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Medicina Ana Catarina Dutra Rebelo Tuberculose na pediatria Generalidades - Causada por bactérias do complexo ⇢ Micobacterium tuberculosis. - Na infância a incidência é > 10%. - As crianças < 5 anos acendem um alerta para infecção recende/contínua de TB, visto que a TB latente progride muito rápido para a doença nessa faixa etária. - Uma pessoa infectada (escarro +) pode infectar de 10-15 pessoas em média. - Doença paubacilar. Agente etiológico e transmissão O complexo Micobacterium tuberculosis envolve várias bactérias que podem causar a TB. - M. tuberculosis, M. bovis, M. africaum, M. canetti, M. pinnipedi e M. caprae. Sendo a mais frequente a primeira, que é conhecida também como bacilo de Koch (BK). - O M. tuberculosis é fino, pouco curvo e mede de 0,5 a 3 nm. É bacilo álccol-ácido resistente (BAAR), aeróbio, com parede celular rica em lipídios (ácidos micólicos e arabinogalactano), possui baixa permeabilidade, é resistente a muitos antibióticos. - O M. bovis possui forma idêntica ao M. tuberculosis e está presente principalmente nas formas graves de TB, como a ganglionar e extrapulmonares. • Transmissão - Via aérea, de pessoa com TB pulmonar ou laríngea, que elimina bacilos no ambiente através da tosse, fala ou espirro (aerosóis/ gotículas) ⇢ caso fonte. - Bacilífero: pessoa com TB pulmonar ou laríngea com baciloscopia + no escarro. - Pessoas com exames bacteriológicos (cultura ou teste rápido positivos) também pode transmitir. - Quando há cultura de escarro - e TB extrapulmonar ⇢ não transmite. Gotículas exaladas ⇢ gotículas de Pfluger ⇢ tornam-se núcleos de Wells (contém 1 a 2 bacilos) ⇢ conseguem se manter em suspensão no ar por horas ⇢ pode causar primo-infecção. ⇢ Levar em consideração: infectividade do caso fonte, duração do contato e tipo de ambiente partilhado. ⇢ O tratamento reduz a taxa de transmissão em aproximadamente 15 dias. Há importância emrealizar exame de escarro para controle dessa transmissão assim como avaliar a eficácia do tratamento. ⇢ Crianças com TB pulmonar geralmente tem baciloscopia negativa, ou seja, pouca importância na cadeia de transmissão. - Risco de adocimento é fortemente relacionado ao sistema imune da pessoa. - Risco maior até 2 anos após exposição. - Quando o sistema imune contém a infecção, se torna TB latente (ILTB), que pode se reativar, se tornando TB pós-primária (ou secundária). - O adoecimento pelo M. tuberculosis não confere imunidade, ou seja, podem ocorrer recidivas. Página de 1 5 Medicina Ana Catarina Dutra Rebelo Manifestações clínicas - Nas crianças, a forma pulmonar geralmente é abacilífera (negativa ao exame bacteriológico). - As crianças não possuem capacidade de expectorar, dependendo da idade. - Geralmente ocorrem sintomas inespecíficos. - Tríade clássica: redução do apetite + perda de peso + tosse crônica. - Tosse persistente > 2 semanas + piora progressiva. - A ausculta pulmonar pode ser normal ou ter ruído adventício. - A suspeita de TB em crianças surge com diagnóstico de pneumonia sem melhora com o uso de antimicrobianos para microorganismos comuns. - Febre persistente > 38C, geralmente no final da tarde. - Retificação na curva de peso/ estatura. - Anorexia, adinamia, sudorese noturna, hepatoesplenomegalia, linfonodomegalia. - Sinais autolimitados de hiperatividade. - Conjutivite flictenular e eritema nodoso. - Quando criança > 10 anos, se assemelha à TB no adulto. • Tuberculose extrapulmonar - 20% dos casos na infância. - Ganglionar e meníngea são as principais. • Tuberculose perinatal - No recém-nascido. - Pode ser congênita ou no período peri-natal. - Pode haver parto prematuro caso a mãe apresente TB durante a gestação. Diagnóstico - Critérios clínicos e epidemiológicos + teste imunológico não específico de infecção tuberculosa + Raio X de tórax PA e de perfil. - Se diagnosticado TB, pedir teste rápido para HIV. 1) Bacteriológico - Pesquisa de BAAR - Simples e baixo custo - Duas amostras - Indicações: paciente sintomático respiratório, s u s p e i t a c l í n i c a o u r a d i o l ó g i c a , a co m p a n h a m e n to d o tra ta m e n to ou confirmação da cura. 2) Cultura - Padrão ouro para diagnóstico de TB. Quando assoc iada ao tes te de sens ib i l i dade antimicrobiana, permite diagnóstico de TB persistente. - Alta sensibilidade. 3) Teste rápido para TB - TRM-TB - Utiliza técnicas de biologia molecular (PCR) para identificação de DNA. Tosse crônica Febre Perda de peso Sinais autolimitados de hiperatividade: conjutivite e eritema nodoso Sinais/sintomas gerais: anorexia, adinamia, sudorese noturna, hepatoesplenomegalia, linfonodomegalia Redução do apetite Página de 2 5 Medicina Ana Catarina Dutra Rebelo - Baciloscopias de acompanhamento (mensais) são fundamenta is na manutenção do tratamento de TB. - Não serve para controle de cura. ⇢ A baciloscopia direta, cultura e TRM-TB são considerados confirmatórios de TB ativa. 4) Prova tuberculínica (PT) - Sugestiva de infecção por M. tuberculosis, independente do tempo de vacinação com BCG. - Positivo > 5mm (sem BCG, vacinados > 2 anos) e > 10mm (vacinados < 2 anos). - Negativo < 5 mm. - Ocorre quando a pessoa foi infectada pelo M. tuberculosis sem necessariamente indicar doença. - Para diagnóstico deve ser somada a outros critérios clínicos. 5) IGRAs: dosagem sanguínea de interferon gama - Também não é capaz de dar diagnóstico entre infecção ou doença. - Alta especificidade. - Incerto < 5 anos. - Alto custo. ⇢ IGRAs e PT não permitem isoladamente o diagnóstico de TB doença, tem papel de indicar TB infecção. 6) Imagem - Não há imagem patognomônica de TB. - Lesões sugestivas localizam-se geralmente nas partes altas e dorsais dos pulmões, no pulmão direito ou em ambos. - Podem apresentar-se como opacidades, infiltrados, nódulos, cavidades, fibroses, retrações, calcificações, linfadenomegalia, aspecto miliar. ⇢ Quando crianças e adolescentes são negativos à baciloscopia ou TRM-TB não detectado: SISTEMA DE PONTUAÇÃO/ SCORE. - Leva em consideração: dados clínicos + radiológicos + epidemiológicos. Propicia diagnóstico e intervenção precoces. ⇢ Outros métodos diagnósticos: devem ser a s s o c i a d o s a o e x a m e d e c u l t u r a obrigatoriamente. • Lavado gástrico e bronco-alveolar: em crianças menores. Baciloscopia TRM-TB Diagnóstico de casos novos e retratamento Diagnóstico de casos novos Controle do tratamento de TB Pesquisa de resistência à rifampicina - Detecta DNA do complexo M.tuberculosis - Tempo de execução: 2h Página de 3 5 Medicina Ana Catarina Dutra Rebelo • Swab laríngeo. • Teste de escarro induzido: quando possível (a partir de 5 ou 6 anos de idade). • TRM-TB: geralmente em adolescentes, por serem bacilíferos. - A confirmação bacteriológica deve ser sempre tentada, porém não deve atrasar o tratamento. Investigação de ILTB - PT (prova tuberculínica) positiva ⇢ sem sintomas OU IGRA +. Investigação de contatos - Caso índice: paciente inicialmente identificado com TB. é aquele em torno do qual a investigação de contatos é direcionada, embora nem sempre corresponta ao caso fonte (caso infectante). - Caso fonte: é o caso infectante, não necessariamente o primeiro caso identificado. - Contato: é toda pessoa que convive no mesmo ambiente com o caso índice ou fonte (casa, ambiente de trabalho, instituições de longa permanência, escolas). ⇢ Objetivo da investigação: identificar e tratar precocemente novoscasos de TB ativa, para interromper a cadeia de transmissão. ⇢ Identificar e tratar casos com ILTB para prevenir o desenvolvimento para TB ativa. ⇢ Em casos de crianças com TB, identificar o caso fonte, para interromper a cadeia de transmissão. Tratamento Terapêutica inicial - 6 meses com uso de múltiplas drogas. - Instituição rápida do tratamento em crianças com menor idade é imprescindível. - Possibilidade de disseminação rápida da doença, sequelas graves e óbito. - Dosagens recomendadas. Os fármacos para TB são bem toleráveis para a população em geral. Efeitos adversos graves são raros e a maioria transitórios. - A frequência de efeitos tóxicos pode estar relacionada à gravidade da doença. - A hepatotoxicidade é o principal efeito adverso descrito. 1) Tratamento crianças < 10 anos 2) Tratamento > 10 anos FASES DO TRATAMENTO FÁRMACOS 2 meses de RHZ - Rifampicina - Isoniazida - Pirazinamida 4 meses RH - Rifampicina - Isoniazida ESQUEMA DURAÇÃO RHZE 150/75/400/275 mg comprimidos em doses fixas combinadas 2 meses (fase intensiva) RH 150/75 mg comprimidos em doses fixas combinadas 4 meses (fase de manutenção) Página de 4 5 Medicina Ana Catarina Dutra Rebelo • Etambutol: não faz parte do esquema inicial para < 10 anos pelo baixo risco de resistência primária. - Neurite retrobulbar é o efeito tóxico mais g rave d o eta m b u to l , é rever s í ve l s e diagnosticada precocemente. Indicações de tratamento de ILTB ⇢ Tratar apenas crianças sintomáticas, excluir TB ativa. Tratamento e acompanhamento de ILTB • Piridoxina - Associar ao tratamento a vitamina B6 - A isoniazida compete com vitamina B6 (piridoxina) na sua ação como cofator na síntese de neurotransmissores. - Sintomas neurológicos como neuropatia periférica, ataxias e parestesias dependem da dose utilizada do fármaco. TESTE AVALIADO INDICAÇÕES < 10 ANOS PT > 5 mm ou IGRA + Crianças não vacinadas com BCG, vacinadas há 2 anos ou mais, ou com qualquer condição imunossupressora, ou crianças indígenas PT > 10 mm ou IGRA + Crianças vacinadas com BCG há menos de 2 anos Tratamento Dose Tempo Isoniazida 7 a 15 mg/kg até dose máx. de 300 mg/dia 6-9 meses (180-270 doses) Página de 5 5