Ninguém é uma coisa só. Flexibilize. » Procure frequentar diferentes espaços sociais: clubes, parques, centros de convivência, ca- sas religiosas, eventos esportivos etc. O que tiver mais a ver com você. Procure identificar os locais que podem ampliar as suas redes de relacionamentos, em que você pode encontrar pessoas com afinidades, gostos e desejos semelhantes aos seus. Em que você pode se sentir bem, que podem dar mais sentido à sua vida. » Engaje-se em movimentos sociais para melhorias na sua comunidade: hortas comunitá- rias, cuidados com o meio ambiente, ações contra a poluição dos rios e das matas, caridade etc. Mais uma vez, procure por atividades que lhe façam bem, que combinem com você. Ou algo novo que você queira incluir no seu jeito de ser-no-mundo. » No trabalho, cultive relacionamentos profissionais com todos e relacionamentos pessoais com alguns. Faça opções, escolha quem serão os seus “amigos” e quem serão apenas “cole- gas”. » Estudar também é trabalho: a mesma dica vale para a escola. » Busque sempre administrar e equilibrar o seu jeito de ser com as exigências do espaço social. Flexibilize a vara, mas sem quebrar! 4.3 Assertividade É preciso ser cuidadoso para pensar no desenvolvimento da competência “Assertividade”, pois podemos facilmente cair em extremos e nos colocarmos em uma posição arrogante ou prepotente. A palavra “assertividade” é muito interessante, pois vem de “asserto”, com “SS”, e não de “acerto”, com “C”. Ou seja, ser assertivo não é estar certo, ser o dono da verdade. Ser assertivo é acreditar na- quilo que se está defendendo, ser firme em suas opiniões, mas também humilde para acatar outros pensamentos e até mudar de ideia, se for o caso. Vamos lembrar mais uma vez da importância da fun- ção executiva “Flexibilidade”. Isso quando temos uma opinião formada sobre um assunto, pois muitas vezes estamos ainda na fase do “não sei”... Consultando o dicionário, vemos que na Linguística, o adjetivo “assertivo” diz respeito a uma afirmação categórica, cuja validade é assumida pelo locutor (aquele que a emite). Na Psicologia, re- fere-se à pessoa que expressa segurança ao agir; que se comporta de maneira firme, que demonstra decisão nas palavras e nas ações. Neste curso, defendemos a ideia de que uma pessoa é assertiva quando demonstra segurança em suas colocações, mantendo o respeito e a ética em relação aos outros e, ao mesmo tempo, tem a capacidade de ouvir críticas, ponderar sobre outros pontos de vista e flexibilizar suas opiniões. Não confundamos assertividade com agressividade, arrogância, teimosia, autoritarismo ou rigidez de pensamento. A grande dica para desenvolver a competência socioemocional Assertividade é a busca do equi- líbrio entre a “rigidez” e a “flexibilidade”, como já discutido ao longo desta aula. Um equilíbrio que é dinâmico e nem sempre fácil de ser reconhecido e praticado: é um processo contínuo de “olhar para dentro” e “olhar para fora”, de lidar com as emoções provocadas pelas certezas e pelas incertezas, pe- las dúvidas e pelos riscos, pelas tomadas de decisão. Um processo extremamente ligado, portanto, ao desenvolvimento da Resiliência Emocional (tema de outra de nossas aulas). 11 Desenvolvendo Habilidades Socioemocionais - Aula 3: Engajamento com os Outros 5 Macrocompetência “Amabilidade” A macrocompetência Amabilidade refere-se aos aspectos qualitativos das interações entre as pes- soas. Qualidades como atenção, respeito, cortesia e gentileza tornam as relações sociais melhores, mais prazerosas e frutíferas. No modelo do Instituto Ayrton Senna que estamos adotando neste curso, essa macrocompetên- cia engloba três aspectos: » Empatia: colocar-se no lugar do outro, sentir e avaliar uma situação pela perspectiva do outro; procurar entender outros pontos de vista que não o seu. » Respeito: Relações pautadas na ética; respeitar e ser respeitado; reciprocidade. » Confiança: Expectativas positivas em relação a pessoas de confiança; confiar e perdoar. 5.1 Empatia A macrocompetência Amabilidade refere-se aos aspectos qualitativos das interações entre as pes- soas. Qualidades como atenção, respeito, cortesia e gentileza tornam as relações sociais melhores, mais prazerosas e frutíferas. Ter empatia significa “conseguir colocar-se no lugar do outro”. Há basicamente dois aspectos en-volvidos: cognitivo e emocional. A empatia cognitiva diz respeito à capacidade de compreender algo pela perspectiva da outra pessoa. Veja abaixo um exemplo bem ilustrativo: a pessoa da esquerda está vendo o “6” e a pessoa da direita, o “9”. Ambos estão corretos, pois o lugar de onde cada um olha determina aquilo que está vendo. Segundo as pesquisas de Jean Piaget, a criança pequena ainda não dispõe de estrutura cognitiva para perceber e compreender que os outros não estão vendo a mesma coisa que ela. Em um crescente processo de maturação orgânica e de interações com os objetos, pessoas e situações do seu ambiente, a criança vai construindo aos poucos essa capacidade cognitiva. A empatia emocional implica na criação de uma conexão afetiva com o sentimento do outro. Envolve várias áreas do cérebro, algumas cuja maturação biológica é completada apenas na juventude (em média, 25 anos nos homens e 21 anos nas mulheres). O que não significa que não deva ser esti- mulada desde a mais tenra infância. Afinal, está cada vez mais comprovado que o desenvolvimento humano, mesmo o neurológico, é bastante influenciado pelas interações que estabelecemos com o 12 Workshop Gestão meio. Ensinar uma criança pequena que quando ela morde um amiguinho ele sente dor e fica triste é fundamental, mesmo sabendo que o nível de compreensão que ela terá desse fato é muito diferente do que um adulto poderia ter. Alguns cuidados são importantes quando pensamos em empatia. O primeiro e mais fundamental é não se misturar com o outro nesse processo. Afinal ser empático é conseguir perceber algo “COMO SE FOS- SE” o outro, e não “SER ESSE OUTRO”. Usando uma expressão popular, não é ser “Maria vai com as outras”. Ser empático não envolve julgamento. Não é uma questão de quem está certo ou quem está erra- do, mas sim uma disposição interna para ver o mundo pelos olhos do outro, com respeito e verdadeiro desejo de compreender o que o outro está sentindo e pensando. Ou como se fala em inglês, “calçar os seus sapatos” (put yourself in someone’s shoes). Sem julgamentos e sem se misturar. Outro aspecto importante é não assumir para si um problema que é do outro. Compreender, acei- tar, respeitar, dar apoio, oferecer ajuda, tudo isso é ótimo. Mas lembrando sempre que os sentimentos, os pensamentos e os problemas do outro são... do outro! A primeira grande dica para desenvolver a empatia é, mais uma vez, a flexibilidade. A empatia requer muito mais uma escuta atenta, afetiva, respeitosa, de acolhimento do que uma ação. Metaforica- mente, implica em não colocar um antolho de modo a só conseguir enxergar o próprio ponto de vista, nem um cabresto, nem em si nem no outro, para controlar os movimentos e ações. Algumas sugestões para promover o desenvolvimento da competência socioemocional Empatia: » Caminhe pelo mundo das possibilidades, cultive a imaginação e a criatividade. » Procure colocar-se no lugar dos diversos personagens quando assistir filmes, desenhos ani- mados, séries... quando ler livros, gibis... quando ouvir notícias e fatos compartilhados pelas outras pessoas... » Importe-se verdadeiramente com os outros, não somente nas grandes questões, mas tam- bém nos pequenos detalhes do dia a dia. 5.2 Respeito Essa competência socioemocional é básica para o desenvolvimento de relações interpessoais sau- dáveis, profícuas, benéficas e frutíferas. Respeitar e ser respeitado em seus direitos e em seus deveres, 13 Desenvolvendo Habilidades Socioemocionais - Aula 3: Engajamento com os Outros manter relações cordiais e pautadas na ética e na justiça contribui na construção de uma sociedade mais democrática, igualitária e solidária. Isso não significa nos relacionarmos com todos exatamente da mesma maneira. Há uma diferen- ça entre os conceitos de “igualdade” e de “equidade” que fica muito clara na imagem abaixo: se os três garotos receberem o mesmo tratamento, não serão contemplados em suas necessidades específicas, o menino mais novo não estará sendo respeitado. Todas as pessoas são merecedoras de respeito, não só os mais velhos, os professores, os chefes, os ocupantes de posições sociais mais privilegiadas. Nesse sentido, somos todos iguais: todos somos humanos, todos temos valor, qualidades e defeitos. Já diz o ditado que “gentileza gera gentileza”. Portanto, a grande dica para construir relações res- peitosas, que em geral todos nós já sabemos, mas nem sempre aplicamos verdadeiramente em nossas vidas é: não importa a idade, gênero, religião, crenças, status social ou qualquer outra coisa, trate o pró- ximo com o respeito, carinho, consideração e atenção com que gostaria de ser tratado(a). 5.3 Confiança A palavra “confiança” significa basicamente “crer com fé”, acreditar plenamente. Esta competência socioemocional envolve aprender a confiar no outro e a ser merecedor da sua confiança. Esse é um tema em que, mais uma vez, é fundamental algumas reflexões e cuidados. As pessoas das nossas relações mais próximas são fundamentais para a nossa vida, para o nosso desenvolvimento pessoal, social, profissional. Mas a confiança é uma conquista, uma construção vvque acontece na história dos contatos que vamos estabelecendo com aqueles que nos rodeiam, sejam fa- miliares, amigos, colegas, professores etc. O fato de alguém ser da nossa família não implica automati- camente que seja digno de confiança. Confiança é escolha, é tomada de decisão. Quanto mais consciente a decisão de confiar ou de não confiar, melhor. Mesmo que não haja nenhuma garantia de ter sido a opção correta. Não podemos e não devemos confiar em todo mundo, pois a desconfiança muitas vezes é um recurso que nos protege de perigos. Confiança não pode ser confundida com ingenuidade... E menos ainda ser usada como um instrumento de poder, de intimidação e dominação. Há pessoas que fazem uma espécie de chantagem emocional questionando algo do tipo “você não confia em mim”? Há vezes em que é melhor não confiar... Também não é possível “acertar sempre”, não decepcionar a quem amamos e não sermos decepcionados pelos outros. As pessoas que nos amam e se importam conosco em geral têm boas intenções, embora muitas vezes possam “pisar na bola”. O mesmo acontece conosco em relação às pessoas que são importantes para nós. 14 Workshop Gestão Nesse sentido, exercer o perdão é um aspecto essencial ao desenvolvimento dessa competência socioemocional. Estabelecer diálogos sinceros, respeitar e ser respeitado nas nossas potências e nas nos- sas fragilidades, nos aceitarmos em nossa “humanidade”, oferecer a oportunidade da reparação, dar “mais uma chance”, tanto ao outro como a si mesmo, são algumas dicas para construir relações de confiança. Encerrando esta aula, mais uma reflexão... Conviver não é fácil... Se alguém disser que é, desconfie! Desenvolver o Engajamento com os Outros e a Amabilidade é um processo contínuo de con- quistas e de fracassos, de alegrias e de dores. De velhos, novos e renovados relacionamentos, uns me- lhores e outros piores, uns mais íntimos outros mais rasos, uns mais duradouros outros mais circunstan- ciais. Essa é a vida da gente. Não há nada no desenvolvimento socioemocional que aconteça de um dia para o outro e que te- nha um “ponto final de excelência”. Estamos sempre no caminho, podemos sempre nos aprimorar mais e mais. Estar vivo é permanecer em desenvolvimento sempre, em qualquer idade. Cada nova conquista deve ser comemorada. E cada novo desafio também, pois as nossas experi- ências podem ser oportunidades para ampliarmos ainda mais as nossas conquistas, se as aproveitarmos a favor do nosso desenvolvimento. Este é o convite deste curso. Vamos juntos pensar em como sermos os melhores de nós mes- mos a cada dia? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ABED, Anita. O desenvolvimento das habilidades socioemocionais como caminho para a apren- dizagem e o sucesso escolar de alunos da educação básica. São Paulo: 2014. Disponível em: www. recriar-se.com.br (siteda autora). GARDNER, Howard. Teoria das Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. VON FRANZ, M.L.& HILMAN, J. A Tipologia de Jung. São Paulo: Editora Cultrix, 1990. 15 Desenvolvendo Habilidades Socioemocionais - Aula 3: Engajamento com os Outros IMAGENS: Brown Wooden Dock https://www.pexels.com/photo/brown-wooden-dock-1738675/ River Between Green-leafed Tree https://www.pexels.com/photo/river-between-green-leafed- -tree-1766838/ Brown and White Horse https://www.pexels.com/photo/brown-and-white-horse-171256/ Masculino é igual conceito feminino com mão de empresário segurando contra fundo quadro ne- gro. https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/male-equals-female-concept-businessman- -hand-276043097 3d steel springs isolated over white background. https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/ 3d-steel-springs-isolated-over-white-148027145 Empatia não é Apatia https://miro.medium.com/max/3840/1*AZ6e52Xy04kCIEGDet6N3A.gif
Compartilhar