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TALASSEMIAS Prof. Dr. Célio Ribeiro Talassemias DEFEITO QUALITATIVOS DEFEITOS QUANTITATIVOS HEMOGLOBINOPATIAS TALASSEMIAS Hemoglobina Hemoglobina Hemoglobina Os genes que controlam a produção das cadeias de globina estão localizados: 1) cromossomo 11: genes para as cadeias beta 2) comossomo 16: genes para cadeia alfa As talassemias são causadas por alterações nesses genes, que afetam o mRNA e prejudicam a transcrição, o processamento ou a tradução das cadeias globínicas Talassemias Constituem um grupo heterogêneo de doenças genéticas, caracterizadas pela redução ou ausência da síntese de um dos tipos de cadeias de globina, que formam as hemoglobinas Nas talassemias, as cadeias de globinas são estruturalmente normais e suas manifestações clínicas e laboratoriais são decorrentes do desequilíbrio na produção quantitativa dessas cadeias Classificação Nas talassemias há alteração quantitativa na produção das cadeias de globina, levando a um desequilíbrio, que é classificado de acordo com a cadeia afetada: 1) β-talassemia: ocorre produção inadequada de cadeias beta 2) α-talassemia: ocorre produção inadequada de cadeias alfa A limitação da síntese pode ocorrer nas cadeias alfa da HbA2 (α2δ2), da HbF (α2γ2) Gower 2 (α2ε2) e nas cadeias beta da HbA (α2β2) As talassemias beta são mais frequentes que as alfa Talassemias O termo THALASSA é de origem grega e significa mar A doença foi primeiramente descoberta em pessoas de origem da região do mar mediterrâneo (sul da Itália e Grécia), É mais frequente em povos oriundos do Mediterrâneo (sul da Itália e Grécia), África e sudeste asiático, incluindo China, península Malaia e Indonésia Sua incidência é de cerca de 5% da população geral, podendo atingir 15 – 20% em certas regiões. Fisiopatologia • Desequilíbrio produção de cadeias globínicas • Formação do tetrâmero instáveis •Microcitose e Hipocromia • Eritropoese ineficaz • Poiquilocitose • Hemólise Fisiopatologia O desequilíbrio na produção de uma das cadeias globínicas impede a formação do tetrâmero estável, limitando o número de moléculas completas de Hb por célula, causando microcitose e hipocromia Por outro lado, a cadeia em excesso precipita-se nos eritroblastos determinando sua destruição precoce na medula óssea (eritropoese ineficaz) Além disso as hemácias contendo cadeias precipitadas são destruídas prematuramente no baço, resultando em um quadro de hemólise As cadeias precipitadas também alteram a membrana eritrocitária, contribuindo para destruição precoce das hemácias e para a poiquilocitose BETA TALASSEMIAS Beta-Talassemias Traço talassêmico Talassemia intermediária Talassemia major Traço-talassêmico Também chamada de beta-talassemia heterozigótica ou talassemia minor Os portadores são geralmente assintomáticos e o diagnóstico é feito casualmente Ocasionalmente causa leve anemia, caracterizada por hipocromia e microcitose, no esfregaço nota-se pontilhado basófilo (≠ anemia ferropriva) É importante saber se a pessoa é portadora da doença, pois ela pode ser transmitida aos filhos e gerar um portador de talassemia major, caso o cônjuge seja portador do traço-talassêmico Talassemia intermediária Pode apresentar-se desde uma anemia leve até necessitar de transfusões sanguíneas ocasionalmente Em algum momento da vida as pessoas que apresentam esta patologia terão deformidades ósseas, osteoporose progressiva com fraturas, úlceras de pernas, hiperesplenismo, deficiência de folatos, etc. Talassemia major É a forma homozigótica e também conhecida como “anemia de Cooley”, “anemia mediterrânea” A formação de tetrâmeros instáveis de cadeias alfa precipitam no citoplasma, lesando a membrana e provocando destruição prematura da hemácia As síndromes de beta-talassemia homozigóticas podem, ainda, ser subclassificadas em duas categorias: 1) β°-talassemia: ausência de produção de cadeias beta 2) β+-talassemia: deficiência acentuada de cadeias beta Talassemia major Muitos homozigotos são na verdade heterozigotos compostos, porque possuem dois genes β-talassêmicos com defeitos moleculares difererentes Clinicamente se caracteriza por hepatoesplenomegalia progressiva, icterícia e alterações ósseas generalizadas Laboratorialmente, caracteriza-se por anemia hemolítica grave, de padrão microcítico e hipocrômico A maioria das crianças apresenta, dentro do primeiro ano de vida, falha de crescimento, fraqueza adinamia e infecções de repetição Manifestações Clínicas Os heterozigotos (β-Tal) são habitualmente assintomáticos Os portadores de dois genes anormais tem manifestações clínicas que podem variar desde anemia grave incompatível com a vida até formas benignas praticamente assintomáticas As formas sintomáticas mais graves caracterizam-se por uma associação de graus variáveis de anemia, hiperplasia eritróide da MO, hepatoesplenomegalia, retardo do desenvolvimento somático e sexual, deformidades do esqueleto, além das consequências da sobrecarga de ferro crescimento, fraqueza adinamia e infecções de repetição Manifestações Clínicas Anemia: do tipo hemolítica com padrão microcítico e hipocrômio, com suas manifestações habituais de astenia, palidez e fraqueza muscular, taquicardia, insuficiência cardíaca e maior susceptibilidade a infecções crescimento, fraqueza adinamia e infecções de repetição Manifestações Clínicas Hiperplasia da MO: a anemia grave causa hipoxemia severa, que estimula a produção de EPO, com expansão da eritropoese; no entanto, a maioria das células proliferantes é destruída na própria MO. Manifestações Clínicas Esplenomegalia e Hiperesplenismo: pode provocar trombocitopenia ou neutropenia, como também pode agravar a anemia devido à expansão do volume plasmático e à diminuição da sobrevida das próprias hemácias ou transfundidas Manifestações Clínicas Hepatoesplenomegalia Manifestações Clínicas Hipodesenvolvimento somático e sexual: menor crescimento pôndero- estatural, redução da massa muscular e ausência ou retardo da maturidade sexual nos pacientes que alcançam a adolescência Manifestações Clínicas Alterações ósseas, dentárias, faciais e articulares: são particularmente evidentes no crânio e no rosto – protuberância da região frontal e das regiões malares, depressão na ponta do nariz e horizontalização dos orifícios nasais, hipertrofia dos maxilares tendendo a expor dentes e gengiva. # fácie de uma criança com beta-talassemia major: o crânio tem bossas com proeminências dos ossos frontal e parietal; os maxilares estão aumentado Manifestações Clínicas Manifestações Clínicas Radiografias de crânio na beta-talassemia major: há aspecto de “fios de escova” como resultado da expansão da MO ao osso cortical Manifestações Clínicas As principais manifestações da sobrecarga de ferro nos talassêmicos são: 1) escurecimento da pele 2)retardo no crescimento e na maturidade sexual 3) anormalidades endocrinológicas: diabetes, osteoporose, hipoparatireoidismo 4) alterações cardíacas: sopros, cardiomegalias, insuficiência cardíaca 5) alterações hepáticas: cirrose, hepatites As consequências do excesso de ferro são as causas de mortes mais frequentes nos talassêmicos a partir da segunda década de vida ALFA TALASSEMIAS Alfa-talassemia Indivíduos sadios apresentam quatro genes para cadeia alfa, dois em cada cromossomo 16 (αα/αα). Indivíduos com alfa-talassemia apresentam deficiência em um ou mais genes de globina alfa. Alterações nestes genes ocasionam uma síntese deficiente de cadeias alfa, provocando um excesso relativo de cadeias não beta: HbH (β4) no adulto, e Hb Bart (γ4)no feto Classificação A intensidade da deficiência de produção de cadeias determina a classificação das alfa-talassemias em quatro formas clínicas 1) Portador silencioso 2) Traço alfa-talassemia 3) Doença de hemoglobina H (Hb H) 4) Hidropsia fetal com hemoglobina de Bart Portador Silencioso É comum em populações africanas ou sudeste-asiáticas Ocorre perda ou função em apenas um dos quatro locus gênicos da alfa-globina (- α/αα) O desequilíbrio na produção de cadeias alfa e beta é mínimo e não provoca alterações clínicas ou laboratoriais significantes Observa-se discreta diminuição do VCM (microcitose) em alguns casos Traço-alfatalassêmia É frequente em pessoas originárias do sudeste asiático Ocorre deleção ou disfunção em dois dos quatro locus gênicos produtores de globina alfa. A deleção pode ocorrer nos dois loci gênicos do mesmo cromossomo (- -/αα; forma cis) ou em cromossomos homólogos 16 (-α/-α; forma trans) Essa forma de talassemia caracteriza-se por anemia discreta com acentuada microcitose e hipocromia Doença de Hb H Tem incidência predominantemente em orientais e ocasionalmente em indivíduos da raça branca (Mediterrâneo); é raro acometer indivíduos da raça negra Ocorre quando apenas um dos quatro loci α apresenta atividade normal; a causa mais frequente é a deleção de três loci gênicos (- -/-α) O desequilíbrio na produção de cadeias alfa e beta provoca a formação de hemoglobina H (β4) A anemia é moderada, com microcitose, hipocromia e evidente fragmentação das hemácias Doença de Hb H Coloração supravital com azul-brilhante-de-cresil, mostrando múltiplos depósitos finos, densamente corados (eritrócitos em “bola de golfe”), causados pela precipitação de agregados de cadeias β-globínicas (HbH) Doença de Hb Bart Esta síndrome também é conhecida como Hidropsia fetal, ocorre quase que exclusivamente no sudeste asiático, especialmente em chineses, combojanos, tailandeses e filipinos. Nesta condição, todos os quatro loci gênicos para produção de cadeias alfa são disfuncionais, ocorrendo ausência total da síntese dessas cadeias (- -/- -) Doença de Hb Bart Clinicamente, se caracteriza por hepatoesplenomegalia secundária à eritropoese extramedular, edema generalizado secundário à insuficiência cardíaca congestiva e a hipoalbuminemia intra-útero Laboratorialmente, se caracteriza por anemia grave com hemácias microcíticas e hipocrômicas, codócitos (hemácias em alvo) e eritroblastos em sangue periférico Doença de Hb Bart Hidropsia fetal: Hb Bart: 80 – 100%, HbH: 10 – 20% Diagnóstico - achados clínicos - hemograma - citogenética: heterozigose nos dois pais (homozigose) - eletroforese de hemoglobina - biologia molecular - cinética do ferro (≠ anemia ferropriva, ADC) HEMOGRAMA - anemia hemolítica do tipo microcítica e hipocrômica (Hb < 9,0 g/dL) - poiquilocitose: esquizócitos, codócitos - pontilhado basófilo (≠ anemia ferropriva) - eritroblastos - desvio à esquerda dos granulócitos - leucopenia e/ou plaquetopenia (quando há hiperesplenismo) Alterações laboratoriais poiquilocitose pontilhado basófilo Alterações laboratoriais Howel-jolly, pontilhado basófilo, poiquilocitose: esquizócitos, codócitos, micrócitos Alterações laboratoriais distensão sanguínea, de um paciente com β-talassemia major após esplenectomia: há hipocromia, células em alvo, eritroblastos e corpos de Howel- Jolly Alterações laboratoriais Diagnóstico diferencial Exame AF ADC Talassemias Ferro sérico diminuído diminuído aumentado Ferritina diminuída aumentada aumentada CTLF aumentada diminuída diminuída IST diminuído diminuído aumentado RDW aumentado normal normal reticulócitos diminuído normal aumentado Tratamento O tratamento conservador da talassemia major fundamenta-se em: 1) transfusões de sangue 2) ácido fólico (5,0 mg/dia) 3) terapêutica quelante 4) esplenectomia 5) medidas de suporte 6) transplante de células- tronco Referências Bibliográficas ZAGO, M. A.; FALCÃO, R. P.; PASQUINI, R. Hematologia: Fundamentos e Prática. Rio de Janeiro: Atheneu, 2013. 1081 p. BRAGA, J. A. P.; TONE, L. G.; LOGGETTO, S. R. Hematologia para o Pediatra. Rio de Janeiro: Atheneu, 2007. 506 p.3 SANTOS, A. N.; TALASSEMIA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA. Instituto Salus. Disponível em: http://www.institutosalus.com/, acessado em 01/03/2014.
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