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SEIS FORMAS PARA PENSAR A DRAMATURGIA COM OBJETOS

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SEIS FORMAS PARA PENSAR A DRAMATURGIA COM OBJETOS
SIX WAYS FOR THINK ABOUT THE OBJETCTS DRAMATURGY
Célio Alberto de Ávila Freitas[footnoteRef:1] [1: Mestrando em Artes Cênicas – Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas (PPGAC). Pesquisa Teatro de Objetos desde 2012 quando entrou na graduação. ] 
 celiovirgula1@gmail.com 
Resumo
Desde de 2012 o Teatro de Objetos se tornou parte de minha vida e motivo para estudar e compreender possibilidades para criação nessa linguagem intimista e repleta de autobiografia. Neste artigo, falarei sobre seis formas para se criar dramaturgia em Teatro de Objetos , relacionadas a diferentes motes disparadores vistos em exercícios que trabalham a linguagem e também em processos criativos vistos, estudados ou vivenciados entre o ano em que conheci a linguagem e o 2017.
Palavras-chave: artes cênicas , possibilidade de criação, teatro de objetos
Abstract
Since 2012, the Theater of Objects became part of my life and a reason to study and understand possibilities for creation in this intimate language full of autobiography. In this article, I will talk about six ways to create dramaturgy in Objetcts Theater, associated to different trigger motions in exercises that work 
on language and also on creative processes seen, studied or experienced between the year I learned the language and 2017.
Keywords: creation possibilities, objects theater, scenic arts
Introdução. 
Sendo ainda uma parte relativamente nova do Teatro de Animação, o Teatro de Objetos vem desde a década de 1980 se desenvolvendo com diferentes características e toques pessoais por parte dos artistas que trabalham com a linguagem ao redor do mundo, algumas dessas características acabam por ser recorrentes e aproximarem os trabalhos, sem que eles percam as particularidades ou mesmo que algo se torne regra ou lei para o trabalho com objetos. 
Atraído por essa liberdade e estimulado ao longo dos anos de estudo a cerca da linguagem, alguns motes disparadores foram observados em exercícios, espetáculos, dinâmicas e criações próprias com que tive contato desde o ano de 2012, quando começo a jornada de conhecimento dos objetos e auto conhecimento enquanto ator que busca constantemente se reinventar e manter sua conexão com objetos que remetam memorias e universos lúdicos. 
Apresentarei aqui seis propostas para se pensar a dramaturgia no Teatro de Objetos, não há intuito de firmar elas como regras ou como certezas, mas sim apresentar a forma me aproximei de diferentes características como: uso do espaço, uso de narrativas, uso do imagens como mote criativo, autobiografia entre outros. 
Dramaturgia por familiarização objeto – público.
Comecemos por um tipo de criação que leva em conta o público para o qual o trabalho será apresentado. O objeto inevitavelmente trás em si informações prévias que podem ser identificáveis pelo público, seja por estes objetos serem produzidos em larga escala na sociedade, por identificação de sua funcionalidade ou mesmo pelo reconhecimento de uma marca, princípio ativo (no caso de remédios), etc. 
Quando se busca trabalhar para que esse reconhecimento aconteça ou quando se permite que ele modifique a cena, temos caracterizada a familiarização objeto-público. Deixando mais claro, um objeto posto em cena tem por si só uma informação comum, se coloco em cena uma figura de ação do personagem Hulk, a primeiro momento o público pode pensar: “Ah, é o Hulk”, porém os objetos podem ser também familiares ao público e isso proporcionar um tipo de reconhecimento entre plateia e o objeto em questão. Se um alguém que está vendo o espetáculo tem um irmão que tem um brinquedo igual, poderia pensar “É Hulk do meu irmão”. Se por ventura o objeto despertar o interesse de quem assiste, pode ainda surgir o pensamento “Eu sempre quis um Hulk como esse”. O fato é que ao se familiarizar com o objeto mesmo que de forma breve aquilo de algum modo atrai para a apresentação que está sendo realizada. 
Nesse mesmo sentido podemos falar sobre a importância de se escolher objetos pensando no contexto em que você vive para facilitar essa familiarização por parte do público. No contexto de Uberlândia, por exemplo, poderia ser um artificio inteligente e provocador usar uma cartela de um título de capitalização vendido na região. para se tratar de um personagem apostador, para dialogar ainda mais com essa referência, a construção de cena poderia usar bordões dos garotos propagandas também. 
Esse mesmo jogo poderia não funcionar ou ser menos eficiente diante de um público que não conheça programa de sorteios ou que não tenha um semelhante em sua região por exemplo. Para isso haveria a opção de trocar o objeto por um semelhante de forma que não perdesse o significado necessário para a cena. 
Dramaturgia por famílias de objetos 
Na segunda forma para pensar a dramaturgia dos objetos, me apoio em uma das caraterísticas que julgo mais envolventes no Teatro de Objetos o conceito de criação a partir de uma família de objetos. Conheci o conceito em uma oficina com Sandra Vargas em 2014, por um exercício que pode tanto ser uma forma de exercitar e assimilar o conceito como um mecanismo de criação de cenas. 
Para discussão explicarei o exercício: Na ocasião, Sandra Vargas pegou quatro objetos e os colocou a nossa frente, dando o comando para que escolhêssemos, para cada um desses objetos outros dois que achássemos parecidos de algum modo, em seguida para cada dois foram colocados mais dois totalizando 7 objetos por grupo. Em nenhum momento durante a condução da primeira parte Sandra usou a palavra família e não corrigiu as associações, nos deixando totalmente livres, apenas quando todas estavam completas ela nos disse que havíamos montado três gerações de uma família com um objeto patriarca/matriarca e seus herdeiros, nesse contexto Sandra convidou quatro atores para contarem a história de cada família. 
Abaixo uma imagem do fluxograma da família e texto registrado no dia: 
Figura 1 - Fluxograma da família. Fonte: acervo pessoal.
No presente contexto podemos reconhecer as seguintes semelhanças entre os objetos. A maria fumaça era um brinquedo, o que a torna ela semelhante aos seus “filhos”, igualmente brinquedos, sendo o carro de polícia semelhante também por se tratar de um veículo, na terceira geração a conexão e continuidade se dá na evolução tecnológica pela imagem de automação, tanto o brinquedo robô quanto a placa de computador podem ser associadas como autômatos ou partes de um. A boneca se associa por ser igualmente um brinquedo e no caso desta, as cores eram semelhantes às da maria fumaça e suas duas herdeiras, se relacionam com ela por serem igualmente representações de formas humanas, apresentando suas variações.
A forma como Sandra nos apresentou o exercício não previa muito tempo para raciocinar, o que leva as associações a serem mais intuitivas e dialogarem com conhecimentos prévios do ator, de toda forma o estudo de familiaridade é sem dúvidas um dos mais interessantes recursos para o Teatro de Objetos posto que seja dessa forma rápida ou por planejamento nos possibilita metáforas visuais e discursivas que tenham conexão e possam mesmo quando não sendo estruturadas como a história de uma família como no exemplo, conduzir um exercício ou criação com harmonia ao utilizar objetos que tenham relações entre si. 
Dramaturgia por narrativas 
Ter o público próximo, olhar nos olhos dele, contar histórias. Essas são algumas características do Teatro de Objetos que comprovam sua proximidade com o teatro de narradores, conduzimos o público ao imaginário com uso de narrativas no teatro de objetos a capacidade de significados novos dos objetos o torna simbólico o suficiente para que esse jogo seja estabelecido. 
Durante a oficina com Sandra Vargas entre os exercícios conduzidos, houveram aqueles que trabalhavam melhor com o uso da narrativa, como o exercício dos três objetos surpresa[footnoteRef:2]. Um ator se posiciona atrás de uma mesa e fecha os olhos, as demais pessoasescolhem três objetos aleatórios, pensando ou não na relação de semelhança. Escolhidos os três objetos alguém toca a mão do ator para que ele saiba que estão posicionados. [2: Nomenclatura atribuída por mim.] 
O ator pode então escolher uma posição entre esses objetos e alterna-los de forma que vá usar um por vez na ordem escolhida para contar uma história com início, conflito e solução. Apesar da escolha de ordem não era permitido planejar a história com maiores detalhes, o exercício consiste em organizar os objetos e contar as histórias.
Na ocasião da oficina, surgiu uma cena com uso de um objeto com figura humana, uma com formato circular e um com alusão a possuir dentes, tenho levado essa estrutura para demonstrar quando aplico esse exercício em minhas oficinas, tendo os objetos e narrativa abaixo, retirados de meus registros pessoais como base:
Figura 2 – Proposta de objetos para demonstração do exercício. Fonte: Acervo pessoal.
Marcos era um garoto de uma cidade medieval, seu sonho era aprender a jogar um esporte que estava nascendo em sua época, o futebol, mas não tinha uma bola. Um dia, ele encontrou um objeto estranho, com forma quase circular e tentou chutá-lo. No entanto o objeto era muito pesado e desajeitado, mesmo assim Marcos foi sem jeito treinando dribles e chutes com aquele objeto.
Numa tarde quando jogava futebol próximo ao rio, Marcos foi surpreendido por um monstro que devorou o objeto que ele usava, fazendo com que o garoto fugisse desesperado pedindo socorro.
Logo os fazendeiros que moravam ali perto vieram com machados e conseguiram acabar com o terrível animal que a bastante tempo causava problemas a moradores da região, mas nunca conseguiam capturá-lo, como agradecimento a Marcos por ter criado a oportunidade que os moradores precisavam para acabar com aquele cruel animal, os fazendeiros deram ao garoto uma bola de verdade ele pode enfim realizar o seu sonho.
O que torna essa classificação pertinente, é não só o fato de ter sido uma cena planejada para ser narrada, mas o fato que o desenvolvimento ocorre na narração para usar os objetos e não nos objetos para serem mostrados e para estabelecimentos de inter-relações como no exercício sobre a família de objetos. A lógica aristotélica de início meio e fim aproxima também â contação de histórias 
Dramaturgia por imagens 
Entre os muitos motes disparadores para uma criação de cena em Teatro de objetos, mais uma das possibilidades é o uso de imagem referência, a escolha de incluir essa possibilidade entre as propostas aqui expressas, se dá pelo contato com ao menos duas referências que tenham trabalhado segundo este raciocínio. O curta metragem Ovo Sapiens de Rafael Cursi e uma cena de Rafael Michalichem vista em um processo de criação na Universidade Federal de Uberlândia em 2013, criada na disciplina Teatro de Animação.
O trabalho de Cursi teve como primeiro mote de criação a pintura A metamorfose de Narciso, do pintor Salvador Dali. Ao encontrar a figura que recria a alegoria de Narciso apresentando objetos deslocados do uso cotidiano na composição da imagem da cena durante sua pesquisa por referências imagéticas, o artista escolhe objetos para reproduzir a pintura em uma versão com três dimensões. 
Os objetos que ele usa são: uma caixa de música com um espelho, um ovo e a sua mão esquerda. O trabalho apresenta a história de um ovo que toma consciência minutos antes de ir para a frigideira. Apesar de na referência teórica[footnoteRef:3], Cursi falar pouco sobre o processo de dramaturgia, ele cita o momento em que cria o início, conflito e resolução da cena. No entanto fica claro ao ler e ver sua obra que a pintura de Dali é essencial para o universo imagético de sua obra. [3: Artigo disponível na Revista Móin-móin nº12 de 2014. ] 
Figura 3- Comparação Pintura x Cena. Fonte: Montagem Criada por Célio D’Ávila.
Na cena de Rafael Michalichem, por outro lado, a relação com a imagem é dada uma vez que o ator se inspira no livro chamado Monstros de Gustavo Duarte. Ainda que a cena retrate uma história bastante diversa da do livro, é possível compreender a existência de um estímulo a criação dramatúrgica por meio da inspiração nas formas e funções das criaturas desenhadas. O ator busca no livro elementos para eleger os objetos: primeiramente seu interesse era que a cena se ambientasse num caixote de bar, mas acabou chegando à ambientação da lanchonete, cujos objetos ele conseguiria em casa. 
Ao reunir os artigos de cozinha e dialogando com as imagens do livro que mostram monstros atacando uma praia, foi montada a última parte da cena. Seguindo uma proposta de Mário Piragibe, o ator optou por usar elementos de famílias diferentes dos elementos de lanchonete para criar a imagem dos monstros. Por isso a escolha das gravatas (o polvo) e do capacete (tartaruga) conforme dito em entrevista realizada em 2017 “eu tinha dois monstros que são o capacete e a gravata, que inclusive são inspirados em monstros que tem no livro que são uma tartaruga, um polvo e um dinossaurinho”[footnoteRef:4] [4: Citação transcrita de entrevista realizada em 2017 com Rafael Michalichem.] 
Figura 4- Cena x inspiração II. Fonte: Montagem feita por Célio D'Ávila.
Concluindo o raciocínio sobre como a cena foi criada, Michalichem define o surgimento da cena dele como: “surgiu a partir da história do livro, da identificação principalmente de imagem e forma. Eu fui delineando os elementos, depois elencando as imagens que eu queria estabelecer e isso criou relação entre os objetos”[footnoteRef:5]. [5: Ibidem.] 
Dramaturgia por autobiografia			‘ 
O ato de ressignificar um objeto pode ser muitas vezes associado com o ato de brincar de uma criança, e todos nós já fomos, continuamos sendo ou deveríamos ter sido crianças em algum momento da vida, portanto, brincamos. E, como todos que brincaram, tivemos nossas próprias maneiras e manias durantes as brincadeiras, sendo muitas vezes as brincadeiras de crianças reprodução de comportamentos de adultos, de algo que eles viram na televisão ou mesmo invenções particulares. 
Desde o seu início o teatro de objetos europeu se dedica ao público adulto, pela temática dos espetáculos, que podem trazer o poético e particular de modo mais denso, se comparado à forma como essas características são apresentadas num espetáculo infantil. Assim como a criança o ator também usa como material criativo a realidade a sua volta, seja por meio de uma crítica a algo, uso de memória de uma passagem relevante de suas vidas ou mesmo, nessa brincadeira o Teatro de Objetos leva inocentes objetos inanimados a serem agentes provocadores de forma poética com o que existe de mais íntimo nos atores, sua autobiografia. 
Sandra Vargas diz:
No Teatro de Objetos, podemos sair do papel de manipulador e ter a oportunidade de entrar em cena para dizer alguma coisa que nos diga respeito e que nos revele, cirando uma dramaturgia provocadora, irônica, tocante e não só mero entretenimento (VARGAS,2010, p.40).
O ator revelado pode ser visto em grande parte dos trabalhos com teatro de objetos. Vargas destaca entre outros os espetáculos Klikli da Compagnie Gare Central, da diretora Agnes Limbos (já citada). Um trabalho que apresenta um quarto vazio onde brinquedos se movem sozinhos e todo texto é apresentado com voz em off que vem de um móvel da cena, apresentando de forma poética a solidão.
Na oficina vivenciada com Sandra Vargas um dos mais proveitosos exercícios foi aquele no qual trabalhamos essa capacidade de levar parte de nós para um objeto, nos reconhecendo nele, o exercício Eu-objeto[footnoteRef:6]: Um exercício onde o ator deve olhar todos objetos disponíveis no local e escolher aquele com o qual mais se identifique. [6: Nomenclatura atribuída por mim. ] 
Quando fiz esse exercício com Sandra Vargas, ela pediu, a primeiro momento que não usássemos pronomes pessoais na descrição. Ao fazer a descrição das características em comum do objeto e ator, o exercício.
Quando pratiquei esse exercício pela primeira vez, na oficina de Sandra Vargas,o objeto escolhido foi um brinquedo, o personagem Bowser da franquia Mario da empresa Nintendo.
Figura 5- Bowser e texto usado na oficina. Fonte: Acervo pessoal. Foto: Clayton Lyot.
A ocasião no ano de 2014 era um momento em que eu estava “trabalhando” de forma intensa tanto a auto aceitação quanto a capacidade de engajar-me em relacionamentos interpessoais, em outro trabalho artístico vinculado à universidade. Portanto, esse pensamento naturalmente surgiu no exercício feito na época, em que escolho fazer minhas associações com um personagem que por mais que represente um vilão, tinha relação com os pensamentos da época em que me considerava meu próprio vilão. 
O trabalho de Sandra Vargas também envolve bastante a relação do objeto e da memória, seja no que vemos em espetáculos com Só do Sobrevento ou na oficina realizada, onde tivemos outros exercícios para busca da autobiografia. Por hora, quero focar na conclusão de por mais que várias vezes trabalhemos elementos autobiográficos em nossas praticas, a proposta aqui visa considerar praticas em que o objetivo é ter seu material de vida como foco para a criação, como o processo do espetáculo citado ou como minhas práticas pessoais vem sido nesses anos em que me dedico ao trabalho com objetos. 
Dramaturgia de recriação ou adaptação
Foi por um tempo grande preocupação dos artistas da área o que aconteceria com um espetáculo de Teatro de Objetos quando os artistas parecem de encená-lo dada suas dimensões autobiográficas que aparentemente fariam ser possível ser encenados pelo próprio criado, como conta Sandra Vargas:
Considerando que a dramaturgia no Teatro de Objetos é autoral, pessoal, individual, e que, portanto, está vinculada ao ator que a criou, terminamos por ser levados a questionar o que aconteceria com os muitos textos que têm sido escritos para o Teatro de Objetos. Será que eles perderiam ou se tornariam inúteis, quando o ator-autor decidisse não os apresentar mais? (VARGAS, 2010, p.38)
Por isso mesmo achei pertinente a inclusão desta proposta de categoria no estudo, uma vez que mesmo ainda recente já estamos vivenciando processos de recriação no Teatro de Objetos como o Pequenos Suicídios orginalmente realizado por Gyullo Monár e posteriormente por Carles Cañella.
Pequenos Suicídios, que trás em seu enredo três cenas com diferentes suicídios realizados por objetos e pode ser tido como um clássico para a linguagem, não pretendo aqui discutir sobre a recriação em si, o que pode ser lido no Trabalho de Flávia D’Ávila[footnoteRef:7], mas sim reconhecer a importância de se fazer trabalhos de recriação para explorar potencialidades e formas como diferentes artistas lidam com um mesmo material. [7: Para saber mais ler D’Ávila p. 80-108] 
Por isso mesmo, minhas oficinas hoje trazem o exercício de assistir uma cena para recriar com os objetos que tivermos disponíveis, para isso busco cenas de artistas disponíveis em plataforma online aberta ou recorro a registros de oficinas passadas ministradas por mim
Considerações Finais. 
Meu trajeto e paixão pelo Teatro de Objetos me conduz a uma busca por compreender todas as possibilidades oferecidas pela linguagem que se mostra tão livre e com isso, experimentar todas elas. Enquanto artista, busco também compreender melhor o que leva os artistas a optarem por determinados objetos e formas de criação. Particularmente entre as propostas aqui presentes tendo a navegar e preferir a dramaturgia por autobiografia e/ou por narrativas, seja pelo meu gosto pela escrita de histórias ou pelos desejos de compartilhar parte de meu universo interior por meio da arte. 
Até aqui tenho construído meu espetáculo em objetos O beija-flor, a menina e a estrela o qual considero um espaço de livre experimentações e possibilidades com modificações de objetos, formas de manipulação, trilha sonora e momentos de interação com a plateia. O espetáculo que se orienta pela autobiografia ao contar histórias sobre relacionamentos já vividos por mim, tem como maioria dos objetos figuras de ação ou figuras Funko Pop com formas antropomórficas, escolha que me conduz a esse universo com mais intimidade e me levando a transformar essas figuras que já representam um personagem em atores, que tem seus papeis ressignificados ao serem colocados em minhas ações dramáticas. 
A primeira proposta de familiarização se mostra por vezes forte quando usando brinquedos antigos para públicos mais velhos tenho uma interação e atenção maior da plateia, o que não acontece quando levo a um ambiente escolar onde as crianças não conhecem as figuras postas diante deles. 
A proposta de dramaturgia por imagens é algo que ainda tenho dificuldade em experimentar, sobretudo pela minha particular dificuldade em criar e executar dramaturgia sem palavras, o que também tem parte no já enunciado desejo de compartilhar meu universo particular. Quanto a proposta de famílias de objetos, acredito que seja presente mesmo nos espetáculos que não tem ela como base para criação uma vez que ainda não presenciei espetáculos de Teatro de Objetos com materiais muito diferentes. E as recriações seguem como exercício de oficinas na minha prática, e considerando como os resultados por vezes são interessantes, não pretendo parar de usar este procedimento. 
Por fim, a pesquisa agora segue com ainda mais desejo por compreender a as motivações dos artistas ao escolherem objetos, o que se desdobrará em entrevistas e diálogo com mais profissionais que escolheram o Teatro de Objetos como caminho criativo seja para um espetáculo ou enquanto identidade. A pesquisa terá o desejo de explorar em mais detalhes caminhos, como os seis propostos no presente artigo, mas também o desejo de um artista que já tem sua preferência por um tipo de objeto e forma criativa para legitimar suas escolhas. 
Referências
CURCI, Rafael. Metáforas visuais numa montagem com objetos. MÓIN-MÓIN Revista de estudos sobre teatro de formas animadas, Santa Catarina, n. 12, ano 10, p.130-143.2014.
D'ÁVILA, Flávia, Rudhdeschel. Teatro de Objetos: Um olhar singular sobre o cotidiano. São Paulo, 2010. Dissertação (Mestrado em Artes) - Programa de Pós-Graduação em Artes (PPGA), Instituto de Artes, Universidade Estadual Paulista (UNESP), São Paulo.
PIRAGIBE, Mario Ferreira. Papel, Tinta, Madeira, Tecido. Um estudo da conjugação de elementos dramatúrgicos e espetaculares no teatro contemporâneo de animação: a experiência da companhia PeQuod. 2007. Dissertação (Mestrado em Teatro) – Programa de Pós-Graduação em Teatro (PPGT), Centro de Letras e Artes (CLA), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro.
VARGAS, Sandra. O Teatro de Objetos: história, ideias e reflexões. MÓIN-MÓIN Revista de estudos sobre teatro de formas animadas, Santa Catarina, n. 7, ano 6, p.27-43.2010.
SEIS FORMAS PARA PEN
SAR A DRAMATURGIA 
COM OBJETOS
 
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Célio Alberto de Ávila Freitas
1
 
 
 
celiovirgula1@gmail.com
 
 
Resumo
 
D
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de 201
2 
o Teatro de Objetos se tornou parte de minha vida 
e motivo para estudar e 
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i
bilidades para criação
 
nessa 
linguagem 
intimista e
 
replet
a de 
autobiografia.
 
Neste artigo
, falarei sobre
 
seis 
formas 
 
para 
se criar
 
dramaturg
ia
 
em Teatro 
de Objetos
 
, relacionadas a diferentes motes disparadores vistos em exercícios que trabalham 
a linguagem e também em processos criativos vistos, estudados ou vivenciados
 
entre 
o ano 
em que conheci a 
linguagem
 
e o 
2017.
 
Palavras
-
chave
:
 
 
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tes 
cênicas
 
, 
possibilidade 
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Abstract
 
Since 2012, the Theater of Objects became part of my life and a reason to study and 
understand possibilities for creation in this intimate language full of autobiography. In this 
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on language and also on creative processes seen, studied or experienced between the year I 
learned the language and 2017
.
 
Keywords:
 
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Introdução
. 
 
 
Sendo ainda 
uma parte relativamente nova do Teatro de Animação, o Teatro de 
Objetos vem desde a década de 
19
80 se desenvolvendo 
com diferentes características e 
toques 
pessoais por parte dos artistas que trabalham com a linguagem ao redor do mundo,
 
algumas dessas características acabam por ser recorrentes e aproximarem os trabalhos, 
sem que eles percam 
as particularidades ou mesmo que algo se torne regra ou lei para o 
tr
abalho com objetos. 
 
Atraído
 
por essa liberdade e estimulado ao longo dos anos de estudo a cerca da 
linguagem, alguns motes disparadores foram observados em exercícios, espetáculos, 
dinâmicas e criações próprias com que tive contato desde o ano de 2012, qu
ando começo 
a jornada de conhecimento dos objetos e auto conhecimento enquanto ator 
que busca 
constantemente se reinventar e 
manter
 
sua conexão com objetos que remetam memorias 
e universos lúdicos. 
 
 
1
 
Mestr
ando
 
em 
Artes Cênicas 
–
 
Universidade 
Federal de Ube
r
lând
ia (UFU)
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rograma de 
Pós
-
graduação 
em Artes
 
Cênicas (PPGAC)
.
 
Pesquisa
 
Teatro de 
Objetos
 
desde 2012 quando entrou na graduação. 
 
SEIS FORMAS PARA PENSAR A DRAMATURGIA COM OBJETOS 
SIX WAYS FOR THINK ABOUT THE OBJETCTS DRAMATURGY 
Célio Alberto de Ávila Freitas
1
 
 celiovirgula1@gmail.com 
Resumo 
Desde de 2012 o Teatro de Objetos se tornou parte de minha vida e motivo para estudar e 
compreender possibilidades para criação nessa linguagem intimista e repleta de 
autobiografia. Neste artigo, falarei sobre seis formas para se criar dramaturgia em Teatro 
de Objetos , relacionadas a diferentes motes disparadores vistos em exercícios que trabalham 
a linguagem e também em processos criativos vistos, estudados ou vivenciados entre o ano 
em que conheci a linguagem e o 2017. 
Palavras-chave: artes cênicas , possibilidade de criação, teatro de objetos 
Abstract 
Since 2012, the Theater of Objects became part of my life and a reason to study and 
understand possibilities for creation in this intimate language full of autobiography. In this 
article, I will talk about six ways to create dramaturgy in Objetcts Theater, associated to 
different trigger motions in exercises that work 
on language and also on creative processes seen, studied or experienced between the year I 
learned the language and 2017. 
Keywords: creation possibilities, objects theater, scenic arts 
 
Introdução. 
 
Sendo ainda uma parte relativamente nova do Teatro de Animação, o Teatro de 
Objetos vem desde a década de 1980 se desenvolvendo com diferentes características e 
toques pessoais por parte dos artistas que trabalham com a linguagem ao redor do mundo, 
algumas dessas características acabam por ser recorrentes e aproximarem os trabalhos, 
sem que eles percam as particularidades ou mesmo que algo se torne regra ou lei para o 
trabalho com objetos. 
Atraído por essa liberdade e estimulado ao longo dos anos de estudo a cerca da 
linguagem, alguns motes disparadores foram observados em exercícios, espetáculos, 
dinâmicas e criações próprias com que tive contato desde o ano de 2012, quando começo 
a jornada de conhecimento dos objetos e auto conhecimento enquanto ator que busca 
constantemente se reinventar e manter sua conexão com objetos que remetam memorias 
e universos lúdicos. 
 
1
 Mestrando em Artes Cênicas – Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Programa de Pós-graduação 
em Artes Cênicas (PPGAC). Pesquisa Teatro de Objetos desde 2012 quando entrou na graduação.