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caracteristicas da desobediencia civil

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1 
A DESOBEDIÊNCIA CIVIL: ESPÉCIE DE UM GÊNERO? 
 
A CONTRUÇÃO CONCEITUAL DA DESOBEDIENCIA CIVIL 
 
Vê-se, consultando as doutrinas acima e muitas outras, que o conceito de 
desobediência civil não é unánime. Em verdade, o conceito de desobediência civil paira em 
divergências conceituais e é por vezes ligado ao direito de resistência. 
 
Muitos autores entendem que a desobediêncial civil é uma espécie do gênero direito 
de resistência (Maria Garcia1, Norberto Bobbio2, Joana de Menezes Araújo da Cruz3, Nelson 
Nery Costa4, Belizário Meira Neto5,Isaac Rodrigues Cunha6, Doglas Cesar Lucas7, Márcio 
Túlio Viana8,Helio Antonio Ardenghi9, Ronald Fontenele Rocha10, etc) e quem segue tal linha 
de raciocínio tende a dividir o direito de resistência em várias espécies, as mais comuns sendo 
desobediência civil, objeção de consciência e a revolução. Para esses autores, a desobediência 
civil seria um direito de resistência com certas características especiais. 
 
Também não há unanimidade nas espécies de resistência, cada autor exporá sua 
visão, como visto em Paupério acima e como se vê também em Kimberley Brownlee, para 
 
1GARCIA, Maria. Desobediência Civil. Direito Fundamental. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1994, 
p. 257. 
2 BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política; trad. Carmen C. 
Varriale; Gaetano Lo Mônaco; João Ferreira;Luís Guerreiro Pinto Cacais e Renzo Dini; coord. trad. João Ferreira; 
rev. geral João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cacais. - Brasília : Editora Universidade de Brasília (UNB), 11a 
ed., Vol. 1, 1998, p.336-338. 
3 CRUZ, Joana de Menezes Araújo de. Desobediência Civil nos interstícios do Estado de Direito 1ª ed. Editora 
Lumen Juris, Rio de Janeiro, 2017, p.62. 
4 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil 2ª Edição (Revista e Ampliada) Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p.48. 
5 NETO, Belizário Meira Direito de Resistência e o Direito de Acesso à Terra Editora Impetus, Rio de Janeiro, 
2003, p.30. 
6 CUNHA, Isaac Rodrigues Resistência Fiscal e Desobediência Tributária: Por um Direito de não pagar 
tributo injusto Monografia apresentada ao Curso de Graduação de Direito da Universidade Federal do Ceará, 
Fortaleza, 2014, p.78. 
7 LUCAS, Doglas Cesar Direito de Resistência e Desobediência Civil História e Justificativas Revista Direito 
Em Debate v.8 nº13, 2013, p.23-53. Disponível em: < 
https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate/article/view/807> Acessado em: 01/06/2020. 
8 VIANA, Márcio Túlio Direito de Resistência: Possibilidades de autodefesa do empregado em face do 
empregador Editora LTr., São Paulo, 1996, p. 54. 
9 ARDENGHI, Helio Antonio Desobediência Civil: Um Estudo da Resistência como Ato ao Direito de 
Cidadania Dissertação apresentada ao curso de pós-grauação de Direito da Universidade Federal de Santa 
catarina, Florianópolis, 2001, p. 61. 
10 ROCHA, Ronald Fontenele Direito Democrático de Resistência, Editora Fórum, Belo Honrizonte, 2010, p. 
76. 
https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate/article/view/807
 2 
quem existe, além da desobediência civil, “Legal Protest”, “Rule Departures”, “Conscientious 
Objection”, “Radical Protest” e “Revolutionary Action”.11 
 
Somente para dar outro exemplo, Buzanello dirá que existem cinco espécies, sendo 
elas uma classificações não exaustiva. Dirá o autor que: 
 
Essa construção classificatória se inicia com a espécie de resistência de menor 
intensidade, informando sua respectiva particularidade, isto é: 1) objeção de 
consciência; 2) greve política; 3) desobediência civil; 4) direito à revolução; 5) 
princípio da autodeterminação dos povos. Essa classificação não é exaustiva, pois 
muitas vezes os elementos de análise habitam uma área de difícil identificação entre 
gênero e espécie.12 
 
 Também tecerá afirmações sobre a desobediência Civil não apenas como sendo 
espécie do direito de resistência, mas também como sendo ato que nega apenas uma parte da 
ordem jurídica vigente e que se estabelece como sendo um meio de pressão indireto da 
população quando os canais usuais de resolução das demandas da sociedade já não surtem mais 
efeito. Dirá o autor que: 
 
A desobediência civil, enquanto uma espécie do direito de resistência, produz um 
silogismo hipotético baseado nas premissas "toda desobediência civil é resistência", 
mas "nem toda resistência é desobediência civil". A desobediência civil faz a negação 
de uma parte da ordem jurídica, ao pedir a reforma ou a revogação de um ato oficial 
mediante ações de mobilização pública dos grupos de pressão junto aos órgãos de 
decisão do Estado. A desobediência civil deve ser entendida como um mecanismo 
indireto de participação da sociedade, já que não conta com suficientes canais 
participativos junto às esferas do Estado, que precisaria deles para poder presentear-
se como ente político legítimo. Ou, de outra forma, o fenômeno da desobediência civil 
aparece quando os canais normais para mudanças do ato impugnado já não funcionam 
ou as queixas não serão ouvidas, ou nem terão qualquer efeito.13 
 
Também há aqueles autores que entendem que a desobediência civil seria um 
gênero diferente do direito de resistência, expondo tal diferença nos escritos os quais esta 
 
11 BROWNLEE, Kimberley, "Civil Disobedience", The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Fall 2017 
Edition), Edward N. Zalta (ed.), < https://plato.stanford.edu/archives/fall2017/entries/civil-disobedience/ > 
Acessado em: 16/11/2020. p. 11-17 
12 BUZANELLO, José Carlos. Direio de Resistência, Seqüencia: Estudos Jurídicos e Políticos – Revista do curso 
de pós- graduação em direito da UFSC, V. 22, n. 42 (2001), pags. 9-28, Florianópolis, p.17. Disponível em: < 
https://periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/15391 > Acessado em: 16/11/2020. 
13 BUZANELLO, José Carlos. Direito de Resistência Constitucional, Editora América Jurídica, Rio de Janeiro, 
2002, p. 147. 
https://plato.stanford.edu/archives/fall2017/entries/civil-disobedience/
https://periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/15391
 3 
pesquisa teve acesso ( Maria de Assunção Andrade Esteves14, Roberto Gargarella15, José 
Gomes Canotilho16, Maria Fernanda Salcedo Repolês17, etc.). Foi encontrado na pesquisa 
autores que usam esses conceitos também como completos sinônimos (Marina Basso 
Lacerda18,etc). Esses autores não fazem ginástica com o conceito de direito de resistência: 
agrupam direito de resistência e desobediência civil em quadrantes distintos por considera-los 
por demais distintos, sendo que a resistência atentaria contra o governo e suas instituições como 
um todo e admitiria violência (não sendo, portanto, civil) e a desobediência se assentaria em 
bases constitucionais e não colocaria em xeque o sistema como um todo, apenas parte dele.19 
 
Além da discussão acima, bastará olhar para as doutrinas dos autores mencionados, 
para vislumbrar a falta de unanimidade na formulação de um conceito de desobediência civil. 
Vislumbrou-se na pesquisa, contudo, que os autores atribuem certas características à 
Desobediência Civil, ou seja, apresentam certos aspectos que seriam indispensáveis para que 
um ato pudesse ser classificado como Desobediência Civil. Tais características (presentes na 
concepção heterodoxa de desobediência civil)20 não são unânimes, porém, é imperativo estudá-
las. 
 
DESOBEDIÊNCIA CIVIL E SUAS CARACTERÍSTICAS “ESPECÍFICAS”. 
 
ATO COLETIVO 
 
Os defensores da Desobediência Civil como ato individual, ou seja, praticada por 
apenas um indivíduo, centram sua motivação na consciência individual da pessoa que a 
 
14GUARESCHI, Carla Varea O papel da desobediencia civil na construção democrática do direito.O 
Exemplo do Movimento Ocupe Estelita. Ocupar e Resistir! Dissertação de Mestrado apresentada ao Gabinete 
de Estudos Pós- Graduados da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Lisboa, 2017, p. 14-16. 
15 GARGARELLA, Roberto. El derecho a la protesta: El primer derecho. Buenos Aires: Ad-Hoc, 2007, p. 209-
212). 
16 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7. ed. Coimbra: 
Almedina, 2003, p. 328 e 512. 
17 GUARESCHI, Carla Varea. Op. Cit., p. 14-16. 
18 LACERDA, Marina Basso O direito de resistência e a resistência do Direito: problematizando conflitos 
entre as ocupações de terra e os espaços jurídicos no Brasil contemporâneo. Monografia apresentada como 
requisito parcial para conclusão do curso de Direito, pelo Setor de Ciências Jurídicas da Universidade Federal do 
Paraná, Curitiba, 2007, p.14. 
19 PINTO, Indiara Liz Fazolo. A Desobediência Civil No Estado Democrático De Direito, Universidade Federal 
Do Paraná Programa De Pós-Graduação Em Direito Curso De Mestrado, Dissertação apresentada ao Programa de 
Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2014, p.16. 
20 UGARTEMENDIA, Juan Ignácio Ecaizabarrena. Algunas Consideraciones sobre la “protección jurídica’ de 
la desobediencia civil. Barcelona: Institut Ciències Polítiques i Socials, Universidad del País Vasco, Working 
Paper n.151, 1998. Disponível em: < https://www.icps.cat/cerca > Acessado em: 16/11/2020 , p.3. 
https://www.icps.cat/cerca
 4 
pratica.21 Pode-se ver, como expoente clássico desta desobediência individual, Henry Thoreau 
e a sua ação de boicote aos impostos dos quais não concordava. Nelson nery também expõe em 
sua obra que autores como Bertrand Russel, Erich Fromm e Peter Singer, também centram o 
fenômeno da desobediência na questão da consciência individual.22 
 
Norberto Bobbio aparece na pesquisa realizada por este trabalho como forte 
integrante da vertente que defende a desobediência civil como ato que envolveria uma 
coletividade, uma dinâmica de grupo para se configurar como tal. Dirá que, para distinguir a 
desobediência civil de outras condutas desse cunho, as duas maiores características que a 
diferencariam seriam ser uma ação em grupo e sem violência, pacífica.23 
 
Igualmente aparecendo na pesquisa como defensora da desobediência civil como 
ato coletivo, fazendo uma contraposição a Henry Thoreau, está Hanna Arendt. Hannah Arendt 
não concorca com Thoreau e seu individualismo, pois este seria permeado por subjetividades e 
a ação política se preocuparia com interesse público e não somente com o “Eu” individual.24 
 
Portanto, como já exposto acima, a desobediencia civil para a autora seria um ato 
coletivo, não violento, que vai na contramão da vontade da maioria, sendo um instrumento 
utilizado pela minoria, munida da opinião comum dos seus integrantes que se convenceram que 
os canais normais de mudança não surtirão efeitos ou que o governo está empreendendo atos 
de constitucionalidade duvidosa. 
 
Hannah Arendt dirá em sua obra Crises da República que: 
 
A consciência é apolítica. Não está primordialmente interessada no mundo onde o 
erro é cometido ou nas consequências que este terá no curso futuro do mundo.(...) As 
 
21 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil 2ª Edição (Revista e Ampliada) Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p.51. 
22 COSTA, Nelson Nery. Teoria e Realidade da Desobediência Civil. 2ª Edição (Revista e Ampliada) Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000,p.51. 
23 BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política; trad. Carmen 
C. Varriale; Gaetano Lo Mônaco; João Ferreira;Luís Guerreiro Pinto Cacais e Renzo Dini; coord. trad. João 
Ferreira; rev. geral João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cacais. - Brasília : Editora Universidade de Brasília 
(UNB), 11a ed., Vol. 1, 1998, p.337. 
24 BONINI, Marcelo Casteli A Desobediência Civil como condição histórica de exercício e produção de 
sujeitos político-culturais, Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Ciência Jurídica do Centro de 
Ciências Sociais Aplicadas do Campus de Jacarezinho da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), 
Jacarezinho, 2010, p. 39. 
 5 
deliberações de consciência não são somente apolíticas, são sempre expressas de 
maneira puramente subjetiva.25 
 
Também dirá que: 
 
minorias organizadas delimitadas mais pela opinião comum do que por interesses 
comuns, e pela decisão de tomar posição contra a política do governo mesmo tendo 
razões para supor que ela é apoiada pela maioria; sua ação combinada brota de um 
compromisso mútuo e é este compromisso que empresta crédito e convicções à sua 
opinião, não importando como a tenham originalmente atingido. Argumentos 
levantados em prol da consciência individual ou de atos individuais, ou seja, os 
imperativos morais e os apelos “à mais alta lei”, seja ela secular ou transcendente, são 
inadequados quando aplicados à desobediência civil26 
 
Gandhi e Luther King também tem a concepção da desobediência civil como ato 
coletivo, como se pode ver acima. Todas as ações práticas dessas figuras históricas se basearam 
na mobilização de varios contingentes de pessoas em prol de realizar uma ação de 
desobediência aos mandamentos governamentais. Igualmente, Michael Walzer27 considera a 
Desobediência Civil um ato coletivo. 
 
Ronald Dworkin dirá que a desobediência civil possibilita uma discussão fora dos 
limites institucionais. Trata-se de uma alternativa para discussão das necessidades públicas, é o 
coletivo em busca de objetivos comuns. A desobediência civil incita o debate, publiciza a 
discussão e possibilita que o coletivo seja contrário as leis injustas.28 
 
Contudo, Dworkin estabelecerá uma argumentação sui generis e dividirá os ato de 
desobediência civil em uma triplice tipologia, da qual está presente a chamada “desobediência 
civil baseada na integridade.” 
 
Nela, a consciência do indivíduo totalmente desaprova o que a lei estabelece, 
negando-a totalmente e a desobedecendo. Ocorreria em uma situação de urgencia e não exigiria 
o esgotamento de todas as instâncias dos metodos de resolução de conflitos institucionalizados 
para se perpetuar. Essa é a lição trazida por Renato Menêzes Assis sobre a obra de Dworkin: 
 
25 ARENDT, Hannah. Crises da república. São Paulo: Perspectiva, 1973, p. 58/59. 
26 ARENDT, Hannah. Crises da república. São Paulo: Perspectiva, 1973, p. 55/56. 
27 CUNHA, Ana Graciela Videla da. Desobediência Civil? Um estudo sobre a ocupação na reitoria da UFSM 
em 2011, Dissertação apresentada no Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, da 
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria (RS), 2017, p.31-32. 
28 LUCAS, Doglas Cesar; A Desobediência Civil na Teoria Jurídica de Ronald Dworkin, Revista de Direitos 
Fundamentais e Democracia, v. 16, n. 16, julho/dezembro de 2014, Curitiba, 2014, passim. Disponível em: < 
https://revistaeletronicardfd.unibrasil.com.br/index.php/rdfd/article/view/591 > Acessado em: 21/11/2020. 
https://revistaeletronicardfd.unibrasil.com.br/index.php/rdfd/article/view/591
 6 
 
Assim, quando alguém desobedece a uma norma por achar que esta exige um 
comportamento imoral, que ofende sua integridade pessoal, sua própria consciência, 
Dworkin chama esse tipo de desobediência, baseada nessas circunstâncias de 
desobediência civil “baseada na integridade” [...] Esse tipo de desobediência civil, 
quando a lei exige que as pessoas façam o que sua consciência absolutamente proíbe, 
ocorre normalmente em uma questão de urgência, portanto, não se pode exigir que o 
cidadão que age desta maneira deva ter esgotado o processo político normal com o 
intuito de reverter à decisão política a que ele se opõe.29 
 
Nesse sentido, em seu livro “Umaquestão de princípio” dá o exemplo de alguém 
que, contrariando a legislação, ajuda um escravo fugitivo e chama este ato de desobediência 
civil baseada na integridade.30 Logo, é possível afirmar que tal questão numérica é relativizada 
por Ronald Dworkin. 
 
Também dirá Julio Tomé, expondo a doutrina de Jonh Rawls sobre a Desobediência 
Civil que, como também afirma a autora Hannah Arendt, ela seria “uma violação aberta da lei, 
sobre a qual, em prol de um grupo, desafia-se as leis e as autoridades estabelecidas, por meio 
de minorias organizadas, que de alguma maneira importam quantitativa e qualitativamente, 
na questão da opinião”.31 
 
Nelson Nery também estabelece que a Desobediência Civil é normalmente um ato 
de mais de um indivíduo, mas admite que seja individual em certas circunstâncias, como na 
objeção de consciência e diz que na ação prática tal distinção teorica entre essas figuras não se 
apresenta às vezes com tanta clareza.32 Nery se apoiará nas doutrinas de Hugo Adam Bedau e 
Passerin d´ Entrêves para argumentar que deve se tomar o paradigma de Thoreau do não 
pagamento dos impostos como um caso de Desobediência Civil.33 
 
Pode-se concluir que não há unanimidade na doutrina, porém, a pesquisa mostrou 
haver posição majoritária de que o ato de desobediência Civil seria um ato coletivo, tanto no 
sentido do número de participantes, como no sentido dos motivos que os movem ao ato em 
 
29 ASSIS, Renato Menêzes de. O Fundamento da Desobediência Civil em Ronald Dworkin, 2012, p.37. 
Trabalho de conclusão de curso- UNICEUB – Centro Universitário de Brasília, Brasília, 2012. 
30 DWORKIN, Ronald , Uma questão de princípio. Tradução de Luís Carlos Borges. São Paulo: Martin Fontes, 
2001, p.157. 
31 TOMÉ, Julio Rawls e a Desobediência Civil Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em 
Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGFIL/UFSC), Florianópolis, 2018, p.103. 
32 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil 2ª Edição (Revista e Ampliada) Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p.52. 
33 Ibdem, p.52. 
 7 
comum, inclusive necessitando de prévia e, às vezes, exaustiva preparação para a atividade, 
como no caso das ações executadas por Gandhi e Luther King.34 
 
2.2.2 ATOS VOLUNTÁRIOS E CONSCIENTES 
 
Ainda falando dos indivíduos que praticam a resistência, apareceu na pesquisa a 
necessidade dos atos de desobediência civil serem voluntários e conscientes. 
 
Voluntários porque o elemento volitivo do indivíduo é levado em consideração, ou 
seja, violou-se a lei intencionalmente e por escolha (podendo não ter violado), não sofreu 
coação para viola-lá e está se submetendo a possibilidade de sofrer as sanções pelos seus atos. 
 
Conscientes porque para o ato há uma justificação e tal justificação é uma 
incompatibildade entre a lei e o sentimento de justiça dos indivíduos, fazendo com que o autor 
da desobediência estabeleça que sua ação foi inteiramente justa e legitima. (como visto na 
introdução, há variadas justificativas para o ato, mas para o ato ser consciente exige-se uma 
justificativa, pondendo ser ela de cunho ético, político, religioso, etc.) Assim exporá Renato 
Assis, se apoiando em Malem Seña.35 
 
2.2.3 ATO ILEGAL (EMBATE ENTRE A ILEGALIDADE LEGITIMADA E A 
PRETENSÃO DE JUSTIFICAÇÃO JURÍDICA DA DESOBEDIÊNCIA CIVIL) 
 
Nesta parte do estudo das características da Desobediência Civil cumpre mencionar, 
desde logo, que a maioria dos autores pesquisados entende que o ato desobediente é um ato 
ilegal. 
 
Henry Thoreau, Luther King e Gandhi envolveram a Desobediência Civil com essa 
característica de ilegalidade. Thoreau não pagou impostos e foi preso, protagonizando uma 
conduta ilegal e escrevendo em seu livro “Desobediência Civil” que se a injustiça “for de 
 
34 Ibdem, p.42 e 44. 
35 ASSIS, Renato Menêzes de. O Fundamento da Desobediência Civil em Ronald Dworkin, 2012, p.25. 
Trabalho de conclusão de curso- UNICEUB – Centro Universitário de Brasília, Brasília, 2012. 
 8 
natureza tal que exija que nos tornemos agentes de injustiça para com os outros, então 
proponho que violemos a lei”.36 
 
Luther King, como visto acima na exposição do autor, também protagonizava atos 
ilegais para com seu governo e explicitava que aquele que desobedeceria uma lei injusta estaria 
demonstrando o mais elevado respeito pela lei.37 
 
Igualmente Gandhi fez várias ações ilegais contra a inglaterra e a favor da 
independência da Índia, encampando inúmeras lutas. Cita-se, como exemplo, na África do Sul 
seu movimento de maior repercussão foi contra a Lei de Registro dos Asiáticos que obrigou 
todos os indianos a serem registrados e terem suas impressões digitais arquivada. Neste 
movimento após decidirem em conjunto pela aplicação da Satyagraha (resistência pacífica) em 
que indianos se oporam a medida e jogaram seus certificados em um caldeirão, em 1908. 38 
 
Além dos três autores acima, podemos apontar como apontadores da desobediência 
civil como ilegal, ou seja, que contraria normas positivadas no ordenamento, Hannah Arendt, 
Norberto Bobbio, Jonh Rawls, Habermas e Nelson Nery Costa. Para Doglas Cezar Lucas e 
André Leonardo Copetti a principal qualidade da desobediência civil seria ser uma ilegalidade 
legitimada e dizem que esse também é o caso de Jonh Rawls, Norberto Bobbio e Hannah 
Arendt.39 
 
Para Hannah Arendt a Desobediência Civil seria uma ação extra legal40. Entretanto, 
esta ação não visaria romper com a legalidade, visando, na verdadade, a manutenção da ordem. 
Dirá Seixas que: 
 
 
36 THOREAU, Henry David A Desobediência Civil, Tradução de José Geraldo Couto, 3ª reimpressão, Penguin 
Classics Companhia das Letras, São Paulo, 2012,p.18. 
37 KING, Martin Luther. Letter From Birminghan City Jail. In: BEDAU, Hugo Adam Civil Disobedience in 
Focus London ; New York : Routledge, 2002, p.74. 
38 OLIVEIRA, Bruno Pittella Direito de Resistência, Desobediência Civil e a Construção da Democracia no 
Brasil Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Direito da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, 2013,p.72-73 
39 SANTOS, A. L. C., & LUCAS, D. C. (2015). Desobediência civil e controle social da democracia. Revista 
Brasileira De Estudos Políticos, v. 110 (2015), Belo Honrizonte (MG), 179-216, p. 193. Disponível em: < 
https://pos.direito.ufmg.br/rbep/index.php/rbep/article/view/P.0034-7191.2015v110p179> Acessado em: 
16/11/2020. 
40 SEIXAS, R. L. da R. (2019). Desobediência Civil e Cidadania Participativa em Hannah Arendt. Aufklärung: 
Revista De Filosofia, 6(1), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, Paraíba, p.67. Disponível em: 
https://periodicos.ufpb.br/index.php/arf/article/view/42937. Acessado em 02/05/2020. 
https://pos.direito.ufmg.br/rbep/index.php/rbep/article/view/P.0034-7191.2015v110p179
https://periodicos.ufpb.br/index.php/arf/article/view/42937
 9 
Nesse sentido, a desobediência, identifica-se enquanto uma ação necessariamente 
extralegal, porém que não objetiva romper com a legalidade. Ao contrário, por meio 
da não obediência da ordem, o dissenso civil visa exatamente a ordem e apresenta 
como seu objetivo direto, uma mudança necessária e desejável, ou a manutenção de 
direitos garantidos, mas que se encontram sob a ameaça de serem violados.41 
 
Para Norberto Bobbio “A Desobediência civil, enquanto é uma das várias formas 
que pode assumir a resistência à lei, é também e sempre caracterizada por um comportamento 
que põe intencionalmente em ação uma conduta contrária a uma ou mais leis.”42 Rawls define 
a desobediência civil como: “um ato público, não violento, consciente e não obstante um ato 
político, contrário à lei, geralmente praticado com o objetivo de provocar uma mudançana lei 
e nas políticas do governo [...]”43 
 
Habermas em suas obras também estabelecerá argumentação de porque seria contra 
uma legalização da Desobediência Civil, estabelecendo em seu texto “Desobediência Civil: 
Pedra de Toque do Estado Democratico de Direito” que ela deveria se mover na divisoria da 
legitimidade e da validade e o Estado que punisse a Desobediência Civil como um crime 
comum incorreria em um legalismo autoritário.44 
 
Habermas, além do dito acima, tecerá outros argumentos contrários a legalização 
no sentido de que converteria-se em um comportamento normalizado, que desapareceria todo 
o risco pessoal do ato e faria com que fossem consideradas problemáticas as fundamentações 
morais de quem quebrasse a norma. Incusive seu peso como ato de protesto ficaria avariado.45 
A Desobediência Civil deveria atuaria na divisória entre a Legalidade e a Legitimidade. Dirá 
Maikon Chaider que “A desobediência civil deve permanecer à margem das leis para não 
reduzirmos a legitimidade da ordem jurídica à facticidade legal”.46 
 
41 Ibdem, p. 67. 
42 BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política; trad. Carmen 
C. Varriale; Gaetano Lo Mônaco; João Ferreira;Luís Guerreiro Pinto Cacais e Renzo Dini; coord. trad. João 
Ferreira; rev. geral João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cacais. - Brasília : Editora Universidade de Brasília 
(UNB), 11a ed., Vol. 1, 1998, p.337. 
43 RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Tradução de Almiro Pisseta e Linita M. R. Esteves. São Paulo: Martins 
Fontes, 1997, §55, p.404 Apud. TOMÉ, Julio Rawls e a Desobediência Civil Dissertação submetida ao Programa 
de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGFIL/UFSC), Florianópolis, 2018, 
p.103. 
44 HABERMAS, Jürgen. “La desobediencia civil. Piedra de toque del Estado democratico de Derecho”, in 
Ensayos políticos, Ediciones península, Traduccion de Ramon Garcia Cotarelo, Barcelona, 2002, p.70. 
45 Ibdem, p.63. 
46 SCALDAFERRO, Maikon Chaider Silva A juridificação como patologia social: reexaminando um 
diagnóstico habermasiano IN: WERLE, Denílson Luís, PIROLI, Diana, DE BORBA, Eduardo, SELL, Jorge 
Armindo, ALI, Nunzio, XAVIER, Raquel Cipriani (Orgs.) Justiça, Teoria Crítica e Democracia Volume II, 
NEFIPO (Núcleo de Ética e Filosofia Política), Florianópolis, 2018, p.23. Disponível em: < 
http://www.nefipo.ufsc.br/> Acessado em: 03/08/2020. 
http://www.nefipo.ufsc.br/
 10 
 
Nelson Nery Costa também considera a Desobediência Civil um ato 
necessariamente ilegal. 47 Não obstante tais posições, há autores que colocam que seria possível 
uma justificação jurídica para a desobediência civil. 
 
Arthur Machado Paupério reserva capítulo de sua obra “Teoria Democrática da 
Resistência” para tratar da questão de que o exercício da resistência poderia ser enquadro como 
um caso de legítima defesa coletiva. Dirá que no caso da tirania ser avasaladora, a resistência 
equipara-se à legitima defesa. Ressalta que alguns juristas também ligam o direito de resistência 
à legítima defesa individual48 
 
Também encontramos a proposta de Ronald Dworkin, para quem a Desobediência 
Civil seria uma espécie de controle de constitucionalidade das leis49, ou seja, faria parte dos 
mecanismos que o Estado tem para auferir se uma lei é compatível ou não com a constituição, 
baseado na idéia do autor que o cidadão teria a liberdade de interpretar uma lei duvidosa.50 
 
Na base desse pensamento dirá o autor em sua obra “Uma questão de princípio” 
que “embora os tribunais possam ter a última palavra, em qualquer caso específico, sobre o 
que é o direito, a última palavra não é, por essa razão apenas, a palavra certa”.51 Dirá o autor, 
também, em “Levando os direitos a sério”, que “a lealdade do cidadão é para com a lei e não 
para com um ponto de vista particular que alguém tenha sobre a natureza do direito”.52 
 
Para além disso, pode-se inferir da teoria do autor que “o direito pode “abrigar”, 
dentro de certos limites, a desobediência civil. Nessa perspectiva, a desobediência não 
consistiria num ato ilegal ou ilícito.”53 Dirá Dworkin, criticando o positivismo, que “não 
 
47 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil 2ª Edição (Revista e Ampliada) Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p.60. 
48 PAUPÉRIO, Arthur machado Teoria Democratica da Resistência. 3ª edição revista, Rio de Janeiro, Editora 
Forense Universitária, 1997,p. 7-8. 
49 LUCAS, D. C. (2013). Direito De Resistência E Desobediência Civil: História E Justificativas. Revista 
Direito Em Debate, V. 8 N. 13(1999), Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – 
UNIJUI,P. 43. Disponível em: < 
https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate/article/view/807> Acessado em: 16/11/2020. 
50 DWORKIN, Ronald. Levando os Direitos a Sério Tradução de Nelson Boéira. 2ª ed. São Paulo: Martins Flores, 
2002, p. 322-323. 
51 DWORKIN, Ronald, Uma questão de princípio. Tradução de Luís Carlos Borges. São Paulo: Martin Fontes, 
2001, p.171. 
52 DWORKIN, Ronald, Op. Cit., p. 328. 
53 LUCAS, D. C.; SANTOS, A. L. C.; DE OLIVEIRA, C. D., O papel da desobediência civil em tempos de 
desconfianças democráticas. O direito entre legalidade e legitimidade REVISTA DIREITOS SOCIAIS E 
https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate/article/view/807
 11 
devemos dizer que se alguém violou a lei, por qualquer razão que seja e por mais honrosos que 
sejam seus motivos, sempre deve ser punido porque a lei é a lei”.54 
 
Doglas Cesar Lucas explica didaticamente que é essa possibilidade, presente na 
visão de Dworkin, do cidadão perpetuar sua própria interpretação da constituição da nação (não 
tendo esse monopólio somente o poder judiciário) que faz com que a desobediência civil possa 
ser vista como um mecanismo de controle de constitucionalidade das leis. A constituição teria 
uma feição aberta reconhecendo a construção e significados por meio da participação da 
sociedade. Doglas se apoia nos escritos de Estévez Araujo sobre Ronald Dworkin: 
 
se vislumbra a desobediência civil como controle de constitucionalidade das leis, pois 
a sociedade, como um todo, possui o direito de promover a sua interpretação da 
Constituição, não sendo esta tarefa exclusividade do judiciário. A construção dos 
significados, a própria vida da Constituição se dá de maneira totalmente aberta, 
reconhecendo na participação democrática e na opinião pública critérios relevantes de 
interpretação e de compreensão em torno dos direitos, valores e princípios presentes 
no texto constitucional. Assim vista, a Constituição aparece como um processo, como 
“una apertura de la defesa de la constituición a la opinión pública”. De modo que se 
concede ao cidadão a faculdade de, levando em conta a sua construção de critérios, 
duvidar da constitucionalidade de uma lei, participando da defesa da constituição. “A 
desobediencia civil como test de constitucionalidad es una protest contra la 
ponderación llevada a cabo por el legislador”. É justamente diante da insuficiência 
dos mecanismos institucionais de defesa da constituição que aparece a desobediência 
civil como proposta de reforçar o debate público em torno da interpretação 
constitucional e da garantia dos direitos fundamentais. Ademais, a desobediência 
civil, utilizada para denunciar um ceticismo a respeito da constitucionalidade, 
interviria de forma ativa na formação e construção dos temas que são objetos da 
discussão perante a opinião pública, um meio legítimo de incidência junto a ela. 
Enfim, sustenta a possibilidade de desobediência diante da lei inconstitucional como 
um mecanismo de teste, de incentivar o controle e defesa da constituição55 
 
Não discrepando das afirmações acima, dirá Mateus Davi, se apoiando nos escritos 
de JoséCarlos da Silva Garcia, que para Ronald Dworkin a desobediência Civil seria vista como 
“um teste de constitucionalidade das normas legais que são objeto de questionamento.”56 
 
 
POLÍTICAS PÚBLICAS (UNIFAFIBE), Vol.6, N.1,2018 São Paulo p.77 Disponível em: 
http://www.unifafibe.com.br/revista/index.php/direitos-sociais-politicas-pub/article/view/419. Acessado em 
22/04/2020. 
54 DWORKIN, Ronald, Uma questão de princípio. Tradução de Luís Carlos Borges. São Paulo: Martin Fontes, 
2001, p.168. 
55 LUCAS, D. C. (2013). Direito De Resistência E Desobediência Civil: História E Justificativas. Revista 
Direito Em Debate, V. 8 N. 13(1999), Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – 
UNIJUI,P. 43. Disponível em: < 
https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate/article/view/807> Acessado em: 16/11/2020. 
56CRUZ, Mateus Davi Gonçalves Fróes da. Desobediência Civil: um elemento democrático, Dissertação 
apresentada ao Programa de Pós-graduação em Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Área 
de concentração: Direito Público. Rio de Janeiro, 2017, p.30 
http://www.unifafibe.com.br/revista/index.php/direitos-sociais-politicas-pub/article/view/419
https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate/article/view/807
 12 
A pesquisa mostrou que há autores para os quais os atos de Desobediência Civil 
estariam justificados juridicamente pelo fato de sua “identificação com o exercício de um 
direito fundamental.”57 Entre eles, cita-se Dreiner: “Outra possibilidade assumida pela 
desobediência civil no âmbito Constitucional, refere-se a sua identificação com o exercício de 
um direito fundamental. É sob este viés que Dreier expõem suas idéias.”58 Igualmente, dirá 
Mateus Davi que o instituto da Desobediência Civil é defendido por Dreier “como um exercício 
dos direitos fundamentais. A desobediência surge como uma autotutela dos direitos 
fundamentais que se tenham como abusivamente reprimidos.”59 
 
Por fim, Canotilho também menciona o autor e sintetiza o pensamento dele: 
 
Sob o ponto de vista jurídico — constitucional, a desobediência civil poder-se- ia 
caracterizar como o direito de qualquer cidadão, individual ou coletivamente, de 
forma pública e não violenta, com fundamento em imperativos éticos-políticos poder 
realizar os pressupostos de uma norma de proibição, com a finalidade de protestar, de 
forma adequada e proporcional, contra uma grave injustiça (Dreiner).60 
 
Doglas Cesar Lucas fará a observação que os argumentos desta passagem “não 
fundamentam a desobediência civil no ordenamento jurídico, mas sim em elementos éticos e 
políticos que facultariam a produção de uma norma de proibição que gozaria, aí sim, Status 
de um direito amparado constitucionalmente.”61 
 
Seguindo-se a essas argumentações, encontra-se também na bibliografia 
consultada, a visão de que se poderia defender, em termos jurídicos, a Desobediência Civil com 
o auxílio do instituto do estado de necessidade. Mateus Davi dirá que essa é a posição defendida 
por José Carlos Garcia: 
 
O estado de necessidade é uma causa legal de exclusão da ilicitude, não havendo crime 
quando o agente pratica o fato neste estado, respondendo pelo excesso doloso ou 
culposo. Os atos de desobediência civil não seriam, portanto, ilegais, pois o sistema 
jurídico contém disposições que considerariam um fato típico (conduta vedada por 
disposição legal), sob certas condições específicas e concretas, lícito, ou, pelo menos, 
 
57 LUCAS, D. C. (2013). Direito De Resistência E Desobediência Civil: História E Justificativas. Revista 
Direito Em Debate, V. 8 N. 13(1999), Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – 
UNIJUI,P. 44. Disponível em: < 
https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate/article/view/807> Acessado em: 16/11/2020 
58 Ibdem, p.44. 
59 CRUZ, Mateus Davi Gonçalves Fróes da. Op. Cit., p.31. 
60 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7. ed. Coimbra: 
Almedina, 2003, p. 328. 
61 LUCAS, D. C. (2013). Op. Cit., p.44. 
https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate/article/view/807
 13 
isento de pena. (...) Esta justificação jurídica da desobediência civil é abordada por 
José Carlos Garcia (De sem rosto...).62 
 
Por derradeiro, cumpre também deixar registrado a visão de Juan Ignacio sobre o 
problema de justificação jurídica da desobediência civil que, para o autor, pode se operar de 
duas maneiras: Uma delas é recorrendo ao que o autor chama de “norma de validez” e a outra 
é recorrer a eficácia protetora das normas de direito fundamental, envolvendo, portanto, a teoria 
dos direitos fundamentais e a sua eficácia e limites.63 
 
2.2.4 ATOS PÚBLICOS E ABERTOS 
 
A desobediência Civil seria caracterizada por ser um ato público e aberto. Pode-se 
dizer também, não escondido, sem clandestinidade. Dirá Joana de Menezes Cruz que a 
legitimidade deste ato “costuma estar relacionada ao fato de ser praticada à luz do dia. Além 
de falar ao público, visando alcançar o apoio da comunidade em geral, precisa acontecer em 
público para ser considerada justificada”.64 
 
Dirá Nelson Nery, nesta mesma toada que a desobediência civil “é um ato público 
e aberto. Não somente clama pelos princípios públicos, como se expressa publicamente em 
ação, não sendo de forma alguma conspirativo. Esta posição encontra-se defendida pela 
maioria dos autores que estudou o tema”.65 
 
Assim foi com os classicos desobedientes: Henry David Thoreau, um abolicionista, 
percebeu que a ampliação territorial imperialista dos Estados Unidos sobre o México 
aumentaria a cultura escravocrata66, e contrário a esta guerra se propôs a fazer algo por meio 
do não pagamento de impostos ao estado de Massachusetts, que o usavam para financiar o 
 
62 CRUZ, Mateus Davi Gonçalves Fróes da. Desobediência Civil: um elemento democrático, Dissertação 
apresentada ao Programa de Pós-graduação em Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Área 
de concentração: Direito Público. Rio de Janeiro, 2017, p.28-29. 
63 UGARTEMENDIA, Juan Ignácio Ecaizabarrena. Algunas Consideraciones sobre la “protección jurídica’ de 
la desobediencia civil. Barcelona: Institut Ciències Polítiques i Socials, Universidad del País Vasco, Working 
Paper n.151, 1998. Disponível em: < https://www.icps.cat/cerca > Acessado em: 16/11/2020. p.8-17. 
64 CRUZ, Joana de Menezes Araújo da. Desobediência Civil nos Interstícios do Estado de Direito, Editora 
Lumen Juris, 1ª ed., Rio de Janeiro, 2017, p.122. 
65 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil 2ª Edição (Revista e Ampliada) Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p.52. 
66 OLIVEIRA, Bruno Pittella Direito de Resistência, Desobediência Civil e a Construção da Democracia no 
Brasil Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Direito da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, 2013, p.57-58. 
https://www.icps.cat/cerca
 14 
exército. Por conta disso, foi preso, sendo a experíencia relatada em sua obra “A Desobediencia 
Civil”.67 Vale a pena citar Nelson Nery sobre o tema: 
 
O “indivíduo” isolado também podia praticar a desobediência. O próprio autor 
envolveu-se em um episódio, que relatou depois na “Desobediência Civil”. Ele, numa 
tarde de Julho de 1846, foi até a cidade apanhar um sapato. O policial de Concord o 
abordou, acusando-o de não pagar o imposto eleitoral desde 1840. Thoreau respondeu 
que não pagara por nunca ter votado e por considerar, o imposto uma forma política de 
cooperação com a guerra mexicana (começada naquele ano) e com a manutenção da 
escravidão. Foi preso.68 
 
Somente para dar mais força ao argumento,Thoreau trata de como era sua relação 
com os cobradores de impostos (inclusive, seu vizinho era um) e como, certa vez, se recusou a 
pagar certa quantia para o sustento de um sacerdote, ocasião na qual foi-lhe dito para pagar ou 
seria trancafiado na cadeia.69 
 
Gandhi encampou inúmeras lutas. Na África do Sul seu movimento de maior 
repercussão foi contra a Lei de Registro dos Asiáticos que obrigou todos os indianos a serem 
registrados e terem suas impressões digitais arquivada. Neste movimento após decidirem em 
conjunto pela aplicação da Satyagraha (resistência pacífica) em que indianos se oporam a 
medida e jogaram seus certificados em um caldeirão, em 1908.70 
 
Martin Luther King não fica para trás. Uma de suas importantes participações com 
apoiador da luta anti-segregacionista envolveu o caso emblematico de Rosa Louise Mccauley, 
mais conhecida como Rosa Parks, e o boicoite ao sistema de transporte público de 
Montgomery.71 Os protestos foram desencadeados quando Rosa, mulher negra, não cedou seu 
lugar no ônibus para um homem branco, como era constume na época e contou com a 
mobilização do Conselho político Feminino72, bem como de outras várias lideranças negras73 e 
 
67 THOREAU, Henry David A Desobediência Civil, Tradução de José Geraldo Couto, 3ª reimpressão, Penguin 
Classics Companhia das Letras, São Paulo, 2012, p.25-26. 
68 COSTA, Nelson Nery Teoria e realidade da desobediência civil, 2ª edição (revista e ampliada), Rio de Janeiro, 
Editora Forense, 2000, p.36/37. 
69 THOREAU, Henry David. Op. Cit.,p.19-24. 
70 OLIVEIRA, Bruno Pittella. Op. Cit.,p.72-73. 
71 FERREIRA, Ricardo Alexino. Rosa parks declarou luta pelos direitos civis dos negros nos EUA. Jornal da 
USP, São Paulo, 08/05/2018. Disponível em: < https://jornal.usp.br/atualidades/rosa-parks-deflagrou-luta-pelos-
direitos-civis-dos-negros-nos-eua/>. Acesso em: 06 de Dezembro de 2020. 
72 KLEFF, Michael. 1955: Rosa Parks se recusa a ceder lugar a um homem branco nos EUA. Deutsche Welle 
(DW), 01/12/2019. Disponível em: < https://www.dw.com/pt-br/1955-rosa-parks-se-recusa-a-ceder-lugar-a-um-
branco-nos-eua/a-340929>. Acessado em: 06 de Dezembro de 2020. 
73 FERREIRA, Ricardo Alexino. Op. Cit. 
https://jornal.usp.br/atualidades/rosa-parks-deflagrou-luta-pelos-direitos-civis-dos-negros-nos-eua/
https://jornal.usp.br/atualidades/rosa-parks-deflagrou-luta-pelos-direitos-civis-dos-negros-nos-eua/
https://www.dw.com/pt-br/1955-rosa-parks-se-recusa-a-ceder-lugar-a-um-branco-nos-eua/a-340929
https://www.dw.com/pt-br/1955-rosa-parks-se-recusa-a-ceder-lugar-a-um-branco-nos-eua/a-340929
 15 
durou pouco mais de um ano trazendo graves prejuízos para a empresa de ônibus e chamou a 
atenção de todo o país.74 Segundo o professor Ricardo Alexino, professor da Escola de 
Comunicação e artes da USP, a atitude de Rosa Parks possibilitou maior organização dos 
movimentos sociais de combate ao segregacionismo e pelos direitos civis dos negros nos 
Estados Unidos e o despontamento de lideranças, como Martin Luther King.75 Martin Luther 
King apoiou integralmente, portanto, o protesto silencioso de Rosa Parks contra as leis 
segragacionistas de seu Estado. 
 
As grandes características da desobediência civil seriam, para Martin Luther King: 
Uma ação de massas, não violenta e aberta, chamando a atenção da população passiva. Das 
táticas utilizadas vale citar os boicotes, os sit-in e a marcha, todas levadas a cabo sem a 
utilização de violência. Entende Luther King que se os desobedientes forem para a prisão, o 
significado daquele ato ficaria cristalino.76 
 
Todos os atos acima não foram clandestinos e foram atos que poderiam ser 
considerados públicos (principalmente o não pagamento de impostos) e os três nomes acima 
foram presos por eles e não tentaram escapar às punições, aceitaram-nas pelos seus atos 
contrarios a lei. Além dos três classicos, os demais autores estudados acima também atribuem 
à Desobediência Civil tal característica. 
 
Ronald Dworkin, porém, desenvolve argumentação sui generis, dividindo-a em 3 
(três formas) e dirá que poderia atender muito mais aos interesses do desobediência e de sua 
estratégia se sua desobediência fosse velada, dissimulada e nunca descoberta, no caso de uma 
desobediência civil baseda na integridade (p.ex. a recusa na ajuda de caçadores de escravos ou 
a recusa a lutar numa guerra injusta)77. Ao passo que em um desobediência civil baseada na 
justiça ou na política, poderia fazer sentido a estratégia de sua exposição e, consequente, 
punição. Logo, para Dworkin a máxima “Descumpri a lei, agora prendam-se” deveria ser 
ponderada caso a caso e poderia haver casos de uma desobediência civil velada que não deixaria 
 
74 OLIVEIRA, Bruno Pittella, Op. Cit.,p.77. 
75 FERREIRA, Ricardo Alexino. Op. Cit. 
76COSTA, Nelson Nery Teoria e realidade da desobediência civil, 2ª edição (revista e ampliada), Rio de Janeiro, 
Editora Forense, 2000, p.44. 
77 DWORKIN, Ronald , Uma questão de princípio. Tradução de Luís Carlos Borges. São Paulo: Martin Fontes, 
2001, p.157. 
 16 
de ser desobediência civil. Dworkin, em sua obra, atribui peso as estratégias que serão utilizadas 
pelos desobedientes. 78 
 
Vale citar, por derradeiro, Jonh Rawls, que elaborará nesse aspecto e dirá que um 
ato de desobediência civil seria um ato público por dois aspectos: i) Porque se dirige a princípios 
públicos; ii) Porque é feito em âmbito público, aberto, de modo algum em segredo. Também 
por esse motivo, ela seria um ato que não se utilizaria de violência para alcançar seus objetivos.79 
 
Os atos públicos seriam uma forma de sensibilizar a opinião pública para apoiar o 
protesto, ou seja, conseguir publicidade favorável. A desobediência civil, portanto, apelaria 
para os demais indivíduos da sociedade e forçaria um debate no seio daquela comunidade de 
que se aquela lei injusta com a qual se guerreia de fato viola princípios éticos ou a idéia de 
justiça que rege aquela sociedade específica, mobilizando, assim, a opinião pública para debates 
sobre temas morais, políticos e sociais controvertidos. Não coage os indivíduos, incita a 
discussão. Provoca um momento de tensão, na qual a sociedade toma conhecimento de questões 
controvertidas que, não raro, os meios de comunicação minimizam a importância.80 
 
Dirá Norberto Bobbio também que: 
 
Exatamente pelo seu caráter demonstrativo e por seu fim inovador, o ato de 
Desobediência civil tende a ganhar o máximo de publicidade. Este caráter publicitário 
serve para distingui-la nitidamente da desobediência comum: enquanto o 
desobediente civil se expõe ao público e só expondo-se ao público pode esperar 
alcançar seus objetivos, o transgressor comum deve realizar sua ação no máximo 
segredo, se desejar alcançar suas metas.81 
 
Também para Maria Garcia, neste mesmo sentido, também estabelece que a 
desobediência civil seria um ato que visa a mudança da norma por meio da publicidade. 
Portanto, a desobediência civil para a autora, se apoiando em Celso Lafer, seria “ação que 
 
78 Ibdem, p.162-163. 
79 TOMÉ, Julio Rawls e a Desobediência Civil Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em 
Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGFIL/UFSC), Florianópolis, 2018, p.104. 
80 COSTA, Nelson Nery Teoria e realidade da desobediência civil, 2ª edição (revista e ampliada), Rio de Janeiro, 
Editora Forense, 2000, p.60/61. 
81 BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política; trad. Carmen 
C. Varriale; Gaetano Lo Mônaco; João Ferreira;Luís Guerreiro Pinto Cacais e Renzo Dini; coord. trad. João 
Ferreira; rev. geral João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cacais. - Brasília : Editora Universidade de Brasília 
(UNB), 11a ed., Vol. 1, 1998, p.335. 
 17 
objetiva a inovaçãoe a mudança da norma por meio da publicidade do ato de transgressão, 
visando demonstrar a injustiça da lei”.82 
 
 2.2.5 ATO POLÍTICO 
 
Pode-se dizer que a característica de classificar um ato como ato político esta no 
possibilidade de fazer uma espécie de subsunção entre o conceito do que seria “político” como 
um ato externo da realidade. Haveriam diversas definições de política segundo Norberto 
Bobbio, abarcando reflexões de desde a antiguidade até reflexões modernas com notável 
mudança de sentido entre elas.83 
 
Haveriam definições de política que a conceituariam com relação a seus fins, 
seriam, por isso, definições teleológicas do fenômeno.84 Ademais, Bobbio também diz que 
existiria a visão que reduziria o fenômeno político à atividade direta ou indiretamente 
relacionada com a organização do poder coativo.85 
 
Haveria quem identificasse a política como uma relação amigo-inimigo, cujo 
campo seria o antagonismo (Carl Schmitt)86 e haveriam definições de política, como de Hannah 
Arendt, que colocariam a ênfase na liberdade dos indivíduos e no seu agir em conjunto, 
rechaçando concepções teleológicas e, por isso, dizendo que a política seria um fim em si 
mesmo. 
 
Para a autora, a política não é domínio, “não se baseia na distinção entre 
governantes e governados e nem é mera violência“.87 Para a autora “o conteúdo da política é, 
 
82 GARCIA, Maria. Desobediência Civil Direito Fundamental, 2ª Edição revista, atualizada e ampliada, Editora 
Revista dos Tribunais, São Paulo, 2004, p. 274. 
83 BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política; trad. Carmen 
C. Varriale; Gaetano Lo Mônaco; João Ferreira;Luís Guerreiro Pinto Cacais e Renzo Dini; coord. trad. João 
Ferreira; rev. geral João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cacais. - Brasília : Editora Universidade de Brasília 
(UNB), 11a ed., Vol. 1, 1998, p. 954. 
84 Ibdem, p.958. 
85 Ibdem, p.960. 
86 Ibdem, p.959. 
87 TORRES, Ana Paula Repolês. O sentido da política em Hannah Arendt. Trans/Form/Ação, Marília , v. 30, n. 
2, p. 235-246, 2007 . Disponível em: 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010131732007000200015&lng=en&nrm=iso> 
Acessado em: 17/11/2020. P.236. 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010131732007000200015&lng=en&nrm=iso
 18 
pois, a disputa acerca das medidas necessárias para preservar o corpo político e a livre 
deliberação”.88 
 
Doglas Cesar Lucas dirá que Hannah Arendt reconhece “a desobediência civil 
como reafirmação da obrigação político-jurídica capaz de regenerar a faculdade de agir, de 
participar do processo de tomada de decisões políticas e, dessa maneira, impedir a 
degeneração da lei e a corrosão do poder político.”89 
 
Notadamente, Jonh Rawls, escrevendo sobre desobediência civil, também terá sua 
concepção do que seria política, elaborando que ela seria um ato político por duas razões: i) 
Porque é um ato direcionado a maioria daquele sistema político; ii) Porque se espelha em 
princípios políticos que regem a sociedade: Os princípios de justiça.90 
 
Sobre isso, também tem-se a lição de Joana de Menezes Araújo da Cruz, sintetizada: 
"Segundo Jonh Rawls, a desobediência civil é um ato político. Rawls a conceitua dessa forma 
por duas razões: Por ser um ato dirigido à maioria política momentaneamente no poder e por 
ser orientada pelos princípios de justiça eleitos na posição original."91 
 
Dirá Doglas Cezar Lucas, igualmente, que a desobediência civil seria caracterizada 
como um ato político e se apoiaria nas visões de Arendt e Rawls.92 
 
Pois bem, feita essa rápida digressão sobre o se chamaria de “político”, é certo que 
“as questões diretrizes variam, e tanto a localização da política (notadamente sua relação com 
o econômico e o social) quanto suas implicações (a liberdade, a emancipação, o poder?) são 
 
88 CARVALHO, J. B. C. L. de. A Desobediência Civil no pensamento político de Hannah Arendt: Um direito 
fundamental Espaço Jurídico Journal of Law [EJJL],v. 13, n. 1, p. 55-66, jan./jun. 2012, Joaçaba (SC), p.59. 
Disponível em: https://portalperiodicos.unoesc.edu.br/espacojuridico/article/view/1420. Acessado em 
02/05/2020. 
89 LUCAS, D. C. (2013). Direito De Resistência E Desobediência Civil: História E Justificativas. Revista 
Direito Em Debate, V. 8 N. 13(1999), Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – 
UNIJUI,P. 42. Disponível em: < 
https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate/article/view/807> Acessado em: 16/11/2020. 
90 TOMÉ, Julio Rawls e a Desobediência Civil, Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em 
Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGFIL/UFSC), Florianópolis, 2018, p.103. 
91 CRUZ, Joana de Menezes Araújo da. Desobediência Civil nos Interstícios do Estado de Direito, Editora 
Lumen Juris, 1ª ed., Rio de Janeiro, 2017, p.121. 
92 SANTOS, A. L. C., & LUCAS, D. C. (2015). Desobediência civil e controle social da democracia. Revista 
Brasileira De Estudos Políticos, v. 110 (2015), Belo Honrizonte (MG), 179-216, p. 191. Disponível em: < 
https://pos.direito.ufmg.br/rbep/index.php/rbep/article/view/P.0034-7191.2015v110p179> Acessado em: 
16/11/2020. 
https://portalperiodicos.unoesc.edu.br/espacojuridico/article/view/1420
https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate/article/view/807
https://pos.direito.ufmg.br/rbep/index.php/rbep/article/view/P.0034-7191.2015v110p179
 19 
interpretadas diferentemente de um autor para outro”.93 Não obstante tal aspecto, viu-se na 
pesquisa que atribuir à desobediência civil a alcunha de “ato político” foi posição majoritária. 
 
2.2.6 ÚLTIMO RECURSO 
 
Ser um meio extraordinário de tentativa de resolução de conflitos e, portanto, 
somente utilizável quando os mecanismos institucionalizados de resoluçao de controvérsias não 
derem certo, é uma das características que comporiam, segundo parte da doutrina, um ato de 
Desobediência Civil. Sobre tal característica nos autores clássicos, vemos tal embate claramente 
entre Henry David Thoreau e Martin Luther King. Talvez tais autores pensassem igual Igor 
Mendes, quando este diz que “Aguentar as consequências é sempre um problema de 
convicção”.94 
 
Na bibliografia consultada sobre Gandhi, não foi possível encontrar algum trecho 
que fosse prova cabal de seu posicionamento a respeito dessa caracterísitca, mas é certo que ao 
longo de sua vida e de sua história de luta houve casos em que se voltou diretamente para a 
autoridade britânica para tentar botar um fim na discriminação seja pela elaboração de petições, 
cartas ou ameaça de protestos se suas reinvidicações não fossem atendidas.95 Inclusive em Maio 
de 1942 “solicita ao governo britânico que deixe a Índia; é preso em Agosto”. 96 
 
Thoreau tem seu pensamento calcado em uma visão anti-estadista e voltando para 
uma justificação do ato desobediente com base na consciência dos homens. Quando se 
questiona sobre se deve-se desobedecer leis injustas responde que deve-se violar a lei sempre 
que ela obrigue o indivíduo a ser, ele mesmo, o agente da injustiça.97 
 
Adiante, dirá que os mecanismos que o Estado propicia para remediar o mal 
demorariam muito tempo e a vida de um homem pode acabar antes que eles deêm frutos, além 
 
93 COLLIOT-THELENE, Catherine. O conceito de política posto à prova pela mundialização. Rev. Sociol. 
Polit., Curitiba, n. 12, p. 7-20, Jun. 1999. Disponível em: 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44781999000100001&lng=en&nrm=iso > 
Acessado em: 17/11/2020. P.7. 
94 MENDES, Igor. Esta Indescritível Liberdade, Texto em transe- Faria e Silva Edições, São Paulo, 2020, p.13. 
95 GANDHI, Mahatma Todos Somos Irmãos: Reflexões Autobiográficas, Traduçãode Bruno Alexander, 1ª 
Edição, Editora L&PM, Porto Alegre (RS), 2020, p.291-299. 
96 Ibdem, p.291-299. 
97 THOREAU, Henry David A Desobediência Civil, Tradução de José Geraldo Couto, 3ª reimpressão, Penguin 
Classics Companhia das Letras, São Paulo, 2012, p.18. 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44781999000100001&lng=en&nrm=iso
 20 
de estabelecer que não seria sua tarefa reivindicar coisa alguma ao legislativo ou ao poder 
executivo do governador, perpetuando uma visão de que não se deveria esperar dos mecanismo 
instituídos uma solução de conflitos satisfatória.98 
 
Por outro lado, a vertente classica de Luther King, que, segundo Nelson 
Nery,”tornou-se responsável pela apresentação das modernas características da resistência 
civil, ao defini-la como uma ação coletiva, depois de esgotados todos os canais de 
reinvidicação”99 propugna que a ação direta deveria vir a tona unicamente depois de fases de 
negociação, se perpetuando, portanto, como um último recurso para se protestar. Dirá em 
“Letter from Birmingham city jail” que os requisitos para a deflagração da desobediência 
deveriam ser a coleta de informações para averiguar se a injustiça ainda estaria pendente, a 
tentativa de negociação, o preparo dos envolvidos na desobediência e, por último, a “ação 
direta”. 100 Portanto, deveria ser o último recurso para os desobedientes e exigiria uma grande 
preparação antes de ser posta em prática.101 
 
Doglas Cesar Lucas dirá que a desobediência civil teria por característica ser um 
veículo extraordinário de resolução de conflitos, depois de esgotados todos os meios 
institucionais de resolução de conflitos. Portanto, “Seu uso deve limitar-se a casos extremos, 
como um recurso último. Necessário se faz, antes de tudo, esgotar os meios institucionais de 
solução dos conflitos.”102 Esse ato, que visaria a “reformulação do mundo normativo e das 
condutas governamentais, se constitui um processo a favor de melhorias das instituições 
democráticas, o que lhe impõem reconhecê-las”.103 
 
Dirá Renato Menêzes de Assis, semelhante a Doglas, que a desobediência civil seria 
o último recurso a ser útilizado quando os meios de solução propostos pelo governo já não dão 
conta de resolver os anseios da população. Exigiria “um respeito com a ordem constitucional 
democrática, deste modo, ela deve se apresentar apenas quando esgotados todos os meios 
 
98 Ibdem, p.18. 
99 COSTA, Nelson Nery Teoria e realidade da desobediência civil, 2ª edição (revista e ampliada), Rio de Janeiro, 
Editora Forense, 2000, p.48. 
100 KING, Martin Luther. Letter From Birminghan City Jail. In: BEDAU, Hugo Adam Civil Disobedience in 
Focus London ; New York : Routledge, 2002, p.69. 
101 COSTA, Nelson Nery. Op. Cit., p.44. 
102 LUCAS, D. C. (2013). Direito De Resistência E Desobediência Civil: História E Justificativas. Revista 
Direito Em Debate, V. 8 N. 13(1999), Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – 
UNIJUI,P. 40. Disponível em: < 
https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate/article/view/807> Acessado em: 16/11/2020. 
103 Ibdem, p.40. 
https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate/article/view/807
 21 
previstos pelo próprio sistema de solução dos conflitos existentes”.104 Para escrever se apoia 
nas doutrinas de Fernando Armando Ribeiro e Jorge Franscisco Malen Seña.105 
 
Joana de Menezes Araújo da Cruz, não discrepando dos pontos expostos acima, 
também apresenta como característica da desobediência civil como um ação que poderia 
acontecer unicamente após lançar mão de todos os meios ordinários de resolução de 
controvérsias que o ordenamento jurídico oferece. Para escrever sobre o assunto, se apoia na 
doutrina de Jonh Rawls, Elliot M. Zashin e, notadamente, Carlos Santiago Nino.106 
 
Por derradeiro, Nelson Nery também atribui às características da desobediência 
civil a propositura desse ato como último recurso para induzir a mudança estatal e cita outro 
autor, M.M. Goldsmith.107 
 
Notadamente dos autores acima estudados, Habermas, em seu livro “O direito e a 
força” elenca os requisitos para a desobediência civil e, entre eles, está que o desobediênte 
“deve esgotar as possibilidades de ação legal ou de revisão institucional da posição da 
maioria”.108 
 
Jonh Rawls também defende tal ponto de vista, porém, estabelecerá uma 
fexibilização desta exigência, ou seja, dirá que poderá haver casos de radical violação à direitos, 
fato que autorizaria a dispensa de tentar a resolução de conflitos pelas vias institucionais 
previamente estabelecidas na constituição.109 
 
Ronald Dworkin apresenta, como já dito, uma classificação triplice e nela está 
presente a “desobediência civil baseada na integridade”. A consciência do indivíduo totalmente 
desaprova o que a lei estabelece, negando-a totalmente e a desobedecendo. Ocorreria em uma 
 
104 ASSIS, Renato Menêzes de. O Fundamento da Desobediência Civil em Ronald Dworkin, 2012, p.32. 
Trabalho de conclusão de curso- UNICEUB – Centro Universitário de Brasília, Brasília, 2012. 
105 ASSIS, Renato Menêzes de. O Fundamento da Desobediência Civil em Ronald Dworkin, 2012, p.32-33. 
Trabalho de conclusão de curso- UNICEUB – Centro Universitário de Brasília, Brasília, 2012. 
106 CRUZ, Joana de Menezes Araújo da. Desobediência Civil nos Interstícios do Estado de Direito, Editora 
Lumen Juris, 1ª ed., Rio de Janeiro, 2017, p.126. 
107 COSTA, Nelson Nery Teoria e realidade da desobediência civil, 2ª edição (revista e ampliada), Rio de 
Janeiro, Editora Forense, 2000, p.54. 
108 ALVES, Sílvia. Desobediência Civil E Democracia Civil Disobedience And Democracy Revista Duc In 
Altum Cadernos de Direito, Faculdade Damas,Recife, vol. 7, nº11, jan.-abr. 2015, p.72-73. Disponível em: < 
https://faculdadedamas.edu.br/revistafd/index.php/cihjur/index > Acessado em 16/11/2020. 
109 Ibdem, p.67-68. 
https://faculdadedamas.edu.br/revistafd/index.php/cihjur/index
 22 
situação de urgencia e não exigiria o esgotamento de todas as instâncias dos metodos de 
resolução de conflitos institucionalizados para se perpetuar. Essa é a lição trazida por Renato 
Menêzes Assis sobre a obra de Dworkin.110 
 
2.2.7 SUJEIÇÃO ÀS SANÇÕES 
 
Para depois de perpetrado o ato desobediente, tal característica dita que os 
participantes deveriam se sujeitar as penas que a lei impõem a eles e aceitar a pubição pelos 
atos praticados. Consultando os clássicos, parece que este fato é unânime. Em Thoreau e Martin 
Luther King isso é visto de forma bastante explícita. Gandhi em sua autobiografia também 
disserta sobre essa questão das sanções e a prisão dos desobedientes. 
 
Henry Thoreau dirá em sua obra Desobediência Civil que o lugar dos homens justos 
seria na prisão.111 Portanto, “todos os desobedientes deveriam estar preparados para a mesma 
sina, lancinante, porém, virtuosa, honrosa e livre.”112 O autor, inclusive, viveu pelas suas 
palavras e, de fato, foi preso por que passou seis anos sonegando imposto .113 
 
Igualmente nesse sentido, Martin Luther King, como visto, concordava 
integralmente neste aspecto de sujeição às sanções impostas pela autoridade pública.114 115 116 
 
Gandhi, em texto de sua autobiografia, expõe que o desobediente ao quebrar as leis 
imorais do Estado chama para si a prisão e outros tipos de coação. Diz que o desobediente faz 
isso quando e porque ele percebe que sua liberdade individual se tornou um fardo. Ele 
internaliza que o Estado só permite a fruição dessa liberdade pessoal quando ele segue a risca 
suas regras. Portanto, a aderência às regras do Estado seria condição para o exercício da 
 
110 ASSIS, Renato Menêzes de. O Fundamento da Desobediência Civil em Ronald Dworkin, 2012, p.32. 
Trabalho de conclusão de curso-UNICEUB – Centro Universitário de Brasília, Brasília, 2012. 
110 Ibdem, p.37. 
111 THOREAU, Henry David A Desobediência Civil, Tradução de José Geraldo Couto, 3ª reimpressão, Penguin 
Classics Companhia das Letras, São Paulo, 2012, p.20. 
112 OLIVEIRA, Bruno Pittella Direito de Resistência, Desobediência Civil e a Construção da Democracia no 
Brasil Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Direito da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, 2013, p.62. 
113 THOREAU, Henry David, Op. Cit., p.24. 
114 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil, 2ª Edição (Revista e ampliada), Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p. 44. 
115 Ibdem, p. 45. 
116 KING, Martin Luther. Letter From Birminghan City Jail. In: BEDAU, Hugo Adam Civil Disobedience in 
Focus London ; New York : Routledge, 2002, p.74. 
 23 
liberdade pessoal.117 A aderência à regras injustas seria uma troca imoral pela liberdade pessoal. 
Dirá Gandhi em matéria o “Young India” de 1921 que: 
 
Um cidadão que assim percebe a natureza perversa de um Estado não está satisfeito 
em viver em seu sofrimento e, portanto, parece aos outros que não compartilham de 
sua crença ser um incômodo para a sociedade, enquanto tenta compelir o Estado, sem 
cometer uma violação moral, a prendê-lo. Dito isso, a resistência civil é a expressão 
mais poderosa da angústia de uma alma e um protesto eloquente contra a perpetuação 
de um Estado perverso. (...) Assim, 3 mil indianos na África do Sul, após a devida 
notificação ao governo do Transvaal, cruzaram a fronteira do Transvaal em 1914, 
desafiando a Lei de Imigração do Transvaal, e obrigaram o governo a prendê-los. 
Quando o governo não conseguiu incitá-los à violência ou coagi-los à submissão, 
rendeu-se às suas exigências.118 
 
E mais a frente, em 1946, no volume sexto da obra “Mahatma, Life of Mohandas 
Karamchand Gandhi, de D. G. Tendulkar. Publicado por Vithalbhai K. Jhaveri & D. G. 
Tendulkar, Bombaim”: 
 
No momento em que me tornei um satyagrahi, deixei de ser um sujeito, mas nunca 
deixei de ser um cidadão. Um cidadão obedece às leis voluntariamente, nunca por 
coerção ou medo da punição prevista para sua violação. Ele as quebra quando 
considera necessário e acolhe a punição. Isso tira a força delas e da desgraça que elas 
vêm provocar.119 
 
A questão parece sedimentada se analisarmos os autores classicos, portanto. Nesse 
sentido, sintese dos autores classicos neste aspecto é trazida por Joana de Menezes Araújo, na 
seguinte ordem: Luther King, Gandhi e Thoreau. Dirá a autora: 
 
“Nunca advoguei pelo desrespeito às leis. Isto levaria à anarquia. Quem se dispõe a 
violar uma lei, deve fazê-lo abertamente, apaixonadamente e com predisposição para 
aceitar a respectiva punição. Quem descumpre a lei por considerá-la injusta e se dispõe 
a ser preso a fim de despertar a consciência da comunidade para a injustiça da lei 
desrespeitada, está na verdade expressando o mais alto respeito para com as leis” (...) 
Neste mesmo sentido, Gandhi dizia estar disposto a ir alegremente para a prisão por 
ter violado as normas de sua comunidade. (...) “Diante de um governo que prende 
qualquer homem injustamente, o único lugar digno para um homem justo é a prisão 
inevitavelmente”(...) 120 
 
 
117 GANDHI, Mahatma Todos Somos Irmãos: Reflexões Autobiográficas, Tradução de Bruno Alexander, 1ª 
Edição, Editora L&PM, Porto Alegre (RS), 2020,p238. 
118 Ibdem, p.238. 
119 Ibdem, p234. 
120 CRUZ, Joana de Menezes Araújo da. Desobediência Civil nos Interstícios do Estado de Direito, Editora 
Lumen Juris, 1ª ed., Rio de Janeiro, 2017, p.126. 
 24 
Entretanto, alguns autores mais recentes acreditam que poderia se relativizar tal 
aspectos, oferecendo uma punição mais branda ou privilegiada. Defendem tal visão Dworkin, 
Rawls, Habermas e em parte por Bobbio. 
 
Consultando os textos de Sílvia Alves, professora da Universidade de Lisboa, a 
Desobediência Civil para Bobbio seria uma ação omissiva, coletiva, pública e pacífica, às vezes 
não parcial e às vezes não passiva. Dirá a autora que, para Bobbio “A desobediência civil é 
omissiva, coletiva, pública, pacífica, não necessariamente parcial (como ocorreu com Gandhi) 
e não necessa-riamente passiva (as cam-panhas contra a discriminação tendem a não 
reconhecer ao Estado o direito de punir)”.121 
 
Sílvia parece fazer jus mais a literalidade do texto quando estabelece que a 
Desobediência Civil para Bobbio não necessariamente seria sempre passiva. Nesse sentido há 
trecho específico em “o terceiro ausente.122 
 
Dirá Bobbio que “passiva” seria: 
 
(...) aquela que se dirige as partes perceptivas da lei e não a parte punitiva, em outras 
palavras, aquela que se cumpre com a precisa vontade de aceitar a pena que a ela se 
seguirá, e, como tal, enquanto não reconhece ao Estado o direito de impor obrigações 
contra a consciência, a ele reconhece o direito de punir qualquer violação das próprias 
leis.123 
 
Portanto, estabelecerá Bobbio que tais atos de desobediência não necessariamente 
tendem a reconhecer ao Estado o direito de sancionar aquele que infringe a norma. Rawls 
estabelece que o agente da desobediência deveria se sujeitar as sanções impostas pelo sistema, 
afinal, Rawls não preconizava a mudança radical de sistema de governo com a desobediência 
civil. As sanções e outras leis vigentes que não estavam sendo questionadas pelo ato de 
desobediência seriam total e completamente válidas. Rawls escreve que, apesar disso, por todo 
o caráter do ato as sanções deveriam ser diminuídas ou até mesmo suspensas.124 
 
121ALVES, Sílvia. Desobediência Civil E Democracia Civil Disobedience And Democracy Revista Duc In 
Altum Cadernos de Direito, Faculdade Damas,Recife, vol. 7, nº11, jan.-abr. 2015, p.56. Disponível em: < 
https://faculdadedamas.edu.br/revistafd/index.php/cihjur/index > Acessado em 16/11/2020. 
122 BOBBIO, Norberto, O Terceiro Ausente: Ensaios e discursos sobre a paz e a guerra, organização: Pietro 
Polito, Préfácio a edição brasileira: Celso Lafer, Revisão técnica do texto de Bobbio: Frederico Diehl e Valdemar 
Bragheto Junqueira, Tradução: Daniela Versiani, editora Manole, Barueri, São Paulo, 2009, p.104. 
123 Ibdem, p. 104. 
124 TOMÉ, Julio Rawls e a Desobediência Civil Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em 
Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGFIL/UFSC), Florianópolis, 2018, p.98.p.104. 
https://faculdadedamas.edu.br/revistafd/index.php/cihjur/index
 25 
 
Nesta linha também o segue Habermas. Os desobedientes devem se sujeitar ao 
castigo que a norma oferece pela transgressão da lei. Ela seria considerada uma prática ilegal 
que, entretanto, similarmente à Rawls em seus escritos, deve sofrer uma sanção diferenciada 
em virtude do cárater ético da ação desobediente. O autor, inclusive, dirá que quem pune o 
desobediente civil como um criminoso qualquer estaria perpetuando um “legalismo 
autoritário”.125 
 
Ronald Dworkin entende que o desobediente civil não deveria ser visto de forma 
igual à um criminoso comum ( indo de encontro,assim, com as posições de Arendt, Rawls e 
Bobbio.126 Defende uma punição privilegiada aos desobedientes justamente por suas ações 
serem dotadas de um senso forte de justiça e a favor da coletividade e não do benefício 
próprio.127 Para além disso, pode-se inferir da teoria do autor que “o direito pode “abrigar”, 
dentro de certos limites, a desobediência civil. Nessa perspectiva, a desobediência não 
consistiria num ato ilegal ou ilícito.”128 Dirá Dworkin, criticando o positivismo, que “não 
devemos dizer que se alguém violou a lei, por qualquer razão que seja e por mais honrosos que 
sejam seus motivos, sempre deve ser punido porque a lei é a lei”.129 
 
Hannah Arendt, quanto as punições aos desobedientes,irá além dos autores 
acima.Eles se contentaram em explicitar que os desobedientes deveriam receber atitudes mais 
tolerantes por parte do poder público, porém a autora vai além. Ao invés de uma mera 
tolerância, deveria-se criar um nicho constitucional para a desobediência civil (como dito 
acima) e, além disso, aos desobedientes deveria ser dado o direito de auxiliar e influenciar o 
próprio Congresso nacional do país.130 Portanto, não bastava a “frágil garantia de não serem 
 
125 HABERMAS, Jürgen. “La desobediencia civil. Piedra de toque del Estado democratico de Derecho”, in 
Ensayos políticos, Ediciones península, Traduccion de Ramon Garcia Cotarelo, Barcelona, 2002, p.70. 
126 SANTOS, A. L. C., & LUCAS, D. C. (2015). Desobediência civil e controle social da democracia. Revista 
Brasileira De Estudos Políticos, v. 110 (2015), Belo Honrizonte (MG), 179-216, p. 194. Disponível em: < 
https://pos.direito.ufmg.br/rbep/index.php/rbep/article/view/P.0034-7191.2015v110p179> Acessado em: 
16/11/2020. 
127 LUCAS, Doglas Cesar; SANTOS André Leonardo Copetti; DE OLIVEIRA, Carla Dóro, O papel da 
desobediência civil em tempos de desconfianças democráticas. O direito entre legalidade e legitimidade 
REVISTA DIREITOS SOCIAIS E POLÍTICAS PÚBLICAS (UNIFAFIBE), vol.6, N.1,2018 São Paulo p.75-76. 
Disponível em: < http://www.unifafibe.com.br/revista/index.php/direitos-sociais-politicas-pub/article/view/419.> 
Acessado dia 22/04/2020. 
128 Ibdem, p.77. 
129 DWORKIN, Ronald Uma questão de princípio. Tradução de Luís Carlos Borges. São Paulo: Martin Fontes, 
2001, p.168. 
130 SILVA, Felipe Gonçalves Desobediência Civil e o aprofundamento da democracia Pensando – Revista de 
Filosofia Vol. 9, Nº 18, 2018, P.205-206. Universidade Federal do Piauí (UFP) Departamento de Filosofia, 
https://pos.direito.ufmg.br/rbep/index.php/rbep/article/view/P.0034-7191.2015v110p179
http://www.unifafibe.com.br/revista/index.php/direitos-sociais-politicas-pub/article/view/419
 26 
tratados como criminosos comuns, encontraríamos em Arendt a defesa de que a esses mesmos 
cidadãos seja dado acesso aos processos políticos institucionalizados.”131 
 
2.2.8 NÃO VIOLÊNCIA 
 
Quanto a esta característica, pode-se notar que a visão dos clássicos é de não 
unânimidade em relação a ela. Henry Thoreau defendia fervorosamente a via pacifica para 
solução dos conflitos, mas era um realista e reconhecia que apenas a via pacifica em alguns 
casos, não possuiria sempre reais chances de êxito e reconhecia suas fragilidades.132 
 
Gandhi estabeleceu um marco na prática da desobediência, notadamente a 
desobediência não violenta, que sempre será seu legado.133 Gandhi é exposto como um pacifista 
(praticante da Ahimsa) e pregava a resistência não-violenta, e a Satyagraha, foi sua estratégia 
mais famosa, que consistia na resistência pacífica, praticada por meio de protestos não violentos 
com o objetivo de reivindicar direitos civis e políticos.134 
 
Aprofundando-se um pouco mais nessa discussão, é importante notar que, Segundo 
Joana de Menezes Araújo, apoiando-se nas ideias de Vinit Haksar, Gandhi teria uma visão de 
que não se poderia caracterizar um ato como violento se não estivesse presente uma situação 
de infração do dever.135 Gandhi teria exemplificado tal posicionamento ao tratar da greve dos 
transportadores de leite, cuja paralisação aos olhos de gandhi foi legítima, ainda que tenha 
causado a morte de vários bebês da comunidade.136 Explica que“apesar de colocarem a vida 
de pessoas em risco, em nenhum momento tinham assumido o dever específico de alimentar as 
 
Programa de pós graduação em filosofia. Disponível em: 
<https://revistas.ufpi.br/index.php/pensando/issue/view/Vol.%209%2C%20n.18%2C%202018/showToc>. 
Acessado em 02/05/2020. 
131 SILVA, Felipe Gonçalves Desobediência Civil e o aprofundamento da democracia Pensando – Revista de 
Filosofia Vol. 9, Nº 18, 2018, P.205-206. Universidade Federal do Piauí (UFP) Departamento de Filosofia, 
Programa de pós graduação em filosofia. Disponível em: 
<https://revistas.ufpi.br/index.php/pensando/issue/view/Vol.%209%2C%20n.18%2C%202018/showToc>. 
Acessado em 02/05/2020, p.206. 
132 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil, 2ª Edição (Revista e ampliada), Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p. 37. 
133 OLIVEIRA, Bruno Pittella Direito de Resistência, Desobediência Civil e a Construção da Democracia no 
Brasil Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Direito da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, 2013, p.75. 
134 Ibdem,p.71-72. 
135 CRUZ, Joana de Menezes Araújo da. Desobediência Civil nos Interstícios do Estado de Direito, Editora 
Lumen Juris, 1ª ed., Rio de Janeiro, 2017, p.120. 
136 Ibdem, p.120. 
https://revistas.ufpi.br/index.php/pensando/issue/view/Vol.%209%2C%20n.18%2C%202018/showToc
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crianças daquela região”.137Arremata a autora que visão semelhante é encontrada em Santiago 
Nino, qando este análisa o “significado moral das omissões.”138 
 
 Uma das críticas que se aponta a política de não-violência de Gandhi é que este 
condena violência física direta, mas teria negligenciado o fato de mesmo uma omissão poder 
causar violência contra os indivíduos.139 
 
Para Martin Luther King as grandes características da desobediência civil seriam: 
Uma ação de massas, não violenta e aberta, chamando a atenção da população passiva. Das 
táticas utilizadas vale citar os boicotes, os sit-in e a marcha, todas levadas a cabo sem a 
utilização de violência. Entende Luther King que se os desobedientes forem para a prisão, o 
significado daquele ato ficaria cristalino140. 
 
Luther King afirmava em sua obra “Why we can´t wait” que a desobediência 
pacífica seria uma forma poderosa e justa sendo a uma arma que corta sem machucar e enobrece 
aquele que a usa.141 O autor entendia que a inexistência de violência nos atos desobedientes 
colocava o governo em xeque, pois, se proibisse manifestações pacificas, seria injusto, mas, se 
deixasse que ocorressem ficaria público a insatisfação do povo contra o governo. Ela colocaria 
em contradição o Estado.142 
 
Martin Luther King não admitia que suas ações fossem clandestinas e ressaltava 
que a violência não poderia ir contra pessoas, apenas contra coisas (estabelece isso no final da 
década de sessenta).143 Nelson Nery, dissertando sobre a doutrina de Luther King expõe que 
tais táticas visavam mostrar que as reinvidicações da população negra eram justas e, pela ação 
não-violenta, tinha como um dos seus objetivos consolidar uma publicidade a seu favor.144 
 
Nelson Nery sintetiza a questão dos classicos desobedientes dizendo que: 
 
137 CRUZ, Joana de Menezes Araújo da. Desobediência Civil nos Interstícios do Estado de Direito, Editora 
Lumen Juris, 1ª ed., Rio de Janeiro, 2017, p.120. 
138 Ibdem, p.120. 
139 BEDAU, Hugo Adam Civil Disobedience in Focus London ; New York : Routledge, 2002, p.154. 
140 COSTA, Nelson Nery Teoria e Realidade da Desobediência Civil, 2ª Edição (Revista e ampliada), Editora 
Forense, Rio de Janeiro, 2000, p. 44. 
141 KING, Martin Luther, Why we Can´t Wait, New York, The American Library, 1966, p.26. 
142 COSTA, Nelson Nery, Op. Cit,, p. 45. 
143 Ibdem, p.48. 
144 Ibdem, p. 46. 
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As teorias clássicas da desobediência civil não são unánimes. Thoreau defende uma 
revolução pacífica, mas posteriormente admitiu o emprego da força pelos resistentes. 
Gandhi propõe apenas a via não violenta. Luther King pregava o protesto não violento, 
mas reconhece a necessidade de uma força que interrompesse o funcionamento da 
sociedade em alguns pontos chave. 145 
 
O Pensamento de não violência será seguido

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