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Resumo de Medicina Ufes | Quinto Período 43 RESUMO DE RADIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 Neurorradiologia: TCE O trauma é a terceira maior causa de morte no mundo ocidental, sendo aproximadamente metade das mortes por TCE. É a principal causa de morte e deficiência permanente nas primeiras décadas de vida, e 5 a 10% dos que sobrevivem apresentam déficit residual. O TCE é causado por acidentes automobilísticos em 40 a 50% dos casos, 20% por quedas, 10-20% por agressões e 10% por esportes e recreações. A frequência das causas varia de acordo com a faixa etária (particularidades). ESCALA DE COMA DE GLASGOW Essa escala é utilizada para avaliar nível de consciência do paciente, podendo ser utilizada para pacientes pós-TCE. MÉTODOS DE IMAGEM Os métodos de imagem indicados em casos de traumatismo cranioencefálico são: raio x, ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética. O raio x não é muito indicado nesses casos para o crânio, é utilizado para tipo particular de fratura penetrante. Ex: chave de fenda enfiada na cabeça, para saber até onde ela vai; ou para ver uma fratura desalinhada. Uma outra utilização são os pediatras que evitam realizar TC em crianças pelo alto nível de radiação. Para essas crianças e bebês utiliza-se muito a ultrassonografia também. O carro-chefe é a tomografia computadorizada. 44 RESUMO DE RADIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 Em traumas leves (GCS 13 a 15), os guidelines recomendam que não há necessidade para exames de imagem, apenas acompanhamento. Para os traumas moderado e grave, faz-se exames de TC. Na prática, praticamente todo paciente vítima de trauma vai fazer uma TC. TIPOS DE TRAUMATISMOS CRANIOENCEFÁLICOS As lesões podem ser primárias, ou seja, surgem diretamente do evento traumático. Podem ser lesões do escalpo fratura óssea, coleções extra axiais (extra parenquimatoso), hematoma parenquimatoso, concussão, lesão axonal difusa (LAT). Podem também ser secundárias, ou seja, decorrentes do trauma inicial, consequência dele. Podem ser edema cerebral, herniação parenquimatosa, infarto, hidrocefalia, infecção, hipertensão intracraniana. No exame por imagem, avalia-se: o escalpo, estruturas ósseas cranianas, coleções extra-axiais e lesões parenquimatosas. LESÕES PRIMÁRIAS Lesões do Escalpo------------------------------------------------------ É a expressão mais externa do trauma, sendo o local a ser avaliado primariamente. Essas lesões predizem a energia cinética do trauma, ou seja, normalmente a extensão/gravidade da lesão é proporcional a energia cinética aplicada no trauma. Ex.: galo grande na cabeça de uma criança e pais contam história de que a criança apenas esbarrou a cabeça em uma gaveta -> pensar em: pais espancam a criança e estão mentindo na história ou a criança pode ter algum distúrbio da coagulação. Os tipos podem ser: bossa serossanguinolenta, hematoma subgaleal ou cefalematoma. A bossa serossanguinolenta é mais comum no recém-nascido, se localizando entre a pele e a aponeurose. Ultrapassa as suturas, e na TC vê-se aumento de partes moles. Geralmente absorvido naturalmente. 45 RESUMO DE RADIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 O hematoma subgaleal é o mais comum em adultos, ocorrendo entre a gálea aponeurótica e acima do periósteo (não se limita pelas suturas. O cefalohematoma ocorre acima do osso e abaixo do periósteo que é aderido às suturas. Também acontece mais em recém-nascidos no trauma do parto (assim como a bossa). Para diferenciar os dois, lembrar que pela localização, a bossa ultrapassa as suturas e o cefalohematoma. Fraturas------------------------------------------------------------------ As fraturas das estruturas ósseas cranianas são classificadas de diversas formas: linear, com afundamento, cominutiva, base de crânio, pingue-pongue e composta. 46 RESUMO DE RADIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 47 RESUMO DE RADIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 Existe também a fratura em crescente (growing fracture), que é uma fratura que aumenta com o tempo, em decorrência da pulsação liquórica adjacente a fratura que vai afastando as margens da fratura. É importante sempre prestar atenção em diagnósticos diferenciais que podem confundir o examinador. A impressão vascular, sutura acessória e a diástase sutural (alargamento de sutura) podem fazer achar que trata-se de uma fratura. Coleções extra-axiais-------------------------------------------------- O HEMATOMA EXTRA-DURAL ocorre entre o osso do crânio e a dura-máter (espaço virtual), tomando a forma de lente biconvexa. Essa lesão lembra cefalohematoma, pois respeita as suturas, nas quais a dura-máter está fixa. Na TC tem aspecto hiperatenuante (hiperdenso) e só ultrapassa a sutura se ela não estiver intacta. A história típica é o paciente que perde consciência no local do acidente/trauma, vai para hospital, recobre a consciência (intervalo lúcido), hematoma cresce e perde de novo a consciência. Isso ocorre em 50% dos casos, mas é considerado o padrão. O mecanismo normalmente está relacionado ao rompimento da artéria meníngea média, que sangra. Para tratamento, é necessário fazer a drenagem. 48 RESUMO DE RADIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 Quando na TC o hematoma tem um aspecto de redemoinho (heterogeneidade) no seu centro, isso significa que ele está em atividade ainda, e vai crescer mais com o tempo. Isso está representado na imagem à esquerda. O hematoma extra-dural pode também ser extra-dural venoso, que ocorre por laceração de seios venosos; ou também do tipo extra-dural benigno, em que há ruptura do seio esfenoparietal, casos em que não há necessidade de operar, devido ao pequeno sangramento (facilmente absorvido pelo organismo/basta acompanhar). ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- O HEMATOMA SUBDURAL ocorre abaixo da dura e acima da aracnoide. É venoso (veias-ponte). História típica é o idoso que utiliza anticoagulante (por problemas na circulação) e bate a cabeça. Em jovens é comum em acidente de trânsito, mas como ele vai parar no hospital, facilmente é diagnosticado, e será tratado. Já no caso do idoso, pode ocorrer que ninguém fica sabendo o que houve, ele não sabe o que tem e acaba sendo uma das grandes causas de demências. Esse tipo de hematoma cruza as suturas e acompanha, principalmente, o tentório e a foice. 49 RESUMO DE RADIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 Esse tipo de hematoma pode ser agudo, subagudo ou crônico. No hematoma subdural agudo, o hematoma segue as características descritas acima e se mostra hiperdenso na TC. No subagudo, normalmente é isoatenuantes, podendo- se confundir com o parênquima. Já no crônico, é preto (hipoatenuante), uma vez que já foi quase tudo reabsorvido. Na tabela abaixo estão as comparações entre o extra-dural e o subdural. Há um tipo de hematoma subdural chamado de laminar. Quando ele ocorre longe do osso (no parênquima), na TC vemos, de dentro para fora, uma faixa cinza (parênquima), seguida de uma faixa branca (sangue), e por último cinza novamente (parênquima); mas quando ocorre perto do crânio, vemos na TC uma faixa cinza seguida de uma faixa branca mais espessa, que é o sangue em contato com o osso. Esse aspecto em contato com o osso pode ser difícil de ver na TC. -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------50 RESUMO DE RADIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 O HIGROMA é um trauma que rompe a aracnoide e extravasa líquor do espaço subaracnoide para o espaço subdural, se mostrando preto na TC. Na tabela abaixo, uma comparação entre o higroma e o hematoma subdural crônico. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Na HEMORRAGIA SUBARACNOIDE TRAUMÁTICA a coleção de sangue acompanha os sulcos e a fissura silviana, ou seja, acompanhando o espaço subaracnoide (onde originalmente só há líquor, que é preto). ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 51 RESUMO DE RADIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 Na HEMORRAGIA INTRAVENTRICULAR o sangue se acumula dentro do ventrículo. Não é difícil de ver pois o líquor que originalmente ocupa a região é preto e o sangue que agora está presente é branco. OBS.: na figura à direita, há associação com hematoma subdural. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- O PNEUMOCÉFALO consiste na coleção de ar dentro da caixa craniana. Caso esteja dentro do parênquima cerebral chama-se de pneumoencéfalo. Há um tipo especial de pneumocéfalo que é o hipertensivo que, diferentemente do comum, tem que ser drenado, já que nesse caso há um fenômeno de válvula e o ar não ser (pode causar hérnia). Pode ser reconhecido pelo sinal do Monte Fuji. 52 RESUMO DE RADIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 Lesões Parenquimatosas--------------------------------------------- Na CONCUSSÃO há a presença de sintomas neurológicos sem nenhuma alteração estrutural, não se vê na radiologia, tem-se danos microscópicos, dependendo da situação, reversíveis ou não. É a perda da consciência de curta duração e a pessoa acorda desorientada, após um trauma craniano. A história típica ocorre com os boxeadores. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- A CONTUSÃO CORTICAL ocorre em local do golpe, mas, geralmente, mais no local de contragolpe. Área hiperatenuante próxima do crânio, pois cérebro vai para a frente e bate no crânio. Pode estar associado a fraturas ou não. Quando as contusões corticais coalescem e formam um hematoma maior, a contusão é chamada de contusão maior. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- À medida que o hematoma no parênquima vai aumentando, fazendo coleções maiores, ele é chamado de HEMATOMA INTRAPARENQUIMATOSO. 53 RESUMO DE RADIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- A EXPLOSÃO LOBAR ocorre quando o hematoma intraparenquimatoso ocupa todo ou quase todo um lobo cerebral. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- A LESÃO AXONAL TRAUMÁTICA, chamada antigamente de Lesão Axonal Difusa, ocorre por fenômeno de cisalhamento entre o córtex (substância cinzenta) e o tecido subcortical (substância branca) por terem cinética diferente. A história típica é o paciente sofre um acidente de carro, teve trauma, diminuição do nível de consciência, chegará grave no hospital, desacordado (sem intervalo lúcido). Na TC parece que está normal, mas isso não quer dizer que ele não tem nada. Pode apresentar focos hemorrágicos ou não. A RM pode mostrar uma parte das hemorragias da LAT em hipossinal. Normalmente o paciente tem muito mais lesões que conseguimos ver. A LAT pode acometer a transição cortico-subcortical (grau I), o corpo caloso (grau II) ou o tronco cerebral (grau III). 54 RESUMO DE RADIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 LESÕES SECUNDÁRIAS São as lesões que surgem como repercussão indireta de um trauma. Há as lesões agudas como o inchaço cerebral. Herniações parenquimatosas e lesões vasculares (infarto, pseudoaneurisma, dissecção e trombose). As crônicas podem ser hidrocefalia, encefalomalacia/gliose, cisto leptomeníngeo. Edema cerebral--------------------------------------------------------- Uma contusão no parênquima pode levar ao surgimento de edema vasogênico em torno, que pode levar a herniações. Herniação parenquimatosa------------------------------------------- A herniação parenquimatosa pode ser consequência de um edema grande, de um hematoma subdural, ou extra- dural. A compressão leva ao deslocamento das estruturas. Essa hérnia pode ser subfalcina (pela foice do cérebro), uncal/transtentorial (pelo tentório), tonsilar (podem comprimir o bulbo), central (diencéfalo hernia para baixo do tentório). 55 RESUMO DE RADIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 A imagem da direita (herniação subfalcina anterior) mostra a hérnia do giro do cíngulo secundária a um hematoma subdural subagudo. O giro do cíngulo passa por baixo da foice. Infarto--------------------------------------------------------------------- Quando há comprometimento vascular e leva a infarto de uma região do parênquima. Hidrocefalia-------------------------------------------------------------- Pode ser comunicante (não há obstrução entre os espaços aos quais percorre o líquor, sendo um problema de drenagem gerado pelo TCE, que pode ocasionar sangramento nas granulações aracnoideas, gliose e impedindo assim o líquor de ser reabsorvido. Ou por hiperprodução do líquor em tumores), ou não comunicante (quando há obstrução no caminho). Infecção------------------------------------------------------------------ Quando um TCE leva a um acesso ao interior do crânio para microrganismos, que desencadeiam processos infecciosos. Hipertensão intracraniana (HIC)------------------------------------- Várias situações podem levar a HIC, pois é um sistema fechado pelo crânio, e muitas alterações por edema, líquido ou coleções podem acabar levando ao aumento da pressão. Encefalomalácia/gliose------------------------------------------------ Evolução das hemorragias intraparenquimatosas. É a cicatrização do parênquima, a resolução das lesões advindas do TCE, depois que o sangue foi reabsorvido e o tecido cicatrizado. Na TC vemos em preto exatamente por não haver mais sangue, como se fossem várias retrações cicatriciais. 56 RESUMO DE RADIOLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 Cisto Leptomeníngeo--------------------------------------------------- Pode ser secundária à fratura crescente, quando há herniação da membrana aracnoide, formando um cisto leptomeníngeo para além do crânio, aproveitando o espaço gerado pela fratura crescente (seta vermelha). CONSIDERAÇÕES FINAIS (1) O conhecimento anatômico intracraniano minimiza os erros diagnósticos. Ex: diferenças entre extra-dural e subdural; (2) Diagnóstico rápido e preciso limita o dano encefálico. Ex: lembrar do cuidado em analisar se há um hematoma subdural em velhinho; (3) Métodos de imagem estimam o prognóstico e não apenas o diagnóstico. Ex: o hematoma extra-dural benigno não precisa drenar.
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