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VITORIA-ES, 201 5 ( FACULDADE BRASILEIRA THAISSA SANT'ANNA DE OLIVEIRA KRAUSS CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ,Ó € @, ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( VITÓRIA-ES, 2015 ( FACULDADE BRASILEIRA THAISSA SANT'ANNA DE OLIVEIRA KRAUSS ( ( ( ( ( ( ( ( CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO Análise da Restauração de 1944 da Igreja e Residência de Reis Magos ( ( Serra, Espírito Santo ( Prometo de pesquisa apresentado na disciplina Trabalho Final de Graduação ll, da Faculdade Brasileira - Multivix Vitória. ministrada pela Prof. Aline Miceli, como requisito para avaliação da banca final. ( ( ( ( ( ( ( ( ( C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( VITORIA-ES, 2015 RESUMO Pesquisa feita como requisito para avaliação de Trabalho Final de Graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Multivix - Vitória. Este trabalho faz uma reflexão sobre a postura do IPHAN - Instituto de Património Histórico e Artístico Nacional em relação a restauração feita no ano de 1944 na Igreja e Residência de Reis Magos, situada em Nova Almeida, Serra - Espírito Santo - Brasil, com base nas teorias dos Restauradores Jhon Ruskin, Camillo Boato, Gustavo Giovannoní e Cesare Brandi e no conteúdo das Cartas Patrimoniais Carta de Atenas, Carta de Veneza, Carta de Restauro e Carta de Burra. ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( C ( C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( r LISTA DE IMAGENS Imagem 1 - Palácio Anchieta, antigo Colégio São Tiago: com a fachada original e após alterações que descaracterizaram o edifício. Fonte: Google imagens, imagem alterada por Thaíssa Krauss. e arquivo pessoal. Imagem 2 -- Igreja Reis Magos, em Nova Almeida, município da Serra, ES. Fonte Google imagens. Imagem 3 - Planta típica de uma aldeia jesuítica no Brasil colónia. Fonte: UNICAMP Imagem alterada por Thaíssa Krauss. Imagem 4 - Fotografia do antigo Colégio Tiago. 1907.Fonte: Slides disponibilizados pela Professora Cada de Paula do Colégio Castro Avles. Imagem alterada por Thaíssa Krauss. Imagem 5 - Mapa com as primeiras aldeias Jesuíticas do Estado do Espírito Santo Fonte: Imagem do google alterada por Thaíssa Krauss. Imagem 6 - Croqui comparando fachadas típicas dos estilos Maneirista, Renascentista e Barroco (na ordem). Fonte: Lúcio Costa, a arquitetura dos Jesuítas no Brasil. Imagem alterada por Thaíssa Krauss. Imagem 7 Igreja São Roque, em Lisboa. Fonte: Google Imagem 8 - Igreja de Jesus, em Romã ltália. Fonte: Google Imagem 9 - Igreja São Vicente de Fora, em Lisboa-Portugal Fonte: Google Mapa alterada por Thaíssa Krauss. Imagem10 - Croqui da Capela de Santo Antõnio. Fonte: Lúcio Costa, a arquitetura dos Jesuítas no Brasil. Imagem alterada por Thaíssa Krauss. Imagem 1 1 - Foto aérea da Igreja e Colégio Nossa Senhora das Graças de Olinda em Pernambuco: exemplificando a implantação em quadra. Fonte: Google imagens. Imagem 12 - Interior da Igreja Nossa Senhora da Assunção, em Anchieta mostrando as ordens arcadas citadas acima. Fonte: Google. ( b ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( C ( C C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( r Imagem 13 - Igreja e Residência de Reis Magos atualmente. Fonte: Arquivo Pessoal. Imagem 14 -- Igreja e Residência Reis Magos, localizada a mais de 40m acima do mar. Fonte: Google Imagens. Imagem 15 -- Foto aérea da Igreja e Residência de Reis Magos, em Nova almeida mostrando o conjunto arquitetõnico e implantação do monumento. Fonte www. SQ [ra : es :gov .br. Imagem 16 - Fachada principal da Igreja e Residência Reis Magos com praça Fonte: www.serra.es.aov.br. Imagem 17 Foto do óculo Polilobado citado acima. Fonte: www.serra.es.aov.br Imagem 18 - Foto do Claustro da Igreja e Residência de Reis Magos. Fonte www: serra :es .qov .br. Imagem 19 - Retábulo esculpido em madeira com pintura de Reis Magos ao centro Fonte: Arquivo pessoal. Imagem 20 - Peças com mármore de Lioz: pia de água benta e pia batismal. Fonte Arquivo Pessoal. Imagem 21 - Croqui da Planta Baixa da edificação mostrando onde é a Igreja: pav térreo e pav. superior. Fonte: Feito por Thaíssa Krauss. Imagem 22: Croqui da Planta Baixa da edificação mostrando onde é a Residência pav. térreo e pav. superior. Fonte: Feito por Thaíssa Krauss. Imagem 23 - Alvenaria deixada exposta para contemplação do público na restauração de 2001-2003. Fonte: Arquivo Pessoal. Imagem 24 - Ala Oeste com vista para a Sacristia - sem telhado - antes da Obra de Restauração do Telhado em 1 944. Fonte: Arquivo do IPHAN-ES. .L K ( ( C ( ( ( ( ( ( C ( t ( C ( t ( t ( C C C ( ( C Imagem 25 -- Fachada Posterior - antes da Obra de Restauração em 1944. Fonte Arquivo do IPHAN-ES Imagem 26 - Fachada Lateral Direita - Ala Oeste - Antes da Obra de Restauração em 1 944. Fonte: Arquivo do IPHAN-ES. Imagem 27 - Ala Oeste escada de acesso ao púlito - Antes da Obra de Restauração em 1 944. Fonte: Arquivo do IPHAN-ES. Imagem 28: Croqui com Mapeamento das Áreas Afetadas em 1943. Fonte: Feito por Thaíssa Krauss. Imagem 29 - Fachada Posterior: antes da Restauração de 1944 e atualmente em 201 5. Fonte: Arquivo IPHAN-ES e arquivo pessoal. Imagem 30 - Fachada Lateral direita e Posterior: antes da restauração em 1944 e atualmente em 201 5. Fonte: Arquivo IPHAN-ES e arquivo pessoal. Imagem 31 - Fachada Lateral Direita - Ala Oeste: Antes da Obra de Restauração em 1 944 e Atualmente em 201 5. Fonte: Arquivo IPHAN-ES e arquivo pessoal. Imagem 32 - Fachada Lateral Direita - Ala Oeste - Antes da Obra de Restauração em 1 944 e Atualmente em 2015. Fonte: Arquivo IPHAN-ES e arquivo pessoal. Imagem 33 - Pátio Interno em 1944 antes da Restauração e atualmente em 2015 Fonte: Arquivo IPHAN-ES e arquivo pessoal. \ ( ( ( L ( ( ( L ( t ( C ( ( ( ( Imagem 34 - Corredor ao redor do pátio em 1944 antes da Restauração e atualmente em 201 5. Fonte: Arquivo IPHAN-ES e arquivo pessoal. Imagem 35- Corredor ao redor do pátio em 1944 antes da Restauração e atualmente em 201 5. Fonte: Arquivo IPHAN-ES e arquivo pessoal. Imagem 36 - Coliseu em Romã, ltália: simulação de como era originalmente e fotografia de como está atualmente. Fonte: Google. Imagem 37 A Cúpula do edifício Reichtag em Berlim, Alemanha: original no século XIX. que foi destruída durante a segunda guerra mundial e a atual cúpula projetada pelo arquiteto Norman Foster.Fonte: Google ( ( ( ( ( Palavras-chave arquitetura-jesuítica; arquitetura jesuítica no espírito santo; arquitetura-colonial igreja-reis-magosl aldeia-reis-magosl nova-almeidal teoria-do-restauro ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( C ( ( ( ( ( C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( C ( ( ( ( ( ( ( ( ( r ( r 13 l . Os Padres Jesuítas no Brasil Os jesuítas faziam parte de uma ordem religiosa católica chamada Companhia de Jesus, que foi criada com o objetivo de disseminar a fé católica pelo mundo. Os padres jesuítas eram subordinados a um regime de privações que os preparava para viver em locais distantes e se adaptarem às mais adversas condições. A atividade Jesuítica no Brasil colónia teve início em 1549 e prosseguiu até 1759. quando o Marquês de Pombas ordenou a expulsão dos padres da Companhia de Jesus do Brasil. Os Jesuítas foram os primeiros missionários enviados aos nativos pelos portugueses, assim como acontecia em outros lugares colonizados por Portugal. Quando chegaram no Brasil no século XVI, os padres se defrontaram com a população indígena dispersa e nõmade, diferente de outras colónias onde a população era densa e concentrada. E evidente que os poucos missionários enviados não poderiam iniciar a longa e difícil tarefa de conversão das tribos indígenas do Brasil enquanto elas permanecessem em seu estado nõmade. O problema foi avaliado de maneira realista pelos padres jesuítas, que se empenharam de forma contínua e incansável para achar uma forma de assentare concentrar os índios em aldeias. Essas aldeias reuniam comunidades menores e menos organizadas que as conhecidas Rede/iões dos Jesu/fas' espanhóis na região sul dos rios Paraguai e Paraná, apesar de serem fundamentadas em princípios semelhantes . ' A tarefa de assentar os indígenas trazia enormes dificuldades. As plantações exigiam trabalho escravo e o aldeamento tornava os índios vulneráveis à captura e mais valiosos como escravos do que seus irmãos selvagens que estavam mais seguros na floresta. Essa mudança radical trazia ainda para os índios um forte desconforto psicológico, já que até então eles eram livres, acostumados à vida l BURY. John. A arquitetura e arte no Bmsil colonial. Brasília: IPHAN/Monumenta, 2006. Pag 63 ( ( ( ( ( ( C ( ( ( ( r 14 dinâmica e natural que a vida na floresta lhes proporcionava. Além disso, as epidemias trazidas pelos europeus também se alastravam em grande escala nas aldeias. Os primeiros padres jesuítas assumiram então a enorme responsabilidade de preservar a liberdade dos índios, ajusta-los ao novo modo de vida e ainda tiveram que ajudar no aumento gradual da resistência dos mesmos às novas doenças.2 Após a difícil tarefa de assentamento dos indígenas em aldeias, era essencial que os padres jesuítas também os educassem. Embora a educação dos índios fosse a tarefa principal concedida pelos portugueses, também era confiada aos representantes da Companhia de Jesus a tarefa de educar os filhos dos colonos, assim como a formação dos candidatos às funções sacerdotais. 2 Os padres jesuítas acumularam um grande número de bens materiais, incluindo fazendas de cana-de-açúcar. fazendas de criação de gado e também se dedicavam à produção agrícola, além de contarem com o apoio financeiro da Igreja. Esses empreendimentos eram tocados principalmente pela mão-de-obra escrava dos índios. Com o aumento de bens e da influência política e económica que os membros da Companhia de Jesus adquiriram, eles passaram a ter certa independência sobre o Estado e até mesmo sobre a Igreja.3 Com a ascensão da Companhia de Jesus, os conflitos entre os padres jesuítas e os colonos passaram a ser cada vez mais frequentes. Os padres Jesuítas repudiavam o tratamento que os colonos davam a seus escravos índios. Essa diferença de opinião deu origem a vários conflitos conhecidos. Mais tarde, os padres Jesuítas foram acusados de instigarem motins contra os colonos. 3;4 2 BURY. John. A arquitetura e arte no Brasil colonial. Brasília: IPHAN/Monumenta,. 2006. Pag. 63 ' BRAZÃO. Eduardo. O Marquês de Pombal e os Jesuítas. Revista de História das Ideias. Vo1. 4 - Tolmo 1. 1 982 4 OLIVEIRA, José Teixeira de. A História do Estado do Espírito Santo. Vitória: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo: Secretaria de Estado e Cultura. 3' edição, volume 8. 2008. Pag. 21 1 -245 ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( 15 O reestabelecimento das diretrizes portuguesas guiadas pelo absolutismo5, aliado aos constantes conflitos com os bandeirantes e colonos, deu fim à missão dos jesuítas no Brasil. Para o Marquês de Pombal, primeiro ministro de Portugal, a Companhia havia se tornado um enorme obstáculo à construção da sua política de reformas. Em 3 de setembro de 1759 0 Rei José 1, influenciado pelo Marquês de Pombal, ordenou a publicação de um decreto acusando os Padres Jesuítas de traidores e expulsando os Padres da Campainha de todo o Reino e Domínios de Portugal. Os Padres foram deportados para seus Países de origem. Após a expulsão dos padres Jesuítas, o governo confiscou as propriedades da Companhia de Jesus. ' Declaro os sobreditas regulares [. . .] rebeldes, traidons, adversários e agnssons que estão contra a minha real pessoa e Estados, contra a paz pública das meus reinos e domínios, e contra o bem comum dos meus fiéis vassalos [...] mandando que efetívamente sejam expu/sos de todos os meus reinos e dom/nãos. (Decreto de expulsão dos Jesuítas, 1 759) Os membros da Companhia de Jesus, movidos pela necessidade, foram os pioneiros na construção do Brasil colónia. Por causa de suas capacidades e notoriedade, tornaram-se os principais desenvolvedores da arte e da arquitetura brasileira durante os dois primeiros séculos da colonização. A influência dos padres jesuítas foi tão grande que até hoje é utilizada a expressão "estilo jesuítico" para descrever toda a fase de arquitetura e decoração religiosa do primeiro período colonial. ' 5 Absolutismo: Teoria política contrária ao Iluminismo. Foi popular na Europa no Seculo XVlll Disseminava a concentração de poderes em uma pessoa só: judicial, legislativo e religioso. 6 BURY, John. A arquitetura e arte no Brasil colonial. Brasília. Editora Monumenta/IPHAN. 2006 64Pag ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( r 16 Imagem 3 Planta típica de uma aldeia jesuítica no Brasil colónia Fonte: UNICAMP. Imagem alterada por Thaíssa Krauss l .l . Os padres jesuítas no Estado do Espírito Santo Os missionários da Companhia de Jesus chegaram ao Espírito Santo por volta do ano de 1551 liderados peão Padre Afonso Brás que reatou "t...] Esta, onde ao presente estou, é a melhor e mais férti] terra do Brasil [...]". Padre Afonso em 25 de julho de 1551 fundou o primeiro colégio da Capitania, intitulado Colégio São Trago (imagem 4), atualmente Palácio Anchieta. 7 7 LEITE, Serafim, História da Companhia de Jesus no Brasil. Tomo Estabelecimento. Belo Horizonte-Rio de Janeiro: Editora ltatiaía, 2000. Século XVI ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( Í 17 Imagem 4 Fotografia do antigo Colégio Tiago, 1 907 '4 Fonte: Slides disponibilizados pela Professora Cada de jaula do Colégio Castra Avles. Imagem alterada por Thaíssa Krauss. A população indígena do Espírito Santo era abundante se comparada com outras regiões açucareiras mais prósperas como Pernambuco e Bahia. 8 No Espírito Santo o aldeamento dos indígenas começou na década de 1550. A primeira aldeia capixaba foi a aldeia da Conceição, atualmente no município da Serra, que era formada por índios tupiniquim, de um grupo denominado Maracajás, vindos da Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, seguida pela aldeia de São Jogo, atual Carapinal prosseguindo com Reritiba, Reis Magos e Guarapari que foram formadas como resultado de expedições militares promovidas pelo governo da capitania e do trabalho dos jesuítas que realizaram uma intensa tarefa missionária até as primeiras décadas do século XVll trazendo milhares de índios do sertão e catequizando-os nas missões. Na década de 1580, apenas nas aldeias jesuíticas ' SALE'n'O, Nau. Sobre a composição étinica da população capixaba. Disponível http://www.angelfire.com/planet/anpuhes/ensaio25.htm. Acesso em 2 de maio de 2015. em ( i ( ( ( ( ( ( ( ( ( \ ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( < ( r 18 havia na capitania "mais de 150 vizinhos portugueses" e cerca de 4500 índios, fora os escravos e os índios livres em contato com os portugueses. Reritiba e Reis Magos permaneceram como aldeamentos até a expulsão dos Jesuítas do Brasil, em 91759 Imagem 5 Mapa com as primeiras aldeias Jesuíticas do Estado do Espírito Santo b'fH''41 g r.J i $ ta'ftlp+ã Santa Macia dt Jetib& Matllde Vâíqe,,,Ntõ iWGwes ira de Fonte: Imagem do goagle alterada por Thaíssa Krauss É evidente a importância dos aldeamentos jesuíticos para a formação populacional do Espírito Santo visto que no final do século XVlll, três das cinco vilas existentes na capitania foram originadas dos aldeamentos jesuíticos. São elas: Guarapari (Guarapari), Benevente (Reritiba) e Nova Almeida (Reis Magos). As outras duas vilas eram: Vitória e Vila Velha (Espírito Santo). Por volta dos anos 1 789 foi feito um 9 SALE-rl-O, Nau. Sobre a composiçãoétinica da população capixaba. Disponível http://www.angelfire.com/planet/anpuhes/ensaio25.htm. Acesso em 2 de maio de 201 5. em ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( r 19 censo indicando que os índios constituíam grande parte da população livre. Reritiba e Reis Magos possuíam juntas cerca de cinco mil setecentos e trinta habitantes livres, sendo em sua maioria índios, enquanto Vitória, Vila Velha e Guarapari possuíam juntas quatro mil novecentos e trinta habitantes livres, incluindo aldeias antigas. Em 1872 no Estado de Espírito Santo havia seis mil duzentos e sessenta e três habitantes pretos e pardos livres, que significava 46% da população total livre contra 45% de brancos. lo A aldeia de Reritiba tinha uma população estimada em sete mil habitantes. Além da Aldeia de Reritiba, destacam-se a Aldeia de Muribeca que foi fundada no ano de 1581, era situada no sul do Estado, próximo às localidades de ltapemírim. Marataízes, ltabapoana, tinha uma população indígena estimada em cinco mil índiosl Aldeia de Araçatiba, atual Vianal e a Aldeia de ltapoca, atual Município de Cariacical e a aldeia de São Jogo, atual Carapina. Todas essas aldeias foram importantes polos económicos e de abastecimento das demandas internas da Capitania do Espírito Santo com criação de gado, produção de cana-de-açúcar. farinha de mandioca e produção de legumes.ll Os padres Jesuítas também se interessaram pela exploração mineralógica, com a finalidade de encontrar esmeraldas. Em 1636, foi organizada uma expedição dirigida pelo padre Início Siqueira, atingindo o atual Estado de Minas Gerais, que naquela época ainda pertencia à Capitania do Espírito Santo. ll Os padres jesuítas tiveram muita influência política e religiosa em todo mundo. Com o seu árduo trabalho, foram responsáveis por grandes feitos, principalmente no 10 SALETTO, Nau. Sobre a composição étinica da população capixaba. Disponível em http://www.angelfire.com/planet/anpuhes/ensaio25.htm. Acesso em 2 de maio de 201 5 '' GONÇALVES, Flávia de Cássia. A Colonização no Espírito Santo entre 1535-1700 e a contribuição dos diversos segmentos populacionais na sua formação sócio-economico- cultural. Disponível em: http://wwwangelfire.com/planet/anpuhes/ensaio1 3.htm. Acesso em 2 de maio de 2015. ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( Ç ( ( ( 20 Brasil, onde tiveram a importante missão de catequisar os índios, que eram, em sua maioria, considerados selvagens e agressivos, permitindo assim, a colonização e o início da civilização do Brasil. ( ( ( ( ( r ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( r 21 2. A Arquitetura Jesuítica Os Jesuítas não tinham um único ''estilo'' definido, assim como não possuíam um ideal arquitetõnico e artístico único. Eles foram uma das ordens religiosas mais versáteis de todos os tempos se adaptando a diversas situações históricas, culturais e a diferentes tipos de sociedades, tornando-se um estilo único em cada lugar pelo qual passaram os padres. ': No Brasil, não podemos falar de arquitetura Jesuítica sem entendermos a sua relação com a arquitetura do Maneirismo. A arquitetura do Maneirismo foi muito intensa na ltália. Foi desenvolvida por Michelangelo na década de 1520 ofuscando o estilo Renascentista, sendo suplantada pelo Barroco no início do século XVII. O objetivo dos arquitetos renascentistas era racional tendo resultados harmónicos e simétricos enquanto o objetivo dos arquitetos do Barroco era emocional e os resultados eram turbulentos, dramáticos e comoventes. Apesar de serem estilos completamente opostos, ambos eram precisos, enquanto o Maneirismo se mostra ambíguo apresentando temas dúbios e duplas funções, indo contra a proporção renascentista . ' ' O Maneirismo viola as regras clássicas do Renascimento. Os princípios do Humanismo baseados na proporção natural e harmonia matemática foram transformados em complexos elementos dúbios, com efeito de total desequilíbrio. A perfeição renascentista foi substituída pela inquietação, mas, diferente do Barroco, os maneiristas deixaram em aberto as tensões criadas. '; 'z PATETTA, Luciano. A arquitetura da Companhia de Jesus entre maneirismo e barroco. Disponível em: httD://jer:letras.up.pt/UDloads/ficheiros/7549.pdf . Acesso em 1 5 de junho de 201 5. 13 BUFiY, John. A arquitetura e arte no Brasil colonial. Brasília: IPHAN/Monumenta,. 2006. ( i ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( r 22 Imagem 6 - Croqui comparando fachadas típicas dos estilos Maneirista Renascentista e Barroco (na ordem) Fonte: Lúcio Costa. a arquitetura dos Jesuítas no Brasil. Imagem alterada por Thaíssa Krauss Na Espanha e em Portugal as figuras mais importantes para a influência das novas formas clássicas foram os arquitetos da Companhia de Jesus que logo adotaram o estilo maneirista da ltália e passaram a utiliza-lo em toda parte, inclusive nas colónias. No México, onde a influência dos padres jesuítas era pequena o Plateresco14 foi o estilo dominante na época, enquanto no Brasil, onde os Jesuítas tinham grande influência, uma arquitetura levemente clássica se estabeleceu por um curto período. Em Portugal, o principal responsável pela introdução do estilo Maneirista foi o arquiteto Filippo Trezi contratado pelos padres jesuítas para a elaboração da fachada da lgrela Jesuítica de São Roque (imagem 7), em Lisboa, por volta do ano de 1 580. 15 '4 Plateresco: estilo arquitetõnico exclusivo do Renascimento espanhol século XV ao final do século XVII. Muito popular do início do Mn R -n HdHH ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( r 23 Imagem 7 - Igreja São Roque, em Lisboa Fonte: Google No século XVll, Portugal entrou em guerra contra a Holanda e a Espanha, impossibilitando o patrocínio da vinda da nova geração de arquitetos italianos que trariam o estilo Barroco romano. No século XVlll, quando a economia portuguesa se recuperou com os benefícios do ouro extraído no Brasil e dos tratados com a Inglaterra, a influência artística italiana voltou para o país e a partir da segunda década do século XVlll o Barroco tardio italiano chegou a Portugal. 15 Quando o Barroco Italiano estava sendo introduzido no Brasil, a Companhia de Jesus foi expulsa pelo Marquês de Pombal dos domínios do Rei D. José 1, em 1759. Desta forma, a arquitetura jesuítica no Brasil absorveu em sua maior parte a ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( 24 arquitetura do estilo maneirista, e com menor frequência a arquitetura do estilo Barroco. '' A Chiesa del Gesú (imagem 8), Igreja de Jesus em português, foi a principal influência da arquitetura Jesuítica em todo mundo. Datada do ano de 1562, está localizada em Romã, foi projetada pelo arquiteto Giacomo Vignola para ser a igreja matriz dos Jesuítas. Além das edificações jesuíticas em todo mundo, sua arquitetura e principalmente a fachada se tornou modelo para toda produção Barroca. A Planta tem um caráter longitudinal, não possui capelas laterais nem torres, o transepto é contraído e o corpo da cruz é formado por duas arcadas. 15 Imagem 8 - Igreja de Jesus, em Romã - ltália Fonte: Google '5 PATETA-A, Luciano. A arquítetura da Companhia de Jesus entre maneirismo e barroco em: 111tp://lerá etras:yp:pt/uploads/ficheiros/7549.odf . Acesso em 1 5 de junho de 201 5. Disponível ( ( ( ( ( ( ( ( ( Ç ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( 25 A Igreja de São Vigente de Fora (imagem 9), do ano de 1582, em Lisboa, projetada pelo arquiteto Filippo Treze, foi a primeira fachada maneirista de duas torres bemsucedida. Teve grande influência na concepção da Catedral de Salzburgo, projetada por Scamozzi em 1614, que por sua vez, influenciou a construção de várias igrejas por toda Europa. Portugal não tinha estruturas antecedentes de grande influência para a fachada de duas torres no início do século XVI tornando o prometo de Trezi mais relevante. A partir da construção da Igreja de São Vicente (imagem 9) em Lisboa, não foi construída nenhuma igreja de importância em Portugal sem as duas torres na fachada. '' Imagem 9 Igreja São Vicente de Fora, em Lisboa-Portugal Fonte: Google Mapa, alterada porThaíssa Krauss lõ BURY, John. A arquitetura e arte no Brasil colonial. Brasília: IPHAN/Monumenta, 2006 \ ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( 26 Os padres jesuítas portugueses estavam divididos entre influências opostas. Como membros da Companhia de Jesus, tinham a Igreja de Jesus em Romã, sem nenhuma torre, que era a sede da Companhia emergindo como modelo para a obra dos padres em todo mundos e a Igreja de São Vicente de Fora em Lisboa, com as duas torres. que teve muita influência em Portugal nos anos seguintes à sua Construção. Tendo prevalecido a primeira influência, a segunda foi relegada. Assim, as igrejas jesuíticas no mundo lusitano17 podem ser classificadas entre ambas citadas acima.'' As Igrejas Jesuíticas brasileiras não podem ser consideradas puramente barrocas, diferente do trabalho dos Jesuítas da América espanhola. No Brasil, os padres interpretaram e expressaram de maneira única o estilo barroco com uma adesão conservadora e maciça dos elementos maneiristas.'' Os padres Jesuítas adotaram a arquitetura maneirista como seu estilo próprio. reproduzindo-a em diversos lugares quando esse estilo ainda era muito recente em Portugal. Aqui, os territórios recém-descobertos ofereciam uma atmosfera muito parecida com a do século XVI, sendo compreensível que a arquitetura da província dos jesuítas tenha preservado simbolicamente os aspectos originais da arquitetura da primeira fase do estilo jesuítico.'' 17 Mundo Lusitano: Se refere à cultura e tradição portuguesa. '' BURY, John. A arquitetura e arte no Brasil colonial. Brasília: IPHAN/Monumenta,. 2006 19 PATE'n-A, Luciano. A arquitetura da Companhia de Jesus entre maneirismo e barroco. Disponível em: htto://ler.letras.uo.ot/UDloads/ficheiros/7549.pdf . Acesso em 15 de junho de 201 5. ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( r ( 27 2.1 A arquitetura Jesuítica no Brasil A arquitetura Jesuítica é classificada em três períodos. Primeiro período: século XVI. caracterizado por uma tipologia e ornamentação muito simples, austeros e funcionais. Segundo período: século XVI e XVll, fundação de importantes sedes e a armação tipológica das grandes áreas colegiais. E o terceiro período, século XVlll, baseado no acabamento decorativo das edificações já existentes, neste quase não houve novas construções jesuíticas.:' Para os europeus falar de arquitetura Jesuítica remete, além das formas mais simples iniciais, ao auge do estilo Barroco, onde este era mais desenvolvido e dramático. Para os hispano-americanos, onde a Companhia permaneceu por todo século XVlll, arquitetura Jesuítica remete a todo o ciclo do barroco. Já no Brasíl, onde a atividade dos padres da Companhia de Jesus foi brutalmente interrompida em 1759, grande parte das obras dos Jesuítas remete à primeira fase. Aqui quando se fala em Arquitetura Jesuítica significa o que temos de mais antigo em termos de arquitetura, são as composições mais simples, regulares, ainda muito marcadas pelo renascimento . ' ' Quando se estuda arquitetura é importante saber primeiramente, além das imposições do meio físico e social, quais são as finalidades da edificação, quais as necessidades que a mesma precisa atender e qual a funcionalidade que ela possui. Em segundo lugar é preciso analisar o sistema construtivo e os materiais utilizados, ou seja, de que maneira a utilização dessa técnica atendeu às determinações daquele programa. Por fim, entender as particularidades plásticas do monumento.:' 20 PATETTA, Luciano. A arquitetura da Companhia de Jesus entre maneirismo e barroco. Disponível 5 de junho de 2015. serviço do património histórico e artístico nacional. 1941 . ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( 0 28 O Programa das construções Jesuíticas era relativamente simples podendo ser dividido em três partes, cada uma destas partes possuía uma determinada função: A igreja com coro e sacristia para as celebraçõesl as oficinas e as salas de aula para a catequização dos nativosl os quartos que serviam como a residência dos padres Jesuítas. Além dessas três, havia a enfermaria e dependências de serviço, e ainda na parte exterior havia horta e pomar.:: O objetivo da Companhia de Jesus era a catequização dos nativos, assim como a disseminação da religião católica entre os colonos, logo, a igreja tinha a necessidade de ser ampla, com a intenção de abrigar um número sempre crescente de fiéis e curiosos, preferencialmente localizada em frente a um espaço aberto, onde as pessoas pudessem se encontrar e caminhar. A construção das casas dispostas de forma ordenada ao redor da praça não havia sido idealizada pelos padres construtores. O programa Jesuítico brasileiro é mais modesto e menos independente do que o dos padres das missões da Província do Paraguai, onde o programa da aldeia compreendia também traçados urbanísticos.22 A descrição do colégio construído na Bahia pelo arquiteto Francisco Dias demonstra o programa simples da arquitetura Jesuítica: Tem de novo feito um claustro de pedra e cal e no quarto da parte Leste, fica a igreja e a sacristia; a igreja é razoável, bem acabada, com seu coro, é bastante por agora para a terra, e bem ornada de ricos omamentos [...] O outro quarto da parte Su] tem por cima a capela e a enfemtaría de boa gmndum, por baixo despensa e adega. O quarto da parte Poente tem 19 câmaras: nove por cima e por debaixo dez com as janelas grandes que fazem cruz nos corredores. O quarto da parte Nordeste tem sete câmaras por cima e seis por debaixo: todas são forradas de cedro, e amplas mais que as de :: COSTA, Lúcio. A arquitetura dos jesuítas no Brasll. Revista do serviço do património histórico e artístico nacional. 1941 ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( C C ( ( ( C C C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( C ( ( ( ( ( ( r 32 O partido adotado pelos Jesuítas para a planta baixa aqui no Brasil foi o de uma nave só, tendo apenas dois casos diferentes conhecidos. O primeiro caso aparece na Igreja de São Pedro d'Aldeia onde aparece de forma bem rudimentar o partido de três navesl os esteios centrais aliviam o peso da cobertura permitindo uma maior amplitude, sendo possível abrigar mais fiéis, o que era mais apropriado às igrejas missionárias. O segundo caso é na atual cidade de Anchieta (Imagem 12), antiga aldeia de Reritiba, possui duas ordens de arcadas (disposição que parece ser original) sustentando o madeiramento da cobertura e como consequência, divide o corpo da igreja em três partes.:/ Imagem 12 - Interior da Igreja Nossa Senhora da Assunção, em Anchieta mostrando as ordens arcadas citadas acima Fonte: Google 27 COSTA, Lúcio. A arquítetura dos jesuítas no Brasil. Revista do serviço do património histórico e artístico nacional. 1941 . 33 O partido geral de uma nave só em território brasileiro possui quatro tipologias diferentes: A primeira tipologia é a mais simples, onde estão enquadradas as capelas mais rudimentares dos primeiros tempos e no qual a capela-mor e a nave constituem um mesmo corpo de construção dividido em duas partes por um arco cruzeiro. Apesar de muito rara hoje em dia, podemos encontrar essa tipologia na capela de Santo Antõnio, do segundo século da colonização, que, apesar de ser uma capela particular,não deixa de ser uma capela de inspiração jesuítica. 2a A segunda tipologia tinha um partido claro e de composição espontânea, foi muito desenvolvida tardiamente em Minas Gerais. Embora fossem relativamente recentes. obedeciam a um programa mais modesto de construção. De largura e pé-direito menores, a capela-mor e a nave aparecem nitidamente separadas.28 A terceira tipologia abrange as igrejas que possuíam um partido complexo com uma forma mais singela. As igrejas dessa tipologia eram maiores, do século XVII. Aqui ainda mantém-se os três altares usuais do modelo anterior, com a particularidade de também serem criadas pequenas capelas laterais de maior e menor profundidade. Os padres adotaram no partido a disposição de duas capelas no sentido transversal, voltando a velha tipologia de cruz latina. A igreja de Olinda, igreja de Vinhais situada no Maranhão e a igreja do Socorro em Sergipe, são exemplos de construções dessa tipologia.:' :' COSTA, Lúcio. A arquitetura dos jesuítas no Brasil. Revista do serviço do património histórico e artístico nacional. 1941. 34 A quarta tipologia tinha muita influência da igreja jesuítica Gesü de Romã. No lugar dos três altares, como ocorria geralmente na tipologia anterior, aparece diversos altares dispostos em capelas laterais, sendo que as duas mais próximas da capela- mor eram quase sempre mais largas, mais altas e mais profundas que as demais tendo o mesmo objetivo de marcar em planta baixa o cruzeiro. Pertenceram a esta categoria as igrejas de São Paulo em Piratininga, a igreja do Belém do Para, além da igreja do Colégio do Salvador que funcionava como a matriz brasileira da Companhia de Jesus.28 O considerável legado de obras do período jesuítico pode não ser o maior nem o mais rico no contexto do legado brasileiro, mas é o legado mais antigo e um dos mais significativos da história do Brasil. ( 35 3. A Igreja e a Residência de Reis Magos 3.1 . Histórico da Construção A Igreja e residência de Reis Magos é um dos principais legados deixados pelos Jesuítas por ser um exemplar muito raro e sem grandes alterações da arquitetura original. Apesar das suas peculiaridades, é classificada uma obra da primeira fase da arquitetura Jesuítica.29 Além do Esplendor e admiração que Reis Magos causa, por sua história e sua harmonia com a natureza, Reis Magos representa um período muito austero da nossa história. Reis Magos representa a opressão e dominação que existia aqui no Brasil na época da colonização. 30 A Igreja e Residência de Reis Magos foi tombada património histórico do Espírito Santo em 21 de setembro de 1943 no livro de Belas Artes e no Livro Histórico, na mesma data. A partir de 13 de agosto de 1985 o tombamento inclui todo o seu acervo de acordo com a resolução do Conselho Consultivo da SPHAN -- Secretaria de Património Histórico e Artístico Nacional, de acordo com o processo administrativo no 1 3/85/SPHAN.31 A Igreja de Reis Magos é o único monumento importante remanescente da região de Nova Almeida e também é muito importante por constituir um dos principais exemplos do património histórico e arquitetõnico dos padres Jesuítas no Brasil. A :' LOPES, A.S. Para Durar Enquanto o Mundo Durasse. 2014. Entrevista concedida a Ricardo de Sá Bela professora doutora de história da aNe. Vitória. 201 3. Gravada em português. ' ABREU, C. Para Durar Enquanto o Mundo Durasse. 2014. Entrevista concedida a Ricardo de Sá Eleva ex-superintendente do IPHAN-ES, Vitória, 2013. Gravada em português. '' IPHAN. Documento de Tombamento da Igreja e Residência de Reis Magos. Disponível em: If&Cod=1205. Acesso em: OI de setembro de 2015. 36 edificação sofreu pouquíssimas interferências durante os séculos seguidos de sua construção. " A aldeia de Reis Magos, atualmente Nova Almeida, no município da Serra, teve um papel muito importante na história dos Jesuítas. A Aldeia foi criada em um momento de intensa ação missionária dos Jesuítas no Brasil e era o centro regional dos padres jesuítas ao norte da vila da Vitória. Os padres jesuítas queriam ser especialistas no território da missão. A missão para eles era formar padres especialistas nas entradas para o interior. ";;; Os padres jesuítas já estavam aqui na província do Espírito Santo a algum tempo. Por esse motivo, já era grande o número de sacerdotes formados que entendiam e falavam a língua tupi. A partir das variações de tupi que os padres jesuítas haviam encontrado pelo litoral, eles criaram uma nova língua, chamada de língua geral. A língua geral consistia em uma variação resumida do tupi, onde era possível que todos os povos tupis entendessem. A língua geral, falada na província do Espírito Santo também podia ser entendida pelos povos guaranis do norte do Brasil e por alguns colonos portugueses. Por esse motivo, a maior parte dos padres jesuítas que vieram para o Brasil para catequisar os índios passou por Reis Magos para aprender a língua geral (tupi). 32;34;35 A aldeia de Reis Magos funcionava permanentemente como formação dos futuros padres missionários, pois dentro da formação dos padres, havia um momento em que eles precisavam aprender a língua local. Foi tentado sem sucesso que os 32 CARVALHO, José Antõnio. O Colégio e as residências dos Jesuitas no Espírito Santo. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura.1982. Pags. 1 13-123. B CUNHA, M.J.S. Para Durar Enquanto o Mundo Durasse. 2014. Entrevista concedida a Ricardo de Sá pela historiadora, Vitória, 2013. Gravada em português 34 PEROTA, C. A.S. Para Durar Enquanto o Mundo Durasse. 2014. Entrevista concedida a Ricardo de Sá pelo arqueólogo, Vitória.2013. Gravada em português 3 SALETTO, N. Para Durar Enquanto o Mundo Durasse. 2014. Entrevista concedida a Ricardo de Sá pela historiadora, Vitória, 201 3. Gravada em português. 37 futuros sacerdotes aprendessem o tupi nas aldeias durante a catequização dos índios, então, a melhor maneira de aprender a língua tupi era durante a formação sacerdotal dos missionários. ;' Após a expulsão dos padres jesuítas, em 1959, o conjunto arquitetõnico passou a pertencer ao governo e teve vários usos. Além de igreja e habitação dos padres, o edifício foi utilizado como Câmara e Cadeira e como aposentadoria do juiz.37 A data em que o edifício voltou a ser utilizado é incerta. A igreja e a residência, a segunda para habitação do vigário, parecem ter sido utilizadas imediatamente. Em janeiro de 1760 o reverendo Pedro da Costa Ribeiro, visitador geral, autorizou que o vigário padre José Correia de Azevedo fizesse um pedido de reparo para a igreja. A utilização da residência como Câmara e Cadeia e como aposentadoria do juiz também é difícil precisar, estima-se que em 1786 já era utilizada. 36 A província do Espírito Santo era muito pobre e não tinha recursos financeiros para manter e nem para recuperar o edifício. Todas as edificações que dependiam do governo da província para serem mantidos ou conservados apresentavam um aspecto de total abandono. Além disso, Nova Almeida era uma região muito pequena e pobres não possuía preocupações em manter ou utilizar o edifício exceto para o necessário. Assim, os "quartos" leste e norte, que não estavam sendo utilizados, logo desabaram e em 1 808 o conjunto já se encontrava em ruínas. 38 36 CUNHA, M.J.S. Para Durar Enquanto o Mundo Durasse. 2014. Entrevista concedida a Ricardo de $á pela historiadora, Vitória, 201 3. Gravada em português. 37 (CARVALHO, José Antõnio. O Colégio e as residências dos Jesuítas no Espírito Santo. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura.1982. País. 1 13-123 38 CARVALHO. José Antõnio. O Colégio e as residências dos Jesuítas no Espírito Santo. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura.1982. Pags. 1 13-123 ( ( ( ( ( C ( ( 38 Em 1813 o ouvidor havia mandado fazer alguns consertos na Casa da Câmara, porém em 1818 o edifício ainda se encontrava em ruínas. Entre 1820 e 1821 foram feitos novos consertos no mesmo local. 39 Cada vez mais a vila de Nova Almeida decaía de pobreza e a província ainda não tinha recursos para mantero edifício que além da degradação natural do tempo e das intempéries da natureza, sofria com a revolta de alguns prisioneiros mantidos na parte do edifício destinado à cadeia.39 Em 1840 houve um incêndio, provocado por um dos presos, na ala da cadeia. Em setembro de 1 843 não havia mais sacerdotes no edifício e a igreja ameaçava ruína. Em 1846 a cadeia necessitava de novos reparos. Em 1848 a igreja se encontrava em ruínas e o estado da parte da residência que não era utilizada era tão crítica que nem era cogitado pedir seu reparo, só os cómodos utilizados seriam reparados. 39 Em maio de 1850 foi executado o conserto do telhado da igreja, substituindo toda a madeira velha e consertando a calha entre a torre sineira e a igreja. Não havia sobrado dinheiro para reparar o corredor que dava acesso ao púlpito, torre e coro que se encontrava em ruínas. Em novembro do mesmo ano o corredor desabou. 39 Em 1 857 a igreja havia sofrido uma violação onde "mão sacrílegas" destruíram parte do retábulo à procura de tesouros deixados pelos padres jesuítas. Neste mesmo ano o reparo na Cada da Câmara foi concluído. 39 39 CARVALHO, José Antõnio. O Colégio e as nsidências dos Jesuítas no Espírito Santo Janeiro: Expressão e Cultura.1982. Pags. 113-123 Rio de 39 No ano de 1859 foi relatado ao presidente da província alguns consertos que foram executados pelo vigário Manuel Antõnio dos Santos Ribeiro: '... Tratei do assoalho da Capella mor, e do que faltava no corpo da lgnja e torre; nparei o telhado, barrotamento e assoalho do corredor da Sacristia; mandei fazer as escadas necessárias; feixar o lugar que pela portaria dá entrada pala os claustros da Igreja, a fim de evitar a continuação dos actos indecentes e immoraes que nelles se praticavãol e estou tratando do aparo de parte do forro da capella mor, afim de poder mandar tomar as goteiras que no telhado tem aberto, caso pam isto chegue a restante quantia que ainda existe em meu poder e então pastar as competentes contas.. ." 40 As escadas relatadas acima pelo vigário substituíam o corredor desabado no ano de 1 851 , que ainda se encontrava caído, e davam acesso ao púlpito e ao coro.40 Com o passar do tempo, o edifício construído pelos padres jesuítas ia se deteriorando cada vez mais. Os responsáveis pelo governo da província nâo possuíam interesse em conservar o edifício, mas passaram a se interessar pelas imagens e adornos da Igreja de Reis Magos. A igreja sofreu alguns furtos e alguns casos de apropriação indevida por membros do governo da província dos utensílios foram relatados ao longo dos anos.40 O conjunto arquitetõnico ameaçou ruína várias vezes mais e foi reparada outras vezes mais, sem muito empenho do governo em mante-la em estado vigoroso. Até que em julho de 1907 o sr. bispo diocesano Dom Fernando de Sousa Monteiro exigiu que o governo da província Ihe entregasse o edifício com a igreja reformada e 40 em perfeitas condições, além de todos os terrenos e bens do edifício, pois pretendia transformar o mesmo em um Colégio sob a direção dos padres salesianos.40 A fundação do colégio na Igreja de Reis Magos nunca foi executada. A Igreja era anexa a uma das paróquias vizinhas sendo dirigida pelo Reverendo Vigário da Serra e foi deixada de lado. A ruína quase total do monumento era inevitável. A recuperação total do edifício aconteceu em 1 944 quando a Secretaria do Património Histórico e Artístico Nacional restaurou todo o conjunto.40 Na época do tombamento, a residência de Reis Magos se situava em estado de ruínas. Nos anos de 1944 e 1945 o monumento passou por uma grande obra de restauração onde foi possível recuperar toda edificação. A partir desta reforma, foram executados vários pequenos reparos. Nos anos de 1987 e 1988 foi realizada uma nova obra de restauro. Atualmente a última grande obra de restauro foi feita no ano de 2001 , tendo sido concluída em 2003.41 w CARVALHO, José Antõnio. O Colégio e as residências dos Jesuítas no Espírito Santo. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura.1982. Pags. 1 13-123 '' IPHAN. Documento de Tombamento da Igreja e Residência de Reis Magos. Disponível ern: e1205. Acesso em: 01 de setembro de 2015. ( ( ( ( ( ( C ( ( ( ( ( ( ( C ( C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( C ( ( ( ( ( ( ( ( ( 41 3.2. Reis Magos Hoje No restauro de 2001-2003 foi necessário fazer uma estudo arqueológico em Reis Magos para suprir a falta de informações que não foram encontradas em fontes tradicionais de pesquisa, como livros, documentos e registros históricos.42 Com as escavações foi descoberta uma estrutura na parte externa da Igreja. Acredita-se que essa estrutura tenha sido utilizada como igreja provisória enquanto a Igreja e Residência de Reis Magos estava sendo construída. Essa estrutura está aparente para a contemplação da população e também para gerar conhecimento sobre sua existência. Em uma sala também foram expostas as pedras e reboco das paredes para as pessoas terem conhecimento de como eram executadas as técnicas construtivas, e quais materiais foram utilizados na construção do edifício.43 Dentro do monumento há uma exposição de ll moedas, uma coleção de louças portuguesas datadas do século XVI e porcelanas feitas pela própria população neo- brasileira que vivia aos redores de Reis Magos. Todos esses materiais também foram encontrados nas escavações arqueológicas.« As escavações arqueológicas de 2001 tiveram um papel muito importante na descoberta arquitetõnica e histórica de Reis Magos, assim como contribuiu com o conhecimento de novas técnicas construtivas e culturais que eram utilizadas pelos padres jesuítas.'; '* MACHADO, C.L. Para Durar Enquanto o Mundo Durasse. 2014. Entrevista concedida a Ricardo de $á pela arqueóloga, Vitória, 201 3. Gravada em português © ABREU, C. Para Durar Enquanto o Mundo Durasse. 2014. Entrevista concedida a Ricardo de Sá E)ela ex-superintendente do IPHAN-ES, Vitória, 201 3. Gravada em português ' PEROTA, C. A.S. Para Durar Enquanto o Mundo Durasse. 2014. Entrevista concedida a Ricardo de Sá pelo arqueólogo, Vitória,2013. Gravada em português ( 42 A pintura de reis magos foi restaurada na obra de restauração da década de 40, pelo renomado professor Edson Mota. A pintura possui altíssima qualidade. Foi feita sobre madeira e por causa do descuido. quando foi retirada para a restauração estava infestada de cupins. A intenção da restauração da pintura era chegar mais próximo possível da intenção do artista original, sem que deixasse de mostrar a passagem do tempo." Atualmente, Reis Magos pertence à ordem dos padres Capuchinhos, da família dos padres franciscanos. Os usuários da Igreja mudam constantemente o seu layout, conforme sua necessidade. Funciona como Monumento histórico e é aberto para visitação de terça a domingo de 9:00h às 17:00h e também funciona como santuário onde é possível serem realizados casamentos, batizados e missas. Imagem 13 Igreja e Residência de Reis Magos atualmente l l+ 11l B ,;& Fonte: Arquivo Pessoal n COLNAGO, A. Para Durar Enquanto o Mundo Durasse. 2014. Entrevista concedida a Ricardo de Sá pelo professor restaurador, Vitória,201 3. Gravada em português. ( ( ( ( ( ( ( ( ( C C ( ( ( ( C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( 43 3.3. Tipologia Arquitetõnica de Reis Magos Quando resolveram se mudar da Aldeia Velha para Reis Magos, os Jesuítas puderam escolher o que julgavam a melhor localização para a construção da Igreja e Residência. A residência está localizada a mais de 40 metros do nível do mar (imagem 14), na mais alta elevação da região que também possui a melhor posição estratégica: fácil acesso para o interior pelo rio para capturar novos índios e para vigiar a costa do alto do monte. A parte norte do edifício, que corresponde à parte dos fundos, está localizada junto a um barranco que se situa à margem sul da foz do rio Reis Magosl sua fachada principal está voltada para uma grande praça em formade quadrilátero de aproximadamente 46,20 metros x 85,80 metros na parte sul do edifício. A torre e as janelas do cómodo da residência tem uma vista privilegiada e dominante da foz do rio Reis Magos.46 Imagem 14 - Igreja e Residência Reis Magos, localizada a mais de 40m acima do mar Fonte: Google Imagens " CARVALHO, José Antõnio. O Colégio e as residências dos Jesuítas no Espírito Santo Janeiro: Expressão e Cultura.1982. Pags. 1 13-123 Rio de ( ( ( ( ( ( ( ( C ( ( ( C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( Í 44 O conjunto arquitetõnico é composto da igrqa, da residência anexa e também possui uma praça. Reis Magos, assim como outros exemplares de igrejas jesuíticas no estado do Espírito Santo, são classificados da primeira fase do estilo jesuítico, portanto são maneiristas. As construções da primeira fase do estilo jesuítico no Brasil se caracterizam pela planta em formato quadrangular e normalmente possuem uma torre sineira. Reis Magos demonstra uma grande evolução pela localização da sua torre sineira, que está localizada entre a igreja e a residência, fato que a torna exceção, assim como o óculo polilobado, que também é muito incomum nas Igrejas da primeira fase do estilo jesuítico.4r Imagem 1 5 -- Foto aérea da Igreja e Residência de Reis Magos, em Nova almeida mostrando o conjunto arquitetõnico e implantação do monumento Fonte: www.serra.es.gov.br 4r LOPES, A.S. Para Durar Enquanto o Mundo Durasse. 2014. Entrevista concedida a Ricardo de Sá pela professora doutora de história da arte. Vitória. 201 3. Gravada em português. ( ( ( ( ( C ( ( ( ( ( ( ( C ( C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( C ( ( ( \ ( C ( ( ( ( ( ( C ( ( 45 A arquitetura de Reis Magos é bem singela, quase rudimentar. A cobertura é feita em telha-van. Além da capela mora que guarda o retábulo esculpido pelos índios em madeira, a peça mais importante da igrejas poucos cómodos possuem forro em madeira. " A Igreja A fachada principal da igreja possui um frontão triangular simples, característica típica do estilo maneirista, com cornijas e volutas, um óculo polilobado (imagem 17) central em rosácea, três janelas, um púlpito e a portada principal cujos quadros são em mármore de noz. No prolongamento da fachada principal está situada a entrada principal para a residência.48; 49 O mármore de noz encontrado nas portadas da igreja e também na pia batismal (imagem 20) atribuem nobreza à arquitetura tão singela do Conjunto de Reis Magos." A Igreja dispõe de uma nave, capela mor e a torre sineira coberta por uma abóboda e tijolos. A porta principal possui ombreira de pedra trabalhada na parte superior. As janelas são almofadadas e os vãos das janelas contêm ombreiras retangulares. A torre sineira situa-se entre a igreja e a residência sendo coberta por uma cúpula e contém quatro pináculos. Na parte interna, o altar-mor apresenta um retábulo (imagem 19) com quatro colunas em estilo salomõnico contornando uma pintura de Reis Magos, possivelmente a primeira pintura feita no Brasil, ao centro e um nicho para imagens nos cantos esquerdo e direito. O conjunto de imagens sacras possui: " ABREU, C. Para Durar Enquanto o Mundo Durasse. 2014. Entrevista concedida a Ricardo de Sá Eleva ex-superintendente do IPHAN-ES, Vitória, 2013. Gravada em português. ' IPHAN. Documento de Tombamento da Igreja e Residência de Reis Magos. Disponível em: 2Q5, Acesso em: OI de setembro de 2015 t ( ( ( ( ( ( ( ( ( C ( ( ( ( ( C ( ( ( ( ( ( ( ( ( C C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( C C ( ( r 46 uma imagem de Nossa Senhora da Conceiçãol uma imagem de Nossa Senhora da Boa Mortes uma imagem de Santo Ináciol e um Cristo crucificado.48; 49 O retábulo apresenta um desenho maneirista, muito primitivo, típico dos retábulos das igrejas da primeira fase do estilo jesuítico. Possui um desenho muito culto, no entanto, o entalhamento foi executado de forma rudimentar. O retábulo (imagem 19) também contém um simbolismo muito incomum no Brasil, como o desenho das cobras coroadas. Esse simbolismo indica a participação da mão-de-obra indígena. possivelmente proveniente de um acordo imposto aos índios pelos padres jesuítas.se Imagem 16 Fachada principal da Igreja e Residência Reis Magos com praça Fonte: www.serra.es.gov.br 50 LOPES. A.S. Para Durar Enquanto o Mundo Durasse. 2014. Entrevista concedida a Ricardo de Sá pela professora doutora de história da arte, Vitória, 201 3. Gravada em português 47 Imagem 17 Foto do óculo Polilobado citado acima Fonte: www.serra.es:qov.br Imagem 1 8 - Foto do Claustro da Igreja e Residência de Reis Magos Fonte: wvwv.serra.es.gov.br ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( 48 Imagem 1 9 - Retábulo esculpido em madeira com pintura de Reis Magos ao centro ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( Fonte: Arquivo pessoal Imagem 20 Peças com mármore de Lioz: pia de água benta e pia batismal Fonte: Arquivo Pessoal ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( 49 Imagem 21 - Croqui da Planta Baixa da edificação mostrando onde é a Igreja: pav térreo e pav. superior Fonte: Feito por Thaíssa Krauss ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (. ( ( ( ( ( ( ( ( ( r A Residência A residência apresenta fachada simples com janelas retangulares. As portas possuem ombreiras em pedra. Na parte superior da porta principal há uma representação de uma coroa envolvida por dois ramos de planta. No interior da residência encontramos o claustro com pilastras em alvenaria e vigamento em madeira.'' A residência possui dois pavimentos No pavimento térreo localiza-se a sacristia que se destaca dos demais cómodos pela nobreza da mesma. O acabamento da sacristia possui forro em saia e camisa e 5' LOPES, A.S. Para Durar Enquanto o Mundo Durasse. 2014. Entrevista concedida a Ricardo de Sá pela professora doutora de história da arte. Vitória, 201 3. Gravada em português. ( ( ( ( ( ( ( (' ( ( ( C ( ( ( ( ( a porta almofadada dando acesso pelo corredor de chão batido que cerca o pátio interno. Na sacristia está localizada a pía batismal em mármore de noz.s2 No pavimento superior encontram-se as celas que funcionavam como quartos para os padres jesuítas e uma varanda cujo piso é totalmente composto por tabuado sobre barrotes de madeira. A edificação também possui salas que eram utilizadas como oficinas para os padres jesuítas ensinarem aos índios técnicas de trabalho como, por exemplo, carpintaria, técnicas de tecelagem, entre outras. 52; 53; H Imagem 22: Croqui da Planta Baixa da edificação mostrando onde é a Residência pav. térreo e pav. superior 'T 'T r 't ( ( ( ( ( ( ( ( Fonte: Feito por Thaíssa Krauss ( (' ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( r 52 CUNHA, M.J.$. Para Durar Enquanto o Mundo Durasse. 2014. Entrevista concedida a Ricardo de Sá pela historiadora, Vitória, 201 3. Gravada em português. s3 IPHAN. Documento de Tombamento da Igreja e Residência de Reis Magos. Disponível em: http://portal.iphan:gQV.br/ans.net/tema consulta.asp?Linha=tc hist,aif&Cod=1205. Acesso em: 01 de setembro de 2015. 54 ABREU. C. Para Durar Enquanto o Mundo Durasse. 2014. Entrevista concedida a Ricardo de Sá pela ex-superintendente do IPHAN-ES, Vitória, 201 3. Gravada em português l 51 k t k q k k C L t t .Q t Q L Q k k k C C Q C é L 'L C L C ( L C L L C L C L L ( C L ( Q 3.4 Técnicas construtivas e materiais utilizados Os Padres jesuítas eram construtores muito distintos. No início da colonização, não havia muitos materiais disponíveis. Por isso, as construções jesuíticas eram erguidas utilizando materiais da natureza natural, como pedras, encontrados na proximidade dos edifícios. No caso de reis magos, as pedras poderiam ser encontradas nos corais próximos à construção. A alvenaria e também a fundação de Reis Magos são feitas em pedra (imagem 23). As pedras possuíam tamanhos irregulares onde as pedras de menor tamanho sustentavamas pedras de maior tamanho. Por fim, as pedras recebiam uma camada de argamassa. Essa argamassa era feita de barro e era misturado com conchas, óleo de baleia e todos os aglutinantes que pudessem incrementar essa argamassa. Após estar executada a alvenaria de pedra, as paredes eram rebocadas e revestidas com tinta a base de cal, por esse motivo a maioria das construções possuem essa coloração branca. As construções dessa época, principalmente quando se trata de Arquitetura Sacra, eram construídas para durarem muito tempo, e duraram.ss Imagem 23 - Alvenaria deixada exposta para contemplação do público na restauração de 2001 -2003 Fonte: Arquivo Pessoal " ABREU. C. Para Durar Enquanto o Mundo Durasse. 2014. Entrevista concedida a Ricardo de Sá pela ex-superintendente do IPHAN-ES, Vitória, 201 3. Gravada em português. 56 No ano de 1 972, na ltália, foi criada a Carta do Restauro defendendo que devem ser adotadas medidas preventivas com o intuito de evitar intervenções maiores no futuro, respeitando os elementos que foram adicionados ao longo dos anos e evitar intervenções de renovação. A diferença desta carta para as outras cartas já citadas é que esta carta permite a alteração no uso dos monumentos, desde que estas sejam compatíveis com o interesse histórico e artístico do monumento. Caso ocorra a alteração de uso, as alterações na obra devem conservar a sua forma externa e não deve haver alteração na sua tipologia, nos espaços internos e na sua estrutura." Em 1980, na Austrália, foi criada a carta de Burra. Esta carta reafirma os valores defendidos na Carta de Atenas e na Carta de Veneza, defendendo que os procedimentos de restauração devem respeitar ao máximo o material existente não deve alterar as peculiaridades contidas no monumento. 6s M Carta do Restauro, 1972. IPHAN. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Carta%20do%20Restauro%201 972.pdf. acesso em: 10 de outubro de 2015 M Carta de Burra, 1980. IPHAN. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckülnder/arquivos/Carta%20de%20Burra%201 980.pdf, acesso em 1 0 de outubro de 201 5 ( ( ( ( ( ( ( C C ( ( ( ( ( C C ( C C ( ( ( C ( C ( ( ( C C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( C ( ( ( ( r 57 5. Análise da Restauração de Reis Magos de 1 944 Como foi citado anteriormente, o conjunto de Reis Magos até 1907 passou por inúmeros reparos e ameaçou ruína várias vezes. O governo não tinha muito interesse em manter o conjunto em estado vigoroso. Após 1907 a Igreja passou a fazer parte de uma das paróquias vizinhas, sendo dirigida pelo Reverendo Vigário da Serra e foi deixada de lado, sendo inevitável a sua ruIRá.66 No ano de 1 940, todas as alas do conjunto arquitetõnico estavam em mau estado de conservação, prestes a desabar. A parte Igreja era a menos prejudicada, mas os vigamentos e telhado, por serem muito antigos, estavam em péssimo estado de conservação. A residência encontrava-se sem a água do telhado da varanda localizada no lado oeste (imagem 24), ao lado da nave da igreja. 67 Imagem 24 - Ala Oeste com vista para a Sacristia - sem telhado - antes da Obra de Restauração do Telhado em 1 944 Fonte: Arquivo do IPHAN-ES m CARVALHO. José Antõnio. O Colégio e as residências dos Jesuítas no Espírito Santo. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura.1 982. Pags. 1 1 3-123 '' Identificação e Interpretação das fotos da década de 1 940. Arquivo IPHAN-ES 58 Em 1943, a cobertura da nave da igreja encontrava-se em más condições, com os caibros arruinados. Alguns caibros estavam presos com telha vã. A fachada lateral direita estava muito arruinada. as janelas estavam sem esquadrias e a parte que encontrava com a fachada posterior havia ruído. Ainda na fachada lateral só havia esquadrias nas janelas da sacristia (imagens 24 e 25).6n Na mesma época o claustro (atualmente salas 7 e 8), no pavimento superior, estava em ruínas, restando apenas algumas vigas. Grande número de degraus das escadas do monumento havia perdido o tablado. Todas as escadas estavam em ruínas e necessitavam ser restauradas (imagem 26).6a Imagem 25 - Fachada Posterior - antes da Obra de Restauração em 1 944 r Fonte: Arquivo do IPHAN-ES " Identificação e Interpretação das fotos da década de 1 940. Arquivo IPHAN-ES ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( 60 A cela (atualmente sala de exposição) possuía o piso e o telhado em telha vã em mau estado. O piso e o forro do cómodo 22 (atual sala 12) estava em más condições." Ainda em 1943, o madeiramento dos cómodos 9, 10 (atualmente salas 9 e 10), 21 e 22 (anualmente 12 e 1 1) estavam em más condições e o madeiramento dos demais cómodos havia ruído completamente, não existindo mais. A cobertura da Igreja e da frente do colégio precisava ser renovada e a cobertura dos cómodos restantes estava em mau estado." No ano de 1943 só existiam as esquadrias da nave, capela-mor, sacristia, cómodo 22 (atualmente sala 12) e do coro da igreja. As portas e janelas da igreja, sacristia, capela-mor e coro eram almofadadasl os demais cómodos possuíam esquadrias de calha. O retábulo é original, mas foi alterado. Em 2001 , foi verificado no local que o retábulo aparenta ter sido muito maior do que é atualmente.69 Com base nas pesquisas em documentos e fotos históricas em arquivos do IPHAN foi feito o seguinte mapeamento das áreas afetadas: 60 Identitlcação e Interpretação das fotos da década de 1 940. Arquivo IPHAN-ES 61 Imagem 28: Croqui com Mapeamento das Áreas Afetadas em 1 943 ( ( ( ( Fonte: Feito por Thaíssa Krauss + + SEM PISO E SEM COBERTURA SEM COBERTURA COBERTURA EM MAU ESTADO PISO E COBERTURA EM MEU ESTADO ntJiuASIJI SEM ESQUADRIAS + + 61 Imagem 28: Croqui com Mapeamento das Áreas Afetadas em 1 943 Fonte: Feito por Thaíssa Krauss + + + + RUINAS SEM PISO E SEM COBERTURA SEM COBERTURA COBERTURA EM MAU ESTADO PISO E COBERTURA EM MEU ESTADO SEM ESQUADRIAS e ( ( 4 L '( ( ( X k 4 Í ( r ( 62 Em 1944, a residência de Reis Magos foi tombada pelo IPHAN património histórico do Espírito Santo no livro de Belas Artes e no livro Histórico. Na época do tombamento, a residência encontrava-se em estado de ruínas e foi totalmente recuperada pelo IPHAN. 70 O Restauro de 1944 foi executado sob a direção de André Carloni, assim como aconteceu com outros edifícios. Carloni era desenhista e possuía muito prestígio no Estado do Espírito Santo, mas não possuía nenhuma formação técnica para executar a restauração de um edifício. Como o conjunto de Reis Magos estava em estado de ruínas, Carloni restaurou o edifício sem nenhuma pesquisa detalhada, da forma que melhor Ihe convinha, alterando algumas características do edifício. 71 L ( ( ( f c' ( C ( L ( ( ( ( ( c' C ( C C C f Z L ( C r No ano de 1 987, o professor Celso Perota, atribuiu a André Carloni e ao restauro de 1944 a inserção de muretas que separavam o pátio interno da circulação no pavimento térreo da edificação, pois, nas pesquisas arqueológicas vinculadas à obra de restauração em 1 987, foram descobertos adornos na base das colunas do pátio que estavam escondidas por parte dessas muretas. '' Sobre as muretas do pavimento térreo, atribuídas á André Carloni no restauro de 1944, podemos citar a Carta de Atenas, assim como os teóricos Ruskin, Boato e Brandi, que recomendam que a inserção de novos materiais em restaurações de edifícios é válido desde que os novos elementos não alterem as características do edifício restaurado, ou de seus elementos originais, devendo ser inseridos somente nos casos em que fosse necessário a inserção dos elementos com o intuito de preservar os elementos, evitando a degradação. 70 CARVALHO, José Antõnio. O Colégio e as residências dos Jesuítas no Espírito Santo. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura.1982. Pagã. 1 13-123 n MOTA, F.T. A ação do IPHAN na Restauração de Reis Magos, em Nova Almeida, ES. Vitória, 2010( ( ( ( ( C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( Comparação de Fotos A seguir podemos observar algumas fotografias da época do tombamento do monumento e compara-las com fotografias atuais da edificação. Imagem 29 - Fachada Posterior: antes da Restauração de 1 944 e atualmente em 2015 ( ( ( ( ( Fonte: Arquivo IPHAN-ES e arquiva pessoal ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( 67 Imagem 30 - Fachada Lateral direita e Posterior: antes da restauração em 1 944 e atualmente em 201 5 Fonte: Arquivo IPHAN-ES e arquivo pessoal L ( ( 68 ( (d ( ( ( ( ( ( ( ( Imagem 31 - Fachada Lateral Direita - Ala Oeste: Antes da Obra de Restauração em 1 944 e Atualmente em 201 5 ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( Fonte: Arquivo IPHAN-ES e arquivo pessoal ( ( ( < ( ( ( ( C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( Imagem 32 - Fachada Lateral Direita - Ala Oeste - Antes da Obra de Restauração em 1 944 e Atualmente em 201 5 ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( l#Bl l Fonte: Arquivo IPHAN-ES e arquivo pessoal ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( Imagem 33 - Pátio Interno em 1 944 antes da Restauração e atualmente em 201 5 ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( Fonte: Arquivo IPHAN-ES e arquivo pessoal ( ( C ( Imagem 34 - Corredor ao redor do pátio em 1 944 antes da Restauração e atualmente em 201 5 7] ( ( Fonte: Arquivo IPHAN-ES e arquivo pessoal Imagem 35- Corredor ao redor do pátio em 1 944 antes da Restauração e atualmente em 201 5 Fonte: Arquivo IPHAN-ES e arquiva pessoal 72 Considerações Finais Os padres Jesuítas tiveram grande importância na formação social e cultural brasileira. Por serem grandes construtores, se superaram para construir edificações "para durar enquanto o mundo durasse" com materiais limitados devido ao fato do Brasil ser um lugar recentemente descoberto. A Igreja de Reis Magos é importantíssima para a nossa cultura já que se encontra com as características praticamente intactas, sendo referência para estudos sobre a época, pois sua arquitetura do Estilo Jesuítico está muito bem conservada. No restauro de 2001-2003 foram feitas várias descobertas que esclareceram muitas dúvidas sobre a vida naquela época. Na década de 1940, o conjunto foi tombado património histórico e passou pela primeira grande restauração. A restauração de 1944 teve o intuito de reconstruir a parte que havia ruído do conjunto de Reis Magos. da mesma forma que os padres jesuítas haviam feito, como estratégia de preservação cultural. Porém, a obra foi executada por profissionais que não possuíam qualidade técnica e que não tiveram o interesse nem a preocupação de preservar as características do monumento ou de seguir as recomendações da Carta de Atenas e dos teóricos citados neste trabalho. Essa intervenção planejada inadequadamente mascarou a verdadeira história da obra e falsificando a técnica que caracteriza a época em que o monumento foi construído. Na restauração de 1944, o IPHAN incentivou a produção de um passado forjado validando a reconstrução da ruína de Reis Magos como estratégia de preservação cultural, criando um edifício teatral e desprovido de conteúdo artístico e histórico. Não é possível voltar no tempo e reconstituir as condições de vida e de trabalho dos índios e dos padres jesuítas que aqui viveram. Não é possível reconstituir as condições que os fizeram construir o edifício com pedras de coral e argamassa de conchas e óleo de baleia. Não é possível reconstituir o contexto de transição durante ( ! ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( C ( ( ( C C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( 73 a catequização dos índios que os estimulou a entalhar símbolos de sua cultura original das peças em madeira do retábulo e portada. Não é possível reconstituir o conjunto de Reis Magos e o que ele representa para a nossa história. Hoje em dia Reis Magos só possui suas características originais praticamente intactas por causa da restauração de 2001 que teve como objetivo devolver ao edifício suas características mais antigas, chegando o mais próximo possível das características originais preservando suas peculiaridades em virtude da sua importância. Na época da restauração de 1944 existiam as teorias dos restauradores citados neste trabalho e a Carta de Atenas. Mesmo assim o restauro de 44 não foi embasado em nenhum desses documentos. As teorias defendidas por Ruskin, Boito, Giovannoni e Brandi são tão importantes que a partir da carta de Atenas, foram produzidos diversos documentos, como a Carta de Veneza de 1964, a carta de Restauro de 1972 e a carta de Burra de 1980, reafirmando-as. Essas teorias são acatadas até hoje embalando projetos de restauração por todo o mundo. Atualmente o IPHAN ainda valida e aprova obras com o mesmo caráter falsificador da Restauração de Reis Magos de 1944 incentivando a produção de passados temáticos, principalmente em casos de grande comoção populacional como o caso da Capela de N.S. das Mercês em São Paulo ou o caso da Igreja Matriz de São Luiz de Tolosa. Ambas construções haviam desmoronado e foram fiel e minunciosamente reconstruídas, sem demonstrar vestígios do desmoronamento. '' 27 BRENDELE, Mana de Betânia Uchõa Cavalcanti. Conflitos Projetuaís entre a Academia e o IPHAN em Laranjeiras, SE ( ( ( ( ( ( C ( C C C ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( Í 74 Algumas intervenções em ruínas servem de modelo para a preservação do património histórico sem a falsa ideia de preservação cultural da reconstrução do monumento. Essas intervenções destacam possibilidades projetuais de uma harmonização entre a preservação do património através do tratamento das patologias, da preservação de suas estruturas com o objetivo de preservar a sua história o seu significado e não adulterar a sua memória, como acontece hoje no Coliseu (imagem 36), em Romã-ltália, seguindo o modelo sugerido por Césare Branda em sua Teoria do Restauro. 7n Imagem 36 - Coliseu em Romã, ltália: simulação de como era originalmente e fotografia de como está atualmente Fonte: Google Quando é necessária a reposição de algum elemento que ruiu, a nova intervenção deve incorporar-se à ruína ou incorporar a ruína assumindo claramente sua Identidade contemporânea à construção, não camuflando nem copiando elementos arquitetõnicos antigos, preservando a veracidade e historicidade da edificação em questão harmonizando a convivência do passado e do presente e ainda agregando aos fragmentos arruinados o reconhecimento memorial de suas historia como r8 BRANDI, Cesare. Teoria da restauração. Cona: Ateliê, 2004 ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( podemos observar na intervenção feita por Norman Foster na cúpula do edifício Reichtag, o Parlamento Alemão (imagem 37). 79 Imagem 37 - A Cúpula do edifício Reichtag em Berlim, Alemanha: original no século XIX, que foi destruída durante a segunda guerra mundial e a atual cúpula projetada pelo arquiteto Norman Foster. ( ( ( ( ( ( ( ( Fonte: Google D BRANDI, Cesare. Teoria da restauração. Cona: Ateliê, 2004 ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( \ / REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ABREU, C. Para Durar Enquanto o Mundo Durasse. 2014. Entrevista concedida a Ricardo de Sá pela ex-superintendente do IPHAN-ES, Vitória, 201 3. Gravada em português. ALMEIDA, R.H. Para Durar Enquanto o Mundo Durasse. 2014. Entrevista cano Ricardo de Sá pela arquiteta e urbanista, Vitória, 201 3. Gravada em português BOITO, Camillol Os Restauradores. São Paulo. Ateliê Editorial, 2003. BRANDI, Cesare. Teoria da restauração. São Paulo. Ateliê, 2004 BRAZÃO, Eduardo. O Marquês de Pombal e os Jesuítas. Revista de História das Ideias Vo1. 4 - Tolmo 1. 1 982 BRENDELE, Mana de Betânia U IPHAN em Laranjeiras, SE. BURY. John. A arquiteturae arte no Brasil colonial. Brasília: IPHAN/Monumenta,. 2006. Carta de Atenas, 1931 . IPHAN. Disponível em: llttp;//portal: jphan :gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Carta%20de%20Atenas%201 93 1 .pdf acesso em: 10 de outubro de 2015. Carta de Burra. 1980. IPHAN. Disponível em: http ://portal. iphan .gov.br/u ploads/ckfinder/arqu avos/Carta%20de%20Bu rra%20 1 980.pdf, acesso em: 10 de outubro de 2015. Carta do Restauro, 1972. IPHAN. Disponível em: http://portal.iphan.qov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Carta%20do%20Restauro%201972.pdf , acesso em: 10 de outubro de 2015. Carta de Veneza, 1964. IPHAN. Disponível em: http://portal. ipha n .gov. br/uploads/ckfinder/arqu ivos/Carta%20de%20Veneza%20 1 964 .pdf acesso em: 10 de outubro de 201 5. CARVALHO, José Antõnio. O Colégio e as residências dos Jesuítas no Espírito Santo Rio de Janeiro: Expressão e Cultura.1982. País. 1 13-123 edida a chia Cavalcanti Conflitos Projetuais entre a Academia e o