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Capítulo 3 (PSICOLOGIA ESCOLAR E EDUCACIONAL E O FRACASSO 
ESCOLAR): neste capítulo, o intuito é reconhecer as dificuldades e embates 
que ocorrem dentro da escola, tanto no âmbito prático e real quanto no campo 
ideológico, seja nas relações pessoais, seja nas institucionais. Isso implica a busca 
de um entendimento sobre os processos que levam ao fracasso escolar, e, assim, 
criar condições para realizar a crítica aos supostos “distúrbios de aprendizagem” 
e “problemas escolares” para refletir sobre a psicologia como profissão e as 
possibilidades de uma psicologia escolar crítica, a partir de uma nova significação 
da psicologia escolar e educacional.
Capítulo 4 (EDUCAÇÃO ESPECIAL E EDUCAÇÃO INCLUSIVA: 
FUNDAMENTOS E DEBATES): neste capítulo, vamos abordar o que é a educação 
especial na perspectiva da educação inclusiva, consequentemente, vamos saber 
quais são as legislações e documentos oficiais sobre o tema. Assim sendo, vamos 
identificar o público-alvo da educação especial dentro da perspectiva da educação 
inclusiva e refletir sobre o atendimento educacional especializado. Com isso, nós 
poderemos refletir sobre os limites (internos e externos) da psicologia escolar e 
educacional, e, também, realizar uma crítica sobre a construção da subjetividade 
no contexto do ensino e aprendizagem, considerando aspectos individuais 
(timidez) e coletivos (imitação), entre outras questões do cotidiano escolar.
Desejamos uma construtiva e satisfatória jornada de estudos pela frente.
Cordialmente!
O autor.
CAPÍTULO 1
TEORIAS PSICOLÓGICAS
E A SUBJETIVIDADE
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Conhecer o conceito de subjetividade e sua construção histórica.
 Verifi car o tratamento do tema subjetividade no âmbito da fi losofi a e psicologia.
 Identifi car as correntes da psicologia e suas concepções acerca da 
subjetividade.
 Refl etir sobre a dimensão individual e a produção social da subjetividade.
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 Subjetividade, Cultura e Complexidade
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TEORIAS PSICOLÓGICAS E A SUBJETIVIDADE Capítulo 1 
CONTEXTUALIZAÇÃO
Neste capítulo, vamos conhecer um breve panorama histórico de como 
a subjetividade é tratada como objeto de estudo, principalmente para as várias 
correntes da psicologia ao longo do século XX.
Provavelmente, você, pós-graduando(a), já deve ter utilizado o termo 
subjetividade e suas variações em algum momento da vida. Por exemplo: “Ah, 
mas isso é subjetivo”. “O critério do professor para correção da prova não foi 
objetivo, mas sim subjetivo”. “Isso pertence à sua subjetividade”.
Mas antes de tratarmos das defi nições, conceitos e perspectivas sobre o que 
é subjetividade e o que isso representa na atualidade, vamos refl etir: O que é 
subjetividade para você? O que isso signifi ca e representa nas nossas vidas?
Agora que já refl etimos um pouco sobre o assunto, vamos ao desenvolvimento 
do tema propriamente dito.
O CONCEITO DE SUBJETIVIDADE
De acordo com o dicionário subjetividade é:
Característica, particularidade ou domínio do que é subjetivo 
(particular e íntimo). [Filosofi a] Estado psíquico e cognitivo 
do sujeito cuja manifestação pode ocorrer tanto no âmbito 
individual quanto no coletivo, fazendo com que esse 
sujeito tome conhecimento dos objetos externos a partir de 
referenciais próprios. (DICIO, 2016).
Portanto, o conceito de subjetividade tem origem na fi losofi a, mas, segundo 
Filho e Martins (2007), já no fi nal do século XIX, a psicanálise vai tratar da 
subjetividade como um dos seus objetos de estudo. Além disso, a partir do século 
XX, a psicologia trará a questão da subjetividade para o seu campo, explorando 
as diversas maneiras e perspectivas: histórica, social, cultural, política, etc. E isso 
tornará a subjetividade um elemento importante no processo de singularização do 
indivíduo, consequentemente, a subjetividade se tornou um dos focos de estudos 
de todas as correntes da psicologia contemporânea.
Numa primeira aproximação, talvez se possa tributar a 
especifi cidade das psicologias a uma suposta “descoberta” 
do sujeito psicológico; melhor, ao nascimento deste sujeito 
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 Subjetividade, Cultura e Complexidade
nos domínios do discurso ocidental moderno, científi co, 
ou à sua emergência como fi gura correlata deste discurso, 
considerando que esta era uma fi gura inexistente na cultura 
ocidental antes do surgimento da psicologia científi ca na 
passagem do século XIX ao XX. (FILHO; MARTINS, 2007, p. 
14).
Ou seja, de acordo com Filho e Martins (2007), o indivíduo psicológico é uma 
construção da psicologia, ou seja, trata-se de um sujeito presente no discurso 
ocidental moderno, logo, esse sujeito possui várias instâncias psicológicas, 
cada corrente tem o seu conjunto, mas refere-se, por exemplo, a um psiquismo, 
uma cognição, uma “mente”, consciência, identidade, percepções, leituras 
e interpretações do mundo, emoções, desejos e inconsciente (no caso da 
psicanálise). E isso responde a um modelo de ciência que busca tratar dessas 
instâncias como realidade, no caso, “realidade psíquicas”, para tentar universalizar 
e naturalizar essa realidade no corpo e na natureza.
Contudo, cabe ressaltar que o indivíduo, homens e mulheres, não é apenas 
um objeto de estudo da psicologia, mas da área de ciências humanas, mas aqui 
vamos fazer o recorte na psicologia, para buscar entender como esta área trata 
da questão da subjetividade.
Em seu livro “A invenção do psicológico”, Figueiredo (1994) 
trata da produção histórica desta dimensão de existência 
subjetiva ligada aos jogos do conhecimento moderno, que 
designa um campo de experiências do sujeito, apontando que 
antes do nascimento das psicologias a experiência psicológica 
não existia, bem como não existiam a própria materialidade da 
“substância psíquica”, a existência psicológica e a percepção 
de si mesmo como ente subjetivo, que dão forma ao campo 
de experiências do sujeito moderno, compondo sensações 
de privacidade e intimidade que ele vivencia como “reais” e 
“naturais”. (FILHO; MARTINS, 2007, p. 14).
Por sua vez, a construção social do sujeito psicológico possuidor 
de subjetividade está ligada diretamente com o discurso da psicologia 
moderna. Segundo Figueiredo (1994), para o nascimento desse sujeito 
psicológico remetido a uma instância de subjetividade, correlativamente 
ao surgimento de um discurso psicológico na modernidade:
[...] a emergência do humanismo renascentista nas artes e na 
fi losofi a dos séculos XIV e XV; a reforma pastoral da Igreja 
Católica no século XVI; e o centramento da cultura moderna 
na fi gura do “homem” a partir do século XVII com o Iluminismo, 
resultando numa recorrente problematização moderna 
do sujeito na fi losofi a, nas ciências, mas também na vida 
cotidiana. (FILHO; MARTINS, 2007, p. 14-15).
A construção 
social do sujeito 
psicológico 
possuidor de 
subjetividade está 
ligada diretamente 
com o discurso da 
psicologia moderna.
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TEORIAS PSICOLÓGICAS E A SUBJETIVIDADE Capítulo 1 
Neste mesmo sentido, Figueiredo e Santi (2002) apontam para o surgimento 
da subjetividade como campo de experiência histórica, individual e cotidiana, 
na passagem para modernidade. Já dissemos que a subjetividade passa a ser 
objeto de estudo da psicologia no fi nal do século XIX e início do século XX, mas 
isso ocorre em todas as correntes da psicologia, o que levou para uma noção de 
subjetividade que não tem uma unidade, nem linearidade, mas sim diversidade e 
divergência de abordagem dos “fenômenos psicológicos”.
Estes acontecimentos são fundamentais para o nascimento de 
um conhecimento psicológico de cunho científi co justamente 
porque demonstram uma primazia de atenção ao sujeito. A 
reforma protestante, por exemplo, não deve ser tomada como 
problema meramente religioso, mas centralmente social, 
implicando uma recusa dos modos de condução pastoral da 
Igreja Católica e dos modos de subjetivaçãoe individuação 
ligados à ética católica, caracterizando aquilo que Foucault 
(2002) denomina “revolta das condutas”, ou, um exercício de 
liberdade do sujeito no terreno religioso. Por outro lado, a fi gura 
nietzschiana da “morte de Deus” deve ser encarada não como 
o fi m do dogma cristão, mas como o fi m da hegemonia do 
pensamento mágico religioso e surgimento de um pensamento 
humano, de uma fi losofi a e uma ciência centradas no homem, 
no sujeito cognoscente. (FILHO; MARTINS, 2007, p. 15).
Para aprofundar seus estudos sobre o tema subjetividade, faça 
a leitura da seguinte obra:
SARTRE, Jean-Paul. O que é subjetividade? 1. ed. Rio de 
Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
Síntese: este livro do Jean-Paul Sartre é fruto de uma conferência 
realizada no encontro de intelectuais na Itália. Sartre discute um 
problema que sempre foi presente para ele: o conhecimento da 
subjetividade.
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 Subjetividade, Cultura e Complexidade
O conceito de subjetividade é muito amplo e pode ser defi nido como a 
maneira particular de um indivíduo elaborar e organizar seus pensamentos, 
sentimentos, ideias, personalidade, etc., o que pode revelar o modo como este 
indivíduo percebe e organiza o mundo a sua volta, como ele busca defi nir a sua 
fi nalidade, seu estar no mundo.
Contudo, isso não é apenas um evento interno, mas também uma construção 
social. Portanto, o conceito de subjetividade é variável para cada indivíduo, ou 
seja, podemos falar de “subjetividades”, no plural.
Assim, é preciso compreender a construção da subjetividade a partir do 
comportamento humano como um todo, o qual é possuidor de unidade, e, 
também, como subjetivação da dimensão cultural de um indivíduo e sua forma de 
se relacionar com o meio social.
PANORAMA HISTÓRICO SOBRE AS 
TEORIAS DA SUBJETIVIDADE NA 
PSICOLOGIA
Antes do surgimento do conceito de subjetividade, muitas instâncias 
psicológicas foram e ainda são objetos científi cos de diversas correntes da 
psicologia. Assim sendo, agora, vamos conhecer algumas destas instâncias 
psicológicas que têm papel fundamental no nascimento da subjetividade como 
objeto científi co da psicologia.
Na Grécia antiga, por volta de 700 a.C., já existia um conceito de Psyché 
(alma) e Logos (razão), portanto, etimologicamente, a palavra psicologia signifi ca 
“estudo da alma”. Mas, o conceito de alma não é religioso, trata-se do que podemos 
chamar de parte imaterial (pensamento, percepção, desejo e sentimentos). Assim 
sendo, o corpo seria apenas a parte física.
Ao longo da história da humanidade, tivemos muitos entendimentos do que 
seria o ser humano e se existia uma alma, e mais, o que seria essa alma. Vejamos 
alguns exemplos:
• Sócrates (469-399 a.C.): preocupa-se com o limite que separa o homem dos 
animais. A razão era concebida como principal característica humana.
• Platão (427-347 a.C.): divide o homem em corpo e alma. Defi niu a cabeça 
(alma) como sendo o lugar da razão. A medula como ligação entre a alma e 
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TEORIAS PSICOLÓGICAS E A SUBJETIVIDADE Capítulo 1 
o corpo. Assim, ao morrer, a matéria desapareceria e a alma fi caria livre para 
ocupar outro corpo. Acreditava na imortalidade da alma, sendo essa separada 
do corpo.
• Aristóteles (384-322 a.C.): alma e corpo não poderiam ser dissociados. A 
psyqué é o princípio ativo da vida; tudo que cresce, reproduz-se e se alimenta, 
possui sua alma. Aristóteles concebia a mortalidade da alma.
• Santo Agostinho (354-430 d.C.): estabelecia separação entre corpo e alma. 
Porém, a alma era sede da razão e comprovação de uma manifestação divina 
no homem. A alma era tida como imortal. Ligação entre homem e deus.
Segundo Moreira e Silveira (2011), a fi losofi a foi responsável pelas 
primeiras noções sobre subjetividade, isto porque tratava o tema da 
consciência e a considerava a produtora da verdade, desde a Grécia 
antiga. Porém a fi losofi a humanista leva isso adiante:
A verdade não é simplesmente reconhecida, mas produzida 
pelo homem nesse processo de percepção de si próprio. O 
“eu penso” é a primeira verdade, a de acesso mais imediato 
e o ponto de partida de todas as outras evidências que serão 
produzidas por esse mesmo “eu penso”. (BRANDÃO, 1998, p. 
34).
Essa é uma concepção cartesiana da subjetividade. Descartes já dizia 
“penso, logo existo”, ou seja, dentro dessa perspectiva, a subjetividade é a 
responsável pela existência, pela construção do conhecimento do indivíduo e 
sua ação no mundo. O problema disso é que se tudo que existe é por eu pensar 
que é, logo, o indivíduo seria produtor de verdades absolutas, portanto, o que 
julgar ser bom é bom e o que julgar ser ruim é ruim, e, assim, teríamos uma visão 
maniqueísta (e equivocada) da sociedade.
Por trás dessa ideia está o princípio profundamente racional de 
caráter universal das crenças que permite uma divisão estática 
entre o mundo “bom” e outro “mal”, o que tem escasso valor 
ético e moral, pois todos sentimos que somos parte do mundo 
“bom”, assumindo muito pouco a identidade do mal. A ideia de 
um sujeito universal apresenta-se muito associado à do sujeito 
ideal que inspirou boa parte das construções éticas, políticas 
e religiosas do pensamento ocidental e que continuam muito 
arraigadas até hoje. (REY, 2003, p. 21).
A fi losofi a foi 
responsável pelas 
primeiras noções 
sobre subjetividade.
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 Subjetividade, Cultura e Complexidade
Atividade de Estudos:
1) A história da fi losofi a e da psicologia é muito antiga, assim como 
a relação destas duas áreas do conhecimento com o tema 
da subjetividade. Assim sendo, é possível considerar que a 
subjetividade:
 I – Era um objeto de estudo da fi losofi a e que migrou também 
para psicologia.
 II – Era um objeto de estudo tanto da fi losofi a quanto da 
psicologia, desde a origem de ambas.
 III – A fi losofi a nunca se interessou pela subjetividade, que foi 
ganhar foco nos estudos apenas na psicologia.
Com base nos estudos realizados até o momento, assinale a 
alternativa correta:
 ( ) A – Apenas a sentença I está correta.
 ( ) B – Apenas a sentença II está correta.
 ( ) C – Apenas a sentença III está correta.
 ( ) D – Apenas as sentenças II e III estão corretas.
Caro(a) pós-graduando(a), será que a nossa visão de mundo é a correta? No 
que você acredita é o certo e quem acredita em algo diferente está errado? Quais 
são os seus defeitos? Você é bom em que e no que é ruim? O que as pessoas 
pensam sobre você é a mesma coisa que você pensa sobre si mesmo?
Enfi m, a ideia de um sujeito universal é complicada, pois sabemos que 
existem contradições, existem divergências que não signifi cam que uma é melhor 
que outra, mas que há posições e perspectivas diferentes. Portanto, há uma 
dialética da realidade e da subjetividade.
Para Moreira e Silveira (2011), Foucault é um dos autores que apresentam 
uma ideia de negação desse sujeito universal, logo, que a subjetividade não é 
produtora de verdades universais, pois somos seres contraditórios, e mais, somos 
sujeitos dispersivos, pois ocupamos diversos lugares no mundo e agimos de 
diferentes maneiras em vários lugares.
As diversas modalidades de enunciação em lugar de remeter 
à síntese ou à função unifi cante do sujeito, manifestam sua 
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TEORIAS PSICOLÓGICAS E A SUBJETIVIDADE Capítulo 1 
dispersão. Aos diversos estatutos, aos diversos lugares, às 
diversas posições que pode ocupar ou receber quando tem 
um discurso. À descontinuidade dos planos de onde fala. 
(FOUCAULT, 1972, p. 69-70).
Segundo Moreira e Silveira (2011), outro autor que desconstrói a ideia 
cartesiana é Kant, pois, para ele, não basta apenas o pensar para determinação 
da existência no mundo e do mundo, mas o que também é determinante é pela 
relação que este indivíduo estabelece com o meio em que vive. E, sim, a relação 
é algo individual, mas nós somos construídos pelo mundo ao mesmo tempo em 
que o construímos.
Temos querido provar que todas as nossas instituições só são 
representações defenômenos, que não percebemos as coisas 
como são em si mesmas, nem são as suas relações tais como 
se nos apresentam, e que se suprimíssemos nosso sujeito, ou 
simplesmente a constituição subjetiva dos nossos sentidos em 
geral, desapareceriam também todas as propriedades, todas 
as relações dos objetos no espaço e no tempo, e também o 
espaço e o tempo todo, porque tudo isso, como fenômeno, 
não pode existir em si, mas somente em nós mesmos. (KANT, 
2016, p. 25).
Mais um fi lósofo que, para Moreira e Silveira (2011), problematiza essa 
posição cartesiana é Husserl (1929). Mesmo reconhecendo que o pensamento 
cartesiano tem infl uência na fenomenologia, esse fi lósofo destaca que o sujeito 
cartesiano é abstrato e desvinculado do mundo, o que desqualifi ca o conceito e 
exige uma reformulação.
Infelizmente, é o que acontece em Descartes com a viragem 
discreta, mas funesta, que transforma o ego em substantia 
cogitans, em animus humano separado, em ponto de partida 
para raciocínios segundo o princípio da causalidade, em 
suma, com a viragem pela qual se tornou o pai do contraditório 
realismo transcendental. (HUSSERL, 1929, p. 8).
Sob esta perspectiva, Husserl considera que Descartes falhou ao tratar o ego 
como algo vago e que deveria ter avançado na compreensão. E foi na psicologia 
que esse ponto foi tratado de modo mais aprofundado.
A subjetividade e o sujeito não aparecem na Psicologia 
como resultado de seu trânsito pela modernidade, mas como 
resultado de sua assimilação da dialética marxista, enriquecida 
no processo de desenvolvimento da Psicologia pela infl uência 
crescente do pensamento complexo nas ciências do homem. 
(REY, 2003, p. 222).
18
 Subjetividade, Cultura e Complexidade
Ou seja, a psicologia não tratou da subjetividade desde a sua 
origem. Como vamos verifi car, o surgimento da psicologia como uma 
área do conhecimento independente e autônoma e os seus objetos de 
estudo são defi nidos ao longo do tempo, mais precisamente no fi nal do 
século XIX. E no século XX, aos poucos, a subjetividade vai ser um dos 
objetos de estudo da psicologia.
E foi somente no século XIX que a psicologia moderna surgiu. O nome ainda 
era psicofísica em 1860. E a lei de Fechner-Weber estabelecia a relação estímulo 
e sensação. Com isso, nasce a psicologia moderna.
Wilhelm Wundt (1832-1926): 1875 – 1º laboratório de psicologia em Leipzig, 
na Alemanha. Paralelismo psicofísico: fenômenos mentais correspondem a 
orgânicos. Método do introspeccionismo.
Wundt é considerado o pai da psicologia moderna. Ele criou o que mais tarde 
seria chamado, por Edward Titchener, de estruturalismo, cujo objeto de estudo 
era a estrutura consciente da mente (sensações). Segundo essa perspectiva, o 
objetivo da psicologia seria o estudo científi co da experiência consciente por meio 
do método da introspecção (relatos das experiências conscientes).
ESTRUTURALISMO: Edward Titchner (1867-1927) - estuda a estrutura da 
consciência, estruturas do sistema nervoso central. Usou o método de Wundt, o 
introspeccionismo, fazendo experimentos em laboratório.
FUNCIONALISMO: William James (1842-1910) - é considerado como a 
primeira sistematização genuinamente americana de conhecimento em psicologia. 
Interessado em saber “o que fazem os homens” e “por que o fazem”. Elege a 
consciência como centro e busca a compreensão de seu funcionamento.
O funcionalismo é modelo que substitui o estruturalismo na evolução histórica 
da psicologia, sendo o seu principal impulsionador William James. O principal 
interesse dessa corrente teórica residia na utilidade dos processos mentais para o 
organismo, nas suas constantes tentativas de se adaptar ao meio. O ambiente é 
um dos fatores mais importantes no desenvolvimento. Os funcionalistas queriam 
saber como a mente funcionava, e não como era estruturada.
ASSOCIACIONISMO: Edward L. Thorndike (1874-1949) - a aprendizagem se 
dá por associação de ideias, das mais simples as mais complexas. Lei do efeito, 
em que o comportamento se repete com o reforço e se retrai com a punição. Início 
da teoria comportamental.
A psicologia 
não tratou da 
subjetividade desde 
a sua origem.
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TEORIAS PSICOLÓGICAS E A SUBJETIVIDADE Capítulo 1 
Enfi m, a partir disso, a psicologia que conhecemos se estruturou e, assim 
sendo, a seguir, apresentaremos as principais correntes que possuem alguns 
pontos fundamentais na sua relação com a subjetividade, cultura e educação.
Quadro 1 – Correntes e conceitos da psicologia escolar/educacional
CORRENTES CONCEITOS
Psicodrama
Trabalha com a recuperação da espontaneidade e criatividade inatas, tornando 
as pessoas mais aptas a transformarem condições insatisfatórias de vida e a 
viverem em relações de compreensão mútua. É um método de grande valor 
preventivo, principalmente, se considerarmos a sua aplicabilidade em grandes 
comunidades, como é o caso do ambiente escolar. Um conceito do psicodrama 
é o de que representar papéis tem um poder terapêutico, uma vez que permite 
que as pessoas vivenciem os seus dramas internos e refl itam sobre as possíveis 
soluções para quebrar padrões repetitivos de conduta, conseguindo dar novas 
respostas para as situações da vida, inclusive na escola. Assim, situações, por 
exemplo, de confl ito entre alunos ou alunos e professores podem ser bem traba-
lhadas dentro deste modelo, pois, além de desenvolver percepção e compreen-
são do fato ocorrido, possibilita a busca de soluções de forma prática e dentro 
das possibilidades de cada participante.
Behaviorismo 
ou comporta-
mental
A abordagem comportamental apregoa que a aprendizagem é regulada por fa-
tores chamados “contingenciais” (situacionais): a situação em que o comporta-
mento ocorre (em que momento o aluno se comporta de determinada maneira), 
o próprio comportamento (que comportamento ele manifesta) e as suas conse-
quências (o que acontece com o aluno quando ele se comporta assim). O efeito 
da interação dessas contingências sobre o aluno depende de suas característi-
cas internas, somadas a sua história de vida e ao momento específi co em que 
a aprendizagem está ocorrendo. A abordagem comportamental trabalha com 
modifi cações de comportamento, utilizando-se de técnicas próprias. É especial-
mente utilizada quando é necessário clarifi car e estabelecer limites, extinguir 
comportamentos inadequados ou para desenvolver comportamentos novos. 
Geralmente suas técnicas, de forte impacto, são utilizadas com outras aborda-
gens complementares. O Behaviorismo salienta a importância do planejamento 
da ação pedagógica de forma a fazer com que a aprendizagem do aluno gere 
consequências naturalmente reforçadoras (positivas) ao aprender.
20
 Subjetividade, Cultura e Complexidade
Neuropsico-
logia
Pode auxiliar o psicólogo escolar/educacional na compreensão do funciona-
mento do sistema nervoso e sua aplicação na educação. Várias atuações e 
treinamentos de professores podem ser pautados no modelo neuropsicológi-
co da aprendizagem, considerando, assim, todos os fatores que infl uenciam o 
processo ensino e aprendizagem. Na escola, a neuropsicologia pode ser de 
grande ajuda para organizar programas de estimulação das crianças de modo a 
desenvolver as inteligências múltiplas dos estudantes. A neuropsicologia mostra 
que cada aluno aprende de maneira específi ca, formando sua rede neuronal, de 
acordo com a interação com o ambiente educacional. Sabendo como é o funcio-
namento neuronal do educando, o professor - com auxílio do psicólogo - poderá 
potencializar a aprendizagem, superar as limitações de cada aluno, reduzir suas 
difi culdades e, principalmente, identifi car as potencialidades latentes.
Sistêmica
A abordagem sistêmica leva em conta as relações e interações no ambiente 
escolar: professor-aluno, aluno-aluno, funcionário-aluno, pai-fi lho, pais-profes-
sores, comunidade-escola; sendo que cada um desses elementos ou partes 
é um “subsistema”. É a interação entre eles e a forma como interagem quenos mostram as regras que governam o todo (a escola). Se conhecermos as 
regras do todo, poderemos levantar hipóteses sobre os efeitos, sobre as partes 
e vice-versa. Quando se pensa sistemicamente, a realidade é compreendida de 
forma diferente. É percebido o “para que” de uma determinada situação, consi-
derando-se que quando se muda uma das partes o todo também é alterado. A 
refl exão é feita de forma circular e não linear, pois não se atribui causa e efeito, 
nem culpado ou responsável, mas envolvido e “contribuinte”.
Psicanálise
O trabalho educativo orientado pela psicanálise reconhece a individualidade de 
cada aluno e que não existe modelo único, nem um sistema fi xo de representa-
ções. Utiliza-se uma ética baseada no respeito às diferenças individuais como 
único meio de se atingir a igualdade social. A ética do respeito e do reconheci-
mento. O sujeito, que é um ser singular, único e dotado de um psiquismo regido 
por uma lógica específi ca, é também um indivíduo que participa das relações 
interpessoais e ocupa um lugar, estabelecendo laços com o contexto social no 
qual está incluído. Sendo assim, a psicanálise está muito atenta para a relação 
que se constrói entre professor e aluno, que é o que estabelece as condições 
para o aprender, com vistas à transmissão e à apreensão do conhecimento. 
Cabe ao educador, na atividade educativa, a responsabilidade por construir e 
transmitir o mundo da convivência humana em que seu aluno está ou estará 
inserido. Esta é a tarefa daquele que quer educar, humanizar o mundo dos seres 
humanos e, de alguma maneira, implicar os sujeitos que o habitam.
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TEORIAS PSICOLÓGICAS E A SUBJETIVIDADE Capítulo 1 
Gestalt peda-
gogia
A premissa básica da psicologia da Gestalt é que a natureza humana é orga-
nizada em partes ou todos, formando um todo signifi cativo. Com base nisso, o 
ensino escolar normal não deve menosprezar o aspecto integrativo de todo co-
nhecimento e de todas as matérias a serem interligadas, que acabam divididas 
visando a fi ns didáticos. Deve conservar o caráter integrativo do conhecimento, 
pois, dessa forma, o conhecimento do ambiente e do mundo chegará ao aluno 
integrado, constituindo-se num todo signifi cativo. A visão de homem da Gestalt 
é de um ser unifi cado que tem milhares de necessidades que vão surgindo ao 
longo da vida, sendo de ordem fi siológica, emocional e social e que tenta sa-
tisfazê-las na busca de um equilíbrio. Para tanto, deve ser capaz de perceber 
adequadamente a si próprio e a seu meio, pois as necessidades só poderão ser 
satisfeitas mediante a interação do indivíduo com o meio. Esta teoria acredita 
que o ser humano não se compõe de uma cabeça a ser treinada, ele também 
é dotado de uma psique e sentimentos que vivem num corpo. Esta unidade 
corpo-mente-alma-meio se infl uencia mutuamente. A partir desta concepção, o 
ensino regular deve valorizar os aspectos psicológicos e sociais do aluno, além 
dos aspectos cognitivos. A Gestalt condena o aprendizado somente cognitivo, 
especialmente se reduzido ao processo mnemônico, pois este ignora o aspec-
to emocional. As emoções podem e devem ser trabalhadas de forma positiva, 
fazendo-as objeto de conversa e discussão, permitindo ao aluno efetivamente 
alcançar uma aprendizagem integrativa.
Fonte: Cassins et al. (2007, p. 27-30).
A partir desse quadro, caro(a) pós-graduando(a), podemos verifi car 
a diversidade presente na psicologia, em termos de correntes, conceitos, 
perspectivas, teorias, enfi m, mas em todas elas há uma crítica ao sistema 
escolar e processos de aprendizagem. Portanto, independente da teoria e 
corrente psicológica, o que parece fundamental é criar um modelo que permita 
o desenvolvimento pleno dos indivíduos, que especifi camente no contexto 
escolar/educacional vai tratar da crítica e da tentativa de superação de antigos 
modelos por algo diferente, com uma diversidade de diretrizes pedagógicas, 
com valorização no desenvolvimento humano e aprendizagem, a formação do 
indivíduo e sua conscientização em relação à sua formação e o seu contato com 
o meio, ou seja, uma construção tanto interna quanto social da subjetividade e da 
formação dos indivíduos.
Por fi m, talvez, você tenha estranhado o uso do termo psicologia escolar/
educacional e esteja se perguntado: por que não psicologia escolar ou psicologia 
educacional? Enfi m, nós vamos discutir sobre isso no próximo capítulo, buscando 
não uma resposta defi nitiva, mas uma compreensão desse fenômeno e seus 
sentidos e signifi cados.
22
 Subjetividade, Cultura e Complexidade
Retomando ao tema da subjetividade e psicologia, Rey (2003) 
destaca que a psicanálise será fundamental para que a subjetividade 
se torne um tema de estudo na psicologia. E Filho e Martins (2007, p. 
15) destacam sete pontos fundamentais para o entendimento de como a 
subjetividade surgiu e é tratada dentro de todas as psicologias:
1. O “objeto primordial”, quase mítico, senão místico, é a 
“mente”; esta abstração idealista, subjetivista, com fortes 
infl uências da concepção cristã de alma como sinônimo de 
existência imaterial e do pensamento dicotômico cartesiano, 
que bebe da mesma fonte. Ao longo da primeira metade 
do século XX este termo ainda era admitido como objeto 
científi co, mas passa a ser questionado posteriormente por 
suas imprecisões e impregnações metafísicas, perdendo 
confi abilidade na segunda metade do período.
2. Outro objeto a surgir é o fragmento psíquico – com Wundt 
– unidade do psiquismo, do funcionamento psíquico ou do 
processo psicológico: as capacidades, a cognição, recusa do 
animismo cristão, mas confi rmação do idealismo. O fragmento 
psíquico é tributário da concepção mecanicista de que é 
possível compreender o todo desmontando-o, analisando suas 
partes e remontando-o, predominante no modelo clássico de 
ciência vigente à época.
3. Depois surge o comportamento, inaugurado por Watson em 
1910 e depois recolocado por Skinner com a introdução da 
noção de “operante”: exterioridade, mecanicismo, objetivismo 
e sujeição estrita ao método científi co. No entanto, apesar de 
reproduzirem o fragmentarismo e o mecanicismo da época, o 
trabalho de Wundt e o behaviorismo apontam para diferentes 
direções: enquanto o primeiro busca fazer um mapeamento 
da consciência a partir de uma composição dos processos 
psíquicos e das capacidades cognitivas, o segundo centra 
sua atenção na relação “estímulo-resposta” e nos aspectos 
operantes do comportamento, recusando os conceitos de 
consciência e de subjetividade.
4. Emergem as percepções, o campo perceptivo que 
confi gura o campo psicológico, que por sua vez singulariza 
o sujeito. Objeto colocado pela gestalt que, apoiada no 
método fenomenológico, busca superar o fragmentarismo e o 
mecanicismo vigentes, propondo uma psicologia e um sujeito 
mais integrados.
5. O próprio corpo surge como objeto para a ciência 
psicológica com Reich, também na primeira metade do século 
XX, numa tentativa de superar o mentalismo. Esta perspectiva 
é retomada e renovada no fi nal do século, atualizando este 
esforço no sentido de quebrar a força da dicotomia cartesiana 
corpo x mente nos domínios do discurso psicológico.
6. Os discursos são um tradicional alvo de atenção de 
várias psicologias, analisados e interpretados de múltiplas 
perspectivas, buscando captar signifi cados atribuídos a objetos 
e experiências, além de sentidos psicológicos subjacentes às 
falas dos sujeitos.
7. As relações também emergem como objeto para algumas 
psicologias, num esforço de superar o individualismo, o 
A psicanálise será 
fundamental para 
que a subjetividade 
se torne um tema 
de estudo na 
psicologia.
23
TEORIAS PSICOLÓGICAS E A SUBJETIVIDADE Capítulo 1 
mentalismo e as naturalizações ancoradas na neurofi siologia 
e atualizadas pela neurociência dos anos 1990, buscando 
fundar tanto o conhecimento quanto o sujeito psicológico em 
concepções materialistas, sociais e históricas.
Mostra-seaqui toda uma diversidade de jogos operando 
no discurso psicológico: fragmentarismo e mecanicismo 
x perspectivas mais amplas e integradas; subjetivismo x 
objetivismo; mentalismo x materialismo; individualismo x 
coletivismo; naturalismo biologicista x perspectivas sociais e 
históricas.
Para Filho e Martins (2007), tudo isso apresenta alguns movimentos 
importantes da psicologia, como a mudança de uma perspectiva biológica para 
social, o que levou também a um deslocamento do entendimento de natureza 
humana para uma concepção de construção histórica, e mais, o indivíduo ainda 
é importante, mas o coletivo ganha maior espaço, ou seja, os campos social, 
histórico e político são focos nas relações pessoas e materiais.
Assim sendo, de acordo com Filho e Martins (2007), a subjetividade foi 
ganhar visibilidade a partir da década de 1980, pois, anteriormente, as instâncias 
psicológicas que mais tinham visibilidade eram a consciência, o comportamento e 
a personalidade.
Em verdade o conceito de subjetividade passa do campo 
da psicanálise para os domínios das psicologias na primeira 
metade do século passado, mas é somente no seu fi nal que 
ele se despe de um sentido naturalizado e substancializado de 
interioridade, passando a ser pensado em termos históricos, 
sociais e políticos – como produção de subjetividade – 
apresentando-se contemporaneamente como objeto possível 
para muitas psicologias de cunho crítico, como alternativa a 
uma problematização da “identidade”, exatamente por buscar 
dar conta das diferenças. (FILHO; MARTINS, 2007, p. 16).
Como já vimos, o conceito de subjetividade tem origem na fi losofi a, mais 
precisamente na fi losofi a moderna. E segundo Filho e Martins (2007), Kant 
apresenta essa problemática quando discute: como seria possível a produção de 
conhecimento como verdades absolutas, sólidas, objetivas, ou seja, universais e 
que são válidas para todos e todas, se o que ocorre é a produção de conhecimento 
por meio de sujeitos singulares que respondem a momentos históricos, políticos e 
sociais diferentes?
A questão da subjetividade surge, portanto, no contexto 
fi losófi co das preocupações epistemológicas quanto à 
produção do conhecimento, de forma negativa: como aquilo 
que precisa ser neutralizado e superado para se ter acesso 
a uma verdade objetiva. Esta conotação negativa persistiu ao 
longo de todo o século XX, enfatizando a contaminação do 
24
 Subjetividade, Cultura e Complexidade
conhecimento por ela, mas as epistemologias contemporâneas 
argumentam que a subjetividade faz parte do jogo e precisa 
ser contemplada na produção do conhecimento, por não se 
opor necessariamente ao critério de objetividade. Além da 
subjetividade, o poder também tem sido tradicionalmente 
apontado como contaminador da neutralidade científi ca, 
porém Foucault, já na década de 1960, critica esta separação 
quando liga indissociavelmente em suas análises saber, poder 
e subjetividade. (FILHO; MARTINS, 2007, p. 16).
Temos que destacar aqui a fi gura do sujeito cognoscente, ou seja, aquele 
que conhece, que pode desvendar e enunciar verdades. E isso pertence tanto 
à fi losofi a quanto à ciência moderna. E esse sujeito passa a ser tanto sujeito e 
objeto do conhecimento, como veremos a seguir.
Apesar da tradição crítica que liga Nietzsche e Foucault 
levantar esta questão ao longo do século XX, ainda não foi 
superado esse lugar central do sujeito nos jogos de produção 
do conhecimento, onde toda a verdade ainda remete e 
retorna a ele. Sujeito cognoscente, transcendental e universal, 
porque não é nenhum sujeito concreto em especial e sim, 
uma abstração genérica que se refere a uma posição e não 
de um indivíduo, um “descobridor genial”. Após mais de um 
século o termo migra para o campo dos conhecimentos “psi” 
pelas mãos de Freud passando a designar uma instância 
de interioridade, constituindo objeto de estudo científi co 
e campo de experiências do sujeito. De certa forma, a 
psicanálise freudiana naturaliza e essencializa a subjetividade 
ao considerá-la inerente ao sujeito, reproduzindo a matriz 
cristã da interioridade e fazendo dela um enunciado. Nasce 
agora, correlativamente ao discurso psicanalítico, o sujeito – 
também universal – do inconsciente e do desejo, remetido à 
sexualidade posta como invariante: este é o contexto do debate 
de Michel Foucault (1988, 1989, 1990) com a psicanálise 
na sua “História da sexualidade”. Mas não é da perspectiva 
psicanalítica que está sendo abordada a questão, até porque 
uma problematização da subjetividade não é monopólio nem 
privilégio da psicanálise, e sua importância arqueológica aqui 
apontada refere-se justamente a este ato de importação do 
conceito da fi losofi a para os domínios psi – pelas mãos de 
Freud – e não exatamente ao novo signifi cado a ele atribuído 
nos domínios da psicanálise. (FILHO; MARTINS, 2007, p. 16).
Portanto, na perspectiva contemporânea, para Filho e Martins 
(2007), mesmo que a subjetividade seja tratada como objeto construído 
pela experiência e pelo conhecimento, não podemos ligá-la diretamente 
com questões simplesmente internas.
Tradicionalmente as concepções psicológicas apontam para 
um núcleo, um centro da “consciência”, da “personalidade”, da 
“identidade”, que pressupõe certa regularidade, previsibilidade 
Mesmo que a 
subjetividade seja 
tratada como objeto 
construído pela 
experiência e pelo 
conhecimento, 
não podemos 
ligá-la diretamente 
com questões 
simplesmente 
internas.
25
TEORIAS PSICOLÓGICAS E A SUBJETIVIDADE Capítulo 1 
e permanência – quando não, “essência” e interioridade 
– o que permite distinguir os indivíduos uns dos outros. 
Descentrar a análise da subjetividade deste eixo habitual do 
desenvolvimento da personalidade e da identidade, tomando-a 
como resultado da dispersão de forças sociais, implica tratá-
la como fi gura histórica que não tem centro, permanência, 
inerência ou substância, nem qualquer sentido, naturalizante, 
biológico, genético ou determinista, e pensá-la em movimento, 
como virtualidade, efeito holográfi co que existe concretamente 
ali onde não há nada de palpável. Vista desta perspectiva 
tem menos a ver com uma suposta natureza humana do que 
com o instável jogo de forças dos enunciados e dispositivos. 
(FILHO; MARTINS, 2007, p. 16).
Então, caro(a) pós-graduando(a), lembra-se de que no início deste capítulo 
nós refl etimos sobre o que é subjetividade e como você já ouviu ou utiliza esse 
termo no dia a dia? Enfi m, em geral, a ideia e os exemplos que temos tratam 
da subjetividade como algo interno do indivíduo, mas agora já conseguimos 
desconstruir ou, pelo menos, problematizar essa ideia, pois:
Subjetividade parece sugerir imediatamente interioridade, 
mas não há nada de natural nessa relação: percebe-se, 
que subjetividade e interioridade nem dizem respeito a 
instâncias psicológicas inerentes aos seres humanos, nem se 
referem a campos equivalentes de experiência ou a termos 
sinônimos. São enunciados de proveniências diversas que são 
posteriormente superpostos pelos discursos psicológicos, não 
necessariamente implicando uma relação de reciprocidade, ao 
contrário, a subjetividade, além de ser da ordem dos efeitos, 
é também da ordem da exterioridade – fi gura da “dobra”, que 
para Deleuze (1988) é produzida em relações saber/poder 
e também dos sujeitos consigo mesmos, quando estes se 
colocam como objetos para um trabalho sobre si. (FILHO; 
MARTINS, 2007, p. 17).
Então, segundo Filho e Martins (2007), o que podemos afi rmar é que a 
subjetividade (até mesmo a interioridade) é produção histórica. E, posteriormente, 
vamos explorar mais alguns autores, como Michel Foucault, o qual destacará que 
essa produção histórica da subjetividade pertence à modernidade. Isso porque:
[...] assim como o cristianismo inventou a interioridade, a 
modernidade inventou a subjetividade – essa é a relação entre 
estas duas fi guras do discurso: a noção de interioridade é 
anterior a de subjetividade,indicando que o moderno conceito 
de subjetividade se apoia na ideia cristã de interioridade 
encontrando-se, por isso mesmo, totalmente contaminado 
por esta concepção, este enunciado. Se os ocidentais 
cristãos se percebem como seres subjetivos e interiorizados 
é porque se encontram presos a estes dois enunciados que 
nascem nessa cultura em diferentes momentos e contextos, 
mas que são colados posteriormente, universalizando-se 
26
 Subjetividade, Cultura e Complexidade
como natureza humana. Esse é, de certa forma, o trajeto da 
formação de uma tecnologia confessional no Ocidente, por ele 
percorrido da hermenêutica de si à hermenêutica do desejo, 
que é constitutivo do sujeito moderno: meio racional, meio 
cristão; meio sujeito da razão, meio sujeito da culpa. (FILHO; 
MARTINS, 2007, p. 17).
Novamente, nós voltamos às questões e exemplos apresentados no início 
deste capítulo. Será que a sua resposta, caro(a) pós-graduando(a), sofreu alguma 
mudança ou ampliação depois da apresentação feita neste capítulo? Qual o seu 
entendimento a respeito da relação entre sujeito e subjetividade?
A resposta é complexa, e mais, o debate está em aberto. Contudo, é preciso 
ressaltar que na atualidade:
[...] assim como subjetividade não é sinônimo de interioridade, 
também não designa necessariamente um conjunto de 
capacidades, qualidades, sensibilidades, atitudes, reações 
inerentes a um sujeito tomado como unidade autocentrada, 
autônoma e consciente. Traçando uma genealogia do sujeito 
paralelamente a esta arqueologia da subjetividade percebe-
se que é apenas na passagem do século XVII ao XVIII que 
o sujeito se torna “indivíduo”, e é apenas no fi nal do XIX que 
este indivíduo ganha uma subjetividade. Não há, portanto, 
simetria entre sujeito e subjetividade, não existe naturalmente 
esta unidade e esta fi delidade a si mesmo – esta relação, 
esta colagem das características subjetivas em um sujeito, 
esta individualização da subjetividade, é resultado dos jogos 
de normalização e de marcação da identidade, característicos 
das sociedades Ocidentais modernas. (FILHO; MARTINS, 
2007, p. 17).
Portanto, agora vamos tratar da subjetividade como resultado e efeito das 
relações de saber e poder, o que nos aproximará ainda mais do Michel Foucault, 
pois isto vai remeter a “[...] sujeitos diversos que não o sujeito universal da razão, 
da cognição, ou da consciência, nem sujeito autônomo, livre, ator ou agente”. 
(FILHO; MARTINS, 2007, p. 17).
Na arqueologia do saber refere-se à categoria fi losófi ca/
epistemológica do sujeito cognoscente e ainda ao sujeito do 
discurso e da linguagem; na genealogia do poder, remete 
à fi gura do “indivíduo”, sujeito separado, individualizado, 
marcado pelo poder, identifi cado e normalizado, sujeito do/
para o capital, sujeito da/para a ordem social burguesa; na 
genealogia da ética refere-se ao sujeito moral: colocado como 
objeto para si mesmo, objeto de práticas de si, de modos de 
subjetivação, de estetização. Não há, portanto, em Michel 
Foucault, um sujeito universal, transcendental e genérico – 
mas sempre sujeitos históricos e localizados. Se existe em 
Kant o sujeito universal do conhecimento, em Foucault existe 
27
TEORIAS PSICOLÓGICAS E A SUBJETIVIDADE Capítulo 1 
toda uma multiplicidade de sujeitos: de direito, das disciplinas, 
da norma, da moral, da sexualidade, sujeito produzido pelo 
conhecimento, porque sua problematização não aponta 
para uma categoria genérica, mas para sujeitos concretos, 
regionalizados e historicamente construídos. (FILHO; 
MARTINS, 2007, p. 17).
A subjetividade se produz na relação das forças que atravessam 
o sujeito, no movimento, no ponto de encontro das práticas de 
objetivação pelo saber/poder com os modos de subjetivação: formas de 
reconhecimento de si mesmo como sujeito da norma, de um preceito, 
de uma estética de si. Equivale dizer que não é sufi ciente a objetivação 
pelo discurso psiquiátrico e pelo jogo da norma para produzir, por 
exemplo, um louco, mas é necessário, ainda, que esse vá ao encontro da 
marcação, que ele se reconheça no diagnóstico como sujeito da loucura e o 
reproduza em si mesmo, subjetivando-se como louco. A resistência aos modos 
de objetivação e de subjetivação acaba desempenhando importante papel nesses 
jogos de identifi cação e reconhecimento de si.
Essa diversidade dos sujeitos implica uma multiplicidade 
de formas de existência, modos históricos de ser: formas de 
subjetividade; e para além dessas decorrências em termos de 
saber/poder deve-se lembrar que numa sociedade capitalista 
estéticas de subjetividade, fetichizadas, investidas de valor, 
transformam-se em mercadorias a serem consumidas pelos 
“indivíduos”. Isso reforça a questão das “etiquetas” a serem 
coladas – a bricolagem no sentido original, francês, de 
etiquetas a partir das quais construímos uma subjetividade-
mosaico num arranjo desconexo. Elas ganham lógica no 
nosso corpo e, por vezes, de maneira bastante incoerente, 
resultando numa imprevisibilidade do sujeito. Esse é um dos 
principais problemas do controle social moderno: como lidar 
com pessoas que não são regulares e previsíveis, sem uma 
lógica a ser capturada pelo poder? O poder vive dessa falsa 
unidade que o jogo das identidades constrói, o que remete à 
moderna política das identidades que mantém os indivíduos 
presos ao poder. A questão política do Estado contemporâneo 
não é apenas manter a ordem social do todo, mas também 
governar cada um, visto que não há ordem social na 
sociedade como um todo se cada um dos indivíduos não se 
submeter ao poder. As técnicas macropolíticas do Estado são 
conhecidas: a lei, a moral e os grandes conjuntos reguladores. 
No entanto, quais são as estratégias políticas do Estado em 
relação aos indivíduos? Elas compõem a moderna política 
das identidades através da qual o Estado governa cada um 
de nós, que é debitária da matriz do poder pastoral, a partir 
do qual um pastor conduz cada ovelha do rebanho de forma 
individualizada. (FILHO; MARTINS, 2007, p. 17-18).
A subjetividade se 
produz na relação 
das forças que 
atravessam o sujeito.
28
 Subjetividade, Cultura e Complexidade
E agora, caro(a) pós-graduando(a), o que isso tudo signifi ca para nós? E 
mais, como podemos nos reconhecer nesse contexto, como sujeitos modernos 
contemporâneos?
Filho e Martins (2007, p. 18) têm uma contribuição importante para nos 
oferecer:
No que diz respeito a nós, sujeitos modernos contemporâneos 
(se é que ainda somos modernos), estamos submetidos 
a formas históricas de subjetividade: a individualidade, 
correlativa do discurso liberal, do estatuto do indivíduo e do 
próprio capitalismo; a identidade, socialmente marcada e 
normalizada, remetida à sexualidade; a cidadania, resultante 
da moderna democracia com sua carta de direitos. Nos 
reconhecemos como sujeitos da razão, conscientes, livres 
e autônomos (mesmo sabendo que não o somos) – sujeitos 
ético-morais – além de estarmos “intimamente” ligados a 
valores morais cristãos (porque estes nos constituem naquilo 
que nos é mais íntimo). Pensamos racionalmente, agimos 
capitalisticamente, e sentimos como cristãos, movidos 
por uma moral de compaixão – somos esta bricolagem: 
simultaneamente competitivos, egoístas, e condescendentes 
com aqueles que derrotamos no jogo da ambição capitalista – 
e o efeito de subjetividade que isto gera em nós é a sensação 
de desconforto e confl ito psicológico, que pode ser tomado 
na verdade como confl ito ético: exposição do sujeito a éticas 
contraditórias, ambíguas, gerando ambivalência. Isso é ser 
não genérica, mas, concretamente, sujeito ocidental, cristão 
e moderno – estar inscrito nessa tradição cultural e histórica. 
Estamos sujeitos a formas históricas de problematização que 
se apresentam como polaridades discursivas entre: material x 
espiritual (dilema cristão); corpo x mente (dilema cartesiano); 
exterioridade x interioridade (dilema cristão, mas também 
freudiano); objetividadex subjetividade (dilema epistemológico 
e também freudiano); animal x racional (dilema fi losófi co); 
biológico x cultural (dilema antropológico); individual x social, 
coletivo (dilema sociológico); eu x os outros (dilema ético-
político).
Perceba, caro(a) acadêmico(a), que a questão da subjetividade 
não é simples, pois não são apenas questões internas do sujeito, 
mas construções de uma sociedade que possui uma cultura e que foi 
construída em determinado momento histórico.
Portanto, não há uma verdade sobre o que é a subjetividade. 
O que temos são perspectivas, problematizações, elementos que 
são fundamentais para construir um objeto de conhecimento, uma 
concepção de sujeito e uma crítica da subjetividade, portanto, “[...] 
duvidar dos enunciados que sustentam nossas regularidades subjetivas 
A questão da 
subjetividade não 
é simples, pois 
não são apenas 
questões internas 
do sujeito, mas 
construções de 
uma sociedade que 
possui uma cultura 
e que foi construída 
em determinado 
momento histórico.
29
TEORIAS PSICOLÓGICAS E A SUBJETIVIDADE Capítulo 1 
e sociais, pensar diferente, é ação política: transgressão do discurso, resistência 
ao poder e prática concreta de liberdade – as três linhas de fuga de Michel 
Foucault”. (FILHO; MARTINS, 2007, p. 18).
Esta citação aponta para uma certa política contemporânea 
da subjetividade, ou, para a colocação das formas de 
subjetividade como objetos de luta: Talvez, o objetivo hoje 
em dia não seja descobrir o que somos, mas recusar o que 
somos. Temos que imaginar e construir o que poderíamos 
ser para nos livrarmos deste ‘duplo constrangimento’ político, 
que é a simultânea individualização e totalização própria às 
estruturas do poder moderno. (FILHO; MARTINS, 2007, p. 18).
E mais:
A conclusão seria que o problema político, ético, social e 
fi losófi co de nossos dias não consiste em tentar liberar o 
indivíduo do Estado nem das instituições do Estado, porém nos 
liberarmos tanto do Estado quanto do tipo de individualização 
que a ele se liga. Temos que promover novas formas de 
subjetividade através da recusa deste tipo de individualidade 
que nos foi imposta há vários séculos. (DREYFUS; RABINOW, 
1995, p. 239).
Portanto, o que nos resta é a compreensão de que é preciso superar o 
discurso naturalizado, desconstruir o que se apresenta como verdade, não apenas 
na psicologia. É uma ação política, ou seja, o saber psicológico também é político.
Então, o que não é novidade, há um posicionamento teórico no 
campo da Psicologia que implica posição política, as práticas 
psicológicas são imediatamente políticas, e é necessário 
caminhar no sentido de uma psicologia descentrada do sujeito 
e para além de uma problematização da subjetividade (pelo 
menos no sentido mais tradicional do termo), que busque dar 
conta da singularização, porque, se os modos de subjetivação 
a sujeitam, a singularização apresenta-se como estetização 
de si visando resistir a esta maquinaria moderna de produção 
da subjetividade e da identidade individuais, construindo 
novas formas de vida e de ser. Se ao longo do século XX as 
psicologias têm se caracterizado como “disciplinas científi cas 
de aplicação da norma”, é também necessário que elas 
superem estas práticas passando a se dedicar à promoção 
de novas estéticas da existência. (FILHO; MARTINS, 2007, p. 
18).
Para concluir, o termo “subjetividade” está sendo aqui empregado de forma 
genérica, sem conotação demarcada, portanto, não necessariamente ligado ao 
sentido a ele atribuído pelo discurso psicanalítico, não designando uma instância 
de interioridade e recusando todas as formas de substancialização, naturalização 
e universalização a ele associadas.
30
 Subjetividade, Cultura e Complexidade
Isso porque a intenção é apresentar o conceito e o seu surgimento no campo 
da fi losofi a do conhecimento, sua entrada no campo da psicologia, primeiramente 
pelas mãos da psicanálise freudiana, e sua passagem aos domínios da psicologia 
onde ganha difusão e multiplicidade de sentidos ao longo do século XX.
A subjetividade é um fato social construído a partir de 
processos de subjetivação, o qual é engendrado por 
determinantes sociais – históricos, políticos, ideológicos de 
gênero, de religião, conscientes ou não. Dessa forma, em 
diferentes contextos culturais, diferentes subjetividades são 
produzidas. (DIMENSTEIN, 2000, p. 116-117).
Para enriquecer seus estudos sobre o tema subjetividade, 
assista ao vídeo do fi lósofo Paulo Ghiraldelli no seguinte endereço 
eletrônico: <https://goo.gl/onIHSA>.
Portanto, neste primeiro capítulo, nós conhecemos as revisões 
epistemológicas feitas no âmbito da fi losofi a e da psicologia, no que tange ao 
tema da subjetividade, e, assim, nós podemos concluir que ela não pode ser mais 
compreendida nos termos de uma experiência universalista, racional e estruturada 
do mundo privado, mas de uma forma particular de se colocar, de ver e estar no 
mundo, que não se reduz a uma dimensão individual, mas como uma produção 
social, que responde aos momentos históricos e fatores políticos, ideológicos, 
entre outros elementos pertencentes a diversas culturas.
Atividade de Estudos:
1) A subjetividade nasce de processos de subjetivação com origem 
em fatores sociais, históricos, políticos, ideológicos e religiosos, 
que podem ser conscientes ou não. Nesse contexto, analise as 
sentenças que seguem:
 I – Na perspectiva contemporânea, mesmo que a subjetividade 
seja tratada como objeto construído pela experiência e pelo 
conhecimento, nós não podemos ligá-la diretamente a questões 
simplesmente internas.
 II – A subjetividade se produz apenas na relação das forças 
31
TEORIAS PSICOLÓGICAS E A SUBJETIVIDADE Capítulo 1 
que atravessam o sujeito, no movimento, no ponto de encontro 
das práticas de objetivação pelo saber/poder com os modos 
de subjetivação: formas de reconhecimento de si mesmo como 
sujeito da norma, de um preceito, de uma estética de si.
Assinale a alternativa que apresenta a resposta correta:
 ( ) A – As duas sentenças estão incorretas. 
 ( ) B – As duas sentenças estão corretas.
 ( ) C – A primeira sentença está correta e a segunda sentença 
está incorreta.
 ( ) D – A primeira sentença está incorreta e a segunda sentença 
está correta.
Na sequência, vamos abordar a subjetividade no âmbito cultural, ou seja, 
tratando de aspectos da cultura e as relações com individualidade, personalidade 
e identidade. E, assim, a partir de uma perspectiva histórico-cultural, vamos refl etir 
sobre a complexidade dessa temática na relação com a psicologia, a sociedade e, 
posteriormente, com a educação.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Caro(a) pós-graduando(a), neste capítulo, tratamos do conceito de 
subjetividade, das correntes psicológicas, e, principalmente, do entendimento 
de que subjetividade é um conceito amplo e complexo, que aceita, inclusive, o 
plural “subjetividades”, mas que, no entanto, uma coisa é fato: trata-se de uma 
construção interna e externa na formação dos indivíduos.
Somos seres humanos possuidores de subjetividade. Mas, e a objetividade?
A objetividade também é considerada na constituição da subjetividade, 
pois o contexto histórico e cultural no qual o indivíduo está inserido é que vai 
constituí-lo como sujeito, assim sendo, há uma relação dialética entre objetividade 
e subjetividade.
Portanto, verifi camos que a literatura sobre o tema abordado considera que 
acontecimentos sociais constituíram as condições históricas para o surgimento 
do sujeito psicológico, que é possuidor de subjetividade, que foi construída pela 
mediação da cultura desse sujeito.
32
 Subjetividade, Cultura e Complexidade
Agora, refl ita: como você, pós-graduando(a), se percebe? Quem é você? 
O que fez você ser o que é hoje? Quais fatores internos e externos agiram na 
constituição da sua subjetividade e na sua formação como indivíduo?
Talvez não seja possível responder. Contudo, a refl exão éválida.
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, H. H. N. Subjetividade, representação e sentido. In: BRANDÃO, H. 
H. N. Subjetividade, argumentação, polifonia: a propaganda da Petrobrás. São 
Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998.
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Unifi cado, 2007.
DICIO. Dicionário online de português. Signifi cado de subjetividade. Disponível 
em: <https://goo.gl/ljyEhi>. Acesso em: 29 jul. 2016.
DIMENSTEIN, M. A cultura profi ssional do psicólogo e o ideário individualista: 
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Psicologia, Rio Grande do Norte, v. 5, n. 1, 95-121, abr. 2000.
DREYFUS, H.; RABINOW, P. Michel Foucault, uma trajetória fi losófi ca: para 
além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 
1995.
FIGUEIREDO, L. C. M. A invenção do psicológico: quatro séculos de 
subjetivação (1500-1900). 2. ed. São Paulo: Escuta, 1994.
 FIGUEIREDO, L.C.M; SANTI, P. L. R. de. Psicologia, uma (nova) introdução: 
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FILHO, K. P.; MARTINS, S. A subjetividade como objeto da(s) psicologia(s). 
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FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Petrópolis: Vozes, 1972.
HUSSERL, E. Conferências de Paris. Tradução Artur Morão e António Fidalgo, 
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KANT, I. Crítica da razão pura. Tradução J. Rodrigues de Merege. Disponível 
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33
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MOREIRA, A. G.; SILVEIRA, H. M. M. L. Teorias da subjetividade: convergências 
e contradições. Revista Contraponto, Belo Horizonte, v.1, n.1, p. 58-69, jul. 
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REY, F. L. G. Sujeito e subjetividade: uma aproximação histórico-cultural. São 
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34
 Subjetividade, Cultura e Complexidade

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