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Metabolismo e Latenciação de Fármacos A principal finalidade do metabolismo de fármacos é a metabolização das moléculas para que essas sejam eliminadas na urina, devendo ser, para isso, suficientemente hidrofílicas. O metabolismo de fármacos ocorre em duas fases principais, sendo que a primeira envolve principalmente, reações de oxidação, hidrólise e redução, enquanto a segunda fase envolve reações de conjugação com diversos compostos, o que pode tornar a molécula mais hidrofílica ou inativá-la. Quando as reações de fase I não são suficientes para tornar a molécula favorável para interagir com a água, as reações de fase II ocorrem, e nessas, serão adicionadas à estrutura do fármaco moléculas de caráter hidrofílico que aumentam sua solubilidade em água. Algumas moléculas podem ser eliminadas de forma inalterada se forem hidrofílicas o suficiente, não necessitando, assim, de um processo de biotransformação. Outras moléculas apresentam em sua estrutura condições suficientes para conjugar sem necessariamente passar pelo metabolismo de fase I. Por fim, outra parcela das moléculas precisa passar pelas duas fases do metabolismo para serem eliminadas. Farmacocinética: É importante ressaltar que, os metabólitos de um fármaco podem passar pelos diversos processos farmacocinéticos, exceto absorção, bem como podem ter ação terapêutica maior ou menor ou igual do que a do fármaco original, também pode ter maior ou menor afinidade por determinados reservatórios teciduais, ou, podem ter afinidade por locais responsáveis por efeitos tóxicos ou adversos. O fator determinante para o fármaco ser ou não metabolizado e originar diferentes tipos de metabólitos é a sua HIDROFILIA. Normalmente, fármacos eliminados pelas fezes não foram absorvidos. Entretanto, alguns podem ser metabolizados pela flora intestinal e também serem eliminados por esta via. Uma vez que temos um fármaco que é muito metabolizado e cujo metabólico não tem atividade, a resposta farmacológica será reduzida, pois a quantidade de fármaco que alcança a circulação vai ser rapidamente metabolizada e eliminada → ajuste de dose! Se os metabólitos de fase I forem hidrofílicos o suficiente, já podem ser eliminados dessa forma, caso contrário, passam pela fase II que, normalmente, leva à inativação do fármaco, e ocorre por meio de enzimas denominadas transferases. Algumas pessoas podem ter alterações nas transferases ou na produção dos conjugados, o que pode desencadear problemas de metabolização de um mesmo fármaco em diferentes indivíduos. Existem controvérsias quanto à conjugação com grupos metil e acetato, pois nem sempre esses irão reduzir a lipofilia da molécula, mas muitas vezes irão inativá-la para que perca sua ação e seja eliminada. Xenobióticos (fármacos) → fase I: reações de oxidação, redução, hidrólise, O-desalquilação, N-desalquilação e S-desalquilação → substituição de grupos alquílicos por H → favorece ligações de hidrogênio → aumento da hidrofilia. Metabólitos: ROH, RSH2, RNH2. Esses metabólitos formados na fase I poderão ser eliminados, se já forem hidrofílicos o suficiente, ou passarão para a fase II → glicuronidação, sulfatação, conjugação com glicina ou glutamina, acetilação e metilação → metabólitos estáveis e frequentemente inativos → excretados pela urina. Xenobióticos (fármacos) → fase II → metabólitos estáveis e frequentemente inativos. ● Condições: apresentarem, na sua estrutura normal, hidroxilas, tióis, aminas livres ou resíduos de ácidos carboxílicos → favorecem conjugação direta. Xenobióticos → fase I ou fase II → METABÓLITOS REATIVOS → ligações covalentes com o DNA (bionucleófilo) → danos e mutações → malignidade. METABÓLITOS REATIVOS → interação com oxigênio (ROS) → estresse oxidativo → ligação covalente e danos ao DNA, ou, peroxidação lipídica e apoptose celular (melhor caminho: morte programada e sem resposta inflamatória). METABÓLITOS REATIVOS → ligações covalentes: ↪ citotoxicidade → necrose (tecido com perda de função → cirrose hepática)/apoptose. ↪ aduto fármaco-proteína → neo-hapteno → reação de hipersensibilidade → respostas alérgicas e até mesmo choques anafiláticos. METABÓLITOS REATIVOS → fase II ou fase III → glutationa (GSH) ou proteínas transportadoras de efluxo → detoxificação → excreção. Quando um fármaco não é reconhecido por enzimas de metabolização e, por isso, não é metabolizado, há um risco de toxicidade muito alto, pois o fármaco ficará acumulado dentro do organismo. Sistemas enzimáticos envolvido no metabolismo dos fármacos A grande variedade de sistemas enzimáticos permite que as diferentes estruturas de fármacos sejam devidamente metabolizadas por uma ou mais fases. Interferências genéticas ou patológicas poderão influenciar drasticamente alguns desses processos de metabolização. Superfamília da CYP-450 A elevada quantidade de enzimas é explicada pela alta variedade de estruturas de fármacos, e essas enzimas precisam reconhecê-las para poderem metabolizar os xenobióticos. A partir do momento em que ocorreu o processo evolutivo e o ser humano passou a entrar em contato com diversas substâncias diferentes, o organismo, por processo de adaptação, conseguiu desenvolver essa alta quantidade de enzimas e isoformas para que essas consigam reconhecer todos esses diferentes substratos. Muitas vezes, quando um indivíduo toma com frequência um dado fármaco, a maioria das enzimas já a reconhecem e a metabolizam rapidamente, não sendo possível, depois de um tempo, se alcançar uma concentração capaz de desencadear resposta terapêutica e, por isso, o indivíduo precisa ingerir doses cada vez maiores desse fármaco. Sempre que introduzimos uma substância diferente e nova, as enzimas podem ter mais dificuldade para reconhecê-la e metabolizá-la e vão precisar se aperfeiçoar para poder reconhecer esse substrato de maneira eficiente. 57 genes para o CYP450 humano → 7 isoformas são responsáveis por mais de 90% do metabolismo de todos os fármacos. CYP1A2: 40% CYP2C9: 10% CYP2A6: 2% CYP2C19: 2% CYP2D6: 30% CYP2E1: 2% CYP3A4: 50% As isoformas que são responsáveis pela metabolização de poucos fármacos são especialmente importantes quando as principais isoformas não estiverem disponíveis para metabolizar certas substâncias, então o metabolismo acontece pelas enzimas que não são tão usuais. Fármaco muito tóxico → alta afinidade pelo receptor tóxico (muito maior do que pelo receptor farmacológico); poucas enzimas de metabolização → se acumula no corpo e extrapola a janela terapêutica. Ainda existem situações em que os fármacos podem atuar como substratos para as enzimas e também como inibidores ou indutores das mesmas, alterando assim o seu próprio metabolismo e de outros fármacos administrados concomitantemente. Ex: CYP3A4 metaboliza nifedipino, eritromicina e midazolam → é inibida pelo cetoconazol → interação medicamentosa. ↪ Excesso de nifedipino → efeitos contrários → saturação de receptores → ausência de resposta farmacológica → picos de valores pressóricos. Fatores biológicos que afetam o metabolismo: Idade → deficiência enzimática → recém nascidos e idosos, principalmente. ↪ Ajuste de dose e/ou monitoramento da excreção do fármaco. ↪ Ex: RNs não possuem a enzima glucuronato transferase e não são capazes de metabolizar e conjugar o cloranfenicol → efeitos tóxicos, como a icterícia. Sexo → homens e mulheres podem metabolizar fármacos de forma diferente. ↪ Ex: Diazepam t1/2 nas mulheres é de 42 horas enquanto nos homens é de apenas 32 horas. Genética → diferença de metabolização entre etnias. O problema é mais grave principalmente nas raças mais homogêneas. ↪ Ex: Isoniazida t1/2 é de 70 min em japoneses e esquimós e de 5 horas em caucasianos. Doenças → principalmente as hepáticas, como cirrose e hepatite; doenças pulmonares. Dietas pobres em lipídios e proteínas → redução da síntese das enzimas por deficiência de substrato. Metabolismo de Fase I Principais reações → oxidação, redução e hidrólise. As desalquilações, por sua vez, constituem um tipo especial de reação oxidativa e contribuempara a formação de metabólitos com a inclusão de radicais OH, NH e SH → podem transformar moléculas lipofílicas em hidrofílicas ou contribuir para a formação de pontes de conjugação com certos substratos que favorecerão a eliminação do fármaco. Reações de oxidação São as mais importantes e frequentes reações de metabolismo. Catalisadas principalmente pelo CYP450: ● Superfamílias de hemeproteínas encontradas nas células procariontes (ex: bactérias) e eucariontes (ex: animais, plantas, fungos e insetos). ● Essas reações podem ocorrer associadas a uma flavoproteína redutase (NADPH-citocromo-P450 redutase) → formam o sistema oxidase de função mista (MFO). ● Promovem oxidação a partir da inserção de um átomo de oxigênio em um substrato orgânico (RH), a exemplo da estrutura de um fármaco, enquanto o outro átomo de oxigênio é reduzido à água. ↪ Ciclo normal do processo de oxidação a partir de qualquer substância lipofílica que tenha um H ligado. Reações de oxirredução → transferência de elétrons; Reações de oxidação → perda de elétrons e aumento do NOX; Reações de redução → ganho de elétrons e diminuição do NOX; Agente redutor → provoca a redução e sofre oxidação; Agente oxidante → provoca a oxidação e sofre redução. Oxidação em grupos alquílicos: ● RCH3 → RCH2OH → RCHO → RCO2H: grupos com CH3 terminal, normalmente, terminam sua oxidação como ácidos carboxílicos, que são mais hidrofílicos e menos reativos do que os alcoóis e os aldeídos, que ainda podem sofrer reações por álcool ou aldeído desidrogenases. O grupo carboxílico já pode ser suficiente para que o fármaco seja eliminado ou pode servir como um ponto de conjugação; ● RCH2CH3 → RCH2CH2OH → RCH2CHO → RCH2CO2H: grupo metil terminal também sofre redução a ácido carboxílico. ● Também existe a possibilidade da oxidação não ocorrer no carbono terminal, mas sim no penúltimo átomo: Isso ocorre se o grupo R for retirador de elétrons o suficiente para facilitar a oxidação no penúltimo carbono. ● Um grupo CH3 terminal ligado a um anel aromático também é oxidado a ácido carboxílico: Oxidação de alcenos e anéis aromáticos: As reações de oxidação em alcenos, alifáticos ou cíclicos, levam à formação de um intermediário epóxido → altamente reativo → pode ser neutralizado por duas vias: ↪ Ação da epóxido hidrolase, na presença de água (fase I) → diol = hidrofílico; ↪ Reação de conjugação com glutationa → bionucleófilo extremamente potente → leva à inativação do epóxido. Qual das vias irá ocorrer depende da quantidade de epóxido hidrolase e de glutationa disponíveis para metabolizar ou conjugar o fármaco, mas os dois metabólitos são possíveis de serem encontrados na urina. As reações de oxidação em aromáticos dissubstituídos, já apresentadas, ocorrem preferencialmente nos grupamentos alquílicos terminais. Entretanto, se no lugar do grupo alquílico há um outro átomo, como uma OH, NH2 ou SH, já ocorre conjugação direta na fase II. Se há um halogênio, ocorre um outro tipo de metabolismo que normalmente é conjugação com glutationa. Já as reações de oxidação nos aromáticos monossubstituídos (figura anterior), ocorrem, preferencialmente, em posição PARA em relação ao grupo substituinte R, pois é a que está mais desimpedida estericamente. Assim como ocorre com os alcenos, a oxidação desses compostos também origina um epóxido que pode seguir duas vias: ↪Rearranjo de hidreto: ocorre transferência de H → hidroxilação na posição PARA (sem ação enzimática); ↪Sofrer ação da epóxido hidrolase, na presença de água, formando um diol com quebra da aromaticidade. A via mais comum é a de rearranjo de hidreto, pois é mais cômodo para molécula apenas rearranjar seus átomos e retomar a aromaticidade do que quebrá-la, já que isso requer mais energia. Isso é particularmente importante quando pensamos em estratégias de planejamento e de modificação molecular, especialmente para aumentar o t1/2 de um fármaco, quando podemos realizar um bloqueio da posição PARA, impedindo a oxidação direta do anel aromático. Oxidação de grupos funcionais contendo nitrogênio: Aminas alifáticas primárias → oxidação direta no nitrogênio → iminas → hidroxiiminas → NO2; Aminas aromáticas → ArNOH → Ar-íon nitrônio → ArNO2; Hidroxilação aromática: O complexo do CYP450 se aproxima, por meio do oxigênio, da posição PARA do aromático, havendo deslocamento de 1 elétron do anel, que o compartilha com o oxigênio, formando uma nova ligação → elétron é estabilizado por ressonância, formando um novo complexo. Na seta em preto, ocorre a transferência dos elétrons para o aromático e o deslocamento do hidreto. O oxigênio, por sua vez, restaura o anel levando à formação de uma ligação dupla. Por sua vez, o ferro IV recebe um elétron e se transforma em ferro III, sendo liberado junto com o complexo. O intermediário formado pela ligação dupla com o oxigênio transfere mais um hidreto e recupera a aromaticidade, levando a formação de um fenol. Também há a possibilidade do rearranjo formar um epóxido que, ao sofrer ação da epóxido hidrolase na presença de água (uma OH é proveniente dela), leva a formação de um diol. ↪ De modo geral, a hidroxilação aromática inicia-se pela formação de um complexo-𝜋 entre a nuvem eletrônica do anel aromático e o CYP450 na sua forma reativa, ocorrendo a transferência de um elétron e a formação do complexo-𝝈 ou complexo-𝝈-radicalar. Ambos os complexos levam à formação do óxido de areno (epóxido) e posterior formação do fenol correspondente. ↪ Diversas condições podem afetar o processo de oxidação, como disfunções hepáticas, polimedicação, disfunções enzimáticas, alterações genéticas e diversos outros. Reações de desalquilação ➔ N-desalquilação: R-NH-CH3-R → R-NH2 + R’CHO ➔ O-desalquilação: R-O-CH2R → R-OH + R’CHO ➔ S-desalquilação: R-S-CH2-R → R-SH + R’CHO Ocorrem no sistema microssomal hepático (CYP450): O carbono alfa, ligado diretamente ao heteroátomo, fica suscetível a sofrer reações de oxidação e fica mais positivo, enquanto o heteroátomo, mais negativo, favorece o ataque nucleofílico na posição alfa → intermediário instável oxidado → liberação das funções amina, álcool e tiol livres + um grupo aldeído → sofre ação de uma aldeído desidrogenase → álcool → dependendo do tamanho de R pode ser eliminado na urina. Reações de redução Enzimas responsáveis → complexo NADPH-citocromo P450 redutase e aldocetoredutases, além de álcool e aldeído desidrogenases A primeira reação não é tão comum, pois não temos muitos fármacos com função aldeído, já que esta é muito reativa. Entretanto, no organismo, podem ser originados alguns metabólitos aldeídos e essas enzimas são responsáveis por metabolizá-los. As cetonas são reduzidas a alcoóis por meio de redutases, na presença de NADPH. ↪ De modo geral, todas as reações de fase I ocorrem para a formação de aminas livres, alcoóis livres, tióis livres que, se não forem hidrofílicos o suficientes para a eliminação de fármacos, servem como pontos de conjugação para substratos na fase II. Redução de grupos nitrogenados e sulfurados: Critérios: se o fármaco chega no sistema microssomal hepático com uma função amina, e há enzimas disponíveis para a sua conjugação com o substrato, ele irá conjugar e ser eliminado. Se essas enzimas não estão disponíveis, então, essa amina será oxidada a grupamento nitro. Se o grupamento nitro já existe, ele poderá ser eliminado assim, ou ele será reduzido a uma amina para que esta possa conjugar a partir de alguma enzima que reconheça essa função. OBS: A redução de um tiosulfóxido pode levar a formação de um tioéter que sofre, subsequentemente, uma reação de S-desalquilação, já que cada R representa um grupamento alquílico. * Como alguns fármacos precisam fazer esses desvios na metabolização, eles podem causar sobrecarga no fígado. - Redução do grupamento nitro: O NO2 é extremamente tóxico e pode levar a um estresse oxidativo e formação de radicais livres. Quando ele ganha um elétron, pode levar a formação de um intermediário nitroso que possui um elétron livre → mais danoso → pode atuar noDNA → efeito carcinogênico. *Antiparasitários, antitumorais, antiinflamatórios. Quando ele ganha dois elétrons, pode levar a formação de um intermediário mais neutro que, posteriormente ganha mais dois elétrons, levando a formação de hidroxilamina e, depois, mais dois elétrons levando a formação de amina, com liberação de água → menos danoso → amina é facilmente eliminada. Reações de hidrólise Principais enzimas envolvidas → esterases (capazes de reconhecer, principalmente, funções ésteres) e peptidases (podem reconhecer amidas, polímeros, etc). ● Os compostos com funções ésteres podem sofrer ataque na presença de água, pelas hidrolases, levando a formação de ácido carboxílico e álcool. ● Já as amidas, sofrem ação das peptidases, levando a formação de ácidos carboxílicos e aminas. As esterases são encontradas em diversos locais do organismo, a exemplo do trato digestivo e da parede intestinal, onde temos peptidases que quebram proteínas, além da corrente sanguínea, então, fármacos podem já ser metabolizados nesses locais. Essas hidrólises são importantes pois, não temos enzimas de conjugação que reconheçam as funções ésteres e amida, por exemplo, mas temos as que reconhecem as funções ácidos carboxílicos, aminas e álcoois, tornando possível a conjugação do fármaco e sua eliminação. No exemplo da cocaína, temos a possibilidade de ação das esterases tanto na região em vermelho como no grupo éster localizado na região inferior da estrutura. Além disso, uma N-desalquilação também é possível no grupamento amina à esquerda. Por fim, outro ponto de metabolização possível é a oxidação do anel aromático na posição para, que poderia originar um álcool ou um diol. Metabolismo de Fase II A maior parte das reações de fase I favorecem que as moléculas tenham em sua estrutura funções álcool, aminas, tiol, ácido carboxílico, que podem ser eliminadas assim, ou, sofrerem as reações de fase II. Essas reações acontecem por meio de enzimas transferases que reconhecem esses grupos hidrofílicos formados na fase I, conjugando-os com diferentes substratos. Conjugação com ácido glicurônico ● É a reação mais importante de todas as reações de fase II, isso porque esse ácido é abundante no nosso organismo, além de ser facilmente eliminado e reproduzido. ● Pode ocorrer com grupos amino, álcool, ácido carboxílico e fenol. Como o Ibuprofeno já possui em sua estrutura um grupo ácido carboxílico, ele não sofre reação de fase I e já pode ser conjugado com substratos que reconheçam essa função. Conjugação com o sulfato ● Pode ocorrer com fenóis e álcoois, sulfonamidas e aminas aromáticas primárias. ● Realizada por enzimas denominadas sulfatases. ↪ É importante termos várias enzimas e vários substratos para conjugação pois podemos ter deficiências em alguma delas ou administração concomitante de outros fármacos que competem por essas enzimas e que precisam ser eliminados. Conjugação com aminoácidos ● Ocorre principalmente com grupos ácido carboxílicos. ● Os aminoácidos que participam dessas conjugações são a glicina e a glutamina. Conjugação com glutationa ● Ocorre com haletos de arila, epóxidos e organofosforados. (Detoxificação) Conjugação com o ácido mercaptúrico ● Via de conjugação para alcenos (que não levaram a formação de epóxidos) e haletos de alquila. Reação de acilação ● Ocorre com aminas aromáticas, sulfonamidas, hidrazinas e fenóis → muito reativas. ● A sulfanilamida já é hidrofílica o suficiente para ser eliminada, mas antes disso pode causar efeitos tóxicos, então precisa ser neutralizada antes de sua eliminação. Implicações secundárias do metabolismo Metabólitos inativos → é a principal finalidade do metabolismo, especialmente para aqueles fármacos que passam pelo metabolismo de fase II. Metabólitos com atividade semelhante à do fármaco original → quando não se formam metabólitos tóxicos, há possibilidade dos metabólitos formados manterem a atividade do fármaco. Diazepam → oxidação no carbono alfa da carbonila → Tenazepam → N-desalquilação → Oxazepam. ● Os metabólitos formados têm menor tempo de ação em comparação ao fármaco original porque possuem maior hidrofilia e conseguem ser mais facilmente eliminados. ● A formação de metabólitos de atividade semelhante a do Diazepam explica sua longa duração de ação. Metabólitos com atividade diferente da do fármaco original → modificação da atividade do fármaco após a metabolização. O metabólito pode ser aplicado com finalidade diferente da do fármaco precursor. Iproniazida → N-desalquilação (fase I) → Isoniazida: atividade distinta. → mais hidrofílica → necessário ajuste de dose para driblar a taxa de eliminação mais elevada. Importância do metabolismo no desenvolvimento de fármacos: ● O bloqueio, ou mesmo a promoção do metabolismo, podem ser manipulados no sentido de obter fármacos com perfis favoráveis. ● Para fármacos com menor tempo de meia-vida, o bloqueio do metabolismo é interessante para aumentar sua atividade terapêutica, reduzindo seu índice de eliminação. ● Do mesmo modo, para fármacos com maior tempo de meia-vida, é possível modificar a estrutura inserindo pontos de ataque para enzimas metabólicas, aumentando a eliminação do fármaco e evitando que o mesmo se acumule no organismo, causando toxicidade. O caso do Paracetamol Fármaco de grande utilização → ações antipirética, antiinflamatória e analgésica. Dose administrada: 500 a 750 mg a cada 6 horas. Em um dia são administrados aproximadamente 3 gramas do fármaco. Quando apenas o paracetamol é administrado, o metabolismo não é tão dificultado, pois temos enzimas disponíveis para metabolizá-lo. Todavia, quando outros medicamentos são administrados concomitantemente, podem haver desvios de metabolização e produção de metabólitos indesejados. Caso: paciente polimedicamentado, fez uso de 750 mg de paracetamol durante 3 dias. ↪ Total de aproximadamente 9 g de paracetamol. ↪ Muito provável que o organismo do paciente não tenha enzimas de metabolização disponíveis para metabolizar o paracetamol. 1. Caminho que favorece a eliminação: função fenol na estrutura do paracetamol → favorece conjugação com sulfato ou ácido glicurônico → eliminado. 2. Caminho que pode levar à toxicidade: função amida → N-hidroxilação (oxidação do N: fica deficiente de elétrons) → [intermediário muito reativo] → desidratação (saída da hidroxila para estabilizar a deficiência de elétrons do nitrogênio; captura o H da hidroxila fenólica) → iminoquinona NAPQI → extremamente reativa ↪ A iminoquinona pode conjugar com S-glutationa, recuperando a aromaticidade do anel → via de detoxificação → eliminação. ↪ Quando não há enzimas e glutationa o suficiente para conjugar o paracetamol pela via de detoxificação, esse fármaco irá conjugar com outros bionucleófilos, como proteínas e ácidos nucleicos. Isso pode ocorrer, principalmente, no fígado, quando a conjugação ocorre com proteínas ou com o DNA dos hepatócitos, causando hepatotoxicidade, ou, pode ocorrer nos rins, causando nefrotoxicidade. O caso do Ácido Tienílico Fármaco desenvolvido para ser utilizado como diurético; Descobriu-se que era responsável por causar hepatotoxicidade mediada pelo sistema imunológico → anticorpos para esse fármaco foram detectados. Foi removido do mercado pela possibilidade de causar toxicidade. 1. Esse fármaco poderia sofrer S-oxidação mediada por CYP2C9, ou a formação de um epóxido, ambos metabólitos extremamente reativos. 2. O epóxido poderia sofrer o rearranjo de hidreto, formando um grupo OH capaz de facilitar sua eliminação na urina, sem causar toxicidade. 3. Todavia, tanto o epóxido quanto o grupo obtido pela S-oxidação, poderiam levar a caminhos de toxicidade, devido a formação de pontos extremamente eletrofílicos que são susceptíveis a sofrerem ataque de bionucleofílos, que poderia ser o próprio CYP, conjugando esses metabólitos com proteínas que, por sua vez, estimulava a resposta imune e, consequentemente, uma hepatite citolítica. Metabolismo de Fase II ●O metabolismo de fase III, representado por proteínastransportadoras de efluxo, como glicoproteína-P, proteínas associadas à resistência a multifármacos e polipeptídeo transportador de ânions orgânicos. ●Essas proteínas transportadoras (bombas de efluxo) são muito comuns para proteger determinadas células contra xenobióticos. ●Tais proteínas são capazes de receber esses fármacos, transformá-los em fármacos mais hidrofílicos, expulsá-los do interior da célula e facilitarem sua eliminação pela urina. Desse modo, auxiliam no processo de detoxificação, exportando ou transferindo para a circulação sistêmica, fármacos e seus metabólitos para posterior eliminação renal ou biliar. ● Essa fase do metabolismo afeta, principalmente, a farmacocinética do fármaco, especialmente o tempo de meia-vida. Atualmente, já existem inibidores da glicoproteína-P que podem impedir que ocorra a metabolização e modificação do fármaco por esse transportador. Importância do estudo do estudo do metabolismo O conhecimento do metabolismo de um fármaco e de seus metabólitos pode dar origem a novos fármacos ou a modificações que aprimorem as características farmacêuticas do precursor. Propanolol → baixo tempo de meia-vida e necessidade altas doses; baixa seletividade e alta incidência de reações adversas. Como o grupo localizado na parte superior do propranolol não poderia ser modificado por ser um farmacóforo importante, pensou-se em bloquear a posição PARA do anel aromático, como uma estratégia de reduzir possíveis oxidações e, assim, o metabolismo e a eliminação do fármaco. Com isso, surgiram outros beta-bloqueadores com perfis farmacológicos aprimorados: ● Metanolol → removeu-se um anel aromático e introduziu-se uma função éter (manter a lipofilia) na posição para ao grupo farmacóforo → seletividade para 1, porém, baixa biodisponibilidade. ● Esmolol → removeu-se um anel aromático e introduziu-se um éster de grupo alquílico maior na posição para ao grupo funcional → seletividade para 1, menor tempo de ação - metabólito ativo: t1/2 = 3 a 4 horas (a função éster sofre ação de esterases, levando a formação de um ácido carboxílico, que também tem uma ação nos receptores 1, mas que funciona como um ponto fácil de conjugação para o ácido glicurônico). ● Betaxolol → removeu-se um anel aromático, a função éter foi mantida, e realizou-se uma substituição bioisostérica por um grupamento ciclopropil → seletividade para 1, maior biodisponibilidade e maior tempo de ½ vida devido ao volume do grupo ciclopropil. Latenciação de Fármacos ● Pró-fármaco (Albert, 1958) → qualquer composto que sofre biotransformação antes de exibir seus efeitos farmacológicos. ● Latenciação de fármacos (Harper, 1959) → modificação química de um composto biologicamente ativo para formar um novo composto que, através de reação química ou enzimática in vivo, irá liberar o fármaco ativo. Critérios para o desenvolvimento de pró-fármacos ● Existência de grupos funcionais no fármaco capazes de sofrer derivatização; ● Existência de mecanismos e/ou sistemas no organismo capazes de bioativar o pró-fármaco; ● Facilidade e simplicidade de síntese e purificação do pró-fármaco; ● Regeneração in vivo da molécula do fármaco em quantidades ideais; ● Toxicidade do transportador e do próprio pró-fármaco; Derivados biorreversíveis mais comumente utilizados no planejamento de pró-fármacos Transportadores ● Ser, de preferência, biodegradável; ● Não apresentar toxicidade ou antigenicidade intrínseca; ● Não acumular nos organismos; ● Apresentar grupos funcionais para ligação química; ● Manter a atividade original do fármaco liberado até que este atinja o local de ação. Classificação de pró-fármacos BIOPRECURSORES → não apresentam transportador; constituem-se de moléculas resultantes de modificação molecular que deve sofrer metabolização, geralmente para transformar-se em metabólito ativo. ↪Ciclização do N-alquilaminobenzofenona, no organismo, para formar o derivado benzodiazepínico correspondente. PRÓ-FÁRMACOS CLÁSSICOS → inativos quando comparados à molécula matriz, e devem sofrer reação hidrolítica (química ou enzimática) para liberar a porção ativa. ↪ São obtidos ligando-se o fármaco matriz a um transportador adequado, geralmente lipofílico, sendo capaz de aumentar a biodisponibilidade, reduzir a toxicidade, prolongar a ação e aumentar a seletividade. ↪Latenciação do estradiol pela transformação da hidroxila terminal em um grupamento éter arílico e adição de um porção de 0-sacarinilmetil, que melhora a solubilidade do estradiol e o seu equílibrio hidrofílico-lipofílico, levando a um aumento de 5 a 7 vezes na biodisponibilidade oral. ● Normalmente, os pró-fármacos latenciados são obtidos por formação de ligações covalentes que, nesse caso, precisam sofrer uma ação química ou enzimática na metabolização. PRÓ-FÁRMACOS MISTOS → são formas latentes com características de pró-fármacos clássicos e bioprecursores. Apresentam-se como molécula biologicamente inativa que precisa sofrer diversas reações para se converter na forma ativa, aumentando a concentração do fármaco em um sítio de ação específico. Esse sistema é chamado de CDS (Chemical delivery system). ↪ O pró-fármaco pode atravessar a BHE e no SNC sofrer uma oxidação, ou, ser oxidado antes de atravessar a barreira. ↪ Se o fármaco é oxidado antes de atravessar a BHE, ele se estabelece na sua forma ionizada, incapaz de atravessar tal barreira e, por estar carregado, a ligação fármaco-transportador é fragilizada e então quebrada pelas enzimas de metabolização, separando o fármaco do transportador que, por estarem hidrofílicos, serão eliminados. ↪ Quando o fármaco consegue atravessar a BHE e sofrer a oxidação no SNC, ele sofrerá conversão metabólica nessa região, onde o fármaco e o transportador serão liberados e eliminados mais lentamente do que na corrente sanguínea, pois a camada lipídica da BHE dificulta a passagem das formas oxidadas. OBS: É mais provável que o fármaco sofra oxidação no sistema nervoso do que na corrente sanguínea pois, na região nervosa há mais oxigênio livre disponível. PRÓ-FÁRMACOS RECÍPROCOS → caracterizam-se por seu transportador, diferentemente dos pró-fármacos clássicos, também possuir atividade terapêutica. ● Melhoria das propriedades farmacológicas: atividade mista (atividades diferentes, mas com uma mesma finalidade) ou atividade única por mecanismos diferentes. ↪ A sulfassalazina é uma associação de dois compostos. Entretanto, na sua forma inicial, ela não possui atividade terapêutica, pois as duas funções aminas precisam estar livres para exercer a ação farmacológica. ↪ A sulfapiridina é um antibiótico quimioterápico, enquanto o ácido 5-aminossalicílico tem atividade antiinflamatória. ↪ A sulfassalazina é utilizada para colite ulcerativa. Nesse caso, a liberação desse pró-fármaco em fármacos ativos ocorre por meio das azoredutases que reconhecem a função azo (N=N), liberando a sulfapiridina e o 5-ASA. ↪ Os dois compostos liberados atuam de modos diferentes, mas com a finalidade de tratar a colite ulcerativa → atividade mista. Fármacos dirigidos ● Consiste de fármacos latentes acoplados a um transportador específico para dados receptores ou enzimas existentes no sítio de ação específico do fármaco, reduzindo a ação inespecífica sobre outras regiões; ● Os transportadores utilizados transportam os fármacos seletivamente do local de administração até o sítio de ação; ● O objetivo é minimizar as reações adversas provocada pela ação inespecífica do fármaco em outros alvos; ● Os transportadores mais interessantes utilizados nesta forma latente são aqueles que interagem especificamente com os sítios presentes na superfície das células-alvo. ● Os transportadores podem ser constituídos de polímeros, que funcionam como suporte para os grupos diretores, ou como eles próprios, grupos que dirigem a ação, especialmente quando nos referimos a macromoléculas maiores, como os anticorpos. 1. Colon-Specific Drug Delivery System (CSDDS) → esse sistema consiste na utilização de enzimas produzidas pela microbiota normal paraliberação (ativação) do fármaco no cólon. ↪ A sulfassalazina, além de ser um pró-fármaco recíproco, ela também é cólon-específica e sofre ação das enzimas da microbiota (azoredutases) que liberam os dois fármacos. 2. Sistema ADEPT (Antibody-directed enzyme prodrug therapy) → na primeira etapa ocorre a administração do conjugado anticorpo-enzima. Este liga-se ao antígeno ativo na membrana celular ou ao antígeno livre no fluido extracelular. Na segunda etapa, o pró-fármaco é administrado e sofre a ação da enzima acoplada ao anticorpo, liberando, seletivamente, a porção ativa. 3. Sistema GEPT (Gene directed enzyme prodrug therapy) → esse processo utiliza genes que codificam enzimas ativadoras de pró-fármacos, os quais podem ser transportados por lipossomas, lipídios catiônicos ou vírus, atingindo células neoplásicas e normais. A expressão de tais genes pode ser feita ligando-se os mesmos nas unidades de transcrição específicas do tumor. Quando o pró-fármaco for administrado, ele será direcionado para as células com maior atividade enzimática (tumorais) que, como terão maior produção das enzimas metabólicas, promoverão a liberação do fármaco ativo (tóxico). 4. Sistema ODDS (Osteotropic Drug Delivery System) → promissor sistema de liberação de fármacos para atingir o tecido ósseo via pró-fármacos, o qual utiliza os bifosfonatos como transportadores, que possuem propriedade de tropismo ósseo.
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