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Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 1 MÓDULO DE: GOVERNANÇA CORPORATIVA AUTORIA: MSc. ANGELA MARIA BISSOLI SALEME Copyright © 2008, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 2 Módulo de: Governança Corporativa Autoria: Angela Maria Bissoli Saleme Primeira edição: 2008 CITAÇÃO DE MARCAS NOTÓRIAS Várias marcas registradas são citadas no conteúdo deste módulo. Mais do que simplesmente listar esses nomes e informar quem possui seus direitos de exploração ou ainda imprimir logotipos, o autor declara estar utilizando tais nomes apenas para fins editoriais acadêmicos. Declara ainda, que sua utilização tem como objetivo, exclusivamente na aplicação didática, beneficiando e divulgando a marca do detentor, sem a intenção de infringir as regras básicas de autenticidade de sua utilização e direitos autorais. E por fim, declara estar utilizando parte de alguns circuitos eletrônicos, os quais foram analisados em pesquisas de laboratório e de literaturas já editadas, que se encontram expostas ao comércio livre editorial. Todos os direitos desta edição reservados à ESAB – ESCOLA SUPERIOR ABERTA DO BRASIL LTDA http://www.esab.edu.br Av. Santa Leopoldina, nº 840/07 Bairro Itaparica – Vila Velha, ES CEP: 29102-040 Copyright © 2008, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 3 Apresentação Olá, Aluno (a)! É um prazer tê-lo (a) conosco. Seja bem-vindo (a.) A ESAB oferece a você, mais este módulo “Governança Corporativa”, na modalidade a distância. Na EAD – Educação a Distância, você é o grande responsável pelo sucesso na aprendizagem. Por isso, é necessário que se organize para os estudos e para a realização de todas as atividades nos prazos estabelecidos, conforme orientações. A EAD, por sua característica e amplitude e, pelo uso de tecnologias modernas, representa uma nova forma de aprender, respeitando sempre, o seu tempo. Desejamos-lhe sucesso e dedicação! Sua tutora. Meu nome é Angela, sou a tutora responsável pela Disciplina “Governança Corporativa”. Para cursá-la, você contará com meu apoio. Sou graduada em Administração pela FACEC, pós-graduada em Docência de Ensino Superior, Qualidade Total em Administração e Serviços, MBA em Administração Geral e Formação de Altos Executivos, mestre em Administração pela FACECA –Varginha - MG. A minha experiência, como educadora corporativa do Banco do Brasil, vem desde 1999. Leciono na área de Gestão desde 2006, em cursos de nível superior e pós-graduação. Muito obrigado, desde já, por sua companhia neste módulo. Profª. Angela Maria Bissoli Saleme Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 4 Objetivo Promover a capacitação ampla de profissionais sobre modernas práticas de Governança Corporativa, objetivando à formação de novos líderes com sólida base teórica e prática, além da visão reflexiva de Governança nas Organizações. Ementa Conceito e práticas de Governança Corporativa; Teoria da Agência e Conflitos de interesse na Empresa. Desenvolvimento Institucional e Financeiro e Práticas de Governança; Melhores Práticas de Conselho; Envolvimento do Conselho de Administração na Estratégia Empresarial; Aspectos legais da Governança; Modelos alternativos de Governança Corporativa; Níveis de Governança Corporativa; Novo Mercado. Sobre o Autor Especialista em Gestão de Recursos Humanos, com Aperfeiçoamento em Saúde Mental (fundação Osvaldo Cruz), com graduação em Psicologia pela UFES. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 5 SUMÁRIO UNIDADE 1 ........................................................................................................... 8 GOVERNANÇA CORPORATIVA: ..................................................................... 8 UNIDADE 2 ......................................................................................................... 10 CONTEXTUALIZAÇÃO .................................................................................... 10 UNIDADE 3 ......................................................................................................... 15 PERSPECTIVAS CONCEITUAIS DA GOVERNANÇA CORPORATIVA ...... 15 UNIDADE 4 ......................................................................................................... 17 CÓDIGO DAS MELHORES PRÁTICAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA .......................................................................................................................... 17 UNIDADE 5 ......................................................................................................... 20 AS PRÁTICAS DE GOVERNANÇA NO MUNDO ........................................... 20 UNIDADE 6 ......................................................................................................... 23 MODELO LATINO-AMERICANO .................................................................... 23 UNIDADE 7 ......................................................................................................... 25 MODELO ALEMÃO .......................................................................................... 25 UNIDADE 8 ......................................................................................................... 27 MODELO ANGLO-SAXÃO .............................................................................. 27 UNIDADE 9 ......................................................................................................... 29 MODELO JAPONÊS ........................................................................................ 29 UNIDADE 10 ....................................................................................................... 30 MODELO LATINO-EUROPEU ........................................................................ 30 UNIDADE 11 ....................................................................................................... 31 PRINCIPAIS INICIATIVAS NO BRASIL .......................................................... 31 UNIDADE 12 ....................................................................................................... 39 IBGC ................................................................................................................. 39 Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 6 UNIDADE 13 ....................................................................................................... 42 TEORIA DA AGÊNCIA ..................................................................................... 42 UNIDADE 14 ....................................................................................................... 46 OS CONFLITOS DA AGÊNCIA ....................................................................... 46 UNIDADE 15 ....................................................................................................... 50 O NOVO MERCADO ....................................................................................... 50 UNIDADE 16 ....................................................................................................... 52 NÍVEIS DEFINIDOS DE GOVERNANÇA DA BOVESPA ............................... 52 UNIDADE 17 ....................................................................................................... 54 ABORDAGEM LEGAL DE GOVERNANÇA CORPORATIVA ......................... 54 UNIDADE 18 ....................................................................................................... 62 GOVERNANÇA CORPORATIVA E EMPRESA FAMILIAR ............................ 62 UNIDADE 19 ....................................................................................................... 70 MODELOSDE GOVERNANÇA CORPORATIVA ........................................... 70 UNIDADE 20 ....................................................................................................... 75 RELATÓRIO CADBURY .................................................................................. 75 UNIDADE 21 ....................................................................................................... 77 OCDE ............................................................................................................... 77 UNIDADE 22 ....................................................................................................... 82 ESTRUTURA DE GOVERNANÇA CORPORATIVA – Modelo do B.BRASIL S.A. ................................................................................................................... 82 UNIDADE 23 ....................................................................................................... 85 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DE BOA GOVERNANÇA ............................. 85 UNIDADE 24 ....................................................................................................... 89 AGENTES DE GOVERNANÇA CORPORATIVA ............................................ 89 UNIDADE 25 ....................................................................................................... 91 CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO – PAPEL, TAMANHO E COMPOSIÇÃO DOS CONSELHOS .......................................................................................... 91 UNIDADE 26 ....................................................................................................... 95 Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 7 CONSELHO FISCAL ....................................................................................... 95 UNIDADE 27 ....................................................................................................... 96 AUDITORIA INDEPENDENTE ........................................................................ 96 UNIDADE 28 ....................................................................................................... 98 GOVERNANÇA E SUSTENTABILIDADE ....................................................... 98 UNIDADE 29 ..................................................................................................... 100 ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL – MODELO B.BRASIL S.A. ................................................................................................................. 100 UNIDADE 30 ..................................................................................................... 102 GOVERNANÇA CORPORATIVA E CRESCIMENTO ECONÔMICO ........... 102 GLOSSÁRIO ..................................................................................................... 105 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 106 Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 8 UNIDADE 1 GOVERNANÇA CORPORATIVA: Objetivo: Introduzir o estudo de governança corporativa A Governança Corporativa tem sido objeto de vários estudos nacionais e internacionais e é amplamente reconhecida como um fator essencial para o acesso das empresas ao mercado de capitais. O estudo da Governança Corporativa vai tratar do conjunto de instrumentos de natureza pública e privada, que incluem leis, normativos expedidos por órgãos reguladores, regulamentos internos das companhias e práticas comerciais que organizam e comandam a relação, numa economia de mercado, entre os controladores e administradores de uma empresa, de um lado, e aqueles que nela investem recursos através da compra de valores mobiliários por ela emitidos como, entre outros, os acionistas minoritários e debenturistas. Sua conceituação apresenta grande abrangência podendo incluir os interesses que não exclusivamente o interesse dos acionistas, mas também dos empregados, consumidores, membros da comunidade em que a companhia está inserida e outros. O IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) é o principal fomentador das práticas e discussões sobre o tema no país, tendo alcançado reconhecimento nacional e internacional. Sua definição é a seguinte: “Governança Corporativa é o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre acionistas-cotistas, conselho de administração, diretoria, auditoria independente e conselho fiscal. As boas práticas de governança corporativa têm a finalidade de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a sua perenidade". Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 9 O estudo da Governança Corporativa não deve ficar restrito a aspectos meramente teóricos e abstratos, mas, ao contrário, deve sempre levar em consideração que através da introdução de regras corporativas e procedimentos gerenciais é possível alcançar uma estrutura de governança que resulte na valorização da companhia pelo mercado e crie valor para os acionistas. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 10 UNIDADE 2 CONTEXTUALIZAÇÃO Objetivo: Contextualizar Governança Corporativa Conceituação O conceito de Governança Corporativa é inicialmente registrado em 1932 no estudo sobre a separação do direito de propriedade e de controle de Berle e Means e sobre o surgimento das modernas corporações, nas quais há separação entre controle e gestão. No entanto, somente a partir da década de 1980, o tema se desenvolveu em contexto mundial, mais precisamente nos países mais desenvolvidos, não somente no meio acadêmico, mas também no meio empresarial (SILVA, 2006). Assim, segundo Dorset e Baker (1979), Governança, em sentido amplo, é descrita como sendo o exercício da autoridade do controle da administração e do poder de governar. Representa a forma como o poder é exercido na administração dos recursos econômicos e sociais de um país com o objetivo de desenvolvê-lo. Para Rosenau (2000), o termo governança tem relação com governo, pois ambos se referem a comportamentos que visam à consecução de objetivos. Analisando o conceito no contexto empresarial, Drucker (1998) defende que a governança é constituída pelo conjunto de mecanismos internos e externos que visam harmonizar as relações entre gestores e geridos, para fazer com que uma organização cumpra sua missão e atinja os objetivos estipulados pelos seus acionistas e demais participantes relevantes. Segundo Andrade e Rosseti (2004), Governança Corporativa é uma tradução da expressão inglesa “corporate governance”, que significa sistema pelo qual os acionistas administram a sua empresa. Surgiu nos Estados Unidos devido à necessidade dos acionistas majoritários terem controle sobre suas empresas. Através da eleição de um conselho de administração Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 11 que teria como papel fundamental, defender os interesses dos acionistas, monitorando e avaliando novos projetos e decisões da diretoria. A conceituação da Governança Corporativa pode ter diferentes abordagens. Sobre esse aspecto, Andrade e Rossetti (2004) sugerem pelo menos quatro agrupamentos: 1) os que enfatizam direitos e sistemas de relações; 2) os que destacam as estruturas de poder; 3) os que chamam atenção para sistemas de valores e padrões de comportamento; e 4) os focados em sistemas normativos. Dentre as correntes teóricas que ressaltam a Governança Corporativa como um sistema de direitos e relações, destacam-se as conceituações da OECD (1999 apud ANDRADE; ROSSETI, 2004), Blair (1995 apud ANDRADE; ROSSETI, 2004) (8) e do IBGC (2007a). A OECD (1999 apud ANDRADE; ROSSETI, 2004, p.23) define a GovernançaCorporativa como: “sistema segundo o qual as corporações de negócio são dirigidas e controladas”. Caracteriza-se pela distribuição dos direitos e responsabilidades entre os diferentes participantes da corporação, tais como o conselho de administração, os diretores executivos, os acionistas e outros interessados, além de definir as regras e procedimentos para a tomada de decisão em relação a questões corporativas. A OECD (Organization for Economic Co-operation and Development), organização multilateral que congrega os 29 países mais industrializados do mundo, é uma das difusoras dos princípios da governança corporativa (ANDRADE; ROSSETI, 2004). Nessa mesma concepção, Blair (1995 apud ANDRADE; ROSSETI, 2004) considera a Governança Corporativa como o arcabouço legal, cultural e institucional que determina publicamente o que a corporação deve fazer, quem as controla, como o controle é exercido na organização e, finalmente, como o risco e o retorno das atividades são gerenciados. Para o IBGC (2007a), Governança Corporativa é o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre acionistas, Conselho de Administração, Diretoria, Auditoria Independente Conselho Fiscal, conforme demonstrado na ilustração da figura 1. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 12 Evolução dos Conceitos: No passado recente, nas empresas privadas e familiares, os acionistas eram gestores, confundindo, em sua pessoa, propriedade e gestão. Com a profissionalização, as privatizações, a globalização e o afastamento das famílias da direção, a Governança Corporativa colocou o Conselho entre a propriedade e a gestão. A Governança Corporativa tem este nome há 50 anos e, vem passando por uma evolução. Foi nos anos 90 que o conceito atingiu a sua plena maturidade. Podemos começar pela década de 50, para caracterizar o ponto de partida, uma era de conselhos inatuantes e de presença forte do sócio-acionista controlador. Apresentamos, a seguir, os passos principais dessa evolução. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 13 50 ANOS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA Décadas de 1950 e 1960 - Presença forte do acionista Controlador Familiar; conselheiros são enfeites na árvore de Natal da Empresa; Conselhos usados como instrumentos de Lobby; Procura de “Medalhões” tornando os conselhos inatuantes; Conselheiros não estão a par de negócios do acionista gestor. Década de 1970 - Surgem grandes conselhos brasileiros: Alpargatas, Monteiro Aranha, Docas e Mappin, por exemplo. Sinais iniciais de independência do Conselho; Maiores poderes (Empowerment) 1976 – Primeira Lei das S.A., nº. 6.404, no Brasil, fixando competências do Conselho de Administração. Década de 1980 - Mercado para controle corporativo; Abertura de capital, fundos de pensão, fundos de investimento, participação de bancos (Ex: Bradesco); Valorização do acionista (Shareholder enhancement); Fundos tipo Calpers e Fidelity; No Brasil, mercado de capital muito pequeno; apenas 80 empresas com liquidez. Década de 1990 - Poderes maiores para os Conselhos (Board Empowerment). Grandes escândalos envolvendo pareceres de auditorias externas nos bancos ajudam a esclarecer o papel dos auditores: Nacional, Econômico, Bamerindus, Noroeste e Bandeirantes; privatizações, globalização, fusões e aquisições. 1992-1993 - Nasce a Governança Corporativa. Trocas de famosos presidentes por pressão do Conselho: General Motors, American Express, IBM, Kodak, Sears, Time Warner e Compaq. 1992 - The Cadbury Report 1994 - General Motors: Corporate Governance Guidelines Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 14 1996 - The NACD Report 1997 - The Hempel Report; 25% dos Investimentos fora dos Estados Unidos são realizados por 25 fundos norte-americanos, seja fundos de pensão ou fundos de investimentos; Nova Lei das S.A., nº. 9.457, mantém as atribuições do Conselho e aumenta o poder da CVM para fiscalizar. Com o passar do tempo, foram aparecendo os Códigos das Melhores Práticas. Pode-se considerar como suas causas: as crises por que passaram as grandes corporações mundiais (como a General Motors); a pressão dos fundos de pensão e dos fundos de investimento para obter maior transparência e prestação de contas; os grandes escândalos financeiros nos Estados Unidos e na Inglaterra (BCCI, Robert Maxwell etc.); a pressão de organismos privados como o Institute of Directors (Loyd, Inglaterra), o Conference Board (Estados Unidos) e a NACD - National Association of Corporate Directors (Estados Unidos). O primeiro Código, o Cadbury Report, surgiu na Inglaterra, em 1992. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 15 UNIDADE 3 PERSPECTIVAS CONCEITUAIS DA GOVERNANÇA CORPORATIVA Objetivo: Diferenciar algumas perspectivas sobre o assunto As diferentes perspectivas estão sintetizadas no quadro 1 a seguir. PERSPECTIVAS CONCEITUAIS DA GOVERNANÇA CORPORATIVA 1. PERSPECTIVA - SISTEMA DE DIREITOS E RELAÇÕES. Sistemas de gestão que visa preservar e maximizar os direitos dos acionistas, assegurando proteção dos minoritários, bem como práticas de relacionamento entre acionistas, conselhos e diretoria executiva, objetivando maximizar o desempenho da organização. 2. PERSPECTIVA - SISTEMA DE ESTRUTURAS DE PODER. Sistema de gestão, estrutura de poder e controle das empresas, que disciplina suas relações com as partes interessadas e seu desempenho para envolver a definição da estratégia, as operações, a geração de valor e a destinação do resultado. 3. PERSPECTIVA - SISTEMA DE VALORES E PADRÕES DE COMPORTAMENTO. Sistema de valores que rege as corporações visando eficácia empresarial por meio da conduta de padrões. 4. SISTEMAS NORMATIVOS. Conjunto de instrumentos, derivados de estatutos legais e regulamentos, que objetiva a excelência da gestão e a proteção dos direitos das partes interessadas em seus resultados. CARACTERÍSTI CAS DAS PERSPECTIVAS Propósitos dos acionistas empreendedores. O sistema de relações entre: acionista, conselho e direção. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 16 Maximização da riqueza dos acionistas, minimizando oportunismos conflitantes com este fim. Estrutura de regulação e de fiscalização das ações corporativas. Estrutura consultiva, deliberativa e de comando. Processo de formulação e execução da estratégia. Sistemas de gestão, de controle e de aferição de resultados. Sistemas de informações relevantes às partes interessadas. Padrões de atendimento aos direitos das partes interessadas. Sistemas guardiões de ativos tangíveis e intangíveis. Quadro 1. Perspectivas conceituais da Governança Corporativa. Fonte: Adaptado de Andrade e Rossetti (2004). Com base no exposto, verifica-se que as definições de governança corporativa através de suas distintas perspectivas, embora diferentes na essência, trazem consigo a ideia de um melhor relacionamento entre os acionistas, conselheiros, administradores e demais stakeholders, com a finalidade de proporcionar às organizações transparência em suas atividades, eficiência em seus processos internos e externos, visando garantir a perenidade da empresa. Após análise dos conceitos apresentados, pode se perceber que a governança corporativa pode e deve ser vista como importante instrumento de gestão estratégica das organizações em geral, sejam elas públicas ou privadas, deste ou daquele segmento da economia, pequenas ou grandes. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 17 UNIDADE 4 CÓDIGO DAS MELHORES PRÁTICAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA Objetivo: Conheceras melhores práticas de Governança Corporativa Origem dos códigos das melhores práticas Com a evolução e a importância cada vez maior do estudo da governança corporativa foram surgindo, inicialmente nos países com mercado de capitais mais desenvolvidos, os “Códigos de Melhores Práticas de Governança Corporativa”. O primeiro desses códigos surgiu no Reino Unido em 1992, como resultado da iniciativa da Bolsa de Valores de Londres (London Stock Exchange), que criou o chamado comitê Cadbury com o objetivo de revisar certas práticas de Governança Corporativa relacionadas a aspectos contábeis, que deu origem ao The Cadbury Report, publicado em 01.12.92. A longa história de resistência a regulamentações que caracteriza a tradição inglesa criou o conceito de “Melhores Práticas”. 1903: Fundado, na Inglaterra, o Institute of Directors (IOD) 1916: Fundado o Conference Board. 1977: Fundada, nos EUA, a NACD - National Association of Corporate Directors. 1992: The Cadbury Report – o primeiro de todos os códigos. Fundado, no Brasil, em 1995, o IBCA - Instituto Brasileiro de Conselheiros de Administração, que depois passou a ser chamado de Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Iniciativa de Bengt Halqvist e João Bosco Lloyd, acompanhados de um grupo de “sóciofundadores”. 1997 - The Hempel Report – a primeira revisão do Cadbury. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 18 Até o momento, já existem 49 Códigos das Melhores Práticas, dos quais 9 nos Estados Unidos. As Leis das SA’s brasileiras (de 1976 a 1997) estabelecem que o Conselho de Administração só é obrigatório nas Sociedades Anônimas Abertas de Capital Aberto e nas de Capital Autorizado. No entanto, milhares de sociedades de outro tipo, como as SA’s fechadas e as Limitadas, têm conselhos mais ou menos atuantes, usados como instrumentos de Governança. No Brasil os principais investidores institucionais também têm adotado códigos de melhores práticas de Governança Corporativa. A Previ, Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil, maior fundo de pensão do país, elaborou seu próprio Código e institui políticas de orientação para seus 421 representantes nos conselhos de administração e fiscais das empresas em que participa. Códigos de Melhores Práticas Os 49 Códigos de Melhores Práticas insistem em alguns pontos básicos e comuns: 1. O presidente do Conselho não deve ser presidente da diretoria 2. Maioria de conselheiros externos sobre conselheiros acionistas 3. Conselheiros externos vindos do mercado e não ex-diretores 4. Presidente da diretoria profissional contratado 5. Avaliação anual do diretor- presidente da diretoria 6. Ausência de conflito de interesse ou de negócio comum entre o conselheiro externo e a empresa: fornecedor, distribuidor, prestador de serviço, amigo do presidente 7. Avaliação anual dos conselheiros 8. Máximo de cinco participações em outros conselhos Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 19 9. Dois dias por mês na empresa,uma para o conselho, outro para se inteirar dos negócios da companhia. 10. Participação em comitês do conselho: auditoria, finanças, estratégia, jurídico, etc. http://www.youtube.com/watch?v=MmRqefXv9A8 Félix Ximenes analisa gestão e Governança Corporativa Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 20 UNIDADE 5 AS PRÁTICAS DE GOVERNANÇA NO MUNDO Objetivo: Conhecer as práticas de Governança Corporativa no contexto internacional No contexto internacional, a governança corporativa e os seus diversos modelos – financeiros, stakeholders, administração ou representação e o político – possuem dinâmicas e operacionalização distintas, dependendo do país. Dada a proximidade geográfica e as práticas comuns entre os países, foram-se constituindo distintos modelos internacionais de Governança Corporativa. Para Junior (2006, p. 75), as corporações no mundo inteiro respondem a uma variada gama de interesses e há uma multiplicidade de compensações que se entrelaçam, porém as soluções para as demandas corporativas não são tratadas universalmente, pois aquilo que parece ser aplicável numa realidade pode ser desprezível em outra. Nesse sentido, a diversidade de modelos de governanças responde, em parte, pela diversidade cultural e institucional nos países, bem como pelo processo histórico de formação de suas economias e de suas entradas no contexto da economia globalizada. Segundo Andrade e Rosseti (2004), cinco são os principais modelos internacionais de Governança Corporativa, efetivamente, praticados: o anglo-saxão, o alemão, o japonês, o latino – europeu e o latino – americano. Ainda, segundo os autores, destacam-se dez fatores de diferenciação dos modelos de sistemas: Fonte predominante de financiamento das empresas; Separação entre a propriedade e o controle; Separação entre a propriedade e a gestão; Tipologia dos conflitos de agência; Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 21 Proteção legal aos minoritários; Dimensões usuais, composição e formas de atuação dos conselhos de administração; Liquidez da participação acionária; Forças de controle mais atuantes; Estágio em que se encontra a adoção das práticas da boa governança; Abrangência dos modelos de governança praticados. Silva (2006) ressalta dois fatores de diferenciação quanto à fonte de financiamentos das empresas no contexto dos sistemas de Governança Corporativa internacionais, classificados em: controle por equity, com predominância de empresas financiadas com recursos dos acionistas (capital próprio), e controle por debt, em que se destacam empresas financiadas por meio de empréstimos e financiamentos de credores (SILVA, 2006). Uma comparação entre os cinco modelos internacionais de Governança Corporativa, destacados por seus dez fatores de diferenciação, pode ser visualizada no quadro 2. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 22 Quadro 2 – Modelos de Governança Corporativa: uma análise comparativa. Fonte: Adaptado de Andrade e Rosseti (2004, p.145). Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 23 UNIDADE 6 MODELO LATINO-AMERICANO Objetivo: Apresentar o modelo em que o Brasil está inserido O modelo latino-americano abrange as práticas de Governança Corporativa em países como Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru. Segundo Andrade e Rossetti (2004), o modelo latino-americano tem como principais características: concentração patrimonial, grandes grupos privados familiares, baixa expressão no mercado de capitais e tradição jurídica do código civil latino-europeu, e essas características somam-se as privatizações e a abertura de mercado dessas economias. Nesse modelo predomina a alavancagem e os mercados de capitais são pouco desenvolvidos, a propriedade das corporações é concentrada e a gestão exercida por acionistas majoritários, sendo assim, os conflitos são com os minoritários que não têm proteção adequada. A Governança Corporativa neste modelo está evoluindo com rapidez, embora seja ainda muito nova, e já se observa movimentos de governança na direção de modelos múltiplos de interesses (ANDRADE; ROSSETTI, 2004). Para Rodrigues (2004), esse modelo de Governança Corporativa latino-americano ainda é pouco desenvolvido nos países e necessita de um maior desenvolvimento em alguns pontos como: maior proteção aos acionistas minoritários, direitos garantido para todos, divulgação da estrutura acionária, emissão de relatórios sociais e ambientaise maior eficácia na arbitragem no mercado de capitais. Esses são os principais modelos de Governança Corporativa praticada nos países. Podemos notar que não há um modelo melhor ou ideal de governança, mas sim, modelos que se Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 24 ajustam às necessidades institucionais e culturais de cada nação e de cada empresa, com isso não há um modelo de governança que seja melhor para todas as corporações. Resumidamente, ao analisar comparativamente os cinco modelos internacionais de Governança Corporativa, quanto à abrangência do modelo, percebe-se que o modelo americano prevalece à orientação ao modelo financeiro, no entanto no modelo nipo- germânico prepondera o modelo stakeholders, haja vista a forte cultura exercida pelos países na busca por um maior equilíbrio de interesses. Nos modelos: latino-europeu e latino americano prevalecem os modelos financeiros e político, pois os mercados de capitais são pouco desenvolvidos, a propriedade das corporações é concentrada e a gestão é exercida por acionistas majoritários, não obstante, observa-se um processo de evolução na direção do modelo stakeholder. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 25 UNIDADE 7 MODELO ALEMÃO Objetivo: Conhecer o modelo alemão O modelo alemão, que representa as práticas de governança corporativa na Alemanha, sofreu forte influência do processo de reconstrução de sua economia após Segunda Guerra Mundial, acabou desenvolvendo uma estrutura independente, baseada na cooperação e na estabilidade de longo prazo, diferentemente do modelo anglo-saxão, que tem uma orientação de longo prazo e a competição de mercado como principais barreiras (JUNIOR ANNOR, 2006). Nesse modelo, como na Alemanha o capital acionário das companhias é concentrado e o financiamento predominante é de origem bancária, os bancos exercem forte papel, sendo debt a principal fonte de financiamento. Não há limites legais para a participação dos bancos nas empresas, ocorrendo casos em que esses assumem o controle das empresas com a inadimplência dessas que tomaram financiamentos de longo prazo. Mas o mais comum é a totalização dos votos da própria participação acionária dos bancos nas empresas, e do que lhe é confiado por procuração (ANDRADE; ROSSETI, 2004). De forma geral, segundo Carlsson (2001), o modelo alemão possui as seguintes características: 1) forte presença do modelo stakeholder, segundo o qual as companhias não devem satisfação apenas aos acionistas e proprietários; 2) limitado papel do mercado de capitais na provisão total do capital de risco, e; 3) liderança coletiva, principalmente pela participação de empregados e de sindicatos nas estruturas de governança. Para Andrade e Rosseti (2004), no modelo de Governança Corporativa alemão, os bancos desempenham papel de alta relevância. Não há limites para participação acionária nas empresas, não obstante dividam com outros acionistas financeiros a posse de grandes blocos de ações. Mesmo com essa predominância, a direção é geralmente coletiva, Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 26 altamente orientada para cooperação, a colaboração e consenso, em que modelos autocráticos são repudiáveis. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 27 UNIDADE 8 MODELO ANGLO-SAXÃO Objetivo:Conhecer o modelo anglo-saxão No modelo anglo-saxão, que representa as práticas de Governança Corporativa na Inglaterra e nos Estados Unidos, seu propósito maior é a pulverização do controle acionário e a separação da propriedade e da gestão. As empresas são financiadas via mercado de capitais: equity é à base do processo de capitalização. Destaca-se nesse modelo a atuação das forças externas, exercendo papel relevante no processo de governança das corporações, como os fundos de pensão, que mobilizaram outras instituições, sendo criado um Conselho de Investidores Institucionais. Os outsiders têm relevante presença nos conselhos, atuando com foco nos direitos dos acionistas e atentos ao objetivo essencial do modelo, que é o de maximizar o valor da corporação e o retorno dos investimentos (NEPOMOCENO, 2007). Ao analisar o modelo anglo-saxão, Lethbridge (2007) afirma que as participações acionárias nesse mercado são escassas, contudo as bolsas de valores desenvolvidas garantem a liquidez dessas participações, reduzindo o risco dos acionistas. O mercado diante das oscilações de preços das ações sinaliza a aprovação ou não em relação às administrações por parte dos investidores. O presente sistema exige um alto nível de transparência e uma divulgação periódica das informações, exercendo controle rígido sobre o uso de informações privilegiadas. Assim, de acordo com essas características, o modelo anglo-saxão é marcado pela pulverização do controle acionário, pela separação da propriedade e da direção e pela forte orientação para o mercado. Esses fatores levam a presença de conflitos de agências e a Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 28 adoção de ações para monitorar os gestores e bloquear práticas de gestão que contrariem os interesses dos acionistas. Qual a importância da Governança Corporativa e quais vantagens as empresas que a praticam usufruem, direta ou indiretamente? Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 29 UNIDADE 9 MODELO JAPONÊS Objetivo:Conhecer o modelo japonês Semelhante ao que aconteceu com o desenvolvimento do modelo alemão, o modelo de Governança Corporativa japonês surgiu com o processo da economia japonesa pós Segunda Guerra Mundial. Rodrigues (2004) caracteriza esse modelo ressaltando que a estrutura de capital é fundamentada em exigíveis de longo prazo, com os bancos também participando como acionistas das grandes empresas até o limite de 5% das ações. Apesar de ser concentrada a estrutura do capital das grandes corporações, há um fator diferencial que é a ligação horizontal dos keiretsus (aglomerados de negócios) entre as empresas conglomeradas, pelas posses cruzadas de ações. Segundo Junior Annor (2006), uma influência marcante da cultura japonesa é a predominância da tomada de decisões coletivas, tendo como orientação a colaboração, a cooperação e o consenso. Ressalta-se a ação do tradicional conselho de administração, no sentido de observar, aconselhar nas grandes decisões e acompanhar os resultados corporativos. Políticas corporativas de gestão, decisões estratégicas, novos negócios, fusões, aquisições, cisões, desmobilizações e alianças passam pelo crivo consensual do conselho de administração. Ainda nesse modelo, Andrade e Rosseti (2004) afirmam que o mercado de ações japonês não tem o mesmo peso que se observa no caso anglo-saxão, e o que se busca é a segurança de longo prazo, fundamentada na atenção que a corporação assegura a múltiplos interesses, pois a gestão é consensual, se sobrepondo à propriedade, e a estratégia corporativa é o foco nos conselhos. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 30 UNIDADE 10 MODELO LATINO-EUROPEU Objetivo: Conhecer o modelo latino-Europeu O modelo latino-europeu abrange as práticas de Governança Corporativa em países como Itália, França, Espanha e Portugal. Heranças culturais, raízes comuns das instituições e o processo de formação do sistema empresarial, fundamentado em um misto de grandes grupos familiares e de empresas estatais, são à base do desenvolvimento de um modelo comum a esses quatro países (ANDRADE; ROSSETI, 2004). O modelo latino-europeu caracteriza-se porsua fonte de financiamento não ser bem definida, a propriedade é concentrada, pois há um grande número de empresas familiares ou controladas por consórcios. Os conflitos de agência ocorrem devido à baixa proteção dos minoritários, geralmente à presidência do conselho e da direção são justapostas, o modelo possui a tendência à incorporação de interesses múltiplos (RODRIGUES, 2004). Junior Annor (2006) ressalta que dos países latino-europeus, a França tem a prática da Governança Corporativa mais avançada, seguida de perto pela Itália. Portugal e Espanha ficam num terceiro plano. Percebe-se, que o modelo praticado pelos países latino-europeus está ainda em transição marcado pela concentração de propriedade e controle acionário, pela forte presença de grupos familiares e pela justaposição da propriedade e gestão. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 31 UNIDADE 11 PRINCIPAIS INICIATIVAS NO BRASIL Objetivo:Descrever as principais iniciativas no Brasil Foi abordado anteriormente, quando discutimos os modelos de Governança Corporativa no contexto internacional, o modelo latino-americano, no qual o Brasil se insere. Porém, foram enfocadas apenas as principais características do modelo, que abrange genericamente a realidade de seis estados nacionais. Pretende-se agora abordar de forma específica a realidade brasileira no contexto da Governança Corporativa. Na última década, o debate em torno da Governança Corporativa no Brasil se intensificou na medida em que as relações entre acionistas e administradores e entre acionistas majoritários e minoritários estão mudando, com a reestruturação societária provocada pelas privatizações e a entrada de novos sócios nas empresas do setor privado, principalmente estrangeiros (SILVA, 2002). Nesse contexto, foi realizada uma pesquisa intitulada Panorama da Governança Corporativa no Brasil, publicada em 2002 pelas empresas de consultoria internacional Korn/Ferry Internacional e Mckinsey & Company, para delinear o perfil brasileiro de Governança Corporativa, após análise dessa prática em 74 grandes empresas no Brasil com o faturamento superior a US$ 250 milhões (JUNIOR ANNOR, 2006). Rodrigues (2004) resume as características do panorama da Governança Corporativa brasileira, apontadas nos relatórios das empresas Korn/Ferry Internacional e Mckinsey & Company, em nove peculiaridades: 1. Estrutura de propriedade com forte concentração das ações com direito a voto (ordinárias) e alto índice de emissão de ações sem direito; 1. Empresas com controle familiar ou compartilhado por alguns poucos; Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 32 2. Investidores alinhados por meio de acordo de acionistas para resolução das questões; 3. Presença de acionistas minoritários pouco ativos; 4. Alta sobreposição entre propriedade e gestão, com os membros do conselho representando os interesses dos acionistas controladores; 5. Pouca clareza da divisão dos papéis entre conselho e diretoria, principalmente nas empresas familiares; 6. Escassez de conselheiros profissionais no Conselho de Administração; 7. Remuneração dos conselheiros como fator pouco relevante; 8. Estrutura informal do Conselho de Administração, com ausência de comitês para tratamento de questões específicas, como auditoria ou sucessão. Em uma linha semelhante à desenvolvida pelas empresas de consultoria internacional Korn/Ferry Internacional e Mckinsey & Company, Andrade e Rosseti (2004) definem as características do modelo brasileiro de Governança Corporativa, com base em dez fatores de diferenciação, que contemplam aspectos externos de natureza ambiental, como por exemplo, tipo de financiamento predominante, proteção legal e liquidez da participação acionária e aspectos internos a companhia, a relação entre a propriedade e a direção, os conflitos de agência, a atuação do conselho de administração e o tipo de participação da propriedade acionária, conforme a seguir sintetizadas: Financiamento - As formas predominantes de financiamento são os exigíveis de longo prazo (debt) e geração própria de caixa; Propriedade e Controle – A propriedade acionária é concentrada. Na maior parte das companhias, os três maiores acionistas detêm mais de 80% do capital votante e o maior, mais de 50%; Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 33 Propriedade de gestão – Predomina a sobreposição entre propriedade e direção. Em decorrência da alta concentração da propriedade acionária, é também o alto grau de envolvimento dos controladores na direção; Conflitos de agência – O conflito predominante é entre majoritários e minoritários. Pela alta concentração da propriedade acionária e da sobreposição entre a propriedade e a direção, são menos expressivos os conflitos de agência do tipo acionistas e direção; Proteção Legal – Percebe-se fraca proteção legal a acionistas minoritários; Conselho de Administração – Os conselhos são tipicamente de baixa eficácia. As principais razões para isso são: acumulação de cargo de presidente do conselho e de presidente; Liquidez da participação acionária – Predomina a liquidez especulativa e oscilante; Forças Atuantes – É crescente a pressão de forças externas de controle, como, por exemplo, as mudanças na Lei das Sociedades Anônimas, os níveis diferenciados para listagem em bolsa, etc., porém prevalecem as forças internas, fundamentalmente associáveis as concentrações da propriedade acionária e do controle, e as estruturas sobreviventes do poder; Governança Corporativa – Como observado no modelo latino-americano, o modelo brasileiro é embrionário, porém em evolução; Abrangência do Modelo – Embora o modelo brasileiro esteja em fase de transição, o que predomina é o financeiro movido pela concentração de capital e suportado pelo poder ainda incipiente das forças externas. É expressivo o número de empresas que emitem balanços de alcance externo (social e ambiental). Porém, a cultura empresarial dominante ainda é refratária a modelos de múltiplos interesses, também estrategicamente orientados para outras partes interessadas. Após análise das características da Governança Corporativa brasileira, percebe-se uma forte concentração da propriedade em apenas alguns acionistas majoritários e uma sobreposição Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 34 entre a propriedade e a liderança executiva (direção), em que os membros do conselho representam os interesses dos acionistas controladores ou majoritários, e os acionistas minoritários são poucos ativos. Segundo Junior Annor (2006), os respondentes da pesquisa realizada pela Korn/Ferry Internacional e Mckinsey & Company justificam a necessidade de mudanças no atual modelo de Governança Corporativa brasileiro em dois grupos: 1. O dos fatores externos, como por exemplo, impactos da globalização, menor custo de capital para empresas de bom desempenho, reforma no setor de fundos de pensão, com os acionistas desempenhando um papel mais ativo, e certificações de governança outorgadas pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa); 2. O dos fatores internos, como, por exemplo, mudanças obrigatórias na estrutura de controle (em razão das privatizações), aumento da remuneração variável dos executivos e problemas de sucessão em empresas familiares. Tomando por base a análise do panorama da governança corporativa e suas necessidades de mudança, Gudis (2005), numa adaptação ao estudo das empresas americanas, demonstra as fases e tendências da governança no Brasil, conforme figura 2 a seguir. Figura 2: Fases da Governança Corporativano Brasil. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 35 Para Yunes Neto (2004), algumas iniciativas institucionais têm sido empreendidas na tentativa de mudança do panorama do modelo atual de Governança Corporativa brasileira para o modelo emergente e de mercado, visando o aprimoramento das práticas pelas empresas brasileiras. Destacam-se as contribuições do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), a Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) e a Comissão de Valores Imobiliários (CVM). O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), sociedade civil sem fins lucrativos, foi criado em 1995 e tem como principais finalidades ser um espaço de debates e discussões sobre o tema; formar profissionais para atuarem em conselhos de administração e conselho fiscal e consultivo; promover pesquisar e manter o relacionamento com organismos internacionais interessados na Governança Corporativa (JUNIOR ANNOR, 2006). O IBGC publicou o Código Brasileiro das Melhores Práticas de Governança Corporativa em maio de 1999. O documento procurou reunir uma série de recomendações, já aplicadas em outros países, visando melhorar a governança no país (LODI, 2000). Segundo Silva (2002), o objetivo central do Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa é indicar caminhos para todos os tipos de empresas (sociedades por ações de capital aberto ou fechado, limitadas ou sociedades civis), visando melhorar seu desempenho e facilitar o acesso ao capital. Para o IBGC (2007), o aprimoramento da governança corporativa pelas empresas brasileiras depende basicamente de ações governamentais e institucionais que facilitem o acesso ao capital de empresas que aderirem a boas práticas de Governança Corporativa. De acordo com o referido instituto, muitas empresas recusam-se a aderir à governança, pois ao aderir a estas práticas o controlador deve diminuir seus benefícios privados do controle em função de uma maior proteção legal aos acionistas minoritários. No intuito de incentivar a boa governança nas empresas brasileiras, a BOVESPA - Bolsa de Valores e Mercados do Estado de São Paulo, em 2001, estabeleceu a classificação de Novo Mercado, como um segmento de listagem que se destina à negociação de ações emitidas por companhias que voluntariamente se comprometam com a adoção de práticas de Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 36 Governança Corporativa adicionais em relação ao que é exigido pela legislação. São criados também os níveis 1 e 2 de Governança Corporativa, como estágios de transição para o Novo Mercado (LOBÃO, 2004). Para Yunes Neto (2004), a ideia básica que fundamenta o Novo Mercado é que o valor de mercado de uma empresa é influenciado positivamente pelo grau de segurança oferecido pelos direitos concedidos aos acionistas e pela qualidade das informações prestadas pelas companhias. A CVM – Comissão de Valores Imobiliários, criada desde 1976 para disciplinar o mercado de capitais, lançou uma cartilha com recomendações relativas a boas práticas de governança corporativa em 2002. A adoção de tais práticas, comumente, significa a utilização de padrões de conduta superiores aos exigidos pela lei, ou pela regulamentação da própria CVM. Por isto, a cartilha não constitui uma norma cujo descumprimento seja passível de punição pela CVM. No entanto, a CVM exigirá brevemente a inclusão nas informações anuais das companhias abertas de indicação do nível de adesão às práticas aqui recomendadas, na forma "pratique ou explique", isto é, ao não adotar uma recomendação, a companhia poderá explicar suas razões (SILVA, 2002). Sobre esse aspecto, Andrade e Rosseti (2004) destacam a busca do estímulo que a cartilha da CVM traz ao desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro por meio da divulgação de práticas de boa Governança Corporativa. Segundo os autores, seu objetivo é orientar nas questões que podem influenciar significativamente a relação entre administradores, conselheiros, auditores independentes, acionistas controladores e acionistas minoritários. Yunes Neto (2004) adverte que a cartilha da CMV não pretende esgotar o assunto sobre Governança Corporativa, e, portanto, entende que as companhias podem e devem ir além das recomendações nela incluídas e ressalta que a cartilha fortalece os níveis de Governança Corporativa praticados pela BOVESPA. Espera-se que as iniciativas institucionais que buscam a mudança do modelo de Governança Corporativa do Brasil para um modelo emergente e de mercado contribuam para que as organizações brasileiras obtenham maior eficácia no processo de tomada de decisões, Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 37 melhor relacionamento com o mercado de capitais e com órgãos reguladores, melhor desempenho organizacional, redução de custo de capital e maior facilidade de atrair novos investidores. Antes de dar continuidades aos seus estudos é fundamental que você acesse sua SALA DE AULA e faça a Atividade 1 no “link” ATIVIDADES. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 38 Atividade Dissertativa Acesse o link “Atividades Dissertativas” em sua sala de aula e faça a atividade proposta. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 39 UNIDADE 12 IBGC Objetivo: Conhecer o órgão de referência sobre Governança Corporativa O IBGC é uma organização exclusivamente dedicada à promoção da Governança Corporativa no Brasil e o principal fomentador das práticas e discussões sobre o tema no país, tendo alcançado reconhecimento nacional e internacional. Fundado em 27 de novembro de 1995, o IBGC – uma sociedade civil de âmbito nacional, sem fins lucrativos – tem o propósito de "ser a principal referência nacional em Governança Corporativa; desenvolver e difundir os melhores conceitos e práticas no Brasil, contribuindo para o melhor desempenho das organizações e, consequentemente, para uma sociedade mais justa, responsável e transparente." O Código do IBGC (2004) trata de seis assuntos principais: (a) Propriedade, (b) Conselho de Administração; (c) Gestão; (d) Auditoria independente; (e) Conselho fiscal; e (f) Conduta e conflitos de interesses. Já as Recomendações da CVM (2002) tratam de tópicos como: transparência, estrutura e responsabilidade do Conselho de Administração, proteção aos acionistas minoritários, auditoria e demonstrações financeiras. Os tópicos em ambas as publicações diferem apenas nos nomes, mantendo praticamente a mesma essência. O Quadro a seguir traz um resumo das Recomendações do IBGC e das Recomendações da CVM. As duas últimas colunas mostram qual das publicações é recomendada em cada item. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 40 Recomendações sobre governança corporativa do IBGC e da CVM: Ação Detalhamento IBGC CVM Conceito “uma ação = um voto” O direito de voto deve ser assegurado a todos os sócios, independente da espécie ou classe das ações. X - Ações ordinárias e preferenciais A empresa deve priorizar a emissão somente de ações ordinárias e a redução, ao máximo, chegando a eliminação, das ações preferenciais. X X Processo de votação A companhia deve facilitar o processo de votação, bem como incentivar a participação dos acionistas no mesmo. X X Arbitragem Os conflitos entre os sócios e a sociedade devem ser resolvidos por meio da arbitragem X X Free-float 1 As empresas devem fazer esforços para manter o maior número de açõesem circulação. X - Direito de tag- along 2 Determinação do direito de tag-along além do estabelecido pela legislação. X X Acordo de Acionistas Deve estar publicamente disponíveis. X X Não deve restringir o direito de voto de qualquer membro do Conselho de Administração. X - Conselho de Administração Entre 5 e 9 membros. X X As posições de CEO e de presidente do Conselho devem ser ocupadas por pessoas diferentes. X X Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 41 Formado por conselheiros independentes. X X Mandato unificado de um ano, podendo haver reeleição. X X Conselho Fiscal Deve ser permanente e independente. X Operações com partes relacionadas Devem ser detalhadas nas publicações da empresa. X X Remuneração A companhia deve divulgar informações sobre a remuneração dos conselheiros e da diretoria, mesmo que seja somente o montante, por motivos de segurança pessoal dos membros. X X Auditoria Auditoria independente. X X Formação de comitês A formação de comitês especializados, como de auditoria, remuneração e finanças, por exemplo, deve ser estimulada, para acelerar e apoiar as decisões do Conselho de Administração. X - Informações financeiras Adoção, além dos princípios básicos de contabilidade em vigor no Brasil, das normas internacionais como US GAAP (United States Generally Accepted Accouting Principles) ou IASB (International Accounting Standards Board) X X Quadro 2 - Recomendações sobre Governança Corporativa do IBGC e da CVM Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 42 UNIDADE 13 TEORIA DA AGÊNCIA Objetivo: Entender o conceito da teoria e entender o problema da agência e dos gestores Segundo Santos (2004), na década de 1930, as questões relativas à governança corporativa passaram a receber um tratamento teórico. Berle e Means (1932 apud SANTOS, 2004) com a publicação do trabalho “The Modern Corporation and Provate Property”, trouxeram à discussão o problema relacionado à estrutura de propriedade, abordando o tema de separação entre propriedade e controle, e assim implicitamente, delinearem sua relação aos mecanismos de Governança Corporativa atualmente em evidência. Para Okimura (2003), o problema essencial relacionado à estrutura de propriedade e de controle foi pela primeira vez citado por Adam Smith em 1776 no trabalho “The Wealth of Nations”, apontando a “negligência e esbanjamento” por parte dos administradores que resultariam quando aqueles que administram a empresa o fazem com dinheiro dos outros e não de si próprios. No entanto, em seu trabalho não foram apresentados evidências empíricas sobre o grau de veracidade de sua proposição, até porque naquela época, antes da revolução industrial, as empresas, em sua maioria, eram relativamente pequenas, fechadas e com propriedade concentrada nas mãos de indivíduos ou famílias. Contextualizando os aspectos do tema da separação da propriedade e controle, Silva (2006) relata que a crise econômica de 1929 acarretou grandes perdas para investidores, e o surgimento das grandes corporações levou à desconcentração da propriedade e a criação de um modelo novo de controle empresarial, em que o principal, o titular da propriedade delega ao agente o poder de decisão sobre essa propriedade. Nessa perspectiva, os interesses do primeiro nem sempre estão alinhados aos do último, podendo ocorrer conflitos de interesses. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 43 Berle e Means (1932 apud BERNARDES; BRANDÃO, 2005) lançaram as bases da teoria da agência entre um mandatário (principal) e um ou mais agentes (agents), investidos de poderes para representar interesses e tomar decisões em nome dos primeiros. Essa teoria foi formalizada por Jesen e Meckling (1976 apud SILVA, 2006) e desenvolvida para solucionar os conflitos sobre a divergência entre os interesses do principal (acionista) e do agente (diretor executivo). Os autores definem uma relação de agência como sendo um contrato no qual uma ou mais pessoas (o principal) engajam outra pessoa (o agente) para desempenhar alguma tarefa em seu favor, envolvendo a delegação da autoridade para a tomada de decisões pelo agente. Lima e Terra (2005) consideram que ambas as partes, principal e agente, são maximizadoras da sua própria utilidade, sendo presumível que eventualmente o agente agirá em seu próprio benefício, a fim de maximizar o seu bem-estar. A ilustração a seguir demonstra as relações da teoria da agência: Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 44 Figura 3. O problema de agência dos gestores e a Governança Corporativa. Fonte: Silveira (2004, p.32). Conforme ilustrado na figura 3, o gestor recebe do acionista uma remuneração em troca dos seus serviços especializados de gestão. O acionista espera que o gestor, seu agente, tome decisões que maximizem sua riqueza. No entanto, muitas vezes se observa que os gestores tomam decisões que maximizam sua utilidade pessoal. Nesse sentido, Junior Annor (2006) ressalta que a teoria da agência volta-se para análise de como o indivíduo (o principal) estabelece um sistema de compensação (contrato) que motive outro indivíduo (o agente) a agir de acordo com o interesse do principal. Assim, têm-se uma situação em que as motivações entre o principal e o agente podem ser convergentes ou divergentes. Havendo convergência de interesses e motivações, ambos estarão alinhados e envolvidos em objetivos comuns, porém, havendo divergência de interesses e motivações, Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 45 surgirão os conflitos, que precisam ser regulados e/ou controlados de alguma forma pelo principal. Nesse contexto de divergência de interesses mais complexos, os custos da agência são provenientes de medidas adotadas pelos acionistas para controlar a atuação dos agentes. Podem variar entre despesas de monitoramento, contratação de seguros contra perdas, provocadas pela má administração, ou diversos planos de incentivos, associando o desempenho dos administradores aos salários ou à concessão de ações, opções ou outros benefícios (SILVA, 2006). Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 46 UNIDADE 14 OS CONFLITOS DA AGÊNCIA Objetivo: Clarificar os conflitos existentes na Governança Corporativa Os “conflitos de agência” nas empresas se estabelecem a partir da delegação das competências para tomadas de decisão aos “agentes”. Quando os administradores, por terem objetivos pessoais divergentes da maximização da riqueza do “principal” e passam a decidir em prol de seus interesses particulares, em detrimento do melhor benefício daqueles. A necessidade de melhores práticas de Governança Corporativa nasce como resposta a esse conflito e visa evitar a expropriação da riqueza do acionista pelos gestores. Jensen e Meckling (1976, p. 308), definem um relacionamento de agência como: “um contrato onde uma ou mais pessoas – o principal – engajam outra pessoa – o agente – para desempenhar alguma tarefa em seu favor, envolvendo a delegação de autoridade para tomada de decisão pelo agente”. Os autores procuram analisar a chamada “relação de agência” que surge quando um ou mais indivíduos, denominados “principais”, contratam outros indivíduos ou grupo de indivíduos, denominados “agentes”, para realização de um serviço que prescinde da outorga de autoridade para tomada de decisão aos “agentes” pelos “principais” em seu nome e interesses. O problema de agência passa a existirno momento em que o agente, que deve sempre atuar no melhor interesse do principal, passa a atuar em seu próprio interesse pessoal. Os “conflitos de agência” apresentam características distintas em função da estrutura de propriedade das companhias, de tal forma que nos mercados de modelo anglo-saxão, com estrutura de propriedade acionária pulverizada, estes opõem de um lado os administradores e de outro os acionistas, em grande número e, geralmente, com participações individuais muito pequenas. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 47 Podemos afirmar então que os conflitos de agência dizem respeito ao risco de expropriação da riqueza dos investidores pelos gestores na hipótese de empresas com estrutura de capital pulverizada e separação de gestão e propriedade, ou, de expropriação da riqueza dos acionistas minoritários pelo acionista controlador, quando este exerce poder total sobre os gestores. Para Camargo e Barbosa (2006), a questão do conflito de agência consiste no oportunismo de decisões dos diretores executivos que não visem à maximização do valor das ações. Dentro desse contexto, a boa prática de Governança Corporativa significaria a adoção de mecanismos que forçassem os diretores executivos (não acionistas) a proteger os interesses dos acionistas. Andrade e Rosseti (2004), por sua vez, entendem que o conflito de agência é visto como uma das questões centrais e dificilmente pode ser evitado em razão de dois aspectos fundamentais: (1) não existe contrato assegurando que o diretor executivo ou agente executor, vá agir visando atender aos interesses do acionista; (2) não existe diretor executivo ou agente perfeito. Junior Annor (2006) adverte para situações em que os conflitos de agência são suscetíveis de ampliação e tornam-se mais complexos na medida em que, além de proprietários e de diretores, outras partes interessadas, internas (acionistas e colaboradores) e externas (debenturistas, credores, clientes, governo, auditores, fornecedores, e a sociedade em geral), são alcançadas pelos propósitos corporativos, conforme destacado nas relações entre principal e agente no quadro 3 a seguir: Relação Principal – Agente O que o Principal espera do Agente? Debenturistas – Gerentes Gerentes maximizem retorno ao debenturista. Credores – Gerentes Gerentes assegurem o cumprimento dos contratos de financiamento. Clientes – Gerentes Gerentes assegurem a entrega de produtos de valor Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 48 para o cliente. Qualidade (maior), Tempo (menor), Serviço (maior) e Custo (menor). Governo – Gerentes Gerentes assegurem o cumprimento das obrigações fiscais, trabalhistas e previdenciárias da Empresa. Comunidade – Gerentes Gerentes assegurem a preservação dos interesses comunitários, cultura, valores, meio ambiente etc. Acionistas – Auditores Externos Auditores atestem à validade das demonstrações financeiras (foco na rentabilidade e eficiência). Credores – Auditores Externos Auditores atestem à validade das demonstrações (foco na liquidez e endividamento). Gerente – Auditores Internos Auditores Internos avaliem as operações na ótica de sua eficiência e eficácia, gerando recomendações que agreguem valor. Gerentes – Colaboradores Empregados trabalhem para os gerentes com o melhor de seus esforços, atendendo as expectativas dos mesmos. Gerentes – Fornecedores Fornecedores supram as necessidades de materiais dos Gerentes no momento necessário, nas quantidades requisitadas. Quadro 3 - Relações Principal e Agente Fonte: Adaptado de Martinez (1998). Segundo Junior Annor (2006), muito embora existam evidências de conflitos de agência, a sua identificação e mensuração para análise do custo de agência não é tarefa fácil. Para o autor, em alguns casos, é praticamente impossível determinar se uma equipe administrativa está tentando maximizar a riqueza do acionista, ou apenas tentando obter resultados Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 49 satisfatórios, enquanto persegue outros objetivos nem sempre congruentes com os objetivos dos acionistas. Diante do exposto, pode-se concluir que são muitos os problemas ligados à Governança Corporativa e, de que todos, estão basicamente relacionados a uma possível divergência entre interesses de grupos distintos, principalmente entre o grupo dos acionistas (representante da estrutura de propriedade) e o grupo dos agentes (representante da estrutura de direção). Contudo, visando à minimização dessas divergências, serão tratados a seguir, os princípios da Governança Corporativa. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 50 UNIDADE 15 O NOVO MERCADO Objetivo:Entender o que é o novo mercado No final dos anos 90 era evidente a crise de grandes proporções pela qual passava o mercado de ações no país. A título de exemplo, o número de companhias listadas na Bovespa tinha caído de 550 em 1996 para 440 em 2001. O volume negociado após atingir US$ 191 bilhões em 1997, recuara para US$ 101 bilhões em 2000 e US$ 65 bilhões em 2001. Além disso, muitas companhias fechavam o capital e poucas abriam. É neste cenário, que a Bovespa, em mais uma das medidas tomadas com o objetivo de reanimar o mercado, cria o Novo Mercado como um segmento especial de listagem de ações de companhias que se comprometam voluntariamente a adotar as boas práticas de governança corporativa. Numa necessária adaptação à realidade do mercado de ações brasileiro, são criados dois níveis intermediários: Níveis I e II, que juntos com o Novo Mercado, estabelecem compromissos crescentes de adoção de melhores práticas de Governança Corporativa. A ideia que norteou a criação do Novo Mercado tem seu fundamento na constatação de que entre os diversos fatores que contribuem para a fragilidade do mercado de capitais brasileiro está a falta de proteção aos acionistas minoritários. Dessa forma, a valorização e a liquidez das ações de um mercado são influenciadas positivamente pelo grau de segurança que os direitos concedidos aos acionistas oferecem e pela qualidade das informações prestadas pelas empresas. A ausência de regras adequadas de defesa dos interesses dos acionistas minoritários acarreta a exigência por parte dos investidores de um deságio sobre o preço da ação, causando uma desvalorização no valor de mercado das companhias. Dessa forma, é esperado que as empresas, cujas ações estejam listadas em algum dos níveis diferenciados Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 51 de Governança Corporativa, nas quais os riscos envolvidos são minimizados e apresentem prêmios de risco consideravelmente reduzidos, implicando valorização do patrimônio de todos os acionistas. Princípios de Contabilidade, geralmente aceitos nos Estados Unidos, são formados por um conjunto de normas, convenções, padrões e procedimentos contábeis, utilizados na produção de informações financeiras, conforme estabelecidos pela FASB – Financial Accounting Standards Board. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 52 UNIDADE 16 NÍVEIS DEFINIDOS DE GOVERNANÇA DA BOVESPA Objetivo: Introduzir a caracterização dos Níveis de Governança Corporativa O Novo Mercado e os Níveis de Governança foram inspirados na experiência do alemão Neuer Markt. A inovação do Neuer Markt é que não necessitou de uma reforma da legislação e, portanto, não afetou a situação das empresas que já eram abertas e queriam continuar listadas nos mercados tradicionais com regras de governança empresariais fracas. Por meiode um contrato privado voluntário, as empresas aderiram a regras que exigem a adoção de boas práticas corporativas. O contrato de adesão ao Novo Mercado é administrado pela Bovespa, que passa a ser guardiã das práticas de Governança Corporativa, fazendo com que, o Novo Mercado funcione como um selo de qualidade cujo valor reside nas obrigações contratuais assumidas pela empresa e na maneira como a Bovespa administra tais contratos (CARVALHO, 2002, p.27). Reconhecendo que as regras estabelecidas para o Novo Mercado são bastante restritivas, a Bovespa optou pela criação de outros dois novos níveis de governança (denominados Nível 1 e Nível 2), aumentando o grau de exigência à medida que se sobe o nível. Deste modo, haverá 4 mercados (ou quatro selos): mercado tradicional, Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 53 FIGURA 4 Exigências para níveis de Governança Corporativa da Bovespa FONTE: Silveira (2002) Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 54 UNIDADE 17 ABORDAGEM LEGAL DE GOVERNANÇA CORPORATIVA Objetivo:Apresentar a regulamentação básica sobre Governança Corporativa Algumas iniciativas institucionais e governamentais foram implementadas nos últimos anos com o objetivo de assegurar as melhorias das Práticas de Governança Corporativa das empresas brasileiras, das quais destacamos: a aprovação da Lei nº 10.303/01; a criação do Novo Mercado e dos Níveis 1 e 2 de Governança Corporativa pela Bolsa de Valores de São Paulo – Bovespa; as novas regras de definição dos limites de aplicação dos recursos dos Fundos de Pensão. Lei do Mercado de Capitais Lei nº 6.385, de 7.12.1976. Dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários. Art. 9º. A Comissão de Valores Mobiliários, observado o disposto no § 2º do art. 15, poderá: (...) V - apurar, mediante processo administrativo, atos ilegais e práticas não equitativas de administradores, membros do conselho fiscal e acionistas de companhias abertas, dos intermediários e dos demais participantes do mercado. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 55 Art. 11. A Comissão de Valores Mobiliários poderá impor aos infratores das normas desta Lei, da lei de sociedades por ações, das suas resoluções, bem como de outras normas legais cujo cumprimento lhe incumba fiscalizar, as seguintes penalidades: I - advertência; II - multa; III - suspensão do exercício do cargo de administrador ou de conselheiro fiscal de companhia aberta, de entidade do sistema de distribuição ou de outras entidades que dependam de autorização ou registro na Comissão de Valores Mobiliários. Lei de Sociedades Anônimas (Lei 6.404, de 15.12.1976, com as redações dadas pelas Leis 9.457, de 5.5.1997 e 10.303, de 31.10.2001) Partes Beneficiárias – Características Art. 46. A companhia pode criar, a qualquer tempo, títulos negociáveis, sem valor nominal e estranho ao capital social, denominados “partes beneficiárias”. (...) § 3º É vedado conferir às partes beneficiárias qualquer direito privativo de acionista, salvo o de fiscalizar, nos termos desta Lei, os atos dos administradores Código Civil (Lei 10.406, de 10.01.2002) Sociedades por Ações: O Código Civil trata das sociedades por ações em dois arts. No Capítulo V sob o título “Sociedade Anônima”: Da Sociedade Anônima – Seção Única – Da Caracterização Art. 1.088. Na sociedade anônima ou companhia, o capital divide-se em ações, obrigando-se cada sócio ou acionista somente pelo preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 56 Art. 1.089. A sociedade anônima rege-se por lei especial, aplicando-se, nos casos omissos, as disposições deste Código. Sociedades Limitadas: O Código Civil faz referência ao Conselho Fiscal para a Sociedade Limitada no Capítulo VI: Da Sociedade Limitada – Do Conselho Fiscal Art. 1.066. Sem prejuízo dos poderes da assembleia dos sócios, pode o contrato instituir Conselho Fiscal composto de três ou mais membros e respectivos suplentes, sócios ou não, residentes no País, eleitos na assembleia anual prevista no art. 1.078. § 1º Não podem fazer parte do Conselho Fiscal, além dos inelegíveis enumerados no § 1º do art. 1.011, os membros dos demais órgãos da sociedade ou de outra por ela controlada, os empregados de quaisquer delas ou dos respectivos administradores, o cônjuge ou parente destes até o terceiro grau. § 2º É assegurado aos sócios minoritários, que representarem pelo menos um quinto do capital social, o direito de eleger, separadamente, um dos membros do conselho fiscal e o respectivo suplente. Art. 1.067. O membro ou suplente eleito, assinando termo de posse lavrado no livro de atas e pareceres do conselho fiscal, em que se mencione o seu nome, nacionalidade, estado civil, residência e a data da escolha, ficará investido em suas funções, que exercerá, salvo cessação anterior, até a subsequente assembleia anual. Parágrafo único. Se o termo não for assinado nos trinta dias seguintes ao da eleição, esta se tornará sem efeito. Art. 1.068. A remuneração dos membros do Conselho Fiscal será fixada, anualmente, pela assembleia dos sócios que os eleger. Art. 1.069. Além de outras atribuições determinadas na lei ou no contrato social, aos membros do Conselho Fiscal incumbem, individual ou conjuntamente, os deveres seguintes: Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 57 I- examinar, pelo menos trimestralmente, os livros e papéis da sociedade e o estado da caixa e da carteira, devendo os administradores ou liquidantes prestar-lhes as informações solicitadas; II– lavrar no livro de atas e pareceres do Conselho Fiscal o resultado dos exames referidos no inciso I deste artigo; III – exarar no mesmo livro e apresentar à assembleia anual dos sócios parecer sobre os negócios e as operações sociais do exercício em que servirem, tomando por base o balanço patrimonial e o de resultado econômico; IV – denunciar os erros, fraudes ou crimes que descobrirem, sugerindo providências úteis à sociedade; V – convocar a assembleia dos sócios se a diretoria retardar por mais de trinta dias a sua convocação anual, ou sempre que ocorram motivos graves e urgentes; VI – praticar, durante o período da liquidação da sociedade, os atos a que se refere este artigo, tendo em vista as disposições especiais reguladoras da liquidação. Art. 1.070. As atribuições e poderes conferidos pela lei ao Conselho Fiscal não podem ser outorgados a outro órgão da sociedade, e a responsabilidade de seus membros, obedece à regra que define a dos administradores (Art. 1.016). Parágrafo único. O Conselho Fiscal poderá escolher para assisti-lo, no exame dos livros, dos balanços e das contas, contabilista legalmente habilitado, mediante remuneração aprovada pela assembleia dos sócios. Comissão de Valores Mobiliários – CVM INSTRUÇÃO CVM Nº 308, DE 14.05.1999: Dispõe sobre o registro e o exercício da atividade de auditoria independente no âmbito do mercado de valores mobiliários, define os deveres e as responsabilidades dos administradores das entidades auditadas no relacionamento com Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 58 os auditores independentes, e revoga as Instruções CVM nº 216, de 29 de junho de 1994, e nº 275, de 12 de março de 1998. INSTRUÇÃO CVM Nº 324, DE 19.01.2000 Código Penal Brasileiro (Decreto-Lei no 2.848, de 7.12.1940) Fraudes e abusos na fundação ou administração de sociedade por
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