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Do tributo APRESENTAÇÃO Nesta Unidade de Aprendizagem, estudaremos a definição de tributo e suas espécies, entre outras questões. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar o conceito de tributo.• Diferenciar as espécies de tributo.• Reconhecer o alcance do texto legal quanto ao tributo.• DESAFIO De acordo com o Código Tributário Nacional (CTN), no artigo 3o, tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Para resolver este desafio, explique detalhadamente o exposto no texto acima, estabelecendo uma relação dele com os princípios tributários já estudados. INFOGRÁFICO O tributo tem como características: • É prestação: significa que o tributo se projeta no tempo com caráter de valor. Sempre que houver o fato gerador, haverá a incidência de tributo. • É prestação pecuniária: significa que deve ser pago em moeda ou patrimônio de fácil liquidez. • É compulsório: o pagamento de tributo não se dá por ato voluntário, mas por obrigatoriedade advinda de lei. • Não é sanção de ato ilícito: não tem caráter punitivo, e sim arrecadatório. Nessa linha, em regra, existindo a exteriorização de riqueza, acumulada com a capacidade contributiva, há o tributo, que deve ser um pequeno percentual do montante em questão. • É instituído por lei: não se trata da vontade do administrador público, mas da definição da lei. • É atividade estatal plenamente vinculada: não pode ser discricionário e muito menos poderá ser ato de particular. Para ser tributo, há a necessidade desses requisitos. Na falta de qualquer um deles, não se estará diante de um tributo. Observe, no infográfico a seguir, algumas espécies de tributo. CONTEÚDO DO LIVRO O tributo está definido no art. 3o do CTN e é dividido em cinco espécies tributárias. Leia o capítulo Tipos de Tributos – Parte I, da obra Constituição e Tributação, e aprofunde seus conhecimentos sobre o assunto. Boa leitura! CONSTITUIÇÃO E TRIBUTAÇÃO Magnum Eltz Tipos de tributos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar tributo. Diferenciar as espécies de tributo. Reconhecer o alcance do texto legal quanto ao tributo. Introdução Neste capítulo, você estudará o conceito de tributo, bem como as espécies de tributos e as distinções entre eles. Firmados esses conhecimentos, passaremos ao reconhecimento e à interpretação do alcance do texto legal quanto ao tributo, valendo-nos das proposições dos teóricos Paulos de Barros Carvalho e Luciano Amaro para orientar os nossos estudos. Conceito de tributo O tributo é a fi gura central do Direito Tributário. Segundo Carvalho (2012, p. 65), o vocábulo tem nada menos do que seis signifi cações diversas, as quais encontramos em textos do Direito Positivo brasileiro, lições da doutrina e manifestações jurisprudenciais. Uma dessas signifi cações é a de tributo como quantia em dinheiro, sobre a qual Carvalho (2012a, p. 66) discorre o seguinte: Uma das mais vulgares proporções semânticas da palavra “tributo” é justa- mente aquela que alude a uma importância pecuniária. Indicando um volume de notas, quantas vezes não dizemos: eis aí o imposto que vou levar ao banco. Essa menção corriqueira, entretanto, não é somente a do falar comum dos leigos. Pode ser encontrada, até com frequência, no fraseado de nossas leis, regulamentos e portarias, como, por exemplo, no art. 166 do Código Tribu- tário Nacional: A restituição de tributos que comportem... Surge aqui a voz “tributo”, inequivocamente, como soma de dinheiro, quantia que, na forma do dispositivo, poderá ser restituída. Cap_03_Tipos_tributos_Parte_I.indd 1 22/03/2018 17:07:26 O vocábulo “tributo”, nesse caso, é utilizado como correspondente a moeda ou valor monetário, reduzindo o seu caráter técnico à sua acepção popular, mas que ainda assim pode ser encontrado no próprio Código Tributário Nacional (CTN), como referido pelo autor. Sobre tributo como prestação correspondente ao dever jurídico do sujeito passivo, Carvalho (2012a) ensina que consiste no comportamento de certa pessoa, física ou jurídica, que se consubstancia no pagamento de deter- minada importância pecuniária. Portanto, não incide no dinheiro em si, mas no “proceder de conduzi-lo ao lugar preestabelecido para solver-se o débito” (CARVALHO, 2012a, p. 67). Ou seja, a palavra “tributo” corresponde à ação de solver a obrigação, de deslocar os valores econômicos pelo meio ou para o local adequado à quitação da obrigação tributária correspondente ao seu dever. A respeito de tributo como direito subjetivo do qual é titular o sujeito ativo, Carvalho (2012a, p. 68) esclarece que: Contraposta a essa, temos a visão daqueles que põem acento no cunho de exigi- bilidade que o liame jurídico provoca em favor do sujeito ativo. Assim, a lição de Ernst Blumenstein: Tributos são as prestações pecuniárias que o Estado, ou um ente por ele autorizado, em virtude de sua soberania territorial, exige dos sujeitos econômicos que lhe estão submetidos. É também a linha de Rubens Gomes de Sousa, que asseverou ser “tributo” a receita derivada que o Estado arrecada mediante o emprego da sua soberania, nos termos fixados em lei [...]. Outro desdobramento é a pretensão que o Estado possui sobre o dever do con- tribuinte, uma vez que compõe o polo ativo da relação obrigacional e o contribuinte compõe o polo passivo da mesma relação pautada pelo tributo. Sobre essa relação, repousa o sentido de tributo como sinônimo de relação jurídico-tributária: O vocábulo “tributo” comporta um quarto âmbito de significação que, em vez de partir da indicação do conteúdo patrimonial do objeto [$], ou do dever jurídico cometido ao sujeito passivo, ou do direito subjetivo de que é titular o sujeito ativo, cogita do vínculo como um todo, isto é, “tributo” como equiva- lente a obrigação tributária, relação jurídica tributária. A carga significativa não repousa mais em qualquer dos tópicos do laço obrigacional, mas nele como uma entidade integral (CARVALHO, 2012a, p. 68-69). Já o quinto sentido atribuído ao vocábulo se refere a ele como norma jurídico-tributária: A penúltima grandeza semântica que o termo assume é a de norma jurídica, equivale a afirmar, “tributo” como regra de direito, como preceito normativo. Tipos de tributos2 Cap_03_Tipos_tributos_Parte_I.indd 2 22/03/2018 17:07:26 Quem der revista no texto constitucional irá encontrar, à farta, prescrições que aludem àquela realidade jurídica como norma ou plexo de normas, especialmente no capítulo destinado ao Sistema Tributário (CARVALHO, 2012a, p. 70). Nesse sentido, “tributo” remete a determinados fatos que preenchem os distintos suportes fáticos (ou fatos geradores) que lhes conferem a incidência enquanto regra jurídica. Finalmente, o sexto e derradeiro sentido referido por Carvalho (2012a, p. 71) é a síntese das outras acepções, nas quais tributo pode ser norma, fato e relação jurídica: O símbolo “tributo” admite ainda uma outra significação, sobre medida ampla. Nesse derradeiro sentido, quer exprimir toda a fenomenologia da incidência, desde a norma instituidora, passando pelo evento concreto, nela descrito, até o liame obrigacional que surde à luz com a ocorrência daquele fato. É com esse conteúdo que o art. 3º da Lei n. 5.172/66 se propõe determiná-lo. Estudemo-lo mais de espaço, já que é disposição viva do nosso direito positivo. A significação de tributo como norma, fato e relação jurídica é a adotada pelo CTN e consolida todas as últimas significações em si. A doutrina, por sua vez, na conceituação de Amaro (2006, p. 25) sintetiza essas acepções no seguinte esforço: “Tributo é a prestação pecuniária não sancionatória de ato ilícito, instituída em lei e devida ao Estadoou a entida- des não estatais de fins de interesse público.”. Ainda de acordo com Amaro (2006, p. 25-26): Esse conceito afirma a natureza pecuniária da prestação, que moderna- mente tem qualificado o tributo: trata-se, pois, de prestação em moeda. Registra-se o caráter não sancionatório do tributo, dele distinguindo-se, portanto, as prestações pecuniárias que configurem punição de infrações. Não se paga tributo porque se praticou uma ilicitude, embora se possa ter de pagá-lo com abstração do fato de ela ter sido praticada. Gian Antonio Michelli assinala que a coatividade do tributo não se confunde com a coa- tjvidade da sanção, “a qual postula a restauração da ordem jurídica violada e, portanto, (supõe) a precedente violação de uma norma”, enquanto “o 3Tipos de tributos Cap_03_Tipos_tributos_Parte_I.indd 3 22/03/2018 17:07:26 adimplemento do dever de contribuir está ligado a um dever constitucional de solidariedade”. Ao dizer que o tributo é prestação instituída em lei não apenas se contempla o princípio da legalidade do tributo (no sentido de que cabe a lei instituí-lo, definindo o respectivo fato gerador, o devedor e os elementos necessários a quantificar a prestação), mas também se sublinha a origem legal (e não contratual) do tributo. Por isso, não é necessária a referência à compulsoriedade da prestação tributária. Ou seja, dizer que a prestação tributária é instituída em lei já expressa que o nascimento da obrigação tributária não tem por base a vontade dos sujeitos da relação jurídica, mas sim o comando legal. Dessa forma, soma-se o caráter não sancionatório às características da relação tributária depreendidas de duas acepções anteriormente mencionadas, uma vez que se trata de uma relação impositiva. No entanto, essa relação é positiva, não negativa, visto que a contribuição pressupõe o funcionamento do Estado enquanto reflexo do próprio contribuinte-cidadão. Essa afirmação (de que o nascimento da obrigação tributária não assenta na vontade dos sujeitos da relação) não é desmentida ao reconhecer-se que, em larga escala, é voluntária a decisão do indivíduo de atrelar-se a uma relação que configura fato gerador de uma obrigação tributária. Alguém pode, por exemplo, querer (ou não) prestar serviços; se não o fizer, não praticará o fato que gera a obrigação de pagar o imposto sobre a prestação de serviços. Noutras situações, a vontade do indivíduo dificilmente conseguirá eliminar a realiza- ção do fato gerador (por exemplo, o fato da valorização de sua propriedade, em decorrência de uma obra pública, que traduz hipótese de incidência da contribuição de melhoria) (AMARO, 2006, p. 26). Ademais, além da geração de forma “consciente”, outra forma de valida- ção da relação tributária é a vontade implícita do cidadão em participar de determinado Estado por meio do contrato social ao qual se submete quando adquire a cidadania. O que importa é a circunstância de, à vista de alguém ser proprietário de uma casa, ou de prestar um serviço, ou de fruir (potencialmente embora) um serviço público, ou de ter a propriedade valorizada por uma obra pública, criarem-se obrigações tributárias porque a lei atribuiu àqueles fatos o efeito de dar nascimento a essas obrigações, ditas por isso ex lege, por oposição às obrigações ex voluntate. O contribuinte do imposto sobre serviços o que quer é prestar serviços, e não pagar o respectivo imposto; querer ou não pagar o tributo - ou mesmo desconhecer sua existência - é irrelevante para o nascimento da obrigação tributária (AMARO, 2006, p. 26). Tipos de tributos4 Cap_03_Tipos_tributos_Parte_I.indd 4 22/03/2018 17:07:26 Finalmente, quanto à delimitação dos receptores da obrigação: Por fim, nosso conceito especificador da obrigação: o Estado ou outras en- tidades não estatais, que persigam fins de interesse público. Assim, restam excluídas do conceito de tributo certas prestações, como a de alimentos, ou a de pagar gratificação natalina aos empregados, não obstante se trate de obrigações impostas pela lei e não de deveres estabelecidos pela vontade das partes (AMARO, 2006, p. 27). Podemos concluir que tributo é, como conceito doutrinário, a prestação pecuniária não sancionatória de ato ilícito, instituída em lei e devida ao Estado ou à entidades não estatais de fins de interesse público, sintetizando as seis significações da figura-chave no Direito Tributário. Espécies de tributos Já conceituado o termo tributo, teceremos um panorama sobre as espécies de tributos previstas na Constituição Federal e no CTN. As espécies de tributos, conhecidas hoje como impostos, taxas e contri- buições, são objeto de controvérsia na doutrina, principalmente no que se refere às figuras especiais de tributos previstos na Constituição Federal e no CTN, como as taxas e os empréstimos compulsórios. Amaro (2006, p. 70) explica que, nos seus aspectos históricos: A rotulação das exações criadas pelo Estado também foi sendo dada sem grandes preocupações classificatórias, e sem maiores cuidados com a se- mântica, mas não deixa de ser verdade que algumas especificidades estão refletidas na diversidade de denominações utilizadas para designar os tri- butos que foram sendo criados; noutros casos, a escolha desta ou daquela denominação é puramente arbitrária. Assim, tributo e contribuição, apesar de serem palavras cognatas e dadas como sinônimas pelos léxicos, têm sido, na linguagem técnica, usadas numa relação de gênero e espécie, com o objetivo, portanto, de indicar ideias distintas. Não obstante o rótulo de “con- tribuição”, historicamente, possa ter nascido como alternativa para o odioso vocábulo “imposto”, hoje ele é utilizado com a visível finalidade de indicar figuras com aspectos peculiares. Taxa é outra designação que acabou sendo incorporada ao vocabulário jurídico tributário, modernamente com o objetivo de caracterizar uma figura específica. 5Tipos de tributos Cap_03_Tipos_tributos_Parte_I.indd 5 22/03/2018 17:07:26 Sobre o rol constitucional, Amaro (2006, p. 27) elucida que: A Constituição atribui à lei complementar a função de conceituar tributo e suas espécies (art. 146,111, a). O Código Tributário Nacional, ainda na vigência da Constituição de 1946 e da Emenda n. 18/65, cuidou dessas definições, com algumas deficiências. A doutrina tem mantido (e o fez especialmente na vigência de textos consti- tucionais precedentes) acesa polêmica sobre a natureza, tributária ou não. de algumas prestações exigidas pelo Estado, designadamente os empréstimos compulsórios e certas figuras geralmente batizadas como contribuições. Tem-se discutido se, a par do imposto, da taxa e da contribuição de melhoria (arrolados no art. 5º do CTN como espécies de tributo), teriam ainda natureza tributária aquelas outras exações. E, quando admitida essa natureza, disputasse também se elas seriam espécies distintas ou, ao contrário, se subsumiriam algum dos tipos nominados no citado artigo. Dessa forma, é a partir da Constituição Federal (BRASIL, 1988) que o autor identifica a sua classificação, qual seja: Cremos, a vista de todo o exposto, que a classificação dos tributos não pode partir nem apenas de rótulos que as várias espécies têm recebido (dado que a mesma designação é, as vezes, empregada para apelidar diferentes exações, e diferentes denominações são usadas para batizar exceções análogas), nem deve limitar-se a notas ou características tão abrangentes que façam a classificação perder a utilidade. que consiste em traduzir um instrumento de catalogação analítico de diferentes realidades jurídicas, permitindo que sejam apreendidas nos seus variegados matizes. Com esse objetivo, identi- ficamos quatro grupos de espécies tributárias, que permitem, por sua vez, variadas subdivisões, conforme o nível de análise ou o critério de discrimi- nação que seja eleito: 1º) impostos; 2º) taxas (de serviço, de polícia, de utilização de via pública e de melhoria); 3º) contribuições; 4º) empréstimos compulsórios.Sobre os impostos, Amaro (2006, p. 81) identifica as seguintes características: a) são instituídos mediante a previsão legal de fatos típicos (em geral - mas não necessariamente - nominados na norma definidora de competência), que, uma vez ocorridos, dão nascimento a obrigação tributária; b) não se relacionam a nenhuma atuação estatal divisível e referível ao sujeito passivo; c) não se afetam a determinado aparelhamento estatal ou paraestatal, nem a entidades privadas que persigam fins reputados de interesse público. Tipos de tributos6 Cap_03_Tipos_tributos_Parte_I.indd 6 22/03/2018 17:07:27 Dessa forma, o autor diferencia o imposto pelo seu fato gerador: O fato gerador do imposto é uma situação (por exemplo, aquisição de renda, prestação de serviços etc.) que não supõe nem se conecta com nenhuma atividade do Estado especialmente dirigida ao contribuinte. Ou seja, para exigir imposto de certo indivíduo, não é preciso que o Estado lhe preste algo determinado. A atuação do Estado dirigida a prover o bem comum beneficia o contribuinte, mas este frui das utilidades que o Estado fornece porque é membro da comunidade e não por ser contribuinte (AMARO, 2006, p. 81, grifo nosso). Portanto, é possível caracterizar imposto como tributo por causa da incidên- cia de um fato gerador que corresponde a determinada ação do contribuinte, independentemente de qualquer contraprestação direta do Estado em relação ao evento que determina a transferência de receita do contribuinte para o Estado. Contudo, essa receita deve ser empregada pelo Estado nas atividades e nos serviços oferecidos à sociedade que o integra. Com relação às taxas, o autor as especifica em relação aos tributos em geral pela seguinte distinção: Em segundo lugar, classificamos os tributos que, por se destinarem a financiar determinadas tarefas, que são divisivelmente referíveis a certo indivíduo ou grupo de indivíduos de modo direto ou indireto (o que tra- duz motivação financeira, pré-jurídica), têm fatos geradores ( já agora no plano jurídico) conexos 2 própria atividade do Estado. Esta atuação pode traduzir-se: a) na execução de um serviço público; b) no exercício do poder de polícia; c) na manutenção de via pública utilizada pelo indivíduo; d) na execução de uma obra pública que valorize a propriedade do indivíduo (AMARO, 2006, p. 83). As taxas são tributos cujo fato gerador é configurado por uma atuação estatal especifica, referível ao contribuinte, que pode consistir: a) no exercício regular do poder de polícia; ou b) na prestação ao contribuinte, ou colocação à dispo- sição deste, de serviço público específico e divisível (CF, art. 145, 11; CTN, art. 77). Como se vê, o fato gerador da taxa não é um fato do contribuinte, mas um fato do Estado (AMARO, 2006, p. 30-31). Dessa forma, não somente as taxas se diferenciam por haver uma contra- prestação específica em relação ao fato gerador desse tributo, mas também esse fato gerador é criado pelo próprio serviço prestado pelo Estado, indepen- dentemente da vontade do contribuinte. É o caso de taxas de limpeza urbana e recolhimento de resíduos, por exemplo. 7Tipos de tributos Cap_03_Tipos_tributos_Parte_I.indd 7 22/03/2018 17:07:27 Quanto à sua distinção temática, as chamadas taxas de polícia se destacam por: O art. 78 do Código Tributário Nacional define como poder de polícia a “atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concedente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos” (AMARO, 2006, p. 32). Dessa forma, as taxas de serviço estão atreladas aos gastos públicos com a segurança e a tranquilidade da população. Essas taxas são garantidas com o exercício do poder de polícia estatal, indispensável à proteção dos direitos humanos previstos na Constituição Federal por parte do Estado. No que concerne às taxas de serviço, Amaro (2006, p. 33) expõe o seguinte: “As taxas de serviço têm por fato gerador uma atuação estatal consistente na execução de um serviço público, especifico e divisível, efetivamente prestado ou posto à disposição do contribuinte (CF, art. 145, II)”. É onde se enquadra o já mencionado exemplo da taxa de limpeza urbana, assim como outros serviços que compõem um monopólio ou oligopólio, natural ou artificial, representado pelo controle estatal dessas atividades de forma direta ou por intermédio de concessões. As concessões e os contratos públicos, no entanto, podem ser gratificados por meio de uma figura paralela ao conceito de tributo: os chamados preços públicos. Eles se distinguem das taxas em virtude do requisito da legalidade, como comenta Amaro (2006, p. 45-46): Assim, o Estado adstringe-se a adotar a figura da taxa, se o serviço (que ele executa) dele ser realizado por imperativo de ordem pública. Por outro lado, se o serviço puder ser remunerado por preço público, por não apresentar as características que o restrinjam a remuneração por taxas. O legislador pode optar pela adoção do regime de taxas. Em suma, há situações em que o legislador (a vista da execução pelo Estado de um serviço divisível) só tem a via da taxa. Noutros casos, para os quais seja possível o preço público, o legislador pode optar entre adotar o regime jurídico das taxas ou o dos preços. Se institui a taxa (por opção ou porque não é aplicável o regime de preços), a exação sujeita-se ao regime jurídico respectivo: princípio da legalidade, princípio da anterioridade, restrições quanto a base de cálculo (CF, art. 145. 2) etc. Se adotado o regime jurídico de preço público (nos casos em que o Estado não esteja adstrito a utilizar a Tipos de tributos8 Cap_03_Tipos_tributos_Parte_I.indd 8 22/03/2018 17:07:27 taxa, é óbvio), sua cobrança dependerá do que estipular o contrato com os indivíduos que solicitarem a prestação do serviço. A adoção do regime jurídico das taxas permitirá, por razões assinaladas an- teriormente, a opção do legislador pela incidência mesmo nos casos em que não haja efetiva utilização do serviço público. Os preços, evidentemente, só poderão ser cobrados nos termos do contrato firmado, não cabendo impor ao indivíduo o pagamento, se ele se recusa a contratar; nada impede, por outro lado, cobrar preço pela simples colocação do serviço a disposição, se isso tiver sido contratado. Enquanto a taxa se submete aos requisitos legais da cobrança tributária e possui serviços vinculados pela legislação em sentido estrito a elas, os preços públicos dependem de regime contratual e estabelecem relações diretas entre o serviço prestado e a vontade de utilização por parte do cidadão. É o caso do transporte público e da energia elétrica, por exemplo. Isso porque eles dependem de contratação independente da obrigatoriedade do serviço prestado, característica dos serviços sujeitos a contribuição por taxa. As denominadas contribuições de melhoria, conforme o autor, possuem proximidades e distinções em relação as taxas, senão vejamos: Esse tributo, a exemplo das taxas conecta-se com determinada atuação es- tatal, qual seja, a realização de uma obra pública de que decorra, para os proprietários de imóveis adjacentes, uma valorização (OU melhoria) de suas propriedades. Melhoria (melhora ou melhoramento) expressa a elevação de algo para um estado ou condição superior. É antônimo de pioria (piora ou pioramento). O vocábulo “melhoria” não se refere (salvo em linguagem me- tonímica) à obra em si; esta é a causa; aquela, a consequência: a melhoria decorre da obra (AMARO, 2006, p. 46, grifo nosso). Assim, a contribuição de melhoria pode ser definida como uma espécie de tributo que decorre de um serviço de melhoria que acarrete em aumento de valordo imóvel do contribuinte. É o exemplo de aterramento de fiações de telefone e luz, passagem de gás natural e serviços de fibra ótica, dentre outras comodidades que valorizam o preço final dos imóveis beneficiados pelas obras públicas e que passam a incidir sobre esta contribuição. 9Tipos de tributos Cap_03_Tipos_tributos_Parte_I.indd 9 22/03/2018 17:07:27 Sobre as mencionadas outras figuras que se enquadram no conceito de tributos, não previstas no art. 5º do Código Tributário Nacional, tratam-se das disposições encontradas na Constituição Federal na forma de pedágios, empréstimo compulsório e contribuições. Sobre pedágio, o teórico Amaro (2006, p. 49, grifo nosso) esclarece que: O pedágio aparece na Constituição de uma forma insólita. O art. 150, V, ao proibir o estabelecimento de limitações ao tráfego de pessoas ou bens por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvou a “cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público”. Essa disposição deu legitimação constitucional expressa ao pedágio. Além disso, reconheceu-lhe natureza tributária (por oposição a ideia de que ele traduziria um preço público), pois essa figura está referida num dispositivo que cuida de tributos, e como exceção a um princípio que limita a criação de tributos. A Constituição, ademais, relaciona o pedágio com uma atuação estatal específica, já que ele tem por fato gerador a utilização de vias conservadas pelo Poder Público. Não é a construção de uma estrada, de per si, que embasa a exigência do pedágio; essa obra pública pode dar lugar a contribuição de melhoria. Já o pedágio é cobrável de quem trafegue pela via pública, e, por isso, frui a utilidade propiciada pela obra do Estado. O fundamento da exigência do pedágio é análogo ao das taxas de serviço ou de polícia e da contribuição de melhoria, ou seja, a atuação estatal que possa ser referida a um indivíduo ou a um grupo de indivíduos deve ser financiada por tributos cobrados desses indivíduos e não de toda a coletividade. Dessa forma, o pedágio integra uma figura híbrida, designada pelo autor como “taxa”. No pedágio, há o fato gerador do tráfego por vias conservadas pelo poder público e a contribuição para a degradação da estrada, ao mesmo tempo em que há a contraprestação específica dos reparos e melhorias das vias atreladas a ele. Esse aspecto o coloca entre as figuras das taxas e contribuições de melhoria e dos impostos, de modo que se trata de um tributo com natureza própria, colocado nessa categoria pela própria Constituição. A próxima classificação referida pelo autor é a das contribuições, sobre as quais: Um terceiro grupo de tributos é composto pelas exações cuja tônica não está nem no objetivo de custear as funções gerais e indivisíveis do Estado (como ocorre com os impostos) nem numa utilidade divisível produzida pelo Estado e fruível pelo indivíduo (como ocorre com os tributos co- nhecidos como taxa. pedágio e contribuição de melhoria, que reunimos no segundo grupo). Tipos de tributos10 Cap_03_Tipos_tributos_Parte_I.indd 10 22/03/2018 17:07:27 Amaro (2006, p. 52-53, grifo nosso) refere como figuras especiais aos tribu- tos as contribuições sociais, econômicas e corporativas, a respeito das quais: O art. 149, caput, da Constituição agrupa três figuras rotuladas como “con- tribuições”: contribuições sociais, contribuições de intervenção no domínio econômico, e contribuições de interesse de categorias profissionais ou eco- nômicas, outorgando-as a competência da União, que deve utilizá-las como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas. O que importa sublinhar é que a Constituição caracteriza as contribuições sociais pela sua destinação, vale dizer, são ingressos necessariamente direcio- nados a instrumentar (ou financiar) a atuação da União (ou dos demais entes políticos, na específica situação prevista no § 1º do art. 149. Renumerado pela EC n. 3312001, com a redação da EC n. 4112003) no setor da ordem social. Assim, as chamadas contribuições, embora se revertam em benefícios mediatos ao contribuinte, também são marcadas pela compulsoriedade e obrigatoriedade, de modo que se enquadram em categoria análoga às taxas, embora a contraprestação não seja imediatamente percebida pelo contribuinte. Além disso, o autor escreve sobre a contribuição para iluminação pública, que foi acrescentada pela Emenda Constitucional nº. 391, de 19 de dezembro de 2002, que: Acrescentou ao já complexo quadro de contribuições mais uma figura, qual seja, a da contribuição para custeio do serviço de iluminação pública, adi- cionada a competência dos Municípios e do Distrito Federal (CF, art. 149-A, introduzido pela citada Emenda). Iluminação pública não é serviço a que pudesse ser atrelada a figura de taxa, dado que não é divisível. Quedaria, portanto, no campo dos serviços gerais e indivisíveis financiáveis pela receita de impostos, a exemplo de outras tantas atividades desempenhadas pelo Poder Público no interesse da comunidade (bombeiros, segurança pública etc.). Com o intuito de dar uma nova fonte de receita para os Municípios (e Distrito Federal), a Emenda criou mais um exemplar dessas figuras insólitas. genericamente batizadas com o nome de contribuição. Que se distinguem umas das outras pela finalidade a cujo atendimento se destinam (AMARO, 2006, p. 55). Desse modo, apesar de ser semelhante às taxas, a contribuição para ilu- minação pública se situa em um quadro sui generis dentro das classificações doutrinárias, compondo o conjunto de tributos por força das disposições constitucionais que lhe caracterizam como tal. Por fim, a figura do empréstimo compulsório, que se encontra na cate- goria de tributos com alguns diferenciais específicos, como explica o autor: 11Tipos de tributos Cap_03_Tipos_tributos_Parte_I.indd 11 22/03/2018 17:07:27 “Finalmente, temos o quarto grupo, que é o dos tributos restituíveis, os empréstimos compulsórios) cuja presença numa catalogação à parte se justifica mercê do regime jurídico que lhe é conferido” (AMARO, 2006, p. 86, grifo nosso). O empréstimo compulsório é um ingresso de recursos temporário nos cofres do Estado, pois a arrecadação acarreta para o Estado a obrigação de restituir a importância que foi emprestada. Aqui, mais uma vez. Deparamo-nos com o qualificativo da compulsoriedade, que já examinamos ao tratar do con- ceito de tributo e ao cuidar das taxas de serviços. Na locução “empréstimo compulsório” (que a doutrina também costuma designar como “empréstimo forçado”), o adjetivo quer expressar que o nascimento da obrigação de prestar (a título de empréstimo, embora) é determinado (forçado) pela lei não sendo, pois, fruto da vontade dos sujeitos da relação jurídica. A Consti- tuição prevê a instituição de empréstimos compulsórios pela União em duas situações: a) despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública e de guerra externa efetiva ou iminente (art. 148, 1): b) investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional (art. 148. 11) (AMARO, 2006, p. 50-51, grifo nosso). O empréstimo compulsório é, portanto, uma figura atípica, pois possui o dever de restituir aos contribuintes as quantias forçosamente cedidas, restritas a despesas urgentes em situações extremas. Assim, conclui-se que as espécies de tributos podem ser classificadas como naturais ou próprias, conforme a classificação clássica proposta pelo Código Tributário Nacional sobre impostos, taxas e contribuições. As espécies de tributos também se caracterizam como constitucionais ou impróprias, seguindo a proposição sobre figuras atípicas elencadas na nossa Carta Magna, como empréstimos compulsórios, contribuição de melhorias, pedágio, contribuição para iluminação pública e contribuições sociais. Amaro as classifica com base nas suas características aglutinadoras: os impostos definidos pelo fato gerador ligado ao contribuinte; as taxas pelo fato gerador propiciado pelo próprio Estado; as contribuiçõesde forma análoga às taxas, ainda que possuam características especiais; e os empréstimos compulsórios pelo diferencial de restituição. Alcance do texto legal quanto ao tributo De acordo com a Teoria Geral do Direito, o texto legal positivo é a previsão de determinado fato social que compõe o suporte fático da norma. Ao incidir Tipos de tributos12 Cap_03_Tipos_tributos_Parte_I.indd 12 22/03/2018 17:07:27 nas características da norma, ele origina o chamado fato jurídico, tal como identifi ca Carvalho (2012b, p. 183): Nenhum fato natural entra no universo social sem a experiência (científica, religiosa, estética) de uma valoração. O autor da norma jurídica, ao elaborá-la, vai operar construindo enunciados conotativos que venham a abrigar tantas ocorrências quanto seja possível surpreendê-las em orações protocolares. De qualquer maneira, vai produzir conceitos: conceitos de classes de elementos tidos como hábeis para identificar a situação escolhida. Estará produzindo enunciados conotativos que funcionarão como modelos para orientar, em momentos ulteriores do processo de positivação, a construção dos enunciados protocolares que constituirão os fatos concretos. Observa-se logo que os fatos jurídicos são constituídos por normas individuais e concretas, consoante o modelo dos enunciados conotativos das normas gerais e abstratas. [...] O re- corte promovido no fato social, de que decorre o arquétipo do fato jurídico, vai ser o enunciado conotativo de que falamos. Essa elaboração de linguagem a que se dedica o legislador tem um objeto dinâmico, que é o fato social, isto é, aquele segmento linguístico assim qualificado pela comunidade. O objeto imediato, para o Direito, será o modelo do enunciado conotativo formado na norma geral e abstrata e todos os enunciados protocolares que puderem subsumir-se na amplitude do conceito legislado. Para o autor, o fato jurídico constitui, portanto: A análise relacional entre a linguagem social e a linguagem jurídica, redu- tora da primeira, sobrepõe-se a esse conhecimento sintético, obtendo como resultado um novo signo, individualizado no tempo e no espaço do direito e recebendo qualificação jurídica: eis o fato jurídico. É, portanto, uma construção de sobre linguagem. Há duas sínteses: (i) do fenômeno social ao fenômeno abstrato jurídico e (ii) do fenômeno abstrato jurídico ao fenômeno concreto jurídico (CARVALHO, 2012b, p. 206). A análise da formação do fato jurídico importa ao nosso estudo sobre o alcance do texto legal quanto ao tributo, uma vez que: Antes de ser tributário, o chamado “fato gerador” é um fato jurídico e, como tal, deve ser estudado. Marcos Bernardes de Mello, em seu valioso estudo sobre a “Teoria do Fato Jurídico”, ao expor o que entende por “fato jurídico stricto sensu”, localiza-o entre aqueles em cuja composição do seu suporte fáctico ingressam apenas fatos da natureza, independentes de ato humano como dado essencial. E dá como exemplos o nascimento, a morte, o implemento de idade, a confusão, a produção de frutos, a aluvião, e a avulsão. É óbvio que o autor supõe esses eventos da natureza ligados de alguma forma ao terreno do social, sem o que estariam descaracterizados para integrar a parcela dos 13Tipos de tributos Cap_03_Tipos_tributos_Parte_I.indd 13 22/03/2018 17:07:27 fatos juridicizados pelo Direito. A indicação corresponde a critério de iso- lamento temático, para fins de classificação e melhor exposição do assunto (CARVALHO, 2012b, p. 212). O texto legal tributário está vinculado aos requisitos clássicos apontados por: doutrina da existência, ou seja, incidência do fato social ao suporte fático; requisitos de validade, embora específicos àqueles previstos na lei civil, uma vez que o tributo pode incidir mesmo sobre atividades de pessoas consideradas civilmente incapazes; e eficácia, pela geração de efeitos no mundo jurídico e consequentemente no mundo dos fatos. Além disso, Carvalho (2012b, p. 214) aborda características especiais do fato jurídico tributário, quais sejam: A propósito do fato jurídico tributário, o ordenamento brasileiro requer dois procedimentos distintos: um, para a determinação do núcleo do enunciado factual e da correspondente relação jurídica (direito material), em que a regra aplicável (regra-matriz de incidência) será aquela que esteve em vigor no momento em que se realizou o evento (dia 1º de janeiro, no exemplo dado); outro, para a constituição do fato jurídico tributário, isto é, para a especificação do agente competente, dos expedientes administrativos a serem praticados, do estilo linguístico que deve ser empregado, em que as normas aplicáveis (regras de estrutura) serão aquelas vigentes no instante da constituição, vale dizer, no tempo em que a norma individual for editada. Por outros símbolos, as regras que determinam os atos de aplicação do direito ao caso concreto, chamados de atos formais, serão as de vigência atual, na data da celebração do ato de lançamento, ou da norma expedida pelo particular, ao passo que as atinentes ao relato do evento, bem como as determinadoras da relação jurídica que se instala por virtude da constituição do fato, estas serão as que estiverem em vigor na data do evento. Dessa forma, o alcance do texto legal sobre o tributo de maneira geral passa por dois limitadores. O primeiro se refere ao próprio fato gerador descrito na norma, que é vinculado ao preceito da legalidade, ou seja, deve ser interpretado de forma literal conforme sua descrição na lei em sentido estrito. O segundo limitador do texto legal é a anterioridade, que é a vigência da norma tributária a partir do dia 1º de janeiro do ano anterior. Ademais, o texto legal tributário e a sua concretização pelo fisco se relaciona às características dos atos normativos em geral: Quatro são os qualificativos tradicionalmente postos pelos administrativistas, como predicados que podem acompanhar, isolada ou conjuntamente, a expedição dos atos administrativos pelo Poder Público: a) presunção de legitimidade, b) exi- gibilidade, c) imperatividade e d) executoriedade (CARVALHO, 2012b, p. 386). Tipos de tributos14 Cap_03_Tipos_tributos_Parte_I.indd 14 22/03/2018 17:07:28 Sobre o primeiro qualificativo, o autor (CARVALHO, 2012b, p. 386) refere que: A presunção de legitimidade está presente em todos os atos praticados pela Administração e, certamente, também qualifica o lançamento. Dado a co- nhecer ao sujeito passivo, será tido como autêntico e válido, até que se prove o contrário, operando em seu benefício a presunção juris tantum. Dessa forma, na qual pesa as restrições típicas do Direito Administrativo, a concretização da norma tributária a partir do lançamento é caracterizada por uma legitimação presumida, que reverte ao contribuinte o ônus da análise de legalidade, anterioridade e outros requisitos de validade e incidência, sob pena de que essa concretize os efeitos esperados. A exigibilidade é outro predicado que inere ao ato de lançamento tributário. Intimado o administrado do seu teor, o crédito nele formalizado passa a ser exigível em termos administrativos, nesse sentido diligenciando as autoridades fazendárias. Se o contribuinte não satisfizer a prestação, nos limites e nas condições estipuladas no próprio ato, investe-se a entidade tributante da com- petência para lavrar outro ato jurídico administrativo, de caráter sancionatório, exarando norma, também individual e concreta, que terá como antecedente a descrição da conduta delituosa (infração) e, como consequente, a estatuição de outro vínculo obrigacional, em que o sujeito ativo reivindica certo valor pecuniário, a título de multa (CARVALHO, 2012b, p. 387). Uma consequência lógica do aspecto da presunção de legitimidade é ve- rificado na exigibilidade, pois, presumida a validade do ato administrativo do lançamento, a sua consequente exigência não pode se submeter ao proce- dimento de conhecimento. É responsabilidade do contribuinte estabelecer ocontraditório em sede de execução administrativa ou incidente judicial, de acordo com a Lei nº. 6.830, de 22 de setembro de 1980, que trata da execução fiscal (BRASIL, 1980). A respeito dos limitadores dos atos administrativos tributários, o princípio da legalidade anteriormente mencionado atribui ao lançamento a previsão normativa certa e antecedente. Devido a isso, não há imperatividade do ato administrativo em relação aos atos de tributação, uma vez que: Entende-se por imperatividade a iniciativa do Poder Público de editar pro- vimentos que, interferindo na esfera jurídica do particular, constituam obri- gações, de modo unilateral. Essa virtude, entretanto, o lançamento não tem. 15Tipos de tributos Cap_03_Tipos_tributos_Parte_I.indd 15 22/03/2018 17:07:28 Mesmo que o fato jurídico tributário seja constituído pelo antecedente da norma individual e concreta, expedida pela Administração, ela assim o faz na conformidade de mandamentos gerais e abstratos, inscritos em normas de hierarquia superior, nunca para atender a deliberações de sua vontade, de tal arte que não se pode atribuir à autoridade lançadora o poder de gravar a conduta do administrado quando bem lhe aprouver. Sua atividade, nesse campo, sendo vinculada à lei, não deixa espaço a provimentos animados com esse tipo de imperatividade (CARVALHO, 2012b, p. 388). O mesmo fenômeno se traduz na característica da executoriedade: Se o lançamento tributário fosse portador desse atributo, a Fazenda Pública, sobre exigir seu crédito, teria meios de promover a execução patrimonial do obrigado, com seus próprios recursos, compelindo-o materialmente. E o lançamento dista de ser um ato dotado dessa qualidade constrangedora. Não satisfeita a prestação, em tempo hábil, a Administração aplicará a penalidade prevista em lei. Se, vencido o prazo para recolhimento do tributo e da multa correspondente, sem que o sujeito passivo compareça para solver o débito, a entidade tributante não terá outro caminho senão recorrer ao Poder Judiciário, para lá deduzir sua pretensão impositiva (CARVALHO, 2012b, p. 389). Essas garantias constitucionais referentes à limitação do alcance da norma tributária possuem raízes históricas fundadas no abuso do Estado pré-repu- blicano. Por isso, confundem-se com a própria noção de Estado Democrático de Direito. Para finalizar, podemos concluir que, ao lado das limitações constitucionais do poder de tributar, o texto legal dispõe de alcance restrito no âmbito dos tributos quanto à legalidade, anterioridade, imperatividade e executoriedade. Contudo, esse texto legal ainda desfruta a amplitude conferida pela presunção de legitimidade e imperatividade presentes em nome da governabilidade do Estado, que necessita prover suas atividades com a aferição de receitas advindas das fontes tributárias para que cumpra a sua função social. Tipos de tributos16 Cap_03_Tipos_tributos_Parte_I.indd 16 22/03/2018 17:07:28 17Tipos de tributos Cap_03_Tipos_tributos_Parte_I.indd 17 22/03/2018 17:07:30 AMARO, L. Direito tributário brasileiro. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicao.htm>. Acesso em: 13 mar. 2018 BRASIL. Lei n. 6.830, de 22 de setembro de 1980. Dispõe sobre a cobrança judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública, e dá outras providências. 1980. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/L6830.htm>. Acesso em: 13 mar. 2018. CARVALHO, P. de B. Curso de direito tributário. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2012a. CARVALHO, P. de B. Fundamentos jurídicos da incidência. São Paulo: Saraiva, 2012b. DICA DO PROFESSOR Para ser tributo há a necessidade desses requisitos: ser prestação pecuniária, compulsória, não ser sanção de ato ilícito, ser instituído por lei e tratar de atividade estatal plenamente vinculada. Na falta de qualquer um deles, não se estará diante de um tributo. Confira a videoaula a seguir que aborda esse assunto. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Considere que, em determinada autarquia estadual cuja finalidade essencial seja a prestação de serviços à população mediante pagamento de tarifas pelos beneficiários, a prestação dos serviços não configure exploração de atividade econômica regida pelas normas aplicáveis e empreendimentos privados. Nesse caso a autarquia: A) Deve pagar as contribuições sociais de natureza previdenciária sobre folhas de salários de empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). B) É imune ao pagamento de contribuição social sobre o lucro líquido. C) É imune ao pagamento de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). D) Não deve pagar o imposto sobre a transmissão onerosa de bens imóveis caso venda algum imóvel. E) Fica imune ao pagamento de imposto sobre a transmissão onerosa de bens imóveis caso compre algum imóvel. A importância paga pelos usuários de nossas rodovias a título de pedágio qualifica-se 2) como: A) Contribuição de melhoria. B) Tributo. C) Taxa de serviço público. D) Preço público. E) Impostos. 3) Em relação a instituição de cobrança de taxas, é CORRETO afirmar: A) É constitucional a cobrança de taxa de matrícula em universidade pública federal. B) Serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa. C) É permitida a criação de taxa judiciária, sem limite, sobre o valor da causa. D) É inconstitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa, de um ou mais elementos da base de cálculo própria de determinado imposto, desde que não haja integral identidade entre uma base e outra. E) É vedada a cobrança de taxa em razão do serviço público de coleta, remoção e tratamento de lixo ou resíduos provenientes de imóveis. 4) Os serviços públicos justificadores da cobrança de taxa são A) específicos ou divisíveis quando a utilização é efetiva pelo contribuinte. B) divisíveis e de utilização compulsória. C) sempre específicos e divisíveis. D) aqueles cuja utilização não é específica. E) sempre de utilização efetiva ou postos à disposição. 5) Se um indivíduo é notificado a pagar um tributo, por natureza não vinculado, é CORRETO afirmar que essa exigência é um(a): A) Imposto. B) Taxa. C) Contribuição de melhoria. D) Empréstimo compulsório. E) Contribuição parafiscal. NA PRÁTICA Para a cobrança de taxa, basta a existência do serviço; já para a tarifa, é necessário o efetivo uso. Ambas diferem dos impostos por não terem vinculação com a exteriorização de riqueza, mas sim com a contraprestação de serviço estatal. Veja os exemplos a seguir. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Tributo: Conceito e Espécies Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! O que é Tributo Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Saiba o que é Tributo e quais suas Espécies Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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