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1 SUMÁRIO UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO .................................................................................... 2 UNIDADE 2 – PROBLEMAS, DISTÚRBIOS OU DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM? .................................................................................................... 5 UNIDADE 3 – DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM – O PAPEL DO CÉREBRO 9 UNIDADE 4 – OS DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM .......................................... 23 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 59 2 UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO Uma vez que o papel do Psicopedagogo passa pelo trabalho com alunos que têm problemas de aprendizagem ou que fazem parte do processo que poderíamos chamar “não aprendizagem”, que, por conseguinte, levam ao fracasso escolar, dedicamos esta apostila ao aprofundamento destas questões: esclarecer o que é distúrbio, problema e dificuldade de aprendizagem; o papel do cérebro no processo da aprendizagem; sendo o nosso foco maior as dificuldades de aprendizagem. Passaremos minuciosamente por cada uma delas, as possíveis causas, os sintomas, as consequências e o tratamento, além, evidentemente, dos esforços que podem ser realizados pelo psicopedagogo. Sara Paín (1992, p. 32) destaca que, na concepção de Freud, os problemas de aprendizagem não são erros: “[...] são perturbações produzidas durante a aquisição e não nos mecanismos de conservação e disponibilidade [...]”; é necessário procurar compreender os problemas de aprendizagem não sobre o que se está fazendo, mas sim sobre como se está fazendo. Ainda sobre o problema de aprendizagem, Patto (1990 apud SILVA, 2002) destaca que o fracasso escolar acontece pela falta de conhecimento, pelo menos em seus aspectos fundamentais, da realidade social na qual se enquadrou uma determinada versão sobre as diferenças de rendimento escolar existentes entre crianças de diferentes origens sociais. Ao avaliarmos os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, vamos encontrar diversas categorias. Haverá aqueles que necessitam da intervenção psicológica ou psicopedagógica, ou até mesmo, aqueles que o problema pode ser resolvido dentro do contexto escolar, por meio de programas individualizados de ensino e práticas pedagógicas diferenciadas. Dessa forma a avaliação torna-se um elemento muito importante para traçarmos o caminho a seguir. Avaliar não para classificar, para rotular, mas para promover alternativas. Vamos refletir um pouco, sobre como agimos diante das dificuldades de aprendizagem de nossos alunos. É comum prestarmos mais atenção às dificuldades, pois elas saltam aos olhos com muito mais evidências que as 3 potencialidades. Podemos começar a pensar sobre a dificuldade de aprendizagem pelos acertos dos alunos. Assim, experimentando alguns sucessos, podemos abrir uma porta para a construção de um vínculo positivo com as demais áreas da aprendizagem que nosso aluno necessita compreender e aprimorar. Mas o que quer dizer compreender e aprender significativamente? Compreender significa captar o sentido ou apreender uma rede de significações. Por exemplo, podemos compreender uma palavra por causa do contexto significativo da frase e da série de pensamentos. Isto significa que o aluno é capaz de apreender cada passo do processo mental (abstração) de cada conteúdo quando o assunto ou o tema abordado for aceitável, for razoável, isto é, fizer sentido para ele. Como a busca pelo sentido passa pela variante dos significantes, temos que um mesmo objeto pode possuir múltiplos significados, dependendo do contexto que o significa. Por exemplo, quando utilizamos a palavra "operação", ela pode adquirir significados distintos, dependendo dos significantes a ela atribuídos. Para um médico, será uma cirurgia; para um matemático, será a efetuação de uma conta; para um operador da bolsa de valores, dirá respeito a uma aplicação feita. Falar na aprendizagem significativa equivale, antes de tudo, a pôr em relevo o processo de construção de significados como elemento central do processo ensino- aprendizagem. O aluno aprende um conteúdo qualquer [...] quando é capaz de atribuir-lhe um significado (COLL, 1993, p. 79). Portanto, a utilização do pensamento significativo deverá ser explorada no processo ensino-aprendizagem muito próximo da vinculação conteúdo com a vida prática ou cotidiana, principalmente no caso da aprendizagem infantil. Já na adolescência e com o adulto, o aprendizado significativo viabiliza o aprofundar-se nas questões do mundo, bem como nas questões pessoais, favorecendo um encontro com o sentido da própria existência e com os valores éticos necessários à sustentação da cultura e civilização humanas, onde são valorizados os "porquês" das ações e dos acontecimentos. A possibilidade de explorar o aprendizado significativo tem seu lugar quando o profissional – no nosso caso, o psicopedagogo – se vê diante de alunos com 4 problemas, dificuldades ou distúrbios da aprendizagem, podendo utilizar essas dificuldades para trabalhar com o aluno, mas lembremos que as dificuldades podem ser tanto do aprendente quanto do ensinante. Ressaltamos em primeiro lugar que, embora a escrita acadêmica tenha como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científica. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação original. Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se muitas outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas e que podem servir para sanar lacunas que por ventura surgirem ao longo dos estudos. 5 UNIDADE 2 – PROBLEMAS, DISTÚRBIOS OU DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM? Existe uma grande confusão entre o que é problema e o que é distúrbio e, em meio aos dois, afinal, o que é normal. Para elucidar um pouco o assunto, veremos, a seguir, algumas características do considerado normal, problemático ou tendendo ao distúrbio. O normal, o problemático e o distúrbio do nascimento aos 7 anos No recém-nascido e até os seis meses de vida, o normal é que ele tenha domínio sobre os reflexos, chore ao sentir algum desconforto, reaja aos estímulos, como som, luz, carinho, etc., consiga sugar durante a amamentação, tenha boa digestão, bom funcionamento intestinal e durma de forma tranquila. Essas são as principais características do bebê considerado normal. Torna-se problemático quando o bebê apresenta dificuldades para alimentar- se e/ou apresenta constantes vômitos e/ou diarreias ou quando tem dificuldades no sono, excesso de sucção, choro e irritabilidade excessivos e sem motivo aparente. O problemático se torna em distúrbio quando o bebê mostra-se apático ou indiferente, chora muito e de forma monótona, grita sem motivo, não suga nem reage a qualquer estímulo. Todas essas características juntas assinalam o normal e o problemático. Apresentando uma ou duas características do problemático, não há motivo para pânico, pois pode ser apenas uma característica da personalidade do bebê, mesmo assim, vale a pena consultar um pediatra para avaliar seu desenvolvimento. Aliás, o acompanhamento pediátrico é essencial mesmo em bebês considerados com desenvolvimento normal. No caso de a criança apresentar uma ou mais características do distúrbio, já é motivo para atenção especial a esta criança e, certamente, o pediatra irá avaliar suas características e encaminhá-Ia, se necessário, a outros profissionais. Se reunir todos os sintomas de distúrbio, deverá certamente ser encaminhada ao psiquiatra (OLIVIER, 2008). 6 Dos seis aos 24 meses,o desenvolvimento normal inclui maior estabilidade fisiológica, mais paciência e tolerância e certo controle dos instintos e da atividade motora, o que faz com que a criança consiga brincar bastante, distraindo-se com os brinquedos por períodos longos sem tornar-se irritadiça ou chorona. Nesta fase, demonstra uma forte ligação com a mãe, distinguindo-a dos demais parentes e sabendo separar quem é conhecido e quem é desconhecido, inicia sua fase de imitação e desenvolvimento da linguagem que, aos 18 meses, já tem um bom número de palavras utilizadas, ainda que simples ou até monossilábicas. O problemático começa quando a criança demonstra irritação, raiva ou chora em excesso e continuamente, torna-se totalmente intolerante por qualquer motivo, tem dificuldades no controle de evacuações, alimentação e sono. Tem tiques e/ou balança-se muito quando contrariada, chupa constantemente o dedo e/ou objetos diversos. O distúrbio é considerado quando a criança apresenta crises temperamentais frequentes, perde o fôlego com facilidade, apresenta convulsões, demonstra isolamento e/ou apatia, inclusive sem grandes ligações com a mãe. Passa a maior parte do tempo chupando o dedo e/ou objetos e balançando-se e/ou batendo a cabeça em algum objeto (berço, paredes etc.). Nesta idade, além do pediatra, a criança já pode e deve ser levada a um psicopedagogo para alguns testes de aprendizagem. Se os testes demonstrarem normalidade no desenvolvimento da aprendizagem, o acompanhamento posterior poderá ser somente pelo pediatra. Sendo uma criança problemática, deve-se levá-Ia ao psicopedagogo e a um psicólogo para que eles a atendam em conjunto. Será melhor se um for indicado pelo outro para evitar divergências de métodos e linhas de tratamentos (OLIVIER, 2008). Crianças com características de distúrbios de aprendizagem podem ser atendidas pelo psicopedagogo. Crianças com alguns distúrbios, como Down, limitrofia, entre outros, depois de avaliação psiquiátrica e neurológica, podem ser atendidas por um arteterapeuta. Ideal será se o psicopedagogo for também arteterapeuta para atender a esses casos. O psicopedagogo que não tenha também formação e especialização em 7 Artes ou Arteterapia dificilmente conseguirá atender e tratar satisfatoriamente esses distúrbios que não só demonstram sintomas de dificuldades na aprendizagem e na concentração como também outros sintomas que a Arteterapia tem como tratar (OLIVIER, 2008). Além do arteterapeuta, dependendo do caso, é aconselhável o acompanhamento neurológico e/ou psiquiátrico. Obviamente, o pediatra deve ser visitado constantemente para acompanhar a criança, independentemente do tipo de desenvolvimento apresentado por ela. No período entre os dois e os cinco anos, a criança desenvolve bem a fala, conseguindo expressar-se com frases completas. Consegue autonomia nas funções corporais (comer, beber, evacuar) e identifica-se com pais, irmãos, amigos, colegas. Demonstra coordenação em exercícios que envolvem pulos, corridas, etc. Já consegue fazer pinturas, desenhos, recortes e pequenos trabalhos manuais. Ainda demonstra dependência materna e medo de separar-se da mãe, mas também presta atenção às outras pessoas que a rodeiam. Torna-se mais sociável, curiosa, inclusive quanto à sexualidade e pergunta muito para satisfazer sua extrema curiosidade (OLIVIER, 2008). Torna-se problemática quando demonstra pouca ou nenhuma coordenação motora, problemas na linguagem, gagueira, troca excessiva de letras. Demonstra dificuldades para dormir, fazer sua higiene pessoal, insiste em usar chupeta e/ou recusa-se a largar a mamadeira, preferindo-a a outros alimentos. Está sempre irritada, tem frequentes crises temperamentais, mostra-se impossibilitada de separar- se da mãe e, se o faz, entra em pânico, mostra medo excessivo de estranhos e desinteresse por crianças da mesma idade. Geralmente estes problemas podem ser resolvidos em um tratamento em conjunto com psicopedagogo, fonoaudiólogo e psicólogo. O distúrbio ocorre quando a criança demonstra hiperatividade ou passividade extrema, muita sonolência, fala pouco ou não fala, não se expressa, não reage às pessoas, nem responde às perguntas, não controla fezes e urina, masturba-se com muita frequência ou nunca se masturba, demonstra comportamento destrutivo, como cortar, rasgar, queimar brinquedos e objetos diversos, age de forma cruel com 8 animais ou irmãos mais novos, parecendo sentir prazer nisto. Nestes casos, o distúrbio passa a ser considerado e deve ser diagnosticado por um psicólogo que, dependendo do caso, encaminhará a criança a um neurologista, fonoaudiólogo, otorrino e/ou a um psicomotricista e/ou a um arteterapeuta (OLIVIER, 2008). Bem, até o momento pincelamos comportamentos que podem denotar desenvolvimento saudável, comportamento problemático e distúrbio, mas antes de falar sobre problemas e distúrbios especificamente, vamos explicar o que é aprendizagem, que ocorre basicamente em três estágios: Subaprendizagem – Entrou em contato com o assunto, mas não prestou atenção, portanto não assimilou. Aprendizagem simples – Entrou em contato com o assunto, prestou atenção, mas não memorizou. Superaprendizagem ou aprendizagem ideal – Entrou em contato com o assunto, prestou atenção, assimilou e memorizou. Os dois primeiros casos necessitam de acompanhamento psicopedagógico e análise (exames e testes) para detectar onde há e qual é a falha existente. Neste ponto, vêm as dificuldades, os problemas e os distúrbios, que também podem ocorrer basicamente de três formas: CAUSAS PSICOLÓGICAS CAUSAS ORGÂNICAS CAUSAS DO SISTEMA Traumas, problemas familiares, problemas financeiros, etc. Desnutrição, anemia ou distúrbios, como dislexia, disgrafia etc. Inadequação dos métodos aplicados em aprendizagem, despreparo dos professores, etc. Analisados todos esses fatores, devem-se então avaliar os sintomas para identificar o distúrbio (OLIVIER, 2008). 9 UNIDADE 3 – DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM – O PAPEL DO CÉREBRO O conceito de dificuldades de aprendizagem (DA) introduzido por Samuel Kirk, em 1963, não é ainda hoje consensual, quer em termos de elegibilidade quer de identificação (PORTO, 2009). Todavia a condição de DA é amplamente reconhecida como um problema que tende a provocar sérias dificuldades de adaptação à escola, e frequentemente projeta-se ao longo da vida adulta. Apesar das grandes e rápidas mudanças operadas na fundamentação teórica, da explosão incomensurável da investigação produzida nas últimas décadas, das medidas políticas e educacionais avançadas para responder ao crescimento preocupante do insucesso e do abandono escolar, das fracas performances dos estudantes em exames nacionais e internacionais, das várias tentativas para aumentar a qualidade de formação dos professores, das pressões exercidas pelos pais etc., as DA continuam a gerar inúmeras controvérsias. Os indivíduos com DA, com um potencial intelectual dito médio, sem perturbações visuais ou auditivas, motivados em aprender e inseridos num processo de ensino eficaz para a maioria, revela dificuldades inesperadas em vários tipos de aprendizagem, sejam: de índole escolar e/ou acadêmica, isto é, simbólica ou verbal, como aprender a ler, a escrever e a contar; de índole psicossocial e/ou psicomotora, isto é, não simbólica ou não verbal, como aprender a orientar-se no espaço, a andar de bicicleta, a desenhar, a pintar, a interagir socialmente com os seus pares, etc. As DA podem criar obstáculos e impedimentos inexplicáveis para aprender a falar, a ouvir, a ler, a escrever, a raciocinar, a resolver problemas matemáticos, etc., e podem prolongar-se ao longo da vida. Trata-se de um tema de reflexão interdisciplinar complexa, exatamente porque o sujeito (aluno, estudante, formando, etc.) quando aprendeuma dada tarefa (ler, escrever, contar, pensar, etc.) apresenta uma combinação única e original de 10 talentos (áreas fortes) e de vulnerabilidades (áreas fracas), ou seja, um perfil de aprendizagem muitas vezes não detectáveis pelos instrumentos de diagnóstico habitualmente mais utilizados. Os próprios testes formais de inteligência (que apuram o Quociente Intelectual - QI) não são suficientes para identificar DA, pois há crianças ou jovens e também jovens sobredotados, logo, com QIs superiores à média, que revelam dislexias, disortografias e discalculias, ou seja, dificuldades específicas na aprendizagem. Pesquisas internacionais têm convergido em alguns consensos sobre o fenômeno das DA, como por exemplo: a sua diversificação, embora cerca de 80% se enfoquem na dislexia e na disortografia; a sua ocorrência em todos os níveis de QI e em todos os níveis socioeconômicos; o seu envolvimento genético e a sua constatação em várias gerações na mesma família; a sua comorbilidade, especialmente com a epidemia silenciosa dos déficits de atenção com ou sem hiperatividade; os seus sinais de discrepância, entre o potencial de aprendizagem normal e o seu aproveitamento escolar abaixo do normal; as suas estruturas cerebrais atípicas (assimetrias hemisféricas, etopias, displasias, etc.); os seus pré-requisitos linguísticos (fonológicos, morfológicos, semântico- sintáxicos, léxicos, etc.); os seus pré-requisitos cognitivos (conhecimento básico e processamento de informação: input - integração/ planificação - output - feedback) com fraca automatização descodificativa e codificativa (hipótese de disfuncionamento cerebeloso e vestibular), entre outros (FONSECA, 2009, p. 141). Apesar da constatação de vários consensos, as controvérsias subsistem e as discussões não terminam, porque muitas perguntas ainda geram muita incerteza. Será que as DA ilustram um fluxo contínuo de dificuldades, desde a comunicação não verbal à verbal? Desde os déficits da linguagem falada à linguagem escrita e 11 quantitativa? Os problemas na aprendizagem são fenômenos distintos? As crianças ou os jovens e jovens disléxicos são diferentes das crianças ou dos jovens maus leitores? As DA sutis e severas são discutíveis na sua natureza? Que nível de análise queremos dedicar às DA? Basta o nível psicológico com os testes de inteligência? A abordagem médica, seja genética ou neurocientífica, é por si só concludente, resolve? A questão das DA ultrapassa-se puramente com uma visão sociocultural, sócio-histórica ou pedagógica? As DA são intrínsecas ao indivíduo ou ao sistema educacional, ou resultam das suas interações complexas? O diagnóstico tem fornecido explicações sobre as causas? Porque é que o diagnóstico tradicional não proporciona estratégias de intervenção reeducativas eficazes? As DA serão recuperáveis com intervenções uniterapêuticas ou unirreabilitativas milagrosas (psicofarmacológicas, visuais, posturais, fonológicas, metodológicas, etc.), ou deverão ter em vista uma intervenção multidisciplinar e mais coterapêutica? Quantos questionamentos! E não temos a pretensão de esgotar as dúvidas acima, mas lançamos mão de subsídios teóricos que podem ajudá-los a refletir e focar nas respostas que lhe sejam mais interessantes. Devido a muitas opiniões, geralmente controversas e pouco conhecimento por parte de vários profissionais (médicos a psicólogos, professores, formadores, terapeutas, investigadores, sociólogos, etc.) que não se aprofundam no assunto, acreditamos como Fonseca a dificuldade de uma definição consensual. Uma definição geral para DA é proposta por Fonseca (2004) como sendo um conjunto heterogêneo de desordens, perturbações, transtornos, discapacidades, ou outras expressões de significado similar ou próximo, manifestando dificuldades significativas, e ou específicas, no processo de aprendizagem verbal, isto é, na aquisição, integração e expressão de uma ou mais das seguintes habilidades simbólicas: compreensão auditiva, fala, leitura, escrita e cálculo. Diversos autores: MYKLEBUST (1975); DENCKLA (1991); FOSS (1991); MATIE & BOLASKI (1998); ROURKE (2005, 1995a, 1995b, 1994, 1993, 1989, 1988, 1987, 1985, 1975), entre os quais FONSECA (2004), incluem no conceito das DA, não só as DA verbais e simbólicas, mas igualmente um espectro diversificado de DA não verbais ou não simbólicas, envolvendo combinações de problemas de 12 orientação, posição e visualização espacial, de atenção e concentração, de psicomotricidade, de integração, de imitação, de percepção e de competência social, etc., reforçando a explicação filogenética e neurofuncional dos dois hemisférios cerebrais em qualquer tipo de aprendizagem humana. As DA envolvem deste modo subtipos relacionados com os dois hemisférios: o esquerdo mais centrado nos subtipos verbais, fonológicos ou psicolinguísticos (dificuldades de leitura e de escrita); o direito nos subtipos não verbais ou psicossociais. Não sendo mutuamente exclusivos, mas intimamente conectados, os diferentes subtipos decorrem de investigações, com cerca de 40 anos, que colocam dois aspectos da definição das DA: a geral e a subtípica. A definição geral sugere subtipos formais relacionados com o aproveitamento escolar, e também subtipos informais relacionados com o comportamento social, cabendo em cada um deles, respectivamente, outros subtipos mais específicos. As DA não verbais (DANV) são efetivamente caracterizadas por um padrão específico de dificuldades acadêmicas, ou seja, adequada leitura e escrita, mas revelando problemas de aprendizagem matemática, e, paralelamente, de dificuldades de aprendizagem social consubstanciada no uso mais eficiente das funções verbais do que das funções não verbais em situações sociais, configurando dificuldades de comportamento adaptativo e psicossocial. Ao contrário, o padrão das DA verbais (DAV) sugere, dificuldades acadêmicas mais na leitura e na escrita do que na matemática, e dificuldades não verbais ilustrando mais eficiência no uso da informação não verbal do que da informação verbal em situações sociais. As crianças ou os jovens com DANV abaixo dos 4 anos geralmente acusam ligeiros déficits no funcionamento psicossocial, porém mais tarde, por volta do primeiro ano de escolaridade, revelam sinais de externalização psicopatológica, que podem muito bem evocar hiperatividade e inatenção. O quadro pode evoluir na adolescência para sinais de internalização com traços de isolamento, ansiedade, 13 depressão, comportamento atípico e déficits nas competências sociais (FONSECA, 2009). Emerge desta recente subdivisão das DA um axioma crucial para a sua compreensão, ou seja, a relação intrínseca entre a aprendizagem e a integridade do cérebro, ou entre as DA e as disfunções cerebrais, consubstanciado no seu processo neuromaturacional e neurofuncional dinâmico, quer na criança ou no jovem, quer também no jovem DA, a expressão de múltiplas relações e interações intra e inter-hemisféricas que a sustentam. Conforme Rourke (2005 apud FONSECA, 2009), vários estudos de neuroimagem e de eletroencefalografia envolvendo respostas evocadas tem nos demonstrado sistematicamente que muitos déficits neuropsicológicos detectados num variado conjunto de doenças neuropediátricas (síndrome de Asperger, hidrocefalia precoce, síndrome de Williams, etc.) apontam sinais do fenótipo das DANV, sugerindo, para tais casos, o mesmo modelo de programas de intervenção e enriquecimento psicoeducacional. Em síntese, as DA deverão abranger no futuro um enquadramento teórico e desenvolvimental mais alargado do que o habitual, enquadramento que as tem limitado às questões sociais mais prementes como são as aprendizagens escolares. Independentemente de muitas investigações terem contribuído com muitos dados e com várias explicações teóricas parao esclarecimento das DA, ainda subsistem muitos abismos para as compreendermos na sua complexidade e diversidade, daí a ineficácia reconhecida, ao longo de muitos anos, dos instrumentos de diagnóstico e de intervenção. Os axiomas1 de definição mais discutidos devem ter em consideração que as DA: 1) Ocorrem num contexto educacional adequado com condições e oportunidades de ensino suficientes, ditas eficientes, consequentemente não atípicas ou irregulares, isto é, sugerem que a criança ou o jovem está, ou foi, integrada num sistema de ensino adequado para a maioria, quer no ajustamento do 1 Sentença ou proposição que não é provada ou demonstrada, mas considerada como óbvia e um consenso. 14 currículo, quer na competência pedagógica e instrucional dos professores. Caso contrário, as dificuldades de aprendizagem podem refletir dificuldades de ensino ou dispedagogia. O processo de ensino-aprendizagem encerra um paradigma complexo de interação entre três componentes: o professor, o currículo (conjunto de tarefas) e os alunos, que podem em síntese ser equacionados em dois modelos: o isósceles e o equilátero. O modelo isósceles sugere que o professor mantém com o currículo (ou com o método de aprendizagem), dito "oficial" ou tradicional, estreito respeito com a operacionalidade das suas práticas pedagógicas, ignorando ou negligenciando o estilo de aprendizagem, as competências de processamento de informação e o nível dos pré-requisitos (nível de prontidão) dos alunos. A tendência deste modelo é gerar por falta de coibição entre as suas componentes mais DA e mais insucesso escolar. Em contrapartida, o modelo equilátero sugere que o professor, além de dominar o currículo, pode estruturá-lo e geri-lo por vários níveis de aprendizagem: lenta, normal ou rápida, e também toma em consideração as características do potencial de aprendizagem, a diversidade e a heterogeneidade do perfil cognitivo (áreas fortes e fracas) dos seus alunos. A tendência deste modelo é promover uma interação sistêmica e flexível entre os três componentes, promovendo assim modificabilidade e sustentabilidade dos processos de ensino-aprendizagem envolvidos, minimizando, consequentemente, as DA e o insucesso escolar. 15 Fonte: Fonseca (2009, p. 146) Neste contexto, o elo mais fraco que são os alunos (clientes do sistema), e a razão de ser da instituição escolar, não pode continuar a ser o único componente indicador na definição. 2) Ilustram um perfil de discrepância entre o potencial de aprendizagem intelectual normal e o rendimento ou o desempenho escolar abaixo do normal. Estamos de acordo que o critério do Quociente Intelectual (QI) seja utilizado, logo valorizamos o papel do exame psicológico. Para evitar confusões com o limite intelectual superior medido por testes estandardizados (WISC), a definição de deficiência mental de fronteira (borderline) equivale a um QI 68-80, segundo a Associação Americana de Deficiência Mental (CORREIA, 1997; CORREIA & MARTINS, 1999; RAPOSO, 1995, 1998). Em contrapartida, a definição do nível intelectual das DA proposto pela National Joint Commitee on Learning Disabilities - NJCLD (LERNER, 2003) só pode ser considerado em termos de QI = ou > a 80, isto é, quando se situa ligeiramente 16 abaixo de um desvio-padrão negativo da média (QI = 85) ou acima da média da inteligência (QI > 100 - 145) . Em resumo, as DA em nenhum critério de diagnóstico confiável podem ser conotadas com deficiência mental; constituem em termos de necessidades especiais por essa característica um grupo completamente distinto. As DA podem ocorrer mesmo em criança, ou jovem e também em jovens sobredotados, pois há muitos exemplos de figuras eminentes da cultura, da economia, da arte e da ciência que foram identificados com DA na sua infância e adolescência (Agatha Cristhie, Nelson Rockefeller, Leonardo da Vinci, Rodin, Walt Disney, Tom Cruise, Albert Einstein, Edison, Faraday, etc.). A questão do potencial de discrepância sugere a colocação de um outro axioma das DA, o potencial de integridade neuropsicológica (PINP). Estimado e diagnosticado normalmente por neuropsicólogos, deverá aqui ser também respeitado, não sendo identificável qualquer deficiência ou patologia nas crianças, ou jovens e também jovens DA, seja sensorial (visão ou audição), mental, neurológica ou motora (FONSECA 2009). Apesar do PINP ser invulnerável e intacto à luz dos diagnósticos mais comuns e familiares, a maioria das crianças ou jovens e também jovens DA acusam uma combinação de habilidades e dificuldades (disfunções, distúrbios, dificuldades, problemas, etc.) que afetam o processo de aprendizagem onde necessariamente o funcionamento do cérebro (dos dois hemisférios e das três unidades funcionais lurianas) está implicado, como o órgão da aprendizagem por excelência que é, cuja transformação neurofuncional é mais acelerada e ocorre exatamente durante os anos iniciais da escolaridade. O perfil de aprendizagem (áreas fracas) pode ser identificado em áreas como: a atenção voluntária e a concentração; a velocidade de processamento simultâneo ou sequencial da informação visual, auditiva ou táctilo-quinestésica; a discriminação, a análise e a síntese perspectiva nas várias modalidades; a memória de curto termo; 17 a cognição (input-integração/planificação-output); a expressão verbal (elaboração, articulação, etc.); a psicomotricidade (tonicidade, equilibração, lateralização, somatognosia, praxia global e fina), etc. As áreas mais vulneráveis estão particularmente relacionadas com o domínio e o uso da linguagem escrita (descodificação e codificação), podendo integrar problemas de notação alfabética, numérica ou outra. As DA podem resultar, portanto, da combinação de déficits de processamento, quer fonológico, quer visual ou auditivo, com reflexos na rechamada lenta ou na recuperação pouco automatizada de dados da informação, daí a razão de alguns déficits cognitivos que têm sido associados a determinadas causas de ordem neurológica. O conjunto destes déficits que podem ter várias causas, principalmente ocorridas no desenvolvimento neurológico precoce, podem produzir dificuldades na aquisição da leitura, da escrita, do ditado, da resolução de problemas, etc., que só podem ser ultrapassados com métodos de aprendizagem alternativas. É fundamental compreender que cada criança, ou jovem ou também jovem DA, é um ser aprendente diferente, e, por esse fato, deve ser avaliado e habilitado como um indivíduo total, único e evolutivo. Muitas crianças ou jovens e também jovens com dificuldades na literacidade podem revelar competências e talentos interessantes noutras áreas e apresentar aproveitamento escolar adequado; muitos deles chegam mesmo a concluir cursos superiores. Uma das razões das dificuldades na leitura e na escrita pode ser encontrada no PINP atrás focado, ou seja, na integridade e na especialização dos dois hemisférios. Ler, por exemplo, exige: a descodificação e consciencialização de fonemas; um rápido processamento sequencial de optemas; um mapeamento cognitivo compreensivo, etc., isto é, processos neurológicos componentes do ato da leitura, que ocorrem e são dirigidos pelo hemisfério esquerdo. A sua lesão provoca a alexia, ou seja, uma incapacidade de leitura. 18 Como inúmeras investigações têm provado, para Galaburda (1989, 1985; Galaburda e col. 2005,1979, 1978 apud FONSECA, 2009), as crianças ou os jovens DA, sobretudo disléxicas, possuem um hemisfério direito mais potente que o esquerdo, por isso tendem a apresentar talentos nas competências visuoespaciais, visuoconstrutivas e visuográficas, nas competências de resolução de problemas, nas competências holísticas de pensamento, nas competências musicais, etc. As funções analíticas, como as fonológicas esequenciais da leitura, ao contrário das globais, são-lhes mais difíceis de dominar. Muitos dos disléxicos chegam a ser considerados pensadores espaciais, cujos talentos no âmbito da criatividade, da computação e da arte fazem parte já da história das DA. 3) A definição de DA deve conter fatores de exclusão, não devendo relacionar-se com qualquer tipo de deficiência como vimos atrás, implicando consequentemente a integridade bio-psico-social do indivíduo (sensorial, socioemocional, mental, motora, cultural etc.). A criança ou o jovem e também o jovem com DA não aprendem normal ou harmoniosamente, mas não são pessoascom deficiência visual, auditiva, mental, motora ou socioemocional, nem as DA podem resultar ou emergir, num contexto social de privação afetiva, de miséria, de pobreza, de abandono ou desvantagem socioeconômica ou socioafetiva. 4) A definição de DA, por último, deve conter fatores de inclusão, que efetivamente as caracterizem psicoeducacionalmente como necessidades ou características invulgares, e que se enfocam essencialmente nos problemas de processamento de informação que são a essência do processo da aprendizagem, que envolve a interação entre o ser aprendente (ex.: o aluno, o estudante, o formando, o sujeito, etc.) e a tarefa (ex.: ler, escrever, contar, etc.). O papel do cérebro na aprendizagem – processando ou não a informação Independentemente de qualquer processo de aprendizagem ser diferente para cada criança ou jovem ou também jovem com DA, dado o seu perfil de característica ser único e individual como falamos atrás, a aprendizagem envolve 19 sempre uma interação entre o sujeito e a tarefa, ou seja, quando alguém aprende qualquer coisa, como ler ou escrever, está sempre em jogo um processo de informação entre o sujeito aprendente (o aluno) e a tarefa, neste exemplo, a leitura ou a escrita. A aprendizagem é, portanto, uma mudança de comportamento provocada por uma experiência: há um momento inicial quando a tarefa não é dominada e um momento final quando essa tarefa passa a ser dominada e temos também nessa equação: o sujeito ou aluno que aprende e a tarefa, os recursos usados para aprender. Fonte: Fonseca (2009, p. 152) No ser aprendente, a aprendizagem envolve inevitavelmente o cérebro, o órgão da aprendizagem (e da civilização), que tem de processar informação para que ela se verifique. Quando se aprende, o cérebro necessita de processar o material a ser aprendido, independentemente de cada sujeito o realizar de forma diferente, de acordo com a preferência do seu estilo de aprendizagem. A leitura, por exemplo, implica processar letras que têm categorizações fonológicas específicas para serem descodificadas e compreendidas. De um processo de captação visual, o cérebro tem em seguida de categorizar formas de letras com sons, por meio de processos auditivos complexos a fim de inferir significações cognitivas contidas em palavras que compõem um texto. A informação uma vez integrada, depois de devidamente descodificada, terá de ser retirada e armazenada, a fim de gerar a compreensão, o nexo e a sequência 20 de eventos da informação escrita. A criança ou o jovem para ler terá de envolver o seu cérebro em funções psíquicas superiores, como: a atenção e a concentração; a discriminação, a análise e síntese de letras e sons; a compreensão do sentido do texto; a rememorização das suas conexões e relações narrativas; a recordação dos atores, das personagens e dos locais referidos; a rechamada dos pormenores e detalhes do texto; o desenvolvimento de conclusões; etc. A criança ou o jovem que tem problemas de atenção, de percepção analítica, de memorização e rechamada de dados de informação, para além de outros, terá dificuldades de reconto e de compreensão de significações na leitura. Ela não tem acesso à informação porque o seu processamento é frágil e fragmentado, porque o seu cérebro não opera de forma harmoniosa, eficaz e integrada, pois a interação entre ela e a tarefa não se verifica; consequentemente poderão emergir dislexias, disortografias ou discalculias, ou seja, as célebres DA. O cérebro não causa lesões, está intacto, mas as DA emanam por vulnerabilidade sistêmica dos seus processos de informação. A lesão cerebral grave, por exemplo, pode implicar diversas incapacidades de aprendizagem (afasias, agnosias, apraxias, alexias, agrafias, acalculias, etc.); em contrapartida, as lesões cerebrais mínimas, que estiverem na fase de fundação do estudo das DA, podem implicar não incapacidades, mas dificuldades de aprendizagem (disfasias, disgnosias, dispraxias, dislexias, disgrafias, discalculias, etc.), embora nem sempre sejam detectadas com os processos de diagnóstico neurológico mais avançados, como por exemplo: a eletroencefalografia, a ressonância magnética, a emissão de pósitrons, etc., técnicas estas que ajudaram imensamente a compreender a natureza neurofuncional das DA (GALABURDA, 2005 apud FONSECA, 2009). A aprendizagem compreende assim, um processo funcional dinâmico que integra quatro componentes cognitivos essenciais: 1. input (auditivo, visual, táctilo-quinestésico, etc.); 2. cognição (atenção, memória, integração, processamento simultâneo e sequencial, compreensão, planificação, autorregulação, etc.); 21 3. output (falar, discutir, desenhar, observar, ler, escrever, contar, resolver problemas, etc.); 4. retroalimentação (repetir, organizar, controlar, regular, realizar, etc.). Aprender, portanto, envolve três unidades funcionais do cérebro em perfeita interação e se essa dinâmica neurofuncional não for harmoniosa, o indivíduo pode então experimentar DA. Desse modo, as crianças ou os jovens disléxicos, por exemplo, podem: experimentar dificuldades ao nível do input, quer com problemas de atenção sustentada, quer de discriminação de fonemas; ou experimentar dificuldades ao nível da cognição, quando envolve processos de compreensão ou de retenção e rechamada de dados de informação contidos no texto, o que requer estratégias de recuperação e criação de esquemas, planos internos ou enquadramentos ideacionais; e concomitantemente, experimentar igualmente dificuldades ao nível do output, quando lhes é solicitada a produção de um resumo escrito ou falado do mesmo. A não ocorrência desta arquitetura cognitiva sistêmica que obviamente preside à aprendizagem pode gerar nas crianças ou jovens e também nos jovens DA muita confusão e frustração, razão pela qual elas estão na origem de muitos 22 problemas motivacionais e emocionais, muitas vezes acrescidos por falta de sensibilidade do envolvimento educacional e clínico (FONSECA, 2009). A apresentação da informação, às crianças ou jovens e também aos jovens com DA, assume assim um papel muito relevante, podendo não só minimizar a confusão no seu processo de informação, como promover as suas funções cognitivas e implicar uma aprendizagem com sucesso. Enfim, aprender é, inequivocamente, a tarefa mais relevante da escola. Muitas crianças ou jovens aprendem sem dificuldades, porém outras, apesar do seu potencial de aprendizagem normal, não aprendem por meio de uma instrução convencional. A diversidade das DA é imensa conforme veremos na próxima unidade. Provavelmente, no âmbito da educação inclusiva, a sua população é a que acusa maior amplitude de recursos e serviços. Ter consciência dos problemas das crianças ou jovens e também dos jovens com DA passa por respeitar os dados de investigação, na medida em que tais dados têm implicações para a sua identificação precoce e diagnóstico psicoeducacional (FONSECA, 2009). 23 UNIDADE 4 – OS DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM Dentre as várias classificações para agrupamentos dos distúrbios da aprendizagem e por uma questão didática optamos pelo seguinte: GRUPO CARACTERÍSTICA TIPOS Grupo 1 Distúrbiosda concentração e atenção Retrata os comportamentos das crianças com e sem hiperatividade e impulsividade TDAH – transtorno do déficit de atenção com hiperatividade DDA – desordem de déficit de atenção Limitrofia TOC - Transtorno Obsessivo Compulsivo ST – Síndrome de Tourette Grupo 2 Problemas receptivos e de processamento da informação Diz respeito à competência linguística, como as atividades de escrita, distinção de sons e de estímulos visuais, aquisição de léxico, compreensão e expressão verbal. Disgrafia / disortografias Disfasia / afasia Dislalia Grupo 3 Dificuldades de leitura Manifestada pela aquisição das competências básicas relacionadas a fase de decodificação, como sendo a compreensão e interpretação de textos, as dificuldades de escrita e presença de erros ortográficos em geral. Dislexia Grupo 4 Dificuldades na matemática ou no raciocínio Dificuldades que se revelam na aquisição da noção de números, no lidar com quantidades e relações espaços-temporais e problemas de aquisição e utilização de estratégias para aprender, manifestados na falta de organização e utilização de funções metacognitivas, comprometendo o sucesso na aprendizagem. Discalculia Acalculia 24 DISLEXIA Desordem do aprendizado que afeta a leitura, a ortografia e a linguagem escrita, podendo ser acompanhada de problemas com os números, uma memória de curto prazo pobre e falta de aptidão. Embora a dislexia afete principalmente o domínio dos símbolos gráficos, como letras, números e notas musicais, ela também pode trazer dificuldades para a linguagem falada. De acordo com a Associação Brasileira de Dislexia (2011), ao contrário do que muitos pensam, a dislexia não é o resultado de má alfabetização, desatenção, desmotivação, condição socioeconômica ou baixa inteligência. Ela é uma condição hereditária com alterações genéticas, apresentando ainda alterações no padrão neurológico. Por esses múltiplos fatores é que a dislexia deve ser diagnosticada por uma equipe multidisciplinar. Esse tipo de avaliação dá condições de um acompanhamento mais efetivo das dificuldades após o diagnóstico, direcionando-o às particularidades de cada indivíduo, levando a resultados mais concretos. Segundo Tomaso, Thomas e Stanley (2007 apud CHAMAT, 2008), ela é uma patologia de cunho neurológico, não resultando de audição ou visão pobres ou de baixa inteligência. Segundo os mesmos autores, uma em cada 20 crianças é disléxica (três vezes mais meninos que meninas) e, se um dos pais foi disléxico, a criança terá 17 vezes mais probabilidade de sofrer da doença. As causas aparentes são os déficits de discriminação visual, coordenação visomotora, noção têmporo-espacial. As causas subjacentes revelam-se com interferência no desenvolvimento percepto-motor. A seguir iremos expor as definições de dislexia de acordo com a Neuropsicologia e Psicopedagogia. Uma definição neuropsicológica da dislexia é de que se encontram alterados os processamentos periférico e central. As Dislexias Periféricas são causadas por um comprometimento no sistema de análise visuo-perceptiva, enquanto que as 25 centrais são causadas por comprometimento do processamento linguístico dos estímulos. Dentro das Dislexias Centrais, encontram-se subdivisões que são: Dislexia de Superfície – Caracteriza-se basicamente pela falha de leitura de palavras irregulares, em um comprometimento da via lexical. Segundo estudos de casos únicos e múltiplos e usando-se PET (Tomografia por Emissão de Pósitrons) em indivíduos normais convergem para o acordo sobre o papel de estruturas localizadas nas regiões temporal média e póstero superior do hemisfério esquerdo na leitura pela via lexical. Dislexia Fonológica – Caracteriza-se pela incapacidade para leitura de "não palavras" e habilidade para leitura de palavras reais, sugerindo danos ou lesões na via de conversão de grafema para fonema. Os estudos realizados na intenção de correlacionar esta dislexia com substratos neuroanatômicos ainda não são conclusivos. Dislexia Profunda – Assemelha-se à dislexia fonológica, com igual bloqueio para leitura de não palavras, mas a diferença é que, nesta dislexia, há presença de paralexias semânticas e maior facilidade em leitura de palavras concretas e frequentes. Alguns pesquisadores creem que, nesta dislexia, existam lesões múltiplas no hemisfério esquerdo. Outros creem na possibilidade de habilidades residuais do hemisfério direito no contexto de extensa lesão no hemisfério dominante. Nas Dislexias Periféricas, encontramos também três subdivisões: Dislexia Atencional – O indivíduo lê palavras isoladas, mas encontra dificuldade ou barreiras para ler várias palavras simultaneamente. Esse tipo de dislexia foi encontrado em pacientes com lesões no lobo parietal esquerdo. Dislexia por Negligência – É atribuída à lesão na região da artéria cerebral média do hemisfério direito (lobos frontal, parietal e temporal) e caracteriza-se por ausência ou dificuldade de leitura no campo visual contralateral à lesão cerebral. 26 Dislexia Literal ou Pura – O indivíduo consegue ler letras individuais, mas apresenta dificuldade em ler palavras (subentendido). Esta dislexia está relacionada a lesões occipitais inferiores extensas à esquerda. Em resumo, pela visão da Neuropsicologia, todas as dislexias, assim como outros distúrbios de aprendizagem, partem de uma lesão, sendo cada tipo em um ponto do cérebro e, a partir daí, o tratamento deverá ser voltado ao controle desta lesão (OLIVIER, 2008). Dentro da Psicopedagogia, os três tipos básicos de dislexia são: 1. Dislexia Congênita ou Inata – É a dislexia que nasce com o indivíduo. Pode ter as mais variadas causas e tem características próprias, como, por exemplo, uma comprovada alteração hemisférica cerebral, onde os hemisférios encontram-se invertidos ou em igualdade ou até por uma alteração de alguns cromossomos. Em consequência desta(s) alteração(ões), o indivíduo disléxico tem pouca ou nenhuma habilidade para a aquisição de leitura e de escrita e, geralmente, não chega a ser alfabetizado, mas, quando o é, não consegue ler e escrever por muito tempo e, quando termina de ler e escrever, já não se lembra de nada. Exceto pela alteração hemisférica, este tipo de dislexia é, de certa forma, irreversível, mas pode ser bem controlada e bem direcionada se for tratada por uma junta de profissionais, o que chamamos de tratamento Multidisciplinar, envolvendo sempre psicopedagogo, neurologista e/ou psiquiatra, dependendo da gravidade do caso. Em casos onde haja também distúrbios de fala ou audição, necessita- se de um Fonoaudiólogo ou de um otorrino, caso tenha dificuldades motoras e/ou de lateralidade, de um psicomotricista e, neste caso, também é aconselhável que um psicólogo acompanhe o tratamento e desenvolva atendimento paralelo. 2. Dislexia Adquirida – É a dislexia que vem por meio de um acidente qualquer. Como exemplo, temos "Anoxia2 Perinatal", "Anoxia" por afogamento. Acidente Vascular Cerebral (o popular derrame) e outros acidentes e distúrbios que podem causar uma Dislexia Adquirida. No caso da anoxia perinatal, a criança 2 Anoxia é a diminuição ou ausência de oxigenação no cérebro. 27 poderá apresentar dificuldades significativas no aprendizado em vários níveis e, consequentemente, apresentar dislexia ao ser alfabetizada. Provavelmente necessitará de tratamento multidisciplinar, que deverá iniciar-se por um psicopedagogo, o qual avaliará o caso e indicará outros profissionais para o sucesso do tratamento. Em casos de anoxia por afogamento, AVC e outros acidentes que possam deixar sequelas, o indivíduo que antes lia e escrevia normalmente passa a apresentar dislexia, geralmente com falhas de memória e muita dificuldade emler e escrever. O tratamento deverá ser decidido após analisar-se todo o histórico do paciente e do acidente que lhe deixou esta sequela. Pode acontecer também de o paciente acidentado passar por períodos e fases de dislexia. Nestes períodos, ele não consegue ler e escrever ou o faz com muita dificuldade, tem falhas de memória e pode também apresentar problemas de lateralidade. Dependendo do grau de dificuldade que o indivíduo apresente, é também necessário um tratamento multidisciplinar, mas, neste caso, é bem provável que somente o psicopedagogo e o neurologista e/ou psiquiatra sejam solicitados. Caso o acidente tenha afetado também a lateralidade, um psicomotricista ou um fisioterapeuta será necessário. Se a fala ou a audição estiver comprometida, necessita-se também de um fonoaudiólogo ou de um otorrino e assim por diante. Neste caso, se o indivíduo já tinha uma profissão, deverá apenas adaptar-se para enfrentar os períodos em que estiver disléxico e seguir seu tratamento, podendo obter cura ou boa melhora, já que sua dislexia não envolve alterações hemisféricas nem dos cromossomos. 3. Dislexia Ocasional – É a dislexia causada por fatores externos e que aparece ocasionalmente. Pode ser causada por esgotamento do Sistema Nervoso/estresse, excesso de atividades e, em alguns casos, considerados raros, por Tensão Pré Menstrual (TPM) e/ou hipertensão. Se este tipo de dislexia for diagnosticado, não haverá a necessidade de tratamento. Apenas repouso, talvez umas boas férias, uma mudança de horários e/ou da rotina e tudo voltará ao normal. 28 Olivier (2008) fala da existência de um quarto tipo com características disléxicas. É quando o indivíduo tem algumas características consideradas próprias da dislexia, mas que, isoladas, nada significam ou podem ser causadas por outros distúrbios, às vezes, bem mais simples de curar. É nestes casos que alguns profissionais despreparados acabam confundindo-se ou, até mesmo de propósito, acabam diagnosticando como dislexia um distúrbio que provavelmente se cure até sozinho. Dentro destes tipos, existem variações que parecem tornar cada caso em um caso e cada disléxico em único. Portanto, não dá mais para admitir generalizações. E finalizando esta explanação, Olivier (2008) chama atenção que é preciso parar, definitivamente, de imaginar que a dislexia faça trocar letras (p/b, t/d, etc.). Segundo ele, crianças com perdas auditivas leves ou moderadas também costumam trocar e confundir fonemas, especialmente, "t" por "d", "f" por "v", "p" por "b", "q" por "g", quando falam e até quando escrevem, principalmente na fase de alfabetização. Isso acaba sendo confundido com dislexia, quando, na verdade, é apenas uma falha auditiva. Além desses distúrbios, há outros que também têm sintomas parecidos com os da dislexia e isso acaba confundindo pais, professores e até profissionais mal informados. É preciso tomar muito cuidado antes de diagnosticar uma dislexia, que é bem mais complexa do que a maioria dos distúrbios relatados. O que acontece com o disléxico é que, na maioria dos casos, ele não identifica sinais gráficos, letra ou qualquer código que caracterize um texto. Portanto, ele não troca letras, porque seu cérebro sequer identifica o que seja uma letra. Se inverter letras e sílabas, é simplesmente porque nem sabe o que são letras e sílabas e não porque "troca letras", como se insiste em divulgar. Existem muitos distúrbios que fazem realmente a pessoa trocar letras, um deles é a dislalia que veremos mais adiante e outros que, em momento oportuno serão citados. Enfim, a dislexia não causa a troca de letras. É algo muito mais complexo que isso. Ainda sobre essa visão, deve-se lembrar que a equipe de G. Reid Lyon, do Instituto Nacional de Saúde Infantil Desenvolvimento Humano dos Estados Unidos, 29 em Bethesda (Maryland), avaliou exames de imagens do cérebro em funcionamento de 144 pessoas, sendo 70 disléxicas e 74 não disléxicas, todas com idade entre sete a 18 anos. Enquanto realizavam várias tarefas de leitura e de compreensão de sons, eles foram submetidos a um exame cerebral chamado ressonância magnética funcional. Foi observado que as pessoas com leitura normal, ou seja, sem dislexia, ativaram a parte posterior do cérebro, enquanto as disléxicas ativaram as regiões frontal e lateral, tendo a parte posterior inibida. Diante desses resultados, constataram-se evidências neurobiológicas de que existe uma interrupção subjacente nos sistemas neuronais associados à leitura em crianças com dislexia. Os dados indicaram que isso já é evidente desde muito cedo, concluíram os autores, em artigo publicado na revista Biological Psychiatry. DISGRAFIA Desordem de integração visual-motora, ou seja, não há coordenação entre os dois. É a dificuldade ou a ausência na aquisição da escrita. O indivíduo fala, lê, mas não consegue transmitir informações visuais ao sistema motor. Resumindo: lê, mas não escreve, além de, possivelmente, ter graves problemas motores e de equilíbrio (OLIVIER, 2008). Características do sujeito com disgrafia: O indivíduo não possui dificuldades visuais nem motoras, mas não consegue transmitir as informações visuais ao sistema motor. Deficiência de "transmissão". Fala e lê, mas não encontra padrões motores para a escrita de letras, números e palavras. Não possui senso de direção, falta-lhe equilíbrio. Pode soletrar oralmente, mas não consegue expressar ideias, por meio de símbolos visuais, pois não consegue escrever. 30 Acima de tudo, necessita de avaliação multidisciplinar e acompanhamento psicopedagógico. • Usar microespaços e macroespaços para a aprendizagem (entenda-se macro = espaço físico qualquer e micro = sulfite, caderno etc.). • O Balé desenvolve o equilíbrio e ajuda o desenvolvimento da letra cursiva (letra pequena, traçada de modo rápido e corrente). Na maioria dos casos, está ligado a distúrbios neurológicos. E necessita de tratamento e de acompanhamento neurológico e psicopedagógico, em conjunto. DISORTOGRAFIA Dificuldade na expressão da linguagem escrita, revelada por fraseologia incorretamente construída e/ou por palavras escritas de forma errada, associada geralmente a atrasos na compreensão e/ou na expressão da linguagem escrita (OLIVIER, 2008). Tem sido definida erroneamente como letra feia ou letra de médico. Na verdade, trata-se de algo mais complexo do que apenas letra feia. Para Chamat (2008), a disortografia caracteriza-se pelos seguintes sintomas: trocas, inversões, omissões. É diferente de erros na escrita que correspondem ou não ao som da palavra, podendo ter causa endógena, exógena ou as duas ocasionadas por alteração emocional afetiva e cognitiva. O balé clássico, além de desenvolver o equilíbrio e ser útil no tratamento de diversos distúrbios, desenvolve também a letra cursiva, o que pode ser útil para solucionar a letra feia, quando não é fruto de nenhum distúrbio. A disortografia, por ser mais complexa, necessita de exames e de testes específicos para detectar a causa e os melhores tratamentos. Vale lembrar que, antes de qualquer teste e exame, é preciso analisar a classe social e a forma como o indivíduo foi ou está sendo educado e alfabetizado. Em uma casa onde todos pronunciam e escrevem incorretamente as palavras, é muito difícil a criança aprender de forma correta na escola. 31 Se não for esse o problema, então, deve-se pensar em falhas no sistema de ensino ou, finalmente, em distúrbio. O planejamento do tratamento envolve trabalho focal e divisão da sessão, sendo que na primeira parte deve-se oferecer atividades mais criativas, mais livres, porém dirigidas. DESORDEM DE DÉFICIT DE ATENÇÃO (DDA) Para Olivier (2008), geralmente não tem ligação com disfunções neurológicas e não deve ser confundida com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade,este deve ser tratado pela psiquiatria. A DDA caracteriza-se por baixo desempenho escolar, deficiência ou ausência de memória ou ainda, tendo um aprendizado satisfatório, o indivíduo pode ser disperso, desatento, meio alienado ou alternando hiperatividade com alienação. Em contrapartida, Chamat (2008) diz que geralmente são neurológicas e a criança apresenta dificuldades na atenção e concentração, culminando em desinteresse e indisciplina em tarefas que requeiram responsabilidade. Quando não neurológica, sendo consequência da desorganização psíquica, necessita da intervenção dos pais quanto aos limites e à vinculação da realidade. O transtorno difere-se porque o indivíduo está hiperativo 24 horas por dia. Detecta-se também pelo sujeito ser disperso, alheio e/ou desmotivado, sem envolvimento com o conteúdo escolar. Mesmo no brinquedo não há concentração. Sua atenção volta-se a todo instante para outros estímulos (CHAMAT, 2008). Principais sintomas Os sintomas relatados não são cópia fiel do DSM (Diagnostic and Statistical Manual), São adaptados à realidade dos casos atendidos, respeitando-se a diferença entre DDA e TDAH: 1 - Parece não ouvir ou não entender o que ouve; 2 - Não consegue terminar uma tarefa, inicia uma atividade e logo passa para outra, sem terminar nada do que começa; 32 3 - Tem dificuldade em seguir regras, esperar sua vez no grupo. Não lê nem ouve uma pergunta antes de respondê-Ia; 4 - Não consegue brincar sozinho e, em grupo, pode tornar-se agressivo; 5 - Perde ou esconde materiais e instrumentos importantes para realização das tarefas; 6 - Não mantém amizades por muito tempo ou não chega a iniciá-Ias; 7 - Tem dificuldade em aceitar a perda (em jogos, brincadeiras etc.) e não consegue pensar em longo prazo; 8 - Fala excessivamente, se for hiperativo, ou mostra-se retraído e isolado, caso seja extremamente tímido, ou alterna estas duas características; 9 - Durante os primeiros anos escolares, não consegue permanecer ocupado com sua tarefa por, ao menos, uma hora; 10 - Pode passar horas diante de uma tarefa sem conseguir completá-Ia; 11 - Distrai-se com qualquer acontecimento alheio às suas atividades. Se a criança ou o adolescente apresenta, no mínimo, oito destes sintomas, então tem fortes características da DDA e precisa ser encaminhada a um psicopedagogo e, em casos mais sérios, também a um psicólogo e/ou a um neurologista. O tratamento, entre outras atividades, inclui jogos de memória, xadrez, ditados aliados a objetos, nunca só auditivos. O tratamento clínico é multidisciplinar e, dependendo do caso, poderá ser medicamentoso. Origem do problema Baseando em pesquisas teóricas e práticas, a DDA pode ser causada por anoxia perinatal e por outros fatores que acabam provocando uma grande descarga elétrica no cérebro. Antigamente, supunha-se que pudesse ser amenizada na adolescência, em virtude das mudanças físicas próprias da idade, mas hoje já se fala de forma mais realista, classificando-se não só a DDA, mas outros distúrbios com aproximadamente um terço das pessoas com possibilidade de cura na adolescência, 33 mais um terço apresentando os mesmos sintomas e o terço restante com pioras, à medida que vão tornando-se adultos (CHAMAT, 2008). Daí a necessidade de um bom tratamento a fim de que se evitem transtornos futuros para estes dois terços dos pacientes que têm sintomas mais difíceis de remover. E, mesmo os que têm condições de melhorar o quadro após a adolescência, precisarão de um bom acompanhamento terapêutico para evitar sequelas psicológicas que complicarão seu quadro. Este relato serve também para outros distúrbios, já que cada paciente reage de uma forma ao tratamento e à medicação, é preciso entender que nem todos reagem de forma satisfatória, curando-se, independentemente do tratamento escolhido. O Psicopedagogo pode sugerir antes de iniciar um tratamento, que o professor ou os pais ajudem da seguinte forma: 1. Acompanhar as tarefas do aluno, ajudando-o a identificar e resolver suas dificuldades; 2. Fazer a criança entender e aceitar sua condição de aprendiz, sua necessidade de aprender e porque tem de aprender, sentindo-se motivada; 3. Escola e pais devem trabalhar em conjunto para orientar o aluno, observando que não deve haver contradição entre ambos; 4. Deve haver, em casos mais severos, além do tratamento multidisciplinar, o medicamentoso; 5. Treinar o aluno para dedicar-se a atividades cada vez mais longas (xadrez, jogos da memória, por exemplo); 6. Estabelecer horários claros para o aluno dormir, comer, estudar, brincar, etc; 7. Estimular o aluno a participar de esportes e de artes, de acordo com suas aptidões; 8. Incentivar sua autoestima, elogiá-Io quando houver progresso, por mínimo que seja. 34 LIMITROFIA Anomalia do sistema nervoso causada por anoxia perinatal ou síndromes não identificadas. Caracteriza-se por dificuldades de concentração, falta de equilíbrio e/ou coordenação motora, problemas de articulação para fala e dificuldades na aquisição de leitura. Há também uma certa alienação e, por vezes, o indivíduo parece se bastar a si mesmo, não se relaciona com colegas, brinca sozinho e tem dificuldade em expressar-se. É importante frisar que a Psicopedagogia parece ignorar totalmente este distúrbio, deixando-o sob responsabilidade da Neurologia e/ou Psiquiatria, quando o correto seria unir os conhecimentos destas às outras áreas para melhor tratar estes pacientes (OLIVIER, 2008). DISLALIA Má pronúncia das palavras, omitindo ou acrescentando fonemas, trocando um fonema por outro ou distorcendo-os, ou ainda trocando sílabas. Assim sendo, os sintomas da dislalia consiste em omissão, substituição, acréscimo ou deformação dos fonemas. Exemplo prático é o Cebolinha, do escritor Maurício de Souza, que é uma típica criança com dislalia, trocando o som da letra R pelo da letra L. As causas podem ser desde malformações ou de alterações na boca, na língua e no palato (malformações congênitas ou como consequência de traumatismos dos órgãos fonadores). Por outro lado, certas dislalias são causadas por enfermidades do sistema nervoso central ou pode não haver nenhuma alteração orgânica, a que chamamos de Dislalia Funcional. Pode ser causada por hereditariedade, imitação ou alterações emocionais. Até os quatro anos, os erros na linguagem são considerados normais. Depois dessa fase, se a criança continuar falando errado, precisará passar por exames específicos para detectar as causas e os possíveis tratamentos. 35 A dislalia, troca de fonemas (sons das letras), pode afetar também a escrita. O psicopedagogo, ao detectar a dislalia, deve encaminhar a criança para um fonoaudiólogo para tratamento específico e, caso apresente também falhas de escrita e de leitura, tratá-lo em conjunto (fonoaudiólogo e psicopedagogo) e com outros profissionais que, acaso, se façam necessários. TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE – TDAH Pode também ser definido como DAAH (Déficit de Atenção e Aprendizagem com Hiperatividade). Apresenta basicamente os mesmos sintomas da DDA, mas é causado provavelmente por alterações no desenvolvimento neuroemocional. Acredita-se que possa ser genético/ hereditário e/ou seja por alterações nos neurotransmissores, afetando a atenção e a coordenação motora. Pode também ser definido como transtorno multifatorial associado a fatores ambientais e genéticos. Variações no tamanho e na morfologia do cérebro, inibição ou excitação podem estar presentes desde a tenra idade com anormalidades no circuito fronto estriado/cerebelo, principalmente no hemisfério direito, considerado responsável pela maioria dos distúrbios de coordenação motora e por um programa subnormal sensório-motor (a dopamina parece ser a principal alteração neuroquímica sublinhandoessas alterações morfológicas), além de outras causas possíveis, mas não muito divulgadas. Estudos demonstram diminuição no metabolismo na região frontal/orbital. Este distúrbio, além dos sintomas descritos na DDA, é caracterizado por uma hiperatividade exagerada, tornando a criança irritada, impaciente para brincar, inclusive quebrando constantemente seus brinquedos, muito chorona e com sono irregular. Ao ser detectado, este distúrbio deve ser analisado por um psiquiatra. Mas, antes de procurar o psiquiatra, o ideal é que a criança seja encaminhada a um psicopedagogo para avaliar se ela apresenta apenas uma hiperatividade natural para sua idade, ou a DDA, que pode ser tratada pelo próprio psicopedagogo. Se o caso for mais grave (TDAH), necessitará de avaliação psiquiátrica. 36 Neste ponto, Olivier (2008) alerta que deve-se ter extremo cuidado com a linha tênue entre um e outro distúrbio, pois realmente confundem até os mais experientes profissionais. Ultimamente andam confundindo estes sintomas até com a hiperlexia que nada tem a ver com TDAH e, muito menos, com DDA. Portanto, antes de diagnosticar um distúrbio, é necessário avaliar muito bem todos os sintomas, realizar exames e, em caso de dúvida, consultar colegas na área e/ou professores (caso o profissional seja recém-formado), enfim, ouvir outras opiniões antes de fechar o diagnóstico. Ainda sobre o transtorno, deve-se analisar também que, apesar de a maioria dos indivíduos apresentar um conjunto de sintomas e características de desatenção, hiperatividade, impulsividade, existem algumas predominâncias e variações que os classificam em subtipos: Combinado – quando os sintomas igualam-se em desatenção, hiperatividade e impulsividade. Desatento – quando os sintomas pendem para a desatenção, variando desde simples desatenção até grande alienação. Hiperativo-lmpulsivo – quando os sintomas aliam-se à hiperatividade- impulsividade. Além dos sintomas já relatados em DDA, pode-se detectar a hiperatividade- impulsividade, característica do transtorno, analisando-se o seguinte no comportamento (constante) do paciente: 1 - Costuma dar respostas precipitadas antes de as perguntas terem sido completadas, correndo o risco de falar uma grande bobagem; 2 - Tem dificuldade para aguardar sua vez; 3 - Interrompe ou se mete em assuntos (conversas, brincadeiras etc.) de colegas; 4 - Toma decisões sem raciocinar; 5 - Frequentemente precipita-se em atitudes e palavras, desesperado para fazer tudo já; 37 6 - Envolve-se em situações perigosas sem avaliar riscos e consequências. O paciente desatento pode ser detectado analisando-se as seguintes reações e características: 1 - Parece sempre, ou quase sempre, ausente; 2 - Demora muito a encontrar uma resposta ou não chega a responder a uma pergunta; 3 - Parece não entender bem uma questão e não faz nenhuma questão de esforçar-se para entendê-Ia; 4 - Pode dividir-se em duas tarefas que exigem atenção, por exemplo, escrever enquanto escuta alguém falar-lhe e pode até justificar-se dizendo prestar mais atenção desta forma, mas, na realidade, não desenvolve satisfatoriamente nenhuma das atividades, ou seja, nem escreve coerentemente nem responde às questões que lhe fazem durante a conversa. O paciente combinado mostrará características dos dois quadros relatados acima, além dos sintomas já citados anteriormente. ATENÇÃO: O TDAH também pode estar associado ao Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) ou à Síndrome de Tourette (ST). Por isso deve-se cuidar muito do seu diagnóstico, para não prejudicar o paciente (OLIVIER, 2008). DISCALCULIA Está aí mais um dos distúrbios que podem ser causados por anoxia perinatal ou por outros acidentes, que acabam afetando o funcionamento normal do cérebro. Alguns profissionais desinformados negam-se a aceitar que a discalculia atinja crianças em idade escolar, alegam que só é possível "adquirir" por meio de um Acidente Vascular Cerebral (popular derrame) ou traumatismo crânio-encefálico. Essa afirmação é segundo Chamat e Olivier (2008), no mínimo, incompleta. Na verdade, qualquer acontecimento anormal que desencadeie uma descarga elétrica no cérebro pode causar um distúrbio, seja ou não de aprendizagem. Outros especialistas chegam a incluir os sintomas da discalculia na "lista" de sintomas característicos da dislexia, o que é, de fato, um imenso equívoco. 38 Primeiramente, é preciso distinguir a discalculia (que é basicamente um distúrbio neurológico, com causas diversas) da simples dificuldade no aprendizado da matemática, que afeta a maioria dos estudantes e que, geralmente, é gerada pela deficiência do próprio sistema de ensino. As causas biológicas e psiconeurológicas devem ser diagnosticadas e tratadas por meio de exames específicos feitos por profissionais das respectivas áreas. Após todos os testes e os exames, se ficar comprovado que a criança não tem nenhuma disfunção neurológica, nenhuma deficiência causada por anemia ou desnutrição, enfim, se a criança estiver bem física e mentalmente, restarão as causas psicológicas e a deficiência do sistema de ensino para justificar o fracasso com os números. As causas psicológicas são muitas e por demais complexas, por isso não cabe numerá-Ias aqui. Essas causas devem ser tratadas por um psicopedagogo, geralmente em parceria com um psicólogo, após analisar todo o histórico de vida e escolaridade da criança. As dificuldades causadas pela deficiência do ensino também são muitas e sua solução depende de uma nova visão da matemática. Vários estudos apontam que é necessário conhecer melhor a matemática inerente às atividades da vida diária das crianças e construir, a partir dessa matemática real, pontes e/ou ligações efetivas para a matemática abstrata que a escola pretende ensinar. Isso quer dizer que uma criança, cujo pai é vendedor ambulante ou feirante, por exemplo, um vendedor de pastéis, geralmente sabe fazer contas, somar, multiplicar, dar trocos, "ajudando o pai". Essa mesma criança pode perder-se totalmente nas contas e nas equações propostas em sala de aula. A explicação é muito simples: ao acompanhar o pai, vendendo pastéis, a criança "vê" o pastel, o dinheiro do freguês, o troco, tudo é real. Na lousa, os números são apenas sinais que a criança vê, mas não distingue. Exemplo: A adição 4 + 3 = 7, escrita na lousa quer dizer o quê? Para a criança, é apenas um conjunto de símbolos numéricos, totalmente abstratos. No fundo, ela não entende o porquê desta conta, não entende "o que" é 4 39 ou 3 ou 7 não sabe quantas unidades estão "dentro" dos números 4,3,7... , Uma forma de fazer a criança assimilar as operações é tornar tudo o mais real possível. Exemplo: Usar palitos, figurinhas, bolinhas, enfim, qualquer material "palpável" e separá-Ios em "montinhos" ou "grupinhos": 4 palitos + 3 palitos é igual a ... Após contar os palitos, a criança chegará ao resultado 7, sabendo exatamente o que é e, acima de tudo, quanto é 7. Os números, então, deixarão de ser apenas sinais na lousa e terão um significado real. São muitas as técnicas que podem ser usadas para solucionar as falhas no ensino da matemática "abstrata" das escolas. Com um pouco de criatividade, o professor encontrará inúmeras formas de ensinar e despertar na criança o interesse pelos números, facilitando assim o aprendizado da matemática. Principais dificuldades do aluno: 1 - Dificuldade de passar do texto para linguagem matemática; 2- Falta de vivências concretas; 3- Inadequação dos temas com o desenvolvimento. "Problemas" de matemática vêm sempre carregados de emoção negativa, pois, sempre que os adultos referem-se aos problemas, é com um significado de algo abstrato, difícil de resolver e que precisa ser eliminado. Para crianças que não aprendem matemática por problemas psicológicos, bastamudar o nome do "problema" para: "Vamos descobrir o resultado" ou algo assim. Apesar de simples, esta estratégia melhora sensivelmente o aprendizado. Isto, aliado à matemática concreta descrita anteriormente, melhora em muito o aprendizado da matemática. Como detectar uma possível Discalculia? Entre os três e os seis anos, já se pode detectar uma possível discalculia, analisando-se os seguintes sintomas: Parece não reconhecer números nem distingui-los; Confunde-se, achando que todos os números são iguais; 40 Não consegue dizer com exatidão quantos anos tem, nem mesmo mostrando nos dedos; Não sabe distinguir o número de sua residência nem a data de seu aniversário; Não consegue contar em sequência lógica; Não consegue fazer contas básicas, mesmo usando objetos concretos; Não reconhece símbolos matemáticos; Não consegue "escrever" os números; Demonstra nervosismo, quando exposto às aulas de matemática. Ao apresentar esses sintomas, pode-se pensar em discalculia, que poderá ser comprovada por meio de exames e de testes. HIPERLEXIA A hiperlexia é um dos mais complexos distúrbios, não só pela variação de sintomas e características como também pela dificuldade no diagnóstico, visto que a pouca literatura existente tende a generalizar o distúrbio em alguns aspectos. Sua definição mais usada é "desordem de linguagem com preciosa habilidade para a leitura" (OLIVIER, 2008). Pode ser definida também como um espelho da dislexia ou como específico do indivíduo com enorme capacidade para aprendizado, mas com grandes dificuldades para linguagem escrita ou falada. Pode ainda ser classificada como apenas distúrbio de linguagem. Alguns autores chegam a classificar a hiperlexia como integrante do quadro de Transtornos lnvasivos do Desenvolvimento (TlD) ou como subcategoria da Desordem Profunda do Desenvolvimento, o que acaba, de certa forma, igualando o indivíduo com hiperlexia aos autistas e as pessoas com síndromes como Rett e Asperger. 41 Tudo isso tem sentido e deve, obviamente, ser aceito, mas o que não se pode fazer é generalizar e deixar de lado outras características tão importantes quanto estas e que também sinalizam a hiperlexia. São elas: Conforme Olivier (2008), crianças com aprendizado acelerado de leitura e de escrita podem até se autoalfabetizar e tornarem-se autodidatas, com excelente memória e capacidade para cálculos complicados. Há casos até de crianças, consideradas como "gênios", aprendendo vários idiomas sem sequer estudá-los, parecendo aprender sozinhas, ingressando em cursos para adultos ou faculdades muito antes da idade prevista ou formando-se em cursos considerados complicados demais ou ainda solucionando questões matemáticas consideradas impossíveis de se resolver ou fazendo qualquer outra coisa fora do comum, demonstrando uma capacidade extrema para aprendizado. No entanto, quase sempre são hiperativas, têm dificuldades de relacionamentos, abandonam a escola tradicional muito cedo e, por não se adaptarem aos métodos usados, seguem por cursos de "adultos" achando que já aprenderam tudo, pulando etapas que Ihes farão falta cedo ou tarde. Têm mais facilidade no aprendizado cinestésico (experimentação) e apresentam impaciência, impulsividade, agressividade, incapacidade para prestar atenção a qualquer ensinamento. Assim como a dislexia, que ainda hoje é vista de forma generalizada pela maioria dos profissionais, gerando inúmeros mal-entendidos e até erros de diagnósticos, a hiperlexia também caminha assim. Por isso, os profissionais das áreas que atendem a este distúrbio devem estar atentos aos sintomas e às características principais. As características e os sintomas da hiperlexia basicamente são: (considerar distúrbio a partir de duas ou mais características no mesmo indivíduo) 1 - Aprendizado precoce da leitura e da escrita (antes dos cinco anos e sem nenhum estímulo aparente); 2 - Alterações em um ou mais processos básicos, tais como: sociais, motores, cognitivos, afetivos ou linguagem; 42 3 - Dificuldades em associações (uso indevido de regras pragmáticas, semânticas e sintáticas); 4 - Facilidade para receber e armazenar quantidades isoladas de informações de maneira mecânica, mas com dificuldades em organizar e/ou utilizar a informação de forma útil; 5 - Uso de muitas gírias ou jargões, não por vício de linguagem, mas por não conseguir construir frases perfeitas ou até mesmo para substituir um discurso; 6 - Ecolalia, que pode, com o passar do tempo, ser espaçada, amenizada ou eliminada; ATENÇÃO: Este também pode ser um sintoma de TOC e ST, que serão relatados posteriormente. Portanto, a ecolalia isolada deve ser avaliada e entendida como possibilidade/hipótese de outros distúrbios. 7 - Também se consideram característica da hiperlexia crianças que aprendem a ler e a escrever precocemente, mas falam tardiamente. A partir do momento em que desenvolvem a linguagem falada, passam a ter fluência. Neste caso, a linguagem segue as descrições atribuídas à Síndrome de Asperger. A característica básica desta síndrome, além da fala tardia, mas fluente, é o monólogo e não um diálogo, como se espera do indivíduo que desenvolve uma conversa; 8 - Grande habilidade e necessidade de ler tudo o que encontra, desde outdoors, placas, até revistas e jornais. Mas, em muitas vezes, sem entender o significado do que se lê e/ou se escreve, o que caracteriza um distúrbio de aprendizagem; 9 - Uma característica bastante interessante e própria de muitos hiperléxicos é que, se aprendem a ler em jornais, somente conseguem ler e escrever em letras de imprensa, se aprendem a ler em letras de forma, somente leem e reproduzem letras maiúsculas e assim por diante. Demoram muito para assimilar outros tipos de letras; 10 - Superioridade da linguagem escrita em relação à oral; 11 - Fascínio por televisão ou computador ou algum jogo solitário, o que acaba colaborando para o isolamento e, consequentemente, dificuldade em 43 estabelecer amizades, até porque o indivíduo hiperléxico não sabe mesmo lidar com as brincadeiras em grupo. Pode até tornar-se agressivo e machucar colegas e amigos na intenção de apenas brincar, o que pode ser chamado de comportamento autista; 12 - Pode apresentar boa memória auditiva para música, artes em geral, alfabeto e números; 13 - Hipersensibilidade diante de sons e barulhos específicos ou não, sendo notado por volta dos dois anos de idade; 14 - Aprendizado muito acelerado, passando por várias etapas do ensino de forma acelerada, chegando muito cedo à faculdade ou parando de estudar logo no início do aprendizado, por julgar que "já aprendeu tudo", ninguém mais tem algo de útil a lhe ensinar; 15 - Pode apresentar excelente memória para idiomas, podendo tornar-se facilmente um poliglota; 16 - Extrema capacidade para cálculos matemáticos inclusive resolvendo soluções complicadas "de cabeça": sem recurso da escrita ou de calculadoras; Se o indivíduo apresentar dez ou mais sintomas acima relatados, é sério candidato a portar a hiperlexia. ATENÇÃO: Este número (dez) é uma base para detectar-se este distúrbio, pode haver um hiperléxico com sete ou oito desses sintomas ou com cinco destes, e outros cinco sintomas não relatados aqui. Atente-se para o fato de que cada paciente pode ter características próprias e deve ser analisado exaustivamente até que se confirme um diagnóstico. Apesar de todas estas e outras características atribuídas à hiperlexia, vale lembrar que o aspecto neuromotor corresponde aos padrões considerados normais de evolução. Não há ou não deve haver sinais de alterações neurológicas, mas não se afasta a possibilidade de alguns pacientes apresentarem alterações nestes aspectos, visto que cada paciente é único, desenvolveu o distúrbio por determinadas causas e pode, evidentemente,
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