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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS GUARULHOS – SP SUMÁRIO 1 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS - DEFINIÇÃO ........................................ 3 2 A CONTRIBUIÇÃO DAS AJUDAS TÉCNICAS E DAS TECNOLOGIAS ASSISTIVAS PARA APRENDIZAGEM .................................................................................................. 4 2.1 O uso e a categorização das Tecnologias Assistivas.............................................4 2.2 Auxílios para a vida diária.......................................................................................6 2.3 Comunicação aumentativa e alternativa ................................................................7 2.4 Recursos de acessibilidade ao computador...........................................................7 2.5 Sistemas de controle de ambiente.........................................................................8 2.6 Projetos arquitetônicos para acessibilidade...........................................................9 2.7 Órteses e próteses................................................................................................10 2.8 Adequação postura...............................................................................................11 2.9 Auxílios de mobilidade..........................................................................................12 2.10 Auxílios para cegos ou para pessoas com visão subnormal................................13 2.11 Auxílios para pessoas com surdez ou com déficit auditivo...................................14 2.12 Adaptações em veículos......................................................................................15 3 TECNOLOGIA ASSISTIVA E SALAS DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS ........... 16 4 PROGRAMA DE SALAS DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS ...................................................................................................................... 19 4.1 Salas de recursos multifuncionais – srm: o programa..........................................20 4.2 Critérios para a Implantação das Salas de Recursos Multifuncionais..................21 4.3 Adesão, Cadastro e Indicação das Escolas.........................................................23 4.4 Composição das Salas de Recursos Multifuncionais...........................................24 5 PÚBLICO ALVO E OS RECURSOS HUMANOS DAS SALAS DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS....................................................................................................... 27 5.1 O Atendimento Educacional Especializado – AEE...............................................27 5.2 O Público Alvo......................................................................................................29 5.3 Sobre o financiamento..........................................................................................29 5.4 Sobre a Institucionalização do Atendimento Educacional Especializado – AEE..30 5.5 Recursos Humanos – Sobre a formação e atribuições do professor....................31 6 AS SALAS DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS NAS ESCOLAS REGULARES, O ATENDIMENTO ÀS FAMÍLIAS E O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO ................. .33 6.1 O que significa ter um Projeto Pedagógico inclusivo?...........................................33 6.2 Flexibilização e adaptação curricular em favor da aprendizagem.........................35 6.3 Como formar redes de apoio à Educação Inclusiva...............................................35 7 PROCEDIMENTOS PARA REAVALIAÇÃO PEDAGÓGICA E/OU PSICOLÓGICA...38 7.1 A Avaliação Pedagógica.......................................................................................38 7.2 Avaliação da Aprendizagem em Educação Especial: Questões Conceituais.......49 7.3 Avaliação Psicológica............................................. .............................................55 7.4 As tendências pedagógicas e o ensino de avaliação psicológica.........................57 7.5 ENSINO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E AS POSSIBILIDADES PARA UM PLANEJAMENTO CRÍTICO............................................................................................60 7.6 Modelos de fichas............................................. ...................................................63 8 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ............................................................................................ 73 3 1 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS - DEFINIÇÃO As salas de recursos multifuncionais são ambientes dotados de equipamentos, mobiliários e materiais didáticos e pedagógicos para a oferta do atendimento educacional especializado que tem como objetivos: Prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública de ensino regular; Fonte: barreiras.ba.gov.br Garantir a transversalidade das ações da educação especial no ensino regular; Fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem; Assegurar condições para a continuidade de estudos nos demais níveis de ensino. 4 A produção e distribuição de recursos educacionais para a acessibilidade incluem livros didáticos e paradidáticos em Braille, áudio e Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, laptops com sintetizador de voz, softwares para comunicação alternativa e outras ajudas técnicas que possibilitam o acesso ao currículo escolar. 2 A CONTRIBUIÇÃO DAS AJUDAS TÉCNICAS E DAS TECNOLOGIAS ASSISTIVAS PARA APRENDIZAGEM A educação de alunos com necessidades educativas especiais que, adicionalmente se pautava num modelo de atendimento segregado, tem se voltado nas últimas duas décadas para a Educação Inclusiva. Esta proposta ganhou força, sobretudo a partir da segunda metade da década de 90, com a difusão da conhecida Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994), que entre outros pontos, propõe que "as crianças e jovens com necessidades educativas especiais devem ter acesso às escolas regulares, que a elas devem se adequar...", pois tais escolas "constituem os meios mais capazes para combater as atitudes discriminatórias, construindo uma sociedade inclusiva e atingindo a educação para todos..." (p. 8-9). Atualmente tem se discutido muito sobre métodos, ferramentas e tecnologias que podem ser utilizadas para o trabalho com alunos que possuem necessidades especiais, dentro do sistema regular de ensino. 2.1 O uso e a categorização das Tecnologias Assistivas As dificuldades vivenciadas pelas pessoas portadoras de deficiência em nossa comunidade, os preconceitos e as exclusões sofridas, tornam urgente a construção de novas soluções para a redução dessas desigualdades sociais. Os progressos da ciência, os novos estudos e descobertas, oferecem ferramentas para a busca de soluções. As Tecnologias de Informação e Comunicação vêm se tornando instrumentos fundamentais de nossa cultura e, sua utilização, um meio concreto de inclusão e interação no mundo. E como destacou Vygotsky, é sumamente relevante, para o 5 desenvolvimento humano, o processo de apropriação, por parte do indivíduo, das experiências presentes em sua cultura. O autor enfatiza a importância da ação, da linguagem e dos processos interativos, na construção das estruturas mentais superiores. O acesso aos recursos oferecidos pela sociedade, pela cultura, escola, tecnologias, influenciam determinantemente nos processos de aprendizagem e desenvolvimento da pessoa. Entretanto, as limitações do indivíduo com deficiência tendem a tornar-se uma barreira a estes processos. Desenvolver recursos de acessibilidade, as chamadas Tecnologias Assistivas, seria uma maneira concreta de neutralizar as barreiras causadas peladeficiência e inserir esse indivíduo nos ambientes ricos para a aprendizagem e desenvolvimento, proporcionados pela cultura. Fonte: i.ytimg.com Tecnologia Assistiva é um termo novo e está sendo utilizado para se referir a ferramentas que podem auxiliar no cotidiano de pessoas com deficiência. Ela também pode ser definida como "uma ampla gama de equipamentos, serviços, estratégias e práticas concebidas e aplicadas para minorar os problemas encontrados pelos indivíduos com deficiências" (Cook e Hussey Assistive Technologies: Principles and Practices Mosby Year Book, Inc., 1995). 6 No Brasil, o Comitê de Ajudas Técnicas - CAT, instituído pela Portaria N° 142, de 16 de Novembro de 2006 propõe o seguinte conceito para a tecnologia assistiva: "Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social" (ATA VII - Comitê de Ajudas Técnicas (CAT) - Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE) - Secretaria Especial dos Direitos Humanos - Presidência da República). Como pode se perceber as Tecnologias Assistivas são instrumentos facilitadores para garantir uma aprendizagem qualitativa e uma maior autonomia do indivíduo na vida em sociedade. Esses recursos são classificados e organizados de acordo com a sua finalidade, pois vão desde objetos que auxiliam na vida prática até os que servem como meio de comunicação do indivíduo. 2.2 Auxílios para a vida diária São recursos que auxiliam os deficientes no seu dia-a-dia, os quais garantem uma maior autonomia ao indivíduo, pois permite ter mais acessibilidade e realizar tarefas simples como cozinhar, vestir-se, alimentar-se, tomar banho sem o auxílio de outra pessoa. São alguns exemplos de Tecnologias Assistivas que auxiliam na vida prática de pessoas com deficiência: Suportes para utensílios domésticos; Barras de apoio; 7 Talheres e materiais escolares adaptados. Fonte: 2.bp.blogspot.com 2.3 Comunicação aumentativa e alternativa Esses recursos são destinados a pessoas que possuem problemas de comunicação relacionada à falta da fala ou com limitações da mesma. Os recursos mais utilizados são as pranchas de comunicação, vocalizadores ou computadores com softwares específicos, os quais garantem grande eficiência à função comunicativa. 2.4 Recursos de acessibilidade ao computador Esses recursos são utilizados para garantir a pessoa com deficiência o acesso ao computador, através de hardware e software que tornam essa ferramenta mais acessível. São exemplos de recursos de acessibilidade ao computador os equipamentos de entrada como: 8 Os teclados modificados; Os teclados virtuais com varredura; Mouses especiais e acionadores diversos; Softwares de reconhecimento de voz; Ponteiras de cabeça por luz. Fonte: 3.bp.blogspot.com Como equipamentos de saída podemos citar: A síntese de voz; Monitores especiais; Os softwares leitores de texto (OCR); Impressoras braille; Linha braille. 2.5 Sistemas de controle de ambiente 9 Fonte: santamaria.rs.gov.br Os sistemas de controle de ambiente garantem às pessoas com deficiência, uma maior autonomia, pois permitem que ele controle, por meio de um controle remoto, aparelhos eletroeletrônicos, sistemas de segurança, entre outros mecanismos dentro de sua residência, escritório ou arredores. 2.6 Projetos arquitetônicos para acessibilidade Englobam recursos estruturais que facilitam o acesso e a permanência de pessoas deficientes aos lugares em que frequenta como sua casa, ambiente de trabalho, locais públicos entre outros. Esses projetos arquitetônicos se referem a: Rampas; Elevadores; Banheiros adaptados; 10 Peças de mobiliário, entre outras adaptações que garantem a funcionalidade e a mobilidade dentro de qualquer ambiente. Fonte: construindodecor.com.br 2.7 Órteses e próteses Próteses são peças artificiais que substituem partes ausentes do corpo. Órteses são colocadas junto a um segmento do corpo, garantindo-lhe um melhor posicionamento, estabilização e/ou função. São normalmente confeccionadas sob medida e servem para: Auxílio de mobilidade; De funções manuais (escrita, digitação, utilização de talheres, manejo de objetos para higiene pessoal); Correção postural, entre outros. 11 Fonte: casadaptada.com.br 2.8 Adequação postural Os recursos de adequação postural têm a função de auxiliar os indivíduos na sua postura em diferentes posições: sentado, deitado e em pé. É de extrema importância que todo indivíduo tenha uma boa postura, pois isso auxilia para que se tenha um bom desempenho funcional. São exemplos de Tecnologias Assistivas: Almofadas; 12 Estabilizadores ortostáticos Fonte: institutoitard.com.br 2.9 Auxílios de mobilidade Andadores; Carrinhos; Bengalas; Muletas; Cadeiras de roda, entre outros são exemplos de tecnologias que auxiliam os indivíduos com necessidades especiais a terem mais mobilidade pessoal. 13 Fonte: image.slidesharecdn.com 2.10 Auxílios para cegos ou para pessoas com visão subnormal São todas as tecnologias que buscam auxiliar o deficiente visual a realizar suas atividades do dia a dia ou em seu local de trabalho com maior autonomia e independência. São também Tecnologias Assistivas: Auxílios ópticos; Lentes Lupas e tele lupas; Os softwares leitores de tela, leitores de texto, ampliadores de tela; Os hardwares como as impressoras braille, lupas eletrônicas, linha braille (dispositivo de saída do computador com agulhas táteis) e agendas eletrônicas. 14 Linha Braille Fonte: mundodalupa.com.br 2.11 Auxílios para pessoas com surdez ou com déficit auditivo Esses tipos de auxílios incluem vários equipamentos, como por exemplo: Infravermelho, FM; Aparelhos para surdez; Telefones com teclado-teletipo (TTY); Sistemas com alerta táctil-visual; Telefone celular com mensagens escritas e chamadas por vibração, entre outros. 15 Fonte: 4.bp.blogspot.com 2.12 Adaptações em veículos São acessórios e adaptações que possibilitam uma pessoa com deficiência física dirigir um automóvel: Facilitadores de embarque e desembarque como elevadores para cadeiras de rodas (utilizados nos carros particulares ou de transporte coletivo); Rampas para cadeiras de rodas; 16 Serviços de autoescola para pessoas com deficiência1. Fonte: casadaptada.com.br 3 TECNOLOGIA ASSISTIVA E SALAS DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS Na atualidade, constata-se um rápido avanço nas ciências e nas tecnologias, cuja influência, como processo sociológico, se viu refletido no campo educacional, fundamentalmente em dois níveis: mediante a introdução de novos recursos e de meios didáticos que apoiam o processo de ensino e aprendizagem e os conteúdos curriculares. Na educação especial, essas tecnologias trouxeram diversas aplicações para os alunos com necessidades educacionais especiais. Não há dúvidas sobre os benefícios que esses avanços proporcionam à educação, embora se considere necessário situá-los em uma perspectiva global, avaliando, principalmente, o contexto de sua utilização. A Tecnologia Assistiva (T.A) vem dar suporte para efetivar o novo paradigma da inclusão na escola e na Sociedade para Todos, que tem abalado os preconceitos que as práticas e os discursos anteriores forjaram sobre e pelas pessoas com deficiência.1 Texto extraído de: www.webartigos.com 17 No entanto, o emprego das tecnologias, por mais promissor que possa ser, está invariavelmente sujeito as restrições de ordem cultural, econômica, social e convém examinar com realismo. Existe uma tensão entre as possibilidades oferecidas pela tecnologia (elas próprias em mutação constante) e as condições de sua aplicação: o sistema social e educacional e os modos de gestão devem abrir espaço à tecnologia em um determinado nível de desempenho. A necessidade de mudança urgente e de construção de uma escola inclusiva "onde todos os alunos devem aprender juntos independentemente das dificuldades e das diferenças que apresentam" (Declaração de Salamanca, 1994) cria expectativas em todos aqueles, profissionais e pais, que querem romper com todas as formas de exclusão social. A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais no ensino regular implica mudanças nas atitudes e nas práticas pedagógicas dos profissionais que participam do processo pedagógico, da organização e da gestão na sala de aula e na própria escola enquanto instituição. Essa mudança tem como base o novo paradigma sobre o que é a deficiência e especialmente o novo modelo biopsicossocial e ecológico de compreendê-la como o resultado da interação do indivíduo, que possui uma alteração de estrutura e funcionamento do corpo, com as barreiras que estão impostas no meio em que vive. Essa concepção evidencia que os impedimentos de participação em atividades e a exclusão das pessoas com deficiência são hoje um problema de ordem social e tecnológica e não somente um problema médico ou de saúde. As grandes e mais importantes barreiras estão, muitas vezes, na falta de conhecimentos, de recursos tecnológicos, no desrespeito à legislação vigente, na forma como a sociedade está organizada, de forma a ignorar as diferentes demandas de sua população. O paradigma da inclusão consolida o Atendimento Educacional Especializado (AEE) como fator imprescindível para dar suporte ao aluno com deficiência que está na classe regular e promover condições adequadas para que ele possa ter acesso ao currículo. O atendimento educacional especializado constitui parte diversificada3 do currículo dos alunos com necessidades educacionais especiais, organizado 18 institucionalmente para apoiar, complementar e suplementar os serviços educacionais comuns. (ALVES, 2006, p.15) Posteriormente, o Decreto 6571/2008, no artigo 1ª, § 1º complementa que o atendimento educacional especializado: [...] é um serviço da educação especial que identifica, elabora, e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas. (MEC/SEESP, 2008). Esse atendimento vem apresentando diferentes formas, através do tempo, chegando ao formato definido pelo Ministério de Educação/ Secretaria de Educação Especial como Sala de Recursos Multifuncionais (SRM). Essas salas recebem essa denominação por agregar, em sua organização, materiais, equipamentos e profissionais com formação para o atendimento, ao mesmo tempo, de alunos com diferentes deficiências, transtorno global de desenvolvimento ou superdotação. Segundo o documento da SEESP/MEC (ALVES et al., 2006, p.15), a SRM “é um espaço para a realização do atendimento educacional especializado de alunos que apresentam, ao longo de sua aprendizagem, alguma necessidade educacional especial, temporária ou permanente”, por meio do desenvolvimento de estratégias de aprendizagem, centradas em um novo fazer pedagógico que favoreça a construção de conhecimentos pelos alunos, subsidiando-os para que desenvolvam o currículo e participem da vida escolar. É na sala de recursos multifuncional que o aluno aprende a utilizar os recursos de T.A, tendo em vista o desenvolvimento da sua autonomia. Porém, o recurso de T.A não pode ser exclusivamente utilizado nessa sala, mas, encontra sentido quando o aluno utiliza essa tecnologia no contexto escolar comum, apoiando a sua escolarização. Portanto, é função da sala de recursos avaliar essa TA, adaptar material e encaminhar esses recursos e materiais adaptados, para que sirvam ao aluno na sala de aula comum, junto com a família e nos demais espaços que frequenta. A Tecnologia Assistiva é utilizada para ampliar ou possibilitar a execução de uma atividade necessária e pretendida por uma pessoa com deficiência. Na perspectiva da educação inclusiva, esta Tecnologia é voltada a favorecer a participação do aluno com deficiência nas diversas atividades do cotidiano escolar, vinculadas aos objetivos 19 educacionais. São exemplos de Tecnologia Assistiva na escola os materiais escolares e pedagógicos acessíveis, a comunicação alternativa, os recursos de acessibilidade ao computador, os recursos para mobilidade, localização, a sinalização, o mobiliário que atenda às necessidades posturais, entre outros2. Materiais escolares favorecendo recorte, escrita e leitura. Fonte: institutoitard.com.br 4 PROGRAMA DE SALAS DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS As políticas públicas no campo da educação inclusiva se referem a todos os aspectos de criação e gestão de normas voltadas à garantia do direito à educação para todos, particularmente para os segmentos sociais historicamente excluídos do sistema de ensino. 2 Texto extraído de: www.galvaofilho.net 20 Nesse sentido, abrangem as instâncias legislativa, executiva e judiciária de um determinado país ou território, isto é, o conjunto de leis, diretrizes e decisões judiciais nacionais que buscam concretizar o referido direito. Financiamento - Um dos aspectos fundamentais para que um país ou território viabilize a implementação de um modelo de ensino inclusivo é o financiamento. Isso envolve todos os tipos de investimentos financeiros voltados à formação de educadores, acessibilidade, serviços de apoio e demais fatores necessários ao atendimento de todo e qualquer estudante. A oferta desses recursos depende da criação de leis e políticas que destinem uma parcela do orçamento público especificamente para esse fim. Intersetorialidade - A intersetorialidade representa uma estratégia de gestão baseada na articulação das diferentes áreas que compõem a administração pública. Isso significa planejar ações que integrem educação, saúde, assistência social, transporte, segurança etc. No campo da educação inclusiva, a intersetorialidade tem sido observada como um dos elementos presentes em políticas públicas reconhecidas como exitosas e consistentes3. 4.1 Salas de recursos multifuncionais – srm: o programa O Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais, instituído pelo MEC/SEESP por meio da Portaria Ministerial nº 13/2007, integra o Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, destinando apoio técnico e financeiro aos sistemas de ensino para garantir o acesso ao ensino regular e a oferta do AEE aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e/ou altas habilidades/superdotação. No contexto da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, o Programa tem como objetivos: 3 Texto extraído de: www.diversa.org.br 21 Apoiar a organização da educação especial na perspectiva da educação inclusiva; Assegurar o pleno acesso dos alunos público alvo da educação especial no ensino regular em igualdade de condições com os demais alunos; Disponibilizar recursos pedagógicos e de acessibilidade às escolas regulares da rede pública de ensino; Promover o desenvolvimento profissional e a participação da comunidade escolar. De acordo com esses objetivos o processo de implantação das salas de recursos multifuncionais,o MEC/SEESP realiza as seguintes as ações: Aquisição dos recursos que compõem as salas; Informação sobre a disponibilização das salas e critérios adotados; Monitoramento da entrega e instalação dos itens às escolas; Orientação aos sistemas de ensino para a organização e oferta do AEE; Cadastro das escolas com sala de recursos multifuncionais implantadas; Promoção da formação continuada de professores para o AEE; Encaminhamento, assinatura e publicação dos Contratos de Doação; Atualização dos recursos das salas implantadas pelo Programa; Apoio à acessibilidade nas escolas com salas implantadas; 4.2 Critérios para a Implantação das Salas de Recursos Multifuncionais Aos gestores dos sistemas de ensino cabe definir quanto à implantação das salas de recursos multifuncionais, o planejamento da oferta do AEE e a indicação das escolas a serem contempladas, conforme as demandas da rede, atendendo os seguintes critérios do Programa: 22 A secretaria de educação a qual se vincula a escola deve ter elaborado o Plano de Ações Articuladas – PAR, registrando as demandas do sistema de ensino com base no diagnóstico da realidade educacional; A escola indicada deve ser da rede pública de ensino regular, conforme registro no Censo Escolar MEC/INEP (escola comum); Fonte: f5news.com.br A escola de ensino regular deve ter matrícula de aluno (s) público alvo da educação especial em classe comum, registrado (s) no Censo Escolar/INEP, para a implantação da sala Tipo I; A escola de ensino regular deve ter matrícula de aluno (s) cego (s) em classe comum, registrado (s) no Censo Escolar/INEP, para a implantação da sala de Tipo II; A escola deve ter disponibilidade de espaço físico para o funcionamento da sala e professor para atuação no AEE. 23 4.3 Adesão, Cadastro e Indicação das Escolas A Secretaria de Educação efetua a adesão, o cadastro e a indicação das escolas contempladas por meio do Programa no Sistema de Gestão Tecnológica do Ministério da Educação – SIGETEC, endereço http://sip.proinfo.mec.gov.br. Esse registro é feito conforme Manual Passo a Passo das Salas de Recursos Multifuncionais. No ato de solicitação das salas, as secretarias de educação assumem o compromisso com os objetivos do Programa e realizam no SIGETEC os seguintes passos: Adesão e cadastro do gestor do Município (Prefeito), Estado ou Distrito Federal (Secretário de Educação); Indicação das escolas conforme os critérios do Programa; Confirmação de espaço físico para a sala; Confirmação de professor para atuar no AEE; Após a confirmação da indicação da escola e da disponibilização das salas pelo Programa, as secretarias de educação devem: Informar às escolas sobre sua indicação; Monitorar a entrega e instalação dos recursos nas escolas; Orientar quanto à institucionalização da oferta do AEE no PPP; Acompanhar o funcionamento da sala conforme os objetivos; Validar as informações de matrícula no Censo Escolar INEP/MEC; Promover a assistência técnica, a manutenção e a segurança dos recursos; Apoiar a participação dos professores nos cursos de formação para o AEE; Assinar e retornar ao MEC/SEESP o Contrato de Doação dos recursos. 24 4.4 Composição das Salas de Recursos Multifuncionais O Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais disponibiliza equipamentos, mobiliários, materiais didáticos e pedagógicos para a organização das salas e a oferta do atendimento educacional especializado - AEE. As salas tipo I e de tipo II, organizam-se conforme abaixo: 4.4.1 Especificação dos itens da Sala Tipo I: Equipamentos: 02 – Microcomputadores 01 – Laptop 01 – Estabilizador 01 – Scanner 01 – Impressora laser 01 – Teclado com colmeia 01 – Acionador de pressão 01 – Mouse com entrada para acionador 01 – Lupa eletrônica Mobiliários: 01 – Mesa redonda 04 – Cadeiras 01 – Mesa para impressora 01 – Armário 01 – Quadro branco 02 – Mesas para computador 02 – Cadeiras 25 Fonte: yata.ostr.locaweb.com.br Materiais Didático/Pedagógico: 01 – Material Dourado 01 – Esquema Corporal 01 – Bandinha Rítmica 01 – Memória de Numerais I 01 – Tapete Alfabético Encaixado 01 – Software Comunicação Alternativa 01 – Sacolão Criativo Monta Tudo 01 – Quebra Cabeças – sequência lógica 01 – Dominó de Associação de Ideias 01 – Dominó de Frases 01 – Dominó de Animais em Libras 01 – Dominó de Frutas em Libras 01 – Dominó tátil 01 – Alfabeto Braille 01 – Kit de lupas manuais 01 – Plano inclinado – suporte para leitura 01 – Memória tátil 26 4.4.2 Especificação dos itens da Sala Tipo II A sala de tipo II contém todos os recursos da sala tipo I, adicionados os recursos de acessibilidade para alunos com deficiência visual, conforme abaixo: Equipamentos e Materiais Didático/Pedagógico 01 – Impressora Braille – pequeno porte 01 – Máquina de datilografia Braille 01 – Reglete de Mesa 01 – Punção 01 – Soroban 01 – Guia de Assinatura 01 – Kit de Desenho Geométrico 01 – Calculadora Sonora 4.4.3 Condições Gerais da Implantação das Salas de Recursos Multifuncionais A entrega dos itens que compõem as salas de recursos multifuncionais será realizada diretamente na escola, no endereço registrado no Censo Escolar, por empresas diferentes, em prazo contado a partir da emissão da Autorização de Entrega. O MEC/SEESP acompanha e fiscaliza essa execução nas diferentes regiões do país, mantendo sistema informatizado de monitoramento para atestar sua conformidade. O profissional responsável pela escola no dia/turno da entrega deve conferir os itens especificados na nota fiscal e assinar o Termo de Recebimento; e posteriormente no ato da instalação, o Termo de Aceitação. As empresas são desresponsabilizadas após tentativas inválidas ou recusa de recebimento/instalação, devidamente registradas. No período entre a entrega e a instalação não deve ocorrer abertura das caixas ou violação dos equipamentos. Durante a garantia é admitida a troca de mobiliários/equipamentos/materiais defeituosos por 27 outros iguais ou de tecnologia superior, desde que autorizada pela contratante (MEC/SEESP). Observa-se que a (s) empresa (s) não são autorizadas a efetuar a entrega e/ou a instalação em local diverso do especificado na nota fiscal. Casos excepcionais, como calamidade pública, mudança de endereço e outros, devem ser previamente comunicados ao MEC/SEESP, formalizando a justificativa da alteração. É vedada a troca de escola que contrarie os critérios do programa. O interesse de manter a qualidade dos itens, o cumprimento dos prazos e a garantia dos recursos são tanto da contratada (empresa) como da contratante (MEC/SEESP/FNDE) e dos beneficiários (escola/sistemas de ensino). Portanto, os gestores das secretarias de educação e das escolas devem conhecer e conferir os quantitativos e a especificação dos itens, além de colaborar para que a entrega e a instalação ocorram nos prazos previstos. 5 PÚBLICO ALVO E OS RECURSOS HUMANOS DAS SALAS DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS 5.1 O Atendimento Educacional Especializado – AEE A educação especial é uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento educacional especializado, disponibiliza os recursos e serviços e orienta quanto a sua utilização no processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns do ensino regular. Os sistemas de ensino devem matricular os alunos com deficiência, os com transtornos globais do desenvolvimento e os com altas habilidades/superdotação nas escolas comuns do ensino regular e ofertar o atendimento educacional especializado – AEE, promovendo o acesso e as condições para uma educação de qualidade.28 Fonte: portalitec.com.br O Atendimento Educacional Especializado - AEE tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas. Esse atendimento complementa e/ou suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela. Consideram-se serviços e recursos da educação especial àqueles que asseguram condições de acesso ao currículo por meio da promoção da acessibilidade aos materiais didáticos, aos espaços e equipamentos, aos sistemas de comunicação e informação e ao conjunto das atividades escolares. Para o atendimento às necessidades específicas relacionadas às altas habilidades/superdotação são desenvolvidas atividades de enriquecimento curricular nas escolas de ensino regular em articulação com as instituições de educação superior, profissional e tecnológica, de pesquisa, de artes, de esportes, entre outros. Nos casos de escolarização em classe hospitalar ou em ambiente domiciliar, o AEE é ofertado aos alunos público-alvo da educação especial, de forma complementar ou suplementar. O AEE é realizado, prioritariamente, na Sala de Recursos Multifuncionais da própria escola ou em outra escola de ensino regular, no turno inverso da escolarização, 29 podendo ser realizado, também, em centro de atendimento educacional especializado público ou privado sem fins lucrativos, conveniado com a Secretaria de Educação. 5.2 O Público Alvo Considera-se público-alvo do Atendimento Educacional Especializado – AEE: Alunos com deficiência: aqueles que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: aqueles que apresentam um quadro de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras. Incluem-se nessa definição alunos com autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra especificação. Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que apresentam um potencial elevado e grande envolvimento com as áreas do conhecimento humano, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotora, artes e criatividade. 5.3 Sobre o financiamento De acordo com o Decreto n. 6.571/08, os alunos público-alvo da educação especial serão contabilizados duplamente no FUNDEB, quando tiverem matrícula em classe comum de ensino regular da rede pública e matrícula no Atendimento Educacional Especializado - AEE, conforme registro no Censo escolar/ MEC/INEP do ano anterior. Dessa forma, são contempladas: Matrícula na classe comum e na sala de recursos multifuncional da mesma escola pública; 30 Matrícula na classe comum e na sala de recursos multifuncional de outra escola pública; Matrícula na classe comum e no centro de atendimento educacional especializado público; Matrícula na classe comum e no centro de atendimento educacional especializado privado sem fins lucrativos. 5.4 Sobre a Institucionalização do Atendimento Educacional Especializado – AEE A oferta do Atendimento Educacional Especializado - AEE deve constar no Projeto Pedagógico da escola de ensino regular, prevendo na sua organização: Sala de recursos multifuncional: espaço físico, mobiliários, materiais didáticos, recursos pedagógicos e de acessibilidade e equipamentos específicos; Fonte: blog.portabilis.com.br Matrícula do aluno no Atendimento Educacional Especializado - AEE: condicionada à matrícula no ensino regular da própria escola ou de outra escola; 31 Plano do AEE: identificação das necessidades educacionais específicas dos alunos, definição dos recursos necessários e das atividades a serem desenvolvidas; cronograma de atendimento dos alunos; Professor para o exercício da docência do AEE; Profissionais da educação: tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais, guia-intérprete e outros que atuam no apoio às atividades de alimentação, higiene e locomoção. Articulação entre professores do AEE e os do ensino comum. Redes de apoio: no âmbito da atuação intersetorial, da formação docente, do acesso a recursos, serviços e equipamentos, entre outros que contribuam para a realização do AEE. A oferta do atendimento educacional especializado - AEE, no centro de atendimento educacional especializado público ou privado sem fins lucrativos conveniado para essa finalidade, deve constar no projeto pedagógico do centro, contemplando na sua organização os recursos, o plano de AEE, os professores e demais profissionais, conforme orientação da Secretaria de Educação. Os centros de atendimento educacional especializados devem cumprir as normativas estabelecidas pelo Conselho de Educação do respectivo sistema de ensino, quanto a sua autorização de funcionamento, em consonância com as orientações preconizadas nestas Diretrizes. 5.5 Recursos Humanos – Sobre a formação e atribuições do professor Para atuação no AEE, o professor deve ter formação inicial que o habilite para o exercício da docência e formação específica na educação especial, inicial ou continuada. São atribuições do professor do atendimento educacional especializado: Identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias considerando as necessidades específicas dos alunos público-alvo da educação especial; 32 Elaborar e executar plano de atendimento educacional especializado, avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade; Organizar o tipo e o número de atendimentos aos alunos na sala de recursos multifuncional; Acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala de aula comum do ensino regular, bem como em outros ambientes da escola; Estabelecer parcerias com as áreas intersetoriais na elaboração de estratégias e na disponibilização de recursos de acessibilidade; Orientar professores e famílias sobre os recursos pedagógicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno; Ensinar e usar recursos de Tecnologia Assistiva, tais como: as tecnologias da informação e comunicação, a comunicação alternativa e aumentativa, a informática acessível, o soroban, os recursos ópticos e não ópticos, os softwares específicos, os códigos e linguagens, as atividades de orientação e mobilidade entre outros; de forma a ampliar habilidades funcionais dos alunos, promovendo autonomia, atividade e participação; Estabelecer articulação com os professores da sala de aula comum, visando a disponibilização dos serviços, dos recursos pedagógicos e de acessibilidade e das estratégias que promovem a participação dos alunos nas atividades escolares; Promover atividades e espaços de participação da família e a interface com os serviços setoriais da saúde, da assistência social, entre outros4. 4 Texto extraído de: www.portal.mec.gov.br 33 6 AS SALAS DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS NAS ESCOLAS REGULARES, O ATENDIMENTO ÀS FAMÍLIAS E O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO 6.1 O que significa ter um Projeto Pedagógico inclusivo? Fonte: 3.bp.blogspot.com As barreiras que podem impedir o acesso de alguns alunos ao ensino e à convivência estão relacionadas a diversos componentes e dimensões da escolarização. Ocorrem, também, impedimentos na ação dos educadores. Vejamos os principais pontos revelados na experiência com educadores no exercícioda Educação inclusiva, para todos. Educadores reconhecem, cada vez mais, a diversidade humana e as diferenças individuais que compõem seu grupo de alunos e se deparam com a urgência de transformar o sistema educacional e garantir um ensino de qualidade para todos os estudantes. Não basta que a escola receba a matrícula de alunos com necessidades educacionais especiais, é preciso que ofereça condições para a operacionalização desse Projeto Pedagógico Inclusivo. A inclusão deve garantir a todas as crianças e 34 jovens o acesso à aprendizagem por meio de todas as possibilidades de desenvolvimento que a escolarização oferece. As mudanças são imprescindíveis, dentre elas a reestruturação física, com a eliminação das barreiras arquitetônicas; a introdução de recursos e de Tecnologias Assistivas; a oferta de profissionais do ensino especial, ainda em número insuficiente. Além da compreensão e incorporação desses serviços na escola regular são necessárias alternativas relativas à organização, ao planejamento e à avaliação do ensino. Outro ponto importante refere-se à formação dos professores para a inclusão. A transformação de paradigma na Educação exige professores preparados para a nova prática, de modo que possam atender também às necessidades do ensino inclusivo. O saber está sendo construído à medida que as experiências vão acumulando-se e as práticas anteriores vão sendo transformadas. Por isso, a formação continuada tem um papel fundamental na prática profissional. A inclusão de pessoas com necessidades especiais faz parte do paradigma de uma sociedade democrática, comprometida com o respeito aos cidadãos e à cidadania. Esse paradigma, na escola, apresenta-se no projeto pedagógico que norteará sua ação, explicitará sua política educacional, seu compromisso com a formação dos alunos, assim como, com ações que favoreçam a inclusão social. É o projeto pedagógico que orienta as atividades escolares revelando a concepção da escola e as intenções da equipe de educadores. Com base no projeto pedagógico a escola organiza seu trabalho; garante apoio administrativo, técnico e científico às necessidades da Educação inclusiva; planeja suas ações; possibilita a existência de propostas curriculares diversificadas e abertas; flexibiliza seu funcionamento; atende à diversidade do alunado; estabelece redes de apoio, que proporcionam a ação de profissionais especializados, para favorecer o processo educacional. É na sala de aula que acontece a concretização do Projeto Pedagógico – elaborado nos diversos níveis do sistema educacional. Vários fatores podem influenciar a dinâmica da sala de aula e a eficácia do processo de ensino e aprendizagem. Planejamentos que contemplem regulações organizativas diversas, com possibilidades 35 de adequações ou flexibilizações têm sido uma das alternativas mais discutidas como opção para o rompimento com estratégias e práticas limitadas e limitantes. 6.2 Flexibilização e adaptação curricular em favor da aprendizagem Para estruturar as flexibilizações na escola inclusiva é preciso que se reflita sobre os possíveis ajustes relativos à organização didática. Qualquer adaptação não poderá constituir um plano paralelo, segregado ou excludente. As flexibilizações e/ou adequações da prática pedagógica deverão estar a serviço de uma única premissa: diferenciar os meios para igualar os direitos, principalmente o direito à participação, ao convívio. O desafio, agora, é avançar para uma maior valorização da diversidade sem ignorar o comum entre os seres humanos. Destacar muito o que nos diferencia pode conduzir à intolerância, à exclusão ou a posturas fundamentalistas que limitem o desenvolvimento das pessoas e das sociedades, ou, que justifiquem, por exemplo, a elaboração de currículos paralelos para as diferentes culturas, ou para pessoas com necessidades educacionais especiais. (BLANCO, 2009). Além disso, para que o projeto inclusivo seja colocado em ação, há necessidade de uma atitude positiva e disponibilidade do professor para que ele possa criar uma atmosfera acolhedora na classe. A sala de aula afirma ou nega o sucesso ou a eficácia da inclusão escolar, mas isso não quer dizer que a responsabilidade seja só do professor. O professor não pode estar sozinho, deverá ter uma rede de apoio, na escola e fora dela, para viabilizar o processo inclusivo. Para crianças com necessidades educacionais especiais uma rede contínua de apoio deveria ser providenciada, com variação desde a ajuda mínima na classe regular até programas adicionais de apoio à aprendizagem dentro da escola e expandindo, conforme necessário, à provisão de assistência dada por professores especializados e pessoal de apoio externo. (Declaração de Salamanca, 1994). 6.3 Como formar redes de apoio à Educação Inclusiva Os sistemas de apoio começam na própria escola, na equipe e na gestão escolar. O aluno com necessidades especiais não é visto como responsabilidade unicamente do 36 professor, mas de todos os participantes do processo educacional. A direção e a coordenação pedagógica devem organizar momentos para que os professores possam manifestar suas dúvidas e angústias. Ao legitimar as necessidades dos docentes, a equipe gestora pode organizar espaços para o acompanhamento dos alunos; compartilhar entre a equipe os relatos das condições de aprendizagens, das situações da sala de aula e discutir estratégias ou possibilidades para o enfrentamento dos desafios. Essas ações produzem assuntos para estudo e pesquisa que colaboram para a formação continuada dos educadores. Fonte: nova-escola-producao.com A família compõe a rede de apoio como a instituição primeira e significativamente importante para a escolarização dos alunos. É a fonte de informações para o professor sobre as necessidades específicas da criança. É essencial que se estabeleça uma relação de confiança e cooperação entre a escola e a família, pois esse vínculo favorecerá o desenvolvimento da criança. 37 Profissionais da área de saúde que trabalham com o aluno, como fisioterapeutas, psicopedagogos, psicólogos, fonoaudiólogos ou médicos, também compõem a rede. Esses profissionais poderão esclarecer as necessidades de crianças e jovens e sugerir, ao professor, alternativas para o atendimento dessas necessidades. Na perspectiva da Educação inclusiva, os apoios centrais reúnem os serviços da Educação especial e o Atendimento Educacional Especializado (AEE). São esses os novos recursos que precisam ser incorporados à escola. O aluno tem direito de frequentar o AEE no período oposto às aulas. O sistema público tem organizado salas multifuncionais ou salas de apoio, na própria escola ou em instituições conveniadas, com o objetivo de oferecer recursos de acessibilidade e estratégias para eliminar as barreiras, favorecendo a plena participação social e o desenvolvimento da aprendizagem. Art. 1º. Para a implementação do Decreto no 6.571/2008, os sistemas de ensino devem matricular os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE), ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em centros de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos; Art. 2º. O AEE tem como função complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem; Parágrafo Único. Para fins destas Diretrizes, consideram-se recursos de acessibilidade na Educação aqueles que asseguram condições de acesso ao currículo dos alunos com deficiência ou mobilidade reduzida, promovendo a utilização dosmateriais didáticos e pedagógicos, dos espaços, dos mobiliários e equipamentos, dos sistemas de comunicação e informação, dos transportes e dos demais serviços. (CNB/CNE, 2009). Ainda que não apresente números consideráveis, a inclusão tem sido incorporada e revela ações que podem ser consideradas práticas para apoiar o professor. Ter um segundo professor na sala de aula, é um exemplo, seja presente durante todas as aulas ou em alguns momentos, nas mais diversas modalidades: intérprete, apoio, monitor ou auxiliar. Esse professor poderá possuir formação específica, básica ou poderá ser um estagiário. A participação do professor do AEE poderá ocorrer na elaboração do planejamento e no suporte quanto à compreensão das condições de aprendizagem dos alunos, como forma de auxiliar a equipe pedagógica. Outra atividade evidenciada pela prática inclusiva para favorecer o educador é a adoção da práxis - no ensino, nas interações, no espaço e no tempo - que relacione os 38 diferentes conteúdos às diversas atividades presentes no trabalho pedagógico. São esses procedimentos que irão promover aos alunos a possibilidade de reorganização do conhecimento, à medida que são respeitados os diferentes estilos e ritmos de aprendizagem. Vale ressaltar que a Educação inclusiva, como prática em construção, está em fase de implementação. São muitos os desafios a serem enfrentados, mas as iniciativas e as alternativas realizadas pelos educadores são fundamentais. As experiências, agora, centralizam os esforços para além da convivência, para as possibilidades de participação e de aprendizagem efetiva de todos os alunos5. 7 PROCEDIMENTOS PARA REAVALIAÇÃO PEDAGÓGICA E/OU PSICOLÓGICA 7.1 A Avaliação Pedagógica O termo avaliação nos remete automaticamente ao processo de ensino e aprendizagem porque se constituem em articulações indissociáveis e inquietantes na práxis pedagógica dos docentes. Embora a pedagogia contemporânea defenda uma concepção de avaliação escolar como instrumento de emancipação, no cotidiano escolar prevalece ainda nas práticas avaliativas, uma ênfase nas notas obtidas pelos alunos e não na sua aprendizagem. O uso dos resultados das avaliações encerra-se na obtenção e registro de símbolo do valor mensurável da aprendizagem do aluno. Estes símbolos podem ser conceitos ou notas que expressam o valor atribuído pelo professor, supostamente, referente ao aprendizado do aluno, encerrando-se aí o ato de avaliar que, como revela Luckesi (2005) o valor concedido pelo professor ao aprendido pelo aluno, é registrado e, definitivamente, o aluno permanecerá nesta situação, o que equivale a ele estar determinantemente classificado. 5 Texto extraído de: www.novaescola.org.br 39 Tal momento de avaliar a aprendizagem do aluno não deve ser o ponto de chegada, mas uma oportunidade de parar e observar se a caminhada está ocorrendo com a qualidade previamente estabelecida para esse processo de ensino e aprendizagem para retomar a prática pedagógica de forma mais adequada, uma vez que o objeto da ação avaliativa, no caso a aprendizagem, é dinâmico, e, com a função classificatória, a avaliação não auxilia o avanço e o crescimento para a autonomia. (LUCKESI, 2005) A discussão sobre a avaliação escolar está diretamente vinculada ao processo de ensino e aprendizagem, ou seja, à prática pedagógica do professor. Porém, muitos educadores percebem o processo em questão de modo dicotomizado: o professor ensina e o aluno aprende. No entanto, a avaliação deve ter como objetivo a qualidade da prática pedagógica do professor. A mesma é condição necessária para a construção da aprendizagem bem-sucedida do aluno e não para classificar ou discriminar, mas um parâmetro para a práxis educativa. Fonte: 4.bp.blogspot.com 40 Segundo Gasparin (2005), no trabalho pedagógico proposto pela pedagogia histórico-crítica, a avaliação da aprendizagem do conteúdo deve ser a expressão prática de que o aluno se apropriou de um conhecimento que se tornou um novo instrumento de compreensão da realidade e de transformação social. Deste modo, revela o autor que “a responsabilidade do professor aumentou, assim como a do aluno. Ambos são co-autores do processo ensino-aprendizagem” (p.2). Gasparin (2005) destaca também que a avaliação da aprendizagem na concepção dialética do conhecimento, é a manifestação de quanto o aluno se apropriou das soluções para a resolução dos problemas e das questões levantadas, ou seja, do conhecimento adquirido. O autor explica que na referida concepção dialética, a proposta pedagógica tem como primeiro passo, ver a prática social dos sujeitos da educação, a tomada de consciência sobre esta prática, levando professores e alunos a teorizar sobre a realidade. Isto possibilita passar do senso comum para os conhecimentos científicos e retornar à pratica social de origem com uma perspectiva transformadora desta realidade. Sendo assim, com o conhecimento teórico adquirido, o aluno vai atuar sobre seu meio social com um entendimento mais crítico, elaborado e consistente (GASPARIN, 2005). Os novos desafios do mundo contemporâneo exigem inovações didático- pedagógicas que possam contribuir para que a escola cumpra com seus objetivos de ensino e aprendizagem proporcionando um espaço repleto de possibilidades. Sendo a avaliação uma das etapas da atividade escolar, é necessário que esteja sintonizada com a finalidade do processo ensino e aprendizagem e como possibilidade de perceber nos sujeitos escolares suas fragilidades, seus avanços e desta forma, mediar o processo de apropriação do conhecimento e consequentemente, com a função social da escola que é a de promover o acesso aos conhecimentos socialmente produzidos pela humanidade a fim de possibilitar ao aluno condições de emancipação humana. Deste modo, a educação ofertada pela instituição escolar deve possibilitar o processo dialético de trabalho pedagógico para formar alunos autônomos em sua aprendizagem e em seu desenvolvimento humano, produtores de conhecimento crítico e significativo, conscientes e compromissados com a melhoria do seu meio social. 41 Para Gasparin (2005), o trabalho de todo o processo ensino e aprendizagem deve contribuir para transformar um aluno-cidadão em um cidadão mais autônomo. Inicialmente, este trabalho pedagógico exige um aluno que se aproprie dos conhecimentos científicos pela mediação do professor. Depois, ao término do período escolar, pressupõe-se que esse aluno apresente a condição de cidadão crítico e participativo, sem a presença e intermediação do professor, transportando os conceitos científicos apreendidos para a nova dimensão de sua vida. O processo de avaliação da aprendizagem deve ser praticado com esta perspectiva dialética do conhecimento, mas os critérios e procedimentos de avaliação muitas vezes não condizem com a realidade vivida pelo aluno no processo de construção do conhecimento, levando-o ao fracasso escolar. Vasconcellos (2005) propõe que o papel que se espera da escola é que possa colaborar com a formação do cidadão pela mediação do conhecimento científico, estético, filosófico. Para o autor, Os alunos, desde cedo, precisariam ser orientados para dar um sentido ao estudo; [...] na tríplice articulação entre compreender o mundo em que vivemos, usufruir do patrimônio acumulado pela humanidade e transformar este mundo, qual seja, colocar este conhecimento a serviço da construção de um mundo melhor, mais justo e solidário (p.69). O conhecimento deve ajudar a compreender o mundo e nele intervir sendo que a principal finalidade da avaliação no processo escolar é ajudar a garantir a formação integral do aluno pela mediação do conhecimento e da aprendizagem por parte de seus alunos. Esta concepção de avaliação exige uma mudança de posturado professor o qual deve investir suas potencialidades, não no controle do que foi transmitido e sim na aprendizagem dos alunos. Nesta concepção dialética, a forma de trabalho em sala de aula terá que sofrer mudanças. É preciso olhar para o que cada aluno já sabe e para suas reais necessidades e, isso significa olhar para a prática e para a teoria que sustenta essa prática, articulando-as com a dinâmica do trabalho em sala de aula. Superar os conteúdos desvinculados da prática social dos alunos e a metodologia passiva, uma vez que o professor, pela avaliação, vai acompanhar a construção da aprendizagem do aluno na perspectiva de superação do senso comum. Com uma concepção dialética da 42 educação, supera-se o sujeito passivo da educação tradicional, quanto o sujeito ativo da educação nova, em direção ao sujeito interativo (VASCONCELLOS, 2005). Hoffmann (1994) explica que a contradição entre o discurso e a prática de alguns educadores e sua ação classificatória e autoritária exercida, encontra explicação na concepção de avaliação do educador, reflexo de sua história de vida como aluno e como professor. Muitos professores reproduzem em sua prática pedagógica em sala de aula, influências de sua formação desenvolvida numa visão tradicional e classificatória da avaliação. Segundo Hoffmann (1994), as experiências que os futuros professores têm no seu processo de formação ditam suas posturas, posteriormente, na prática de sala de aula. Como relata a autora: “ensinou-se muito mais sobre como fazer provas e como atribuir médias, do que se trabalhou com o significado dessa prática em benefício ao educando e ao nosso próprio trabalho” (p.185). Fonte: antoniozai.files.wordpress.com A autora acima considera necessário que os professores tenham já na sua formação uma nova prática em termos de avaliação. Não basta receber uma série de conceitos bonitos relativos a avaliação de seus alunos, mas ser avaliado no esquema bem tradicional. Portanto, quem trabalha com a formação acadêmica dos nossos futuros professores, tem também um compromisso de mudar a prática de avaliação dos mesmos. 43 Segundo Vasconcellos (2005), deve-se avaliar para mudar o que tem que ser mudado. A avaliação deve ter efeito prático, ou seja, para o professor mudar a forma de trabalhar retomando conteúdos, explicando de outra maneira, mudando a forma de organizar o trabalho em sala de aula e dar atenção especial aos alunos que apresentam maior dificuldade; quanto à escola, proporcionar mais condições de estudo, criar espaço para recuperação, rever o currículo, incentivar a integração entre professores e desenvolver sempre alternativas para melhoria do processo de ensino e aprendizagem, envolvendo o coletivo escolar. Cabe à escola, buscar a socialização através das ações pedagógicas que desenvolve e realizar tarefas coletivas cuidando para que estas sejam desenvolvidas pelo grupo e não por um único componente. Nesse caso, é preciso ensinar os alunos a trabalhar individualmente e em grupos e a serem responsáveis na execução do seu trabalho. Tal procedimento faz com que os mesmos se sintam como partes integrantes de um grupo e de um contexto social mais amplo. Na concepção pedagógica tradicional a educação é concebida como mera transmissão e memorização de informações prontas e o aluno é visto como um ser passivo e receptivo. Nesta pedagogia a avaliação está diretamente associada ao fazer prova, fazer exame, dar notas, repetir ou passar de ano. As concepções contemporâneas priorizam a avaliação do processo de construção do conhecimento confirmando que esta avaliação se dá através de três momentos: síncrese, análise e síntese. O professor vai acompanhando a construção do aluno e percebendo o nível em que o mesmo se encontra (mais ou menos sincrético), bem como “as elaborações sintéticas, ainda que provisórias, possibilitando a interação na perspectiva de superação do senso comum” (VASCONCELLOS, 2005, p.72). Para explicar o exposto no parágrafo anterior dentro de um enfoque mais completo deste processo dialético, buscamos em Gasparin (2005), que é perfeitamente possível no atual momento histórico, relacionar uma nova cultura avaliativa da aprendizagem com o fazer pedagógico sugerido na proposta dialética de trabalho docente-discente que parte da prática, vai à teoria e retorna à prática. O trabalho pedagógico dentro da pedagogia Histórico-crítica, tem como ponto de partida a prática social inicial do conteúdo, onde o aluno é mobilizado a fazer a primeira 44 leitura da realidade, ou seja, um contato inicial com o tema a ser estudado, devendo perceber alguma relação entre o conteúdo e seu cotidiano, das suas relações sociais, cabendo ao professor respeitar os diferentes níveis de conhecimento que o aluno traz consigo à escola, ou seja, seu saber anterior considerado no momento de diagnóstico. Ao iniciar seu trabalho frente aos alunos, evidentemente o professor deve ter elaborado um planejamento de suas atividades, ter uma expectativa, no plano teórico, em relação ao aluno, como ele aprende, o que ele vai ensinar para que na prática, o professor busque uma coerência pedagógica, refletindo e discutindo com os mesmos. No segundo momento vem a problematização, fundamental para o encaminhamento de todo o processo de trabalho docente-discente, elemento chave entre a prática e a teoria, entre o fazer cotidiano e a cultura elaborada, iniciando o trabalho com o conteúdo sistematizado, confrontando-o com a prática social. A partir das questões levantadas nos passos anteriores, esse terceiro passo do método, a Instrumentalização, onde os alunos, sujeitos aprendentes e o objeto da sua aprendizagem e o objeto do conhecimento apresentado, são postos em recíproca relação através da mediação do professor que auxilia e orienta os alunos para que estes apropriem-se do conhecimento socialmente produzido e sistematizado para responder aos problemas levantados. É um dos pontos centrais do processo. Na sequência, quarto momento, temos a catarse, cuja operação fundamental é a síntese. O educando mostra que, de uma visão sincrética que o mesmo trouxe em relação ao conteúdo, agora ele pode concluir com uma síntese, no seu novo nível de aprendizagem (momento da avaliação que traduz o crescimento do aluno). Conforme as circunstâncias, a avaliação pode ser realizada de maneira informal ou formal, mas sempre devem ser levados em conta dois elementos básicos: os instrumentos e os critérios. Gasparin (2005) nos mostra que esse tipo de avaliação não ocorre apenas nessa fase, mas durante o transcorrer de todas as atividades. A catarse é a demonstração teórica do ponto de chegada. Daqui o aluno retorna à prática social, mas manifestando uma nova postura prática, uma nova atitude sobre o conteúdo e uma nova forma de agir. Uma prática social Final de Conteúdo, o qual é o quinto momento previsto neste método 45 pedagógico. A avaliação que permeia todo esse processo será para verificar o que o aluno aprendeu, para dar continuidade ou retomar o conteúdo, se for o caso. Vasconcellos (2005) explica que não há como abolir a avaliação, pois, neste caso, não se conheceriam as dificuldades do aluno, por não haver uma avaliação contínua do processo e o professor não teria como ajudá-los. Esclarece que é uma crítica ao uso corrente da prova num momento sacramentado e destacado, ou seja, desvinculada do processo ensino e aprendizagem. Fonte: educacaoinfantil.aix.com.br De acordo com Luckesi (2005), os professores elaboram suas provas para testar o conteúdo trabalhado com os alunos e não para auxiliá-los na sua aprendizagem. Explica que esse fato possibilita várias distorções, como ameaças, elaboração de itens descontextualizados dos conteúdos ensinados nas aulas, questões com um nível de complexidade maior do que aquele que foi trabalhadoem sala de aula, usa de linguagem incompreensível para os alunos, ou seja, os alunos não conseguem entender o que o professor pede no enunciado das atividades. 46 As pedagogias contemporâneas valorizam uma metodologia mais participativa onde a avaliação é concebida como experiência de vivência. Na relação dialética, presente na avaliação, o aluno confronta-se com o objeto do conhecimento que o levará a participação ativa, valorizando o fazer e refletir, sem medo de errar porque o erro, no processo ensino-aprendizagem, assume o caráter mediador. Assim, tanto o aluno como o professor podem rever sua trajetória para compreender e agir sobre o conhecimento e a avaliação não se reduz a apenas atribuir notas. Retomando Vasconcellos (2005), o autor faz a distinção entre avaliação e nota, mostrando que a primeira é um processo abrangente da existência humana, que implica uma reflexão crítica sobre a prática, para captar seus avanços, suas resistências, dificuldades e possibilitar uma tomada de decisão sobre o que fazer para superar os obstáculos. A nota, seja na forma de número, conceito ou menção, é uma exigência formal do sistema educacional. Mesmo que, um dia, não haja mais nota na escola, ou reprovação, certamente haverá necessidade de continuar existindo avaliação, como acompanhamento do desenvolvimento dos alunos ajudando-os em suas eventuais dificuldades. Para que isso um dia venha acontecer, em primeiro lugar, o professor não deve fazer uso autoritário da nota, e sim, através de novas práticas concretas, mostrar ao aluno que, se ele aprender, a nota virá como consequência. (VASCONCELLOS, 2005). Vasconcelos (2005) também esclarece que algumas questões relativas à recuperação de estudos, enfatizando que essa prática pedagógica, mais do que uma estrutura da escola, deve significar uma postura do professor no sentido de garantir a aprendizagem dos alunos. É importante que a recuperação aconteça no próprio ato de ensinar, quando o professor, a partir da análise dos erros, percebe a necessidade dos alunos. Caso não ocorra esta recuperação, o professor está se omitindo em sua tarefa primordial que é garantir a aprendizagem. A recuperação da aprendizagem deve traduzir- se na recuperação da nota, uma vez que, até o momento, existe nota. No início de cada ano letivo, o professor deve explicitar aos seus alunos, a metodologia a ser utilizada, o conteúdo a ser desenvolvido, seus critérios de avaliação que devem ser claros para favorecer os processos avaliativos que permitirão que a 47 avaliação tenha realmente uma função de feedback. Isto possibilita que as atividades didático-pedagógicas sejam desenvolvidas de maneira mais eficaz e positiva pelo professor. Neste sentido, a avaliação não será aplicada somente ao nível de aprendizagem do aluno, mas também ao aperfeiçoamento do ensino. Cabe ressaltar que a avaliação da aprendizagem escolar está relacionada a uma concepção de homem, de sociedade, ao Projeto Pedagógico da escola. No entanto, de modo geral, não se percebe a discrepância entre a proposta educativa teórica e a prática efetiva. Para superar esta contradição entre a concepção que fundamenta o trabalho do professor da Rede Pública Estadual de Ensino, a qual tem sua base no materialismo histórico dialético e entre a avaliação que se revela nas ações avaliativas implementadas nestas escolas, faz-se necessário uma reflexão crítica sobre a prática. A avaliação é um meio ou recurso para verificar se a aprendizagem ocorreu ou não. Ela está a serviço da prática pedagógica como um mecanismo social que busca superar as contradições existentes na sala de aula, tentando dar autonomia ao aluno. A pedagogia dos conteúdos socioculturais centrada na ideia de igualdade para todos no processo de educação e na compreensão que a prática educacional se faz pela socialização do conhecimento produzido pela humanidade, ao longo de sua história através da prática social, nos traz uma prática de avaliação condizente com o novo modelo social. Propõe a superação do autoritarismo exigindo a participação democrática de todos. A avaliação educacional serve como um mecanismo de diagnóstico da situação visando o avanço e o crescimento e possibilita ao aluno condições de emancipação humana. (LUCKESI, 2005, p.31) Hoffmann (1996) esclarece: “entendo que a avaliação, enquanto relação dialógica vai conceber o conhecimento como apropriação do saber pelo aluno e pelo professor, como ação-reflexão-ação que se passa na sala de aula em direção a um saber aprimorado, enriquecido, carregado de significados, de compreensão”. (p.148). Esta autora esclarece que, o diálogo, entendido a partir dessa relação epistemológica não é obrigatoriamente uma conversa verbalizada entre professor e aluno. Ele é mais amplo e complexo. É uma reflexão em conjunto com o aluno sobre o objeto do conhecimento, para encaminhar-se à superação. Isto significa desenvolver uma relação dialógica, teórico-prática, fundamental na avaliação mediadora. 48 Para Vasconcellos (2005), o processo de conquista de conhecimento de forma dialógica, supera o senso comum deformado a respeito da avaliação, mas para se concretizar uma transformação é preciso envolver todo o coletivo escolar. Os professores devem investir para criar uma nova mentalidade junto aos alunos, aos demais educadores e aos pais. Os pais e alunos precisam encontrar o mesmo tipo de postura por parte de cada professor e dos demais profissionais que atuam na escola. Os critérios utilizados na avaliação devem ser conhecidos anteriormente pelos pais e alunos. A escola deve privilegiar espaços para que estes critérios sejam sempre rediscutidos, aclarados e concretizados. A garantia da aprendizagem na escola é um direito dos alunos e a garantia deste direito requer condições objetivas para que a escola cumpra sua função de ensinar conhecimentos sistematizados reconhecidos culturalmente como importantes à sociedade. Fonte: aprender.buzzero.com Entre estas condições está a busca de ações coordenadas do coletivo escolar, criando espaços para o redimensionamento da prática avaliativa estruturada a partir de 49 um embasamento teórico adequado pelos professores. Só assim, estes poderão aliar teoria à prática de forma efetivamente positiva. Recorrendo aos documentos legais da área educacional, encontramos nas Novas Diretrizes Curriculares Estaduais da Educação Básica (2007), que a avaliação da aprendizagem está articulada com a concepção metodológica dialética do processo educativo e apontam para um conhecimento mais apurado da metodologia dialética do conhecimento, já citada anteriormente nesta unidade, como também, um pensar e efetivar a avaliação da aprendizagem de forma democrática e emancipadora. Mesmo apresentando uma abordagem específica para cada disciplina do conhecimento, traz recomendações aos professores quanto ao encaminhamento para que todos os alunos aprendam e participem mais das aulas, traz ainda critérios e instrumentos variados, selecionados de acordo com cada conteúdo e objetivo6. 7.2 Avaliação da Aprendizagem em Educação Especial: Questões Conceituais A avaliação da aprendizagem escolar é um tema complexo, por implicar a construção de valores culturais que permeiam o cotidiano das escolas. Pode influenciar o futuro escolar dos alunos, acarretando mudanças substanciais nos modos de enfrentamento das diferentes situações do contexto educacional. Sacristán (idem, p. 298) conceitua a ato de avaliar como: [...] qualquer processo por meio do qual alguma ou várias características de um aluno/a, de um grupo de estudantes, de um ambiente educativo, de objetivos educativos, de materiais, professores/as, programas, etc., recebem a atenção de quem avalia, analisam-se e valorizam-se suas características e condições em função de alguns critérios ou pontos de referênciapara emitir um julgamento que seja relevante para a educação. Por essa perspectiva, os resultados das avaliações só têm valor se orientarem os docentes no planejamento educacional. Portanto os critérios e a metodologia, ao expressarem os objetivos curriculares desenhados pelo Projeto Político Pedagógico da escola, poderão ser avaliados e modificados em curso (Sacristán, 1998). Outros autores, 6 Texto extraído de: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br 50 entre eles Depresbiteris (1994), Souza (1994), Perrenoud (1999), Luckesi (1995, 1998, 2011) e Fernández (2002), adensam as reflexões sobre os assuntos em tela, auxiliando o professor na construção de estratégias de avaliação da aprendizagem para utilizá-las como subsídios para aperfeiçoar o currículo escolar, favorecendo o sucesso acadêmico dos alunos. Nesse contexto, a avaliação tem sido empregada com a finalidade de diagnosticar, planejar e verificar o desempenho acadêmico do aluno, com observância ao que ele conseguiu aprender em seu percurso acadêmico. No entanto, os encaminhamentos, as práticas para atingir os referidos objetivos orientam-se com base nas concepções teóricas dos diferentes tipos de currículos assumidos no projeto político pedagógico da escola. Souza (1994, p. 44) afirma que “[...] há tendência em conceber a avaliação como processo de julgamento do desempenho do aluno em face dos objetivos educacionais propostos”. Após análise realizada sobre as principais teorias que abordam o assunto, a autora identificou que o modelo de avaliação subjacente a elas pauta-se na proposta de Ralph Tyler (1981), para quem a avaliação tem como objetivo provocar mudanças de comportamento, e concluiu que há tendência em caracterizá-la como: atividade mais ampla do que medir aprendizagens, por envolver várias etapas do trabalho acadêmico, desde o planejamento até a apreciação dos resultados obtidos; processual, com a utilização de vários procedimentos e instrumentos; tem a função de diagnosticar, retroinformar para interferir no planejamento, envolvendo todos os profissionais da escola e familiares dos alunos. A aprendizagem é um processo complexo, o qual articula dimensões cognitivas, afetivas e sociais. Trata-se de processo interno do sujeito, movimentando-o para a apropriação do conhecimento. Isso implica a transformação tanto do aluno quanto do objeto a ser conhecido. Portanto a avaliação da aprendizagem requer atenção para a organização do ambiente, das relações sociais estabelecidas no ensino e das ações intencionais do professor na elaboração do trabalho didático. Com base nessa perspectiva e nas argumentações de Sacristán (1998) e Luckesi (1998, 2011), assumimos a avaliação processual por considerá-la eficaz para a aprendizagem dos alunos que estão em situação de fracasso escolar, como é o caso da 51 maioria daqueles identificados com deficiência intelectual. Ela nos possibilita conhecer as características dos estudantes, dos ambientes, dos recursos humanos, dos materiais, das propostas curriculares que se articulam, potencializando ou limitando os processos de aprendizagem, e dos critérios que a priori são selecionados e admitidos como representativos para indicar sucesso ou fracasso da aprendizagem, bem como os significados que lhe são atribuídos para essa finalidade. O caráter contínuo dessa forma de avaliação oferece possibilidades de reflexão sobre a relação e/ou comunicação entre professor e aluno, favorecendo mudanças de atitudes, visando ao aperfeiçoamento e à construção de metodologias mais próximas das possibilidades de aprendizagem dos estudantes. A avaliação da aprendizagem só funcionará bem se houver clareza do que se deseja (projeto-político-pedagógico), se houver investimento e dedicação na produção dos resultados por parte de quem realiza a ação (execução) e se a avaliação funcionar como meio de investigar, e se necessário intervir na realidade pedagógica, em busca do melhor resultado. Sem esses requisitos, a prática pedagógica permanecerá incompleta e a avaliação da aprendizagem não cumprirá o seu verdadeiro papel. (Luckesi, 2011, p. 177) Fonte: revistaeducacao.com.br 52 Luckesi (1995 e 2011, p. 35), ao considerar a função orientadora do diagnóstico na avaliação da aprendizagem, afirma que essa prática favorece o desenvolvimento de autonomia e competências de aprendizagem por constituir-se em “[...] momento dialético de ‘senso’ do estágio em que se está e de sua distância em relação à perspectiva que está colocada como ponto a ser atingido à frente”. Nesse sentido, valorizam-se a gestão da aula, os limites e as possibilidades dos alunos. No âmbito da educação especial, em linhas gerais, a avaliação da aprendizagem tem sido empregada para fins de identificação da deficiência e encaminhamento para serviços especializados, com base no critério do “não aprender”, indicando o sucesso ou fracasso escolar. Anache (2012, 2011) explicita que as avaliações no âmbito da educação especial, sobretudo de alunos com deficiência intelectual, na maioria das situações reduzem-se à impossibilidade gerada pela condição da deficiência, e não às possibilidades de aprendizagens do aluno. Do mesmo modo, Pletsch e Glat (2012), ao problematizarem o processo de escolarização desses alunos no estado do Rio de Janeiro, informam que prevalece o modelo clínico de diagnóstico como guia para as práticas educacionais. Szymanski e Pellizzetti (2009), ao realizarem pesquisas sobre os dilemas para avaliar o conhecimento na escola por meio de estudo de caso de um aluno com deficiência intelectual, afirmam que os professores desse aluno se demonstraram inseguros quanto à escolha de metodologias de avaliação adequadas para a finalidade. Valentim (2011), ao aplicar o referencial curricular sobre a avaliação da aprendizagem na área da deficiência intelectual do estado de São Paulo, a fim de examinar o processo de aprendizagem de língua portuguesa ministrada por três professores, conclui que a avaliação processual se tem mostrado eficaz por considerar as diferentes respostas dos alunos no curso das atividades desenvolvidas durante as aulas, bem como a efetividade do planejamento educacional construído para aquele grupo de alunos, permitindo, com isso, mudanças que privilegiam o aprendizado dos envolvidos. Ao analisar a situação da escola inclusiva no Brasil, Heredero (2010) contribui nessa direção quando propõe a adaptação do currículo com observância à construção de estratégias e recursos que viabilizem a escolarização do aluno com deficiência. Para isso, é essencial que haja adequações dos processos de avaliação e o estabelecimento 53 de critérios ou mesmo indicadores de sucesso ou fracasso do público-alvo da educação especial. Briant e Oliver (2012) também recomendam investimentos dessa natureza, como na formação continuada de docentes, para o aprofundamento da avaliação educacional desses alunos. Bridi (2012) reafirma a necessidade de investimentos na formação docente e assevera que, em sua pesquisa, as professoras participantes apresentam dificuldades para realizar a avaliação inicial de caráter pedagógico dos alunos no contexto do AEE. O autor sinaliza como consequência a decisão sobre a frequência do aluno nesse serviço, bem como sua inserção em uma das categorias do Censo Escolar MEC/INEP (Brasil, 2011b). Esse trabalho ainda constata situações em que os professores incluem, em seus atendimentos, alunos com dificuldades de aprendizagem, mas que não são diagnosticados com deficiência intelectual. Esses não se contabilizam nas estatísticas oficiais. A avaliação da aprendizagem escolar de alunos com deficiência intelectual é um tema complexo em virtude de ocultar a fragilidade da compreensão sobre as possibilidades de aprendizagem dessas pessoas, além de inseri-las em um espaço
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