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1 CEDERJ - CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO MATERIAL DIDÁTICO IMPRESSO CURSO: Administração DISCIPLINA: Orçamento, Estrutura e Custo de Capital CONTEÚDISTA: Kátia de Almeida e Marcelo Alvaro da Silva Macedo AULA 12 – Módulo 2 Ruptura de Empresas META DA AULA Nesta última aula, vamos lidar com decisões necessárias quando a empresa apresenta problemas de descontinuidade ou ruptura (falências, concordatas etc.), procurando analisar e identificar as dificuldades financeiras com base em balanços e em fluxo de caixa, mostrando assim ações pró-ativas que devam ser implementadas para administrar empresas em dificuldades financeiras. OBJETIVOS Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: • Entender o conceito de dificuldades financeiras; • Identificar a natureza das dificuldades financeiras; • Compreender os tipos e as principais causas da ruptura de empresas; • Identificar as possíveis soluções para as dificuldades financeiras. PRÉ-REQUISITOS Para que você encontre maior facilidade na compreensão dessa aula, é importante que faça uma revisão dos principais conceitos da disciplina Análise das Demonstrações Contáveis e Fundamentos de Finanças. 1. INTRODUÇÃO Uma empresa pode quebrar porque seus resultados são negativos ou baixos. Uma organização que sistematicamente apresenta prejuízos operacionais acabará sofrendo queda de valor de mercado. Se deixar de obter uma taxa de retorno superior a seu custo de capital, pode-se dizer que ela quebrou. Retornos negativos ou baixos, a menos que corrigidos, tenderão a resultar, eventualmente, em falência. devinhoklan@hotmail.com Highlight 2 A causa primordial de quebra de empresas é a má administração, responsável por mais de 50% casos. Diversos erros específicos de gestão podem levar uma empresa a quebrar.Expansão excessiva, más decisões financeiras, organização de vendas ineficaz e altos custos de produção podem, individualmente ou em conjunto, causar a quebra. Por exemplo, más decisões financeiras incluem decisões de investimentos incorretas (usar previsões de vendas e custos pouco realistas, deixar de identificar todos os fluxos de caixa relevantes ou de medir o risco adequadamente), avaliação financeira deficiente dos planos estratégico da empresa antes de assumir compromissos financeiros, planejamento de fluxo de caixa inadequado ou inexistente e falta de controle de contas a receber e estoques. Por exemplo, a maior falência de todos os tempos, a da Enron Corporation, no início de 2002, foi em grande parte atribuída a sociedades questionáveis montadas por Andrew Fastow, seu diretor financeiro. Essas sociedades destinavam-se a esconder as dívidas da Enron, inflacionar seus lucros e enriquecer os altos executivos. No fim de 2001, as transações explodiram, fazendo com que a empresa entrasse com pedido de falência, e resultaram em ações penais contra seus principais executivos, bem como contra sua firma de auditoria, a Arthur Andersen, por deixarem de divulgar com exatidão a situação financeira da Enron. Como exemplo de outras grandes empresas que enfrentaram dificuldades financeiras tem-se: as americanas Texaco, Continental Airlines, Eastem Airlines, Pan Am, Revco, AT&T, Xerox, Gilette, Apple, Motorola, Planet Hollywood; Nestcape, General Motors, Ford; as japonesas Mazda, Nissan; a canadense Canadian Airlines; as coreanas Kia Motors, Samsung; o Fundo de Pensão dos Funcionários da Rússia, as italianas FIAT, Ferrovie dello Stato e Parmalat, e assim por diante. Dentre as brasileiras: Mesbla; Mappin, Hermes Macedo, Casa Santos, Disapel, Albarus, Artex, Bamerindus, Nacional, Econômico, Brinquedos Estrela, Chapecó, Dedini, Eberle, Freios Varga, Inpacel, Metal Leve, Perdigão, Pullman Alimentos, Serrana Cimentos, Tupy, Hansen, Vera Cruz Seguradora, Varig, VASP, Transbrasil e tantas outras. 2. CONCEITO DE DIFICULDADES FINANCEIRAS Conceituar dificuldades financeiras apropriadamente é difícil porque existem inúmeros fatores que concorrem para que elas ocorram: econômicos, financeiros, contábeis e legais. As dificuldades surgem quando as saídas de caixa são superiores às entradas, ou seja, quando o fluxo de caixa é insuficiente para cobrir as obrigações atuais com fornecedores, empregados, governo, instituições financeiras. Logo, dificuldades financeiras são situações pelas quais passa uma empresa cujos fluxos de caixa operacionais são insuficientes para atender os compromissos financeiros nas datas de vencimentos e/ou o valor de seus ativos é insuficiente para cobrir seus débitos junto a credores. As dificuldades financeiras começam a ser percebidas mediante uma série de sinais como: atrasos de pagamentos, prejuízos, reduções de dividendos, fechamento de instalações, dispensa de pessoal, mudanças de diretores e queda de preço das ações. A incapacidade de pagar seus compromissos operacionais leva a empresa a aumentar suas dívidas junto a fornecedores, governo (impostos) etc. devinhoklan@hotmail.com Highlight devinhoklan@hotmail.com Highlight devinhoklan@hotmail.com Highlight devinhoklan@hotmail.com Highlight devinhoklan@hotmail.com Highlight devinhoklan@hotmail.com Highlight 3 3. NATUREZA DOS PROBLEMAS FINANCEIROS Sob a óptica da teoria da administração financeira, o principal objetivo de uma empresa é maxirnizar a riqueza de seus proprietários. Esse objetivo e compartilhado com outros simultaneamente almejados, tais como propiciar poder e prestígio aos proprietários, satisfazer a necessidades sociais, suprir meios de sobrevivência e perpetuação à tecnoestrutura etc. Sob qualquer óptica, para uma empresa atender a seus objetivos, necessita gerar lucros e recursos internos crescentes, aproveitando oportunidades de crescimento em uma perspectiva de longo prazo. Uma empresa em crescimento evidencia entre outras as seguintes características: • Proporciona lucros e recursos internos crescentes. • Reinveste uma proporção dos recursos gerados em ativos fixos, aquisição de tecnologia e capital de giro. Para isso, procura identificar e realizar novas oportunidades de investimento que ofereçam taxas de retomo superiores ao custo de capital. • A empresa pode ou não utilizar recursos de terceiros, em maior ou menor proporção, dependendo da propensão ao risco dos proprietários, em face das alternativas disponíveis. Na situação inversa, à medida que uma empresa declina, é comum evidenciar os fatos a seguir ilustrados: • Lucros baixos relativamente ao investimento, ou decrescentes, com vendas estáveis ou decrescentes. • Não investe em novas oportunidades de investimento, por não serem identificadas, não gerar internamente os recursos necessários e, ainda, por defrontar-se com restrições externas de capital. • Baixos lucros transformam-se em prejuízos sucessivos, com déficits de caixa operacionais, que são cobertos por redução no capital de giro líquido, desinvestimentos, atrasos de obrigações de longo prazo, ou aporte de capital próprio. A tendência é que os prejuízos acumulados reduzam o patrimônio líquido, que pode tomar-se negativo; na situação extrema, ocorre a paralisação ou falência. A questão relevante ao diagnóstico da situação é que muitas vezes os movimentos de crescimento ou declínio de uma empresa não ocorrem com tendência nítida. Nas fases de crescimento, é possível ocorrer retrocessos e nas de declínio, recuperação temporária de margens de rentabilidade. Para efeito ilustrativo, os Quadros 1 e 2 contém duas seqüências de balanços patrimoniais que representam hipóteses de situações opostas de crescimento e declínio de uma empresa. devinhoklan@hotmail.com Highlight devinhoklan@hotmail.com Highlight devinhoklan@hotmail.com Sticky Note parei 4 QUADRO 1 – EMPRESA EM CRESCIMENTO Fonte: Santos, (2.000, pg 126) QUADRO 2 – EMPRESA EM DECLÍNIO Fonte:Santos, (2.000, pg 127) Uma das finalidades do diagnóstico empresarial é avaliar as possibilidades de serem ou não atingidos os objetivos traçados para a empresa. Para esse propósito, convém 5 diferenciar enfoque econômico de enfoque financeiro. O primeiro refere-se à rentabilidade dos recursos dos acionistas e do capital total investido, enquanto o segundo a aspectos decorrentes do dimensionamento das necessidades financeiras e da forma pela qual são as mesmas atendidas. A análise financeira, é efetuada observando-se o comportamento passado e antecipando possibilidades futuras. Considerem-se os seguintes indicadores para avaliar a situação financeira de uma empresa: Análise retrospectiva por meio de índices de balanços a. Índices de liquidez, a exemplo da liquidez corrente (AC/PC), que revela a quantidade de recursos realizáveis do ativo circulante, para cada $ 1 de dívidas a vencer no decorrer do exercício financeiro seguinte. Sua interpretação ignora o ciclo financeiro da empresa. b. Índices de solvência, que relacionam em dado momento o valor patrimonial do ativo ao saldo das obrigações a pagar. A principal restrição é que consideram saldos contábeis históricos quando somente teriam sentido econômico se fossem obtidos com base em fluxos de caixa futuros trazidos a valor presente. Análise prospectiva mediante o uso de projeções financeiras a. A situação financeira é analisada sob uma perspectiva de longo prazo, levando em conta uma proporção dos recursos gerados pelas operações, estimados por meio de projeções de caixa, convencionalmente denominada capacidade de pagamento. Tem o propósito de avaliar a capacidade de uma empresa resgatar empréstimos e financiamentos de longo prazo sem comprometimento de outros objetivos a exemplo da realização de investimentos de reposição e pagamentos de dividendos e gratificações, se a empresa for neste caso, lucrativa. b. Sob a óptica da capacidade de manter compromissos em dia, em uma visão de gestão de caixa de curto prazo. Nesse caso, incluem-se captações e resgates de empréstimos de curto prazo, assim como qualquer movimentação financeira necessária para manter equilíbrio entre pagamentos e recebimentos. Quando se caracterizam dificuldades permanentes com tendência a tornarem-se crônicas, há uma convergência para a deterioração da situação financeira observada sob qualquer das ópticas explicitadas, sendo oportuno caracterizar como feito a seguir a intensidade dos problemas financeiros. Um primeiro conceito é o de impontualidade, que corresponde à situação em que as obrigações são pagas com atrasos, variando a gravidade em função dos montantes, da freqüência e das ocorrências de protestos. À medida que uma empresa se torna progressivamente impontual, pagando grande parte de seus compromissos em cartório - obtendo folga no fluxo de caixa e juros de mora reduzidos - passa a sofrer restrições por parte de seus fornecedores e demais credores. Quando os débitos, mesmo protestados, deixam de ser pagos, a conseqüência que se pode esperar são cobranças judiciais e requerimentos de falência. No aspecto referente à liquidez, é possível haver bens realizáveis cujos valores superam às exigibilidades de curto prazo, mas, por uma razão qualquer, não são vendidos em tempo, originando impontualidade. O desajuste pode ser ocasional ou indicativo de problemas graves no ciclo financeiro, se, persistentemente, os prazos de recebimento superam os de pagamento. 6 Por fim, insolvência, do ponto de vista contábil, representa a situação em que o valor do ativo é inferior ao do passivo, ou seja, o patrimônio líquido da empresa é negativo. Em termos econômicos, ocorre insolvência quando o valor presente do fluxo de caixa operacional, descontado à uma taxa que reflita o custo de capital, é inferior ao valor presente das obrigações a pagar. Esse resultado final exprime o conceito mais importante e depende das receitas e despesas futuras resultantes do conjunto de condições de funcionamento do negócio. Logo, uma empresa pode ser solvente contábil ou economicamente e, ainda assim, apresentar problemas de liquidez e impontualidade habitual. Inversamente, é possível a uma empresa ser pontual enquanto insolvente, dispondo de crédito ou administrando apropriadamente seus direitos e obrigações. Acresça-se que uma empresa pode ser solvente sob qualquer aspecto, pontual na quase totalidade de seus pagamentos, mas acumular expressivos atrasos no banco que, por exemplo, financiou uma expansão ou modernização. Finalmente, pode evidenciar liquidez e pontualidade, mas não apresentar valor econômico significativo, situação em que deixaria de ser atrativa aos sócios que a constituíram, visando obter rentabilidade satisfatória de seu capital. Como conseqüência, os conceitos explicitados devem ser utilizados e interpretados à luz dos interesses que motivam a análise. À medida que aumentam os índices de endividamento de uma empresa, deteriora- se sua situação patrimonial e, no extremo, o patrimônio líquido toma-se progressivamente negativo. Ainda que todos os fatos contábeis tenham sido registrados de acordo com os princípios gerais da contabilidade, é possível que a situação real seja mais desfavorável do que a espelhada nas demonstrações. Mesmo que as obrigações originadas de contratos formais reflitam as verdadeiras exigibilidades, no ativo, bens integrantes do imobilizado tendem a apresentar baixa liquidez. Essa divergência acentua-se à proporção que aumenta a especialização desses ativos, sejam os mesmos irremovíveis ou removíveis somente com perdas significativas. Além dos fatos descritos, é possível ocorrer que uma empresa ostente contabilmente situação melhor do que a verdadeira, usando artifícios ou fraudes, destinados a melhorar a situação patrimonial aparente, a exemplo dos seguintes: • Superavaliação contábil do ativo imobilizado, devido a reavaliações suspeitas ou contabilizando depreciações abaixo das taxas normais sem justificativa. • Estoques superavaliados, devido a erros quantitativos ou avaliados com base em preços superiores aos de mercado. • Investimentos ou créditos a receber sem considerar provisões para perdas. • Insuficiência de contabilização de encargos financeiros. • Falta de registro ou de atualização de dívidas. • Não contabilização de obrigações trabalhistas exigíveis, de multas a serem pagas por contratos não cumpridos e de obrigações tributárias em atraso. Pode-se concluir que, à proporção que se agravam as dificuldades financeiras de uma empresa, seu patrimônio líquido real tende a ser inferior ao mostrado pelo saldo contábil. É oportuno destacar que resultados financeiros desfavoráveis muitas vezes são acompanhados de inúmeras práticas gerenciais desaconselháveis que minam progressivamente. 7 3.1 Causas da Insolvência As causas das dificuldades financeiras relacionadas pela maioria dos autores são bastante amplas. Em termos gerais, os vários motivos dos problemas de uma empresa podem ser agrupados em duas principais categorias: os fatores internos, surgidos tão- somente dentro da empresa, e os fatores externos, que ocorrem em virtude do efeito de várias forças externas. Fatores internos a. Capacidade gerencial deficiente - a principal causa do surgimento das dificuldades, geralmente é inadequada tomada de decisões, decorrente de incapacidade gerencial. Uma boa capacidade gerencial reduz o risco da insolvência adotando posicionamentos estratégicos que fortalecem a situação econômico-financeira da empresa; b. Controle financeiro - pode ser apontada como a segunda razão mais comum para a falência de empresas e está diretamente relacionada com o gerenciamento deficiente; c. Concentração num único projeto ou num único cliente - é bastante provável que uma empresa comece a experimentar dificuldades de pagamento ao assumir um projeto grande e único, ou mesmo quando se torna extremamente dependente de um único cliente ou fornecedor;d. Outros fatores internos - custos altos, estoques altos, estágio de maturidade da empresa, estrutura de capital inadequada; má distribuição de produtos, má gestão de crédito; sucateamento de ativos; vendas mal gerenciadas. Fatores externos a. Conjuntura econômica - é um dos fatores que pode causar a insolvência da empresa. Num período de recessão a concorrência entre as empresas se acentua e as dificuldades financeiras podem emergir em função de empresas pouco capitalizadas, vendas estagnadas ou declinantes e baixas margens de lucro. Nesses casos, o cancelamento de um pedido ou um atraso no pagamento por um grande cliente pode deixar a empresa em sérias dificuldades financeiras ou até mesmo levá-Ia à falência; b. Conjuntura política - mudanças radicais nas forças políticas do país podem provocar grandes instabilidades sociais advindas de adoção de diferentes políticas tributárias, fiscal, de rendas, agrária, de exportações, dentre outras, que poderão influir decisivamente nos custos e nas vendas principalmente, podendo determinar recuperações ou falência 3.2 Evidências de Dificuldades Financeiras Existem alguns fatores que podem evidenciar que uma empresa está com dificuldades financeiras, tais como: • Ações judiciais em andamento - por falta de não cumprimento de obrigações previstas em contratos e para evitar incorrer em perdas, potenciais ou prejudicados de fato, acionam a empresa judicialmente; 8 • Aumento de endividamento - os balancetes apresentam um aumento no total de empréstimos contraídos, tais como uso do limite de conta garantida, bem como outras modalidades de empréstimos junto a bancos e terceiros, inclusive empréstimos feitos por diretores; • Avisos de protestos - por falta de pagamentos pontuais, os credores mandam para cartórios de protestos de títulos as contas da empresa, a qual terá que pagar dentro de um determinado prazo, sob pena de incorrer em risco de pedido de falência; • Diminuição do patrimônio líquido - uma empresa que se encontre em dificuldades financeiras provavelmente apresentará um nível significativamente declinante de patrimônio líquido. Uma companhia em maiores dificuldades financeiras conseqüentemente exibirá um nível de endividamento de curto prazo aumentando muito, o que indica que a empresa poderá não ser capaz de saldar seus compromissos à medida que eles forem vencendo; • Elevadas despesas financeiras - o aumento excessivo do endividamento e a difícil situação financeira agravam as dificuldades de crédito, tornando as linhas de financiamento cada vez mais caras e escassas; • Mudança de banco/auditores - os bancos afirmam que existe uma proporção muito mais alta de falência entre clientes que recentemente tenham mudado de bancos, quando comparados com aqueles que não mudaram. Considerações semelhantes podem ser aplicáveis a empresas que mudam de auditores, em particular nos casos em que tal mudança tenha sido ocasionada por discordâncias em relação a duvidosas práticas contábeis ou devido a algum relatório de auditores qualificados; • Perda de fatia de mercado - um aumento em vendas pode não necessariamente significar que tudo esteja bem com a empresa, quando em contrapartida seus concorrentes estiverem com suas taxas de crescimento em alta e; portanto, estiverem incrementando velozmente suas fatias de mercado; • Perda de reputação junto aos clientes: a empresa poderá estar perdendo vendas e clientes devido a um declínio na qualidade de fornecimento de seus produtos ou serviços, ou mesmo devido à queda de qualidade da assistência pós-venda; • Queda de lucratividade - se os balancetes da empresa demonstram um aumento de vendas, mas, por outro lado, apresentam um decréscimo nas margens de lucro bruto, a empresa poderá estar tentando comprar uma fatia do mercado como forma de adiar sua inevitável falência. Em termos gerais, um decréscimo em lucro bruto geralmente indica uma falência em potencial, particularmente nos casos em que também exista uma tendência de redução nos lucros líquidos ou no caso dos prejuízos se mostrarem continuamente presentes nos balancetes mais recentes; • Queda nas vendas - este é um dos fatores que mais preocupam aqueles que são responsáveis pela saúde econômico-financeira das empresas. A queda nas vendas pode ser o primeiro sintoma de um quadro mais grave: sucateamento de máquinas e equipamentos, defasagem tecnológica, falta de motivação dos vendedores, excesso de endividamento, custos muito altos, dentre outros; 9 • Rotatividade de funcionários importantes - a alta rotatividade de membros da Administração em qualquer nível poderá ser um indicativo de problemas, particularmente no caso de tais membros da Administração serem importantes funcionários; • Perda de crédito - por não cumprir em dia seus compromissos, a empresa tem sua imagem deteriorada implicando redução e/ ou eliminação de linhas de créditos junto a bancos e fornecedores; • Troca de diretores - a busca de culpados, a pressão por resultados impossíveis, as discordâncias de idéias, a tentativa de soluções inovadoras, o desespero, dentre outros fatores, costumam gerar um clima onde a troca de diretores é constante. É fundamental a identificação das causas dos problemas, visando determinar a viabilidade de ações corretivas, que podem envolver a participação dos donos do negócio, de bancos financiadores e demais credores. Os problemas podem ter se originado de gestão ineficiente da empresa, ou, ainda, de outras causas, atribuíveis na maior parte a fatores externos, imprevisíveis ou independentes de ações de seus administradores. O conhecimento dessas causas influi na própria disposição das diversas partes envolvidas em contribuir na busca de soluções para os problemas da empresa, com a finalidade de minimizar perdas prováveis, ou explorar a capacidade potencial dos ativos, visando remunerar seus investidores, em capital de risco ou de empréstimo. Os problemas financeiros de uma empresa agravam-se, em geral, paulatinamente, devido a um ou mais eventos ocorridos anos antes. A deficiência gerencial, comumente, é considerada a causa mais comum e mais importante que leva uma empresa a crescentes dificuldades financeiras. As várias causas de problemas podem ser agrupadas em duas principais categorias: surgidas unicamente dentro da empresa resultantes de descontrole gerencial, e causas decorrentes de fatores externos. Com freqüência, o desempenho declinante poderia ser revertido, desde que fossem adotadas medidas corretivas, a exemplo de eliminação de produtos ou processos, vendas de ativos etc., que poderiam implicar menor tamanho ou menor utilização da capacidade instalada do empreendimento. Todavia, a dificuldade de implementar esse tipo de medidas decorre de que os administradores se envolvem demais com as dificuldades da empresa, perdendo objetividade. Quando o grau de dificuldades se torna extremamente grave, é comum inexistirem eleições claras de prioridades, criando-se nos proprietários ou administradores expectativas irrealistas e às vezes inconsistentes. A contratação de consultores externos e ou de novos administradores, pode ajudar nessas ocasiões. Todavia, não é incomum a busca de auxílio quando os negócios já se encontram em situação bastante complicada. Embora a relação anterior pareça bastante extensa, na verdade ela apresenta apenas alguns dos mais significativos fatores de insolvência. Existem outros e, à medida que os empresários vão convivendo com os negócios, vão aprendendo a reconhecê-Ios. Por uma questão de enfoque, não foram mencionados alguns fatores muito citados pelos empresários, tais como governo, crise, falta de capital de giro, custo Brasil, dentre outros. 3.3 Como Enfrentar as Dificuldades Financeiras Embora sejam extremamente desagradáveis e desconfortáveis as situações de insolvência; muitas empresas poderão ter que passar por elas, e sendo assim, é bom que 10 estejam preparadas para enfrentá-Ias. Ross etal (2002) dizem que as empresas enfrentam as dificuldades financeiras de vários modos, tais como: 1. Fazendo fusões, aquisições ou cisões; 2. Buscando novas linhas de financiamento; 3. Desmobilizando; 4. Negociando com bancos e outros credores; 5. Reduzindo custos; 6. Reduzindo investimentos; 7. Reduzindo gastos com pesquisa e desenvolvimento; 8. Substituindo diretores e gerentes; 9. Substituindo dívidas por ações. Os três primeiros itens relacionam-se aos ativos da empresa e os restantes dizem respeito ao passivo, e são exemplos de reestruturação financeira. As dificuldades financeiras podem envolver tanto reestruturação dos ativos quanto modificação da estrutura de capital. Uma reestruturação financeira pode ocorrer via solução negociada ou recuperação extrajudicial ou judicial. A Figura 1 mostra como as empresas operam sob dificuldades financeiras. Elas podem ou não efetuar uma reestruturação financeira. Se efetuarem, poderão partir para soluções negociadas ou para recuperações. No caso de recuperações, as empresas poderão se recuperar partindo para uma fusão, aquisição de outras empresas ou cisão e, caso não consiga se recuperar, terá sua falência decretada. FIGURA 1 – DIFICULDADES FINANCEIRAS, SOLUÇÕES NEGOCIADAS, RECUPERAÇÕES E POSSÍVEIS SOLUÇÕES Fonte: Lemes Júnior, 2005, pg:479. 11 4. RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL, RECUPERAÇÃO JUDICIAL E FALÊNCIA Nem todas as empresas, por mais bem administradas que sejam, são capazes de se manter indefinidamente. Todos os anos muitas empresas passam por dificuldades financeiras, quase sempre por uma série de fatores simultâneos. É importante para os administradores terem conhecimento das possibilidades e dos processos de reestruturação e liquidação, não só quando sua própria empresa estiver em dificuldades financeiras, mas também quando forem credores de outra empresa em tal situação. Seguindo este raciocínio, os administradores também devem conhecer os mecanismos que detectam dificuldades financeiras nas empresas. A lei de falências (Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005), trouxe significativas mudanças no tratamento das dificuldades financeiras. Seus principais objetivos são facilitar a recuperação da empresa em crise econômico-financeira, com a manutenção da fonte produtora e dos empregos, bem como aumentar a probabilidade aos credores da retomada de seus bens e direitos. Esta lei não se aplica a empresa pública e sociedade de economia mista, instituição financeira, cooperativa de credito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas as anteriores. Quando uma empresa apresenta dificuldades em quitar seus compromissos financeiros, ela deve tomar a decisão de se reestruturar financeiramente para evitar que qualquer credor venha a pedir sua falência. Essa reestruturação financeira pode ocorrer de duas maneiras: recuperação judicial ou recuperação extrajudicial. 4.1 Recuperação Extrajudicial Recuperação extrajudicial tem por objetivo permitir ao devedor negociar fora dos tribunais com seus principais credores e aprovar um plano de pagamento para suas dividas, dentro de suas reais possibilidades. Uma vez elaborado o plano de pagamento pode ser levado ao judiciário para homologação, sendo que a sua aprovação depende da concordância de 60% dos credores. Se não for aprovado, o devedor poderá propor posteriormente outro plano para homologação ou se valer da recuperação judicial. Em alguns casos, há substituição de dívidas financeiras antigas por novas; em outros não. As substituições de dívidas antigas envolvem longas reuniões de negociações, onde são propostas alternativas de solução do problema por ambas as partes. Embora se trate de processo altamente desgastante, a busca de soluções negociadas privadamente é uma tentativa de encontrar soluções menos custosas para os devedores e que envolvam menores perdas para os credores. A reestruturação financeira de uma empresa consiste na adequação do ativo ao passivo, do fluxo de caixa ao ciclo econômico e das contas a pagar às contas a receber. É a opção de manter a empresa em funcionamento, podendo envolver ou não a renegociação de dívidas junto a bancos, fornecedores e governo. Algumas das soluções negociadas na 12 recuperação extrajudicial mais utilizadas são: o alongamento do perfil da dívida e a transferência de controle acionário. Alongamento do perfil da dívida - É a melhor forma de reestruturação financeira para uma empresa em dificuldades financeiras, mas exige poder de barganha da devedora. O alongamento da dívida consiste em renegociar as condições da dívida a vencer ou venci da, com maiores prazos e taxas de juros menores. Embora possa parecer não ser a melhor solução para os credores, sua adoção pode ser a menos onerosa, e certamente terá como benefício um relacionamento de confiança maior entre as partes. Transferência de controle acionário - É a transferência do controle acionário e legal da empresa aos credores ou a terceiros, por iniciativa própria dos sócios da empresa em dificuldades. A transferência é incluída entre as formas de reestruturação, por relevar os credores, o governo, os funcionários e toda a sociedade, procurando manter em funcionamento a empresa que passa por dificuldades financeiras, sob nova administração. 4.2 Recuperação Judicial Recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação de crise econômico- financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e do interesse dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estimulo a atividade econômica. Na recuperação judicial, que substituiu a concordata, o devedor pode propor um plano de pagamento dentro de suas possibilidades financeiras, com prazos e medidas diferentes para cada caso.O plano de recuperação apresentado não é imposto aos credores, que poderão se reunir em assembléia para aprová-lo, modificá-Io ou decidir pela decretação de falência. Inclui também a possibilidade de venda de ativos da devedora, sem que o comprador herde débitos fiscais. Prevalece a vontade da maioria dos credores. Atinge todos os créditos, com ou sem garantia, mas determina que o credito fiscal está excluído do procedimento. Além disso, os créditos trabalhistas deverão ser quitados em até um ano pelo devedor. Em outras palavras, pode-se dizer que a Recuperação Judicial é uma situação anormal de suspensão da exigibilidade dos créditos sobre uma empresa por um determinado período, para que esta se reestruture e ganhe condições de pagar suas dívidas e manter- se operante. É uma trégua solicitada pela empresa devedora como melhor forma de pagamento de seus credores. A recuperação judicial não priva o empresário do controle de sua empresa. Isso pode ser muito importante para uma "empresa familiar, por exemplo, ou para uma empresa em que o dirigente seja relutante em deixar o comando. Ela não depende da aceitação explícita dos credores, mas sim de uma decisão por sentença do juiz. No entanto é quase impossível que a empresa mantenha o crédito junto a seus fornecedores durante esse processo. Se não cumprir todos os requisitos legais ao impetrar o pedido, corre o risco de ter sua falência decretada. A recuperação judicial apresenta a vantagem da moratória de dois anos para o pagamento das dívidas, ou se a empresa dispuser de recursos, pode saldá-Ias à vista 13 com 50%de desconto. Deve-se atentar que a lei permite a devolução de qualquer mercadoria adquirida a prazo nos últimos quinze dias antes da formalização do pedido, se o fornecedor assim o requisitar. Isso deve ser considerado quando uma empresa compra grande volume de mercadorias e opta por esta espécie de reestruturação. No entanto, o efeito de suspensão da exigibilidade de pagamentos só atinge aos credores quirografários,aqueles que não tem qualquer privilégio, que disputam as sobras. Os credores possuidores de privilégios, créditos trabalhistas, tributários ou com garantia real não serão atingidos. Uma vez concedida a recuperação judicial os credores não poderão solicitar a falência do devedor pelo prazo de duração da mesma; apenas bens vendidos a crédito e entregues nos 15 dias que a antecederam poderão ser restituídas aos credores, mediante petição específica. A empresa concordatária perde, porém, seu crédito com os fornecedores, que passarão a exigir pagamentos à vista nas próximas transações. A justificativa jurídica de sua solicitação é a intenção de não punir o empresário honesto que passa por dificuldades financeiras com a perda de seu patrimônio, e tentar evitar prejuízos maiores para seus credores. Findo o prazo concedido, a empresa deverá ter conseguido acumular recursos financeiros suficientes para finalmente quitar seus compromissos financeiros, caso contrário sua falência será decretada. 4.3 Falência Falência é um processo jurídico que ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a preservar e aperfeiçoar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis da empresa. Deve ser levada em conta a possibilidade de recuperação e ou manutenção da atividade da empresa, dos empregados e da unidade produtiva. Com o fim da sucessão fiscal os bens da empresa e a própria operação poderão ser vendidos a preços melhores, pois o comprador não temera ser responsabilizado pelas dividas da falida. Mudou a classificação dos créditos, que passam a obedecer a seguinte ordem: créditos trabalhistas limitados a 150 salários mínimos, créditos com garantias reais, créditos fiscais, créditos com privilegio especial privilegio geral créditos sem garantias e saldo dos créditos trabalhistas. Somente pode requerer a falência do devedor o credor que possuir um credito maior do que 40 salários mínimos. Uma empresa é considerada falida quando suas dívidas de curto e de longo prazos são maiores que seu ativo, ou seja, a empresa apresenta um patrimônio líquido negativo. Nesse caso, sua capacidade de pagar pontualmente seus credores está totalmente comprometida. Nesse processo, um síndico é nomeado pelo juiz para administrar a massa falida, receber todos os direitos e quitar todas as obrigações. O processo visa também a apurar e mensurar responsabilidades pela situação de insolvência (inclusive criminais), legitimar e relacionar os credores em ordem de preferência de recebimento. O Quadro 3 a seguir ilustra os principais autos legais que ocorrem numa falência. Juridicamente, a liquidação é a fase final do processo de falência, significando o encerramento das atividades da empresa. Envolve a venda dos ativos, sendo o resultado 14 obtido distribuído entre os credores segundo a ordem de prioridades existente. A liquidação caracteriza todo o processo falimentar que incide sobre uma empresa em dificuldades financeiras, desde o seu pedido até a sua conclusão. O processo falimentar inicia-se com um pedido de falência: • Solicitada pelo próprio devedor (autofalência): cumpre ao juiz decretá-Ia de imediato, sem maiores formalidades; • Solicitada pelos credores: o juiz citará o devedor para que apresente sua defesa ou efetue o depósito judicial correspondente; • Falência decretada pelo juiz que conduz um processo de recuperações preventivas quando a empresa concordatária descumpre alguma das cláusulas. QUADRO 3 – FALÊNCIA – PRINCIPAIS AUTOS LEGAIS Fonte: Lemes Júnior, 2005, pg: 471. O processo falimentar é composto pelos autos principais e de dois autos paralelos: inquérito judicial e declarações de crédito. Os autos principais visam a apurar o total do ativo da empresa devedora; o inquérito judicial visa a apurar responsabilidades pela situação de insolvência; e as prioridades no recebimento. Uma vez concluídos, o inquérito 15 judicial e as declarações de crédito passam a fazer parte dos autos principais. Na fase de liquidação do processo, há duas formas de liquidação: • Venda pelo síndico: por essa forma, o síndico realiza o ativo (recebimento de direitos vincendos e leilão de bens) e o pagamento do passivo. Se, após o pagamento do passivo houver sobra de recursos, esses serão entregues aos sócios, na proporção do capital subscrito. Caso os recursos apurados na realização do ativo sejam insuficientes para o pagamento do passivo, os bens dos sócios serão arrolados, na tentativa de se quitar todos os débitos. • Venda por deliberação dos credores: por essa forma, os próprios credores assumem a realização do ativo. Podem também optar por constituir uma sociedade entre si e assumirem a propriedade da empresa devedora, mantendo-a em funcionamento para seu proveito, como forma de quitação dos seus direitos. O estado de falência é caracterizado pela insolvência - incapacidade de solver compromissos futuros, inadimplência - não pagamento de compromissos ou atrasos constantes nos pagamentos. Por isso, se faz necessário o processo falimentar, como forma de resguardar os direitos de todos os que foram afetados pelo devedor, reduzindo assim os reflexos econômicos e sociais negativos de uma empresa mal sucedida. Durante o processo de falência, os titulares da empresa ficam impedidos de administrar outras empresas. Quando todas as dívidas são pagas, no final do processo de falência, os titulares estarão em condições de novamente iniciar ou administrar um empreendimento, com restrição apenas de algumas atividades econômicas, nas quais os titulares não podem ter sido responsabilizados em processos dessa natureza. Se o valor apurado com o ativo (inclusive o patrimônio dos sócios) não foi suficiente para quitar todas as obrigações, os titulares ficarão impedidos de iniciar outro empreendimento ou administrar outra empresa pelo prazo de 5 anos. Se ficar caracterizado que tenha ocorrido uma ação criminosa, o indivíduo ou indivíduos que a praticaram serão processados judicialmente. 5. AVALIAÇÃO DE DIFICULDADES FINANCEIRAS Existem alguns indicadores que ajudam as instituições financeiras a avaliar o fôlego financeiro de uma empresa que necessita de recursos para manter ou ampliar suas atividades produtivas. 5.1 Risco Bancário O indicador de risco bancário é um termômetro da qualidade dos empréstimos dos bancos que varia de zero a cem. O índice de risco bancário é zero quando os bancos estão recebendo a totalidade de seus empréstimos em dia; caso o índice seja 100, isso significa que os atrasos de pagamento são dez vezes acima no normal. 5.2 Termômetro de KANITZ No Brasil, Stephen C. Kanitz desenvolveu um modelo muito interessante de como prever falências, por meio de tratamento estatístico de índices financeiros de algumas empresas que realmente faliram. O modelo consiste, em primeiro lugar, em encontrar o Fator de Insolvência da empresa em análise. A fórmula, segundo o professor, é a seguinte: 16 Fator de Insolvência = Xl + X2 + X3 - X4 - X5 Fator de insolvência X1= Lucro líquido/Patrimônio líquido x 0,05 X2 = Liquidez geral x 1,65 X3 = Liquidez seca x 3,55 X4 = Liquidez corrente x 1,06 X5 = Exigível total/Patrimônio líquido x 0,33 Em segundo lugar, averigua-se em que intervalo recai o fator de insolvência no termômetro de insolvência, de acordo com a Figura 4 a seguir: FIGURA 2 – TERMÔMETRO DE KANITZ Fonte: Lemes Júnior, 2005, pg: 484. Alguns cuidados devem ser tomados na aplicação do Termômetro: a) O modelo é destinado à indústria e ao comércio; b) Depende de demonstrações financeiras que reflitam a realidade da empresa; e c) Não dispensa a análise de outros índices de avaliação da empresa. Finalmente, é importante ressaltar que a média das empresas brasileiras é de 3,5 no termômetro. 6. DIFICULDADES FINANCEIRAS NO BRASIL Vamos apresentar alguns exemplos brasileiros de empresasque enfrentaram dificuldades financeiras e que tiveram suas estórias narradas na imprensa. Alpargatas; o mago que colheu lucros das dívidas (Maiores e Melhores. Exame, São Paulo, v. 591, n.18, pp. 218-221, ago.1995 e "Os magos que colhem lucros das dívidas"). Existe um grupo de administradores financeiros no Brasil, que, apesar da competência, preferem trabalhar sem fazer alarde na mídia e que têm feito verdadeiros milagres em grandes grupos empresariais em dificuldades financeiras. Dentre estes profissionais, pode-se destacar Francisco Cespede, que, depois de trabalhar por 17 anos na Monsanto, 17 assumiu a administração financeira da Alpargatas em fevereiro de 1992, num dos piores momentos da história da empresa. Um prejuízo de US$38 milhões e um endividamento líquido de US$55 milhões no final de 1991, a alta dos juros no início de 1992, acompanhada de um decréscimo nas vendas e aumento dos estoques, deixaram a empresa em uma situação muito difícil. Sua primeira ação foi deixar claro aos acionistas sobre a necessidade de se fazer caixa e tratou de baixar os estoques que eram de US$130 milhões. Além disso, atacou o prazo e o custo da dívida, cujo montante já atingiu US$60 milhões. Isso foi efetuado através da emissão privada de euronotes no valor de US$20 milhões a uma taxa de 10,5% (1/3 do mercado) ao ano em um prazo de dois anos e meio. Ele também procurou concentrar o restante da dívida em operações dolarizadas, eliminando os riscos de uma minidesvalorização, através de uma operação de swap que permitiu estabelecer uma taxa fixa de juros. Se as taxas de mercado externo superassem esse nível, o banco cobriria a diferença. Como decorrência dessas medidas, a Alpargatas fechou o primeiro semestre de 1993 com um lucro de US$15 milhões e suas ações subiram de 40% para 100% do valor patrimonial na Bolsa de São Paulo. Aracruz: Solução fora do Brasil (Folha de São Paulo, 14 de abril de 1996). Mauro Molchansky foi contratado em 1989 para reestruturar a dívida da empresa contraída junto a bancos no Brasil. Ele demonstrou maestria ao cuidar da dívida de US$ 1 bilhão que a empresa possuía no início de 1992, época que além dos juros estarem na estratosfera, o preço da celulose despencou no mercado internacional. Sua ação começou em 1990, quando foi buscar soluções para alongar o perfil da dívida e baixar o seu custo de rolagem. Deu início à primeira operação de lançamento de ações de uma empresa na Bolsa de Nova York, em maio de 1991. Foram emitidos US$256 milhões em papéis, o que permitiu a eliminação de boa parte da dívida em cruzeiros, reduzindo assim em US$91 milhões os gastos anuais da empresa com juros. Com relação ao restante da dívida, usando contratos de exportação no valor de US$150 milhões, Molchansky fechou uma operação de igual cifra no exterior, securitizando a dívida ao custo de 3% ao ano fora a Libor e com 5 anos para pagar, incluindo-se 2 anos de carência. Em seguida, ele fez uma série de "minissecuritizações ACC" (adiantamento dos contratos de câmbio). Com base também em contratos de exportação, captou mais dinheiro a taxas de 2,5% a 4% ao ano; fora a variação da Libor (em tomo de 7,5% ao ano). Para completar o processo de dolarização, fez ainda a emissão de eurobônus no valor de US$80 milhões no primeiro semestre de 1993, com um prazo de cinco anos para pagar, com juros de 9,25% ao ano. Com essas ações, no final de 1993, a dívida diminuiu para US$856 milhões, quase toda dolarizada e com juros baixos. Além disso, em 1994, ocorreu uma recuperação no mercado internacional de celulose e a empresa teve um faturamento de US$600 milhões, apresentando a maior rentabilidade da sua história, alcançando o grau de excelência empresarial da edição Maiores e Melhores da revista Exame. 18 CONCLUSÃO Esses problemas guardam uma estreita relação entre si. Freqüentemente problemas financeiros são problemas econômicos, mas nem todos os problemas econômicos são, também, financeiros. Por exemplo, uma empresa pode sobreviver muito tempo com uma péssima relação entre capital e produto, sem que isso leve a uma insolvência financeira e a conseqüente falência. Todavia, isso é como dizer que uma pessoa tem cirrose no fígado, mas todos os outros órgãos são saudáveis. É só uma questão de tempo para todo o resto ficar mal. De qualquer forma a identificação correta e específica dos problemas é rigorosamente fundamental, pois antes de dominar a arte de atirar bem é preciso dominar a arte de identificar os reais inimigos. Para resumir, as principais formas de se medir a eficiência global de uma empresa são as seguintes: a. Lucro: Produtividade e giros b. Retorno sobre investimentos: Estrutura e Rentabilidade c. Fluxo de caixa: Produtividade e Capitalização d. Ajustabilidade: Modernidade do produto e Custo compatível e. Capital humano: Treinamento e Participação nos resultados f. Filosofia de gestão: Revisionismo RESUMO Muitos motivos levam uma empresa a se deparar com dificuldades financeiras, significando que ela não gera fluxo de caixa suficiente para pagar suas contas, e que adia sistematicamente seus compromissos financeiros. As dificuldades financeiras são enfrentadas de três formas: a) recuperações extrajudiciais; b) recuperações judiciais; e c) falência. Nas recuperações extrajudiciais há substituição de dívidas financeiras antigas por novas. Nas recuperações judiciais isto não ocorre. As substituições de dívidas antigas envolvem longas reuniões de negociações, onde são propostas alternativas de solução do problema por ambas as partes. Os credores poderão concordar com o plano de recuperação e, neste caso, a reestruturação assegurará melhor os direitos de todos, e a um custo menor. A recuperação judicial é uma situação anormal de suspensão da exigibilidade dos créditos sobre uma empresa por um determinado período, para que esta se reestruture e ganhe condições de pagar suas dívidas e manter-se operando. Falência é um processo jurídico de conseqüências econômicas e sociais, que ocorre quando uma empresa não tem condições de continuar operando em situação de normalidade, principalmente honrando seus compromissos financeiros. O processo falimentar inicia-se com um pedido de falência: 19 a) Solicitada pelo próprio devedor (autofalência): cumpre ao juiz decretá-Ia de imediato, sem maiores formalidades; b) Solicitada pelos credores: o juiz citará o devedor para que apresente sua defesa ou efetue o depósito judicial correspondente; e c) Falência decretada pelo juiz que conduz um processo de recuperação judicial, quando a empresa em recuperação descumpre alguma das cláusulas. As dificuldades financeiras podem ser interpretadas com base em balanço ou em fluxos. Com base em balanço dizemos que uma empresa é insolvente quando seu patrimônio líquido é negativo. Com base no fluxo de caixa uma empresa é insolvente quando não tem capacidade de cumprir suas obrigações atuais. Insolvência econômico-financeira ocorre quando as receitas da empresa não cobrem seus custos, a taxa interna de retorno é menor que o custo de capital. Insolvência técnica ocorre quando a empresa não é capaz de saldar suas dívidas nas datas combinadas. Alguns fatores que evidenciam dificuldades financeiras: ações judiciais em andamento; aumento de endividamento; avisos de protestos; diminuição do patrimônio líquido; elevadas despesas financeiras; mudança de banco/ auditores; perda de fatia de mercado; perda de reputação junto a clientes; queda de lucratividade, queda nas margens; rotatividade de funcionários importantes; queda nas vendas; perda de crédito e troca de diretores. As causas das dificuldades financeiras são a capacidade gerencial deficiente; o mau controle financeiro; a concentração num único projeto, ou num único cliente. Destacam-se como fatores internos os custos altos ou estoques altos e como externos as conjunturas econômica e política. REFERÊNCIAS Brigham, Eugene F.; Ehrhardt, MichaelC. Administração Financeira - Teoria e Prática. 10ª Edição. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006. 1044 páginas. Gitman, Lawrence Jeffrey. Princípios de Administração Financeira. 10ª Edição. São Paulo: Pearson Education, 2004. 745 páginas. Lemes Jr., Antonio Barbosa; Rigo, Claudio Miessa; Cherobim, Ana Paula Mussi Szabo. Administração Financeira - Princípios, Fundamentos e Práticas Brasileiras . 2ª Edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 547 páginas. Ross, Stephen A.; Westerfield, Randolph W.; Jaffe, Jeffrey F. Administração Financeira - Corporate Finance. 2ª Edição. São Paulo:Atlas, 2002. 699 páginas. Santos, Vilmar Pereira dos. Manual de Diagnóstico e Reestruturação Financeira de Empresas. 2ª Edição. São Paulo: Atlas, 2000.203 páginas.
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