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Paciente: Neve Idade: 3 anos Peso: 5,5kg Anamnese: hiporexia, letargia, hemorragia oral sem causa aparente e o tutor não relata nada de anormal Parâmetros: normotermia, FC-120bpm, FR-20mpm e PAS-144, animal apresenta desidratação 5-6% Exames complementares → Hematócrito (HT) – 23 (37-55%) → Tempo de sangramento (TS) 5,2 (1,7-4,2seg) → Contagem normal de leucócitos → Perfil bioquímico → Hematúria moderada (presença de sangue na urina) → Tempo de protrombina (TP) – 62seg com intervalo de referência de 9-12 → Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) – 131seg com intervalo de referência de 59-87 Diagnóstico o Intoxicação por rodenticida anticoagulante Líquido livre • Anticoagulantes – são os rodenticidas/raticidas com venda legalizada no país • Fluoroacetato de sódio (FAS) – possui venda ilegal pelo país • Estricnina – possui venda ilegal pelo país • Chumbinho (carbamato/organofosforado) – possui venda ilegal • Sulfato de tálio, Brometalina, Colicalciferol (Vit D) •·•·•·•·•·•·•·•·•·••· Rodenticidas anticoagulantes •·•·•·••·•·• ·•·•·•·•·• → São popularmente conhecidos como cumarínicos ou dicumarínicos → Os dicumarínicos também estão presentes em algumas plantas como por exemplo o trevo-doce. Quando há a presença de um fungo, Aspergillus principalmente pode haver a formação de um composto tóxico (dicumarol) que possui ação anticoagulante → Possui origem vegetal, mas atualmente já a formulação sintética → A via de intoxicação é principalmente oral, mas eventualmente pode ocorrer por meio de contato cutâneo e inalação → Possuem alta biodisponibilidade oral, são rapidamente absorvidos e grande concentração vai diretamente para a corrente circulatória onde se ligarão a albumina – essa ligação é muito forte → Meia vida varia de longa a muito longa → Possui biotransformação hepática e excreção renal → Nomes comerciais: Racumin ®, Ratum ®, Mouser ®, Ratokill ® GERAÇÃO 1ªGERAÇÃO 2 GERAÇÃO Rodenticidas Warfarina Brodifacum Indanediona Coumafuril Bromadiolona Clorofacinona Difacinona Difenacum Difetialona Esses rodenticidas são comercializados com diversas formas e colorações diferentes, como: • Pós • Granulados • Pós molháveis • Solução em água ou solvente orgânico • Concentrados emulsionáveis • Fumigantes • Aerossol • Iscas Gatos que fazem a ingestão de ratos intoxicados por rodenticidas, podem se intoxicar também. Principalmente se o rato intoxicado tiver ingerido rodenticidas de 2ªgeração e se tem uma grande quantidade em estômago ou grande concentração em fígado • O rodenticida foi sintetizado com o foco de promover o controle da população de roedores, contudo há alguns estudos publicados que explicam que é necessário fazer uso racional dessa substância, pois há o risco de contaminar determinadas regiões (ex: uso de rodenticida próximos a matas) e intoxicar outras espécies de animais 1ª GERAÇÃO (WARFARINA) → Principais representantes: warfarina, dicumarol, pindona → Tabletes parafinados com coloração verde ou azul-escuro ou pó e iscas com coloração azul-celeste → Possui curta ação → Meia vida: 14-20h/ 2-4 dias para eliminação total → Se acumulam no fígado e em tecido adiposo (substância muito lipossolúvel) → Início das manifestações clínicas por intoxicação ocorre de 12-16h, tendo duração de 4-5 dias com pico de 48h → Para ser letal o rato precisa de doses múltiplas (crônica), ou seja, o animal precisa ingerir o rodenticida mais de uma vez para causar sua morte → Biotransformação é hepática com excreção renal 2ª GERAÇÃO (SUPERVARVARINA) → 100x mais potente do que a 1ª geração → Principais representantes: brodifacoum, bromadiolona → Iscas com coloração rosa → Longa ação → Meia vida: 6 dias (brodifacoum meia vida de 4 a 6 semanas) → Se acumulam no fígado e em tecido adiposo (substância muito mais lipossolúvel) → Início das manifestações clínicas ocorre de 12-16h podendo se prolongar para até 9 dias, tendo como duração 30 dias ou mais → Uma única dose (aguda) já é o suficiente para ser letal → Biotransformação é hepática com excreção renal Dose toxica e dose letal do Brodifacoum → Rodenticida Ratokill ® Pacote com 25g – quantidade de Brodifacoum em 100mg é 0,005% 100mg ----------- 0,005mg 2500mg ---------- X X = 1,25mg de cumarínico no pacote Dose tóxica = 0,12mg/kg Dose letal = 0,26mg/kg Supondo que esse rodenticida foi ingerido por um animal de 60kg, qual seria a dose tóxica e qual seria a dose letal • Dose tóxica: 0,12mg X 60kg = 7,2mg (+/- 6 pacotes) • Dose letal: 0,26mg X 60kg = 15,6mg (+/- 12 pacotes) • Esses rodenticidas são inibidores competitivos da vitamina K, inibindo a formação, no fígado, dos fatores de coagulação dependentes de vitamina K (fator II ou protrombina, VII, IX e X) • A vitamina K ela é adquirida por meio da alimentação e fica armazenada de forma inativa no fígado, ela só é ativada quando se inicia o processo de coagulação • Fase 1: A vitamina K inativa no fígado, começa a sua ativação por meio de uma enzima chamada de vitamina K epoxido-redutase, ela promove a conversão da vitamina K inativa em vitamina K ativa conhecida como vitamina K quinona • Fase 2: a vitamina K quinona está ativa, porém ainda não consegue ativar fatores de coagulação. Dessa maneira, ela sofre ação de outra enzima conhecida como vitamina K redutase, essa enzima promove a conversão da vitamina K quinona em vitamina K1 hidroquinona que é capaz de ativar os fatores de coagulação II, VII, IX e X • O rodenticida anticoagulante age inibindo a ação da enzima vitamina K epoxido-redutase por meio de competição, dessa forma há a diminuição da conversão de vitamina K quinona (inativa) para sua forma ativa. Além disso essa classe de rodenticida age de forma menor sobre a enzima vitamina K redutase, impedindo de certa forma a sua ação • As duas fases de ativação da vitamina k ficam prejudicadas com o uso desse rodenticida. Dessa forma não há formação da vitamina K1, consequentemente não haverá a participação dessa vitamina na carboxilase e portanto, não ocorrerá ativação dos fatores de coagulação prejudicando assim a cascata de coagulação Os fatores de coagulação possuem um tempo de vida → II – possui tempo de vida de 41h → VII – possui tempo de vida de 6h → IX – possui tempo de vida de 14h → X – possui tempo de vida de 16h • Então um animal que tenha ingerido esse rodenticida e apresente sangramentos menos intenso, é porque já há deficiência de alguns dos fatores de coagulação • Os sangramentos são mais intensos quando já não circulante o fator II de coagulação • Coagulopatias que podem ocorrem em até 96h após a ingestão de rodenticida de 1ª geração (a média de ocorrência dessa manifestação clínica é de 12h) ✓ Essas alterações de coagulação são perceptíveis devido as hemorragias como: hemoptise (escarro com sangue), epistaxe (sangramento pelas narinas), equimose (extravasamento de sangue que formam manchas na pele), hematúria (urina com sangue), melena (sangue nas fezes) • Em alguns casos o sangramento não é evidente, mas pode-se levantar essa hipótese num paciente que se apresenta: dispneico, com cansaço fácil, tosse – esses sinais podem ocorrer devido ao acúmulo de líquido na cavidade torácica, além disso pode ser levados em consideração quadros de anemia, hipovolemia e dependendo da intensidade do sangramento pode haver quadros neurológicos → Anamnese → Exames clínicos para notar se animal apresenta anemia, desidratação, alterações respiratórias, hematomas → Exames complementares como hemograma e coagulograma → Pode ser feito raio-x, ultrassom e urinálise → Tempo de protrombina (TP) – dosagem do fator II de coagulação → Testes toxicológicos (sangue total ou plasma) → Exame pós-morte: necropsia • Dependerá da quantidadeingerida pelo animal • Qual geração de rodenticida que o animal entrou em contato • Tempo de ingestão • Analisar se há sangramento ativo • O tratamento mais específico está relacionado a geração do rodenticida, isso determinará o tempo total de tratamento • Os sinais clínicos apresentados pelo animal ocorreu 7 dias após o contato com o rodenticida → Nessa situação manobras para reduzir a absorção (provocar êmese, lavagem gástrica e carvão ativado) da substância seria inúteis • Dependendo do quadro hemorrágico do animal, pode ser feita a transfusão de hemocomponentes para que ele consiga coagular melhor e diminuir o déficit de hemácias perdidas pelo sangramento • Dependendo da dispneia do animal oferecer oxigenioterapia • Sempre estabelecer uma fluidoterapia devido a perda de volume de líquidos pelo animal • Toracocentese – punção do líquido da cavidade torácica (grande quantidade) • Administração de vitamina K1 ativada (fitomenadiona, fitonadiona) • Nome comercial do fármaco mais utilizado: Kanakion ® - só serva para intoxicações por rodenticidas anticoagulante • Latência pode variar de 3 a 12h e o pico de ação dessa medicação pode ocorrer em torno de 24h • Vias de administração: entéricas e parenterais (ideal pela via subcutânea) • Período de administração → Rodenticidas de 1ª geração – 10 a 14 dias → Rodenticidas de 2ª geração – 21 a 30 dias • A administração de vitamina K1 ativada promove a produção dos fatores de coagulação II, VII, IV e X • Está relacionada com qual geração de rodenticida foi ingerido – tem prognóstico melhor com a ingestão de 1ª geração • Se há hemorragia • Pode ser feito o controle com administração de vitamina K1 • Dosagem de protrombina •·•·•·•·•·•·•·•·•·••· Fluoroacetato de sódio •·•·• ·••·•·•·•·•·•·•·• • Conhecido também como monofluoracetato de sódio ou também como ácido monofluoracetato de sódio, ainda pode ser conhecido como composto 1080/1081 • Foi um rodenticida muito utilizada nas décadas de 70 e 80, após esse período sua comercialização foi proibida – sua toxicidade é muito alta e a dose letal é muito baixa, levando a óbito tanto animais quanto pessoas • Nome popular: mão branca, era rato • É uma substância inodora, insipido, incolor (pó branco diluído em água) • Possui alta absorção intestinal e pode penetrar pela pele lesada (intoxicação por contato) • Dose letal (DL50) é muito baixa – cerca de 5mg/kg → Homem – 0,7 a 2 mg/kg → Suínos – 1 mg/kg → Cão – 0,06 mg/kg → Gato – 0,2 mg/kg → Camundongo – 5 a 10 mg/kg → Rato -5 mg/kg → Equino – 1 mg/kg → Bovinos adultos – 0,39 mg/kg • Esse rodenticida é muito toxico, pois ele age no ciclo de Krebs inibindo sua atividade • O ciclo de Krebs é responsável pela produção de energia (ATP), e essa energia é necessária para a manutenção de diversas funções biológicas 1. O Fluoroacetato de sódio (FAS) se ligará ao Acetil-CoA 2. Essa ligação promove a formação do Fluoracetil-CoA, dessa maneira a substância consegue agir no ciclo de Krebs 3. O Fluoracetil-CoA irá interagir com o Oxaloacetato, sob ação da enzima citrato sintase terá a formação de uma molécula denominada Fluorocitrato 4. O Fluorocitrato irá inibir por competição a ação da Aconitase que é uma enzima muito importante que faz a conversão de citrato em isocitrato – dessa maneira haverá um acúmulo muito grande de citrato nas células, o que contribui para intoxicação do paciente → Arritmias com fibrilação atrial e em alguns casos parada cardíaca – decorrente do acúmulo de citrato, acidose metabólica, devida a ação direta do Fluorocitrato no miocárdio, diminuição da absorção de glicose e por hipoxia celular → Pacientes com ataxia, tremores, hiperexcitação, mioclonias → Pode evoluir para convulsões → Há alteração de comportamento → Midríase → Sintomas decorrentes do acúmulo de citrato, acidose metabólica, aumento da glicose sérica, aumento de amônia cerebral, há bloqueio da saída de cloreto (Cl-) das células e menor ação do GABA → Alterações de trato gastrointestinal: êmese e diarreia → Alterações de trato respiratório: taquipneia compensatória devido a acidose metabólica, edema, hemorragia pulmonar → Alterações de termorregulação → Os inícios das manifestações podem ser bem rápidas, começando 30min após a ingestão. Mas podem acontecer também de 4 a 6h após a ingestão do rodenticida • O diagnóstico clínico é inespecífico • Anamnese e exames clínicos • Laboratorial: hemogasometria (constatar acidose metabólica), hipopotassemia • Presença de citrato sérico/urina e tecidos • Cromatografia delgada • Necropsia → Administração de anticonvulsivantes → Oxigenioterapia → Fluidoterapia (evitar soro glicosado, pois devido ao mecanismo de ação do rodenticida há uma menor absorção de glicose sérica) → Controle da temperatura corporal (a diminuição de ATP provoca uma diminuição da temperatura corporal) → Lavagem estomacal (quando viu o animal ingerindo o rodenticida) → Correção da acidose metabólica por meio da administração de bicarbonato → Antibióticos preventivos • NÃO HÁ TRATAMENTO ESPECÍFICO – mas pode ser feito a administração de gluconato de cálcio 10%, que tem o intuito de repor o cálcio que está em baixas concentrações no plasma (devido a inibição da enzima Aconitase, acaba-se tendo muito citrato acumulado. Esse citrato circulante acaba fazendo a captação de cálcio, o que diminui as concentrações de cálcio sérico) • Há alguns estudos que apontam que talvez alguns medicamentos que de alguma forma são doadores de acetato, poderiam ser tidos como tratamentos mais “específicos” nesse tipo de intoxicação, como: monoacetato de glicerol 10% e acetamida – no caso esses fármacos diminuiria a síntese de Fluorocitrato 30min após a ingestão
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