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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE ENFERMAGEM SARA SUERDA LOPES OLIVEIRA CUIDADO REALIZADO PELO ENFERMEIRO À MULHER NO CLIMATÉRIO BOA VISTA, RR 2020 SARA SUERDA LOPES OLIVEIRA CUIDADO REALIZADO PELO ENFERMEIRO À MULHER NO CLIMATÉRIO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Roraima como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em enfermagem. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Cíntia Freitas Casimiro. BOA VISTA, RR 2020 Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP) Biblioteca Central da Universidade Federal de Roraima Ficha Catalográfica elaborada pela Bibliotecária/Documentalista: Shirdoill Batalha de Souza - CRB-11/573 - AM O48c Oliveira, Sara Suerda Lopes. Cuidado realizado pelo enfermeiro à mulher no climatério / Sara Suerda Lopes Oliveira. – Boa Vista, 2020. 38 f. : il. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Cíntia Freitas Casimiro. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal de Roraima, Curso de Enfermagem. 1 – Climatério. 2 – Enfermeiro. 3 – Cuidado. I – Título. II – Casimiro, Cíntia Freitas (orientadora). CDU – 612.67-083 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a DEUS, pelo dom da vida, pela minha saúde, por ser o meu sustento e a minha fortaleza, pelas benções recebidas e por nunca ter me abandonado nos momentos difíceis em que eu pensei em desistir. Agradeço a toda a minha família pelos ensinamentos repassados, principalmente, pela valorização e o incentivo aos estudos, em especial aos meus pais Raimunda Lopes e Hédio Oliveira, e aos meus tios Maria Oneide e Antônio por terem sido essencial nesta caminhada, me dando todo o suporte necessário para que fosse possível chegar até aqui. À minha orientadora querida, Profª. Dra. Cintia Freitas Casimiro, por ser essa profissional exemplar, sensível às necessidades dos seus alunos, por sempre buscar sanar as nossas interrogações e por trabalhar questões que vão além da patologia, ensinando a compreender o ser humano como o todo. Obrigada por ter aceitado ser a minha orientadora e por toda a paciência, dedicação e tranquilidade. Aos meus amigos da enfermagem Kelly Amanda, Nayara Kalila, Jádila Thainá e Leonardo Cunha por tornarem a caminhada e os desafios mais leves e por compartilharem seus conhecimentos comigo, vocês foram essenciais nessa jornada. Ao corpo docente do Curso de Bacharelado em Enfermagem da Universidade Federal de Roraima por toda a dedicação em repassar os conhecimentos que nos foi ofertado, pelos tutoriais, conferências, incentivo à produção cientifica e principalmente por nos ensinar que devemos ser sensíveis às necessidades dos nossos pacientes, enxergando ele como um ser humano e não como a doença. Fica aqui o meu respeito e admiração por cada um de vocês: Cíntia Casimiro, Raphael Amorim, Raquel Caldart, Tárcia Barreto, Fabrício Barreto, Andréa Cardoso, Ramão Luciano, Jaqueline Maciel, Manuela Feitosa e Paulo Silva. E, por fim, agradeço a todas as pessoas que colaboraram de alguma forma para o sucesso dessa graduação que se encerra. Muito obrigada! RESUMO O climatério é um processo natural em que ocorre alterações nos níveis hormonais femininos, normalmente inicia-se a partir dos 40 anos de idade podendo estender-se até os 60 anos. Comumente essas modificações vêm acompanhadas de alguns sintomas que afetam o bem-estar das mulheres. Diante das características peculiares do cuidado à mulher climatérica, o enfermeiro tem atribuições fundamentais no que diz respeito a identificação precoce, suporte e acolhimento das necessidades e no planejamento de estratégias eficazes. Assim, objetivou-se investigar as evidências disponíveis na literatura acerca do cuidado realizado pelo enfermeiro à mulher climatérica. Trata-se de uma revisão integrativa realizada nas plataformas Medline e Lilacs, cujo resultado foi organizado em três categorias: manifestações clínicas comuns no climatério, o cuidado prestado pelo enfermeiro a mulheres climatéricas e estratégias para a melhoria na qualidade de vida no climatério. Nesse contexto, os estudos evidenciaram que os principais sintomas são os fogachos, a disfunção sexual e as alterações emocionais, que há um despreparo dos profissionais em abordar as mulheres no climatério, existe carência de estudos na área, e que a prática de atividade física, a participação em grupos terapêuticos e o apoio familiar/social são as estratégias mais eficazes durante o enfrentamento. Pôde-se inferir que os enfermeiros possuem um papel significativo no cuidado à mulher no climatério, no entanto, observa-se que ainda há uma escassez de conhecimentos sobre o tema, sendo necessário que haja uma reformulação no modelo de assistência à saúde da mulher, além da capacitação específica dos enfermeiros voltada para o manejo da mulher climatérica. Sugere-se constante treinamento dos enfermeiros, especialmente da atenção básica, e a produção de mais estudos sobre o tema. Palavras-chave: Climatério. Enfermeiro. Cuidado. ABSTRACT The climacteric is a natural process in which changes in female hormone levels occur and usually starting from the age of 40, extending to 60 years. These changes are commonly accompanied by some symptoms that affect women's well-being. In view of the peculiar characteristics of women climacteric care, the nurse has fundamental attributions concerning early identification, support and acceptance of needs and in the planning of effective strategies. Thus, the objective was to investigate the evidence available in the literature about the care provided by nurses to climacteric women. This is an integrative review carried out on the Medline and Lilacs platforms and the result of which was organized into three categories: clinical manifestations common in climacteric, the care provided by nurses to climacteric women and strategies for improving the quality of life in climacteric. In this context, studies have shown that the main symptoms are hot flushes, sexual dysfunction and emotional changes, that professionals are unprepared to approach women in the climacteric, there is a lack of studies in the area, and that the practice of physical activity, participation in therapeutic groups and family / social support are the most effective strategies during coping. It could be inferred that nurses have a significant role in the care of women in menopause, however, it is observed that there is still a shortage of knowledge on the subject, requiring a reformulation of the model of health care for women, in addition to the specific training of nurses focused on the management of climacteric women. It is suggested constant training of nurses, especially in primary care, and the production of more studies on the topic. Keywords: Climacteric. Nurse. Watch out. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Linha do Tempo dos Programas de Atenção à Saúde da Mulher ............................. 16 Figura 2– Esquema do Ciclo Menstrual ..................................................................................... 17 Figura 3 – ilustração que representa as etapas percorridas para a elaboração da revisão .......... 24 Figura 4 - Ilustração que representa o processo de seleção dos estudos .................................... 26 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 10 1.1 OBJETIVOS ...................................................................................................................12 1.1.2 Objetivo Geral ............................................................................................................... 12 1.1.3 Objetivos Específicos..................................................................................................... 12 1.2 PROBLEMA ................................................................................................................... 12 1.3 HIPÓTESE ...................................................................................................................... 12 1.4 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 13 2 REFERENCIAL TEMÁTICO ..................................................................................... 14 2.1. CONTEXTO HISTÓRICO DA SAÚDE DA MULHER JUNTO AO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) ...................................................................................................................... 14 2.2. CLIMATÉRIO ................................................................................................................ 16 2.3 MANIFESTAÇÕES FISIOLÓGICAS RECORRENTES NO CLIMATÉRIO QUE MERECEM DESTAQUE NA AVALIAÇÃO DO ENFERMEIRO .......................................... 19 2.4 ESTRATÉGIAS DE CUIDADO REALIZADAS PELO ENFERMEIRO À MULHER CLIMATÉRICA ......................................................................................................................... 21 3 METODOLOGIA ......................................................................................................... 24 3.1 PROCEDIMENTO PARA BUSCA E SELEÇÃO DOS ESTUDOS ................................... 25 3.2 ANÁLISE DOS ESTUDOS INCLUÍDOS E APRESENTAÇÃO DA REVISÃO INTEGRATIVA .......................................................................................................................... 27 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................... 31 4.1 Categoria 1: Manifestações Clínicas Comuns no Climatério ................................................ 31 4.2 Categoria 2: O Cuidado Prestado pelo Enfermeiro a Mulheres Climatéricas ....................... 33 5 CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 38 10 1 INTRODUÇÃO O aumento da expectativa de vida, especialmente do público feminino, juntamente com a criação de programas de atenção à saúde da mulher, tem proporcionado a estas, vivenciarem diversas fases da vida, dentre elas o climatério (ALVES, 2010). O climatério é uma fase biológica do ciclo vital feminino, sendo caracterizado como um período de transição entre a etapa reprodutiva e não reprodutiva, onde há diminuição na produção dos hormônios estrogênio e progesterona, tendo início por volta dos 40 anos de idade e se estendendo até a menopausa (BRASIL, 2008). Como é definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o climatério não é uma patologia e sim um processo natural, mas devido às inúmeras alterações hormonais e emocionais que passam a acontecer no corpo da mulher, esse processo pode ou não vir acompanhado de queixas e sintomas que variam de intensidade de acordo com cada organismo (PASCOAL; BORGES, 2013). Durante esse período de mudança, é comum que apareçam algumas manifestações, tais como, fortes ondas de calor (fogachos), insônia, irritabilidade, alterações de humor, angústia, sofrimento, ressecamento da pele, cabelos e mucosas, atrofia vaginal, diminuição da libido, dor durante as relações sexuais e infecções urinárias recorrentes (ANDRADE. et al, 2018). O surgimento ou não desses sintomas está relacionado com as particularidades genéticas de cada indivíduo, no entanto, fatores externos como o tabagismo, a atividade física, a alimentação, a presença ou não de doenças crônicas, o nível de escolaridade, a classe socioeconômica e a forma de enfrentamento da situação, podem atuar tanto de forma positiva quanto negativa durante a passagem pelo climatério (ALVES. et al, 2015). No contexto do cuidado à mulher climatérica, é responsabilidade do enfermeiro estar preparado para reconhecer as manifestações fisiológicas do climatério, atuando de forma a diminuir seus efeitos na vida da mulher, por meio de informações claras e orientações adequadas, a fim de promover um autoconhecimento e uma assistência qualificada (ACIOLI. et al, 2014) 11 É incumbência do enfermeiro realizar educação em saúde através de atividades de grupos ou individuais; visitas domiciliares; promover a participação em grupos de autoajuda; envolver a mulher nas ações, tornando-as participantes do cuidado; fornecer apoio, suporte e acolhimento no atendimento de suas necessidades; estimular suas potencialidades; ensinar práticas alternativas de alívio dos sintomas e desenvolver instruções nutricionais e indicações quanto a atividades físicas e intelectuais (SILVA. et al, 2016; BELTRAMINI. et al, 2010). Independentemente do aparecimento ou da intensidade das manifestações, é fundamental que seja realizado um acompanhamento regular, objetivando a promoção da saúde, o diagnóstico precoce, o tratamento imediato e a prevenção de males. Cabe ao enfermeiro adotar estratégias de cuidado que satisfaçam as necessidades e esclareçam as dúvidas, evitando que mulheres que buscam a unidade básica de saúde, saiam sem as devidas orientações (BRASIL, 2008). Diante do exposto, é de extrema importância investigar como é a atuação dos enfermeiros às mulheres que se encontram no período climatérico, para possibilitar o conhecimento sobre o tema. 12 1.1 OBJETIVOS 1.1.2 Objetivo Geral Investigar as evidências cientificas disponíveis na literatura acerca do cuidado realizado pelo enfermeiro à mulher climatérica. 1.1.3 Objetivos Específicos ● Identificar as principais alterações fisiológicas e os sintomas decorrentes do climatério; ● Conhecer as práticas de cuidado interpretadas por enfermeiros perante a mulher no climatério. 1.2 PROBLEMA Como os enfermeiros cuidam das mulheres que estão vivendo o climatério? 1.3 HIPÓTESE Observa-se que os enfermeiros possuem dificuldades para prestar cuidados às mulheres que se encontram no climatério, sendo a maior parte da atenção voltada para o período reprodutivo, deixando-as desassistidas durante esse momento delicado pelo qual o corpo passa por tantas alterações. 13 1.4 JUSTIFICATIVA O interesse pela presente pesquisa surgiu a partir do estudo da disciplina “Saúde da Mulher e Gênero”, e por meio das visitas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), no qual se observou que, apesar de existirem políticas de atenção integral à saúde da mulher, estas apresentam algumas fragilidades. Durante a fase do climatério, a mulher vivencia diversas e significativas mudanças em seu corpo, e grandes partes destas manifestações sofrem influência de fatores sociais, emocionais e socioeconômicos. É de fundamental importância que os enfermeiros estejam preparados para prestar cuidados de qualidade a estas pacientes, promovendo, assim, uma melhor qualidade de vida durante todas as fases da existência. Destarte, com essa pesquisa, pretende-se investigar os estudos disponíveis nas bases de dados que abordam o cuidado a mulher no climatério pelos enfermeiros, a fim de obter evidências científicas sobre essa temática, além de favorecer o desenvolvimento de novos estudos na área. . 14 2 REFERENCIAL TEMÁTICO 2.1. CONTEXTO HISTÓRICO DA SAÚDE DA MULHER JUNTO AO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) As mulheres são a maioria da população brasileira e as principais usuáriasdo SUS, no entanto, no Brasil, as primeiras políticas de atenção à saúde da mulher, surgiram apenas no século XX, sendo restritas às questões de gestação e parto e, ainda, ao papel da mulher como boa mãe e doméstica (BRASIL, 2004). Em 1975, na tentativa de abranger mais questões relacionadas à saúde da mulher, foi criado o programa materno-infantil, que objetivava a redução da morbidade e mortalidade materna e infantil, o estímulo ao aleitamento materno, a prevenção da desnutrição da mulher e da criança, e a ampliação e melhoria dos cuidados destinados à mulher durante a gestação, o parto e o puerpério. Contudo, devido ao seu caráter reducionista, fragmentado e desarticulado de outras ações de saúde, houve baixo impacto nos indicadores de saúde feminina (BRASIL, 2008). No ano de 1983, com o objetivo de melhorar a saúde da criança e da mulher, o Ministério da Saúde, em associação com a Divisão Nacional de Saúde Materno-infantil, elaborou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher e da Criança - PAISMC, que no ano seguinte deu origem a dois programas distintos: Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) e o Programa de Assistência Integral à Saúde da criança - PAISC (BRASIL, 2011). Assim, em 1984, sob influência do movimento feminista, que criticava a atuação voltada somente ao período gravídico-puerperal, o Ministério da Saúde elaborou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM). Esse programa, incorporou nos seus princípios e diretrizes propostas de descentralização, hierarquização, regionalização, equidade e integralidade do cuidado à mulher (UNA-SUS, 2013). O PAISM passou a incluir ações educativas, preventivas, de diagnóstico, tratamento e recuperação, englobando a assistência ginecológica, câncer de colo de útero e de mama, o planejamento familiar, a promoção do parto normal, a prevenção de mortalidade materna, o manejo das infecções sexualmente transmissíveis, o climatério e o atendimento às demandas de acordo com as necessidades de cada população (BRASIL, 2004). 15 A criação da Constituição Federal em 1988 (CF/88), além de instituir o Sistema Único de Saúde, também trouxe avanços importantes no que diz respeito a saúde da mulher, ao tratar do planejamento familiar, no seu artigo 226 parágrafo 7°, como ato de livre decisão do casal, competindo ao estado a criação de meios educacionais e científicos para propiciar o exercício desse direito. Assim, a formulação desse direito buscava superar o papel da mulher como meramente procriadora e submissa ao marido, apesar da sociedade apresentar-se, majoritariamente, cristã e machista (OLIVEIRA, 2016). Baseado nas diretrizes do PAISM e no artigo 226 da CF/88, em 1996 foi divulgada a lei 9263 que trata do planejamento familiar, na qual se proibia a utilização de qualquer tipo de controle demográfico e garantia o direito de constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou casal. Dessa maneira, buscava-se combater os atos de uso generalizado de contraceptivos de alta eficácia e de esterilização cirúrgica realizados contra a vontade do indivíduo, que aconteciam, principalmente, com mulheres negras (COSTA, 2009). Em 2003, a Área Técnica de Saúde da Mulher, detectou a precisão de articular com outros setores e desenvolver estratégias para mulheres de grupos populacionais específicos, tais como: negras, trabalhadoras rurais, portadoras de deficiência, indígenas, presidiárias, lésbicas e bissexuais. Em 2004, o Ministério da Saúde propôs diretrizes para a humanização e a qualidade do atendimento, tendo como base os dados epidemiológicos e as reivindicações sociais (UNA-SUS, 2013). O Ministério da Saúde, em parceria com diversos setores da sociedade, especialmente com o movimento de mulheres e negros, elaborou em 2011 o documento com a 2ª reimpressão do PAISM, trazendo uma série de novas diretrizes, dentre elas: a garantia ao acesso das mulheres em todos os níveis de atenção à saúde; o respeito a todas as diferenças durante o atendimento, sem qualquer tipo de discriminação; o atendimento à mulher a partir de uma visão ampliada do seu contexto; e o atendimento integral às mulheres em todo o ciclo de vida, resguardadas as especificidades e os distintos grupos populacionais (BRASIL, 2011). A nova atualização do PAISM trouxe como objetivos gerais: a promoção da melhoria das condições de vida e saúde das mulheres brasileiras e a extensão do acesso aos meios e serviços de prevenção, promoção e recuperação da saúde; redução da morbidade e mortalidade feminina, em todos os ciclos de vida e nos distintos grupos populacionais; e a ampliação, qualificação e humanização da assistência (BRASIL, 2011). 16 As formulações das políticas de atenção à saúde da mulher trouxeram contribuições indispensáveis para o processo de transformação e visualização desta, para além de suas obrigações domésticas e reprodutoras, rompendo com os paradigmas biologicistas, medicalizador e gravídico-puerperal, propondo o atendimento em todos os ciclos de vida, o estabelecimento dos grupos mais vulneráveis e a busca pela valorização da mulher como cidadã (FREITAS. et al, 2009). Figura 1 – Linha do Tempo dos Programas de Atenção à Saúde da Mulher Fonte: a autora 2.2. CLIMATÉRIO O climatério é um período biológico de transição na vida da mulher e não um processo patológico. Sua ocorrência se dá devido às alterações na produção dos hormônios estrogênio e progesterona e aumento na produção do hormônio folículo estimulante, acarretando ausência da atividade folicular com consequente interrupção do ciclo menstrual (BRASIL, 2008). Já a menopausa, corresponde a amenorreia após passados doze meses, sendo resultado da perda da função folicular dos ovários, representando o marco dessa fase de transição entre a etapa reprodutiva e não reprodutiva (FREITAS. et al, 2011). Segundo a Sociedade Brasileira do Climatério - SOBRAC (2004), o climatério é caracterizado por 3 estágios: transição menopausal - período em que os ciclos menstruais são irregulares e pequeno, podendo haver falhas entre dois ciclos ou mais de sessenta dias entre os 17 ciclos; estágio perimenopausal - período de dois anos que antecede e sucede a menopausa; e pós-menopausa – cujo início acontece um ano após a última menstruação. No climatério ocorrem alterações endócrinas decorrentes do declínio da função ovariana, que podem apresentar-se clinicamente pela insuficiência do corpo lúteo, implicando em irregularidades menstruais, evoluindo posteriormente para a amenorreia. Essas modificações hormonais, que refletem o envelhecimento ovariano, podem ser entendidas a partir da fisiologia normal da menstruação (FEBRASGO, 2010). O ciclo menstrual acontece em três fases: folicular, periovulatória e lútea. Na fase folicular, que se inicia com a menstruação, os níveis de estrogênio e progesterona estão diminuídos, sinalizando para o hipotálamo e a pituitária a necessidade do aumento do hormônio folículo-estimulante (FSH), responsável pela maturação do folículo que estimula a produção do estrogênio e o crescimento do endométrio. Durante a etapa periovulatória, a quantidade aumentada de estrogênio provoca uma adição do hormônio luteinizante (LH), levando a liberação do óvulo. E por fim, na fase lútea, há secreção de estrogênio e progesterona do corpo lúteo, e quando não ocorre a fecundação, o corpo lúteo regride, os níveis de estrogênio e progesterona caem e acontece a menstruação (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO CLIMATÉRIO). Figura 2– Esquema do Ciclo Menstrual Fonte:http://www.ufrgs.br/espmat/disciplinas/midias_digitais_II/modulo_II/fisiologia2.htm 18 Todos os folículos principais, presentes nos ovários da mulher, são formados ainda na vida intrauterina, atingindo seu máximo, que equivale a cerca de 7 milhões, por volta da vigésima semana de gestação.Antes do nascimento, aproximadamente 70% são perdidos por apoptose e na menarca 99% dos folículos que sobraram sofrem atresia, restando apenas 0,1% para o desenvolvimento (FREITAS. et al, 2011). O ovário é um órgão composto de duas glândulas: uma interna e outra externa. A glândula interna é responsável pela secreção de esteroides sexuais e a externa pela liberação dos ovócitos (CASTRO, 2009). Diferente de outros órgãos, a senescência do ovário começa desde a vida intrauterina, em que os folículos primordiais amadurecem continuamente e em seguida regridem, sendo acelerada durante o momento do climatério até que o ovário seja praticamente destituído de folículos (HOFFMAN. et al, 2014). No decorrer da vida reprodutiva da mulher, o hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), é liberado pelo hipotálamo basal medial, que se liga a receptores de GnRH nos gonadotrofos hipofisários, estimulando a liberação de gonadotrofinas: hormônio luteinizante – LH - e folículo estimulante – FSH - (HOFFMAN. et al, 2014). O funcionamento endócrino e exócrino dos folículos é estimulado pelo LH e o FSH, e à medida que o climatério se aproxima, ocorre uma diminuição dos receptores de FSH e LH nos folículos e aumento na secreção de LH e FSH (CASTRO, 2009). Na perimenopausa, há diminuição dos níveis de estrogênio devido ao encurtamento das fases folicular e lútea, e queda dos picos de estradiol (BARACAT; LIMA, 2005). Ao final da transição menopáusica, a mulher apresenta atenuação da foliculogênese e presença de ciclos anovulatórios mais frequentes, com exaustão no suprimento dos folículos, refletindo em redução na qualidade de vida e na capacidade dos folículos de secretar inibina em face do envelhecimento (HOFFMAN. et al, 2014). Na pós-menopausa, há uma ênfase na elevação das gonadotrofinas e queda dos estrogênios. O hipoestrogenismo é responsável por muitos eventos ocorridos durante o climatério. Nos órgãos genitais externos apresentam-se elevação do pH, falta de glicogênio nas células epiteliais e diminuição da espessura da mucosa; o colo do útero torna-se progressivamente menor; as glândulas endocervicais ficam atrofiadas e ocorre redução da quantidade de muco e aumento da viscosidade (BARACAT; LIMA, 2005). 19 2.3 MANIFESTAÇÕES FISIOLÓGICAS RECORRENTES NO CLIMATÉRIO QUE MERECEM DESTAQUE NA AVALIAÇÃO DO ENFERMEIRO Muitas mulheres, entre a idade de 40 a 65 anos, passam pelos sintomas do climatério sem queixas. Já outras, apresentam inúmeras manifestações desconhecidos que as fazem pensarem que estão com alguma patologia, o que desencadeia sentimentos de medo, preocupação, impotência, descuido e vulnerabilidade. Ou, ainda, acreditam que os sinais são decorrentes da menopausa, desconhecendo a diferença entre o climatério e a menopausa (POLISSENI. et al, 2008). Embora o climatério seja um acontecimento fisiológico da biologia feminina, podem ocorrer um remodelamento na fisiologia da fêmea em razão das alterações hormonais, levando a modificações funcionais e morfológicas. Essas transformações repercutem na saúde geral da mulher, causando prejuízos na autoestima, na qualidade de vida e na longevidade (FEBRASGO, 2010). De acordo com Brasil (2016), a sintomatologia do climatério aparece através de sinais e sintomas que podem ser transitórios e não transitórios, a depender da condição social e econômica, nutricional, dos aspectos culturais, dos impactos emocionais sofridos em decorrência da atual situação, do conhecimento sobre a causa dos sintomas, do acesso a assistência de qualidade e a presença do apoio familiar. Os principais sintomas transitórios são caracterizados pela diminuição ou aumento do intervalo entre as menstruações; ondas de calor (fogachos); sudorese noturna; cefaleia; tonturas; parestesias; insônia; diminuição da autoestima, labilidade afetiva; dificuldade de concentração, irritabilidade, redução da libido e do desejo sexual e sintomas depressivos (ALVES. et al, 2015). Já as manifestações não transitórias incluem: o ressecamento e sangramento vaginal; adelgaçamento da mucosa genital; dispareunia; prolapsos uterinos; disúria; aumento da frequência e urgência miccional; mudanças na massa e na arquitetura óssea; tendência ao acúmulo de gordura na região abdominal, elevação dos níveis de colesterol e triglicerídeos (SANTOS. et al, 2007). Além dos sintomas supracitados, também pode haver diminuição dos pêlos corporais, ressecamento da pele, queda e embranquecimento dos cabelos, descolamento e retração da gengiva favorecendo o aparecimento de cáries dentárias e infecções, e as mamas tendem a apresentar aumento de gordura, ficando mais pesadas e flácidas (FEBRASGO, 2010). 20 Durante o climatério não é incomum que ocorra diminuição da libido e do desejo sexual, e isto se dá não só devido às alterações hormonais, mas também em decorrência de fatores psicológicos, como o sentimento pelo parceiro, estresse, satisfação com a autoimagem corporal, a idade mais avançada e as modificações no trato reprodutivo inferior que incluem: atrofia urogenital, secura vaginal e dispareunia, implicando em problemas significativos na qualidade da vida sexual (HOFFMAN. et al, 2014). Corroborando com Alves et al (2015), o desempenho sexual possui forte associação com os sintomas, quanto menor a intensidade dos sintomas maior a satisfação sexual. Outra manifestação importante é a osteoporose. A osteoporose é uma doença crônica definida pela perda de massa óssea, com alterações na microestrutura, que leva a fragilidades dos ossos e aumento das fraturas por traumatismo pouco intenso. A massa óssea é desenvolvida no decorrer da vida durante a fase de crescimento e da puberdade, no entanto, com o avançar da idade começa um decrescimento ósseo de forma lenta. No momento do climatério, em decorrência do hipoestrogenismo, essa queda é acelerada pelo aumento da quantidade e da atividade dos osteoclastos, resultando em sérios prejuízos para a vida mulher (FREITAS. et al, 2011; SOBRAC, 2013). Ao longo da experiência do climatério, as mulheres vivenciam, juntamente com as mudanças hormonais, problemas psicológicos e sociais em decorrência do envelhecimento propriamente dito; a saída dos filhos de casa, resultando na síndrome do ninho vazio; estresse e incompreensão familiar das suas queixas e o aparecimento de outras comorbidades. Essas transformações podem estimular grandes repercussões no bem-estar e na autoestima da mulher, tornando-a mais vulneráveis (ALVES. et al, 2015). Segundo Peyton (2007), o aparecimento e a intensidade destes sintomas estão diretamente relacionados com as mudanças ocorridas na vida da mulher durante essa etapa, destacando-se a sua sensação de valor reprodutivo, sua autoimagem corporal e seu papel profissional e comunitário; o que pode gerar medos e incertezas acerca da sua qualidade de vida futura. 21 2.4 ESTRATÉGIAS DE CUIDADO REALIZADAS PELO ENFERMEIRO À MULHER CLIMATÉRICA O climatério é visto como um momento de transformação, aceitação e adaptação feminina, que muitas vezes pode vir acompanhado de tabus, preconceitos, medo do desconhecido, insegurança e impotência, comum a todas as mulheres. Dado o exposto, é necessário que os profissionais de saúde, especialmente os enfermeiros, busquem uma melhor compreensão do ser mulher climatérica (VIDAL. et al, 2012). Conforme Brasil (2008), promover a saúde das mulheres no climatério é levar em conta a relação de cada uma com o seu próprio corpo; reconhecer as mudanças sociais que ocorrem na família, na comunidade e no trabalho, traçando estratégias que auxiliem no enfrentamento dos problemas; incentivar hábitos saudáveis de alimentação e exercício físico; promover o autocuidado e oferecer suporte psicológico e emocional. O enfermeiro, assumindo o papel de educador, orientador e cuidador, deve explicar as mudanças que estão acontecendo no corpoda fêmea, buscando alterar a visão ultrapassada de mulher improdutiva, velha e sem valor, para que possa solucionar e enfrentar essa fase com mais tranquilidade (ROCHA; ROCHA, 2010). O sedentarismo, combinado com uma alimentação desregulada, é apontado como o principal responsável pelo o ganho de peso e pelo surgimento de algumas comorbidades, dentre elas, doenças cardiovasculares, obesidade e osteoporose (BRASIL, 2008; GALLON; WENDER, 2012). Consoante Alves, et al (2015), mulheres que praticam atividade física, pelo menos três vezes por semana, apresentam uma diminuição na quantidade e na intensidade das queixas climatéricas, refletindo numa melhor qualidade de vida. Portanto, é fundamental que o profissional enfermeiro sensibilize a mulher quanto a adoção dos hábitos saudáveis que devem ser cultivados nesse momento da vida, como o consumo de uma dieta com baixo teor de açúcares e gorduras, rica em fibras, vitaminas e minerais; e a realização de práticas regulares de exercício físico, preferencialmente os aeróbicos (ROCHA; ROCHA, 2010). Os sintomas vasomotores denominados fogachos, popularmente conhecidos como ondas de calor intenso, é o sintoma mais frequente, presente em cerca de 75% das mulheres na perimenopausa (BEREK, 2012). Consoante uma pesquisa realizada por Lomônaco, Tomaz e Ramos (2015), foi considerado pelas mulheres como um dos sintomas mais difícil de suportar, 22 pois, produz a sensação de aperto no peito, angústia, alteração dos padrões de sono, aumento da irritabilidade e causa desconforto em razão do suor e calor excessivo. Para ajudar no enfrentamento e atenuação dos sintomas de fogachos, o Ministério da Saúde aconselha o desenvolvimento das seguintes ações: dormir em ambiente bem ventilado, beber um copo de água ou suco gelado ao perceber a chegada dos sintomas, usar roupas leves, praticar hábitos saudáveis de vida, anotar os momentos em que os fogachos se iniciam e os fatores que possam estar desencadeando para evitá-los e respirar profunda e lentamente por alguns minutos (BRASIL, 2016). Outro ponto importante na abordagem do enfermeiro são os sintomas relacionados a vida sexual. A drástica diminuição dos hormônios progesterona e estrogênio, aliado ao aumento da idade, a redução da libido, as alterações do humor, a comunicação pouco eficaz com o parceiro e as modificações na resposta orgástica feminina, têm afetado o desempenho sexual de muitas mulheres (ALVES. et al, 2015). A sexualidade feminina, principalmente no climatério, é carregada de preconceitos e tabus, por estar socialmente associada à jovialidade e a função meramente reprodutiva. Assim sendo, é recomendado que os enfermeiros estimulem a aquisição de informações sobre a sexualidade e a prática do sexo seguro; promovam o autocuidado; orientem quanto ao uso de lubrificantes vaginais a base d’água na relação sexual; incentivem a realização das preliminares e avaliem a presença de fatores clínicos ou psíquicos que necessitem de acompanhamento com especialista (BRASIL, 2016). A osteoporose também é um problema comum do climatério e do próprio processo de envelhecimento natural, por isso, os enfermeiros, essencialmente os da UBS, devem estar preparados para prover cuidados adequados. Dentre as condutas do cuidar a serem realizadas, salienta-se: a prática de atividade física regular; o abandono de hábitos nocivos, como tabagismo e etilismo; a retirada de obstáculos do caminho; o uso de tapetes antiderrapantes; a utilização de protetores de quadril e barras de apoio e o consumo de uma dieta rica em cálcio e vitamina D (FREITAS. et al, 2011; SOBRAC, 2013; BRASIL, 2016). Além das orientações quanto aos sintomas orgânicos e fisiológicos, os enfermeiros devem buscar maneiras de trabalhar questões internas voltadas para o cuidado emocional da cliente. Deve-se oferecer a mulher a oportunidade de externar os sentimentos e modificar ideias e condutas errôneas; facilitar o descobrimento e o resgate da sensação de valor pessoal; apoiar 23 a busca do sentido para a sua vida a partir do climatério e assim promover o bem-estar emotivo (PEYTON, 2007). A Atenção Básica é o estabelecimento de saúde que possui o nível mais adequado para atender a maioria das necessidades de saúde da mulher climatérica, e para que isso ocorra de forma eficaz, é necessário que tanto a estrutura física quanto os profissionais sejam de qualidade e esteja articulada com outros setores (BRASIL, 2008). De acordo com Brasil (2008), são atitudes relevantes no acompanhamento realizado pelos enfermeiros as mulheres que se encontram no climatério, ofertar tratamento de acordo com as queixas; encaminhar para serviços especializados e de referência, quando necessário, e valorizar o autoconhecimento adquirido com as experiências. Dessa forma, espera-se que o enfermeiro adote uma postura sensível às necessidades de cuidado e desenvolva uma relação de confiança com a mulher, viabilizando a participação de outros profissionais e da cliente durante a construção do plano terapêutico. E favoreça a melhora da autoestima, a sua participação ativa no processo, o entendimento das mudanças que estão ocorrendo no seu corpo e, assim, distancie os sentimentos de inutilidade, transformando a existência do climatério em um momento natural, saudável e prazeroso (ALVES, 2010) 24 3 METODOLOGIA Realizou-se uma revisão integrativa com propósito de reunir e sintetizar o conhecimento levantado sobre a temática proposta. Para Mendes, Silveira e Galvão (2008), a revisão integrativa é considerada como um dos métodos de pesquisa utilizados na Prática Baseada em Evidências que permite a incorporação das evidências na prática clínica, sendo considerada a mais ampla, por proporcionar inclusão simultânea de pesquisa experimental e quase-experiemntal possibilitando uma compreensão completa do tema de interesse. Mendes, Silveira e Galvão (2008), destacam a importância desse tipo de pesquisa por ser algo que faz a diferença no que tange a assistência à saúde e de enfermagem, sendo imprescindível vincular o conhecimento oriundo de pesquisas e da prática clínica, uma vez que a síntese dos resultados de pesquisas relevantes e reconhecidos no mundo facilita a incorporação de evidências, agilizando a transferência de conhecimento novo para a prática. Para a elaboração da revisão, foram percorridos as etapas: estabelecimento da hipótese, questão norteadora e os objetivos da revisão integrativa; estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão de artigos (seleção da amostra); definição das informações a serem extraídas dos artigos selecionados; análise dos resultados; discussão e apresentação dos resultados e a última etapa consistiu na apresentação da revisão. Figura 3 – ilustração que representa as etapas percorridas para a elaboração da revisão Fonte: Mendes, Silveira e Galvão (2008) Identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa para a elaboração da revisão integrativa Estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos/ amostragem ou busca na literatura Definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados/categoriz ação dos estudos Avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa Interpretação dos resultados Apresentação da revisão/síntese do conhecimento 25 3.1 PROCEDIMENTO PARA BUSCA E SELEÇÃO DOS ESTUDOS Para guiar a presente revisão integrativa, formulou-se as seguintes questões: qual é o conhecimento científico produzido acerca do cuidado do enfermeiro às mulheres que estão vivenciando o climatério? Com a finalidade de realizar o levantamento dos estudos, utilizou-se duas bases de dados: LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), por ser as que apareciam com maior frequência nas publicaçõesno âmbito do portal da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), mediante os descritores: cuidado; enfermagem; sintomas; climatério. Empregou-se o operador boleano and. Os critérios de inclusão dos estudos definidos inicialmente para a presente revisão foram: indexação nas bases de dados citadas; pesquisas originais e atuais publicados nos últimos dez anos, isto é, no período de 2010-2020, devido a carência de estudos sobre a temática; abordar o cuidado de enfermagem a mulher no climatério e os principais sintomas/queixas dessas mulheres; apresentar disponibilidade na íntegra on-line; estar publicado nos idiomas português, inglês ou espanhol. Foram excluídos os estudos que não respondiam às questões norteadoras, os repetidos nas bases de dados, e os textos com acesso restrito e as revisões de literatura. Em seguida, realizou-se leitura dos resumos e dos textos na íntegra, de modo exaustivo, com o intuito de analisar se os mesmos atendiam aos requisitos e critérios de inclusão relacionados à temática abordada na revisão integrativa. Ressalta-se que a busca foi realizada pelo acesso online, no mês de junho de 2020, sendo a amostra final desta revisão integrativa constituída por 13 estudos (Figura 4). 26 Figura 4 - Ilustração que representa o processo de seleção dos estudos Fonte: a autora. 27 3.2 ANÁLISE DOS ESTUDOS INCLUÍDOS E APRESENTAÇÃO DA REVISÃO INTEGRATIVA Os estudos selecionados foram lidos na íntegra e analisados com base no conteúdo abordado, em seguida foi organizado o quadro 1 o qual contempla as referências de cada estudo associado a uma codificação que foi utilizada no quadro 2 e no 3, que trata sobre as categorias geradas e os respectivos estudos que contemplam as discussões referente aquela categoria. Dessa forma, é possibilitado ao leitor a compreensão sobre a aplicabilidade da revisão integrativa elaborada, de forma a atingir o objetivo desse método, ou seja, impactar positivamente na qualidade da prática de enfermagem, fornecendo subsídios a equipe de enfermagem na tomada de decisão cotidiana. Quadro 1 – Listagem dos estudos selecionados para análise CÓDIGO REFERÊNCIAS DAS PESQUISAS SELECIONADAS A1 PEREIRA, A. B. S. Atenção à Mulher no Climatério Realizada por Profissionais da Estratégia da Saúde da Família. 2014. 81f. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Goiás. Goiânia-GO, 2014. A2 BELTRAMINI, A. C. S. et al. Atuação do enfermeiro diante da importância da assistência à saúde da mulher no climatério. Rev. Min. Enferm., v.14, n.2, p. 166-174, abr-jun., 2010. A3 ALVES, E. R. P. et al. Climatério: a intensidade dos sintomas e o desempenho sexual. Rev. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, v. 24, n.1, p. 64-71, Jan- Mar., 2015. A4 VALENÇA, C. N.; GERMANO, R. M. Concepções de Mulheres sobre Menopausa e Climatério. Rev. Rene. Fortaleza, v. 11, n. 1, p. 161-171, jan./mar., 2010. A5 MARTINÉZ, M. D.; et al. Factores psicosociales predictores de la satisfacción con la vida en la perimenopausia y posmenopausia. Aquichan,v.12, n.3, Chía- Colombia, 2012. A6 SANTOS, J. S.; FIALHO, A. V. M.; RODRIGUES, D. P. Influências das famílias no cuidado às mulheres climatéricas. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. v.15, n.1, p. 215-22, 2013. A7 SILVA, G. F.; et al. Influências do climatério para o envelhecimento na percepção de mulheres idosas: subsídios para a enfermagem. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. v.17, n.3, 2015. A8 MARTINEZ-GARDUNO, M. D.; et al. Intervención educativa de enfermería para el autocuidado durante el climaterio. Rev. Enfermería Universitaria. v.13, n.3, p. 142-150, 2016. A9 SILVA, S. B; NERY, I. S.; CARVALHO, A. M. C. Representações sociais elaboradas por enfermeiras acerca da assistência à mulher climatérica na atenção primária. Rev Rene. v.17, n.3, p.363-71, 2016. 28 A10 ARAÚJO, I. V.; et al. Representação social da vida sexual da mulher no climatério atendidas em serviços públicos de saúde. Rev. Texto Contexto Enferm, v.22, n.1, p. 114-22, 2013. A11 OLIVEIRA, Z. M. (RE)significando o climatério de mulheres que o vivenciam na perspectiva do interacionismo simbólico. 2019. 111f. Tese (doutorado) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro- RJ, 2019. A12 PITOMBEIRA, R.; et al. Sintomatologia e modificações no cotidiano das mulheres no período do climatério. Rev. Cogitare Enferm. v.16, n. 3, p.517-23, 2011. Fonte: a autora Quadro 2 - detalhamento dos estudos selecionados PAÍS DO ESTUDO LOCAL DO ESTUDO / ANO TIPO DE ESTUDO OBJETIVO A1 BRASIL Universidade Federal do Goiás/ 2014 Estudo descritivo, transversal e exploratório. Foi realizada uma pesquisa com todos os profissionais da estratégia saúde da família, acerca do cuidado à mulher no climatério. Nesse estudo evidenciou-se, principalmente, a falta de capacitação sobre a temática e o despreparo profissional em realizar o cuidado à mulher que se encontra nesse período, além da identificação do fogacho e dos sintomas relacionados com a sexualidade como os mais prevalentes. A2 BRASIL Rev. Min. Enferm. /2010 Qualitativo A pesquisa foi realizada com enfermeiros de um hospital do interior de São Paulo. O estudo demostrou a escassez de conhecimento sobre tema e as dificuldades dos enfermeiros em identificar as mulheres que estavam com sintomas do climatério e em desenvolver uma assistência adequada, apesar de reconhecerem a importância do cuidado à mulher climatérica. A3 BRASIL Rev. Texto Contexto Enferm./ 2015 Transversal O estudo foi realizado com as mulheres que se encontravam no climatério. Observou-se uma 29 associação entre a intensidade dos sintomas e o desempenho sexual e a prática de atividade física regular como estratégia de promoção da saúde. A4 BRASIL Rev. Rene./2010 Descritivo- exploratório com abordagem qualitativa Realizou-se um estudo com mulheres que estavam no climatério, no qual foi possível identificar que as mulheres recebem informações insuficientes a respeito dessa fase, com pouca autonomia acerca do seu papel no cuidado. A5 COLÔMBIA Aquichan/ 2012 Intencional A pesquisa foi composta por mulheres na faixa etária de 40-65 anos. Observou-se que o autoconceito, a dimensão expressivo-afetiva e o apoio familiar são fatores preditores da autoestima. A6 BRASIL Rev. Eletr. Enf./ 2013 Descritivo, com abordagem qualitativa. A pesquisa foi realizada com mulheres que encontravam-se no período do climatério. Observou- se que a família possui grande importância na forma como a mulher vivencia o climatério e que o incentivo dos membros da família causa resultados positivos quando a mulher se identifica com essa pessoa. A7 BRASIL Rev. Eletr. Enf. / 2015 Qualitativa, descritiva e exploratória O estudo foi realizado com mulheres idosas, atendidas no Instituto de Atenção à Saúde de uma universidade do Rio de Janeiro. Evidenciou-se uma associação entre a chegada dos sintomas climatéricos e o envelhecimento propriamente dito. A8 MÉXICO Rev. Enfermería Universitaria/ 2016 Quantitativa, quase experimental e transversal O estudo foi feito com mulheres entre a faixa etária de 45 a 59 anos. Concluiu-se que as intervenções educativas dos enfermeiros para o autocuidado, mediante a aplicação de um 30 programa dirigido para mulheres climatéricas, permitiram modificar o autocuidado, contribuiu para o melhor conhecimento das mulheres acerca do climatério e favoreceu a tomada de decisões e mudanças de condutas. A9 BRASIL Rev Rene/ 2016 Qualitativa O estudo foi realizado com enfermeiras. Identificou-se que apesar delas reconhecerem que a mulher merece um cuidado especializado nesse período da vida, muitas não sabem como realizar,ficando o cuidado restrito, primordialmente, a coleta de citologia, além de algumas considerem o climatério como uma patologia que exige intervenção médica. A10 BRASIL Rev. Texto Contexto Enferm./ 2013 Qualitativa e descritiva A pesquisa foi realizada com mulheres que estavam na perimenopausa e pós- menopausa. Identificou-se dois grupos distintos: o primeiro composto por mulheres que referiram piora do padrão sexual, principalmente as mais velhas; e o segundo, formado por mulheres que referiram ter tido melhora no padrão de desempenho sexual. A11 BRASIL Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ/ 2019 Descritivo, exploratório com cunho qualitativo. O estudo foi constituído por mulheres que estavam ou que já haviam vivenciado o climatério. Verificou-se que os serviços de atenção primária não estão preparados para atender a demanda da mulher com queixas dos sintomas do climatério; e que a forma de enfrentamento do climatério pelas mulheres está muita ancorada com as questões socioculturais, sendo a crença e a religiosidade uma das estratégias 31 de contribuem para atenuar as modificações dessa fase da vida. A12 BRASIL Rev. Cogitare Enferm./ 2011 Descritivo e quantitativo O estudo foi desenvolvido com mulheres que estavam no climatério, em que prevalecerem os sintomas de diminuição da libido, problemas psicológicos/ emocionais, sintomas vasomotores e insônia. Fonte: a autora 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Da análise dos resultados dos 12 estudos selecionados, emergiram três categorias: “manifestações clínicas comuns no climatério”, “o cuidado prestado pelo enfermeiro a mulheres climatéricas”, e “estratégias para a melhoria na qualidade de vida no climatério”. O quadro 2 representa a distribuição dos estudos selecionados conforme as categorias. Quadro 3 - Categorização dos Estudos Categorias Estudos Manifestações Clínicas Comuns no Climatério A1, A3, A4, A7, A10, A12 O Cuidado Prestado pelo Enfermeiro a Mulheres Climatéricas A1, A2, A3, A5, A6, A7, A8, A9, A11, A12 Fonte: a autora. 4.1 Categoria 1: Manifestações Clínicas Comuns no Climatério Nesta categoria emergiram os seguintes sintomas: ondas de calor (fogachos), irregularidades menstruais, ressecamento da vagina, irritabilidade, dispareunia, incontinência urinária, cefaleia, alterações emocionais, insônia, diminuição da libido e atrofia vaginal. Consoante com Pitombeira et al (2011), a sintomatologia relacionada ao climatério é altamente prevalente, estando a maior causa da busca pelos serviços de saúde associada aos sintomas vasomotores, seguidos dos sinais e sintomas ligados à sexualidade e as alterações psicológicas, atestando-se que essa transição causa um grande impacto na vida das mulheres. 32 O fogacho esteve presente em 100% das mulheres participantes da pesquisa realizada por Pereira (2014), estando esse sintoma intimamente ligado ao surgimento da insônia, devido ao calor e a sudorese noturna e, em seguimento, causando estresse e irritabilidade no dia seguinte. É certo que a sexualidade feminina vai além dos estímulos genitais, abarcando os aspectos emocionais e afetivos, a intimidade com o parceiro, as fantasias e os estímulos sensoriais responsáveis por desencadear, cumulativamente, o desejo, o prazer e a satisfação sexual (ARAÚJO. et al, 2013). Conforme Alves et al (2015), observou-se uma conexão entre o padrão de desempenho sexual e a intensidade dos sintomas; a presença dos sintomas, como cefaleia, fogachos, estresse, ressecamento vaginal, irregularidades menstruais e alterações psicológicas interferem na resposta sexual da mulher. Outro estudo aponta para os estereótipos femininos de uma formação cultural conservadora, pautada na sociedade patriarcal, em que a atenção erótica está relacionada com a juventude e a função reprodutora, sendo, muitas vezes, descrito pelas mulheres como algo pervertido e inapropriado para a idade (SILVA. et al, 2015). Por outro lado, no estudo de Araujo et al (2013), foi encontrado que uma porção minoritária das mulheres referem ter ocorrido melhora no padrão de desempenho sexual após o climatério, apontando esse período como a verdadeira descoberta do prazer, do orgasmo e da continuidade da vida sexual, fundada na estabilidade de vida, no crescimento dos filhos, a não preocupação com a possibilidade de gravidez ou menstruação e, consequentemente, mais tempo para cuidar de si. Em relação às alterações psicológicas, destacam-se a irritabilidade, a tristeza, a depressão, a ansiedade, o isolamento, a solidão e a baixa autoestima. Em pesquisa realizada por Pitombeira et al (2011), 50% das mulheres entrevistadas, apesar de não terem diagnóstico de depressão, relataram sentir-se deprimidas; além disso, as experiências do climatério foram descritas como desconfortáveis, sinalizadas com um conjunto de medo, angústia, preocupação e sofrimento (SILVA. et al, 2015). Em concordância com Silva et al (2015), a chegada dos sintomas de isolamento e baixa-autoestima está estreitamente atrelada as alterações hormonais ocasionadas pelo hipoestrogenismo, responsável pelo envelhecimento cutâneo e as mudanças corporais, que em um mundo onde o corpo é cultuado e a visão do belo está ligada à juventude, concebe-se uma imagem negativa e dolorosa para as mulheres que iniciam o processo de envelhecimento. 33 Confirmando esse olhar negativo das mulheres sobre o climatério, em um estudo realizado por Valença e Germano (2010), no qual se indagou a mulher acerca da sua percepção sobre o climatério, a maioria das entrevistadas definiram esse momento como uma patologia, ressaltando as alterações fisiológicas como ruins e desconfortáveis ou como sinônimo de velhice, improdutividade, perda da vitalidade e fim da vida sexual. 4.2 Categoria 2: O Cuidado Prestado pelo Enfermeiro a Mulheres Climatéricas Notou-se que há um déficit no conhecimento e na habilidade de cuidado do enfermeiro para com a mulher climatérica, o que reflete direta e negativamente nas condutas adotadas e, principalmente, no modo de enfrentamento da mulher frente a esse período de grandes transformações. O enfermeiro, durante o desenvolvimento da sua profissão, possui um papel essencial na prestação de cuidados à mulher climatérica, assumindo a função de educador, orientador e cuidador, sendo, portanto, responsável por propiciar um cuidado adequado e eficiente, capaz de sanar dúvidas, promover o bem-estar biopsicossocioespiritual e facilitar o processo de ressignificação, auto-reconhecimento e direcionamento da mulher (MARTINÉZ. et al, 2012). De acordo com Pereira (2014), as dificuldades com os sinais e sintomas e as dúvidas sobre as mudanças que estão ocorrendo no corpo, bem como as formas de tratamento, são os principais motivos da busca por atendimento na atenção básica pelas mulheres que estão no climatério. O conhecimento básico do enfermeiro sobre os sintomas mais característicos do climatério e a idade em que costumam se manifestar, é essencial para uma percepção antecipada e uma ação eficiente. Entretanto, ao analisar a ciência do enfermeiro acerca do climatério e a habilidade de identificar se as mulheres estão nesse período, é evidente a insegurança deste quanto a relacionar os sintomas apresentados pela paciente com os decorrentes do climatério (BELTRAMINI. et al, 2010). Observa-se que as intervenções feitas pelos enfermeiros contribuem para o conhecimento da mulher sobre o climatério, possibilitam a construção do autocuidado e favorecem a tomada de decisões, sendo fundamental para a busca do bem-estar integral e a otimização da mulher nessa etapa da vida (MARTÍNEZ-GARDUNO. et al, 2016). Em um estudo realizado por Beltramini et al (2010), foi evidenciado uma escassez de conhecimento acerca do tema pelos enfermeiros e, por conseguinte, umcuidado pouco efetivo, 34 sedimentado no modelo hegemônico de atenção à saúde, com foco na cura das doenças e na sintomatologia apresentada. Apesar dos enfermeiros reconhecerem a importância do cuidado à mulher climatérica, a maioria não está preparada para planejar e executar uma assistência adequada. Ainda, uma parcela deles, consideram que o climatério é um problema de saúde que requer uma intervenção médica, cabendo a eles apenas o rastreamento do câncer do colo de útero e de mama e as condutas guiadas pelos resultados dos exames, dissociado do cuidado global (SILVA, NERY; CARVALHO, 2016). Consoante pesquisa realizada por Pereira (2014), grande parte das orientações sobre o climatério são realizadas mediante consultas nos consultórios e estão relacionadas com os sintomas fisiológicos, com pouca ou nenhuma atenção à sintomatologia de origem psicológica. Encontra-se, também, um déficit na realização de atividades grupais de educação e saúde que, conforme Silva et al (2015), propicia a troca de conhecimentos entre as mulheres e auxilia no enfrentamento dos fenômenos físicos e psíquicos decorrentes do climatério. Segundo Alves et al (2015), esse destreino dos enfermeiros no cuidado à mulher climatérica, é um problema que começa na graduação, pois, lamentavelmente, a formação acadêmica, ainda, é baseada no modelo biomédico curalista, em que as repercussões das alterações fisiológicas são muitas vezes ignoradas. Inobstante aos impasses encontrados na formação do enfermeiro, é preciso lidar com a desorganização dos serviços de saúde e a inópia dos recursos materiais e físicos que complexifica a elaboração e o cumprimento do cuidado. Dessa maneira, é imprescindível que os gestores públicos invistam na criação de políticas públicas de atenção à mulher no climatério, na capacitação específica e na educação permanente do enfermeiro, de preferência, da atenção básica, para que este possa aperfeiçoar o atendimento à mulher, englobando a sua totalidade (OLIVEIRA, 2019). O enfermeiro, ao cuidar da mulher climatérica, deve ter o discernimento de que, independentemente das queixas, é inescusável que se fomente um cuidado sensível às necessidades, disponível, acolhedor, fortalecedor e resolutivo, capaz de viabilizar o empoderamento da mulher, com a participação para transfazer e melhorar as condições de vida e de saúde de si mesma e dos grupos sociais a sua volta (PEREIRA, 2014). 35 Para tanto, o enfermeiro deve desenvolver habilidades de cuidado que permitam que as mulheres falem de seus anseios, dúvidas e alcancem a compreensão sobre os aspectos fisiológicos, os sintomas, as implicações e as formas de enfrentamento ao climatério, respeitando a singularidade da mulher, os seus saberes populares e o contexto sociocultural ao qual está inserida, além dos recursos disponíveis para o autocuidado (SILVA, NERY; CARVALHO, 2016). É de suma importância, que o enfermeiro busque o conhecimento basilar para fornecer uma atenção qualificada e esteja apto para tornar-se um meio através do qual a mulher, a família e a comunidade obtenha esclarecimentos e, dessarte, aprenda a viver essa fase de transformações com plenitude, desmistificando o climatério, ora visto como patologia, passando a defini-lo como um processo natural, carregado de vivências essenciais para o amadurecimento da mulher (BELTRAMINI. et al, 2010). Diante do exposto, é cristalina a necessidade de investimento na capacitação do enfermeiro e de reformulação na grade curricular das unidades de ensino de enfermagem, a fim de formar enfermeiros capazes de oferecer um cuidado apropriado nesse momento de vida. Cabe destacar, a escassez de estudos na área, o que dificulta o acesso do enfermeiro a informação, inviabilizando o seu aprendizado e o desenvolvimento do cuidado à mulher climatérica. Portanto, é crucial que seja confeccionado e divulgado novas pesquisas, nota, parecer técnico, dados e referência sobre o assunto, sobretudo, pelo Ministério da Saúde, com o propósito de disseminar o conhecimento para os profissionais de saúde, precipuamente o enfermeiro, e a população em geral. A realização de atividade física, a participação em grupos terapêuticos e o apoio familiar, mostraram-se imprescindíveis na melhoria da qualidade de vida da mulher climatérica. Constatou-se uma diminuição na expressividade dos sintomas fisiológicos e psicossomáticos, uma maior autoaceitação e um conhecimento mais amplo sobre o tema, o que possibilitou a quebra do estigma do climatério, antes visto como algo ruim ou como o fim da vida. A família possui grande influência na vivência do climatério, sendo o carinho, a afetividade e os incentivos positivos, primordiais para o enfrentamento do estresse, melhora da autoestima, desfazimento da solidão e do medo, diminuição dos sintomas somáticos e os transtornos psicológicos, além de gerar segurança e otimismo para ultrapassar esse ciclo de maneira saudável (SANTOS, FIALHO; RODRIGUES, 2013). 36 Consoante Alves et al (2015), a prática de atividade física, juntamente com uma alimentação saudável e balanceada, esteve relacionada com a melhoria do padrão estético, o aumento da disposição, a diminuição do estresse e dos riscos de doenças cardiovasculares, o reestabelecimento do padrão sexual de desempenho e a redução da intensidade dos sintomas. A participação em grupos terapêuticos destinados a mulheres climatéricas, mostrou-se igualmente eficiente, pois, possibilita o contato com outras mulheres que perpassam ou já passaram por essa fase, trazendo benefícios para a socialização, discussão, diálogo e estímulo a capacidade funcional, a autonomia, a autovalorização e a autoestima (SILVA. et al, 2015). Ademais, o uso da Terapia de Reposição Hormonal demostrou-se como um importante aliado à mulher climatérica, visto que, o seu uso produziu um alívio considerável nos sintomas e um elevado nível de satisfação entre as usuárias. Todavia, devido ao custo elevado e à ausência de dispensação gratuita da TRH, muitas mulheres não puderam aderir ao tratamento, mesmo atendendo aos requisitos necessários para a utilização, além de outras que iniciaram a terapia e não tiveram condições financeiras para dar continuidade (PITOMBEIRA. et al, 2011). Em um estudo feito por Oliveira (2019), também são mencionados como estratégia a fé, a religiosidade e a espiritualidade resultante das crenças, que contribuem significativamente para atenuar as modificações, vivenciar essa fase sem sofrimento ou angústia, e transcender a espiritualidade na esperança de dias melhores. Além do mais, as práticas de meditação, hidroginástica, dança, caminhada e pilates mostraram-se eficientes na busca pelo equilíbrio biopsicosociocultural, na tentativa de redescobrir a vida e ressignificar o climatério. 37 5 CONCLUSÃO O enfermeiro possui um papel significativo no cuidado à mulher climatérica, devendo este estar apto a prestar uma assistência qualificada, por meio do fornecimento de informações, do esclarecimento das dúvidas, da visão integralizada da paciente e da adoção de estratégias capazes de promover o bem-estar biopsicossocioespiritual, respeitando a singularidade e a carga cultural de cada uma. Nesse sentido, é essencial que os enfermeiros, especialmente aqueles que atuam na atenção básica, se atentem para a atenção à mulher que esteja vivenciando o processo do climatério, na perspectiva de oferecer práticas educativas e participativas suficientes para impactar positivamente na saúde física, mental e emocional, bem como na autoestima, no empoderamento e na autonomia para o autocuidado. As evidências científicas desta pesquisa revelam a imprescindibilidade de reformulação no modelo de assistência à saúde da mulher, da criação de políticas públicas capazes de abarcar, de fato, a mulher em todo o seu ciclo de vida, além da capacitaçãoespecífica dos enfermeiros para o cuidado à mulher climatérica. Notou-se que, apesar das revoluções em saúde e da busca pela assistência integral à saúde da mulher, o cuidado ainda é prestado de maneira fragmentada, pouco resolutiva e ineficiente, alicerçado no modelo biomédico. Compete mencionar que, inicialmente, seria realizado uma pesquisa de campo com os enfermeiros atuantes da atenção básica, com o objetivo de apreciar o conhecimento deles acerca do tema, entretanto, devido a pandemia causada pela COVID-19 não foi possível desenvolver a pesquisa, tendo sido necessário adaptar para revisão integrativa. Urge, também, ressaltar a escassez de estudos sobre o tema e a carência de resultados encontrados nos estudos selecionados, sendo necessário a produção de novas pesquisas na área. Dessarte, espera-se que essa pesquisa sirva de auxílio para embasar as condutas do enfermeiro à mulher climatérica, oportunizando um conhecimento mais amplo sobre os sintomas fisiológicos e emocionais e as ações de cuidados que devem ser implementadas, com vistas a promover um cuidado específico, resolutivo e acolhedor. 38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACIOLI, S. et al. Práticas do cuidado: o papel do enfermeiro na atenção básica. 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