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História da Filosofia II

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Prévia do material em texto

Indaial – 2019
História da FilosoFia ii
Prof. Kevin Daniel dos Santos Leyser 
Prof. Gesiel Anacleto
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof. Kevin Daniel dos Santos Leyser
 Prof. Gesiel Anacleto
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
L685h
Leyser, Kevin Daniel dos Santos
História da filosofia II. / Kevin Daniel dos Santos Leyser; Gesiel 
Anacleto. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.
232 p.; il.
ISBN 978-85-515-0342-3
1. Filosofia - História. – Brasil. I. Anacleto, Gesiel. II. Centro 
Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 109
III
apresentação
Caro acadêmico, antes de apresentarmos o conteúdo deste livro 
gostaríamos de nos apresentar a vocês.
O autor Prof. Kevin Daniel dos Santos Leyser possui graduação em 
Psicologia com Licenciatura Plena, Bacharelado e formação pela Universidade 
Comunitária Regional de Chapecó (2005), em Filosofia com Licenciatura Plena 
pela Universidade Comunitária Regional de Chapecó (2004), em Teologia 
com Bacharelado pela Faculdade de Educação Teológica Logos (2002). É 
especialista em Psicopedagogia e Práticas Pedagógicas, e Gestão Escolar pela 
Faculdade de Administração, Ciências, Educação, Letras (2007) e especialista 
em Educação a Distância: Gestão e Tutoria pelo Centro Universitário 
Leonardo da Vinci (2018). Mestre em Educação pela Universidade Regional 
de Blumenau – FURB (2011). É doutorando do Programa de Pós-Graduação 
em Educação na FURB. Trabalha como docente no Ensino Superior desde 
2006, é professor no Centro Universitário Leonardo da Vinci/UNIASSELVI 
em Indaial (SC). Faz parte do grupo de pesquisa em Filosofia da Educação 
(EDUCOGITANS). Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em 
Epistemologia, Pragmatismo e Educação; na área de Psicologia, com ênfase 
em Psicoterapias Fenomenológico-existenciais, Processos Cognitivos, 
Aprendizagem Socioemocional e Educação; na área e Teologia, com ênfase 
em Filosofia, Psicologia e Epistemologia da Religião. Produziu materiais 
didáticos e instrucionais em EAD, para os cursos de Filosofia, Teologia, 
Pedagogia e Educação Especial. Atualmente vem desenvolvendo pesquisas 
em nível de doutorado no campo da Epistemologia da Educação, voltado 
para questões do pós-humanismo e educação ambiental.
O autor Prof. Gesiel Anacleto possui graduação de Licenciatura em 
História pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (2009) e Bacharelado 
em Teologia pela Faculdade de Teologia de Boa Vista (2006). Especialização 
em Metodologia do Ensino de Filosofia e Sociologia – UNIASSELVI (2011). 
Especialização em Educação a Distância: Gestão e Tutoria – UNIASSELVI 
(2013). Mestrado em Teologia pelo Seminário Teológico Bíblico Evangélico 
(2015). Mestrado em Filosofia – UFSC (2019). Doutorando do Programa de 
Pós-graduação em Filosofia da UFSC. Lecionou no Ensino Fundamental 
e Médio por sete anos. Atua no Ensino Superior em curso de graduação e 
pós-graduação desde 2011. Produziu materiais didáticos e instrucionais 
em EAD, para os cursos de Filosofia, Sociologia e Teologia. Atualmente 
vem desenvolvendo pesquisas em nível de doutorado no campo da Ética e 
Bioética, voltada para as questões éticas de eugenia e melhoramento humano.
O presente livro didático tem como objetivo sistematizar os elementos 
básicos da disciplina de História da Filosofia II, para introduzir de forma 
contextualizada, crítica e sistemática, as origens gregas do pensamento 
IV
filosófico e o pensamento latino, sua constituição e principais posturas 
representativas, além de ocupar-se de seu desenvolvimento e afirmação 
como saber na cultura ocidental. 
Na Unidade 1, Introdução Geral à História da Filosofia, introduzimos 
a Filosofia Grega Antiga, focando especialmente nos pré-socráticos. 
Avançamos com a filosofia de Sócrates, de Platão e de Aristóteles, ressaltando 
aspectos centrais de suas obras, situando-as em seus contextos históricos e 
biográficos. 
Na Unidade 2, A Filosofia no Mundo Helenístico e Romano, 
introduzimos a filosofia helenística e romana, perpassando diversas escolas 
filosóficas como o Estoicismo, o Epicurismo, o Ceticismo, o Pitagorismo e 
o Neoplatonismo. Prosseguimos para a filosofia judaica e a filosofia cristã, 
primeiramente focando na vida, pensamento e obra de Fílon e Santo Ambrósio 
e, posteriormente, na vida, pensamento e obra de Santo Agostinho e Boécio.
A terceira unidade deste livro didático concentra-se na Filosofia 
Escolástica. Aqui são introduzidas e contextualizadas as contribuições de 
pensadores como Anselmo, Abelardo, Avicena, Averróis, Maimônides, 
Tomás de Aquino, Boaventura, Guilherme de Ockham, Nicolau de Cusa e 
Eckhart. 
 
Desejamos uma boa jornada a todos, rumo à edificação da educação 
e sucesso frente aos desafios intelectuais, éticos e pessoais proporcionados 
pelo estudo da História da Filosofia II. 
Prof. Kevin Daniel dos Santos Leyser e Prof. Gesiel Anacleto
V
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
VI
VII
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO GERAL À HISTÓRIA DA FILOSOFIA ...................................1
TÓPICO 1 – FILOSOFIA GREGA ANTIGA: OS PRÉ-SOCRÁTICOS .......................................3
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................3
2 PANORAMA GERAL DA FILOSOFIA ANTIGA ........................................................................3
3 COSMOLOGIA, METAFÍSICA E EPISTEMOLOGIA ................................................................9
4 SER E TORNAR-SE (VIR A SER) ....................................................................................................12
5 APARÊNCIA E REALIDADE ...........................................................................................................13
6 PITÁGORAS E PITAGORISMO .....................................................................................................14
7 CETICISMO E RELATIVISMO: OS SOFISTAS ..........................................................................15RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................18
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................20
TÓPICO 2 – A FILOSOFIA DE SÓCRATES.....................................................................................21
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................21
2 A VIDA E A PERSONALIDADE DE SÓCRATES ......................................................................21
3 POR QUE SÓCRATES ERA ODIADO? .........................................................................................25
3.1 A IMPRESSÃO CRIADA POR ARISTÓFANES ........................................................................25
3.2 A RESISTÊNCIA HUMANA À AUTORREFLEXÃO ...............................................................27
3.3 CRÍTICA DE SÓCRATES SOBRE A DEMOCRACIA ...............................................................31
4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O PENSAMENTO DE SÓCRATES .......................32
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................36
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................42
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................44
TÓPICO 3 – A FILOSOFIA DE PLATÃO ..........................................................................................45
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................45
2 A VIDA DE PLATÃO .........................................................................................................................45
3 A FORMA DE DIÁLOGO ................................................................................................................47
4 FELICIDADE E VIRTUDE ................................................................................................................48
5 A TEORIA DAS FORMAS ................................................................................................................51
5.1 CONTEXTO LINGUÍSTICO E FILOSÓFICO ............................................................................51
5.2 FORMAS COMO EXEMPLARES PERFEITOS ..........................................................................53
5.3 FORMAS COMO GÊNEROS E ESPÉCIES .................................................................................54
6 OS DIÁLOGOS DE PLATÃO ..........................................................................................................55
6.1 DIÁLOGOS SOCRÁTICOS ..........................................................................................................56
6.2 DIÁLOGOS INTERMEDIÁRIOS .................................................................................................58
6.3 DIÁLOGOS TARDIOS ..................................................................................................................60
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................63
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................65
TÓPICO 4 – A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES ..............................................................................67
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................67
2 A VIDA DE ARISTÓTELES..............................................................................................................67
sumário
VIII
3 AS VIAGENS DE ARISTÓTELES ...................................................................................................68
4 ARISTÓTELES E O LICEU ...............................................................................................................70
5 A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES ..................................................................................................71
5.1 A LÓGICA E A SILOGÍSTICA .....................................................................................................71
5.2 AS PROPOSIÇÕES E AS CATEGORIAS ....................................................................................73
5.3 A FÍSICA E A METAFÍSICA .........................................................................................................75
5.4 O ESPAÇO.......................................................................................................................................76
5.5 O CONTINUUM.............................................................................................................................76
5.6 O MOVIMENTO ............................................................................................................................77
5.7 O TEMPO ........................................................................................................................................77
5.8 A MATÉRIA ....................................................................................................................................78
5.9 A FORMA........................................................................................................................................79
5.10 A CAUSALIDADE .......................................................................................................................80
5.11 O SER .............................................................................................................................................80
5.12 O MOTOR IMÓVEL ....................................................................................................................81
5.13 FILOSOFIA DA MENTE .............................................................................................................82
5.14 ÉTICA ............................................................................................................................................84
5.15 FELICIDADE ................................................................................................................................85
5.16 VIRTUDE ......................................................................................................................................86
5.17 AÇÃO E CONTEMPLAÇÃO .....................................................................................................87
5.18 TEORIA POLÍTICA .....................................................................................................................88
5.19 A RETÓRICA E A POÉTICA ......................................................................................................89
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................91
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................94
UNIDADE 2 – A FILOSOFIA NO MUNDO HELENÍSTICO E ROMANO ...............................95
TÓPICO 1 – A FILOSOFIA HELENÍSITICA E ROMANA ...........................................................97
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................97
2 ESTOICISMO ......................................................................................................................................97
2.1 A NATUREZA E O ALCANCE DO ESTOICISMO ..................................................................972.2 O ESTOICISMO GREGO ANTIGO .............................................................................................98
2.3 ESTOICISMO ROMANO POSTERIOR ......................................................................................101
3 EPICURISMO ......................................................................................................................................103
3.1 A NATUREZA DO EPICURISMO ..............................................................................................104
3.2 AS OBRAS E A DOUTRINA DE EPICURO ...............................................................................104
4 CETICISMO .........................................................................................................................................108
5 PITAGORISMO E NEOPITAGORISMO ......................................................................................110
6 NEOPLATONISMO ..........................................................................................................................112
6.1 PLOTINO E SUA FILOSOFIA .....................................................................................................113
6.2 OS NEOPLATÔNICOS POSTERIORES .....................................................................................117
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................121
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................125
TÓPICO 2 – FILOSOFIA JUDAICA E FILOSOFIA CRISTÃ: 
FÍLON E SANTO AMBRÓSIO ....................................................................................127
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................127
2 FÍLON DE ALEXANDRIA ................................................................................................................129
2.1 VIDA E ANTECEDENTES ...........................................................................................................129
2.2 OBRAS .............................................................................................................................................131
2.3 A ORIGINALIDADE DE SEU PENSAMENTO ........................................................................132
3 SANTO AMBRÓSIO..........................................................................................................................134
IX
3.1 INÍCIO DE CARREIRA DE SANTO AMBRÓSIO ....................................................................135
3.2 REALIZAÇÕES ADMINISTRATIVAS ECLESIÁSTICAS ........................................................135
3.3 REALIZAÇÕES LITERÁRIAS E MUSICAIS .............................................................................136
3.4 AVALIAÇÕES E INTERPRETAÇÕES .........................................................................................137
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................138
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................140
TÓPICO 3 – A FILOSOFIA DE SANTO AGOSTINHO E BOÉCIO ............................................141
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................141
2 SANTO AGOSTINHO ......................................................................................................................141
2.1 A VIDA DE SANTO AGOSTINHO ............................................................................................142
2.2 PRINCIPAIS OBRAS DE AGOSTINHO .....................................................................................145
2.2.1 As Confissões .........................................................................................................................145
2.2.2 A Cidade de Deus .................................................................................................................147
2.2.3 As Retratações .......................................................................................................................148
2.3 ESPÍRITO E REALIZAÇÃO DE AGOSTINHO .........................................................................149
3 ANÍCIO MÂNLIO TORQUATO SEVERINO BOÉCIO .............................................................150
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................154
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................161
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................164
UNIDADE 3 – A FILOSOFIA ESCOLÁSTICA ................................................................................165
TÓPICO 1 – PENSAMENTO DE ANSELMO, ABELARDO, AVICENA, AVERRÓIS, 
MAIMÔNIDES, TOMÁS DE AQUINO E BOAVENTURA ...................................167
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................167
2 ANSELMO: O PAI DA ESCOLÁSTICA .........................................................................................167
2.1 O ARGUMENTO ONTOLÓGICO DE ANSELMO ...................................................................169
3 ABELARDO: O LÓGICO ..................................................................................................................171
4 AVICENA E O ARISTOTELISMO ..................................................................................................173
5 AVERRÓIS ...........................................................................................................................................175
6 MAIMÔNIDES ...................................................................................................................................176
7 SÃO TOMÁS DE AQUINO ..............................................................................................................178
7.1 TOMÁS DE AQUINO E A TEORIA DO CONHECIMENTO .................................................180
7.2 AS CINCO VIAS QUE LEVAM A DEUS ....................................................................................181
8 BOAVENTURA ...................................................................................................................................184
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................187
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................191
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................193
TÓPICO 2 – DUNS ESCOTO, MESTRE ECKHART, GUILHERME DE OCKHAM 
E NICOLAU DE CUSA ..................................................................................................195
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................195
2 DUNS ESCOTO ..................................................................................................................................195
3 MESTRE ECKHART: O MÍSTICO ..................................................................................................198
4 GUILHERME DE OCKHAM ............................................................................................................202
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................207AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................208
X
TÓPICO 3 – PENSAMENTO MEDIEVAL E O RENASCIMENTO E FILOSOFIA 
DE NICOLAU DE CUSA ...............................................................................................211
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................211
2 O PENSAMENTO MEDIEVAL ........................................................................................................212
3 O HUMANISMO E O RENASCIMENTO .....................................................................................213
4 NICOLAU DE CUSA ........................................................................................................................215
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................220
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................221
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................223
1
UNIDADE 1
INTRODUÇÃO GERAL À HISTÓRIA DA 
FILOSOFIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir dos estudos desta unidade, você deverá ser capaz de:
• apresentar um panorama geral da Filosofia Antiga, os pré-socráticos e os 
sofistas;
• introduzir a vida e a filosofia de Sócrates;
• compreender a filosofia de Patão, suas obras, conceitos e teorias;
• compreender a filosofia de Aristóteles, suas obras, conceitos e teorias.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 – FILOSOFIA GREGA ANTIGA: OS PRÉ-SOCRÁTICOS
TÓPICO 2 – A FILOSOFIA DE SÓCRATES
TÓPICO 3 – A FILOSOFIA DE PLATÃO 
TÓPICO 4 – A FILOSOFIA DE ARISTÓTELES
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
FILOSOFIA GREGA ANTIGA: OS PRÉ-
SOCRÁTICOS
1 INTRODUÇÃO
A filosofia ocidental surgiu na Grécia Antiga (que incluía Mileto e outras 
partes da atual Turquia) aproximadamente no século VI a.E.C. (antes da Era 
Comum). Durante esse tempo, o temor religioso entre os gregos foi ofuscado 
pela maravilha sobre a origem e a natureza do mundo físico. À medida que as 
populações gregas deixavam cada vez mais a terra para se concentrarem nas 
cidades-estados, o interesse passou da natureza para a vida social. 
As questões de lei e convenção e valores cívicos tornaram-se primordiais 
e a especulação cosmológica deu lugar a teorizações morais e políticas, melhor 
exemplificadas nas filosofias éticas um tanto fragmentárias de Sócrates (470-399 
a.E.C.) e os sofistas (professores itinerantes) e nos grandes sistemas filosóficos 
positivos de Platão (c. 428-348 a.E.C.) e Aristóteles (384-322 a.E.C.). Por não terem 
sido influenciados por Sócrates, os cosmólogos dos séculos VI e V junto aos 
sofistas são frequentemente chamados de filósofos "pré-socráticos", embora nem 
todos vivessem antes de Sócrates.
Neste tópico, primeiro faremos um panorama geral da Filosofia Antiga. 
Depois, vamos explorar o pensamento e o contexto histórico da filosofia grega 
antiga a partir dos chamados pré-socráticos.
2 PANORAMA GERAL DA FILOSOFIA ANTIGA
Há mais de 2.500 anos, no início do século VI a.E.C, alguns habitantes 
da cidade grega de Mileto (na costa oeste do que hoje é a Turquia) começaram a 
pensar sobre o mundo de uma nova maneira. Como muitas pessoas antes deles, 
eles se perguntaram como o mundo foi criado, de que ele é feito e por que ele 
muda (ou parece mudar) da forma como o faz. Ao contrário de seus antecessores, 
no entanto, os milésios tentaram responder a essas perguntas em termos 
naturais e não religiosos. Eles apelaram para o que achavam que eram causas e 
princípios no mundo em si, e não para os atos de deuses ou outros seres divinos. 
É importante enfatizar que eles acreditavam que a maneira correta de entender 
o mundo era através da razão e da observação. Por especularem sobre questões 
profundamente importantes de maneira racional e sistemática, os milésios são 
reconhecidos como os primeiros filósofos ocidentais.
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO GERAL À HISTÓRIA DA FILOSOFIA
4
NOTA
Milésios eram chamadas as pessoas em Mileto. “A filosofia teve por berço a 
cidade-Estado de Mileto, situada na região sul da Jônia. Embora integrasse a Grécia, Mileto 
não possuía vínculo político com Atenas” (SILVA, 2008, p. 33).
Durante o século VI a.E.C, os gregos também se tornaram os primeiros a 
praticar ciência e matemática no sentido moderno desses termos. Em meados do 
século III a.E.C., os gregos haviam produzido um sistema acabado de raciocínio 
geométrico (o de Euclides) que não seria alterado significativamente por mais 
de 2.000 anos. No final do século IV, eles formularam quase todos os problemas 
básicos, conceitos, métodos e vocabulário da filosofia ocidental subsequente.
Até o final do século III E.C., outros filósofos do mundo grego produziam 
teorias sofisticadas e originais em ética, epistemologia (o estudo do conhecimento), 
metafísica (o estudo da natureza última da realidade) e lógica. A partir do primeiro 
século E.C., pensadores judeus e, depois, cristãos, adotaram aspectos do sistema 
metafísico do filósofo grego Platão (428-348 a.E.C) para ajudá-los a defender e 
esclarecer as doutrinas de suas crenças.
O que é chamado de período antigo na história da filosofia ocidental é 
tradicionalmente dividido em quatro períodos ou fases: o pré-socrático, que se 
estende desde o início do século VI até meados do século IV a.E.C.; o clássico, 
até o final do século II a.E.C.; o helenístico, até o final do primeiro século a.E.C.; 
e o romano ou imperial, que foi até o início do século VI E.C., terminando com a 
queda do Império Romano do Ocidente.
O termo "pré-socrático" refere-se a filósofos que não foram influenciados 
por Sócrates (470-399 a.E.C.), na maioria dos casos porque eles viviam antes 
dele. Infelizmente, nenhum trabalho de qualquer filósofo pré-socrático 
sobreviveu; o que se conhece de seus ensinamentos consiste em várias referências 
(principalmente críticas) em obras de filósofos posteriores, especialmente Platão 
e Aristóteles.
TÓPICO 1 | FILOSOFIA GREGA ANTIGA: OS PRÉ-SOCRÁTICOS
5
FIGURA 1 – LOCALIZAÇÃO DOS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS NA GRÉCIA ANTIGA
Parmênides
(530-460 a.C.)
Zenão
(490-430 a.C.)
Demócrito
(460-370 a.C.)
Empédocles
(571-496 a.C.)
Pitágoras
(571-496 a.C.)
Heráclito
(625-556 a.C.)
Tales
(625-556 a.C.)
Anaxímenes
(588-524 a.C.)
Anaximandro
(610-547 a.C.)
Mar Mediterrâneo
Mar Negro
FONTE: <https://www.coladaweb.com/filosofia/filosofos-pre-socraticos>. 
Acesso em: 17 maio 2019.
Os milésios, como vimos, foram os primeiros a especular racionalmente 
sobre a origem e a natureza do mundo; por essa razão, eles e outros como eles 
são chamados de “cosmólogos”. O primeiro dos milésios, Tales, sustentava que 
tudo é água, com o que ele quis dizer que as diferentes substâncias das quais o 
mundo parece ser composto são derivadas da água. Os outros dois membros da 
“Escola de Mileto”, Anaximandro (610-547 a.E.C.) e Anaxímenes (nascimento, c. 
588 a.E.C.), junto a cosmólogos posteriores de outras cidades gregas, propuseram 
vários números e variedades de substâncias primordiais e vários processos pelos 
quais elas eram transformadas umas nas outras. 
Anaximandro também foi notável por promover uma teoria da evolução 
dos seres vivos, os humanos e todos os outros animais, ele afirmava que evoluíram 
dos peixes. Heráclito de Éfeso afirmou que a substância básica é o fogo e o processo 
básico era o “conflito”. A aparente unidade e permanência das coisas no mundo 
são o resultado do constante conflito de opostos. Assim, tudo está em um estado de 
fluxo ou mudança constante, uma visão que eleexpressou famosamente dizendo: 
“Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos. Não é possível 
entrar duas vezes no mesmo rio” (HERÁCLITO, 2002, p. 205). 
Parmênides, que nasceu na cidade grega de Eléia, no sul da Itália, entre 515 
e 530 a.E.C., argumentou ao contrário, que nada muda e a aparente multiplicidade 
de coisas no mundo é uma ilusão, pois o ser é uno, uma totalidade absoluta. Seu 
discípulo Zenão de Eléia (490-430 a.E.C.) é famoso por inventar uma série de 
paradoxos bastante sofisticados (aparentemente argumentos válidos que levam 
a conclusões absurdas) destinados a mostrar que toda multiplicidade e mudança 
são impossíveis; alguns desses argumentos não foram definitivamente refutados 
até o século XX.
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO GERAL À HISTÓRIA DA FILOSOFIA
6
 O filósofo e místico Pitágoras (571-496 a.E.C.), tradicionalmente 
considerado o primeiro grande matemático da história, propôs que todas as 
coisas são números ou que “todas as coisas que são conhecidas têm número” 
(KAHN, 2007, p. 46). Parece que ele queria significar que a estrutura de cada 
coisa e da natureza como um todo consiste em certas razões numéricas, assim 
como uma harmonia musical específica é uma razão entre os comprimentos dos 
instrumentos físicos (por exemplo, cordas ou tubos) usados para produzi-la. 
Pitágoras é conhecido por todos os estudantes de geometria como o descobridor 
do teorema de Pitágoras, que afirma que em qualquer triângulo retângulo, o 
quadrado do comprimento da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos 
comprimentos dos catetos (a2 + b2 = c2). Ele também fez uma série de afirmações 
filosóficas e religiosas (ou místicas) que seriam influentes entre os filósofos 
dos períodos Clássico e Helenístico. Por exemplo, ele sustentou que a alma 
humana é imortal e reencarna em diferentes seres vivos, às vezes humanos e às 
vezes animais (foi por essa razão que Pitágoras e seus seguidores praticaram o 
vegetarianismo). O termo pitagorismo refere-se tanto às doutrinas do próprio 
Pitágoras quanto à escola de pensamento que ele fundou. A escola pitagórica, na 
forma do neopitagorismo, foi influente no período Helenístico da filosofia antiga.
Os filósofos pré-socráticos também incluíam um grupo de pensadores cujas 
principais preocupações não eram cosmológicas, mas éticas e políticas. Os sofistas, 
que estavam ativos no século V a.E.C., eram eruditos itinerantes que ensinavam 
retórica (a arte do argumento/falar bem), especialmente a retórica forense, por 
dinheiro. Como o ponto comum de sua instrução não era o conhecimento ou 
a verdade, mas a vitória no tribunal, eles tendiam a desconsiderar as noções 
de certeza, verdade objetiva e certo ou errado absolutos. Eles foram totalmente 
desprezados por Platão, que fez grandes esforços em alguns de seus diálogos 
para refutar seu ceticismo e relativismo.
O período Clássico da filosofia antiga é dominado por três figuras dos 
séculos V e IV a.E.C., todas cidadãs de Atenas: Sócrates, Platão e Aristóteles. 
Sócrates se preocupou inteiramente com a ética, o que ele chamou de “cuidado da 
alma”. Em parte, porque ele estava associado a alguns homens que conspiraram 
para derrubar a democracia em Atenas em 404 a.E.C., ele foi levado a julgamento 
sob acusações de impiedade e de corromper os jovens, sendo executado em 399 
a.E.C. Sua recusa em salvar-se ao concordar em cessar seu filosofar fez dele um 
modelo de integridade intelectual e moral para eras posteriores.
 
Sócrates é uma figura enigmática porque o que se conhece de seus 
ensinamentos vem quase inteiramente dos diálogos de seu aluno Platão (o próprio 
Sócrates nada escreveu). Em alguns desses trabalhos, um personagem chamado 
Sócrates refuta aqueles que fingem ter conhecimento das virtudes éticas (por 
exemplo, coragem), e em outros ele faz isso enquanto apresenta certas doutrinas 
éticas, políticas e metafísicas próprias – doutrinas que o verdadeiro e histórico 
Sócrates pode ou não ter sustentado. É agora geralmente aceito, no entanto, que 
Platão, e não Sócrates, é o responsável pela teoria das propriedades ideais ou teoria 
das ideias ou "formas" (como o Belo), em que essas ideias existem separadamente 
TÓPICO 1 | FILOSOFIA GREGA ANTIGA: OS PRÉ-SOCRÁTICOS
7
das coisas, do mundo material, que é derivado ou explicado pelas ideias. Platão 
também é responsável pela teoria da justiça como uma harmonia entre as 
diferentes partes da alma e pelo projeto apresentado no diálogo A República, para 
uma cidade-estado utópica governada por “filósofos-reis” (PLATÃO, 2001).
O melhor aluno de Platão, Aristóteles, fez contribuições fundamentais 
para todos os ramos da filosofia, bem como para o que agora seria chamado de 
anatomia, biologia, fisiologia, psicologia, ciência política e poética. A disciplina 
da lógica foi sua criação. Ele fez modificações importantes na teoria das formas 
de Platão, sustentando que as formas não existem separadas das coisas que as 
possuem. Sua noção da “causa final” de uma coisa como o propósito a que ela 
serve ou a meta para a qual ela busca, se tornou a base do chamado argumento 
“teleológico” (do grego telos: “fim”) para a existência de Deus, que apareceu 
em várias formas, desde a antiguidade tardia até os dias atuais (a teoria 
contemporânea do Design Inteligente é um argumento teleológico). Na ética, 
Aristóteles é conhecido por suas análises sutis e perspicazes das virtudes e vícios 
e por sua teoria do florescimento humano "felicidade" como a prática da virtude 
intelectual e moral.
Após a morte de Alexandre, o Grande, que como rei da Macedônia 
(336-323 a.E.C.) conquistou todo o Mediterrâneo Oriental e o Oriente Médio, 
seus territórios foram divididos por seus ex-generais em reinos hereditários. A 
cidade-estado grega estava morta há muito tempo e, com ela, a possibilidade de 
participação significativa nos assuntos públicos pelos cidadãos comuns. A filosofia 
se voltou para dentro, enfatizando a conquista da tranquilidade individual, do 
contentamento ou da salvação em um mundo caótico.
 
A Escola Filosófica do Estoicismo, fundada por Zenão de Cítio (335-263 
a.E.C.), levou a sério a convicção de Sócrates de que a única coisa que vale a pena 
ter é a virtude; todos os outros supostos bens (por exemplo, saúde e riqueza) não 
têm sentido. Os estoicos também seguiram Sócrates ao sustentar que a virtude 
é uma forma de conhecimento, no sentido de que uma pessoa que entende as 
virtudes automaticamente agirá de maneira virtuosa (ação moralmente errada, 
em outras palavras, é o resultado de um mal-entendido sobre o que é realmente 
bom ou certo). O bem maior para o indivíduo é cultivar a sabedoria ética e agir de 
acordo com a razão divina, ou Logos (grego: “palavra”), que governa o universo. 
A filosofia estoica, assim, permitiu que seus praticantes conseguissem repouso 
e tranquilidade diante dos inevitáveis infortúnios e tragédias da vida. Formas 
posteriores de estoicismo, que enfatizavam o dever ético do serviço público, 
exerciam uma profunda influência sobre muitos eminentes eruditos e estadistas 
romanos, incluindo Cícero (106-43 a.E.C.), Sêneca (4 a.E.C.-65 E.C.) e o imperador 
Marco Aurélio (121-180 E.C.).
 
Em contraste com o estoicismo, a Escola de Filosofia Epicurista, fundada 
por Epicuro de Samos (341-270 E.C.), ensinava que o único bem para os seres 
humanos é o prazer e o único mal a dor. No entanto, não foi um simples hedonismo 
(a busca do prazer por si mesmo), porque defendia a ação virtuosa e a evitação 
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO GERAL À HISTÓRIA DA FILOSOFIA
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de desejos inatingíveis, que só trazem frustração. O epicurismo promoveu uma 
vida de retiro tranquilo e prazer simples, mas sublime, cuja forma mais elevada 
é a amizade.
 
Durante o período Helenístico, o ceticismo filosófico dos sofistas e outros 
pré-socráticos foi desenvolvido de maneira sofisticada por Pirro de Élis (360-272 
E.C.) e seus seguidores. Embora houvesse muitas variações, a doutrina básica 
do ceticismo pirrônico era que nada podeser conhecido com certeza, porque há 
sempre, igualmente, boas razões para acreditar ou negar qualquer afirmação 
positiva. O ceticismo pirrônico foi uma corrente importante na filosofia durante 
o Iluminismo do século XVIII, e de uma forma ou de outra ainda é uma posição 
viável na epistemologia contemporânea.
 
Durante o período Romano, que começou com a queda da República 
Romana em 31 a.E.C., a filosofia continuou sendo em grande parte um 
empreendimento grego – os romanos não fizeram contribuições originais para 
a filosofia. O estoicismo, por causa de sua adoção por membros da elite romana, 
foi a escola mais influente do período, embora outras escolas helenísticas 
continuassem a atrair seguidores. No segundo e especialmente no terceiro séculos 
E.C., a filosofia de Platão foi revivida e transformada através da introdução de 
vários elementos religiosos e místicos, principalmente no Neoplatonismo de 
Plotino (205-270).
O desenvolvimento mais significativo do período Romano, no entanto, foi 
a integração da teologia cristã com a filosofia neoplatônica, realizada por vários 
bispos cristãos e outros professores a partir do final do século II. O mais original 
e sofisticado desses esforços foi o do bispo Santo Agostinho, do século V. Sua 
distinção entre o sensível e o inteligível (entre o que pode ser conhecido através dos 
sentidos e o que pode ser conhecido apenas pela mente), sua concepção de Deus 
e o reino inteligível como existindo fora do espaço e do tempo, sua compreensão 
da natureza da alma, sua análise do conhecimento e seu tratamento do problema 
do livre-arbítrio guiaram a discussão filosófica desses tópicos durante a Idade 
Média até o século XIII, quando a filosofia de Aristóteles eclipsou a de Platão nas 
universidades medievais.
 
Por ter sido inventada pelos antigos gregos e por ainda refletir antigas 
influências gregas, é impossível entender a filosofia ocidental sem uma apreciação 
de sua história antiga. Os personagens que você encontrará neste livro, alguns 
dos maiores gênios que já viveram, merecem atenção especial, não apenas de 
estudantes de filosofia, mas também de qualquer um que deseja entender a 
cosmovisão intelectual do Ocidente – como todas as pessoas no Ocidente veem o 
universo, o divino e eles mesmos.
TÓPICO 1 | FILOSOFIA GREGA ANTIGA: OS PRÉ-SOCRÁTICOS
9
3 COSMOLOGIA, METAFÍSICA E EPISTEMOLOGIA
Os primeiros cosmólogos gregos eram monistas, sustentando que o 
universo é derivado de, ou composto de apenas uma única substância. Pensadores 
posteriores adotaram teorias pluralistas, segundo as quais várias substâncias 
últimas estão envolvidas.
 
Há um consenso que remonta, pelo menos a Aristóteles, e continua até 
o presente, de que o primeiro filósofo grego foi Tales de Mileto, que nasceu no 
século VI a.E.C. No tempo de Tales, a palavra “filósofo” (amante da sabedoria) 
ainda não havia sido inventada. Tales foi contado, no entanto, entre os lendários 
Sete Homens Sábios (Sophoi), cujo nome deriva de um termo que designava 
inventividade e sabedoria prática, em vez de insight especulativo. 
Tales demonstrou essas qualidades tentando dar ao conhecimento 
matemático que ele derivou dos babilônios uma base mais exata e usando-o para 
a solução de problemas práticos – como a determinação da distância de um navio 
como visto da costa ou da altura das pirâmides egípcias. Embora ele também fosse 
creditado com a previsão de um eclipse do Sol, é provável que ele simplesmente 
forneceu uma explicação natural de um com base no conhecimento astronômico 
babilônico.
 
Tales é considerado o primeiro filósofo grego, porque foi o primeiro a dar 
uma explicação puramente natural da origem do mundo, livre de ingredientes 
mitológicos. Ele sustentava que tudo veio da água – uma explicação baseada na 
descoberta de fósseis de animais marinhos no interior do país. Sua tendência (e 
de seus sucessores imediatos) de dar explicações não mitológicas foi, sem dúvida, 
motivada pelo fato de que todos viviam na costa da Anatólia (na atual Turquia), 
cercados por um número de nações cujas civilizações estavam muito mais 
avançadas que a dos gregos e cujas próprias explicações mitológicas variavam 
grandemente. Parecia necessário, portanto, fazer um novo começo com base no 
que uma pessoa poderia observar e inferir, olhando para o mundo tal como se 
apresentava. Esse procedimento naturalmente resultou em uma tendência a fazer 
generalizações abrangentes com base em observações bastante restritas, embora 
cuidadosamente verificadas.
 
O discípulo e sucessor de Tales, Anaximandro (610-546 a.E.C.), tentou 
dar uma explicação mais elaborada da origem e do desenvolvimento do mundo 
ordenado (o cosmos). Segundo ele, desenvolveu-se a partir do apeiron (“ilimitado”), 
algo infinito e indefinido (sem qualidades distinguíveis). Dentro desse apeiron, 
algo surgiu para produzir os opostos de quente e frio. Estes imediatamente 
começaram a lutar uns com os outros e produziram o cosmos. O frio (e molhado) 
secou parcialmente para se tornar terra sólida, em parte permaneceu como água e 
– por meio do quente – parcialmente evaporado, tornando-se ar e névoa, sua parte 
evaporadora (por expansão) dividindo o calor em anéis de fogo que cercam todo 
o cosmos. Entretanto, como esses anéis estão envoltos em neblina, restam apenas 
certos orifícios respiratórios que são visíveis aos seres humanos, aparecendo para 
eles como o Sol, a Lua e as Estrelas.
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO GERAL À HISTÓRIA DA FILOSOFIA
10
 Anaximandro foi o primeiro a perceber que para cima e para baixo não 
são absolutos, mas que para baixo significa em direção ao meio da Terra e para 
cima significa o distanciamento do meio dela, assim a Terra não tem necessidade 
de ser apoiada (como Tales acreditava) por nada. A partir das observações de 
Tales, Anaximandro tentou reconstruir o desenvolvimento da vida com mais 
detalhes. A vida, intimamente ligada à umidade, originou-se no mar. Todos os 
animais terrestres, ele afirmou, são descendentes de animais marinhos. Porque os 
primeiros seres humanos, como recém-nascidos, não poderiam ter sobrevivido 
sem os pais, Anaximandro acreditava que eles nasceram dentro de um animal de 
outro tipo – especificamente, um animal marinho – e que foram alimentados até que 
pudessem se virar sozinhos. Gradualmente, porém, a umidade será parcialmente 
evaporada, até que no final todas as coisas retornarão ao indiferenciado apeiron, 
para pagar a penalidade por sua injustiça – o fato de terem lutado uma contra a 
outra.
 
O sucessor de Anaximandro, Anaxímenes (nasceu em meados do século 
VI a.E.C.), ensinou que o ar era a origem de todas as coisas. Sua posição foi por 
muito tempo considerada um retrocesso, porque, como Tales, ele colocou um 
tipo especial de matéria no começo do desenvolvimento do mundo. Mas essa 
crítica errou o alvo. Nem Tales nem Anaximandro parecem ter especificado o 
modo pelo qual as outras coisas surgiram da água ou do apeiron. Anaxímenes, no 
entanto, declarou que os outros tipos de matéria surgiram do ar por condensação 
e rarefação. Dessa forma, o que para Tales havia sido apenas um começo tornou-
se um princípio fundamental que permaneceu essencialmente o mesmo em 
todas as suas transmutações. Assim, o termo arche, que originalmente significava 
simplesmente "começo", adquiriu o novo significado de "princípio", um termo 
que desde então desempenhou um enorme papel na filosofia até o presente. 
Este conceito de um princípio que permanece o mesmo através de muitas 
transmutações é, além disso, a pressuposição da ideia de que nada pode surgir 
do nada e que todas as idas e vindas que os seres humanos observam não são 
nada além de transmutações de algo que essencialmente permanece o mesmo 
eternamente. Desta forma, também está no fundo de todas as leis de conservação 
– as leis da conservação da matéria, força e energia – que têm sido fundamentais 
no desenvolvimento da física. Embora Anaxímenes não tenha percebido todas as 
implicações de sua ideia, suaimportância dificilmente pode ser exagerada.
 
Os três primeiros filósofos gregos foram chamados de “hilozoístas”, 
porque pareciam acreditar em uma espécie de matéria viva. Mas isso está longe 
de ser uma caracterização adequada. É, ao contrário, característico deles não 
distinguir claramente entre tipos de matéria, forças e qualidades, nem entre 
qualidades físicas e emocionais. A mesma entidade é às vezes chamada de "fogo" 
e às vezes "quente". O calor aparece às vezes como uma força e às vezes como 
uma qualidade e, novamente, não há distinção clara entre quente e frio como 
qualidades físicas e o calor do amor e do frio de ódio. Essas ambiguidades são 
importantes para a compreensão de certos desenvolvimentos posteriores da 
filosofia grega.
TÓPICO 1 | FILOSOFIA GREGA ANTIGA: OS PRÉ-SOCRÁTICOS
11
NOTA
Hilozoísmo: vem do grego hyle, matéria, e zoe, vida. Esse rótulo é uma das 
formas mais simples e ao mesmo tempo mais antigas de materialismo e monismo. Foi 
a doutrina da escola jônica na Grécia (séculos VII-VI a.E.C.), razão pela qual os filósofos 
jônicos são chamados de hilozoístas. Mais tarde, os estoicos consideraram o universo como 
uma realidade viva. Consiste no hilozoísmo, em afirmar que a matéria inerte é capaz de 
sensibilidade tal como os seres vivos, sendo dotados, como estes, de um princípio ativo.
Xenófanes de Cólofon (560-478 a.E.C.), um pensador filosófico e rapsodo 
(recitador da poesia) que emigrou da Anatólia para a cidade grega de Eléia, no 
sul da Itália, foi o primeiro a articular mais claramente o que estava implícito na 
filosofia de Anaxímenes. Ele criticava as noções populares dos deuses, dizendo 
que as pessoas faziam os deuses a sua própria imagem. Mas, mais importante 
que isso, ele argumentava que poderia haver apenas um Deus, o governante do 
universo, que deve ser eterno. Pois sendo o mais forte de todos os seres, ele não 
poderia ter saído de algo menos forte, nem poderia ser superado ou substituído 
por alguma outra coisa, porque nada poderia surgir que fosse mais forte que o 
mais forte. O argumento repousava claramente nos axiomas de que nada pode 
surgir do nada e que nada que exista pode desaparecer. 
 
Esses axiomas foram tornados mais explícitos e levados as suas conclusões 
lógicas (e extremas) por Parmênides de Eléia (nascido c. 515 a.E.C.), o fundador 
da chamada Escola Eleática, de quem Xenófanes tem sido considerado o mestre e 
precursor. Em um poema filosófico, Parmênides insistiu que “o que é” não pode 
ter surgido e não pode morrer porque teria que sair do nada ou se tornar nada, 
enquanto nada por sua própria natureza não existe. Também não pode haver 
movimento, pois teria que ser uma moção para algo que é – o que não é possível, 
uma vez que seria bloqueado – ou uma moção para algo que não é – o que é 
igualmente impossível, pois o que não é não existe. Portanto, tudo é um ser sólido 
e imóvel.
 O mundo familiar, no qual as coisas se movem, passam a existir e passam, 
é um mundo de mera crença (doxa). Em uma segunda parte do poema, no entanto, 
Parmênides tentou dar uma explicação analítica sobre esse mundo da crença, 
mostrando que ele se baseava em constantes distinções entre o que se acredita ser 
positivo – isto é, ter seres reais, como luz e calor – e o que se acredita ser negativo 
– isto é, a ausência de um ser positivo, como a escuridão e o frio. 
 
É significativo que Heráclito de Éfeso (c. 540-480 a.E.C.), cuja filosofia foi 
mais tarde considerada o oposto da filosofia do ser imóvel de Parmênides, veio, 
em alguns fragmentos de sua obra, perto do que Parmênides tentou mostrar. 
Afirmando que o positivo e o negativo são apenas visões diferentes da mesma 
coisa; morte e vida, dia e noite, e luz e escuridão são realmente um só.
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO GERAL À HISTÓRIA DA FILOSOFIA
12
 Vendo o fogo como o material essencial que une todas as coisas, Heráclito 
escreveu que o princípio da ordem do mundo, o cosmos, “sempre foi, é e sempre 
será fogo sempre vivo, acendendo-se segundo medidas e segundo medidas 
apagando-se” (HERÁCLITO, 2002, p. 201). Ele estendeu as manifestações do fogo 
para incluir não apenas combustível, chama e fumaça, mas também o éter na alta 
atmosfera. Parte desse ar, ou fogo puro, “torna-se” o oceano, presumivelmente 
como chuva, e parte do oceano se transforma em terra. Simultaneamente, 
massas iguais de terra e mar em todos os lugares estão retornando aos aspectos 
respectivos do mar e do fogo. O equilíbrio dinâmico resultante mantém um 
equilíbrio ordenado no mundo. Essa persistência de unidade apesar da mudança 
é ilustrada pela famosa analogia da vida de Heráclito a um rio, em que “nos 
mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos. Não é possível 
entrar duas vezes no mesmo rio” (HERÁCLITO, 2002, p. 205). Platão mais tarde 
adotou essa doutrina para significar que todas as coisas estão em constante fluxo, 
independentemente de como elas aparecem para os sentidos.
4 SER E TORNAR-SE (VIR A SER)
Parmênides teve uma enorme influência no desenvolvimento da filosofia. 
A maioria dos filósofos das duas gerações seguintes tentou encontrar uma 
maneira de reconciliar sua tese de que nada vem à existência nem desaparece 
com a evidência apresentada aos sentidos. Empédocles de Agrigento (c. 490-430 
a.E.C.) declarou que há quatro elementos materiais (ele os chamou de raízes 
de tudo) e duas forças, amor e ódio, que não surgiram e nunca passariam, 
aumentariam ou diminuiriam. Mas os elementos são constantemente misturados 
entre si pelo amor e novamente separados pelo ódio. Assim, através da mistura 
e decomposição, as coisas compostas passam a existir e desaparecem. Como 
Empédocles concebeu o amor e o ódio como forças cegas, ele teve que explicar 
como, através de movimentos aleatórios, os seres vivos poderiam emergir. 
Isso ele fez por meio de uma antecipação bruta da teoria da sobrevivência do 
mais forte. No processo de mistura e decomposição, os membros e partes de 
vários animais seriam formados por acaso. Mas eles não poderiam sobreviver 
sozinhos; só sobreviveriam quando, por acaso, eles se unissem de tal maneira 
que pudessem se apoiar e se reproduzir. Foi assim que as várias espécies foram 
produzidas e continuaram a existir. 
 
Anaxágoras de Clazómenas (c. 500-428 a.E.C.), um pluralista, acreditava 
que como nada poderia realmente vir a ser, tudo deveria estar contido em 
tudo, mas na forma de partes infinitamente pequenas. No começo, todas essas 
partículas haviam existido em uma mistura homogênea, na qual nada podia 
ser distinguido, muito parecido com o apeiron indefinido de Anaximandro. Mas 
então o nous, ou inteligência, começou em um ponto a colocar essas partículas em 
um movimento giratório, prevendo que, desse modo, elas se separariam umas 
das outras e então se recombinariam das mais variadas maneiras, de modo a 
produzir, gradualmente, o mundo no qual os seres humanos vivem. Em contraste 
com as forças assumidas por Empédocles, o nous de Anaxágoras não é cego, mas 
TÓPICO 1 | FILOSOFIA GREGA ANTIGA: OS PRÉ-SOCRÁTICOS
13
prevê e pretende a produção do cosmos, incluindo seres vivos e inteligentes; 
no entanto, isso não interfere no processo depois de ter iniciado o movimento 
giratório. Esta é uma estranha combinação de uma explicação mecânica e não 
mecânica do mundo.
 
De longe, a maior importância para o desenvolvimento posterior da 
filosofia e da ciência física foi uma tentativa de Leucipo de Abdera (nascido 
no século V a.E.C.) e Demócrito de Abdera (c. 460-370 a.E.C.) para resolver o 
problema parmenidiano. Leucipo encontrou a solução na suposição de que, ao 
contrário do argumento de Parmênides, o nada de fato existe – como espaço 
vazio. Há, então, dois princípios fundamentais do mundo físico, espaço vazio e 
espaço preenchido – o último consistindo de átomos que, em contraste com os da 
física moderna, são átomos reais – isto é, são absolutamente indivisíveis porque 
nada pode penetrar para dividi-los. 
Sobre esses fundamentos, estabelecidos porLeucipo, Demócrito parece 
ter construído todo um sistema, visando a uma explicação completa dos diversos 
fenômenos do mundo visível por meio de uma análise de sua estrutura atômica. 
Esse sistema começa com problemas físicos elementares, como: Por que um 
corpo rígido pode ser mais leve que um corpo mais macio? A explicação é que 
o corpo mais pesado contém mais átomos, que são igualmente distribuídos e 
de forma redonda; o corpo mais leve, no entanto, tem menos átomos, a maioria 
dos quais tem ganchos que formam grades rígidas. O sistema termina com 
questões educacionais e éticas. Uma pessoa sensata e alegre, útil para seus 
companheiros, é literalmente bem composta. Embora as paixões destrutivas 
envolvam movimentos atômicos violentos e de longa distância, a educação 
pode ajudar a contê-las, criando uma compostura melhor. Demócrito também 
desenvolveu uma teoria da evolução da cultura, que influenciou os pensadores 
posteriores. A civilização, pensou ele, é produzida pelas necessidades da vida, 
que compelem os seres humanos a trabalhar e fazer invenções. Quando a vida 
se torna muito fácil porque todas as necessidades são satisfeitas, existe o perigo 
de que a civilização decaia à medida que as pessoas se tornem indisciplinadas 
e negligentes. 
5 APARÊNCIA E REALIDADE
Todos os filósofos pós-parmenidianos, como o próprio Parmênides, 
pressupunham que o mundo real é diferente daquele que os seres humanos 
percebem. Assim surgiram os problemas da epistemologia ou teoria do 
conhecimento. Segundo Anaxágoras, tudo está contido em tudo. Mas isso não é o 
que as pessoas percebem. Ele resolveu esse problema postulando que, se há uma 
quantidade muito maior de um tipo de partícula em uma coisa do que todos os 
outros tipos, as últimas não são percebidas de forma alguma. A observação foi 
então feita que, por vezes, diferentes pessoas ou tipos de animais têm diferentes 
percepções das mesmas coisas. Ele explicou esse fenômeno assumindo que o 
semelhante é percebido pelo mesmo. Se, portanto, no órgão sensorial de uma 
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO GERAL À HISTÓRIA DA FILOSOFIA
14
pessoa há menos de um tipo de material do que de outro, essa pessoa perceberá o 
primeiro menos intensamente que o segundo. Esse raciocínio também foi usado 
para explicar por que alguns animais veem melhor à noite e outros durante o dia.
 
De acordo com Demócrito, os átomos não têm qualidades sensíveis, 
como gosto, cheiro ou cor. Assim, ele tentou reduzir todos eles a qualidades 
táteis (explicando uma cor branca brilhante, por exemplo, como átomos afiados 
atingindo o olho como agulhas). Ele fez uma tentativa muito elaborada de 
reconstruir a estrutura atômica das coisas, com base em suas qualidades sensíveis 
aparentes.
 
Também de grande importância na história da epistemologia estava Zenão 
de Eléia (c. 495-c. 430 a.E.C.), um jovem amigo de Parmênides. Parmênides, é 
claro, tinha sido severamente criticado por causa das estranhas consequências 
de sua doutrina: que na realidade não há movimento nem pluralidade, porque 
há apenas um ser sólido. Para apoiá-lo, no entanto, Zenão tentou mostrar que 
a suposição de que há movimento e pluralidade leva a consequências que não 
são menos estranhas. Isso ele fez por meio de seus famosos paradoxos, dizendo 
que a flecha voadora repousa, uma vez que não pode se mover no lugar em que 
está nem em um lugar onde não está, e que Aquiles não pode ultrapassar uma 
tartaruga em uma corrida porque, quando chegou ao seu ponto de partida, a 
tartaruga terá se movido para um outro ponto, e assim por diante, ad infinitum – 
que, de fato, ele não pode nem começar a correr, pois antes de atravessar o trecho 
até o ponto inicial da tartaruga, ele terá que atravessar metade disso, e novamente 
metade disso, e assim por diante, ad infinitum. 
 
Todos esses paradoxos são derivados do que é conhecido como o problema 
do continuum. Embora muitas vezes tenham sido descartados como absurdos 
lógicos, muitas tentativas também foram feitas para descartá-los por meio de 
teoremas matemáticos, como a teoria das séries convergentes ou a teoria dos 
conjuntos. No final, porém, as dificuldades lógicas levantadas nos argumentos de 
Zenão sempre voltaram com uma vingança, pois a mente humana é construída 
de tal forma que pode olhar para um continuum de duas maneiras que não são 
completamente reconciliáveis.
6 PITÁGORAS E PITAGORISMO
Todas as filosofias mencionadas até agora são de várias maneiras 
historicamente semelhantes umas às outras. Por volta do final do século VI 
a.E.C., no entanto, surgiu outro tipo de filosofia, que só mais tarde entrou em 
inter-relação com os desenvolvimentos mencionados: a filosofia de Pitágoras de 
Samos (c. 580-500 a.E.C.). Pitágoras viajou extensivamente no Oriente Médio e 
no Egito e, após seu retorno a Samos (uma ilha na costa da Anatólia), emigrou 
para o sul da Itália por não gostar da tirania de Polícrates (574-522 a.E.C.). Em 
Croton e Metaponto, ele fundou uma sociedade filosófica com regras rígidas e 
logo ganhou considerável influência política. 
TÓPICO 1 | FILOSOFIA GREGA ANTIGA: OS PRÉ-SOCRÁTICOS
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Ele parece ter trazido sua doutrina da transmigração (reencarnação) de 
almas do Oriente Médio. Muito mais importante para a história da filosofia e da 
ciência, no entanto, foi sua doutrina de que "todas as coisas são números", o que 
significa que a essência e a estrutura de todas as coisas podem ser determinadas 
encontrando as relações numéricas que expressam. Originalmente foi uma 
generalização muito ampla feita com base em poucas observações: por exemplo, 
que as mesmas harmonias podem ser produzidas com diferentes instrumentos – 
cordas, canos, discos etc. – por meio das mesmas proporções numéricas – 1/2, 2/3, 
3/4 – em extensões unidimensionais; a observação de que certas regularidades 
existem nos movimentos dos corpos celestes; e a descoberta de que a forma de um 
triângulo é determinada pela proporção dos comprimentos de seus lados. Mas 
como os seguidores de Pitágoras tentaram aplicar seu princípio em toda parte com 
a maior precisão, um deles – Hipaso de Metaponto (nascido no século V a.E.C.) 
– fez uma das descobertas mais fundamentais em toda a história da ciência: que 
o lado e a diagonal de figuras simples, como o quadrado e o pentágono regular, 
são incomensuráveis – isto é, sua relação quantitativa não pode ser expressa 
como uma razão de inteiros. À primeira vista, essa descoberta pareceu destruir a 
própria base da filosofia pitagórica, e a escola se dividiu em duas seitas, uma das 
quais se envolveu em especulações numéricas um tanto abstrusas, enquanto a 
outra conseguiu superar a dificuldade por engenhosas invenções matemáticas. A 
filosofia pitagórica também exerceu uma grande influência no desenvolvimento 
posterior do pensamento de Platão. 
 
As especulações descritas até agora constituem, em muitos aspectos, a 
parte mais importante da história da filosofia grega, porque todos os problemas 
mais fundamentais da filosofia ocidental surgiram aqui pela primeira vez. 
Também encontra-se aqui a formação de muitos conceitos que continuaram a 
dominar a filosofia e a ciência ocidentais até os dias atuais.
7 CETICISMO E RELATIVISMO: OS SOFISTAS
Em meados do século V a.E.C., o pensamento grego tomou um rumo 
um pouco diferente com o advento dos sofistas. O nome é derivado do verbo 
sophizesthai, que denota fazer uma profissão do ser inventivo e inteligente ou 
agir com astúcia, o que descreve apropriadamente os sofistas, que, em contraste 
com os filósofos mencionados até agora, cobravam honorários por sua instrução 
(HEGENBERG, 2008, p. 325).
 
Filosoficamente, os sofistas foram, de certa forma, os líderes de uma 
rebelião contra o desenvolvimento precedente da filosofia, que cada vez mais 
resultou na crença de que o mundo real é bem diferente do mundo fenomenal. 
"Qual é o sentido de tais especulações?", perguntaram, já que ninguém mora 
nesses supostos mundos reais. Este é o significado do pronunciamento de 
Protágoras deAbdera (c. 485-410 a.E.C.), que "o homem é a medida de todas as 
coisas, daquelas que são, que são, daquelas que não são, que não são" (CHAUI, 
2002, p. 8-9). Para os seres humanos, o mundo é o que parece para eles ser, não 
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO GERAL À HISTÓRIA DA FILOSOFIA
16
outra coisa. Protágoras ilustrou em seu argumento dizendo que não faz sentido 
dizer a uma pessoa que está realmente quente quando ela está tremendo de frio 
porque para ela está frio – para ela, o frio existe, está lá.
Seu contemporâneo mais jovem, Górgias de Leontini (que nasceu no 
século V a.E.C.), famoso por seu tratado sobre a arte da oratória, zombou dos 
filósofos em seu livro Sobre o Não-Ser ou Sobre a Natureza (Peri tou mē ontos ē peri 
physeōs). Nesta obra, referiu-se ao mundo verdadeiramente existente, também 
chamado de a natureza das coisas – ele tentou provar (1) que nada existe, (2) que 
se algo existisse, não se poderia ter conhecimento disso, e (3) que, se, no entanto, 
alguém soubesse que algo existia, ele não poderia comunicar seu conhecimento a 
outros (GÓRGIAS, 1999).
 
Os sofistas não eram apenas céticos quanto àquilo que, até então, se 
tornara uma tradição filosófica, mas também de outras tradições. Com base na 
observação de que diferentes nações têm regras de conduta diferentes, mesmo 
em relação a coisas consideradas mais sagradas – como as relações entre os sexos, 
casamento e sepultamento –, concluíram que a maioria das regras de conduta 
são convenções. O que é realmente importante é ter sucesso na vida e ganhar 
influência sobre os outros. Isso eles prometeram ensinar. 
Górgias se orgulhava do fato de que, sem ter conhecimento de medicina, 
tinha mais sucesso em persuadir um paciente a realizar uma operação necessária 
do que seu irmão, um médico, que sabia quando uma operação era necessária. 
Os sofistas mais antigos, no entanto, estavam longe de pregar abertamente o 
imoralismo. Eles, no entanto, gradualmente abandonaram a suspeita por causa de 
suas maneiras astutas de argumentar. Um dos sofistas posteriores, Trasímaco de 
Calcedônia (que nasceu no século V a.E.C.), era ousado o suficiente para declarar 
abertamente que certo é o que é benéfico para o mais forte ou melhor – isto é, para 
aquele capaz de vencer o poder de curvar outros a sua vontade (PLATÃO, 2001).
DICAS
Uma excelente obra que aprofunda os estudos sobre os Pré-Socráticos é Os 
Filósofos Pré-Socráticos, de Gerd Bornheim (2005).
Consulte: BORNHEIM, G. Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Cultrix, 2005.
Para finalizar, neste tópico pudemos introduzir um panorama geral 
da Filosofia Antiga, percorrendo as principais contribuições do primeiros 
cosmólogos gregos como Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxímenes, Xenófanes, 
Parmênides, Heráclito, Anaxágoras, Leucipo, Demócrito, Zenão e Pitágoras. 
Também exploramos a contribuição do Ceticismo e do Relativismo proposta 
pelos Sofistas. 
TÓPICO 1 | FILOSOFIA GREGA ANTIGA: OS PRÉ-SOCRÁTICOS
17
No próximo tópico, exploraremos a filosofia de Sócrates e suas profundas 
contribuições para a Filosofia Antiga. É importante que você, caro acadêmico, 
tenha compreendido os temas discutidos neste tópico para que possa prosseguir 
e entender o diálogo proposto por Sócrates.
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Neste tópico, você aprendeu que:
• A filosofia ocidental surgiu na Grécia Antiga (que incluía Mileto e outras partes 
da atual Turquia) aproximadamente no século VI a.E.C.
• Os milésios tentaram responder a essas perguntas em termos naturais e não 
religiosos.
• Por especularem sobre questões profundamente importantes, de maneira 
racional e sistemática, os milésios são reconhecidos como os primeiros filósofos 
ocidentais.
• Até o final do século III E.C., outros filósofos do mundo grego produziam teorias 
sofisticadas e originais em ética, epistemologia (o estudo do conhecimento), 
metafísica (o estudo da natureza última da realidade) e lógica.
• O termo "pré-socrático" refere-se a filósofos que não foram influenciados por 
Sócrates (470-399 a.E.C.), na maioria dos casos porque eles viviam antes dele.
• O primeiro dos milésios, Tales, sustentava que tudo é água, com o que ele quis 
dizer que as diferentes substâncias das quais o mundo parece ser composto são 
derivadas da água.
• Anaximandro também foi notável por promover uma teoria da evolução dos 
seres vivos, os humanos e todos os outros animais, ele afirmava que evoluíram 
dos peixes.
• Os filósofos pré-socráticos também incluíam um grupo de pensadores cujas 
principais preocupações não eram cosmológicas, mas éticas e políticas.
• O período Clássico da Filosofia Antiga é dominado por três figuras dos séculos 
V e IV a.E.C., todas cidadãs de Atenas: Sócrates, Platão e Aristóteles.
• Os primeiros cosmólogos gregos eram monistas, sustentando que o Universo é 
derivado de, ou composto de apenas uma única substância.
• Tales é considerado o primeiro filósofo grego, porque foi o primeiro a dar 
uma explicação puramente natural da origem do mundo, livre de ingredientes 
mitológicos.
• O discípulo e sucessor de Tales, Anaximandro (610-546 a.E.C.), tentou dar 
uma explicação mais elaborada da origem e do desenvolvimento do mundo 
ordenado (o cosmos).
RESUMO DO TÓPICO 1
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• O sucessor de Anaximandro, Anaxímenes (nasceu em meados do século VI 
a.E.C.), ensinou que o ar era a origem de todas as coisas.
• Os três primeiros filósofos gregos foram chamados de “hilozoístas” porque 
pareciam acreditar em uma espécie de matéria viva.
• Xenófanes de Cólofon (560-478 a.E.C.) foi o primeiro a articular mais claramente 
o que estava implícito na filosofia de Anaxímenes.
• Heráclito de Éfeso (c. 540-480 a.E.C.) afirmava que o positivo e o negativo são 
apenas visões diferentes da mesma coisa; morte e vida, dia e noite, e luz e 
escuridão são realmente um só.
• Empédocles de Agrigento (c. 490-430 a.E.C.) declarou que há quatro elementos 
materiais (ele os chamou de raízes de tudo) e duas forças, amor e ódio, que não 
surgiram e nunca passariam, aumentariam ou diminuiriam.
• Anaxágoras de Clazómenas (c. 500-428 a.E.C.), um pluralista, acreditava que 
como nada poderia realmente vir a ser, tudo deveria estar contido em tudo, 
mas na forma de partes infinitamente pequenas.
• Todos os filósofos pós-parmenidianos, como o próprio Parmênides, 
pressupunham que o mundo real é diferente daquele que os seres humanos 
percebem.
• Por volta do final do século VI a.E.C. surgiu outro tipo de filosofia, que só 
mais tarde entrou em inter-relação com os desenvolvimentos mencionados: a 
filosofia de Pitágoras de Samos.
• Filosoficamente, os sofistas foram, de certa forma, os líderes de uma rebelião 
contra o desenvolvimento precedente da filosofia, que cada vez mais resultou 
na crença de que o mundo real é bem diferente do mundo fenomenal.
• Os sofistas não eram apenas céticos quanto àquilo que até então se tornara uma 
tradição filosófica, mas também de outras tradições.
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1 Qual é a razão pela qual os milésios foram reconhecidos como os primeiros 
filósofos ocidentais?
2 Quais são os quatro períodos ou fases em que a história da filosofia ocidental 
antiga é tradicionalmente dividida?
3 O discípulo e sucessor de Tales, Anaximandro (610-546 a.E.C.), tentou dar 
uma explicação mais elaborada da origem e do desenvolvimento do mundo 
ordenado (o cosmos). Qual foi a sua explicação?
4 O termo arche, que originalmente significava apenas "começo", adquiriu o 
novo significado. Qual é este novo significado e qual a sua importância para 
a filosofia?
AUTOATIVIDADE
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TÓPICO 2
A FILOSOFIA DE SÓCRATES
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
A vida, o caráter e o pensamento de Sócrates (c. 470-399 a.E.C.) exerceram 
profunda influência sobre a filosofia ocidental desde os tempos antigos até os 
dias atuais.
 
Sócrates era uma figura amplamente reconhecida e controversa em sua 
terra natal, Atenas, tanto que era frequentemente ridicularizado nas peças de 
dramaturgos cômicos. As Nuvens, de Aristófanes (1987), escrita em 423 a.E.C., 
é o exemplo maisconhecido. Embora o próprio Sócrates não tenha escrito 
nada, ele é descrito em conversas e em composições por um pequeno círculo de 
admiradores – Platão (2007, 2008, 2009, 2015, 2016a, 2016b) e Xenofonte (1987, 
2008), primeiro entre eles. Ele é retratado nesses trabalhos como um homem de 
grande discernimento, integridade, autocontrole e habilidade argumentativa. 
O impacto de sua vida foi ainda maior por causa da maneira como 
terminou. Aos 70 anos, ele foi levado a julgamento sob acusação de impiedade e 
condenado à morte por envenenamento (o veneno provavelmente sendo cicuta) 
por um júri de seus cidadãos. A Apologia de Sócrates, de Platão (2008), pretende 
ser o discurso que Sócrates fez em seu julgamento em resposta às acusações 
feitas contra ele (o termo grego apologia significa "defesa"). Na Apologia vemos 
a sua poderosa defesa da vida examinada e a sua condenação da democracia 
ateniense, o que faz este ser um dos documentos centrais do pensamento e da 
cultura ocidental. 
A seguir, vamos explorar aspectos da vida e da personalidade de 
Sócrates. Veremos também as razões pelas quais ele passou a ser odiado por 
muitos, detalhando os seus principais pontos argumentativos e provocadores. 
Finalizaremos este tópico enfatizando o legado deixado por Sócrates no 
pensamento filosófico ocidental.
2 A VIDA E A PERSONALIDADE DE SÓCRATES 
Embora fontes literárias e filosóficas forneçam apenas uma pequena 
quantidade de informações sobre a vida e personalidade de Sócrates, uma 
imagem singular e vívida está disponível para nós nos trabalhos de Platão. 
Sabemos os nomes de seu pai, Sophroniscus (provavelmente um pedreiro), 
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO GERAL À HISTÓRIA DA FILOSOFIA
22
sua mãe, Phaenarete, e sua esposa, Xântipe, e sabemos que ele teve três filhos. 
Com o nariz arrebitado e os olhos esbugalhados, o que o fazia parecer sempre 
estar observando, ele não era atraente para os padrões convencionais. Ele serviu 
como um hoplita (um soldado fortemente armado) no exército ateniense e lutou 
bravamente em várias batalhas importantes. Ao contrário de muitos pensadores 
de seu tempo, ele não viajou para outras cidades para buscar seus interesses 
intelectuais. Embora não tenha procurado um alto cargo e não tenha participado 
regularmente das reuniões da Assembleia Ateniense (Ecclesia) – o principal órgão 
governamental da cidade (como era seu privilégio como cidadão adulto do sexo 
masculino) – assim como não atuava em nenhuma facção política, ele cumpriu 
seus deveres como cidadão, que incluía não apenas o serviço militar, mas a 
participação ocasional no Conselho dos Quinhentos, que preparava a agenda da 
Assembleia.
Sócrates não era de linhagem nobre ou rica, mas muitos de seus 
admiradores eram, e incluíam vários cidadãos atenienses mais proeminentes 
politicamente. Quando a constituição democrática de Atenas foi derrubada por 
um breve período em 403, quatro anos antes de seu julgamento, ele não deixou 
a cidade, assim como muitos apoiadores dedicados do governo democrático, 
incluindo seu amigo Chaerephon, que havia ido a Delfos muitos anos antes 
perguntar ao oráculo se alguém era mais sábio que Sócrates (a resposta foi não). 
Os longos períodos de êxtase intelectual de Sócrates, sua coragem na batalha, sua 
resistência à fome e ao frio, sua capacidade de consumir vinho sem embriaguez 
aparente e seu extraordinário autocontrole na presença de atrações sensuais são 
todos descritos com arte consumada nas páginas de abertura e fechamento de O 
Banquete (ou Simpósio) (PLATÃO, 2009).
 
A personalidade de Sócrates estava de alguma forma intimamente ligada 
a sua visão filosófica. Ele era notável pelo comando absoluto que mantinha sobre 
suas emoções e sua aparente indiferença às dificuldades físicas. Correspondendo 
a essas qualidades pessoais estava seu compromisso com a doutrina de que a 
razão, devidamente cultivada, pode e deve ser o fator que tudo controla na vida 
humana. Assim, ele não tinha medo da morte, como ele diz na Apologia, de Platão 
(2008), porque ele não tinha conhecimento do que viria depois dela, e ele sustenta 
que se alguém tem medo da morte, seu medo pode estar baseado apenas em uma 
pretensão de conhecimento. A pressuposição subjacente a essa alegação é que, uma 
vez que se tenha pensado o suficiente sobre algum assunto, as emoções seguirão o 
mesmo caminho. O medo será dissipado pela clareza intelectual. Da mesma forma, 
de acordo com Sócrates, se alguém acredita, após a reflexão, que deve agir de uma 
maneira particular, então necessariamente os sentimentos sobre o ato em questão 
se acomodarão à crença deste alguém – ele desejará agir dessa maneira. Assim, 
Sócrates nega a possibilidade do que tem sido chamado de "fraqueza da vontade" 
– agir conscientemente (tendo conhecimento) de uma maneira que se acredita 
estar errado. Segue que, uma vez que se sabe o que é a virtude, é impossível não 
agir virtuosamente. Qualquer um que não atua virtuosamente faz isso porque ele 
identifica incorretamente a virtude com algo que não é. É isso que significa a tese, 
atribuída a Sócrates por Aristóteles, de que a virtude é uma forma de conhecimento.
TÓPICO 2 | A FILOSOFIA DE SÓCRATES
23
A concepção de virtude de Sócrates como uma forma de conhecimento 
explica por que ele considera ser da maior importância buscar respostas para 
perguntas como: “O que é coragem?” e “O que é piedade?”. Se pudéssemos 
descobrir as respostas para essas perguntas, teríamos tudo o que precisamos para 
viver bem nossas vidas. O fato de que Sócrates alcançou um controle racional 
completo de suas emoções, sem dúvida, encorajou-o a supor que seu próprio caso 
era indicativo do que os seres humanos, no seu melhor, podem alcançar.
Mas se a virtude é uma forma de conhecimento, será que isso significa que 
cada uma das virtudes – coragem, piedade, justiça – constitui um ramo separado 
do conhecimento? Deveríamos inferir que é possível adquirir conhecimento de 
um desses ramos, mas não de outros? Essa é uma questão que surge em vários 
diálogos de Platão; é mais amplamente discutido em Protágoras (PLATÃO, 2007). 
Era uma suposição da sabedoria grega convencional, e ainda é amplamente 
assumido, que se pode ter algumas qualidades admiráveis, mas carecer de outras. 
Alguém poderia, por exemplo, ser corajoso, mas injusto. Sócrates desafia essa 
suposição. Ele acredita que as muitas virtudes formam uma espécie de unidade 
– todavia, não sendo capaz de definir nenhuma das virtudes, ele não estava 
em posição de dizer se todas eram a mesma coisa ou, ao contrário, constituíam 
algum tipo de unificação mais frouxa. Mas ele rejeitava, inequivocamente, a ideia 
convencional de que alguém poderia possuir uma virtude sem possuir todas. 
 
Outra característica proeminente da personalidade de Sócrates, que 
frequentemente levanta problemas sobre como melhor interpretá-lo, é (para usar 
o antigo termo grego) sua eirôneia. Embora este seja o termo a partir do qual a 
palavra portuguesa “ironia” é derivada, há uma diferença entre os dois. Falar 
ironicamente é usar palavras para significar o oposto do que elas normalmente 
transmitem, mas isso não é necessariamente o objetivo de dissimular, pois o 
falante pode esperar e até querer que o público reconheça essa reversão. Em 
contraste, para os antigos gregos, eirôneia significava “dissimulação” – um usuário 
da eirôneia está tentando esconder alguma coisa. 
Esta é a acusação feita contra Sócrates várias vezes nas obras de Platão, 
embora nunca feita nas obras de Xenofonte (1987, 2008). Na obra de Platão (2008), 
Apologia, Sócrates é descrito afirmar que os jurados, ao ouvirem seu caso, não 
aceitariam a razão por ele oferecida ao fato de ser incapaz de parar de filosofar 
nos lugares públicos – que fazer isso seria desobedecer ao Deus que preside em 
Delfos. A audiência de Sócrates entendeu que ele estava se referindo a Apolo, 
embora ele próprio não use esse nome. Em seu discurso, o filósofo afirma sua 
obediência ao Deus ou aos deuses, mas não especificamente

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