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LIMA, CARVALHO - RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE A IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO DE PSICOLOGIA COMUNITÁRIA EM UMA DELEGACIA ESPECIALIZADA DE ATENDIMENTO À MULHER
RESUMO
 
· Relato de experiência do estágio de psicologia comunitária em uma Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher na cidade de Teresina-Piauí.
 
· O objetivo principal deste trabalho foi conscientizar os indivíduos e órgãos governamentais sobre a importância da implantação do serviço de psicologia nas Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher e humanizar os atendimentos oferecidos às mulheres em situação de violência, uma vez que esses serviços são apenas burocráticos e a mulher não é vista como um sujeito biopsicossocial.
 
· As atividades desenvolvidas foram observação e ação participante através de acolhimento e escuta qualificada com o intuito de contribuir para que as mulheres tomassem consciência do seu papel ativo em relação à recuperação de sua saúde física e psíquica
 
INTRODUÇÃO
 
As atividades realizadas durante o estágio fundamentou-se principalmente no acolhimento às mulheres usuárias da instituição, por meio de uma escuta qualificada.
 
A violência contra as mulheres apresenta-se como um problema mundial, fruto de uma
organização social pautado nas relações de poder, preconceito e desigualdade de gênero.
 
 
A Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher surgiu da necessidade de uma política pública voltada ao atendimento às mulheres em situação de violência, proporcionando uma cidadania feminina, assegurando seus direitos e coibindo a violência.
 
 
Convenção Interamericana - Convenção de Belém do Pará: assegura os direitos das mulheres e atribuem deveres aos Estados signatários - cada Estado possui responsabilidades para cumprir a favor do fim da violência contra as mulheres
 
 
violência contra a mulher = “qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento psíquico, sexual ou psicológico à mulher tanto no âmbito público como privado”.
 
 
A implantação do serviço de psicologia nas Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher mostra-se fundamental para que haja um acolhimento às vítimas que chegam ao estabelecimento com sua saúde psíquica prejudicada devido à situação de violência.
 
só assim as DEAM’s mostrarão que seu papel não está somente na resolução de aspectos policiais e judiciários, mas que há um comprometimento com a mulher na sua condição de sujeito psicossocial.
 
 
Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (Crepop), oferece bases políticas e técnicas para quem atua no serviço de atenção às mulheres em situação de violência.
 
Entre os marcos legais, destaca-se a Lei Maria da Penha (Lei 11.340 - 07/08/2006), que é a principal referência para a prática dos psicólogos ao lidarem com mulheres em situação de violência.
 
 
Para a realização do estágio na DEAM foi necessário um estudo acerca da Lei, pois precisávamos estar atentos as questões que envolve à mulher em situação de violência e assim fazer as possíveis intervenções.
 
 
O psicólogo é fundamental na instituição onde o usuário trata-se de mulheres violentadas e que necessitam de um acolhimento humanizado e de uma escuta que faz com que a mulher escute a si mesma e que provoque nela o desejo de recuperar sua saúde psíquica e cidadania. Além do acolhimento proposto no primeiro momento, o psicólogo realizaria encaminhamentos para outras redes de serviço psicossocial para auxiliar essa mulher.
 
Desde o início também, deixamos claro que nossa proposta era de acolhê-la, ficando assim livre para a recusa do convite.
 
 
2 MATERIAIS E MÉTODOS
 
A problemática foi abordada a partir de métodos observacionais e descritivos, tendo por objetivo apresentar as vivências da autora e assim colaborar para a conscientização do papel do psicólogo nas DEAM’s, mostrando a importância da implantação do serviço de psicologia nas instituições voltadas ao atendimento à mulher em situação de violência
 
O público alvo das intervenções foram mulheres na faixa de 20 a 40 anos, prevalecendo às de classe social baixa.
 
observação participante: onde foram verificados todos os processos para o funcionamento da delegacia e o relacionamento interpessoal dos funcionários e usuários.
 
ação participante: que foi realizada através de um acolhimento e escuta qualificada com o intuito de proporcionar um apoio psicossocial e verificar o entendimento que as mulheres em situação de violência têm de sua realidade e necessidades.
 
A principal demanda enfatizada na DEAM refere-se à violência doméstica, sendo o marido, o principal agressor
 
 
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
 
3.1 Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher diante as Normas e Leis de funcionamento
 
Como resposta do Estado Brasileiro aos sistemas de proteção dos direitos humanos (ONU; OEA) [...] surgiu à norma técnica de padronização das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher como forma de cumprir e monitorar as ações das DEAM’s para que haja coerência nas situações locais, regionais e nacionais e assim ter maior eficácia na luta contra a violência às mulheres
 
Com a observação participante na DEAM, verificou-se que há incoerências na infraestrutura. Em relação ao espaço físico, a delegacia apresenta-se com uma sala de espera, uma antessala (área de transição) [....] 
A norma de regulamentação prevê no mínimo duas salas de espera: uma para as mulheres em situação de violência e outra para os agressores.
 
Constatou-se a falta de um funcionário específico para o primeiro atendimento ao público na sala de espera, ficando muitas vezes sem ninguém no local para informar e/ou encaminhar os indivíduos para o atendimento.
 
Souza e Cortez (2014) afirmam que a estrutura precária da delegacia: a ausência de salas, a falta de privacidade nos atendimentos e a dificuldade de algumas mulheres serem atendidas
 
Com isso, ficam notório, alguns desacordos entre as práticas da delegacia e as normas e leis, onde a violência é vista apenas como um assunto policial e judicial, esquecendo-se das questões humanas presentes nesses ambientes.
 
[...]se destacam: a carência na infraestrutura dos Serviços que a executam, a deficiência na capacitação dos profissionais que trabalham em espaços que atendem mulheres em situação de violência; a insuficiência de articulação entre as redes de Serviço e apoio; a morosidade dos atendimentos e a forma como a lei é divulgada, focando apenas na questão da denúncia.
 
 
Por não haver um atendimento focado em uma escuta mais humanizada e menos objetiva, a comunicação entre vítimas e funcionários acabava sendo robotizadas. Uma escuta ativa é fundamental nesse processo, uma vez que a vítima ao retratar a violência remete aos sentimentos que estão lhe causando sofrimento.
 
 
Sendo assim, percebe-se que a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, [...] necessita de um avanço em relação à infraestrutura das instituições e no desenvolvimento de uma política pública mais humanizada em seus atendimentos.
 
 
3.2 Atuação do Psicólogo no Atendimento às Mulheres em Situação de Violência
 
O estágio em psicologia comunitária na DEAM proporcionou a visualização do
serviço do psicólogo voltado mais para um papel de analista facilitador, ou seja, as práticas
contribuíram para que as mulheres tomassem consciência do seu papel ativo na luta contra os fenômenos psicossociais.
 
A escuta do psicólogo deve estar pautado no comprometimento com a fala da mulher em situação de violência, uma vez que essa mulher vai relatar o que está lhe causando dor e ao fazer isso ela precisa saber que esse profissional realmente se interessa pelo seu caso e está disposto a ajudá-la.
 
 
A escuta qualificada envolve um diálogo, acolhimento à pessoa em sofrimento psíquico e ajuda a formar um vínculo terapêutico o que permite compreender esse sofrimento na visão da pessoa, valorizando suas experiências e apontando suas necessidades, portanto, a escuta qualificada atua no desenvolvimento da autonomia e inclusão social (MAYNART et al. 2014).
 
A mulher ao sofrer violência, independentementedo tipo, desencadeia em si diversos sintomas que atrapalham o seu cotidiano, sendo assim, o psicólogo deve atuar para
que a mulher se conscientize que precisa de ajuda externa para superar esses empecilhos e
auxiliar na quebra de submissão que se formam, principalmente, em relação à violência
doméstica (HIRIGOYEN, 2006 apud COMINO, 2016).
 
3.3 A Implantação do Serviço de Psicologia Comunitária nas Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher
 
Com o desenvolvimento do estágio, das escutas qualificadas e as dificuldades encontradas, ficou evidente que as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher necessitam de um plantão psicológico. As mulheres ao chegarem às delegacias para fazerem a denúncia carregam em si sentimentos contraditórios que as deixam angustiadas.
 
Com as observações ficaram claro as dificuldades que as usuárias enfrentavam para fazer a denúncia, só o fato de estar em uma delegacia já as deixava com vergonha, medo de se expor, receio das consequências em relação aos seus familiares.
 
Muitas mulheres fazem a denúncia com o intuito de intimidar seus parceiros para que estes cessem os atos violentos contra elas, contudo, ao ter conhecimento sobre os processos judiciais, desistem.
 
 
O acolhimento era feito na sala de espera, fato este que atrapalhava as abordagens e possíveis escutas, uma vez que tanto estagiários como as mulheres não sentiam confiança ao se comunicarem por estarem sendo observados por outros usuários.[...] Muitas usuárias ao serem abordadas estranhavam os acadêmicos tão jovens e a abertura para a escuta em uma instituição que carrega em si um ar de acusação.
 
 
Em outro caso, uma mulher pronunciou que estava sofrendo na mão de seu marido há dezesseis anos, mas, o que a impedia de denunciá-lo era o medo de prejudicar sua filha. Como a jovem havia crescido, achou que era a hora de denunciá-lo, inclusive a própria filha apoiava a mãe. Em muitos relatos percebeu que os parceiros agressores das mulheres obrigavam as mesmas a terem relações sexuais.
 
 
Nas observações de audiências, pude observar que havia muitos casos de vizinho
com questões relacionadas à falta de respeito e xingamentos. Muitos casos referiam também as questões de bens, pensão de filhos, sendo que estes não se resolvem na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, ficando necessário um conhecimento dos processos judiciais pelo menos para o encaminhamento desses indivíduos aos lugares adequados.
 
 
[...] Sendo assim, a implantação do serviço de psicologia nas DEAM’s visa ao acolhimento, orientação e encaminhamentos as redes de apoio dependendo de sua demanda. Nos acolhimentos realizados foram encaminhadas algumas mulheres as clínicas escolas das faculdades locais para atendimento psicológico.
 
O profissional de psicologia contribui também para o clima organizacional da instituição. O estresse, o cansaço do dia a dia colabora para a má atuação dos profissionais com os usuários, sendo assim, os funcionários deveriam receber um atendimento psicológico, [...]
 
 
As mulheres que frequentaram a delegacia no período do estágio, em sua maioria, reclamavam das demoras do atendimento e processos seguintes após denúncia, levando muitas vezes a desistência. [...]
 
 
Esse tipo de acolhimento segundo Mendonça (2003 apud BALBUENO, 2011, p.80) “proporciona diminuição da ansiedade e uma oportunidade de escutar a si mesmas”. Por meio da escuta podem-se fazer intervenções necessárias para a recuperação da condição de sujeito dos indivíduos.
 
 
Um psicólogo permanente no estabelecimento, desenvolvendo plantão psicológico, demonstrará respeito e compromisso com a saúde psíquica da mulher em situação de violência, acolhendo-a no primeiro momento e fazendo encaminhamentos para os serviços psicossociais.
 
 
Conclusão
 
[...] ficou notório que a implantação do serviço de psicologia nas DEAM’s possibilita a coibição da violência contra as mulheres com maior eficácia.
 
As práticas contribuíram também para a aprendizagem em lidar com frustrações, pois as escutas realizadas na sala de espera sempre eram interrompidas com a transição de pessoas e barulhos, atrapalhando assim o processo.
 
As experiências permitiram enxergar o verdadeiro papel do psicólogo em relação às
mulheres em situação de violência e como esse profissional é útil para que as usuárias das
delegacias da mulher tomem consciência de seu sofrimento psíquico para então encontrar
mecanismos para sair dessa situação. O acolhimento, a escuta qualificada e os encaminhamentos para as redes de serviço psicossocial são práticas que devem existir dentro das instituições públicas, em destaque neste estudo, as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher.

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