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AMPARA - Apostila

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COLETIVO FEMINISTA SEXUALIDADE E SAÚDE
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
2
Conteúdo técnico: Carla Marques, Halana Faria e Mariana Prandini Assis
Revisão: Janaína Penalva, Mariana Alencar Sales e Mariana Prandini Assis
Coordenação de projeto: Cíntia Costa
Design Instrucional: Claudete Maria Cossa
Projeto gráfico: Heliziane Barbosa
Design gráfico: Diego Borges
Ilustração: Isabel Hernández
Revisão ortográfica: Daniel Mendonça
1ª edição . 2021
Realização
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
3
APOIADO POR:
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
4
Sumário
Apresentação ........................................................................ 5
Encerramento ....................................................................... 124
Referências ........................................................................... 126
Aula 1
O abortamento 
no mundo e no Brasil ............................................................ 6
Aula 2
Serviços de atenção ao abortamento 
previsto em lei no Brasil ....................................................... 31
Aula 3
Abortamento e 
evidências científicas ........................................................... 54
Aula 4
Abortamento, evidências científicas 
e cuidados pré e pós-abortamento ..................................... 75
Aula 5
Aspectos profissionais no acolhimento à gestação 
indesejada sob a perspectiva da redução de danos ........... 93
Aula 6
Violência obstétrica no abortamento 
e no cuidado pós-aborto ...................................................... 109
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
5
APRESENTAÇÃO
Olá, queremos lhe dar as boas-vindas ao curso de acolhimento de pessoas em situ-
ação de abortamento e pós-aborto! Esperamos que você tenha um ótimo aprendi-
zado e que o conhecimento aqui adquirido sirva à sua prática profissional qualifica-
da e humanizada.
No Brasil, o abortamento é criminalizado – exceto nos casos de violência sexual, 
anencefalia fetal e risco de vida para a pessoa gestante – e estigmatizado. Apesar 
da criminalização, muitas mulheres e pessoas que gestam recorrem a abortamen-
tos inseguros, e essa é uma das principais causas de mortalidade materna no país.
Este curso é uma intervenção nesse contexto e foi desenvolvido a partir da siste-
matização do conhecimento interdisciplinar, com base em evidências científicas, 
produzido por especialistas em abortamento no Brasil e no mundo. Com ele, quere-
mos levar até você o que há de mais atual e científico sobre o tema, com o objetivo 
de contribuir para sua formação como profissional de saúde. Mas não entendemos 
que a ciência esteja dissociada de valores e, por isso, incorporamos também conhe-
cimentos relacionados às melhores práticas profissionais, para que a formação aqui 
recebida seja orientada pelos valores do cuidado integral, do acolhimento digno e 
empático e da humanização.
Objetivos do curso
Os objetivos deste curso são:
• Ampliar seu conhecimento clínico e jurídico sobre os serviços de atenção ao abor-
tamento previsto em lei e cuidado pós-aborto, assim como as habilidades corres-
pondentes.
• Contribuir para a redução do estigma associado ao abortamento.
• Ampliar o acesso a um cuidado digno, empático e de alta qualidade em situa-
ções de abortamento e cuidado pós-aborto, por profissionais com conhecimen-
to de seus deveres profissionais e legais.
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
6
• Histórico e conceito de direitos sexuais, direitos reproduti-
vos e justiça reprodutiva.
• O que é abortamento e qual sua relação com a saúde pública.
• Como o abortamento é tratado no mundo e no Brasil, e quais 
as suas consequências para a vida e a saúde das pessoas.
• Quem são as pessoas que abortam e que condições contri-
buem para que elas sejam colocadas em situações de vulne-
rabilidade ao experienciar esse evento da vida.
O abortamento no mundo e no Brasil
Aula 1
Aulas
Para a compreensão deste tema tão importante e pouco 
estudado, o curso foi dividido em 6 aulas. Veja a seguir quais são:
Aula 1
O abortamento no 
mundo e no Brasil.
Aula 6
Violência obstétrica 
no abortamento e no 
cuidado pós-aborto.
Aula 2
Serviços de atenção ao 
abortamento previsto 
em lei no Brasil.
Aula 5
Aspectos profissionais 
no acolhimento à 
gestação indesejada 
sob a perspectiva da 
redução de danos.
Aula 3
Abortamento e 
evidências científicas.
Aula 4
Abortamento, 
evidências científicas 
e cuidados pré e 
pós-abortamento.
Jornada do cursista
Encerramento 
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
7
Diferentes governos ao redor do mundo 
começam a implementar políticas de 
planejamento e controle populacional.
São publicadas denúncias no Brasil de 
esterilização forçada de mulheres negras.
IV Conferência Mundial sobre a Mulher
da ONU, em Pequim, onde se confirmou o 
paradigma dos direitos sexuais e reprodutivos.
Conferência Internacional sobre População e 
Desenvolvimento da ONU, no Cairo, onde se 
firmou o conceito de direitos reprodutivos.
A Constituição brasileira reconhece o
direito à igualdade de gênero e ao 
planejamento reprodutivo.
Criação do PAISM – Programa de Assistência 
Integral à Saúde da Mulher no Brasil.
Formulação do conceito de direitos sexuais 
por movimentos gays e lésbicos pelo mundo.
China: cada família só poderia ter um filho.
Criação da Política Nacional de Atenção 
Integral à Saúde da População Negra no Brasil.
Peru: mais de 272.028 mulheres e
22.004 homens esterilizados forçosamente.
Criação da Política Nacional dos Direitos 
Sexuais e dos Direitos Reprodutivos pelo 
Ministério da Saúde brasileiro.
Aprovação da Lei de Planejamento
Familiar nº 9.263 no Brasil.
Criação da Política Nacional de Atenção 
Integral à Saúde da Mulher do Ministério da 
Saúde e Pacto Nacional pela Redução da 
Mortalidade Materna e Neonatal no Brasil.
Criação do conceito de “justiça reprodutiva”
nos EUA, por um grupo de mulheres negras.
Anos 80
1995
1994
1988
1983
1990
1980
até
2016
2007
Entre 
1996 e 
2001
2005
1996
2004
1994
1950
Introdução: Direitos Sexuais e 
Reprodutivos (DSR) e a justiça reprodutiva
Nesta primeira aula, você conhecerá um pouco da história dos direitos sexuais e 
reprodutivos no mundo e no Brasil. Você verá também o lugar do abortamento 
nesse campo de estudo e sua conexão com a saúde pública. Vamos lá?
Começaremos com os fatos mais importantes que marcaram a história dos direitos 
sexuais e reprodutivos. Acompanhe:
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
8
Como você pode observar na linha do tempo, o debate sobre os direitos sexuais e repro-
dutivos vem de longa data. Para compreender cada uma de suas dimensões e se apro-
fundar nesse tema, detalhamos a seguir os eventos mais importante sobre os DSRs.
Diferentes governos ao redor do mundo 
começam a implementar políticas de 
planejamento e controle populacional.
São publicadas denúncias no Brasil de 
esterilização forçada de mulheres negras.
IV Conferência Mundial sobre a Mulher
da ONU, em Pequim, onde se confirmou o 
paradigma dos direitos sexuais e reprodutivos.
Conferência Internacional sobre População e 
Desenvolvimento da ONU, no Cairo, onde se 
firmou o conceito de direitos reprodutivos.
A Constituição brasileira reconhece o
direito à igualdade de gênero e ao 
planejamento reprodutivo.
Criação do PAISM – Programa de Assistência 
Integral à Saúde da Mulher no Brasil.
Formulação do conceito de direitos sexuais 
por movimentos gays e lésbicos pelo mundo.
China: cada família só poderiater um filho.
Criação da Política Nacional de Atenção 
Integral à Saúde da População Negra no Brasil.
Peru: mais de 272.028 mulheres e
22.004 homens esterilizados forçosamente.
Criação da Política Nacional dos Direitos 
Sexuais e dos Direitos Reprodutivos pelo 
Ministério da Saúde brasileiro.
Aprovação da Lei de Planejamento
Familiar nº 9.263 no Brasil.
Criação da Política Nacional de Atenção 
Integral à Saúde da Mulher do Ministério da 
Saúde e Pacto Nacional pela Redução da 
Mortalidade Materna e Neonatal no Brasil.
Criação do conceito de “justiça reprodutiva”
nos EUA, por um grupo de mulheres negras.
Anos 80
1995
1994
1988
1983
1990
1980
até
2016
2007
Entre 
1996 e 
2001
2005
1996
2004
1994
1950
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
9
A partir dos anos 1950, governos nacionais em diferentes partes do mundo passa-
ram a implementar políticas de planejamento e controle populacional, com a justi-
ficativa de impulsionar o desenvolvimento econômico. Tais políticas se funda-
mentavam na ideia de que há uma forte relação entre fecundidade e crescimento 
econômico, sendo, portanto, dever do estado administrar a vida reprodutiva de sua 
população, por meio de ações controlistas ou pró-natalistas (MARTINS, 2019).
 
A principal característica desse tipo de política é seu caráter hierárquico e tecno-
crático, ou seja, agentes do Estado definem o perfil de população desejada – por 
exemplo, por raça, classe social e tamanho da família – e desenham políticas públi-
cas para a criação desse perfil. 
Esse tipo de política nega a autonomia e a capacidade das pessoas de decidir sobre 
suas vidas reprodutivas, ao mesmo tempo que cria hierarquias entre grupos da 
população, categorizados como desejados ou indesejados, como brancos versus 
negros e indígenas, ricos versus pobres. 
Em alguns países, como o Peru entre os anos de 1996 a 2001, esses programas 
consistiram na esterilização forçada de milhares de mulheres, em sua maioria 
pobres e indígenas (GUTIERREZ, 2014). Já na China, vigorou por mais de três déca-
das, até 2016, a política que determinava que cada família poderia ter apenas uma 
criança (FENG; GU; CAI, 2016).
Direitos reprodutivos
Pare um instante para refletir... Você consegue identificar, nos dias de hoje, 
práticas do Estado que possam ser caracterizadas como políticas controlistas?
Ponto de reflexão
No Brasil, também houve a atuação de instituições de caráter controlista finan-
ciadas por capital estrangeiro e, na década de 1980, vieram a público denúncias 
de programas de controle da natalidade e planejamento familiar que esterilizaram 
mulheres negras sem o consentimento delas. Tais denúncias culminaram em uma 
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPMI), cujo relatório serviu de base para a Lei 
do Planejamento Familiar nº 9.263, aprovada em janeiro de 1996.
Os direitos reprodutivos surgem como resposta feminista contra essas políticas 
de controle populacional e por autodeterminação, integridade corporal, equidade 
e diversidade. No Brasil, a Constituição de 1988 reconhece o direito à igualdade de 
gênero e ao planejamento reprodutivo fundamentado na dignidade humana e na 
livre decisão de cada pessoa. 
Fique por dentro
Conheça o relatório 
da CPMI na íntegra. 
É um dos princípios 
fundamentais dos 
direitos humanos e 
significa autonomia, 
abrangendo 
autorresponsabilidade, 
autorregulação e livre-
arbítrio de todo ser 
humano.
Autodeterminação
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/85082/CPMIEsterilizacao.pdf?sequence=7&isAllowed=y
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/85082/CPMIEsterilizacao.pdf?sequence=7&isAllowed=y
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
10
No plano internacional, a Conferência Internacional da ONU sobre População 
e Desenvolvimento (CIPD), realizada no Cairo em 1994, foi o marco mundial de 
mudança de uma abordagem de disciplinamento e controle para um paradigma de 
direitos, autonomia e respeito no campo da reprodução humana.
Agora que você já conheceu um pouco sobre os direitos reprodutivos, verá a seguir 
o que são direitos sexuais e como esses dois campos estão relacionados, levando 
inclusive à utilização da expressão “direitos sexuais e reprodutivos (DSR)”. 
O conceito de direitos sexuais tem uma história distinta e mais recente. Sua formu-
lação inicial se deu nos anos 1990 pelo trabalho incansável de movimentos gays e 
lésbicos em diferentes partes do mundo, que logo foram abraçados por segmentos 
dos movimentos feministas e por outras minorias sexuais, como os movimentos 
trans e travesti, e intersexo.
Direitos sexuais
Fique por dentro
Conheça o relatório 
da Conferência 
sobre População 
e Desenvolvimento. 
http://www.unfpa.org.br/Arquivos/relatorio-cairo.pdf
http://www.unfpa.org.br/Arquivos/relatorio-cairo.pdf
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
11
Direitos reprodutivos se ancoram no reconhecimento do direito básico de todo casal e indi-
víduo de decidir livre e responsavelmente sobre o número e espaçamento de filhos e ter a 
informação e os meios para assim fazer, e o direito de gozar do mais elevado padrão de saúde 
sexual e reprodutiva. Inclui também seu direito de tomar decisões sobre a reprodução livre de 
discriminação, coerção ou violência.
(ONU, 1994: parágrafo 7.3)
Um ano mais tarde, na IV Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada em 
Pequim em 1995, foram confirmados e ampliados os acordos estabelecidos no 
Cairo com relação aos direitos sexuais e reprodutivos. Na Plataforma de Pequim, 
os direitos sexuais foram definidos de forma mais explícita e autônoma em relação 
aos direitos reprodutivos.
Os direitos humanos das mulheres incluem seus direitos a ter controle e decidir livre e respon-
savelmente sobre questões relacionadas à sexualidade, incluindo saúde sexual e reproduti-
va livre de coerção, discriminação e violência. Relacionamentos igualitários entre homens e 
mulheres nas questões referentes às relações sexuais e à reprodução, inclusive o pleno respei-
to pela integridade da pessoa, respeito mútuo, consentimento e divisão de responsabilidades 
sobre o comportamento sexual e suas consequências.
(ONU, 1995 parágrafo 96)
Como você pode observar, foi um longo caminho entre as políticas controlistas 
iniciadas nos anos 1950 e o reconhecimento dos direitos sexuais e reprodutivos 
como direitos humanos nos anos 1990.
Esse reconhecimento é um grande avanço a ser celebrado, pois confere um pata-
mar mínimo que todas as pessoas podem exigir ser traduzido em políticas públicas 
por seus governos.
Contudo, há ainda vários grupos sociais cujos direitos humanos são violados com 
base na sexualidade, como lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, inter-
sexos e pessoas não binárias, bem como pessoas que exercem a prostituição como 
trabalho e também aquelas que vivem com HIV/Aids. 
Embora não conste a expressão “direitos sexuais” no documento oficial da Confe-
rência de Cairo da ONU, o texto inclui, de modo explícito, o conceito de “saúde 
sexual” como elemento essencial para o exercício dos direitos reprodutivos:
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
12
Há também o caso de suposições errôneas com relação à sexualidade, como a 
crença de que pessoas idosas e pessoas com deficiências não tenham uma vida 
sexual ativa. Há ainda o preconceito e a discriminação contra determinados grupos 
sociais, em que a reprodução é vista como não desejável, como é o caso das pessoas 
com deficiência, pessoas em situação de prisão, adolescentes e pessoas com orien-
tações sexuais que não sejam heterossexuais.
Contra essas visões reducionistas, é importante destacar a universalidade 
dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos, que protegem e garantem a todas 
as pessoas, sem estigmas,distinções e preconceitos, um cuidado em saúde sexual 
e reprodutiva humanizado e de qualidade.
1
Orientação sexual – refere-se à direção do desejo erótico
e afetivo de cada pessoa. Há pessoas heterossexuais, que
se sentem atraídas por pessoas do sexo/gênero oposto, 
homossexuais, que sentem atração por pessoas do mesmo 
sexo/gênero, e bissexual, que se relacionam afetiva e 
sexualmente com pessoas de todos os sexos/gêneros.
2
Identidade de gênero – é a forma como a pessoa se sente
e se apresenta para si mesma e para as demais pessoas, 
como masculina ou feminina, ou ainda como uma mescla
de ambos, independentemente do sexo assinalado no 
nascimento ou da orientação sexual – pessoas cis são 
aquelas que se identificam com o sexo assinalado em seu 
nascimento e trans são aquelas que se identificam de forma 
diferente daquela que lhes foi atribuída ao nascimento. 
3
Pessoa não binária – pessoa cuja identidade de gênero
ou expressão de gênero não está limitada às definições
de masculino ou feminino. Ou seja, pessoa que define seu 
gênero como estando “em algum lugar entre homem e 
mulher” ou como totalmente diferente dos dois polos.
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
13
A seguir, veja o leque de direitos sexuais garantidos a todas as pessoas, indepen-
dentemente de gênero, idade, classe e situação social.
O direito de viver e expressar livremente
a sexualidade sem violência, discriminações
e imposições, e com total respeito pelo
corpo do(a) parceiro(a).
O direito de escolher a parceria sexual.
O direito de viver a sexualidade,
independentemente de estado civil,
idade ou condição física.
O direito de expressar livremente sua
orientação sexual: heterossexualidade,
homossexualidade, bissexualidade.
O direito ao sexo seguro para prevenção
da gravidez e de infecções sexualmente
transmissíveis (IST) e HIV/Aids.
O direito a serviços de saúde que garantam
privacidade, sigilo e atendimento de
qualidade, sem discriminação.
O direito de viver plenamente a sexualidade
sem medo, vergonha, culpa e falsas crenças.
O direito de escolher se quer
ou não quer ter relação sexual.
O direito à informação e à
educação sexual e reprodutiva.
O direito de ter relação sexual,
independentemente da reprodução.
Direitos
sexuais
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
14
Agora, veja quais são os direitos reprodutivos que protegem também todas as 
pessoas, sem distinção.
O direito de as pessoas decidirem, de forma livre e
responsável, se querem ou não ter filhos, quantos
filhos desejam ter e em que momento de suas vidas.
O direito de acesso a informações, meios,
métodos e técnicas para ter ou não ter filhos.
O direito de exercer a sexualidade e a reprodução
livre de discriminação, imposição e violência.
Todos os direitos elencados anteriormente estão garantidos no Brasil, que parti-
cipou ativamente dos espaços internacionais – a Conferência do Cairo (1994) 
e a Conferência de Pequim (1995) – em que esses direitos foram definidos, pela 
primeira vez, em nível internacional, como já vimos antes.
Mas, além de aderir aos acordos internacionais que resultaram dessas conferên-
cias, o Estado brasileiro também internalizou essas ideias em leis e políticas públi-
cas. Agora, vamos compreender os principais Marcos Referenciais para as Políticas 
de Saúde Sexual e Reprodutiva no Brasil:
Lei nº 9.263/1996, que regulamenta o planejamento familiar.
Programa de Assistência 
Integral à Saúde da Mulher. 
PAISM (1984).
Constituição
Federal de 1988.
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
15
Política Nacional
de Atenção Integral à
Saúde da Mulher/2004.
Pacto Nacional pela
Redução da Mortalidade 
Materna e Neonatal/2004.
Política Nacional dos
Direitos Sexuais e dos
Direitos Reprodutivos/2005.
Política Nacional de
Atenção Integral à Saúde
da População Negra/2007.
Talvez você já conheça ou tenha ouvido falar do Programa de Atenção Integral à 
Saúde da Mulher (PAISM). Mas você sabia que ele, tal como originalmente formu-
lado, instituiu uma agenda ampla e compreensiva de saúde da mulher no lugar da 
assistência médica pautada por ações programáticas e isoladas?
Assim, o PAISM (1984) incorporou uma perspectiva de empoderamento, em que o 
acesso à informação é central para que as mulheres possam fazer suas escolhas de 
forma autônoma e consciente.
Essas escolhas estão relacionadas não apenas à regulação da fecundidade, mas 
também à assistência no ciclo gravídico puerperal. Em todas essas dimensões, 
deveria haver atenção não apenas aos aspectos médicos, mas também aos psicoló-
gicos e sociais. O PAISM inovou, indo além da reprodução para cuidar também do 
envelhecimento e da saúde mental e ocupacional.
Agora, pense na atenção às pessoas com útero nas unidades básicas de saúde. 
Você identifica um atendimento integral às necessidades de saúde, inclusive 
as necessidades psíquicas e sociais, ou apenas ações de atenção programática, 
como o pré-natal, e medidas de prevenção de câncer de colo uterino?
Ponto de reflexão
No contexto do PAISM, o material educativo produzido sobre gravidez ou sobre 
como evitá-la deixa claro o seu caráter inovador e emancipador. O Programa 
rompeu com o conservadorismo predominante da época e contribuiu para a disse-
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
16
minação da perspectiva da “integralidade” para outras áreas da saúde que, mais 
tarde, veio a ser um dos princípios orientadores do SUS (DINIZ; LANSKY; D’OLI-
VEIRA, 2012).
Além disso, a Constituição Federal, promulgada em 5 de outubro de 1988, inclui no 
Título VIII da Ordem Social, em seu Capítulo VII, art. 226, § 7º, a responsabilidade 
do Estado no que se refere ao planejamento familiar, nos seguintes termos:
Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o 
planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo aos Estado propiciar recursos 
educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por 
parte de instituições oficiais ou privadas.
Para o exercício do direito ao planejamento familiar, serão oferecidos todos os métodos e 
técnicas de concepção e contracepção cientificamente aceitos e que não coloquem em risco a 
vida e a saúde das pessoas, garantida a liberdade de opção.
A Lei n. 9.263, de 12 de janeiro de 1996, que regulamenta o planejamento familiar, 
estabelece em seu art. 2º: 
Determina, ainda, a mesma lei, em seu art. 9º, que: 
Para fins desta Lei, entende-se planejamento familiar como o conjunto de ações de regulação 
da fecundidade que garanta direitos iguais de constituição, limitação ou aumento da prole 
pela mulher, pelo homem ou pelo casal.
Parágrafo único - É proibida a utilização das ações a que se refere o caput para qualquer tipo 
de controle demográfico.
Como vemos nos trechos anteriores, as leis brasileiras deixam claro que as instân-
cias gestoras do Sistema Único de Saúde (SUS), em todos os seus níveis, bem como 
profissionais de saúde que nelas atuam, devem garantir a atenção integral que 
inclua a assistência à concepção e à contracepção.
Conheça a seguir algumas etapas do estabelecimento das políticas públicas de 
atenção à saúde da mulher.
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
17
Em 2004, o Ministério da Saúde instituiu a Política Nacional de Atenção Integral à 
Saúde da Mulher em parceria com diversos setores da sociedade civil. Essa política 
reflete o compromisso com a implementação de ações de saúde que contribuam 
para a garantia dos direitos humanos das mulheres e reduzam a morbimortalidade 
por causas preveníveis e evitáveis.
Além disso, essa política enfatiza a melhoria da atenção obstétrica, o planejamento 
familiar, a atenção ao abortamentoa mulheres e meninas em situação de violência 
doméstica e sexual, e amplia as ações para grupos historicamente excluídos das 
políticas públicas em suas especificidades e necessidades.
Em 2005, o Ministério da Saúde lançou a Política Nacional dos Direitos Sexuais e dos 
Direitos Reprodutivos. Entre as diretrizes e ações propostas por essa política, estão:
Políticas públicas de atenção à saúde da mulher
A ampliação da oferta de métodos anticoncepcionais
reversíveis no SUS e incentivo à implementação de
atividades educativas em saúde sexual e reprodutiva
para as pessoas que utilizam a rede SUS.
A capacitação de profissionais da atenção
básica em saúde sexual e saúde reprodutiva. 
A ampliação do acesso à esterilização cirúrgica
voluntária (laqueadura tubária e vasectomia) no SUS.
A implantação e implementação de redes integradas
para atenção às mulheres e adolescentes em situação
de violência doméstica e sexual.
A ampliação dos serviços de referência para a realização do
abortamento previsto em lei e garantia de atenção humanizada
e qualificada às mulheres em situação de abortamento.
Índice de pessoas que 
adquirem determinada 
doença ou morrem em 
decorrência dela em 
uma população.
Morbimortalidade
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
18
Já em 2007, reconhecendo as desigualdades étnico-raciais e o racismo institucio-
nal como determinantes sociais de saúde, o Ministério da Saúde adotou a Política 
Nacional de Atenção Integral à Saúde da População Negra.
Essa política propõe a qualificação e humanização da atenção à saúde das 
mulheres negras – assistência ginecológica e obstétrica e também no climatério, 
bem como em situação de abortamento. Ela reconhece, ainda, a maior 
vulnerabilidade das mulheres negras à morbimortalidade materna, 
doença falciforme, câncer de colo uterino, bem como ISTs/HIV/Aids, 
tuberculose, hanseníase e transtornos mentais.
Diante desse quadro, essa política estabelece ainda ações que visam combater o 
racismo e a discriminação social nos serviços de saúde e garantir a atenção integral, 
com qualidade e respeito, a toda a população negra.
Para continuar a compreensão deste assunto, discutiremos a seguir a justiça repro-
dutiva. Você já ouviu falar nela? Então, siga em frente!
O conceito de justiça reprodutiva foi criado em 1994 por um grupo de mulheres 
negras estadunidenses que se autodenominaram “mulheres afrodescendentes por 
justiça reprodutiva” (Women of African Descent for Reproductive Justice).
O seu objetivo é ampliar o entendimento dos direitos sexuais e reprodutivos para 
além de uma perspectiva individual centrada na escolha, e incluir o contexto em 
que as pessoas fazem suas escolhas e as condições desses processos de tomada de 
decisão.
Assim, a justiça reprodutiva foi definida por aquele grupo de mulheres como: “o direi-
to humano à autonomia corporal pessoal, a ter filho/as, a não ter filho/as, e a criar o/as 
filho/as que temos em comunidades saudáveis e sustentáveis” (SisterSong Collective).
Desse modo, o paradigma da justiça reprodutiva propõe uma abordagem mais 
ampla para os direitos reprodutivos e a saúde reprodutiva. Ela vincula esses direi-
tos às lutas por justiça social, racial e ambiental de mulheres negras e de suas comu-
nidades, e relaciona suas trajetórias reprodutiva e sexual à busca por cidadania, 
dignidade e bem-viver em todos os espaços de vida, individual e coletiva.
A justiça reprodutiva ganhou espaço ao longo dos anos, e é importante que você 
conheça como ela é discutida em nosso país. Um exemplo no Brasil é a organização 
Criola que atua na defesa e promoção dos direitos das mulheres negras no Brasil 
há quase três décadas.
Justiça reprodutiva
Fique por dentro
Assista ao vídeo da 
Fiocruz “Juventudes e 
Justiça Reprodutiva: 
contribuições 
contemporâneas para 
o campo da saúde”.
Acesse a cartilha do 
Coletivo Margarida 
Alves e saiba mais 
sobre o assunto.
É científico!
Fique por dentro
Ouça o podcast da 
Organização Criola.
https://www.youtube.com/watch?v=RG7d74a5MT8&ab_channel=AgendaJovem
https://www.youtube.com/watch?v=RG7d74a5MT8&ab_channel=AgendaJovem
https://www.youtube.com/watch?v=RG7d74a5MT8&ab_channel=AgendaJovem
https://www.youtube.com/watch?v=RG7d74a5MT8&ab_channel=AgendaJovem
https://www.youtube.com/watch?v=RG7d74a5MT8&ab_channel=AgendaJovem
https://coletivomargaridaalves.org/cartilha-idealizada-pelo-coletivo-margarida-alves-reune-informacoes-para-a-luta-por-justica-reprodutiva-no-brasil/
https://coletivomargaridaalves.org/cartilha-idealizada-pelo-coletivo-margarida-alves-reune-informacoes-para-a-luta-por-justica-reprodutiva-no-brasil/
https://criola.org.br/wp-content/uploads/2019/07/justicareprodutiva.mp3
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
19
Você, profissional de saúde, acredita que existam situações práticas da assis-
tência à saúde em que os direitos sexuais e reprodutivos são violados? Se sim, 
quais seriam essas situações?
Para você, qual a relevância dos serviços de saúde na garantia desses direitos?
Ponto de reflexão
O vídeo e o podcast apresentados no Fique por dentro mostram como um concei-
to, desenvolvido por mulheres negras nos Estados Unidos, viajou e encontrou 
embasamento no contexto brasileiro, onde a população negra também sofre as 
consequências brutais do racismo estrutural.
Você pôde ver até aqui como se desenvolveram os direitos sexuais e reproduti-
vos e também o conceito de justiça reprodutiva. A seguir, você entenderá um dos 
temas centrais deste curso, que é o abortamento, e por que precisamos discuti-lo 
no âmbito da saúde pública. Vamos lá?
O abortamento é a interrupção de uma gestação pela remoção ou expulsão de um 
embrião ou feto do corpo da pessoa que está gestante. Chamamos de induzido o 
abortamento que ocorre por meios artificiais, sejam eles cirúrgicos ou farmacológi-
cos. Já o abortamento espontâneo é aquele que ocorre naturalmente.
Você sabia que o abortamento, seja espontâneo ou induzido, é um dos aconte-
cimentos ginecológicos mais comuns? De modo geral no mundo, 15% a 20% das 
gestações terminam em um abortamento espontâneo (GARCÍA-ENGUÍDANOS; 
CALLE; VALERO et al., 2002) e 56% das gestações indesejadas terminam em um 
abortamento induzido (GUTTMACHER INSTITUTE, 2017).
Estudos antropológicos e sociológicos mostram que, ao longo da história da humani-
dade, o abortamento induzido é um fato comum nas diversas sociedades. As pessoas 
sempre regularam sua fertilidade, e o faziam pelo uso de contracepção ou abortamento.
O que é abortamento e por que 
ele é uma questão de saúde pública 
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
20
Até o século XVIII, abortamento e contracepção, assim como parto e nascimento, 
eram tratados como vivência das mulheres, quer dizer, faziam parte da vida reprodu-
tiva das mulheres tanto gestar e parir quanto abortar; e as parteiras eram as principais 
prestadoras de cuidados e serviços de planejamento familiar (JOFFE, 2009).
Apenas a partir do século XIX, como consequência do desenvolvimento da medici-
na moderna, especialmente das especialidades de ginecologia e obstetrícia, é que 
leis passaram a regular o abortamento induzido por pressão dos órgãos de repre-
sentação da classe médica. Assim, as leis passaram a restringir o abortamento em 
muitas situações e a permitir em poucas, sempre com supervisão médica, trans-
formando-o em uma questão controvertida, que reflete uma variedade de forças 
religiosas, sociais e políticas (JOFFE, 2009).
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
21
Tratar o abortamento induzido como uma questão de saúde pública – e não como 
questão moral ou criminal – implica uma redefinição de argumentos e prioridades. 
Os argumentos relevantes passam a ser aqueles embasados em evidências 
científicas eas prioridades passam a ser os cuidados em saúde da pessoa em situação 
de abortamento, seja aquela que recorre ao serviço de atenção ao abortamento 
previsto em lei ou aquela que busca o cuidado pós-aborto, espontâneo ou induzido.
A regulação jurídica do abortamento induzido, o seu tratamento como uma ques-
tão social polêmica e sua consequente estigmatização levam muitas pessoas a 
abortar de forma insegura, sem os devidos cuidados. Desse modo, o abortamento 
inseguro mata e adoece pessoas. 
Existe um consenso internacional de órgãos de direitos humanos e saúde de que esse 
é um sério problema de saúde pública em muitos países e precisa ser discutido e estu-
dado pelos profissionais de saúde. (ASSEMBLEIA MUNDIAL DA SAÚDE, 1967).
Este é um ponto importante! Profissional de saúde não deve nem pode inves-
tigar, julgar, recriminar ou discriminar – seu papel é cuidar. O que você pensa 
sobre isso?
Ponto de reflexão
Fique por dentro
Ouça a entrevista com 
o professor Jefferson 
Drezett, que explica 
por que o abortamento 
inseguro é uma questão 
de saúde pública.
Como vimos, o abortamento é um evento comum na vida reprodutiva das pessoas. 
Contudo, quando realizado de forma insegura, ele pode produzir muitos danos à 
saúde e até mesmo a morte. Nesta seção, veremos a relação entre abortamento 
inseguro e mortalidade materna.
Abortamento inseguro e mortalidade materna
Antes de tudo, é preciso saber o que é mortalidade materna. Você conhece a defini-
ção da Organização Mundial de Saúde (OMS)?
A OMS define morte materna como aquela decorrente de problemas relacionados à 
gravidez ou por ela agravados, ocorridos no período da gestação ou até 42 dias após 
o parto. A razão de morte materna é um indicador das condições de vida e cuidados 
de saúde de uma população e reflete no desenvolvimento humano de um país.
Mortalidade materna
https://jornal.usp.br/atualidades/aborto-e-questao-de-saude-publica/
https://jornal.usp.br/atualidades/aborto-e-questao-de-saude-publica/
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
22
Fique por dentro
Saiba mais sobre 
os objetivos da ODS.
Sobre o abortamento 
inseguro, leia o artigo 
dos Cadernos de 
Saúde Pública.
É científico!
 
Níveis baixos de instrução, condições nutricionais inadequadas, apoio social insu-
ficiente e falta de acesso a cuidados de saúde estão fortemente associados às 
mortes maternas. Além disso, a mortalidade materna é, habitualmente, o principal 
indicador da mortalidade diferencial entre mais ricos e mais pobres, entre nações, 
grupos sociais e famílias.
A aceleração da redução da mortalidade materna foi estabelecida como uma das 
metas globais prioritárias nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 
das Nações Unidas.
Mas por que a morte materna é um importante indicador de saúde?
Ela é considerada “um evento sentinela, um importante marcador da qualidade do 
sistema de saúde, em especial em relação ao acesso, à adequação e à oportunidade 
do cuidado” e está “intimamente relacionado à vulnerabilidade social das popula-
ções" (FREITAS-JUNIOR, 2020, p. 616).
No Brasil, a razão de morte materna está próxima a 50 por 100 mil habitantes. 
Esses valores são muito superiores àqueles considerados aceitáveis pela OMS, que 
estabelece que a razão de morte materna nunca deve ser superior a 20.
O acesso à atenção pré-natal e a adequada assistência ao parto são importantes 
para a redução da mortalidade materna. Mas igualmente relevante para a redução 
desse índice é o entendimento de que o abortamento inseguro contribui para mortes 
maternas evitáveis e deve ser enfrentado como um problema de saúde pública.
Você sabe como se calcula a razão de mortalidade materna?
A razão de mortalidade é um indicador utilizado para se conhecer o número de 
mortes de mulheres grávidas (independentemente da localização ou tempo de 
gestação) ou mulheres com até 42 dias após o parto, por qualquer causa exceto 
acidentes, a cada 100 mil crianças nascidas vivas, em determinado local e espaço 
de tempo. Veja a seguir como o Datasus (Ministério da Saúde) realiza esse cálculo:
Razão de
mortalidade
100.000
número de óbitos maternos
diretos e indiretos
número de nascidos vivos
Para saber mais sobre 
os indicadores de 
mortalidade, acesse 
o site do Datasus.
É científico!
Apesar de ainda ser elevada, a razão de mortalidade materna vem se reduzindo no 
Brasil nos últimos anos. Em 2017, ela foi de 56,88; em 2018, de 49,66 e em 2019, de 
48,33. Essa redução pode ser atribuída à melhoria da qualidade de informação sobre 
a saúde reprodutiva e à maior qualidade dos serviços de atenção e cuidado. Apesar 
disso, o fato de que o abortamento inseguro continua sendo uma das quatro maiores 
causas de mortalidade materna no Brasil é um dado sério, que não pode ser ignorado.
https://ods.imvf.org/
https://www.scielo.br/j/csp/a/Vz5bVgLTWS54g4KLXDynSqf/?lang=pt&format=pdf
https://www.scielo.br/j/csp/a/Vz5bVgLTWS54g4KLXDynSqf/?lang=pt&format=pdf
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2000/fqc06.htm
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
23
Morte materna no mundo (OMS)
As cinco maiores complicações, que respondem por
aproximadamente 75% de todas as mortes maternas, são:
27 a 1%
Hemorragia
severa (a maior parte 
hemorragia após o parto)
10 a 7%
Infecções
(normalmente
após o parto)
3 a 2%
Complicações
resultantes
do parto
14 a 0%
Hipertensão durante
a gravidez (pré-eclâmpsia
e eclampsia)
7 a 9%
Aborto
inseguro
Consulte aqui a base 
de dados do SUS.
É científico!
Você quer saber como está a situação de seu estado ou cidade em relação à 
mortalidade materna? 
O gráfico a seguir mostra as principais causas de morte materna no mundo. Você 
pode notar que o abortamento inseguro está entre elas.
O gráfico mostrou que o abortamento inseguro é uma das principais causas evitáveis de 
mortalidade materna mundialmente, e infelizmente a situação do Brasil não é diferente.
De acordo com o Ministério da Saúde, entre os óbitos maternos ocorridos de 
1996 a 2018, as causas obstétricas diretas que se destacaram foram: hipertensão, 
hemorragia, infecção puerperal e abortamento inseguro.
http://tabnet.saude.sp.gov.br/deftohtm.exe?tabnet/ind14_matriz.def
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
24
Abortamento no mundo
A seguir você conhecerá dados sobre o abortamento no mundo e mais à frente 
sobre o abortamento no Brasil. Continue!
As leis sobre abortamento no mundo
Totalmente proibido
Para salvar a vida da mulher 
Para preservar a saúde
Razões sociais ou econômicas amplas
Sob solicitação (limites gestacionais variam)
Fique por dentro
Interaja com o mapa 
As Leis de Aborto do 
Mundo e entenda 
melhor suas categorias.
É importante destacar que os órgãos internacionais de direitos humanos consi-
deram, cada vez mais, que a restrição do acesso ao abortamento seguro é incom-
patível com o direito à igualdade, à autonomia, à dignidade e à saúde e, por isso, 
solicitam que os governos nacionais removam todas as punições penais ao abor-
tamento (ERDMAN; COOK, 2020).
Você sabia que a América Latina e o Caribe são as regiões com as 
leis mais restritivas ao abortamento no mundo? E que o Brasil está 
entre aqueles com leis criminais mais severas?
A partir do mapa anterior você pode observar em quais regiões do mundo a legis-
lação sobre abortamento é mais permissiva e mais restritiva. É possível também 
identificar que os países do sul global tendem a ter leis mais restritivas.
https://maps.reproductiverights.org/worldabortionlaws
https://maps.reproductiverights.org/worldabortionlaws
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
25
Você já se perguntou quais são as consequências sociais, políticas e econômi-
cas para as pessoas que vivem em países com leis restritivas ao abortamento?
Pontode reflexão
O gráfico a seguir mostra como as taxas de abortamento inseguro aumentam à medida 
em que as legislações se tornam mais restritivas. Assim, nos contextos mais permissi-
vos, em que a interrupção voluntária da gravidez está autorizada, o abortamento inse-
guro corresponde a 13% dos casos. Já nos contextos mais restritivos, como é o caso 
brasileiro, o abortamento menos seguro e inseguro chega a 56% dos casos.
A proporção de todos os abortamentos que são estimados ser
inseguros aumenta à medida que as leis se tornam mais restritivas.
Moderadamente 
restritiva
Seguro Menos seguro Inseguro
Inseguros:
são abortamentos 
que não cumprem 
nenhum dos dois 
critérios citados.
Muito restritiva
Abortamentos 
seguros usam 
estes dois 
critérios: são feitos 
por uma pessoa 
apropriadamente 
treinada e 
utilizando um 
método seguro.
Menos restritiva
Menos seguros: 
são abortamentos 
que cumprem 
apenas um dos 
dois critérios 
citados.
87%
42%
25%
44%
31%
17%12%
41%
1%
O gráfico, portanto, deixa evidente a relação entre restrição e insegurança no aborta-
mento. Leis que criminalizam o abortamento não impedem que as pessoas abortem, 
mas as levam a procurar métodos inseguros, que colocam em risco sua saúde e vida.
Fonte: https://www.guttmacher.org report/abortion-worldwide-2017
https://www.guttmacher.org/report/abortion-worldwide-2017
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
26
Ainda segundo dados da OMS (2020), a cada ano entre 4,7% a 13,2% das mortes 
maternas podem ser atribuídas ao abortamento inseguro. Além disso, o abortamento 
inseguro implica despesas públicas que poderiam ser evitadas com políticas públicas. 
Estimativas mostram que, nos países em desenvolvimento, o gasto anual para os siste-
mas de saúde inclui US$ 553 milhões de dólares para tratar complicações por aborta-
mento inseguro e US$ 6 bilhões para tratar infertilidade pós-abortamento inseguro.
E no Brasil, você sabe qual a situação atual? Siga em frente para conhecer!
Segundo a pesquisa Nascer no Brasil, da Fiocruz, 55% das gestações não são planeja-
das. Isso se deve a uma série de barreiras sociais, econômicas ou educacionais. Muitas 
vezes, as pessoas não têm informações adequadas sobre planejamento reprodutivo, 
outras vezes não têm acesso aos métodos, como contraceptivos e preservativos.
Muitas dessas gestações indesejadas são interrompidas, o que faz do abortamento 
um evento comum na vida de pessoas, com maior incidência em pessoas em situa-
ção de vulnerabilidade, como será explicado no decorrer do curso.
Segundo a Pesquisa Nacional de Aborto (2016):
Abortamento no Brasil
Metade das mulheres aborta usando medicamentos.
O aborto foi realizado com medicamentos em 48% (115)
dos casos válidos. Se considerados os 4% (10) de não-resposta
ao quesito, a proporção seria ainda próxima, 46%. 
O aborto é comum entre as mulheres brasileiras. Das 2.002
mulheres alfabetizadas entre 18 e 39 anos entrevistadas pela
PNA em 2016, 13% (251) já fizeram ao menos um aborto.
Cerca de metade das mulheres precisou ser internada
para finalizar o aborto: 48% (115) das mulheres foram
internadas no último aborto.
Segundo dados da OMS, a maior parte dos abortamentos inseguros (98%) 
ocorre em países em desenvolvimento. Isso evidencia como a organização 
sócio-político-econômica determina a exclusão ou acesso aos direitos.
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
27
Em outras palavras, isso significa que:
Na faixa etária de
anos
18 a 38
Apesar da lei severa no Brasil
Fonte: Pesquisa Nacional do Aborto 2010 a 2016.
1 por minuto
1369 por dia
57 por hora
500.000 por ano
4,7 milhões
de mulheres já fizeram aborto
1 em cada 5 mulheres
até os 40 anos já fez aborto
56%
são
católicas
25%
evangélicas
protestantes
7%
possuem
outras religiões 
Aborto
67%
têm filhos
88%
têm religião
Dessas:
O gráfico nos revela que o abortamento é um evento comum na vida reprodutiva de 
mulheres comuns – pelo menos uma em cada cinco mulheres até os 40 anos já fez 
um aborto, e a grande maioria delas tem religião e já possui filhos. Com certeza você 
tem alguém em seu círculo próximo que já passou por um abortamento induzido.
Para compreender 
melhor, leia a Pesquisa 
Nacional Aborto, que 
explica em detalhes o 
panorama destacado no 
infográfico anterior.
É científico!
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81232017000200653&script=sci_abstract&tlng=pt
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81232017000200653&script=sci_abstract&tlng=pt
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
28
No entanto, esses números podem ser ainda maiores. Há falhas no preenchimento 
de declaração de óbito de pessoas por abortamento e também existe uma subnoti-
ficação. Por exemplo, a quinta causa de morte mais frequente de mulheres aparece 
no atestado de óbito como mal definida, ou seja, trata-se de causa não estabele-
cida, isso corresponde a 3500 mortes de mulheres em idade reprodutiva (15 a 49 
anos) no Brasil anualmente (BRASIL, 2018).
O abortamento realizado em condições de risco frequentemente é acompanhado 
de complicações severas, agravadas pelo desconhecimento dos sinais de risco 
e pela demora em procurar os serviços de saúde, que em sua maioria não 
estão capacitados para esse tipo de atendimento (OLIVEIRA, 2003).
As complicações imediatas mais frequentes são a perfuração do útero, a hemor-
ragia e a infecção, que podem levar a graus distintos de morbidade e mortalidade 
(OMS, 2020). Estima-se que 20-30% dos abortos realizados de maneira insegu-
ra possam levar a infecções do sistema reprodutivo, sendo que uma em cada 10 
mulheres vão desenvolver uma disfunção temporária ou permanente e vão preci-
sar de cuidados médicos.
5 mil
complicações graves
250 mil
hospitalizações
15 mil
complicações (abortamento
incompleto com restos ovulares,
infecção, perfuração uterina, lesão
de órgãos adjacentes, hemorragia)
203 mortes, ou seja, umamorte a cada dois dias
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde (2018), o abortamento é respon-
sável anualmente por:
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
29
Dados da OMS mostram que pessoas submetidas a situação de abortamento 
inseguro sofrem pesados custos fisiológicos, financeiros e emocionais. Você 
conhece alguém que já passou por essa situação?
Ponto de reflexão
É importante, contudo, que você perceba que o risco à saúde e à vida relacionado 
ao abortamento inseguro não ocorre igualmente na população. De acordo com o 
estudo de Cardoso, Vieira e Saraceni (2020), as brasileiras em maior risco de óbito 
por abortamento são mulheres de cor preta e indígenas, de baixa escolaridade, com 
menos de 14 e mais de 40 anos, vivendo nas regiões Norte, Nordeste e Centro-o-
este, e sem companheiro.
Aula 1. O aborto no mundo e no BrasilAmpara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
30
Você, como futura/o profissional de saúde, tem um papel fundamental tanto na 
mudança desse cenário, por meio da oferta adequada de planejamento reproduti-
vo, quanto no acolhimento e adequada orientação sobre o tema. Além disso, deve 
também enfrentar as iniquidades e desigualdades no acesso ao cuidado em abor-
tamento e pós-aborto.
Você chegou ao final dessa aula. Aqui você conheceu os conceitos de direitos sexu-
ais e reprodutivos e de justiça reprodutiva. Conheceu também dados sobre o abor-
tamento no Brasil e no mundo e sua relação com a saúde pública. Siga em frente 
para conhecer mais sobre o acolhimento de pessoas em situação de abortamento e 
pós-aborto. Até lá!
Isso se explica porque classe, condição geográfica, raça, idade, e contexto cultural 
são fatores determinantes no acesso à informação e a recursos para a realização 
de um abortamento, mesmo em contexto de clandestinidade. Essesfatores estão 
entre as chamadas “determinantes sociais da saúde”, definidas como os fatores 
sociais, econômicos, culturais, étnico-raciais, psicológicos e comportamentais que 
influenciam a ocorrência de problemas de saúde e os fatores de risco na população, 
produzindo desigualdade e iniquidade (FUSCO; SILVA; ANDREONI, 2012).
No caso do abortamento inseguro, as principais determinantes sociais 
incluem restrições legais, ausência de apoio social, inadequação 
dos serviços de planejamento reprodutivo e deficiência 
em infraestrutura dos serviços de saúde.
Ampara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
31
Aula 2. Serviços de atenção ao abortamento 
previsto em lei no Brasil 
• As situações em que o abortamento é previsto em lei no Brasil.
• Os desafios para a implementação desses serviços. 
• As dificuldades de exercício desse direito e as barreiras de 
acesso aos serviços.
• Os conceitos de objeção de consciência, confidencialidade e 
sigilo.
• O que se espera de quem atua em contato ou diretamente 
em um serviço de abortamento previsto em lei.
As leis brasileiras sobre o abortamento
Nesta aula, você vai conhecer a legislação sobre abortamento no Brasil e entender 
como funciona o chamado sistema das exceções. De modo geral, o abortamento 
induzido é criminalizado no Brasil, mas há algumas situações em que ele é permitido.
São essas situações que você conhecerá mais a fundo, mas também aprenderá um 
pouco sobre as consequências danosas da criminalização.
O Código Penal de 1940 autoriza o abortamento nas situações em que há risco à 
vida da pessoa gestante e no caso da gravidez resultante de estupro. Em 2012, o 
Supremo Tribunal Federal, no contexto da Ação de Descumprimento de Preceito 
Fundamental n. 54, autorizou também a interrupção da gestação em casos de fetos 
anencefálicos.
Apesar de ser previsto em lei há muitas décadas, o primeiro serviço para assistên-
cia de abortamento legal no Brasil foi estruturado apenas em 1989, no Hospital Dr. 
Arthur Ribeiro de Saboya, na cidade de São Paulo.
Conhecendo a legislação Fique por dentro
Conheça, na íntegra, 
a Lei nº 2.848 do 
Código Penal e a 
decisão do STF 
na Arguição de 
descumprimento 
de preceito 
fundamental 54.
Serviços de atenção ao abortamento 
previsto em lei no Brasil
Aula 2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=3707334
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=3707334
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=3707334
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=3707334
Ampara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
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Aula 2. Serviços de atenção ao abortamento 
previsto em lei no Brasil 
Aqui vale uma pequena pausa para refletirmos. Considerando-se o Código 
Penal de 1940, e tendo o primeiro serviço para abortamento começado a 
funcionar em 1989, o que será que mudou até os dias de hoje? Sua cidade 
conta com um serviço de abortamento legal? Você sabe como ele funciona?
Ponto de reflexão
Para entender melhor esse cenário, veja ao lado, no É científico o mapa com os 
estabelecimentos do SUS que oferecem os serviços de abortamento previsto em 
lei no Brasil.
Apesar da ampliação do número de serviços de atenção ao abortamento previsto 
em lei no país desde a criação do primeiro em 1989, há ainda uma série de barreiras 
de acesso. A primeira delas é a concentração em algumas regiões do país. Como 
você pôde observar, praticamente não há serviços estruturados na região Norte e 
há poucos na região Centro-Oeste.
Quer saber mais sobre as barreiras de acesso ao abortamento previsto em lei? Veja 
a seguir as principais barreiras identificadas pelo estudo de Madeiro e Diniz (2016).
Interaja com o mapa 
Tudo sobre aborto legal 
no Brasil, que contém 
a localização desses 
estabelecimentos.
É científico!
Barreiras encontradas para o serviço de atenção ao abortamento no Brasil:
• O isolamento geográfico e a falta de serviços em todos os estados.
• Nem todos os serviços existentes se encontram ativos.
• Muitos serviços desencorajam as pessoas que os buscam a realizar a 
interrupção da gestação.
• Muitos serviços, contrariando a lei, exigem boletim de ocorrência para 
realizar o atendimento.
• Muitas pessoas não têm acesso à informação de que podem buscar ajuda 
em um serviço de atenção ao abortamento previsto em lei.
• Muitas mulheres não declaram que sofreram violência sexual, especial-
mente quando o agressor é parceiro íntimo.
• A veracidade do estupro muitas vezes é questionada por profissionais de 
saúde e mulheres são revitimizadas ao buscar um serviço que é seu direito.
• Profissionais se recusam a realizar o abortamento, fazendo uso da chama-
da objeção de consciência (conceito que será estudado mais à frente).
https://mapaabortolegal.org
https://mapaabortolegal.org
Ampara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
33
Aula 2. Serviços de atenção ao abortamento 
previsto em lei no Brasil 
• Profissionais de atenção primária à saúde desconhecem os direitos de uma 
pessoa frente a uma gravidez indesejada e para quais serviços encaminhar.
• Muitas pessoas sofrem violências institucionais nos serviços, como 
negligência, atendimento tardio, interrogações repetidas, discriminação 
social e racismo.
• Muitos serviços não contam com equipe de assistência específica.
• A maioria dos serviços impõe limite gestacional para a realização do 
procedimento.
Ampara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
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Aula 2. Serviços de atenção ao abortamento 
previsto em lei no Brasil 
Teste seus conhecimentos
Como você pôde observar na longa lista, as barreiras de acesso ao abortamento 
previsto em lei no Brasil são inúmeras e de diferentes ordens – há barreiras sociais, 
econômicas, educacionais e estruturais, mas muitas dessas podem ser superadas 
com o trabalho de profissionais de saúde como você.
Fique por dentro
Leia este artigo do 
portal digital Catarinas 
e saiba mais sobre 
abortamento previsto 
em lei no Brasil.
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Para saber mais 
sobre o acesso ao 
abortamento previsto 
em lei no Brasil, ouça 
o podcast “Inovação, 
ciência e tecnologia 
para avançar o acesso 
ao aborto no SUS”.
Como podem profissionais de saúde atuar na superação dessas barreiras? 
Escolha todas as opções que lhe pareçam corretas.
a) ( ) Comprometer-se com a saúde sexual e reprodutiva das pessoas, entendendo suas 
demandas e necessidades.
b) ( ) Conhecer a legislação que regula os serviços de atenção ao abortamento previsto 
em lei.
c) ( ) Oferecer acolhimento e escuta qualificada em quaisquer pontos da atenção à saúde.
d) ( ) Recusar o atendimento a uma pessoa cujo relato não pareça verídico.
e) ( ) Atualizar-se tecnicamente para oferecer uma assistência empática e de qualidade.
Feedback Positivo: Se você escolheu as letras A, B, C e E, está no caminho 
certo! A escuta atenta e acolhedora, sem julgamentos e preconceitos, é funda-
mental para o reconhecimento das demandas e necessidades assistenciais. Alia-
do a isso, o conhecimento das legislações e das melhores e mais atuais evidências 
científicas para uma prática clínica segura contribuirá para a oferta de cuidado 
capaz de promover a saúde sexual e reprodutiva.
 
Feedback negativo: Se você escolheu a letra D, você precisa refletir sobre o 
papel da saúde e do cuidado. Não cabe a você profissional de saúde julgar ou 
averiguar a veracidade do relato da situação de violência apresentado pela víti-
ma. O objetivo do atendimento em saúde é garantir o cuidado. Discutiremos 
mais esse aspecto ao longo da aula.
Sobre o limite de idade gestacional para realização de abortamento, é importan-
te saber que o Código Penal brasileiro não o estabelece. Assim, o abortamento 
previsto em lei pode ser realizado sempre que a equipe de saúdeentenda ser segu-
ro e adequado.
As Normas Técnicas do Ministério da Saúde definem o abortamento de acordo com 
a idade gestacional (até 20-22 semanas). Contudo, as normas técnicas são regula-
ções que estabelecem um mínimo do cuidado a ser prestado e devem ser interpre-
tadas de acordo com a Constituição, as leis e as melhores evidências científicas. 
https://catarinas.info/aborto-previsto-em-lei-no-brasil/
https://almalondrina.com.br/ict-para-avancar-o-acesso-ao-aborto-no-sus/
https://almalondrina.com.br/ict-para-avancar-o-acesso-ao-aborto-no-sus/
https://almalondrina.com.br/ict-para-avancar-o-acesso-ao-aborto-no-sus/
https://almalondrina.com.br/ict-para-avancar-o-acesso-ao-aborto-no-sus/
Ampara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
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Aula 2. Serviços de atenção ao abortamento 
previsto em lei no Brasil 
Nos hospitais em que há uma equipe específica para esse serviço, ela é multipro-
fissional e formada por profissionais das seguintes áreas: assistência social, psico-
logia, enfermagem, obstetrícia, ultrassonografia e anestesia. Esses(as) profissionais 
de saúde precisam se comprometer com o acolhimento e a realização de procedi-
mentos técnicos eficazes e seguros.
Como devem ser os atendimentos nos serviços 
de atenção ao abortamento previsto em lei?
Vídeo com especialista
Quer saber mais sobre como deve ser o acolhimento humanizado na saúde 
para casos de abortamento? Então, vá até o ambiente virtual e assista ao vídeo 
com a doutora em saúde pública Emanuelle Goes.
E como deve ser o acolhimento feito por essa equipe? É o que você vai saber a seguir.
No caso do serviço de atenção ao abortamento previsto em lei, o acolhimento deve 
ser pautado pelo atendimento integral às necessidades da pessoa sob cuidados e 
envolve escuta qualificada em atenção às recomendações e às Normas Técnicas do 
Ministério de Saúde.
O acolhimento realizado pela equipe multiprofissional
Dar as orientações corretas sobre o abortamento pressupõe fornecer à pessoa sob 
cuidados, de modo claro e acessível, as informações necessárias para que ela condu-
za o seu próprio tratamento, tenha segurança na tomada de decisões e possa exercer 
o autocuidado, em consonância com as diretrizes do Sistema Único de Saúde – SUS.
Acolhimento é o tratamento digno e respeitoso, que inclui a escuta ativa sem 
pré-julgamentos ou imposição de valores, o reconhecimento e a aceitação das 
diferenças. Ele inclui também o acesso à assistência e o respeito ao direito 
da pessoa de decidir sobre os procedimentos a serem tomados. 
Acolhimento é uma tarefa de toda a equipe de saúde.
Ampara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
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Aula 2. Serviços de atenção ao abortamento 
previsto em lei no Brasil 
Cuidados em saúde
É muito importante que você, como profissional de saúde, certifique-se de que 
cada dúvida e preocupação seja devidamente esclarecida para garantir que a 
pessoa tome uma decisão informada. Cabe a você adotar uma “atitude terapêu-
tica”, buscando desenvolver uma escuta ativa e uma relação de empatia.
A empatia requer uma comunicação em sintonia com as demandas da pessoa 
sob cuidados e a capacidade de se colocar no lugar dela, de modo a compreender 
a situação pela qual ela está passando.
Como você pôde observar na aula anterior, o abortamento ainda é um tema carre-
gado de estigma na sociedade brasileira e, por isso, passar por essa situação pode 
causar sofrimento, dor, autojulgamento e vergonha.
Da mesma forma, há pessoas que relatam sentir alívio e conforto. Essa multiplicida-
de de reações e sentimentos que a experiência do abortamento pode gerar é que 
torna tão importante o acolhimento por parte de profissionais de saúde.
Como é destacado na Norma Técnica de Atenção Humanizada ao Abortamento 
do Ministério da Saúde, a postura acolhedora da equipe multiprofissional é funda-
mental para a criação de um ambiente de empatia e confiança que dará segurança 
e conforto à pessoa em situação de abortamento.
Fique por dentro
Conheça na íntegra 
a Norma Técnica de 
Atenção Humanizada 
ao Abortamento do 
Ministério da Saúde.
O que cabe a profissionais de medicina e enfermagem
Dentro da equipe, algumas responsabilidades são específicas de cada categoria 
profissional. As atribuições a seguir são de toda a equipe, mas principalmente de 
profissionais de medicina e enfermagem.
Respeitar a fala da pessoa, lembrando que
nem tudo é dito verbalmente, auxiliando-a
a compreender seus sentimentos e elaborar
a experiência vivida, buscando a autoconfiança.
Organizar o acesso da pessoa,
priorizando o atendimento de acordo
com necessidades detectadas.
São responsabilidades de profissionais 
de medicina e enfermagem:
Identificar e avaliar as necessidades e riscos dos
agravos à saúde em cada caso, resolvendo-os,
conforme a capacidade técnica do serviço, ou
encaminhando-a para serviços de referência.
Dar encaminhamentos aos problemas
apresentados pela pessoa, oferecendo
soluções possíveis e priorizando seu
bem-estar e comodidade.
Realizar os procedimentos técnicos de
forma humanizada e informando a pessoa
sobre as intervenções necessárias.
Garantir a privacidade no atendimento
e a confidencialidade das informações.
Responsabilidades
de profissionais
https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2018/01/Aten%C3%A7%C3%A3o-humanizada-ao-abortamento-2014.pdf
https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2018/01/Aten%C3%A7%C3%A3o-humanizada-ao-abortamento-2014.pdf
https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2018/01/Aten%C3%A7%C3%A3o-humanizada-ao-abortamento-2014.pdf
https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2018/01/Aten%C3%A7%C3%A3o-humanizada-ao-abortamento-2014.pdf
Ampara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
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Aula 2. Serviços de atenção ao abortamento 
previsto em lei no Brasil 
Respeitar a fala da pessoa, lembrando que
nem tudo é dito verbalmente, auxiliando-a
a compreender seus sentimentos e elaborar
a experiência vivida, buscando a autoconfiança.
Organizar o acesso da pessoa,
priorizando o atendimento de acordo
com necessidades detectadas.
São responsabilidades de profissionais 
de medicina e enfermagem:
Identificar e avaliar as necessidades e riscos dos
agravos à saúde em cada caso, resolvendo-os,
conforme a capacidade técnica do serviço, ou
encaminhando-a para serviços de referência.
Dar encaminhamentos aos problemas
apresentados pela pessoa, oferecendo
soluções possíveis e priorizando seu
bem-estar e comodidade.
Realizar os procedimentos técnicos de
forma humanizada e informando a pessoa
sobre as intervenções necessárias.
Garantir a privacidade no atendimento
e a confidencialidade das informações.
Responsabilidades
de profissionais
Agora que você já conheceu as responsabilidades que lhe cabem como profissional da 
medicina ou enfermagem, chegou a hora de conhecer o que a Norma Técnica indica 
como responsabilidade específica de profissionais do serviço social e da saúde mental.
O que cabe a profissionais de saúde mental e serviço social
Como você já viu neste curso, a atenção integral à saúde requer não apenas que 
tenhamos atenção à dimensão biomédica do cuidado, mas também que cuidemos 
dos impactos sociais e psíquicos relacionados. Por isso, a participação de profis-
sionais da psicologia e do serviço social no atendimento à pessoa em situação de 
abortamento é fundamental!
São responsabilidades de profissionais 
de saúde mental e serviço social:
1 Prestar apoio emocional imediato e encaminhar, quando necessário, para o atendimento continuado em médio prazo.
2 Identificar as reações do grupo social(família, amigos(as), colegas) em que está envolvida.
Ampara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
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Aula 2. Serviços de atenção ao abortamento 
previsto em lei no Brasil 
3
Reforçar a importância da pessoa, respeitando o estado 
emocional em que se encontra, adotando postura 
autocompreensiva, que busque aautoestima.
4
Perguntar sobre o contexto da relação em que se deu a 
gravidez e as possíveis repercussões do abortamento no 
relacionamento com a parceria.
5 Conversar sobre gravidez, abortamento inseguro, menstruação, saúde reprodutiva e direitos sexuais e reprodutivos.
Você já tomou conhecimento das responsabilidades da equipe multiprofissio-
nal, mas você sabe o que é consentimento livre e informado? Siga em frente para 
conhecer esse conceito.
Consentimento livre e informado
O consentimento livre e informado consiste na aceitação pela pessoa que está sob 
cuidados dos procedimentos a que ela será submetida. Ele se dá por meio da assi-
natura de um documento.
Para que seja livre, a pessoa não pode estar sob qualquer tipo de pressão, coação 
ou constrangimento, físico ou psicológico.
Ampara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
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Aula 2. Serviços de atenção ao abortamento 
previsto em lei no Brasil 
Para que seja informado, é fundamental que sejam fornecidas informações claras 
e acessíveis sobre os procedimentos técnicos que serão adotados, as medidas para 
o alívio da dor, o tempo de duração do procedimento, o período de internação, a 
garantia do sigilo e privacidade, a segurança do procedimento e os possíveis riscos 
envolvidos.
No caso do abortamento, é comum haver dúvidas envolvendo riscos sobre o proce-
dimento, tempo de recuperação, seu impacto sobre a fertilidade futura e questões 
legais. Por isso, é muito importante esclarecer todas as dúvidas que a pessoa sob 
cuidados possa ter.
Legislação sobre consentimento livre e informado
A legislação exige o consentimento livre e informado para o abortamento em 
quaisquer circunstâncias, salvo em caso de iminente risco de vida. Se a pessoa esti-
ver impossibilitada de consentir, esse consentimento deverá ser obtido junto a seus 
familiares próximos. De acordo com os artigos 3º, 4º, 5º, 1631, 1690, 1728 e 1767 
do Código Civil brasileiro:
A partir dos 18 anos:
a pessoa é capaz
de consentir sozinha.
A partir dos 16 e
antes dos 18 anos:
a adolescente deve ser
assistida pelos pais ou por
seu representante legal, que
se manifestam com ela.
 a adolescente ou criança 
deve ser representada 
pelos pais ou por seu 
representante legal.
Antes de completar
16 anos:
A outra circunstância em que é necessário o consentimento de representante legal 
(pessoa curadora ou tutora) refere-se à pessoa que, por qualquer razão, não tenha 
condições de discernimento e de expressão de sua vontade, por exemplo: uma 
pessoa com deficiência mental, em situação de extrema vulnerabilidade, declarada 
incapaz em procedimento judicial ou ainda alguém inconsciente. 
Ampara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
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Aula 2. Serviços de atenção ao abortamento 
previsto em lei no Brasil 
Exames complementares
Além do exame clínico, a ultrassonografia é o exame complementar utilizado para 
esses casos. Esse exame determina a idade gestacional e auxilia na escolha do 
método do abortamento.
Quando não for possível realizar a ultrassonografia, e afastados os fatores de risco 
para gravidez ectópica (sangramento e dor pélvica), é possível calcular a idade 
gestacional a partir da data da última menstruação (DUM), contando o número de 
dias da DUM até o dia atual e dividindo esse valor por 7.
A seguir você vai conhecer quais os documentos necessários para realizar o abor-
tamento legal.
Termos de compromisso
Como o abortamento é autorizado apenas em algumas situações pela lei brasileira, 
exige-se a assinatura de alguns documentos pela pessoa ou pela criança ou adoles-
cente que fará o procedimento e seu responsável. Conheça agora esses documentos:
É a gestação em que 
o óvulo fertilizado 
está fora do útero. 
Os principais fatores 
indicativos de que 
estamos diante de uma 
gravidez ectópica são 
sangramento e dor 
pélvica.
Gravidez ectópica
Termo de 
Responsabilidade 
– é assinado pela 
pessoa e/ou 
seu(sua) 
representante 
legal, que declara 
corresponderem 
as informações 
prestadas para a 
equipe de saúde
à legítima 
expressão da 
verdade. 
Termo de Relato 
Circunstanciado – 
é exigido nas 
situações de 
violência sexual, e 
consiste na 
descrição das 
circunstâncias da 
violência sexual 
sofrida que 
resultaram na 
gravidez.
Termo de 
Consentimento 
Livre e 
Esclarecido – é 
assinado pela 
pessoa ou por 
seu(sua) 
representante 
legal, que declara 
estar de acordo 
com o 
procedimento e 
saber dos riscos e 
efeitos esperados.
Mas não é só a pessoa ou seu(sua) representante legal que precisa assinar docu-
mentos, a equipe médica também tem a responsabilidade de assinar alguns termos. 
Veja a seguir quais são eles:
Ampara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
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Aula 2. Serviços de atenção ao abortamento 
previsto em lei no Brasil 
Parecer Técnico, assinado pelo 
profissional de medicina 
assistente, em que constará a 
avaliação de compatibilidade 
entre a idade gestacional e a data 
da violência sofrida pela mulher 
ou criança ou adolescente.
Termo de aprovação
de Procedimento de 
Interrupção de Gravidez, 
assinado por no mínimo 
três profissionais da 
equipe multiprofissional.
A assinatura desses documentos é importante para garantir a segurança de profis-
sionais e da pessoa em situação de abortamento previsto em lei.
Mas você não pode esquecer que o objetivo central do atendimento é o cuidado 
humanizado e empático e, portanto, a documentação é apenas um meio para se 
atender esse objetivo. É fundamental que a equipe esteja atenta para não trans-
formar esse momento de cuidado em um processo frio e burocrático e não criar 
barreiras ao acesso do direito.
Sobre as especificidades de cada 
situação de abortamento previsto em lei
Como você pôde observar no início desta aula, o direito brasileiro autoriza o abor-
tamento em três situações específicas: risco à vida, violência sexual e em casos de 
fetos anencefálicos. Veja as especificidades de cada caso a seguir.
Risco à vida
Nessa situação, é necessário o laudo de dois(duas) médicos(as), incluindo, sempre 
que possível, especialista na área médica da doença que coloca a vida em risco. 
O laudo deve conter uma descrição detalhada do quadro clínico e do impacto na 
saúde de quem está gestante, baseando em evidência científica a recomendação 
da interrupção da gestação. O prontuário médico deverá conter as justificativas 
médicas, detalhando o risco materno.
Além disso, é indispensável obter o consentimento prévio, livre e informado (Termo 
de Consentimento Livre e Informado) da pessoa gestante ou familiares, quando ela 
não tiver condições de concedê-lo.
É importante também saber se a gestação era desejada e assegurar um acompa-
nhamento psicológico adequado.
Ampara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
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Aula 2. Serviços de atenção ao abortamento 
previsto em lei no Brasil 
Importante ressaltar que, no caso em que a pessoa gestante 
corre risco de morte, não é necessária autorização judicial, boletim 
de ocorrência ou comunicação ao CRM.
Essa é uma das situações de abortamento previstas em lei. A seguir veja o que você, 
profissional de saúde, deve fazer em caso de violência sexual.
Violência sexual
Há uma alta prevalência de violência e abuso sexual no Brasil. Por isso, profissionais 
de saúde têm diante de si a importante tarefa de identificar situações de violência 
que possam autorizar o direito ao abortamento previsto em lei, mesmo quando elas 
não se apresentem como tais, e oferecer às vítimas a informação sobre seu direito. 
Assim elas poderão decidir se querem levar adiante a gestação fruto de uma relação 
não consentida ou se querem interrompê-la.
Precisamos ter claro que estupro não é só aquele que acontece por um desconhe-
cido que aponta uma arma para a cabeça da vítima. Qualquer situação de relação 
sexual não consentida pode ser considerada estupro.
Por isso, é necessário que profissionais de saúde tenham uma postura que chama-
mos de “altasuspeição”, ou seja, deve-se investigar se a gestação é desejada e se é 
fruto de uma relação consentida.
Ampara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
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Aula 2. Serviços de atenção ao abortamento 
previsto em lei no Brasil 
No caso de suspeita de violência sexual sofrida por paciente com resultado positivo 
para gravidez, deve-se iniciar a conversa procurando entender as circunstâncias em 
que a gravidez ocorreu e como a pessoa sob cuidados se sente em relação a ela.
É necessário também que você garanta um espaço que ofereça privacidade para a 
entrevista, de preferência onde não haja a presença de pessoas que possam inibir 
o relato. A equipe deve estar alerta para manter o sigilo, a fim de não criar estigmas 
sobre o atendimento. Podem-se utilizar perguntas diretas e indiretas e avaliar se a 
pessoa deseja falar sobre o assunto ou não, respeitando seu desejo.
As perguntas a seguir podem auxiliar em uma efetiva comunicação com pacientes:
Fonte: Quadro adaptado de Comunicação Clínica: aperfeiçoando os encontros em Saúde (DOHMS, 2021).
Perguntas indiretas:
• Como estão as coisas em casa?
• Como está seu relacionamento?
• Você e sua parceria discutem muito?
Perguntas diretas:
• Já foi forçada a ter relações sexuais contra a sua vontade?
• Já vi problemas como o seu em pessoas agredidas fisicamente. 
Isso está acontecendo com você?
• Sabemos que é comum que pessoas sofram agressões dentro de casa, 
isso já aconteceu com você alguma vez?
Todos os documentos necessários para o abortamento nos casos de violência sexual 
serão colhidos no hospital em que o procedimento será realizado. São três os docu-
mentos pelos quais a pessoa opta pelo abortamento e se responsabiliza pelos fatos 
narrados à equipe médica como verdadeiros: Termo de Relato Circunstanciado, 
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e Termo de Responsabilidade.
Segundo a Portaria MS/GM n° 2.282/2020 do Ministério da Saúde, são necessá-
rios ainda um parecer técnico do(a) profissional de medicina que ateste a compa-
tibilidade da idade gestacional com a data da violência sexual relatada e um termo 
que aprove o procedimento de interrupção da gravidez, assinado por no mínimo 
três integrantes da equipe multiprofissional.
Não é necessário apresentar Boletim de Ocorrência Policial, Laudo do Instituto 
Médico Legal ou Autorização Judicial. Para o abortamento previsto em lei em caso 
de estupro, é suficiente o relato da vítima ao serviço de saúde.
A palavra da pessoa que busca os serviços de saúde afirmando ter sofrido violên-
cia tem credibilidade ética e legal, devendo ser recebida como verdadeira por 
Ampara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
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Aula 2. Serviços de atenção ao abortamento 
previsto em lei no Brasil 
profissionais de saúde. Segundo Diniz et al. (2014, p. 293):
O objetivo do serviço de saúde é garantir o exercício do direito à saúde, portanto não 
cabe à equipe de saúde duvidar da palavra da vítima, o que agravaria ainda mais as 
consequências da violência sofrida. Os procedimentos do serviço de saúde não devem 
ser confundidos com procedimentos investigativos reservados à Polícia e à Justiça.
Assim, para o atendimento às pessoas em situação de violência sexual, são neces-
sários alguns cuidados importantes. Veja quais são eles:
É preciso acreditar no que diz a mulher que se apresenta como vítima e testemunha de sua 
própria violência. No entanto, estudos demonstram que não basta o texto da mulher; a verda-
de do estupro é construída no encontro entre os testes de verdade sobre o acontecimento da 
violência e a leitura sobre a subjetividade da vítima.
Essa situação, tão comum na sociedade em geral, também ocorre em alguns servi-
ços de saúde. Em muitos desses serviços, as pessoas que buscam cuidado passam 
por procedimentos interrogatórios que se assemelham a inquéritos policiais, com 
múltiplas entrevistas que parecem buscar possíveis contradições na sua narrativa. 
Esse tipo de comportamento é inaceitável, tanto do ponto de vista legal quanto 
ético, dentro de um serviço de saúde.
É nessa duplicidade de guardiões da lei penal e da imoralidade do aborto que as práticas de 
inquérito pela verdade do estupro surgem no encontro dos profissionais com as mulheres.
(DINIZ et al., 2014, p. 294).
Atendimento precoce e facilitado
Segundo o 13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (Fórum Brasileiro de Segu-
rança Pública, 2019), em 2018 foram registrados 66.041 casos de violência sexual 
em todo o país. O dado representa 180 estupros por dia e um aumento de 4,1% 
quando comparado ao ano anterior.
Ampara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
45
Aula 2. Serviços de atenção ao abortamento 
previsto em lei no Brasil 
Quem são as vítimas de violência sexual?
negras
50,9%
brancas
48,5%81,8%
sexo feminino tinham
até 13 anos
53,8%
Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2019, p. 9).
Com esses dados você pode perceber que quatro meninas de até 13 anos são 
estupradas por hora no Brasil!
A elevada prevalência da violência sexual exige, portanto, que o maior número possí-
vel de unidades de saúde estejam preparadas para atuar nos casos de emergência.
O atendimento imediato aos casos de violência sexual permite oferecer medidas 
de proteção e prevenção, como a anticoncepção de emergência e as profilaxias 
das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), hepatite B e HIV/Aids, evitando 
assim danos futuros para a saúde da pessoa vítima de violência.
Embora a maioria dos casos sejam atendidos em hospitais, todos os estabelecimen-
tos de saúde deveriam estar preparados para oferecer esse cuidado da forma mais 
facilitada possível.
São causadas por 
vírus, bactérias ou 
outros microrganismos 
e são transmitidas, 
principalmente, por 
meio do contato sexual 
(oral, vaginal, anal) sem 
o uso de camisinha 
masculina ou feminina, 
com uma pessoa que 
esteja infectada. A 
transmissão pode 
acontecer, ainda, 
da mãe para a 
criança durante a 
gestação, o parto ou a 
amamentação.
Infecções 
Sexualmente 
Transmissíveis
Registro adequado
Os dados obtidos durante a entrevista, no exame físico e ginecológico, os resulta-
dos de exames complementares e relatórios de procedimentos devem ser cuidado-
samente registrados em prontuário. É recomendada a utilização de fichas específi-
cas de atendimento para os casos de violência sexual. O cuidado com o prontuário 
é de extrema importância, tanto para a qualidade da atenção em saúde quanto 
para eventual uso em processo judicial.
Os danos físicos, genitais ou extragenitais, devem ser cuidadosamente descri-
tos em prontuário. Se possível, os traumatismos físicos devem ser fotografados e 
também anexados ao prontuário. Na indisponibilidade desse recurso, represen-
tações esquemáticas ou desenhos podem ser utilizados e igualmente incluídos no 
prontuário.
Ampara. Acolhimento de pessoas em situação de abortamento e pós-aborto
46
Aula 2. Serviços de atenção ao abortamento 
previsto em lei no Brasil 
Sigilo e segredo profissional
O atendimento de pessoas em situação de violência sexual, assim como qualquer 
outro atendimento de saúde, exige que sejam observados o sigilo e a ética profissional.
A Constituição Federal, artigo 5°, estabelece que “são invioláveis a intimidade, a 
vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito à indeniza-
ção material ou moral decorrente de sua violação”. Portanto, é direito da pessoa 
sob cuidados que os fatos e informações relatados a você profissional da saúde não 
sejam revelados a quem quer que seja.
O artigo 154 do Código Penal Brasileiro caracteriza como crime “revelar alguém, 
sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício 
ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem”.
Vídeo com especialista
Para entender melhor sobre o sigilo profissional, assista 
ao vídeo com o Juiz de Direito José Henrique Rodrigues Torres 
no ambiente virtual do curso.
Ou seja,