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Adolescência e sociedade Psicologia do Desenvolvimento: Adolescência Prof.: Bruno Carrasco Sociedade simples e complexa Numa sociedade simples, as exigências feitas aos adolescentes parecem mais uniformes e claramente definidas. Já numa sociedade moderna e mais complexa, as funções de cada um já não são tão nítidas, as tarefas dos adolescentes já não se apresentam de modo tão preciso e claro. Nas grandes cidades há uma superabundância de possibilidades e caminhos dos quais os adolescentes podem experimentar: escolas, faculdades, eventos musicais, cursos técnicos e breves, espaços esportivos, praças e parques, igrejas, pista de skate, entre tantas outras opções. Quanto ao universo de estudo e trabalho há mais uma infinidade de opções de áreas, e cada vez mais estas se multiplicam e novas áreas surgem. Jovem perdido e angustiado Nas sociedades mais complexas é praticamente impossível os pais, na maioria dos casos, orientarem seus filhos para a vida do trabalho e dos adultos, o que antes era possível fazer numa sociedade antiga e rural. Inclusive, os pais muitas vezes desconhecem boa parte das profissões escolhidas por seus filhos, o que gera cada vez mais um distanciamento na família. Neste ambiente, é comum que o jovem se sinta perdido e, até mesmo, angustiado, sem saber bem o que fazer, qual profissão escolher, com quais grupos de amigos se envolver. Trata-se de um momento de angústia, que diante de muitas opções o jovem terá de escolher uma delas. “Olhamos o presente através de um espelho retrovisor. Caminhamos de costas em direção ao futuro.” (McLuhan, em ‘O meio são as massa-gens’) Uma tentativa de caracterização Por conta das distintas maneiras de ser jovem, fica difícil caracterizar o período que se costuma definir como adolescência. Ou seja, de tal a qual idade se define? As primeiras mudanças no padrão da personalidade da criança que se percebia uma certa estabilidade, que pode inclusive ocorrer de maneira violenta por volta dos 12 anos de idade (mais ou menos), costuma ser atribuído como o início do período da adolescência. O desenvolvimento da maturidade deste jovem é um pouco mais complexo, pois dependerá da relação que ele estabelece com seu meio, o modo como os espaços que ele convive entendem essa transição e o modo como ele se relaciona consigo mesmo. Mudanças na imagem do jovem e adulto Nas sociedades ocidentais mais antigas, era comum tomar o filho como maduro quando este podia ajudar de maneira mais independente no trabalho de lavoura. As mudanças sociais promovidas pela industrialização transformaram o conceito de adulto, associando o adulto a uma imagem e uma postura específica, o que nem sempre representa a maturidade ou o desenvolvimento deste. Quando um jovem se veste com terno e gravata , utiliza uma fala mais formal e se coloca numa postura específica de adulto, será que isso o torna adulto? Obviamente que não, mas é o que a mídia nos mostra, e assim acabamos nos enganando, confundindo maturidade psíquica com aparência. Roupagem X emoções Os trajes, o uso de cosméticos e cuidados com o corpo dão a impressão que os jovens se tornam adultos mais cedo, mas isso não quer dizer que sejam pessoas maduras. Há uma grande diferença entre a maturidade interior e a aparência exterior, entre o desenvolvimento físico e o desenvolvimento cognitivo e emocional. Muitas das dificuldades que encontramos hoje para entender a juventude decorre da profundas mudanças sociais e pelo desenvolvimento da tecnologia. É difícil hoje dizer que a adolescência é um período entre a infância e o ingresso do jovem na vida dos adultos, pois os modos de vida estão se transformando e não é fácil definir o que é o adulto na atualidade, pois novas formas de ser adulto surgem. Jovens e adultos Uma coisa é desejar se sentir aceito numa sociedade, outra coisa é a maturidade emocional, o desenvolvimento e a independência pessoal. Há muitos jovens que aparentam ser adultos, mas experimentam internamente uma vida muito mais infantil do que adulta, assim como há alguns adultos ou idosos que se apresentam como “jovens”, podendo aparentar algum tipo de imaturidade, mas que internamente experimentam muito mais maturidade e liberdade para se apresentarem e se vestirem como se sentem bem. Por conta disso, fica difícil estabelecer um critério que diferencie a adolescência da vida adulta pelo modo como se vestem e se comportam. Ideias estereotipadas sobre os adolescentes As ideias estereotipadas sobre os adolescentes costumam surgir e se generalizar por conta da irresponsabilidade, da intolerância, da instabilidade emocional e da imprevisibilidade observadas em alguns adolescentes em determinados ambientes socioeconômicos e culturais. Em outros contextos a adolescência é marcada pelo trabalho, pela disciplina e pela responsabilidade do sustento da família. Hoje há diversidade de experiências na fase da adolescência, de acordo com as condições sociais e culturais existentes. Em cada contexto, a adolescência está associada a diferentes condições de inserção ou exclusão social e guarda diferentes formas de ser e estar no mundo, que devem ser identificadas e compreendidas por todos. Senso de identidade Muitas vezes, o mal-estar sentido pelo adolescente pode ser acentuado por causa da inadequação entre as características físicas do seu corpo e os padrões de beleza reconhecidos na cultura ou impostos pela mídia e pela sociedade em geral. A maneira como os adolescentes se veem e são vistos interfere na sua autoimagem e autoestima. Assim, uma parte do processo psicológico da adolescência a aceitação do novo corpo e sua incorporação à autoimagem, de forma integrada e organizada. A reconstrução da autoimagem corporal é uma dimensão importante da construção da identidade do adolescente. Mudança na relação com os pais A mudança psicológica mais importante do adolescente em nossa sociedade é tornar-se independente dos pais. Na adolescência a pessoa assume valores próprios, numa perspectiva mais autônoma. Separar-se dos pais não exige necessariamente a separação física, mas emocional. Separar-se, nesse nível, é poder pensar de modo diferente da família, rever suas visões de mundo, considerar outras opções de futuro. Tal separação é importante para dar ao adolescente os meios necessários para assumir as próprias posições, seus desejos e projetos, ainda que ultrapassem o que foi projetado originalmente pelos pais. Crise dos pais Durante o período da adolescência, podem existir crises como resultado da rejeição da autoridade dos pais, dos conflitos entre gerações e da crítica dos valores e modos de vida da família do adolescente. No entanto, sabemos que essa crise não atinge apenas o adolescente. Na mesma fase do ciclo de vida familiar em que os filhos chegam à adolescência, muitos pais costumam chegar a meia-idade, acumulam mais responsabilidades no trabalho e passam a ter várias exigências do grupo familiar. É a fase em que reavaliam suas realizações, ressentem-se dos projetos adiados e das próprias frustrações. Nesse sentido, os conflitos que acontecem se originam de questões pessoais próprias, e não apenas como efeito da crise adolescente. Aspectos sociais e afetivos O grupo formado pelos amigos e colegas de escola da mesma idade passa a assumir, na adolescência, um significado diferenciado do que tinha na infância. O adolescente se aproxima e se vincula àqueles com os quais ele se identifica, a partir de critérios e valores que não necessariamente são os mesmos da família. Esses valores contribuem para que o grupo de pares de idade passe a ter grande importância em diferentes dimensões da vida do adolescente. A importância dos pares se traduz no sentimento de lealdade ao grupo, na intimidade entre seus membros, no compartilhamento de segredos, na adesão de cada um à imagem visual do grupo e na forma de expressar comportamentos, como rebeldia, transgressão, uso de drogas, etc. Relaçãocom grupos Esses comportamentos são assumidos pelo adolescente no contexto coletivo, em nome da unidade do grupo, ainda que não seja a orientação individual. Além da importância do grupo nos processos de socialização do adolescente, tendo um papel fundamental na orientação dos vínculos afetivos e sexuais. É na adolescência que as relações entre os gêneros mudam de significado em relação à infância. Isso ocorre por conta da relação sexual e erótica dos afetos, que vem em decorrência da maturação sexual. É comum ocorrer a separação do grupo na transição para a vida adulta. Diante das demandas dos novos papéis sociais assumidos por adultos, o grupo acaba perdendo seu significado. Adolescência na contemporaneidade Contemporaneidade é um termo que indica o período histórico iniciado na segunda metade do século XX, marcado mundialmente pelas mudanças na esfera política e econômica, marcado pelos contrastes econômicos, dependência entre países em desenvolvimento e aqueles que detêm o capitalismo central, incertezas, desemprego e de pobreza etc. A contemporaneidade traz também profundas mudanças na estrutura familiar. Um bom exemplo delas é a crescente inserção da mulher no mercado de trabalho. Com isso, muitas vezes, as mulheres trabalham em dupla jornada (em casa e nos empregos), resultando em novas formas de distribuição de responsabilidades domésticas e familiares entre o casal frente às necessidades dos filhos. Novas formas de família e aproximação Além disso, há também novas configurações familiares, em situações como o divórcio, o recasamento, as uniões homoafetivas e outras composições que caracterizam as famílias nos dias atuais. Considera-se que essas novas formas de vida têm impacto sobre os lares e os filhos que neles vivem: pode-se prever o maior desenvolvimento da autonomia dos filhos, assim como a promoção de relações humanas mais respeitosas diante do convívio cotidiano e íntimo com a diversidade. A diminuição do tempo compartilhado entre pais e filhos não se deve exclusivamente aos pais, é também causada por uma característica da adolescência. TV, celular e “games” Por fim, outro fator da contemporaneidade a ser pensado é a exposição intensa à TV, ao smartphone e aos games, que afeta a formação do pensamento das crianças e dos adolescentes na medida em que esses aparelhos representam, ao mesmo tempo, um cuidador (uma "babá eletrônica"), um antídoto contra a solidão e uma importante alternativa de lazer. O número elevado de horas de exposição à TV e aos jogos eletrônicos contribui para inserir crianças e adolescentes em cadeias de consumo, por meio das propagandas e da “pedagogia” inscrita no formato e nos conteúdos da programação infanto-juvenil. Referências Bibliográficas SANDSTRÖM, C. I. A psicologia da infância e da adolescência. 7. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1980. LOPES DE OLIVEIRA, M. C. S. O adolescente em desenvolvimento e a contemporaneidade. Em Curso de prevenção do uso indevido de drogas para educadores de escolas públicas. Brasília: MEC/SENAD/UnB. 2004. Por: Bruno Carrasco Professor de filosofia e psicologia, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e em pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia e em psicologia existencial humanista e fenomenológica, pós-graduando em aconselhamento filosófico. www.brunodevir.blogspot.com www.instagram.com/brunodevir www.fb.com/brunodevir http://www.brunodevir.blogspot.com http://www.instagram.com/brunodevir http://www.fb.com/brunodevir
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