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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE ENFERMAGEM A PERCEPÇÃO DE ENFERMEIROS FRENTE ÀS TECNOLOGIAS DURAS E O CUIDADO HUMANIZADO EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA BOA VISTA-RR 2016 MARIA JANAINA NOGUEIRA CRUZ A PERCEPÇÃO DE ENFERMEIROS FRENTE ÀS TECNOLOGIAS DURAS E O CUIDADO HUMANIZADO EM UTI Monografia apresentada como requisito para obtenção do título de bacharel em enfermagem, do curso de enfermagem da Universidade Federal de Roraima. Orientador: Me. Fabrício Barreto BOA VISTA-RR 2016 AGRADECIMENTOS Ao finalizar essa etapa da minha formação profissional gostaria de agradecer em primeiro lugar а Deus qυе iluminou о mеυ caminho durante esta caminhada. Aos meus pais, Neide Nogueira Cruz e Francisco Alves Cruz, pelo apoio, incentivo e amor incondicional, e por sempre estar acreditando em mim. Aos meus irmãos, Douglas e Lucas pelo amor fraterno que nos une, obrigada pela amizade, torcida, e solidariedade, em todos os momentos. Ao meu orientador Fabrício Barreto pela atenção, apoio e estímulo e a sua esposa a professora Tarcia Millene de Almeida Costa Barreto, pelos ensinamentos, e a motivação para superar meus limites, durante todo o processo de criação e elaboração deste trabalho. A todos os demais professores por compartilhar as suas experiências e seus ensinamentos, os quais contribuíram para o meu crescimento profissional e pessoal. Aos colegas companheiros nessa experiência, pela solidariedade nos bons e maus momentos. Aos sujeitos da pesquisa, pela contribuição, obrigada pela confiança e atenção. A todas as demais pessoas que estiveram ao meu lado nessa trajetória da minha formação, o meu reconhecimento e meu sincero obrigada pelo encorajamento e apoio nessa jornada. “Sonhos determinam o que você quer. Ação determina o que você conquista”. (Aldo Novak) RESUMO No atual contexto que a terapia intensiva esta inserida de pleno desenvolvimento tecnológico, discutir e construir mudanças para contemplar a humanização no cuidado integral do usuário, se torna imprescindível no sistema de saúde e na atuação dos profissionais de enfermagem. Esse estudo tem como objetivo: Identificar a percepção de enfermeiros frente às tecnologias duras e o cuidado humanizado em UTI. E como objetivos específicos: Descrever as concepções dos enfermeiros sobre assistência de enfermagem humanizada em UTI; Identificar como as tecnologias duras influenciam no cuidado humanizado em UTI. Para tanto, foi realizado um estudo exploratório descritivo, qualitativo em uma UTI para adultos de um hospital publico no município de Boa Vista. Participaram deste estudo 6 enfermeiros com atuação de mais de um ano na unidade. Os dados foram coletados por meio de entrevista individual semiestruturada, gravada em mídia digital. O tratamento do material coletado baseou-se na modalidade temática da análise de conteúdo, do qual emergiram quatros categorias: “O conceito de humanização”, “Ações humanizadas realizadas”, “A capacitação no serviço”, “A tecnologia dura como instrumento essencial de trabalho e a humanização”. Essas categorias apontam a concepção dos sujeitos quanto à temática da humanização da assistência de enfermagem e quanto o uso das tecnologias duras utilizadas na pratica profissional e sua relação com a humanização. Para instituir uma assistência humanizada aos pacientes internados são necessárias estratégias para desenvolver saberes elementares e fortalecer os já existentes, podemos chegar a conclusão que nem todos os profissionais estão completamente preparados para que a assistência humanizada em UTI se concretize. Para tornar o cuidado humanizado em UTI, não basta investir somente na eficiência de aparelhos tecnológicos, o investimento no profissional, e também valorizar e incentivar a humanização pelos gestores se torna um dos aspectos essências para a construção de mudanças quando o assunto é humanização na assistência. Palavras-chave: Humanização; Enfermagem; UTI, Tecnologias. SUMMARY In the current context that intensive therapy is inserted full technological development, discuss and build changes to contemplate the humanization in full user care becomes essential in the health system and the role of nursing professionals. This study aims to: identify the perception of nurses in the face of hard technologies and humanized care in the ICU. And as specific objectives: to describe the views of nurses on humanized nursing care in ICUs; Identifying how hard technologies influence the humanized care in the ICU. Thus, a descriptive exploratory study, qualitative in an ICU for adults of a public hospital in the city of Boa Vista was performed. The study included six nurses with more than a year in unit performance. Data were collected through semi-structured individual interviews, recorded on digital media. The treatment of the material collected was based on thematic modality of content analysis, which emerged four categories: "The concept of humanization", "humanized actions taken", "The training in service", "Hard technology as an essential tool for work and humanization ". These categories indicate the design of the subject as the theme of humanization of nursing care and the use of hard technologies used in professional practice and its relationship to the humanization. To institute a humanized assistance to inpatients strategies are needed to develop basic knowledge and strengthen existing ones, we can reach the conclusion that not all professionals are fully prepared for the humanized care in ICUs are made. To make humanized care in the ICU, not just invest only in the efficiency of technological devices, investment in professional and also value and encourage the humanization of managers becomes one of the aspects essences for building changes when it comes to humanization of assistance. Keywords: Humanization; Nursing; ICU Technologies SUMARIO 1 INTRODUÇÃO 4 1.1 Apresentação do tema e contextualização do problema 4 1.2 Objetivos 6 1.2.1 Objetivo geral 6 1.2.2 Objetivos específicos 6 1.3 Justificativa 7 2 REFERENCIAL TEMÁTICO 8 2.1 O histórico da UTI a evolução tecnológica e a enfermagem 8 2.2 A humanização na assistência de enfermagem em UTI 11 3 METODOLOGIA 14 3.1 Tipo de estudo 14 3.2 Local do Estudo 14 3.3 População e amostra 14 3.4 Procedimentos de coleta de dados 15 3.5 Análise dos dados 15 3.6 Aspectos éticos e legais 16 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 18 4.1 O conceito de humanização 19 4.2 Ações realizadas para a humanização 24 4.3 A capacitação no serviço 28 4.4 A tecnologia dura como instrumento essencial de trabalho e a humanização 31 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 35 6 REFERENCIAS 37 7 APÊNDICE 43 Apêndice A – instrumento para coleta de dados 43 Apêndice B - Termo de consentimento livre e esclarecido 45 8 ANEXOS 48 Anexo A- Aprovação do comitê de ética da Universidade Federal de Roraima 48 Anexo B- Aprovação da instituição 51 4 1 INTRODUÇÃO 1.1 Apresentação do tema e contextualização do problema Com o objetivo de proporcionar assistência médica e de enfermagem contínua e especializada ao atendimento de pacientes em estado critico considerados recuperáveis, as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) surgiram a partir da necessidade de centralizar esses pacientes, concentrar recursos materiais e humanos especializados devido à necessidade de observação constantes quenecessitam estes pacientes graves (VILA, ROSSI, 2002). A utilização de tecnologias nas UTIs possibilitou as equipes de enfermagem e médica intervir e manter ,prontamente, o controle do quadro clínico dos pacientes com alterações importantes, através de recursos tecnológicos como as máquinas de multiparâmetros, bombas infusoras, respiradores, alarmes sonoros e visuais entre outros equipamentos, considerados como imprescindíveis para o processo de trabalho. Levando as UTIs ao posto de espaço dentro de uma unidade hospitalar com a maior concentração de tecnologias principalmente as tecnologias duras (OLIVEIRA, SOUZA, 2012). Essa utilização das tecnologias duras na assistência ao paciente crítico tem levantado diversos questionamentos, desde o ponto de sua eficiência, sua indicação e de uma possível causadora de iatrogênia, nos pacientes, além do favorecimento do distanciamento do profissional com as praticas humanizadas na assistência a esse paciente, isso levanta a necessidade por parte dos profissionais da reflexão sobre a humanização nas UTIs (LOURO, LIRA, MOURA, 2011). Essa reflexão é indispensável devido, a rotina complexa das UTIs, que torna por muitas vezes o aspecto humano da assistência de enfermagem um dos mais difíceis de ser implantado e por vezes o tocar, o ouvir, o conversar se torne uma tarefa esquecida, contra o sistema tecnológico dominante (VILA, ROSSI, 2002). Apesar de uma tarefa complexa, humanizar a UTI trata-se de uma responsabilidade de todos que compõe a equipe. A humanização pode ser entendida como a valorização dos sujeitos que compõem o processo na produção de saúde, ou seja, os usuários, trabalhadores e gestores (BRASIL, 2006). 5 A humanização também pode ser entendida como a preservação da dignidade humana de forma a atender o paciente em suas singularidade e necessidades evitando a perda de sua autonomia (FORTES, 2004). Observa- se uma necessidade por parte dos profissionais de enfermagem permanecer atentos às inovações tecnológicas pertinentes a sua prática, que visem o benefício da profissão e o cuidado ao paciente, além da concepção que o uso das tecnologias deve estar atrelado à humanização e que essas tecnologias utilizadas na pratica profissional não pode ser maior do que o ser humano (BAGGIO, ERDMANN, SASSO, 2010). Na atualidade o desenvolvimento e aperfeiçoamento tecnológico têm alcançado níveis jamais imaginados, a forma que a utilizamos é que determinará o seu possível beneficio ou malefício na assistência ao paciente, de modo geral a tecnologia para ser utilizada para melhorar a qualidade de vida deve ser usada de forma criativa e humana (CAETANO, 2007). A tecnologia pode ser observada em todos os campos da área de saúde e nos hospitais, principalmente nas UTIs, considerada um setor altamente tecnológico, integrar o cuidado humanizado e as tecnologias se torna um desafio para os profissionais de enfermagem. Este trabalho tem como principal propósito refletir, discutir e construir mudanças para contemplar a humanização na assistência. 6 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo geral Identificar a percepção de enfermeiros de UTI frente às tecnologias duras e o cuidado humanizado em UTI adulto. 1.2.2 Objetivos específicos Descrever as concepções dos enfermeiros sobre assistência de enfermagem humanizada em UTI; Identificar como as tecnologias duras influenciam no cuidado humanizado em UTI. 7 1.3 Justificativa O interesse por esse estudo surgiu a partir da vivencia enquanto acadêmica de enfermagem no âmbito hospitalar, após a observação da fragilidade do paciente, dos familiares e também do profissional quando inseridos em um ambiente hospitalar, principalmente no ambiente com alta concentração tecnológica como as unidades de terapia intensiva, na qual a humanização por vezes se torna invisível em comparação a importância que a tecnologia passa a ter nesse ambiente. Ao partir dessa observação e após uma busca na literatura, cheguei a conclusão que processo de humanização no ambiente de terapia intensiva é um dos maiores debates e preocupações na atualidade, pois à medida que as novas tecnologias têm sido incorporadas às UTIs não se tem observado que a qualidade do cuidado integral ao ser humano tem acompanhado o mesmo curso de evolução, constata se que a humanização tem se tornado uma tarefa desafiadora e urgente. Observa-se que o sucesso no atendimento ao paciente da unidade crítica está intimamente relacionada com as tecnologias de ponta sem prejuízos à assistência humanizada que na atualidade se faz necessária à reflexão das práticas cotidianas que valorize a dignidade do paciente prestando um atendimento que atenda suas necessidades individuais e de seus familiares. Nesse contexto o desenvolvimento de pesquisas que contemplem a assistência de enfermagem e o processo de humanizar nos ambientes hospitalares com alta influência tecnológica que são as UTIs, se torna significativo e de relevância não só para a categoria profissional dos enfermeiros no que se refere ao desenvolvimento de pensamentos críticos e reflexivos sobre a temática, mas para uma possível questão norteadora para a atuação de gestores e que esse debate possa trazer benefícios a sociedade. 8 2 REFERENCIAL TEMÁTICO 2.1 O histórico da UTI a evolução tecnológica e a enfermagem A origem da necessidade da tecnologia, profissionais especializados e do cuidado humanizado e contínuo na UIT, surgiu durante a guerra da Criméia em 1854, quando Florence Nightingale, dedicou-se ao tratamento de soldados feridos através da triagem entre os mais graves e menos feridos (FERRARI, 2012). Porém, foi só na década de 1950 com a evolução tecnológica na área da saúde a partir da instrumentalização da assistência através do uso do Raio X para o diagnóstico, antibioticoterapia, suporte de oxigênio inicialmente não invasivo e em seguida invasiva, além do uso de sonda gástrica para alimentação e hidratação, que nas UTIs são conhecidas atualmente, tiverem sua origem, lembrando que a inovação introduzida por Florence Nightingale permaneceu na como característica dessa unidade ou seja a intervenção baseada na observação contínua (CHEREGATTE, JERONIMO 2011). Na década de 1970 com o objetivo de prestar assistência ligada à tecnologia o conceito de UTI foi implantado pela primeira vez no Brasil sendo o Hospital Sírio Libanês (SP) inicialmente citado como CTI (Centro de Terapia Intensiva) composto por 10 leitos. Atualmente, a UTI é dotada de tecnologia atualizada, máquinas sofisticadas, ou seja, tecnologias duras, profissionais especializados, métodos e recursos técnicos, área física, modernos e tem como filosofia propiciar ao paciente crítico o bem e sobrevida (AMORIM et al, 2003). A UTI é conceituada como uma área crítica, na qual presta assistência qualificada, é destinada a internação de pacientes graves ou em risco que exijam assistência médica e de enfermagem de forma especializada e contínua, além de agrupar tecnologias e instrumentos específicos necessários para realizar o diagnóstico, monitorização e terapia destes pacientes em estado crítico, a união de todos esses elementos é capaz de tornar a assistência prestada na UTI mais eficiente e proporcionar a redução de óbitos (ANVISA, 2010; CAETANO, 2007). A UTI é considerada totalmente diferente das demais unidades de internação hospitalar, sobretudo, do ambiente residencial do paciente e de seus familiares. A assistência ainda é orientada pelo modelo biomédico, na qual a atenção esta voltada para a patologia e para os procedimentos técnicos, em detrimento, dos receios, 9 sentimentos do paciente de seus familiares e da forma como enfrentam a situação que estão vivenciando (SILVA, SANCHES, CARVALHO, 2007). Para Martins (2000), a UTI é considerada um dosambientes mais frios, traumatizantes e agressivos de uma unidade hospitalar, pela ótica dos pacientes, familiares e também pelos profissionais, esta visão esta muito relacionada aos procedimentos técnicos que os pacientes são submetidos e equipamentos tecnológicos pertencentes nessa unidade e da constate presença do temor da morte do sofrimento e da incerteza. É preciso destacar que a maior contribuição para a melhoria da assistência nas unidades críticas em especial a de terapia intensiva, que podem ser observadas ao decorrer das décadas e atualmente foi o desenvolvimento e a modernização das tecnologias em saúde (CAETANO, 2007). . De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) as tecnologias em saúde tem o objetivo de melhorar a qualidade de vida promovendo saúde, prevenindo e tratando doenças além de reabilitar pessoas, isso através de um conjunto de aparatos (OMS, 2015). Esses aparatos são mencionados na Portaria Nº 2.510/GM de 19 de dezembro de 2005, considerando as tecnologias em saúde como: medicamentos, materiais, equipamentos e procedimentos, sistemas organizacionais, educacionais, de informações e de suporte, e programas e protocolos assistenciais, por meio dos quais a atenção e os cuidados com a saúde são prestados à população (BRASIL, 2005). Geralmente o termo tecnologia é utilizado equivocadamente para referir máquinas e equipamentos de ponta, na terapia intensiva costuma ser referida de forma muito parecida e a tecnologia passa a ser reconhecida como a espinha dorsal dessas unidades. É preciso ter o entendimento que as tecnologias vão muito além das máquinas, na saúde elas recebem classificações como: duras, leve-duras, e leves, quando se fala de tecnologias duras, podemos identificar as máquinas e equipamentos; as leves-duras podem ser definidas como o saber estruturado são elas as normas , teorias, processo de enfermagem; a tecnologias leves pode ser definidas como necessária para implementação do cuidado, isso se dá através de relações estabelecidas como o acolhimento e o vínculo (JOVENTINO et al, 2011; SILVA, PORTO, FIGUEIREDO, 2008). 10 Quando se trata de uma UTI as tecnologias duras são todos os equipamentos como: máquinas, bombas de infusão, monitores, camas eletroeletrônicas, ventiladores mecânicos ou microprocessados que são utilizados para o tratamento, diagnóstico e assistência ao pacientes internados nesta unidade (SILVA, LOURO, 2010). Segundo Coelho (1999) a apropriação de tecnologias, em particular aquelas entendidas como duras, é considerada como fundamental para cuidar e assistir, pois elas contribuem para a ampliação da capacidade natural de sentir, embora exija da enfermagem um alto grau de qualificação profissional. Silva, Louro (2010) pontua que atualmente os profissionais de enfermagem além da necessidade de controle do ambiente da unidade de terapia intensiva, precisam conviver e aprender a dividir espaços nestas unidades, com outros profissionais, pacientes e familiares, mas principalmente com os equipamentos tecnológicos característicos desta unidade, os aparatos tecnológicos que podem ser pontuados como um segundo paciente, pois assim como estes, as máquinas precisam ser assistidas, cuidadas e tocadas para que se possa extrair delas o melhor desempenho possível. Exigindo dos profissionais de saúde, novas formas de pensar o cuidado, novas habilidades e destrezas, para o tratamento de seus pacientes, familiares e todas as outras relações que se estabelecem no cotidiano de cuidar quando humanos e máquinas se descobrem envolvidos. No contexto atual, o cuidado em terapia intensiva, mais do que no passado, tem sido balizado pela incorporação/utilização de novas tecnologias, abrindo novos horizontes e novas perspectivas para a melhoria da qualidade do trabalho/assistência e de vida dos sujeitos que cuidam e daqueles que são cuidados (SILVA, PORTO, FIGUEIREDO, 2008). Pensar no impacto das tecnologias duras na prática de enfermagem necessita compreender que é essencial um equilíbrio entre estas tecnologias e a atuação verdadeira do enfermeiro, assegurando o papel desses profissionais no cuidado ao doente crítico. Assim, o que determina se uma tecnologia desumaniza o cuidado de enfermagem não é a tecnologia por si só, mas, principalmente, sua forma de influenciar os indivíduos e os significados atribuídos às definições do que é humano, dentro de cada cultura (SCHWONKE et al, 2011). 11 2.2 A humanização na assistência de enfermagem em UTI Atualmente diversos pesquisadores têm apresentado, preocupações acerca da necessidade de combinar as tecnologias duras com as leves como um meio de integrar a tecnologia com a humanização no cuidado ao paciente assim evidenciando e preservando a essência do processo de trabalho de enfermagem (SALVADOR et al. 2012). Tematizar a humanização da assistência abre, assim, questões fundamentais que podem orientar a construção das políticas em saúde. Humanizar é, então, ofertar atendimento de qualidade articulando os avanços tecnológicos com acolhimento, com melhoria dos ambientes de cuidado e das condições de trabalho dos profissionais (BRASIL, 2004). Segundo Marques, Souza, (2010) a humanização representa um conjunto de iniciativas que visam a produção de cuidados em saúde, capazes de conciliar a melhor tecnologia disponível com promoção de acolhimento, respeito ético e cultural do paciente, espaços de trabalho favoráveis ao bom exercício técnico e a satisfação dos profissionais de saúde e usuários. A fim de mudar o significado cultural da UTI, ou seja, iminente morte para os pacientes internados, os profissionais que atuam na UTI, em especial os enfermeiros, devem ser pautados em condutas que busquem a humanização e essas condutas se iniciam com a preocupação, precaução, responsabilidade, e compromisso ético em educar o paciente e os seus familiares. A UTI disponibiliza atendimento especializado através de uma equipe especializada e multidisciplinar e equipamentos de ponta que oferecem tratamento, diagnóstico e cuidados de alta precisão, possibilitando grande resolutividade e diminuindo riscos (BERTTINELLE; ERDMANN, 2009). O enfermeiro em uma UTI tem diversas atribuições, visto que o local é permeado de situações críticas e cuidados técnicos complexos, responsável por gerenciar recursos humanos e materiais, prestar assistência ao paciente e sua família, oferecer suporte emocional nas situações delicadas. Tornando-se um dos atores fundamentais para a humanização na UTI, essa realidade gera discussões entre órgãos envolvidos e profissionais de saúde envolvidos, pois observa se uma 12 dificuldade de atender o paciente com assistência de qualidade e humanizada (SOARES, REIS, SOARES, 2014). Para Bandim et al. (2005), a enfermagem tem se afastado gradualmente do cuidado, muito relacionado a modernização e ao avanço tecnológico, o enfermeiro passou a assumir cada vez mais encargos administrativos e burocráticos, sendo necessário resgatar os valores humanísticos da profissão. Ao discutir a humanização na atenção hospitalar e sendo mais específico na UTI, surgem desafios prioridades potencialidades de fragilidades. Isso, pois são unidades preparadas para o atendimento de pacientes críticos ou com potencial crítico, a fim de aumentar as chances de sobrevida de cada paciente a assistência deve ser pautada na qualidade e na humanização dessa assistência (REIS, SENA, FERNANDES, 2016). Assim no ano 2000 com o objetivo de aprimorar a relação entre profissional e usuário, o Ministério da Saúde, implantou o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), a partir da grande discussão sobre a temática e da insatisfação dos usuários relacionado aos profissionais de saúde, essas queixas eram referentes desde a falta de habilidade de profissionais quantoaos cuidados assistenciais e suas demandas até maus tratos dentro do ambiente hospitalar (BRASIL, 2004). O PNHAH foi criado, configurando-se como uma possibilidade de aproximar as relações entre usuários familiares, profissionais e gestores, ou seja, promover uma mudança de cultura no atendimento na área hospitalar. Em 2003, o Ministério da Saúde definiu diversas áreas prioritárias para atuação, sendo uma delas a Humanização do Sistema Único de Saúde (SUS). O Programa de Humanização passou a ser subordinado à Secretaria Executiva do Ministério, sendo então no ano de 2004, o Ministério da Saúde avança, e publica a Política Nacional de Humanização em Saúde no Brasil (PNH) (FERREIRA, 2011). Para Brasil (2004). A humanização se define como: “ Aumentar o grau de co-responsabilidade dos diferentes atores que constituem a rede SUS, na produção da saúde, implica mudança na cultura da atenção dos usuários e da gestão dos processos de trabalho. Tomar a saúde como valor de uso é ter como padrão na atenção o vínculo com os usuários, é garantir os direitos dos usuários e seus familiares, é estimular que eles 13 se coloquem como atores do sistema de saúde por meio de sua ação de controle social, mas é também ter melhores condições para que os profissionais efetuem seu trabalho de modo digno e criador de novas ações e que possam participar como co- gestores de seu processo de trabalho”. O PNH destaca a importância entre o fator humano e a união com as tecnologias, para a melhoria da qualidade da assistência embora o fator humano seja considerado como o ponto mais estratégico (DESLANDES, 2004). A Política de Humanização têm o propósito de amenizar os efeitos negativos dos pacientes e familiares sejam eles, emocionais físicos, ou sociais na internação dos usuários promovendo e garantindo o respeito e a cidadania dos indivíduos (MOREIRA et al. 2015). Reis, Sena, Fernandes (2016), apontam, como benefícios da implantação da política de humanização nas UTI, a redução no tempo de internação do paciente, melhoras no processo de recuperação, o paciente sente se melhor assistido e estimulado para lutar por sua saúde, os profissionais faltam menos e aumenta a sensação de bem-estar entre profissionais pacientes e seus familiares, com todas essas melhorias também se observa uma redução das despesas da instituição. Martins (2000) percebe a humanização em saúde como um processo amplo, complexo e demorado. Podem aparecer resistências, pois os padrões já conhecidos são percebidos como mais seguros. Cada equipe ou organização e todos os profissionais envolvidos, passam por processos de humanização singular, pois se não for singular não será de humanização. Quanto à enfermagem, ela deve atuar em conjunto com a equipe multidisciplinar com o intuito de proporcionar uma assistência em um ambiente propício a recuperação do paciente, desta forma proporcionar a mudança na assistência à saúde proposto pelo programa de humanização e tão discutido na atualidade (CHEREGATTI, AMORIM, 2010). 14 3 METODOLOGIA 3.1 Tipo de estudo Trata-se de um estudo exploratório descritivo, qualitativo sobre a percepção de enfermeiros frente as tecnologias duras e o cuidado humanizado em UTI, desenvolvida com enfermeiros atuantes em UTI adulto,de um hospital geral no município de Boa Vista RR. Estudo foca na observação e investigação de um nível de realidade que não pode ser quantificada, pois se ocupa de um universo de significados, crenças, valores e atitudes que correspondem a um espaço mais profundo das relações e dos fenômenos que “não podem ser reduzidos à operacionalização das variáveis” (MINAYO, 2004). 3.2 Local do Estudo O estudo foi desenvolvido em um hospital geral de grande porte, referência para a população da capital do estado de Roraima, bem como do interior do estado, áreas indígenas e países fronteiriços. O hospital em questão conta com duas unidades de terapia intensiva, cada uma com 10 leitos totalizando 20 leitos de UTI adulto. A UTI é composta por equipe multidisciplinar entre os profissionais estão médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, fisioterapeutas, psicólogos, dentre outros profissionais. 3.3 População e amostra A população deste estudo compreendem os enfermeiros atuantes na UTI adulto do referido hospital. A amostra foi por conveniência e não se baseia no critério numérico para garantir sua representatividade (MINAYO, 2004). A amostragem foi feita por saturação que designa o momento em que o acréscimo de dados e informações em uma pesquisa não altera a compreensão do fenômeno estudado. É um critério que permite estabelecer a validade de um conjunto de observações (THIRY-CHERQUES, 2009). Foram incluídos no estudo os enfermeiros atuantes nas UTI adulto do hospital 15 em questão que estiverem atuando no setor a mais de 1(um) ano, independente do sexo e idade. Foram excluídos os profissionais que não estiverem presentes no período da coleta de dados por qualquer motivo (férias, afastamentos, licenças médicas entre outros). 3.4 Procedimentos de coleta de dados A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista individual, em um local reservado dentro da própria UTI, no período da manhã e tarde e noite. Para Minayo (2004), além de ser o procedimento mais usado em campo, é através da entrevista que o pesquisador obtém informações contidas na fala dos atores sociais. A entrevista seguiu um roteiro semi-estruturado (APÊNDICE A) apresentado aos enfermeiros, as questões serão formuladas para tentar extrair dos sujeitos suas percepções quanto a dificuldades e facilidades no uso de tecnologias duras; suas concepções à respeito da humanização na sua prática e os conhecimentos por eles considerados como necessários à humanização da assistência na UTI, sua forma de agir humanizado diante das adversidades presentes no contexto da terapia intensiva. Primeiramente, os enfermeiros foram informados dos objetivos dessa pesquisa e deverão assinar o termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO A) para participarem da mesma. Os dados foram coletados por um gravador de voz digital, e posteriormente ser transferidos para um computador, onde foram transcritos e analisados manualmente. Após, foram armazenados em CD-RW, onde serão guardados por pela pesquisadora, quando, após a analise, foram então destruídos. Para obtenção das informações coletadas nas entrevistas, utilizou-se além de um gravador de voz digital um diário de campo para notações, no qual foram registradas algumas questões norteadoras que guiaram na direção do objetivo da pesquisa. 3.5 Análise dos dados Para a análise dos dados, utilizar-se a Análise de Conteúdo proposta por Minayo (2004), cujos passos para a realização são descritos a seguir: 16 Pré-Análise: organização do material a ser analisado, de acordo com os objetivos, definindo as unidades de registro, os trechos significativos e a categorização das informações coletadas. Exploração do material: realizada através da observação dos dados e compreensão dos registros, na qual foram feitos recortes do texto que puderam ser palavras ou frases que responderam aos objetivos do estudo. Esses recortes levarão a elaboração de categorias e subcategorias de análise. Tratamento e interpretação dos dados: nessa etapa, foi estabelecida a articulação entre as informações coletadas e as referências teóricas, com o objetivo de responder às questões da pesquisa. 3.6 Aspectos éticos e legais Em atendimento a Resolução n° 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde - CNS/MS, e com suas complementares relativas à Ética em Pesquisa envolvendo seres humanos, o projeto de pesquisa foi aprovado no Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Roraima com onúmero do Parecer: 1.669.463 / 2016. A coleta dos dados foram realizadas após aprovação do estudo pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Roraima. Sendo assegurada a privacidade das informações deste estudo. Após esclarecidos sobre a pesquisa, os entrevistados assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, (ANEXO A) elaborado pela pesquisadora. Os dados obtidos pela pesquisa tiveram como finalidade o trabalho de conclusão do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Roraima. Conforme Goldim, (2000, p.112) na realização de trabalhos com a participação de pessoas “deve ser dada a garantia formal da preservação da identidade das pessoas pesquisadas quando da divulgação”. Os participantes terão suas identidades preservadas. Para tanto os participantes foram identificados através das três primeiras letras de enfermeiro (ENF) seguido pelo numero arábico de (1 a 6), como exemplo a seguir: ENF1, ENF2, ENF3. 17 Esta pesquisa teve como objetivo não causar desconforto ou atribuir risco aos participantes que aceitaram participar da mesma, entre os riscos conhecidos ao participar deste estudo esteve a possibilidade de provocar um desconforto pelo tempo exigido para a realização da pesquisa, o participante teve a total autonomia para não responder a qualquer pergunta, se sentisse que ela fosse muito pessoal ou sentisse desconforto em falar, bem como encerrar a entrevista a qualquer momento respeitando o termo assinado antes do início da entrevista. Este estudo poderá não haver benefícios diretos ao entrevistado, entretanto a participação é imprescindível para a ampliação do conhecimento e discussão a respeito da assistência de enfermagem e o processo de humanizar nos ambientes hospitalares com alta influência tecnológica. 18 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO A seguir apresentam-se os resultados e discussões de acordo com os objetivos propostos no presente estudo. As informações foram coletadas pessoalmente pela pesquisadora, no mês de outubro de 2016 no período da manhã e da tarde, a entrevista foi realizada em um local reservado dentro da UTI, no horário de trabalho do profissional, com duração máxima de até vinte minutos para cada entrevista, e com o auxilio de um gravador digital. Para o estudo foram entrevistados 06 enfermeiros dos quais 04 mulheres e 02 homens, com idade entre 27 e 45 anos, 02 especialistas em terapia intensiva em andamento, 01 em Urgência e Emergência. A maioria possuía de dois a cinco anos de atuação na enfermagem, e dentro da UTI de 1 ano e 3 meses a 3 anos. Três enfermeiros possuem outro vínculo empregatício, com a jornada semanal de trabalho na unidade de 30 horas, somando a carga horária realizada no(s) outro(s) emprego(s), essa carga horária totaliza 60 horas de trabalho por semana para esses profissionais. Na análise dos discursos dos sujeitos, emergiram quatro categorias: O conceito de humanização, a percepção do profissional sobre o humanizar em UTI. Ações humanizadas realizadas, o que o profissional realiza em sua pratica ou observa no seu cotidiano. A capacitação no serviço como o profissional observa a capacitação para o trabalho na unidade. A tecnologia dura como instrumento essencial de trabalho e a humanização, a visão do profissional sobre os equipamentos em seu trabalho. 19 4.1 O conceito de humanização Nas entrevistas os sujeitos emitiram os seguintes aspectos sobre o conceito de humanização em UTI, o primeiro aspecto citado foi respeitar indivíduo de forma integral. “O meu conceito? (...) É tentar trazer o conforto pro paciente prestar assistência (...) respeitando ele mesmo na condição de paciente crítico (...) respeitar as particularidades de cada um não tratar só como um box um leito, e sim como um indivíduo.” (ENF4) “Humanização é uma coisa bem abrangente (...) falar de humanização não da para resumir em palavras (...) não é só tratar bem o paciente humanização é todo um processo que seja de qualidade respeitando as necessidades daquele paciente integralmente ”.(ENF6) As definições dos sujeitos estão em consonância com Ferreira (2009) “humanizar significa tornar humano, dar condição humana a alguma ação ou atitude, humanar. Também quer dizer ser benévolo, afável, tratável. É realizar qualquer ato considerando o ser humano como um ser único e complexo está inerente o respeito e a compaixão para com o outro“. E segundo Oliveira et al, (2013) as definições dos participantes seguem a “íntima associação entre humanização da assistência e cuidado holístico, integral, voltado para as várias dimensões subjetivas que compõem o ser humano e que devem ser respeitadas”. As definições apresentadas estão em consonância com a PNHAH que define humanizar como resgatar os aspectos subjetivos e sociais, indissociáveis dos aspectos físicos na intervenção em saúde, respeitando o outro como ser humano autônomo e digno; é assumir uma postura ética que respeite a singularidade das necessidades do usuário (BRASIL, 2001). Isso demonstra que apesar de complexo definir o que é humanização em UTI os profissionais ao enxergarem o paciente com um ser único e de necessidades singulares, e prestarem o cuidado respeitando esses aspectos, estão a realizar práticas pautadas na humanização. Outro aspecto relatado foi, a empatia, isto é, se colocar no lugar do paciente e respeita-lo, como indivíduo que está necessitado de cuidado. 20 “(...)Ver mas o lado do paciente, pensar mais nele (...) tratar com respeito.”(ENF3) “(...)é tratar como você gostaria ser tratado é cuidar com você gostaria de ser cuidado.”(ENF4) Ao se colocar no lugar do outro, o profissional passa a ser capaz de sentir, avaliar e escolher como gostaria de ser tratado naquela situação, o que demonstra também uma atitude de respeito para com o paciente (VILA, ROSSI, 2002). A respeito deste aspecto podemos citar que Takaki, Sant‟Ana (2004) concorda e aponta que o desenvolvimento do sentimento de empatia pela equipe de enfermagem no atendimento à pessoa que está sendo assistida é de grande importância. Também da empatia depende o sucesso do tratamento da pessoa, pois a mesma tem efeito terapêutico. O mesmo autor ainda relata que para o profissional enfermeiro é muito importante ser assertivo e empático, conhecimento científico e a habilidade técnica são importantes, mas de pouco adiantarão se este não apresentar um bom relacionamento interpessoal. Portanto, a empatia acaba se transformando num instrumento poderoso de redescoberta da essência humana do cuidado, proporcionando ao profissional a habilidade de escolher a melhor maneira de cuidar do seu cliente (LIMA et al , 2007). Para os profissionais de enfermagem e os profissionais de toda a equipe é de estrema importância a busca pelo equilíbrio entre a humanização e o conhecimento científico. Ainda sobre a empatia Savieto, Leão (2016) apontam que por mais que a assistência de enfermagem privilegie muitas vezes, em um nível mais avançado do cuidado a dimensão física, com a execução de procedimentos técnicos, a assistência de enfermagem é capaz de acessar os aspectos subjetivos e emocionais por meio da empatia e da comunicação, que podem desenvolver e manter a confiança necessária para que a assistência seja realizada com qualidade. Entre os aspectos mais citados no conceito de humanização está o acolhimento do paciente e também o da família, esta citada como parte essencial para a humanização em UTI. 21 “(...)humanização dentro da UTI, ela começa desde a admissão, não só do paciente mas da família, do acolhimento familiar, do acolhimento com o paciente, esse acolhimento começa desde a admissão do paciente(...)”(ENF6) “(...) você procurar atender não só paciente mais também os familiaresacolher, fazer a admissão do paciente de forma humanizada assim como seus familiares também explicando o que é UTI(...)”.(ENF2). A família é fundamental na vida dos indivíduos, uma vez que é partindo dos laços afetivos e da história de relações entre seus membros que o sujeito se constitui (DIENER et. al, 2011). Acolher significa receber, recepcionar e também aceitar o outro como sujeito de direitos e desejos e como corresponsável pela produção da saúde, tanto na perspectiva individual como do ponto de vista coletivo (HENNINGTON, 2005). Sobre este aspecto Oliveira et.al (2013) concorda e afirma que a integralidade do cuidado deve ser estendida também ao atendimento de sua família e não só restrita ao paciente, pois tanto os pacientes quanto os familiares, necessitando de assistência integral em todas as suas necessidades pois geralmente os mesmo encontram se fragilizados. Ainda sobre a importância da família e a humanização Knobel, (2006) relata que humanizar é envolver o paciente como um todo no contexto social e familiar, respeitando as preocupações, esperanças, valores e aspectos culturais, implica também em oferecer e estabelecer uma comunicação clara e direta que conforte e ofereça segurança os familiares de pacientes internado na UTI. Sobre a relação da humanização e uso de tecnologias, devemos dosar de forma equilibrada o uso das tecnologias duras com as necessidades emocionais. As experiências de acolhimento podem se tornar gratificantes quando a família demonstra confiança no enfermeiro e nos demais membros da equipe. O profissional passa a ser referência para o apoio desse paciente e desse familiar (MAESTRI, 2012). O depoimento a seguir descreve a importância da família e a importância do acolhimento e relata que a humanização na UTI pode ser uma tarefa muito 22 complexa de realizar por ser um ambiente muito restrito com normas e rotinas por muitas vezes rígidas. “(...) tentar se aproximar bem do familiar do paciente muitas vezes o paciente não tem consciência de que tá ali né e tentar aproximar muito o paciente da família e da própria equipe também pra até para facilitar o entendimento dele sobre o que é tá na UTI, o que é os riscos as possibilidades do paciente mas ao mesmo tempo é muito complicado de fazer humanização dentro da UTI, eu acho na minha opinião por ser muito restrito(...)”.(ENF1) Nesse sentido Silva, Santos (2010) pontua que a rotina da unidade tem afastado os profissionais de enfermagem dos familiares, apesar da experiência de doença e hospitalização de um de seus membros que família esta vivenciado. O foco de atenção de muitos profissionais na assistência ao paciente crítico ainda está pautado no aparato tecnológico, potencializando assim o afastamento da família. Furuya et. al (2011) coloca que a relação dos profissionais de saúde com o paciente e seus familiares é verticalizada, centrada em rotinas e normas, equipamentos, fazer técnico. O cuidado direcionado somente para os aspectos físicos torna a valorização da relação humana fragmentada e simplificada. Pautado nessas colocações, conciliar a promoção do acolhimento, com a melhor tecnologia disponível em UTI, é uma pratica de humanização. A proximidade ao paciente, o recebimento de informações adequadas, a oportunidade de obter respostas às suas dúvidas expressar seus sentimentos aumentam a satisfação da família. A importância dos familiares de perguntar e encontrar a resposta, ter apoio e atenção de cada profissional faz com que ele se sinta acolhido, promovendo sua satisfação e a melhoria da qualidade da assistência (PASSOS 2015; SILVA, SANTOS 2010). O acolhimento na assistência à família na UTI está atrelado à escuta interessada no atendimento as suas necessidades. A respeito do acolhimento a noção de continuidade deve ser acrescida, pois atender e ouvir os familiares e todas suas necessidades devem ser executados em todos os contatos na UTI (OLIVEIRA, NUNES, 2014). 23 Os sujeitos da pesquisa acreditam que a humanização tanto do paciente quanto da família é um trabalho multiprofissional, é um dever de todos, e que os profissionais devem estar oferecendo apoio e se mostrando acessíveis para os possíveis questionamentos dos pacientes e de seus familiares. “(...)é prestar assistência tanto para o paciente quanto para a família também porque aqui dentro é a família ela não está 24 horas está apenas os horários de visita só que a família também precisa de um apoio, ser tratada com humanização com cuidado acessibilidade precisa de um trabalho multiprofissional para você poder prestar a assistência, fazer a essa humanização”.(ENF4) Em consideração a colocação do sujeito sobre a importância do trabalho multidisciplinar Chernicharo, Silva, Ferreira (2014, p. 160), pontua que: “A Humanização como prática de todos os profissionais resgata um dos princípios norteadores da Política Nacional de Humanização, que é "o fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional, estimulando a transdisciplinaridade e a grupalidade". Assim, quando há um trabalho em equipe envolto nas premissas da humanização, valorizando cada sujeito partícipe do cuidado, identificando suas habilidades e limitações, assim como compreendendo esse ser em sua inserção social, repleto de crenças, valores e condutas, a atenção à saúde começará a ir além da "simples" manutenção e restauração da saúde, passando a incluir ações que vão ao encontro do sujeito na sua individualidade, visualizando o indivíduo como um todo, e não como parte de uma máquina em manutenção.” A respeito deste aspecto Garanhani et al, (2008) afirma que a importância do trabalho em equipe de enfermagem e de saúde na UTI é imprescindível para a efetiva qualidade da assistência ao paciente e seus familiares. O mesmo autor ainda pontua que toda a equipe que trabalha na unidade deve refletir sobre princípios que norteiam a assistência, para conseguir acolher os sentimentos dos pacientes e de seus familiares é necessário que os profissionais compreendam seus próprios sentimentos. É preciso criar a possibilidade da existência de outros aspectos que fazem parte do ser humano, seu modo de viver, sentimentos, sua cultura, sua história isso possibilita atingir uma assistência humanizada. Para Oliveira et al, (2006), a efetivação da humanização nos serviços de saúde exige a união e colaboração de todos os envolvidos, gestores, técnicos, funcionários e a participação ativa dos usuários. 24 E por fim Lucchesi, (2008) pontua que o trabalho dentro de uma UTI requer ainda mais a necessidade de organização e funcionamento em esquema de equipe multiprofissional. Isto se dá em razão da natureza e magnitude da tarefa à qual estamos nos referindo, o tratamento de pacientes críticos, que exigem uma grande complexidade de cuidados, atenção e monitorização permanente da equipe; além é claro da atenção aos familiares, que solicitam esta mesma equipe e mostram-se frequentemente bastante mobilizados com toda a situação. 4.2 Ações realizadas para a humanização Nesta categoria foram citados pelos sujeitos, atitudes ou ações que possibilitam a humanização, o informar e o explicar foi citado como um aspecto muito importante e quando bem estabelecido possibilita o melhor entendimento entre profissionais e pacientes e funciona também, em alguns casos, como um método terapêutico. “(...) com relação ao paciente é você buscar atender o paciente explicar para ele os procedimentos (...) por mais simples que seja o atendimento ao paciente se ele tá acordado procura conversar com ele explicar o procedimento para quê, que tipo de exame você vai fazer ali eu considero importante” (ENF2) “(...)consegue perceber às vezes o paciente tá angustiado com medo e a rotina o corre-corre ninguém fala com o paciente àsvezes você, para e observa, conversa, pergunta ele lhe questiona você, sana as dúvidas dele (...) então o cara relaxa você percebe na fisionomia do paciente que acaba aquela apreensão dele que ele consegue se sentir melhor e ele responde até muito melhor” (ENF5) Lucchesi (2008) afirma que a manutenção de uma comunicação atenta e próxima são fatores terapêuticos favorecendo o paciente a expressar suas emoções, sentimentos, esclarecer fantasias que possam prejudicar seu tratamento. No caso de pacientes que não podem se comunicar verbalmente, buscam-se alternativas incentivando a capacidade de expressão do indivíduo acessando seu universo subjetivo através da comunicação de leitura labial, uso da escrita, figuras ou sinalizações. 25 A comunicação proporciona a desenvoltura de fatores decisivos do vínculo entre pacientes, familiares e da equipe, humanizar é sempre melhorar ou manter a qualidade da comunicação (TERRA, GOMES, 2015). Para Nascimento et. al (2014) os profissionais de enfermagem são os elementos da equipe que melhor se comunicam com os pacientes, é grande o empenho que a equipe de enfermagem faz para beneficiar os pacientes, pois negar a necessidade que os familiares e os pacientes têm de serem escutados, e de se comunicar é o mesmo que negar a essência da prática de enfermagem. Os sujeitos da pesquisa relatam que, a comunicação é essencial na assistência de enfermagem, foram citados que alem da conversa e escuta o toque como parte essencial que não deve ser esquecido como parte integrante no cuidar. “(...) você também não pode esquecer do toque da conversa da fala ser humano não é um bicho animal ele precisa do social ele precisa da sociedade ele precisa interação do diálogo“ (ENF4) Sobre este aspecto Silva, Sanches, Carvalho ( 2007 p.97) pontua que existe uma necessidade do toque aumentada na UTI, os aparatos tecnológicos contribuem para a despersonalização do paciente, pesquisas apontam que o toque da equipe multiprofissional e familiares altera o ritmo cardíaco do paciente, chegando até a estabilidade desse ritmo, as expressões faciais desses paciente críticos se tornam positiva quando tocados de maneira afetuosa e não só para a realização de procedimentos técnicos. O toque está inserido, no contexto nas manifestações não verbais que possibilita a enfermagem demonstrar tanto sua habilidade técnica quanto sua capacidade de ser solidária e compreensiva (DIAS, 2008). Nesse aspecto Gomes, (2008) relata que o toque tem se revelado um excelente meio que o enfermeiro e outros profissionais da saúde lançam mão para, reduzir a ansiedade, promover o relaxamento, controlar a dor entre outros efeitos. Foram citados também aspectos como a flexibilização dos horários das visitas muito importantes para humanizar a assistência prestada ao paciente bem como aos familiares e com isso também a flexibilização da rotina em beneficio dos mesmos. “O que mais acontece aqui com frequência é aumentar horário de visita quanto tempo de visita quanto à quantidade de pessoas que 26 entram quando o paciente é muito grave quando o paciente está muito tempo aqui dentro geralmente a gente acaba permitindo quem entrem mais pessoas da família, desse paciente ou até para poder se despedir paciente que tá esperando mesmo a morte .Ou aquele paciente tá muito tempo acamado já né ter mais visitas poder aguentar mais tempo aqui que ele precisa e tal”(...)(ENF1) “(...)por exemplo (...)o senhor X(preservando o anonimato do paciente) né é um paciente está em condição crítica mais, é a gente libera para o paciente, para família ficar mais tempo por exemplo, ter bom senso entendeu, porque é um paciente que a condição dele ele precisa de todo o acompanhamento da terapia intensiva, (...) mas as rotinas elas precisam ser quebradas às vezes para que essa humanização ocorra entendeu (...) estender por exemplo o horário de visita porque aí a gente vai trabalhar essa humanização tanto para o lado paciente quanto o lado da família (...)você às vezes precisa quebrar às vezes essa essa mecânica é porque é muito mecânico para poder fazer o ambiente seja mais mas... é muito complicado (...)”(ENF4) Sobre estes aspectos relatados Collet, Rozendo (2003) trazem que os desafios do processo de humanização da assistência são diversos a serem enfrentados pela profissão de enfermagem implicam no enfrentamento da relevância dada à competência tecnicista em detrimento da humanização a superação rotinas e padrões rígidos, enraizados para se produzir saúde, alem da superação dos modelos convencionais de gestão. Predebon (2011), faz uma colocação pertinente que o trabalho intenso da equipe de enfermagem e as rotinas rígidas podem levar ou impedir que os profissionais percebam as necessidades dos familiares durante a visita ao paciente internado na UTI como uma atividade de cuidado. Os familiares necessitam de atenção, apoio e acolhimento, pois são também participantes do processo do cuidado do paciente na UTI, flexibilizar os horários de visita do paciente internado neste setor, satisfaz a grande necessidade que os familiares tem de estarem com o paciente e de enfrentarem a situação de ter um familiar em estado critico (BETTINELLI, ERDMANN, 2009). Outras situações apontadas pelos sujeitos de como uma forma de flexibilizar a rotina da unidade e para prestar uma assistência de forma integral respeitando, as necessidades, particularidades e vontades do indivíduo único e necessitado de atenção especial são apontadas a seguir. 27 “(...)não só como estender o horário de visita só nós temos a rotina de banho (...)quantos banhos já demos fora do nosso horário né de (...)porque o paciente estava acordado e era o melhor horário para ele é o horário que ele vai no banheiro (...) então a gente têm que respeitar também as particularidades do indivíduo (...) você é levar o paciente para receber uma visita externa né tirar ele mesmo monitorizado né para fora do ambiente da UTI quando possível para ele receber a visita externa ver o ambiente fora daquele ambiente fechado um ambiente estressante que é um ambiente isso também que é humanizar isso são situações que a gente tenta(...)” (ENF4) Os entrevistados apontaram a importância de tratar a pessoa como indivíduo único, pois a não realização desse tratamento holístico é considerado por eles como uma característica de desumanização. O tratamento pelo nome foi considerado essencial mesmo quando o paciente não esta responsivo. “(...) falar pelo nome, dar um bom dia(...) mesmo que o paciente esteja entubado, sedado(...)”.( ENF3) Para esse sujeito, a formação acadêmica tem muita influência no processo de humanização da assistência, sendo a principal responsável pelo desenvolvimento da visão holística do cuidado, de modo a tornar a humanização algo espontâneo e despertando no profissional a sua própria humanidade. “(...) é uma coisa que bateu muito na faculdade a gente conseguir ver o paciente como pessoa porque depois de um tempo e você já tá trabalhando você acaba ficando mecânico os pacientes acostuma perder nome (...) eu tenho percebido isso os pacientes não tem nome tem número o paciente é o box 4, leito 5, o isolamento perde nome, isso aí já é característica de perder a humanização, deixar de tratar aquele cliente como pessoa a tratá-la como número como estatística(...)”(ENF5) O relato do sujeito sobre a descaracterização do paciente é condizente com o que Silva , Sanches, Carvalho ( 2007, p. 97) apontam: “O progresso constante da medicina, incorporado às novas tecnologias na assistência ao paciente, tem levado a situações em que o ser humano doente é considerado como um objeto, um número de prontuário, um número de leito ou uma doença que requer cuidados de 28 enfermagem, cuidados que, muitas vezes, são realizadosde forma mecanizada, fria e fragmentada, totalmente desvinculado de afetividade e excluindo a família desse processo.” Nascimento et. al (2014) afirma ser necessário o desenvolvimento e o preparo contínuo dos profissionais de enfermagem para que perante o paciente e a família, eles possam atuar com propriedade, os profissionais devem deixar emergir sua sensibilidade, que ao exercer o cuidado que possa satisfazer as necessidades, emocionais, físicas, sociais, espirituais do paciente e de seus familiares o estabelecimento da empatia é fundamental. Uma possível solução pra prestar uma melhor assistência e um cuidado mais humanizado é que os profissionais possam enxergar o paciente como um ser único e completo, assim se colocar no lugar de quem está recebendo a assistência e refletir sobre se este cuidado ofertado é o necessário e o de melhor qualidade que o profissional pode oferecer. 4.3 A capacitação no serviço „Ao serem perguntados sobre capacitação e sobre o conhecimento para o manuseio adequado das máquinas e equipamentos na unidade, os profissionais, em muitos casos responderam que falta treinamento e atualização para o manuseio da tecnologia, considerado por eles essencial para a prática na unidade, observando que na UTI se concentra equipamentos tecnológicos de manuseio desafiador para quem não possui treinamento. “Eu conheço, mas preparado a gente não tá, a gente tem que passar por um treinamento para conhecer bem o funcionamento entendeu (...)eu não passei pelo treinamento eu aprendi a gente aprende pela prática diária mas não passa por treinamento(...) se facilita o trabalho(...) com certeza a tecnologia veio aí para ajudar muito a gente” (ENF3) “Bom, muitas coisas vem para cá, equipamentos que a gente não sabe mexer e muitas vezes a gente não tem esse treinamento específico desse material dessa tecnologia, para poder aprender a gente sempre 29 acaba é aprendendo na marra assim mexendo mesmo ou alguém que já conhece de um tempo acaba ensinando para a gente(...)”(ENF1) “Hoje me sinto preparada, mas quando eu entrei aqui eu não me senti(...) de uns tempos pra cá teve muitas melhorias (...) por exemplo os equipamentos(...) todos são fácil de manipular (...)a maioria são auto-explicativo (...) você tem que se capacitar e sempre procurar tem aquela questão de melhorar buscar aprender(...) e é tranquilo eu não me sinto mais com dúvidas em relação a muitos equipamentos (ENF4). Eu particularmente, eu vou te dizer, quase todos os aparelhos que tem na UTI eu sei mexer eu domino a tecnologia daquele aparelho, não só porque eu sou obrigado né(...) eu sinto que muitos profissionais de dentro tem dificuldade de manusear esses aparelhos todos aparelhos que chegam novos a gente recebe treinamento das equipes facilitam muito o trabalho do profissional (ENF6). Alguns profissionais relatam ainda que a falta de treinamento específico faz com que alguns equipamentos não sejam utilizados em seu total desempenho. E que a sua manutenção é muito importante, pois quando eles não funcionam da maneira correta esses equipamentos acabam duplicando a carga de trabalho dos profissionais, ou seja, o profissional que além de assistir o paciente deve estar atento à máquina para que se certificar que ela está fazendo o trabalho correto. “(...)Lógico que facilitam nosso trabalho por que deixa mais prático (...) mas e elas não funcionarem aí elas duplicam nosso trabalho (...) então elas ajudam mas se elas não tiverem uma correta manutenção assim né se faltarem complicam muito a nossa vida aqui dentro(...)”.(ENF1) “(...) aprende mesmo no dia a dia não é treinado o profissional pra trabalhar com esses equipamentos tirar dúvidas realmente a gente não recebe, esses treinamentos não têm, infelizmente (...) os treinamentos facilitariam a vida(...) muito tanto a minha vida ia facilitar quanto à qualidade do serviço prestado a utilização correta dos equipamentos e poder utilizar o equipamento como um todo(...) as vezes você utiliza algumas coisas e outras não porque não tem esse treinamento(...)”(ENF2) “(...) falta mais conhecimento técnico da minha parte da parte de vários funcionários para lidar com todos equipamentos com todos as funcionalidades dos equipamentos de monitores agora são novos de alto padrão e não estamos habilitados a explorar todos os recursos do equipamento os equipamentos (...)a gente não usa (...)todos esses 30 recursos são subutilizados parte do recursos nos equipamentos eletrônicos(...)”(ENF5) Na unidade de terapia intensiva, o enfermeiro precisa estar constantemente adquirindo novos conhecimentos e habilidades, pois ele é parte essencial da estrutura organizacional de um hospital, na atuação do enfermeiro em UTI existe uma necessidade de se identificarem suas competências, devido complexidade na qual ele está inserido. Os gestores devem promover uma reflexão sobre promover cursos de capacitação para trabalho em vista de promover a excelência dos serviços prestados pela equipe (CAMELO, 2012). Seguindo a mesma linha de pensamento Menezes, Souza (2015) relata que, o preparo do profissional em enfermagem é determinante para que, em conjunto com os outros membros da equipe multiprofissional seja prestado um atendimento de qualidade para o usuário. Outro ponto relacionado a este aspecto é que quando instituição tem a consciência da importância das capacitações e treinamentos específicos para seus profissionais, ou seja, um profissional capacitado lhe trará maiores retornos na prestação de serviços de na qualidade da assistência ofertada aos seus pacientes, outro ponto importante que os gestores não podem esquecer é que o maior sucesso na execução de suas tarefas será quando o empregado estiver mais qualificado, pois a qualificação, o torna mais motivado (CAVALCANTE, 2006). O trabalho de um enfermeiro de UTI exige habilidades complexas para a utilização de equipamentos de alta tecnologia, além do conhecimento obrigatório prático e teórico. É de estrema importância um programa de treinamento específico, pois em muitos casos as habilidades teóricas e práticas não foram eficientes na formação inicial desse enfermeiro (CARDOSO; SANTOS, 2011). Madureira, Sant'ana, Veiga (2000), faz uma colocação muito pertinente a respeito da manutenção dos equipamentos ele relata que faz-se necessário uma política de manutenção efetiva nas instituições, para cuidar da longevidade dos equipamentos, observa a inexistência de uma manutenção sistemática de prevenção a manutenção e a reparação só ocorrem quando ocorrem falhas técnico- operacionais nos mesmos. Condizente com o relato dos profissionais que é necessário a manutenção dos equipamentos tecnológicos da unidade, para que 31 esses equipamentos não apresentem falhas e não prejudiquem o trabalho e a assistência do paciente que necessita do perfeito funcionamento deste. Segundo o relato de um entrevistado a preparação e capacitação para trabalhar com as tecnologias disponíveis na UTI, está relacionada também ao interesse do profissional de se qualificar para a utilização dos equipamentos, se o interesse não partir do profissional ele não irá procurar capacitação. (...)com relação às tecnologias é muito também é de interesse porque o que acontece muitas vezes as capacitações são oferecidos mais profissionais não vem eles não são obrigados a participarem da capacitação (...)então é oferecido aquela capacitação mexer no ventilador de transporte mas ele não vem porque é obrigação(...) ele vai ter que ir no horário oposto entendeu(...)”(ENF4) Para Perez et. al (2014) “é importante que o trabalhador se sinta motivado e tenha clareza quanto às responsabilidades e ao papel desempenhado na organização”. O trabalho de motivação deve ser compreendido no contexto real que o profissionalesta inserido, a falta de interesse do profissional em relação à atualização e qualificação, serve de um sinal significativo para que os gestores revejam seus processos. 4.4 A tecnologia dura como instrumento essencial de trabalho e a humanização Os relatos desta categoria se baseiam no questionamento quanto a possível interferência da tecnologia no cuidado humanizado, e as percepções dos profissionais sobre essa questão, eles relatam que a tecnologia facilita o cuidado e proporciona, teoricamente, mais tempo para o cuidado de enfermagem humanizado. E que apesar de todos os aparatos tecnológicos a essência da profissão de enfermagem, a arte do cuidar, não pode ser realizada pelas máquinas, para isso sempre será necessário o profissional de enfermagem. “Eu acho que não eu acho que a tecnologia não interfere na humanização do paciente até por que falando de enfermagem (...) a enfermagem ela é arte do cuidado beira leito certo (...) então por mais 32 que você tenha os aparelhos mais avançados eles não vão fazer tudo que a enfermagem tem que fazer eu acho que o cuidado em si na enfermagem que o trabalho de, enfermagem os aparelhos não fazem não é(...) acho que pelo contrário torna o serviço mais confortável pro profissional tornam o serviço mais leve ou menos complexo e isso acaba te dando mais tempo para pensar mais no paciente. Na teoria tem funcionado desse jeito(...)”.(ENF6) Sobre este aspecto Baggio, Erdmann, Sasso (2010, p.380), concordam que: “O cuidado em enfermagem e saúde ou seus processos gerenciais e ações práticas podem ser facilitados pelas tecnologias, todavia nenhuma tecnologia poderá substituir a relação e a compreensão intersubjetiva entre os seres humanos. A capacidade de empatia, de identificação, de abertura, de projeção, de generosidade e de solidariedade é expressa na relação de comunhão, de troca e de interação entre os seres”. Salvador et. al (2012) aponta que inovação tecnológica, contribui, diretamente com a eficácia qualidade, efetividade, e segurança do cuidado quando usada em favor da saúde, cria condições que contribuem para um viver saudável quando utilizada de maneira adequada entre os indivíduos. Assim acredita-se que há espaço para a tecnologia e o cuidado humanizado e ético. Sujeitos do estudo relatam que não há uma redução no cuidado humanizado relacionando diretamente com as tecnologias e que o profissional é o principal responsável para que assistência seja ou não humanizada. “(...)não eu não vejo dessa forma que a tecnologia estaria ali substituindo ou você deixando(...) bom vai de cada profissional no meu caso eu não acredito nisso não(...) se você tem uma definição realmente de humanização não é pelo fato de um equipamento que veio para você utilizar ou não que você vai deixar de fazer esse atendimento humanizado(..)(ENF2) “(...)eu acredito que não entendeu (...)eu acredito eu acho que quando a pessoa tem o dom de ser o ser humano tratar bem as pessoas independente do que ele tem utilizado (...) entende você tá tratando de um ser humano (ENF3) “(...) não eu não acho que diminuir não assim eu acho que ele torna nosso trabalho mais prático e talvez até por a gente tem mais tempo 33 (...) funcionando corretamente as tecnologias a gente teoricamente tem mais tempo para estar com paciente pessoa né mas também não é muito que acontece (...) está muito, digamos, mecanizado nosso trabalho, aqui porque a rotina por ter horário a gente acaba muitas vezes olhando o que tem que olhar pronto aí acaba anota e para o serviço é mais difícil assim a gente ter aquele contato mesmo com paciente principalmente estando numa UTI (...) eu não acho que isso só acontece em UTI acho acontece em outros setores essa parte da falta de humanidade em humanos que é uma coisa que já deveria acontecer sem alguém precisar fazer campanha para isso (...)”.(ENF1) Silva e Louro (2010 p.1560) trazem a seguinte colocação sobre o beneficio corroborando com o que os sujeitos relatam sobre benefícios das tecnologias para o profissional e para o paciente: “O uso da tecnologia traz benefício tanto para a equipe profissional como para o paciente, onde no tocante ao profissional contribui para uma maior agilidade na execução do trabalho, e para o paciente desempenha muitas vezes um papel de suporte avançado de suas vidas.” O seguinte entrevistado relata sua concepção sobre o cuidado e sobre as tecnologias, e o que o profissional deve fazer para realizar uma assistência humanizada. (...) tem uma pessoa me uma vez me falou que ultimamente né (...)de uns tempos para cá o cuidado ele tem se tornado hi-tech, low touch quer dizer muita tecnologia pouca toque(...)as tecnologias vem pra somar elas ajudam mas você não pode perder o toque entendeu que é uma coisa que tem uma coisa que às vezes acontece sim e o paciente ele precisa ser tratado como pessoa precisa ser tratado(...)você precisa escutar as queixas interpretar(...) (ENF4) “A tecnologia não é boa nem ruim, mas a aplicação humana é que determina a sua natureza” as inovações tecnológicas devem ser pautadas em princípios bioéticos, integrar a qualificação tecnológica com o cuidado humanizado é preservar o caráter principal da assistência de enfermagem (SALVADOR et al, 2012). Para Vila, Rosse (2002), só é possível humanizar a UTI partindo de nossa própria humanização. Este autor relata que o encontro com o paciente e seus familiares é carregado por vários significados como valores, preconceitos atitudes 34 entre outros esse encontro nunca é neutro. Os profissionais devem aprender a ser inteiros consigo mesmos para realizarem a humanização com o paciente crítico. Oliveira (2012) acredita que a aplicação do cuidado de forma integral e humanizada depende mais da perspectiva de valor de cada pessoa do que das concepções teóricas desconectadas de suas crenças. É possível tornar a humanização uma ação concreta, para isso há uma necessidade de considerar a equipe que presta o cuidado ao paciente necessitam se sentir protagonistas da ação, isso através da motivação valorização e de se sentirem respeitados para então entenderem a real importância desse processo na UTI (CAMPONOGARA et al., 2011). 35 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Mediante os resultados, pôde-se concluir que embora nem todos os participantes tenham incluído aspectos relacionados com o cuidar integralmente, interagir com o paciente, ter empatia em seu conceito de humanização, aspectos lembrados por todos foram bem satisfatórios como, por exemplo, a importância do acolhimento e a integração da família no processo de cuidar do paciente. Estes aspectos que foram mencionados são essenciais para que a humanização da assistência se faça presente na prática do profissional enfermeiro. A visão do profissional sobre a importância terapêutica que a família tem para o paciente internado em uma UTI e o reconhecimento que ela também é digna de atenção, apoio e assistência voltada a atender todas as suas necessidades, sejam elas de informação ou apoio emocional, pode ser considerada como um bom ponto de partida para a melhoria na assistência pautada na humanização. Foi observado que os profissionais reconhecem a UTI como um ambiente permeado de normas e rotinas rígidas e que o acolhimento da família não pode ser deixado de lado, buscar o entendimento entre paciente equipe e familiares é fundamental para a assistência de qualidade e humanizada. Outro aspecto relacionado a assistência humanizada está pautado no trabalho multiprofissional, ou seja, para a concretização da humanização na saúde observa se a importância da participação da equipe multiprofissional e de seu envolvimento com os pacientes, familiares, instituição e gestores. É possível perceber que para a humanização a comunicaçãoé essencial, ela é responsável pelo vinculo, acolhimento por passar segurança para o paciente e seus familiares, para a compreensão de todos que prestam a assistência, ou seja, ela tem um importante destaque na humanização e a presença da comunicação na assistência possibilita um maior desenvolvimento da qualidade da mesma. No aspecto da tecnologia como facilitadora do trabalho todos os profissionais acreditam que os aparatos tecnológicos disponíveis na UTI são tecnologias facilitadoras do trabalho “ganha se” tempo para outras tarefas na unidade, entretanto esse tempo que se “ganha”, em muitos casos não é direcionada ao paciente por muitas vezes as atividades burocráticas que estão inseridas no trabalho do profissional de enfermagem capturam todo esse tempo que se “ganhou” com os uso 36 das tecnologias. Quanto ao uso das tecnologias na assistência de enfermagem e se elas reduzem as praticas de humanização, os sujeitos das pesquisas foram muito enfáticos, determinando que ela não esta relacionada a equipamentos e tecnologias ela está relacionada ao profissional o que ele é como pessoa suas crenças e valores, sentimentos pautados em experiências de vida, essas experiências o saber cientifico da capacitação e atualização, isso pode determinar se esse profissional prestara uma assistência pautada na humanização, utilizar ou não tecnologias não interfere na assistência humanizada ela deve partir de dentro do individuo de sua constante reflexão pessoal sobre a sua assistência prestada a outro individuo. Para estabelecer de uma assistência humanizada dentro de uma UTI, são necessários vários aspectos, que perpassam desde do acolhimento do paciente e familiares, comunicação, empatia, capacitação, assistência de qualidade aliada ao uso de tecnologias os profissionais demonstram possuir saberes e atitudes necessários para executar a assistência humanizada, entretanto, os sujeitos ainda demonstram que em alguns aspectos se mostram um tanto incipientes um exemplo que pode ser observado é quanto a qualificação profissional. Para instituir uma assistência humanizada aos pacientes internados são necessárias estratégias para desenvolver saberes elementares e fortalecer os já existentes, podemos chegar a conclusão que nem todos os profissionais estão completamente preparados para que a assistência humanizada em UTI se concretize. Diante disto, para tornar o cuidado humanizado em UTI, não basta investir somente na eficiência de aparelhos tecnológicos, o investimento no profissional, e também valorizar e incentivar a humanização pelos gestores se torna um dos aspectos essenciais para a construção de mudanças quando o assunto é humanização na assistência. 37 6 REFERENCIAS AMORIN, R.C.; SLVÉRIO, I.P.S. Perspectiva do paciente na UTI na admissão e alta. Revista Paulista de Enfermagem, v 22, n.2, p. 209-212, 2003. ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 7, de 24 de fevereiro de 2010. BAGGIO, M.A.; ERDMANN, A.L.; SASSO, G.T.M., Cuidado humano e tecnologia na enfermagem contemporânea e complexa, Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2010 Abr-Jun; 19(2): 378-85. BARRA, D.C.C. et al. Evolução histórica e impacto da tecnologia na área da saúde e da enfermagem. Rev. Eletrônica de Enfermagem, v. 8, n. 3, p. 422-430, 2006. BEDIM, et al. Humanização da assistência de enfermagem no centro cirúrgico. 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